Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DESCONSTRUÇÃO DE MODELOS
INTRODUÇÃO
Atualmente, fala-se muito em inovação, que por vezes é confundida com criatividade. No entanto,
inovar é inventar, transformar as ideias, processos, produtos ou serviços. Este é um dos fatores essenciais
para a sobrevivência dos negócios atuais.
Neste contexto, concorda Waengertner (2018), no entanto o autor alerta para o fato de que pensar
apenas na sobrevivência limita as organizações a inovarem. É necessário antecipar e descobrir novas
formas de atuação, ou seja, os gestores que realmente desejam inovar precisam “matar” seus negócios,
assim, devem preocupar-se menos com a sobrevivência e mais com a exploração de novos mercados.
Além da antecipação e identificação de novos mercados, novos processos, o “quebrar regras”
também é uma atitude importante para empreendedores e gestores no fomento à inovação, seja na
concepção de novos negócios ou nas grandes empresas.
Podemos entender melhor como funciona a gestão do “quebrar regras”, analisando os aplicativos
de mobilidade. Antes, pegar carona com estranhos era algo totalmente intolerável, aplicativos de
mobilidade, como Uber, 99, Cabify quebraram esta regra e estabeleceram este “intolerável” como
corriqueiro na vida das pessoas. E o Airbnb? Também “quebrou a regra” de que não poderíamos
pernoitar em lugares desconhecidos. Exemplos assim fomentam a desconstrução de modelos.
Nesta Unidade, veremos diferentes abordagens que enfatizam a necessidade das empresas,
por meio de seus gestores e intraempreendedores, pensarem além, no que se refere à inovação.
Entenderemos como pensam autores engajados a respeito do tema, como Peter Thiel, no livro De
zero a um, Pedro Waengertner, no livro A estratégia da inovação radical, Chan Kim, na Estratégia do
Oceano Azul e, ainda, as 10 faces da inovação, de Tom Kelley e Jonathan Littman.
Antes de iniciarmos a Unidade, confira o exemplo a seguir e reflita!
Empreendedorismo 81
PARA SE INSPIRAR
Andrew Stanton
1 INOVAÇÃO
Em um mercado globalizado e de muita competitividade, a inovação tem sido um dos maiores
diferenciais.
Empreendedorismo 83
A Sony também é um exemplo: colocou uma inovação no mercado na década de 1980,
o Walkman.
Além de ser um exemplo de inovação de produto no mercado de consoles, a história
do Play Station também ilustra a história de um intraempreendedor de sucesso: Ken
Kuratagui. Primeiramente, Kuratagui estava trabalhando em parceria com a
Nintendo para o desenvolvimento de um novo videogame, mas o projeto não
avançou. Ken insistiu com seus superiores na Sony, pois acreditava que poderia
fazer um novo console: o Play Station. O resultado foi que o Play Station tornou-
se a vaca leiteira da Sony. Kuratagui ainda participou no projeto do PS 2, que
teve pouco aproveitamento da versão anterior. Hoje, Kutaragui é o presidente
da Sony Computer Entertainment, divisão criada para abrigar esta nova linha de
negócios.
Quando um produto ofertado ao mercado é algo que ninguém pode oferecer, há um importante
diferencial competitivo.
Quando existe muita oportunidade para a inovação em serviços, como na área de entretenimento
e lazer, de beleza, de saúde, financeira, de alimentação, entre outras, há uma tendência muito grande
para que as empresas que ofertam produtos também coloquem serviços à disposição.
Empreendedorismo 85
A inovação em modelo de negócio pode envolver: a proposta de valor ofertada ao cliente, mudança
no segmento de cliente, no relacionamento com os clientes e canais, no tipo de fontes de receitas, nas
parcerias, nas atividades e recursos principais e na estrutura de custos. Normalmente, ocorre inovação
em várias partes do modelo de maneira conjunta.
Com base nos exemplos acima, Waengertner (2018) enfatiza que as empresas não podem
preocupar-se demasiadamente com a sobrevivência, protegendo suas receitas atuais, fato que pode
limitá-las no potencial de crescimento frente às mudanças de cenário. Pensar na sobrevivência limita o
pensamento para a aplicação e prática da inovação nas empresas.
No livro Estratégia do oceano azul, W. Chan Kim e Renée Mauborgne (2012) abordam o conceito
de inovação de valor. Para estes autores, a inovação de valor consiste em concentrar os esforços para
tornar a concorrência irrelevante.
A estratégia do oceano azul desafia as empresas a transpor as barreiras do oceano vermelho da
competição sangrenta dos mercados existentes. Os oceanos azuis se caracterizam por espaços de
mercado inexplorados, pela criação de demanda ainda não existente e pelo crescimento altamente
lucrativo. Em oposição, os oceanos vermelhos adotam uma abordagem convencional, empenhando-se
para vencer a concorrência.
Custo
Inovação de
valor
Valor para o
comprador
Empreendedorismo 87
Segundo os autores, o impacto que pode surgir com a utilização da estratégia do oceano azul
está demonstrado a seguir:
Os 86% foram melhorias incrementadas dentro do oceano vermelho dos espaços de mercados existentes,
que corresponderam a apenas 62% da receita total e 39% do lucro total.
Os 14% restantes dos lançamentos, destinados à criação de oceanos azuis, geram 38% da receita total e nada
menos que 61% do lucro total.
Um dos exemplos utilizados por W. Chan Kim e Renée Mauborgne (2012) é o Cirque du Soleil, que
rompeu a regra das melhores práticas do setor circense, alcançando ao mesmo tempo diferenciação
e baixo custo, mediante a reconstrução de elementos em ambos os lados das fronteiras existentes do
setor. Conseguiu o baixo custo eliminando ou diminuindo os atributos que o cliente não valorizava, tais
como espetáculo com animais, uso de três picadeiros simultâneos e uso de artistas famosos; e criando
e aumentando aqueles atributos que o cliente atribuía como de valor, tais como sequência temática,
espetáculos como de teatro, maior conforto, foco em apenas um picadeiro etc.
A utilização da estratégia do oceano azul e o constante acompanhamento e aperfeiçoamento podem
garantir diferenciação relativamente sustentável de mercado e, por isso, o seu conceito é fundamental
para empreendedores e intraempreendedores.
Funcionamento em Empresas/Áreas
Tópico Otimização das Estruturas para Inovação
Tradicionais
Processos muito rígidos vão na contramão
Quanto mais rígidos os processos,
da inovação, que precisa de experimentação
menor a variabilidade. E quanto menor a
constante. Inovação trabalha com o incerto.
Processos variabilidade, mais eficiência a empresa
Mesmo assim, é importante que todas as
vai gerar. Essa rigidez entrega resultados
iniciativas de inovação também utilizem
consistentes ao longo do tempo.
métodos claros.
A rigidez na descrição das funções, a
As organizações mais inovadoras
especialização e a compartimentalização
possuem times que trabalham juntos em
das atividades são características de
projetos multidisciplinares. Não é raro os
empresas que trabalham com alto grau
Pessoas integrantes da equipe trocarem de papéis
de eficiência operacional. Deste modo, os
momentaneamente. Essa característica muda
colaboradores têm pouca autonomia para
a maneira como as pessoas se desenvolvem
tomar decisões e existe uma hierarquia
nas organizações.
clara.
Diversos times pequenos focados em um
Estruturas claras, geralmente criando
objetivo específico, se organizando através
especialização de funções. Este modelo
das metas da corporação. Geralmente,
leva a uma organização em silos, ou seja,
os times são compostos por pessoas de
Estruturas departamentos tão bem delimitados que
especializações diferentes e podem ser
a consequência é a pouca comunicação
criados e desfeitos de acordo com os
entre as diversas áreas necessárias para
objetivos de negócios e os projetos em
entregar valor ao cliente.
desenvolvimento.
Empreendedorismo 89
Uma outra abordagem sobre a discussão da prática de inovação e empreendedorismo pode ser
analisada no livro De zero a um: o que apreender sobre empreendedorismo com o Vale do Sílicio,
de Peter Thiel.
A abordagem de Thiel é diferente da abordagem do design organizacional de Pedro Waengertner.
Embora as duas discussões explorem o processo de inovação, elas são tratadas em diferentes contextos.
A abordagem apresentada por Peter Thiel é referente ao lançamento de um produto ou de uma ideia
pelas empresas, assim como o processo de diferenciação frente à concorrência. Já a abordagem do
design organizacional é relacionada à cultura da organização, ou seja, quando a organização quer
estabelecer uma cultura de inovação e empreendedorismo em seu modelo de gestão e rotina diária.
Assim, dando sequência à discussão da prática de inovação, Peter Thiel (2014) aborda, em seu
livro, os conceitos de progresso horizontal e vertical.
Para o autor, quando se pensa no futuro, espera-se um futuro de progresso que pode ser de duas
formas:
O progresso horizontal é pegar coisas que funcionem em algum lugar e fazer com que funcionem
em todos os lugares. Se for substituir a expressão progresso horizontal em apenas uma palavra, seria
globalização. Os chineses fazem isso, copiam tudo o que já existe, e isso tem mostrado resultado
no mundo inteiro.
Se você pegar um produto já existente, copiá-lo e produzir em grande quantidade, então você
faz um progresso horizontal.
O progresso vertical está relacionado com fazer algo que ninguém fez antes. A palavra para o
progresso vertical (de 0 a 1) é tecnologia.
Para Thiel (2014, p. 16), o desafio de hoje “é imaginar e criar novas tecnologias que possam tornar
o século XXI mais pacífico e próspero do que o século XX”.
Thiel (2014) enfatiza que o progresso econômico vem do monopólio, e não da competição. Se
você faz o que nunca foi feito e consegue fazer melhor do que qualquer um, você tem um monopólio.
Concorrência significa fazer igual ao que já vem sendo feito. A competição destrói os lucros dos
indivíduos, das empresas e da sociedade como um todo. Os monopólios são as empresas que promovem
o progresso, porque incentivam a inovação, dão retorno e continuam inovando. Podem fazer planos
de longo prazo e financiar projetos de pesquisa ambiciosos, o que as empresas da concorrência não
conseguem fazer, principalmente porque têm seus lucros reduzidos.
Monopólio é diferenciação, é a condição para todo negócio ser bem-sucedido. Uma empresa
consegue sucesso através da realização de algo que as outras não conseguem fazer. Concorrência significa
nenhuma diferenciação significativa, ninguém lucrando e uma luta pela sobrevivência (THIEL, 2014).
Agora é o
Você está começando
momento certo
com uma porção
para iniciar seu
grande de um
negócio?
mercado pequeno?
Você consegue
criar tecnologia
revolucionária em
Você dispõe da
vez de melhorias
equipe certa?
graduais?
Você dispõe de
Você identificou uma
um meio de não
oportunidade única
apenas criar, mas
que os outros não
Sua posição no entregar seu
veem?
mercado será produto?
defensável em
dez ou vinte
anos futuro?
Além destes tipos de inovação, existem outros. Quanto ao grau de novidade, a inovação pode ser:
INOVAÇÃO RADICAL
INOVAÇÃO INCREMENTAL
É aquela que apresenta produtos, processos
É aquela que vai aperfeiçoando produtos,
ou serviços totalmente novos e que também
serviços ou processos.
pode vir de uma ruptura com os padrões até
então existentes.
Empreendedorismo 91
Um fator importante a considerar sobre a inovação é que ela não existe sem as pessoas, pois são
elas que impulsionam a inovação. Fazendo uma analogia com pessoas, Tom Kelley (2007) escreveu um
livro abordando as faces da inovação.
Continua...
O mais importante sobre esses dez personagens é o fato de eles funcionarem na prática, no dia a
dia do mercado. Trata-se de “ser inovação” em vez de apenas “fazer inovação”.
O uso de um ou mais papéis pode dar um passo consciente em direção a se tornar mais inovador.
CONCLUSÃO
Empreendedorismo 93
REFERÊNCIAS
BESSANT, John; TIDD, Joe. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Artmed, 2009.
CHÉR, Rogério. Empreendedorismo na veia: um aprendizado constante. Rio de Janeiro: Elsevier; Sebrae, 2014.
DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. São Paulo: Ceangage Learning, 2008.
HISRICH, R. D.; PETER, M. P.; SHEPHERD, D. A. Empreendedorismo. Porto Alegre: AMGH, 2014.
JONES, Gareth; HILL, Charles. O essencial da administração estratégica. São Paulo: Saraiva, 2013.
KELLEY, Tom; LITTMAN, Jonathan. As 10 faces da inovação: estratégias para turbinar a criatividade. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.
KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a
concorrência irrelevante. São Paulo: Campus, 2012.
NECK, Heidi M.; NECK, Christopher P.; MURRAY, Emma L. Entrepreneurship: the practice an mindset. Boston:
Babson College, 2017.
SILVA JUNIOR, Roberto Gregório da et al. Empreendedorismo tecnológico. Curitiba: IEP, 2009.
TIDD, Joe; BESSANT, John; PAVITT, Keith. Gestão da inovação. Porto Alegre: Bookman, 2008.
THIEL, Peter. De zero a um: o que aprender sobre empreendedorismo com o Vale do Silício. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2014.
WAENGERTNER, Pedro. A estratégia da inovação radical. São Paulo: Editora Gente, 2018.