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PERFIL DO EMPREENDEDOR
INTRODUÇÃO
O empreendedorismo tem uma relação direta com a prosperidade de um cenário. Neste contexto,
Leite (2012) destaca que os empreendedores são como ativos de grande relevância para qualquer
economia, basta analisar a geração de empregos e colaboração com o PIB (Produto Interno Bruto),
fomentadas pelas pequenas e médias empresas em países desenvolvidos.
Outra constatação sobre os empreendedores, além da relação com o desenvolvimento de um
cenário, é que eles não podem estar associados somente à abertura de negócios. Absolutamente não.
Hashimoto (2014) endossa o discurso de Schumpeter de que o empreendedor não se limita à criação
de negócios, mas também pode estender-se a outras ações como:
• criação de um método de produção;
• abertura de um novo mercado;
• busca por alternativas de materiais;
• promoção de mudanças estruturais na organização;
• novas redes de relacionamentos para apoiar nos negócios, entre outras.
“Nem sempre o empreendedor gera a ideia ou inova, mas tem papel fundamental na transformação
de qualquer ideia , dele ou de terceiro, em um projeto ou produto de sucesso” (HASHIMOTO, 2012
p. 35).
1 EMPREENDER E EMPREENDEDOR
Empreender é um verbo e, portanto, denomina uma ação.
O ato de empreender nasce com a curiosidade humana e
é desenvolvido pela evolução das necessidades, que, impondo
Empreender é o ato de
uma nova realidade de vida, geram ações de mudanças.
decidir, tentar, por em exe-
Para Dolabela (2012), empreender é uma manifestação da cução, realizar tarefa difícil
liberdade humana. e trabalhosa (DICIO, 2017).
Neste contexto, empreender é natural à evolução do ser
humano, pois, desde criança, impulsionado por esta curiosi-
dade, ou desde o começo da sua existência, o homem está buscando soluções, desenvolvendo ou
alterando algo que necessita para facilitar ou entreter a vida.
Ao longo do tempo e com a evolução crescente das necessidades, ocorreu o momento da meca-
nização e os processos industriais mudaram e foram se tornando mais complexos, conduzindo a evolu-
ção tecnológica. Estes fatos levaram à necessidade de obtenção de maior produtividade e qualidade,
Empreendedorismo 31
então o conceito de empreendedor foi ampliado e aprofundado. Por algum tempo, entendia-se como
empreendedor apenas aquele que abria uma empresa e procurava produzir bens e serviços para obter
resultados e era confundido com o administrador.
Com a globalização, passamos por mudanças cons-
tantes, principalmente na parte tecnológica, aumentando O empreendedor é “alguém
Há uma convergência de ideias de que ser empreendedor depende de inúmeros fatores, entretanto,
alguns nascem com caraterísticas e habilidades que quando bem desenvolvidas são favoráveis a
empreender. É possível, então, que uma pessoa aprenda a ser empreendedora. Na aprendizagem
empreendedora, as pessoas aprendem com a prática, com suas próprias experiências e com as dos
2 PERFIL DO EMPREENDEDOR
Existem diversos estudos que analisaram o
comportamento do empreendedor e que procuraram
traçar um perfil ideal, formando um conjunto de Perfil é um conjunto de características
características distintivas e competências que fazem ou competências necessárias
com que tenha sucesso. ao desempenho de uma atividade.
Alguns professores e pesquisadores do Babson Entende-se por competência um conjunto
College afirmaram que não há evidências de que de qualificações de uma pessoa para a
empreendedores possuam um conjunto especial de execução de um trabalho.
características de personalidade que os distingue do
restante das pessoas, mas algumas pesquisas, mesmo
sem comprovação científica, identificaram quatro características principais que poderiam ser atribuídas
aos empreendedores:
Empreendedorismo 33
Se você quer abrir uma loja de roupas femi
ninas, teria duas opções para fazer:
a. Elaborar pesquisa de mercado, ver o público-
-alvo, fazer planejamento prévio de que
objetivos quer alcançar e as estratégias que
vai usar.
b. Oferecer roupas para pessoas próximas e
colegas de trabalho e ir percebendo se seria uma boa opção. Se as vendas e o retorno
forem favoráveis, é um indicativo que você pode tomar mais um passo e alugar ou
comprar um local para estabelecer a loja. Caso contrário, deve mudar de ideia e, neste
caso, a perda de recursos futuros, tais como dinheiro e tempo, assim como energia,
seriam evitados.
Por outro lado, o psicólogo David McClelland, nas décadas de 1960 e 1970, fez vários estudos,
pesquisas e experimentos em sua empresa de consultoria e com o apoio do governo americano. Para
McClelland (1972), não havia relação entre herança genética e empreendedor, mas sim entre este e
o meio ambiente. O estudo resultou em dez características de comportamento do empreendedor de
sucesso, que foram agrupadas em três categorias de competências: realização, poder e planejamento.
Planejamento e
Correr riscos calculados
monitoramento sistemáticos
Exigência de qualidade e
eficiência
Comprometimento
REALIZAÇÃO
Persistência
Perseverar, não desistir, agir repetidamente ou efetuar mudança de estratégia para superar os obstáculos e se
esforçar para atingir os objetivos e obter sucesso.
Continua
Empreendedorismo 35
Conclusão
REALIZAÇÃO
Comprometimento
Significa empenho pessoal, engajamento e responsabilidade sobre sucesso e fracasso, atuação em conjunto
com a equipe para alcançar os resultados e priorização do relacionamento com os clientes ao invés das
necessidades de curto prazo.
PODER
Independência e autoconfiança
É ter autonomia para agir e estar sempre confiante no sucesso das decisões e na sua capacidade, é ser otimista
e determinado.
PLANEJAMENTO
Busca de informações
Investigar e estar em constante atualização de dados e informações sobre o mercado, clientes, fornecedores,
concorrentes e sobre o negócio em que atua. Também procurar orientação de especialistas e órgãos de apoio
para tomada de decisão.
Estabelecimento de metas
Estipular objetivos e metas que sejam desafiadores, de curto e longo prazo, que sejam claros, específicos,
mensuráveis e com indicadores de resultado. Registrar tudo o que se quer fazer e alcançar. Esta é a principal
característica e o motor de empreendedores.
Estes estudos foram e estão sendo usados pela ONU e muitos países, entre eles o Brasil, para
treinamento de quem quer ser empreendedor. O Sebrae tem ofertado o curso Empretec, que ensina
como desenvolver as dez características comportamentais empreendedoras dos estudos de McClelland.
Vários autores fazem uma lista das principais características e competências que um empreendedor
deve possuir para obter sucesso. Estas competências são importantes para quem deseja ser
empreendedor e estão presentes em maior ou menor proporção em cada pessoa, de acordo com a
sua trajetória de vida e nível cultural.
Tolerância ao risco, Assume riscos calculados; minimiza o risco; compartilha o risco; administra
à ambiguidade e à paradoxos e contradições; tolera a incerteza e a ausência de estrutura; tolera
incerteza o estresse e o conflito.
Criatividade, Pensador lateral, não convencional, de mente aberta; impaciente com o status
autossuficiência e quo; capaz de se adaptar e mudar; criatividade para resolver problemas;
adaptabilidade aprende rápido; não tem medo do fracasso; capaz de conceitualizar e “entender
os detalhes”.
Empreendedorismo 37
Depois de vários estudos, vem um questionamento:
Nato: tem alma de empreendedor, busca realizar seus sonhos, procura empreender sempre.
Meu jeito: quer fazer as coisas do jeito que acredita que devem ser e quer ser reconhecido por isso.
Idealista: quer mudar o mundo. Empreender é uma forma de garantir seus valores e ideais. A
motivação principal é contribuir, fazer a sua parte.
9% Situacionista 7% Herdeiro
No Brasil, temos muitos empreendedores de sucesso: Robson Shiba (China in Box), Ricardo Sayon
(Rihappy), Romero Rodrigues (Buscapé), Luiza Trajano (Magazine Luiza), Jorge Paulo Lemann (3 G Capital,
Ambev, entre outras), Alexandre Costa (Cacau Show).
Estes estudos existentes, sobre o perfil dos empreendedores, vêm colaborar para a avaliação e
desenvolvimento deste importante agente de mudanças que contribui de maneira significativa nos
aspectos socioeconômicos do país. Para aquele que quer ser empreendedor, servem como orientação
pois indicam características que devem ser observadas e desenvolvidas para a maior probabilidade de
obter sucesso.
Empreendedorismo 39
Estas verdades quebram estereótipos, como:
• de que o empreendedor não pode conversar com concorrentes;
• de que o empreendedorismo não pode ser ensinado nas salas de aula;
• de que é considerado empreendedor apenas aquele que abre um novo negócio;
• de que os empreendedores são tomadores de riscos a todo momento e ao extremo;
• de que o planejamento é uma prática constante e conduzido de forma sistemática na vida dos
empreendedores;
• de que os empreendedores têm traços de personalidade.
Na FIG 4 e no detalhamento sobre cada verdade apresentados a seguir, temos a ideia de como o
empreendedor deve agir no cenário contemporâneo segundo Neck et al. (2018).
FIGURA 4: As 7 verdades sobre o empreendedorismo
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Empreendedorismo
não é exclusivo para
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Verdades 3
Empresários
sobre o Empreendedores
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Empreendedorismo podem ser ensinados
é um método que
que planejam.
requer prática.
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FONTE: Neck et al. (2018, adaptado)
Empreendedorismo 41
VERDADE N° 4: EMPREENDEDORES NÃO SÃO AGENTES DE RISCOS EXTREMOS
De acordo com Neck et al. (2018), o risco é muito relativo. Não se pode associar de forma obrigatória
o risco extremo ao perfil do empreendedor. “Na verdade, a maioria dos empreendedores é tomador
de risco muito calculado e avalia que está disposto a perder a cada passo dado” (NECK, 2018).
Habilidade de Habilidade da
Brincar/Jogar Experimentação
Habilidade da
Reflexão
Habilidade da Habilidade da
Empatia Criatividade
Empreendedorismo 43
HABILIDADE DE BRINCAR/JOGAR
Esta habilidade funciona como um mecanismo que
potencializa o empreendedorismo e a inovação. A ação lúdica,
que remete a uma brincadeira tende a consolidar o processo
de aprendizado sobre os temas de empreendedorismo e
inovação, além de potencializar a criatividade, interação,
surgimento de ideias e aprendizado por tentativa e erro.
Para Neck et al. (2018), a habilidade de jogar libera
a imaginação, abrindo as mentes para uma riqueza
de oportunidades e possibilidades para impulsionar o
empreendedorismo e a inovação.
HABILIDADE DA EXPERIMENTAÇÃO
A habilidade para promover a experimentação é melhor
descrita em como agir para empreender (NECK et al. 2018)
Esta habilidade remete a empreender a experimentação.
Se você almeja lançar um produto, você deve proporcionar a
interação deste produto com o cliente desejado, a fim deste
contribuir com insights sobre ele. Neck et al. (2018) reforçam
a necessidade de fazer perguntas, validar suposições, a fim
de esgotar o entendimento de como os clientes interagem
com o seu produto.
Esta é uma habilidade que estreita com o perfil do
empreendedorismo, uma vez que o empreendedor não deve
estar limitado a pesquisas de opinião, mas sim ir a campo e entender como o cliente consome seu
produto. Assim, esta ação fornecerá subsídios para o aprendizado em relação a sua ideia ou produto.
HABILIDADE DA CRIATIVIDADE
A habilidade da criatividade remete a abertura para
o mundo, a fim de desencadear a capacidade de criação,
identificação de oportunidades e solução de problemas.
Neck et al. (2018) relacionam a criatividade como algo que
fomenta principalmente a criação de oportunidades, ao invés
de descobri-las ou procurá-las.
O grau correspondente à habilidade da criatividade
também está relacionado a princípios como: quantidade de
recursos disponíveis para execução, capacidade de colaborar
ao invés de competir, esforço para construir relacionamentos,
entre outros.
HABILIDADE DA REFLEXÃO
A habilidade da reflexão impulsiona todas as outras
habilidades. Consiste no momento de pensar sobre o que
você, como empreendedor, tem desenvolvido por meio
da empatia, do brincar, da criatividade e experimentação.
De acordo com Neck et al. (2018), a reflexão fomenta o
sentimento de desconforto, ajudando a análise crítica
do próprio sentimento, contribuindo para a ação do
autoconhecimento. Desta maneira, este processo de reflexão
favorece a identificação de novas perspectivas, assim como
a avaliação de resultados.
CONCLUSÃO
Estudar sobre diferentes visões sobre o perfil dos empreendedores vem colaborar para a
avaliação e desenvolvimento deste importante agente de mudanças que contribui de maneira
significativa nos aspectos socioeconômicos dos países. Para aqueles que querem empreender,
servem como orientação as características que devem ser observadas e desenvolvidas para a
maior probabilidade de obter sucesso.
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