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EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO

EVANDRO CESAR SCHENAL


SUMÁRIO
Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU-
PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for-
ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os
direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É
proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita.
CONCEITOS GERAIS 3

O QUE É EMPREENDEDORISMO 4
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC
O QUE É INOVAÇÃO 6
Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS
A IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO E DA INOVAÇÃO 6

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR 7


REITOR
SÍNTESE8
Claudino José Meneguzzi Júnior
EMPREENDEDORISMO10 PRÓ-REITORA ACADÊMICA

O EMPREENDEDORISMO NA HISTÓRIA 11 Débora Frizzo


PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
O EMPREENDEDORISMO DA QUINTA ONDA 12
Altair Ruzzarin
QUAL A PRÓXIMA ONDA? 12 DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
SÍNTESE14 Lígia Futterleib

ECOSSISTEMAS EMPREENDEDORES 16

ESTADO DE ESPÍRITO EMPREENDEDOR 18 Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD)

A IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS 18 Coordenadora e Designer Instrucional


Sabrina Maciel
O CANVAS DO ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR 20
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
MANDAMENTOS45 Igor Zattera, Júlia Oliveira, Thais Munhoz
SÍNTESE46 Revisora
Luana dos Reis
APRESENTAÇÃO

CONCEITOS GERAIS
O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século
XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX

(TIMMONS apud DORNELAS, 2008, p.5).

Ao longo da história da humanidade, os termos empreendedorismo e inovação talvez

nunca tenham sido tão abordados, comentados, estudados, enfim, badalados, como nos tem-

pos atuais. Empresas de todos os segmentos e tamanhos, governos, organizações não-go-

vernamentais, profissionais liberais, líderes, autônomos, empregados, repetem à exaustão a

importância desses termos, que normalmente aparecem conjugados.

Para partirmos com um entendimento claro sobre essas duas palavras, que também são

o título do nosso Projeto Integrador, comecemos com a definição linguística das mesmas.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 3


O QUE É
EMPREENDEDORISMO
É palavra formada pelo substantivo “empreendedor” seguido do sufixo
“ismo”, o qual, nesse caso, denota a ação, o comportamento, ou o
procedimento caracterizado pelo radical do referido substantivo. Ou seja,
uma pessoa que vive o empreendedorismo (empreendedor+ismo) é aquela
que age, comporta-se ou procede como empreendedor.

E o que é, ou o que faz, um empreendedor?

4
SUMÁRIO

O substantivo “empreendedor”, por sua vez, tem origem na língua francesa (entrepre-

neur), significando “aquele que assume riscos e começa algo novo” (Chiavenato, 2008, p. 3),

sendo mister nesse ponto já diferenciar entre o empreendedor e o capitalista: enquanto o

primeiro tem a iniciativa, quer fazer algo novo, e assume variados tipos de risco, como por

exemplo, emocional, psicológico, jurídico, de perda de tempo e recursos, o capitalista apenas

arrisca seu recurso financeiro.

Em perspectiva histórica, antes da Revolução Francesa, quando as monarquias contro-

lavam praticamente todas as atividades econômicas, inclusive determinando preços máximos

de venda de produtos, já existia a figura do empreendedor: ele era aquele que conseguia uma

licença, por exemplo, para comercializar determinado item, com preço de venda fixo. Quanto

mais barato conseguisse comprar ou produzir, maior era seu lucro. Por outro lado, caso não

conseguisse comercializar os itens comprados/produzidos, ele é que teria que arcar com o

prejuízo, constituindo-se aí o fator risco para o empreendedor, desde aquela época.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 5


SUMÁRIO

O QUE É INOVAÇÃO A IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO E DA INOVAÇÃO

Inovação, do radical inovar, vem do latim innovare, originária da junção de in + novus, Iniciativas de apoio ao empreendedorismo e à inovação já não são novidade há muitas

denotando a ação, a identificação, o alinhamento com o novo. Algo como agir, estar “dentro décadas. Prova disso é que com o aumento da globalização, o tema tem constado cada vez

do novo”, ou “praticar o novo”. mais nas agendas de governos e empresas. No caso dos primeiros, em nível nacional, cria-

ram-se programas continuados de apoio ao empreendedor, como os do Sebrae e o programa

Há consenso entre empreendedores da atualidade de que uma inovação é uma oferta ao Startup Brasil. No caso das empresas, algumas têm um foco bem definido na inovação, como

mercado, a qual evidentemente deve ter algo novo e/ou diferenciado na sua proposta, mas a 3M por exemplo, cujo objetivo, segundo Sertek (2007, p. 23) é “que aproximadamente 1/3 do

que – além disso – o mercado de fato perceba como algo de valor! Ou seja, pode-se até ofere- seu faturamento seja advindo de produtos lançados nos últimos três anos”.

cer ao mercado uma novidade, um produto ou serviço novo, mas se aquele não enxergar valor

na proposta, não estiver disposto a dar seu dinheiro em troca da oferta, então a criação que Em um país onde ainda há tantas carências, como por exemplo de humanidade, edu-

gerou a oferta não terá sido inovadora. Há uma máxima de uso recorrente em ecossistemas cação, saúde, trabalho, desenvolvimento sustentável, urbanização, beleza, é evidente que há

empreendedores que diz “inovação é nota fiscal sendo emitida”, no sentido de que o mercado muito espaço para o empreendedorismo. E esse espaço precisa ser ocupado por todos e cada

está comprando o produto ou serviço inovador. um de nós, afinal é nele que a mudança acontece, que as melhorias sonhadas se tornam re-

alidade, normalmente em um processo que leva o seu tempo, em um caminho quase sempre

Não é por acaso que as palavras empreendedorismo e inovação normalmente aparecem tortuoso, mas que ao final, tende a beneficiar a todos.

juntas, pois empreender sem inovar implica em “fazer mais do mesmo”, oferecer algum pro-

duto ou serviço com proposta de valor idêntica à que alguém mais já oferece. E em um mun- Para finalizar esse tópico é fundamental dizer, também, que a inovação precisa do em-

do cada vez mais globalizado e conectado, onde cada vez é mais fácil alcançar o consumidor, preendedorismo para acontecer, uma vez que, como já vimos neste mesmo capítulo, inovar é

e onde diferenciais como localização geográfica, tecnologia, atendimento cada vez menos capturar e oferecer valor. E oferecer valor é típico do empreendedorismo, ou seja, a transpo-

constituem-se em barreira de entrada para concorrentes, quem não conseguir ter uma pro- sição da invenção, ou da ideia, para a oferta de valor ao mercado, normalmente é feita através

posta de valor única, ou pelo menos, diferenciada, corre o risco de precisar “nadar no oceano de algum empreendimento.

vermelho” da concorrência e da guerra de preços.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 6


SUMÁRIO

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR

Após ler o subtítulo acima, imagino que venha a tua mente pelo menos algumas carac- 1. Necessidade de realização.

terísticas que todos acreditam comuns a qualquer empreendedor.


2. Disposição para assumir riscos.

Em um perfil característico e típico da personalidade empreendedora, segundo Bernardi


3. Autoconfiança.
(2009 p. 8 e 9) normalmente se destacam, não necessariamente em ordem de relevância:

Dentre as três características sugeridas pelos autores, talvez a de mais difícil análise
• Senso de oportunidade • Flexibilidade e resistência a frustra-
seja a da necessidade de realização. É adequado pensar que todos os seres humanos têm essa
• Dominância ções (resiliência)
necessidade, mas onde cada um se posiciona em uma escala, digamos de 0 a 10? Exemplifi-
• Agressividade e energia para realizar • Criatividade
cando, o que seria uma pessoa com necessidade de realização zero? Talvez um morador de
• Autoconfiança • Tolerância ao risco
rua, um mendigo, desses que mesmo após retirados da rua por instituições e/ou programa de
• Otimismo • Liderança carismática
ação social, depois de um tempo à rua voltam. Uma pessoa assim, normalmente, nada almeja.
• Dinamismo • Habilidade de equilibrar sonho e rea-
Apenas vive e espera seu tempo na terra passar...
• Independência lização

• Persistência • Habilidade de relacionamento


E o que seria uma pessoa com necessidade de realização 10? Talvez Richard Branson, ou

Elon Musk, pessoas conhecidas por serem empreendedores em série, que fundam várias em-

presas, normalmente de ramos diferentes, e estão sempre empreendendo.


É uma lista relativamente extensa, mas a boa notícia é que todas essas características,

em maior ou menor grau, são competências. Ou seja, podem ser desenvolvidas.


Para finalizar esse capítulo, analise de maneira um pouco mais profunda o quanto tu te

identificas com um modo de vida baseado no empreendedorismo, fazendo uma autoavaliação


Alguns autores, como por exemplo Longenecker, Moore, Petty apud Chiavenato (2008
criteriosa, realista e honesta do seu perfil empreendedor, que é apresentada nos exercícios
p. 8), resumem as características do empreendedor em apenas três, quais sejam:
deste capítulo.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 7


SÍNTESE SUMÁRIO

SÍNTESE

Neste capítulo abordamos a origem e o significado dos termos empreendedorismo e inovação, a importân-

cia do empreendedorismo e da inovação, e as características mais comuns de empreendedor. Além disso, fare-

mos uma autoavaliação do perfil empreendedor de cada um, com a identificação dos pontos fortes e dos pontos

que precisam melhorar, para que tu possas te tornar um empreendedor mais completo.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 8


EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Qual das opções abaixo são características de um empreendedor?

3. Por que os termos empreendedorismo e inovação normalmente são usados juntos?


a. Senso de oportunidade

a. Porque convencionou-se usá-las dessa maneira.


b. Persistência

b. Porque eles têm forte relação desde antes da Revolução Francesa.


c. Flexibilidade e resistência a frustrações (resiliência)

c. Porque na atualidade é extremamente arriscado empreender sem inovar.


d. Tolerância ao risco

d. Porque são palavras da moda.


e. Todas acima.

e. Porque automaticamente, ao empreender as pessoas inovam.


2. Dentre as opções abaixo, qual melhor definiria o termo inovação?

4. Pode-se inferir que a inovação não acontece, na sua plenitude, sem o empreendedoris-
a. Abrir novos negócios.
mo. Explique, em no máximo 4 linhas, por que essa inferência faz sentido, à luz do que

vimos até o momento na disciplina.


b. Inventar e/ou fazer coisas novas.

5. Para que você possa, ao mesmo tempo em que desenvolvemos a disciplina, também co-
c. Ter um pedido de Patente reconhecido.
nhecer e melhorar suas características empreendedoras, faça a Autoavaliação do Perfil

Empreendedor, que está no Anexo. A partir disso você identificará seus pontos fortes,
d. Aceitação em massa, pelo mercado, de uma nova proposta de valor.
assim como os pontos onde precisas melhorar, se quiser se tornar um empreendedor!

e. Fazer projeções em sessões de brainstorming.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 9


EMPREENDEDORISMO
Empreendedores são aqueles que entendem que há uma pequena diferença
entre obstáculos e oportunidades, e são capazes de transformar ambos em
vantagem.

Maquiavel

Há consenso entre estudiosos da área de que há duas razões para as pessoas empreenderem:

a necessidade e a oportunidade.

10
SUMÁRIO

O primeiro caso é quando a pessoa, por alguma razão alheia à sua vontade, como O EMPREENDEDORISMO NA HISTÓRIA
por exemplo uma demissão, falta de oportunidade no mercado formal ou até mesmo

informal de trabalho, se vê obrigada a desempenhar alguma atividade ou abrir algum Qual o primeiro passo para o empreendedorismo de oportunidade? Evidentemente, é detectar a
negócio, por sua própria conta e risco, para sobreviver. Casos típicos dessa situação oportunidade! E normalmente, quem a detecta e empreende para aproveitá-la, tem grandes chances
são empreendedores autônomos, notadamente em ramos de comércio e serviços. de ter sucesso. Exemplifiquemos: em um livro de Malcom Gladwell intitulado “Os Fora de Série”, ele

observa que, da lista das 75 pessoas mais ricas da história da humanidade, “nada menos que 14 são
O empreendedorismo de necessidade tem inegável importância, pois quem o de americanos nascidos em um período de nove anos, em meados do século XIX” (GLADWELL, 2008,
pratica tira do empreendimento seu sustendo e normalmente de mais pessoas do seu p. 61 e 62). Gladwell continua:
núcleo familiar. Ao mesmo tempo, muitas vezes esses empreendimentos não crescem,
“O que significa isso? A resposta torna-se óbvia quando pensamos a respeito. Nas décadas de
por razões como a pouca ou nenhuma barreira de entrada para novos concorrentes,
1860 e 1870, a economia estadunidense passou, provavelmente, pelas maiores transformações
ou pelo fato de o empreendedor apenas querer manter o empreendimento ativo até
da sua história. Foi quando se construíram as ferrovias e Wall Street emergiu. Naquela época,
conseguir voltar para o mercado de trabalho, não se interessando em ampliá-lo.
a produção industrial começou de verdade. Todas a normas que regiam o funcionamento da

economia tradicional foram então rompidas e refeitas” (GLADWELL, 2008, p. 62).


Já o segundo caso é quando a pessoa de fato vislumbra uma oportunidade de

negócio, na qual entende que poderá conquistar e manter uma posição relevante no
Ou seja, fica evidente que aquelas 14 pessoas, que estão entre as que construíram as maiores
mercado.
fortunas de toda a história, tiveram um apurado senso de oportunidade, e “surfaram” em grande

estilo a 2ª onda do desenvolvimento da humanidade, conforme se pode ver na figura abaixo.!


O apoio dos órgãos governamentais de fomento e investidores em geral evi-

dentemente é mais direcionado ao empreendedorismo de oportunidade, por razões Energia hidráulica Vapor Eletricidade química Petroquímica Redes digitais
Têxteis Estrada de ferro Motor Eletrônica Softwares
óbvias: o empreendedor entra no empreendimento por acreditar que há uma opor-
Ferro Aço Combustão Aeronáutica Novas mídias
tunidade no mesmo (e não porque foi “empurrado” pela necessidade), e com isso a
1ª onda 2ª onda 3ª onda 4ª onda 5ª onda
tendência natural é que o mesmo se dedique muito mais ao que está fazendo, aumen-

tando, portanto, as chances de sucesso. 1750 1845 1900 1950 1990 2020

60 55 50 40 30

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 11


SUMÁRIO

Para não ficarmos somente com exemplos do exterior, houve também um grande em- parecem impensáveis negócios que não tenham tecnologias pelo menos da 5ª onda no seu cerne.

preendedor brasileiro que aproveitou a mesma janela de oportunidade que as 14 pessoas ci-

tadas no parágrafo anterior. Empreendeu em ramos como de ferrovias, construção naval, Que elementos seriam esses? Vamos a alguns exemplos: Fábricas de automóveis, máquinas

transporte fluvial e marítimo, bancos, etc., e chegou a ter um patrimônio 20% maior que o e equipamentos, adotam cada vez com maior intensidade o conceito de fábrica inteligente (In-

orçamento do império brasileiro à época (fonte: https://www.vix.com/pt/bbr/1332/conheca- dústria 4.0); empresas de prestação de serviços de saúde, de controle de trânsito, de segurança,

-o-mais-rico-brasileiro-de-todos-os-tempos). dia após dia incorporam à sua operação/gestão, a integração via redes e softwares, de dados de

clientes/usuários, do mercado, etc., para que com isso consigam aumentar as chances de sucesso

Trata-se de Irineu Evangelisa de Souza, ou Barão de Mauá, como é mais conhecido, que do empreendimento.

foi contemporâneo dos grandes visionários citados no livro de Malcom Gladwell. Ou seja, mais

um caso típico de empreendedor que vislumbrou as oportunidades e soube aproveitá-las. Assim, parece fazer total sentido que se empreenda a partir da onda atual e, se possível, já

levando em conta as necessidades que se terá na 6ª onda.

O EMPREENDEDORISMO DA QUINTA ONDA


QUAL A PRÓXIMA ONDA?
Talvez a primeira pergunta ao iniciar esse tópico seja: por que pulamos direto para a quinta

onda? A resposta tem a ver com o seguinte: as ondas anteriores já se constituem em caminhos É bem provável que tu estejas te fazendo essa pergunta. Para tentar responde-la, o em-

mais batidos, campos já bastante explorados, onde negócios normalmente grandes e sólidos já preendedorismo tomou emprestado das artes o seguinte termo: futurismo. Palavra conhecida

dominam o cenário, muitas vezes organizados em forma de mono ou oligopólios, assim criando por definir um movimento artístico homônimo surgido na Itália bem no início do século XX,

barreiras de entrada tais que tornam muito mais arriscado ter sucesso nessas áreas. atualmente é usada no mundo empresarial para definir o planejamento de empresas para ce-

nários futuros em relação aos seus negócios, considerando um mundo onde tudo muda muito

Ou seja, não parece promissor abrir um empreendimento na área de tecelagem (1ª onda), rápido. Na acepção de Pierre Wack, o futurismo nesse contexto seria “uma disciplina para re-

aço (2ª onda), motor a combustão (3ª onda), ou mesmo petroquímica ou aeronáutica (4ª onda), descoberta da força empreendedora original das previsões criativas, em contextos de mudan-

onde o cerne do negócio seja somente a tecnologia do período. Agora, se forem adicionados ele- ça acelerada, grande complexidade, e incerteza genuína” (https://www.amanet.org/training/

mentos da 5ª onda (software, redes), os riscos certamente serão menores. Afinal, atualmente articles/futurism-a-growing-business-strategy.aspx) .

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 12


SUMÁRIO

Especialmente as grandes empresas, utilizam serviços de profissionais especializados em Outro tema, que acredito será uma onda muito importante, é a da sustentabilidade. Se olhar-

planejamento de cenários futuros, para evitar serem pegas de surpresa e assim colocarem o negócio mos no gráfico abaixo, a população humana vem crescendo de forma exponencial, crescimento esse

em risco por conta das referidas “mudanças aceleradas”. Contar com futuristas no seu time, talvez que assim perdurará por pelo menos mais três décadas!

seja um luxo que um empreendimento em estágio inicial não possa se dar, mas de qualquer forma,

é uma boa recomendação que qualquer empreendedor esteja sempre atento ao que acontece ao seu Outra área que sinaliza ser parte da próxima onda é a computação quântica, onde, como o

redor e, em mesmo grau de importância, ao que ele vislumbra que ocorrerá no futuro. próprio nome indica, os computadores executariam suas operações através do uso da mecânica

quântica e suas propriedades como sobreposição e inferência, o que faria os computadores absur-

Assim, a partir do futurismo, da atenção ao mundo e ao contexto que cerca o seu negócio, e damente mais rápidos que os atuais, que operam somente com dados codificados em 0 ou 1 (sistema

todas as influências que o desenvolvimento tecnológico exerce na nossa ideia de como será o futu- binário).

ro, como tu imaginas que será a próxima onda?

Por isso, uma assunção que me parece válida é que a próxima onda traga o desenvolvimento
Energia hidráulica Vapor Eletricidade química Petroquímica Redes digitais
Têxteis
Ferro
Estrada de ferro
Aço
Motor
Combustão
Eletrônica
Aeronáutica
Softwares
Novas mídias ? destas tecnologias, de modos que a 6ª onda complementaria as anteriores conforme a figura abaixo.

Energia hidráulica Vapor Eletricidade química Petroquímica Redes digitais Int. Artificial
1ª onda 2ª onda 3ª onda 4ª onda 5ª onda 6ª onda Têxteis Estrada de ferro Motor Eletrônica Softwares Sustentabilidade
Ferro Aço Combustão Aeronáutica Novas mídias Computação Quântica
1750 1845 1900 1950 1990 2020 2040?
1ª onda 2ª onda 3ª onda 4ª onda 5ª onda 6ª onda
60 55 50 40 30

1750 1845 1900 1950 1990 2020 2040?


Difícil acertar, exceto aquelas tendências que já estão acontecendo, e onde vimos que movi-
60 55 50 40 30
mentos nesse sentido são inexoráveis.

Nas próximas aulas falaremos mais sobre oportunidades para o empreendedorismo. Por

Por exemplo, eu acredito que tu já deves ter ouvido falar em Inteligência Artificial, ou seja, hora, deixo o seguinte questionamento, para vires pensando: Caso penses que as tecnologias da

computadores aos quais é possível ensinar, e que a partir disso serão capazes de tomar decisões ba- 6ª onda serão outras, que tecnologias seriam essas? Que empreendimento tu criarias para re-

seados em entradas mais complexas de informação. solver problemas a partir de tecnologias da 6ª onda? Problemas que talvez ainda não surgiram?

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 13


SÍNTESE SUMÁRIO

SÍNTESE

Neste capítulo abordamos os dois principais tipos de empreendedorismo, quais sejam, ou por necessida-

de e ou por oportunidade, observando que embora ambos tenham valor, por oportunidade tende a apresentar

maior sucesso. Vimos também o empreendedorismo sob o ponto de vista histórico, e como os empreendedores

que surfaram as grandes ondas causaram enorme impacto nas sociedades, além de terem sido generosamente

recompensados, sob o ponto de vista financeiro. Por fim, discutimos, levantamos hipóteses, e deixamos uma pro-

vocação sobre qual será a sexta onda que favorecerá grandemente o empreendedorismo e consequentemente os

empreendedores.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 14


EXERCÍCIOS SUMÁRIO

3. Conforme informação no texto, das 75 maiores fortunas da história, 14 eram empre-

endedores estadunidenses nascidos em um intervalo de tempo de 9 anos. Por que eles

conseguiram tamanho sucesso?


1. Sobre o empreendedorismo por necessidade: A principal razão do mesmo acontecer é:

a. Porque eram de famílias também muito ricas


a. O empreendedor ter vislumbrado uma oportunidade
b. Porque souberam aproveitar a oportunidade da 2ª onda nos EUA
b. Apoio de órgãos de fomento
c. Porque foram grandes exportadores
c. Urgência de encontrar meios de subsistir d. Porque tiveram sorte

e. Porque tiveram excelentes mentores


d. Habilidade do empreendedor

e. Conhecimento do empreendedor na área de gestão de negócios


4. São exemplos de empresas que souberam “surfar” com maestria a 5ª onda da economia

mundial:
2. Sobre o empreendedorismo por oportunidade: A principal razão do mesmo acontecer é:

a. Petrobrás, Ipiranga, Shell


a. O empreendedor ter encontrado o time ideal
b. Fiat, Ford, VW
b. Apoio dos órgãos de fomento
c. Vale do Rio Doce; BRFoods, JBS
c. Urgência de encontrar meios de subsistir
d. Apple, Microsoft, Amazon
d. O empreendedor ter vislumbrado possibilidades de sucesso;
e. SBT, Globo, Record
e. Apoio da família

5. Qual tecnologia tu acreditas que será a líder da 6ª onda e por que? Discorra em até 10 li-

nhas.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 15


ECOSSISTEMAS
EMPREENDEDORES
Mais do que uma localização geográfica, o Vale do Silício é um estado de
espírito (Adágio popular no Vale).

16
SUMÁRIO

O principal fator para


o empreendedorismo
é o talento humano:
pessoas com boa
formação nas suas
áreas de atuação,
e motivadas
à realização.
Essa condição é
necessária, mas
não suficiente,
para que se forme
um ecossistema
relevante.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 17


SUMÁRIO

ESTADO DE ESPÍRITO EMPREENDEDOR A IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS

É fácil perceber que algumas regiões do mundo, de um país, ou mesmo de um estado, A palavra ecossistema foi emprestada pela Biologia, pela área dos negócios, pois há al-

são mais empreendedoras que outras. E como se pode imaginar, isso tem a ver com uma série gum tempo o uso da mesma é absolutamente normal, quando se fala em Ecossistemas em-

de fatores. preendedores. Realizando uma busca no dicionário Houaiss, encontramos para o termo ecos-

sistema a seguinte definição:

Qual seria o principal fator? Existe algum que o seja? Evidentemente, que o principal é

o talento humano: pessoas com boa formação nas suas áreas de atuação e motivadas à rea-

lização. Essa condição é necessária, mas não suficiente, para que se forme um ecossistema Um ecossistema – da forma como a palavra é usada no “mantra” Ecossistema empreen-

relevante.
“sistema que inclui os seres vivos e
o ambiente, com suas características
físico-químicas e as inter-relações
entre ambos”.

dedor - pode ser entendido como o local (a “casa”, do grego oîkos) que propicia as inter-rela-

ções entre diversos agentes (pesquisadores, instituições de ensino, empreendedores, investi-

dores, talentos das áreas comercial, fiscal, contábil, marketing, etc.), necessários à criação de

empresas, facilitando a jornada de criação e crescimento - se possível exponencial – de novos

negócios.

A partir desse esclarecimento sobre a denominação dos locais geográficos mais propí-

cios para o surgimento e crescimento de startups, fica clara a importância dos mesmos com

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 18


SUMÁRIO

todos os seus atores, assim como o seu estudo com vistas ao melhor

entendimento – e consequente apoio – à criação do melhor Ecossis-

tema empreendedor possível para uma determinada cidade ou região,

pois o objetivo maior é construir o desenvolvimento econômico e so-

cial de ditas cidades, regiões, e também seus respectivos países.

Há um livro muito interessante sobre os ecossistemas empreen-

dedores que se chama, “The Rainforest” ou A floresta tropical.

A floresta tropical figura no imaginário das pessoas que vivem

no hemisfério norte, como exemplo de um ecossistema denso, que

contém os principais elementos para o rápido desenvolvimento de

todas as espécies que a compõe: nutrientes, calor e umidade, por isso,

o uso da metáfora para indicar um ecossistema pujante e diverso.

No livro, também é feito um paralelo entre uma lavoura e a flo-

resta tropical: na primeira, só se quer colher uma determinada cultura,

corroborando para todas as ações do agricultor - o plantio feito sime-

tricamente, com igual espaçamento entre fileiras e entre pés, o solo

adubado e corrigido para a necessidade daquela cultura em específico,

e agrotóxicos pulverizados sobre a lavoura para que somente aquela

cultura produza. Na segunda, é exatamente o contrário: o ecossistema

não condiciona somente um tipo de cultura. O ambiente é tal que per-

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 19


SUMÁRIO

mite o surgimento e o crescimento de um sem número de formas de vidas diferentes, o que

proporcionaria a possiblidade de se encontrar culturas novas, plantas e formas de vida no-

vas, algumas das quais com a possibilidade de substituir as culturas tradicionais anteriores.

Essa lógica, no mundo do empreendedorismo, levaria à seguinte analogia: o ecossistema de

empresas grandes, solidamente estabelecidas, tende a funcionar como uma grande lavoura,

onde se produz aquilo que sempre foi produzido, e as ideias novas são tratadas como ervas

daninhas que precisam ser eliminadas. Já um ecossistema pujante, de startups, funcionaria

como uma floresta tropical, onde haveria espaço para uma infinidade de novas culturas (no-

vas ideias, novas empresas), que uma vez identificadas no meio da “selva” por seu potencial

de resolverem problemas da sociedade, podem ter seu crescimento potencializado e transfor-

mado em um grande negócio.

Assim como a Floresta Tropical necessita de vários agentes para que seja um ecos-

sistema fértil (insolação, regime pluviométrico, temperatura, agentes polinizadores, pás-

saros, microfauna e microflora do solo, etc.), também os ecossistemas empreendedores

necessitam de seus agentes para que possam prosperar. Esse tema será abordado na sequ-

ência.

O CANVAS DO ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR

Uma das ferramentas mais usadas para entender e formar tal ecossistema é o Canvas

a ele dedicado, sugerido pelos autores do livro The Rainforest. A partir dele, se pode ter uma

visão clara dos agentes mais importantes para a construção de um ecossistema forte.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 20


SUMÁRIO

Segundo a análise dos autores, há nove agentes fundamentais que,

quanto mais presentes e melhor desenvolvidos, mais fazem aumentar as

chances dos empreendimentos criados naquele ecossistema, prosperarem.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 21


SUMÁRIO

São eles:

• Líderes

• Partes interessadas

• Ambiente regulatório

• Recursos

• Atividades

• Engajamento

• Modelos/Referências

• Infraestrutura, capacidade e

comunidade

• Cultura

Analisemos um a um, esses agentes.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 22


SUMÁRIO

LIDERANÇA

Ao analisar esse agente, devemos responder as seguintes perguntas:

• Quem tem a reputação, recursos e o comprometimento para liderar novas iniciativas?

Aqui, reputação compreende o respeito, a consideração, e em certo modo, também a

admiração que uma pessoa tem na comunidade. Quais são as ações anteriores que a levaram

a ser respeitada, considerada, admirada pela comunidade? É preciso que as lideranças reú-

nam adjetivos dessa ordem para poderem liderar um ecossistema, pois afinal, os líderes em

geral são referências para as demais pessoas, e para que gozem desse status, precisam ter

boa reputação. Os recursos referidos são principalmente tempo e conhecimento, uma vez

que o primeiro é fundamental para que a liderança se comprometa a desenvolver o ecossis-

tema, e o segundo para que seu comprometimento seja mais eficiente do ponto de vista de

resultados. Conhecimento é fundamental para fazer as coisas andarem mais rápido.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 23


SUMÁRIO

• Quem vai puxar novas iniciativas dentro da sua própria empresa?

Quando o assunto é intraempreendedorismo, é fundamental a figura do puxador, aquela pessoa

disposta a encabeçar novos projetos, novas ideias, novas realizações, dentro da empresa onde traba-

lha, independentemente de ter ou não papel formal de liderança. Como ter pessoas que desempenham

este papel dentro do ecossistema? Através do fomento a esse tipo de comportamento de ter pegada,

iniciativa, que pode ser feito de várias formas, como através do exemplo dos líderes de direito, do trei-

namento em liderança, da não punição do erro e da difusão de um desejo de realizar.

• Como os líderes e os puxadores podem ser mais inclusivos?

O sentimento de pertença é um dos mais caros do ser humano. Todos queremos ser parte de algo,

e se nos sentirmos assim, muito maior é a probabilidade de contribuirmos para o grupo do qual somos

parte, por isso, a importância dos líderes e puxadores do ecossistema empreendedor serem extrema-

mente inclusivos! Todos têm que se sentir parte, para que contribuam com o melhor de si para o ecos-

sistema! Como ser mais inclusivo? Desenvolvendo habilidades como inteligência emocional, coaching,

treinamento, comunicação, citando algumas. Para que uma pessoa seja inclusiva, precisa entender razo-

avelmente de gente!

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 24


SUMÁRIO

PARTES INTERESSADAS

• Quem são os empreendedores?

Os empreendedores são as referências, os modelos a servirem como guia no empreen-

der. Por isso a importância de estar claro para a comunidade quem são eles. E também impor-

tante que eles mostrem seus empreendimentos e compartilhem seus conhecimentos!

• Quem são as partes interessadas?

Importante identificar para a comunidade, que há muito mais partes interessadas do que

somente o empreendedor, como alguém mais desavisado poderia pensar. Em geral, a gran-

de maioria das pessoas e empresas é parte interessada no ecossistema. As primeiras, porque

em um ecossistema que produza negócios, automaticamente são gerados emprego e renda. E

população com renda consome, compra imóveis, enfim, faz girar a economia local proporcio-

nando crescimento econômico, que gera mais impostos, aumentando a capacidade de inves-

timento dos governos e das empresas e pessoas como um todo.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 25


SUMÁRIO

• Quem são os inventores?

Muito importante identificar e valorizar os inventores, as pessoas com perfil

criativo na comunidade. Essas são as pessoas conhecidas por criarem, inventarem

soluções para os problemas, às dores das pessoas. Esse tipo de perfil, além de ser

conhecido e reconhecido pela comunidade, também deve ser incentivado. Inven-

ções podem gerar patentes, que podem gerar royalties para os inventores, nova-

mente fortalecendo a economia local.

• Quem são os provedores de capital?

Investimento também é fundamental para o ecossistema. É bom para o em-

preendedor saber que há capital disponível, que evidentemente é investido segundo

os critérios, ou a tese, do investidor ou grupo de investidores. O ideal para o ecos-

sistema é que empreendedores do próprio local ou região, que tenham passado por

todo o processo do empreender até a venda e/ou afirmação do negócio, utilizem

parte do dinheiro ganho com o sucesso dos seus empreendimentos, para investir

em novos negócios.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 26


SUMÁRIO

• Quem são as organizações de suporte?

São as instituições de ensino, principalmente superior e médio (centros universitários, região onde vivem, mas sim para fomentar empreendimentos que consigam alcançar outros

faculdades, escolas técnicas), o sistema S (Sebrae, Sesi, Senai), as agremiações de empreen- mercados, se possível também exportando. Também são participantes-chave, as pessoas que

dedores, os arranjos produtivos locais, e as associações de indústria e comércio, citando as trabalham para derrubar as barreiras sociais, culturais, de conhecimento e de habilidades de

principais. Enfim, dão suporte todas as organizações que proveem formação, conhecimen- interação com outras pessoas, para que através do progresso gerado pelos empreendimentos,

to – tanto técnico quanto de marketing e negócios – e aglutinam empreendedores e todos também as barreiras econômicas deixem de ser um fato limitante para a realização das pessoas.

os que se interessam pelo tema, reforçando o sentimento de pertença, afirmando a cultura

empreendedora, e suportando o ecossistema.

• Qual o papel do governo?

Comprometer-se com o empreendedorismo, incentivar a realização de eventos a ele

voltados, oferecer a melhor infraestrutura e a menor burocracia possíveis para quem quer

empreender, são decisões de curto prazo que os governos podem tomar. No médio e lon-

go prazo, ao governo cabe, nas áreas onde é responsável pela educação, elevar o seu nível e

incluir nos currículos a educação empreendedora, sedimentando a cultura de que é ela que

transforma positivamente as sociedades.

• Quem são os outros participantes chave no ecossistema da inovação?

Quaisquer outros cidadãos e cidadãs que tenham uma visão pró-empreendimento, que

entendam que devem trabalhar juntos não para dividir o mercado finito da comunidade e/ou

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 27


SUMÁRIO

AMBIENTE REGULATÓRIO

• Qual é o ambiente regulatório para a inovação?

Normalmente, a proteção à inovação/invenção se dá através das leis de propriedade

intelectual e industrial. Esse arcabouço regulatório é nacional e internacionalmente bem

desenvolvido, principalmente através de patentes, proteção de softwares, marcas, etc., e

normalmente não é difícil que inovadores e empreendedores se movam bem nesse assunto,

ou que haja prestadores de serviços habilitados para ajudar os empreendedores a trabalha-

rem dentro dos marcos regulatórios.

• Q
uais barreiras legais/burocráticas existem no caminho do empreendedor?

Quanto menos burocrático for o ambiente regulatório, melhor para o ecossistema! Tudo

o que implique taxas, vistorias, reconhecimentos de autenticidade, ou demais trâmites/do-

cumentos de pouca ou nenhuma utilidade, são procedimentos que podem se transformar em

barreiras para o empreendedor, que via de regra terá que tirar o tempo que deveria ser de-

dicado ao crescimento do seu negócio, para fazer atividades burocráticas. Felizmente, uma

parte significativa dos trâmites está em nível municipal. Assim que, havendo a percepção

dessas autoridades sobre o quanto tais procedimentos atrapalham a vida do empreendedor

– e as mesmas estando imbuídas em construir o ecossistema – fica mais fácil trabalharem

para tornar mais fluido o processo e/ou eliminar passos/procedimentos redundantes/des-

necessários.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 28


SUMÁRIO

• Quais normas sociais amplamente conheci-

das envolvem o ecossistema da inovação?

Uma norma social que é muito benéfica para

um ecossistema empreendedor é oferecer-se para

ser sócio de determinado empreendimento cuja

ideia se entende como de alto potencial, ao invés

de tentar “furtar” a ideia realizando-a sozinho.

Outra norma é o famoso axioma, “empre-

endedor ajuda empreendedor”. Novamente, reto-

mamos a questão do modelo mental, da atitude do

“fazer juntos” e da colaboração com todo o ecos-

sistema.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 29


SUMÁRIO

RECURSOS

• Que recursos estão disponíveis para os aspirantes a empreendedor?

Para os aspirantes a empreendedor, deve estar claro com quais recursos podem contar

naquele ecossistema. Esse item é especialmente importante quando a startup começa a abrir

rodadas de investimento maiores (depois do capital semente e do investimento anjo). Apesar

de não serem fundamentais (uma vez que recursos financeiros podem migrar de outras regi-

ões/ecossistemas), eles são importantes no sentido de criar a percepção, na cabeça do empre-

endedor, que há possibilidade de ser investido caso crie um negócio com potencial.

• Que fontes de capital existem no mercado?

Para os primeiros passos do empreendimento, muitas vezes o capital utilizado é do pró-

prio empreendedor, ou de amigos e familiares. Financiamentos ou investimentos governa-

mentais subvencionados, aportes de empresas através de hacathons, também podem figurar

como fonte de capital inicial do próprio mercado. A disponibilidade de investimento anjo e de

investidores com maior poder de aporte, normalmente começa a ocorrer com o amadureci-

mento do ecossistema.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 30


SUMÁRIO

• Como o capital flui e interage com os negócios que estão crescendo?

Essa fluência e interação do capital com os negócios surge primeiro com

a percepção – por parte das pessoas e instituições que têm recursos financei-

ros – das boas oportunidades de investir no ecossistema. Após, com o desen-

volvimento do mesmo, é normal que empreendedores bem-sucedidos passem

a investir significativamente no seu ecossistema de origem e/ou atrair inves-

tidores maiores, fluindo o capital de maneira natural no ecossistema.

• Qual o volume e qualidade dos talentos disponíveis na mão de obra local?

É fundamental a existência de talentos na qualidade e quantidade neces-

sárias ao desenvolvimento do ecossistema. Nesse aspecto, a existência de ins-

tituições de ensino aliada a vocações regionais (ex. indústria automotiva, TI,

indústria de equipamentos para agricultura, etc.) é de grande ajuda na formação

desses talentos.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 31


SUMÁRIO

• Quais são as fontes principais das ideias inovadoras/descobertas/invenções?

Estudo, pesquisa, trabalho inteligente, capacidade de integração dos vários conheci-

mentos, pessoas curiosas e que queiram muito resolver os problemas, dificuldade, “dores”

das pessoas no dia a dia são as grandes fontes de ideias inovadoras, descobertas, invenções,

enfim, de progresso. O ecossistema que instilar esses comportamentos na cultura das comu-

nidades onde está inserido, certamente terá sucesso.

• Que recursos estão disponíveis para as organizações de apoio e suporte que interagem

com os empreendedores?

Recursos humanos, materiais, muitas vezes mantidos por associações de entidades de

classe (ex. Câmaras de Indústria e Comércio), ou instituídos por governos (ex. Parques tecno-

lógicos, escritórios de apoio a ecossistemas empreendedores), ou arranjos produtivos locais

(ex. APL de empresas de software), normalmente são de grande ajuda para o ecossistema em-

preendedor. Há que se garantir a sua disponibilidade.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 32


SUMÁRIO

ATIVIDADES

• O que as pessoas já estão fazendo para estimular a inovação?

Não se acostumar com as coisas que incomodam, sair da zona de conforto,

não gastar tempo com assuntos que não levam a nada (ex. campeonato de fute-

bol, horóscopo), e ao invés disso ler, estudar, conversar sobre inovação, procurar

entender as coisas, valorizar o esforço e a atitude de quem quer resolver proble-

mas, aliviar “dores”, e fundamentalmente, fazer. Tomar atitudes para realizar

(empreender). Esse é um pequeno exemplo do que as pessoas devem fazer para

estimular a inovação.

• Como essas pessoas estão colaborando umas com as outras?

A colaboração acontece em ambientes onde exista confiança mútua, atra-

vés de trocas de conhecimento, ajuda, indicações de pessoas, parceiros, clien-

tes, fornecedores, investidores, enfim, uma colaboração que de fato vise o bem

comum e o crescimento do ecossistema.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 33


SUMÁRIO

• Quais atividades induzem à participação na comunidade?

Aquelas onde as pessoas se sintam incluídas, pertencentes à comunidade, e capa-

zes de dar sua contribuição (ex. concursos de empreendedorismo, mentoria em eventos,

trabalhos voluntários, etc.). Lembrando que para que isso aconteça, barreiras sociais

precisam ser eliminadas, assim como as barreiras culturais e econômicas.

• Quais eventos “fazem barulho” e geram interesse?

Eventos como Startup Weekends, Desafios de Inovação, Meetups em bares, cerve-

jarias, semana municipal do empreendedorismo, palestras, seminários, concursos de

empreendimentos, etc., em geral são eventos que geram algum tipo de agitação na co-

munidade.

Especialmente, nesse quesito de se ter uma agenda de eventos, são importantes as

organizações de apoio, as entidades de classe, os arranjos produtivos locais, etc., pois,

em geral, eles é que se encarregam de fazer a divulgação de tais eventos, de modos que

definitivamente se “faça barulho” na comunidade, e o maior número possível de pesso-

as saiba o que está ocorrendo e participe.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 34


SUMÁRIO

ENGAJAMENTO

• Onde, quando e como as partes interessadas interagem?

Importante identificar esses pontos de engajamento. Conforme já ci-

tado, meetups, startup weekends, desafios da inovação, semana municipal do

empreendedorismo, semanas acadêmicas de instituições de ensino, enfim,

valem quaisquer eventos municipais e regionais voltados ao tema. Caso se-

jam escassos os locais para as partes interessadas interagirem, as pessoas

que estão construindo o ecossistema devem tomar para si a responsabilidade

de proporcionar tais encontros. Ao mesmo tempo, uma observação impor-

tante se faz necessária: há que se cuidar na dose. Excesso de eventos pode ser

tão prejudicial quanto a falta. Cuidado para não saturar o ecossistema com

eventos para interação. Eventos, encontros, interação em demasia, depen-

dendo da situação gera risco de desgaste do tema, e se isso acontecer, fica

bem mais trabalhoso recuperar o ímpeto inicial das pessoas.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 35


SUMÁRIO

• Como ideias, talentos e capital se juntam?

Em geral, a junção desses três elementos acontece com um objetivo comum: empreen-

der. Uma vez as ideias, o talento, e o capital existindo no ecossistema, a união dos três também

pode acontecer em eventos, desafios, hackathons, em aceleradoras, instituições de ensino, ou

mesmo no dia a dia, em um bar ou um café, no caso de ecossistemas mais maduros, onde “se

respira” empreendedorismo.

• Quais são as formas de comunicação entre parceiros?

Novamente, em ecossistemas maduros, as formas de comunicação são as mais eficientes

possíveis em função do conteúdo que se quer comunicar. Diálogos e informações corriquei-

ras podem ser através de mensagens rápidas. Interações mais elaboradas através de reuniões

remotas ou presenciais. O mais importante é que a comunicação aconteça e seja efetiva. Vale

qualquer forma de comunicação contanto que as mensagens fluam e a inovação e empreen-

dedorismo aconteçam. Para isso: abaixo as barreiras sociais, as formalidades (onde não são

requeridas), e o preconceito com canais de comunicação tecnológicos.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 36


SUMÁRIO

• Como os membros da comunidade colaboram uns com os outros? • Como os jovens são envolvidos?

Através do diálogo, da mentoria, do compartilhamento de lições apren- Através da “vibe” do ecossistema, que tem que

didas e da rede de contatos, no mais puro espírito “empreendedor ajuda em- ser “cool” para os jovens, que querem oportunidades

preendedor”. de fazer a diferença ao mesmo tempo em que encon-

tram realização, engajando-se em temas do seu in-

• Como a comunidade engaja parceiros externos ou globais? teresse.

Buscando-os através de redes sociais profissionais (ex. Linkedin), ou da • Quais fóruns existentes permitem a quebra de

rede de relacionamento com empreendedores nacionais, que por sua vez te- hierarquias sociais e profissionais?

nham na sua rede os parceiros globais. Também, os parceiros globais enga-

jam-se mais facilmente uma vez que enxerguem valor no ecossistema local Fóruns de discussão, grupos nas redes sociais,

e/ou se o mesmo for complementar ou tiver possibilidade de sinergia com os palestras, eventos. Especialmente nos eventos volta-

seus ecossistemas de origem. dos ao empreendedorismo o normal é que não haja hie-

rarquia. Nos grupos que se reúnem em torno de ideias,

• Como a comunidade encoraja/recruta novos membros? todos contribuem, opinam, discutem, em um ambien-

te sem hierarquia, sendo que muitas vezes vários ní-

A maneira mais fácil de encorajar/recrutar novos membros é através do veis hierárquicos se reúnem com um mesmo objetivo.

desejo de pertencer. Os novos membros têm que querer fazer parte da comuni- Esse tipo de atitude tende a migrar para o dia a dia das

dade. Logo, ela tem que criar e manter uma cultura inclusiva, formadora, onde empresas, que inicia o processo de quebra das hierar-

os novos membros encontrem facilmente o valor de serem parte. quias.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 37


SUMÁRIO

MODELOS/REFERÊNCIAS

• Quem são os empreendedores locais que construíram empresas de sucesso?

Muito importante essas referências. Elas normalmente têm uma presença maior

do que se pode imaginar, na memória das pessoas. Caso as empresas criadas por esses

empreendedores pioneiros já não mais existam ou não mais tenham sua sede na comu-

nidade, quem as construiu deve continuar sendo respeitado como um empreendedor de

sucesso.

• Quem são os empreendedores locais que ainda não tiveram sucesso e o que po-

demos aprender das suas falhas?

Aqueles empreendedores que se posicionam, agem, têm reconhecido talento em

alguma área, mas que por algumas razão ainda conseguiram ter sucesso em seus em-

preendimentos, ao contrário de serem criticados, devem ser observados, se possível

ajudados, mas o mais importante é que aprendamos com os motivos das suas falhas.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 38


SUMÁRIO

• Quais regiões têm atributos e recursos similares? • Existem outras regiões com ecossistemas inovadores de sucesso, do qual possa-

mos emular ou aprender?

Regiões do país, ou mesmo do mundo que tenham atributos, mão de obra, cultura,

ou outros recursos similares, e que já tenham tido algum sucesso na construção dos seus Evidentemente, no mundo há dezenas – se não centenas – de tais ecossistemas. Um

ecossistemas utilizando-os, têm que ser emuladas. Copiar quem está tendo sucesso, me- estudo em razoável profundidade dos mesmos, talvez possa ser de utilidade para quem

lhorando e adaptando à realidade local, não é demérito algum. Pelo contrário, reinventar está tentando construir o da sua cidade ou região. Também, um dos possíveis bons as-

a roda é o que não se deve fazer. Não se pode desperdiçar energia reinventando aquilo que suntos para começar a agregar a comunidade empreendedora, poderia ser um encontro/

já foi inventado e pode facilmente ser adaptado a um outro contexto! reunião de trabalho, para listar, entender, discutir esses ecossistemas, e já encerrar o en-

contro tendo mais claro quais deles estão em regiões que tenham características similares

às da comunidade onde se está tentando desenvolver. Ato contínuo, seria avançar na ex-
• Quais organizações compartilham visão/valores?
ploração dessas regiões, características, empreendimentos gerados, para entender quais

aspectos se poderia emular.


Em geral, empreendimentos consolidados, sérios, que visam a sustentabilidade e

que vivem sob exposição e/ou escrutínio legal e social, tendem a compartilhar visões e va-

lores parecidos. Esse compartilhamento é de grande valia para a afirmação do ecossistema

e para o trabalho conjunto entre atores do ecossistema. Para citar um exemplo, na Serra

Gaúcha, quatro grandes empresas se uniram a uma das mais reconhecidas aceleradoras do

país com o objetivo de dar um salto no seu relacionamento com startups, contratando-as,

conjunta ou individualmente, para resolver problemas – comuns ou não – dessas quatro

empresas. Isso não teria sido possível se visões e valores não fossem compartilhados, ou

que não houvesse um forte vínculo de confiança entre as empresas.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 39


SUMÁRIO

INFRAESTRUTURA, CAPACIDADE E COMUNIDADE • Qual é o nível local de empreendedorismo em série?

• Qual a densidade e qualidade dos prestadores de serviço? Esse aspecto também é importante na construção de referências positivas para o ecos-

sistema. Empreendedores em série são aqueles que veem tantas oportunidades, que em geral

Nesse quesito, parece mais evidente a desvantagem de regiões remotas, especialmente abrem vários negócios – independentemente de mantê-los sob seu controle ou não. A pre-

em caso de necessidade de prestadores de serviço de hardware. Eventualmente, alguma em- sença desse tipo de empreendedor é benéfica para que outros empreendedores “se soltem”

presa do ecossistema terá que prestar algum tipo de serviço à comunidade por preços apenas e, ao divisarem novas oportunidades, não se coloquem amarras. Pelo contrário, se divisarem

para cobrir custos – ou inclusive subsidiados – visando o ganho maior para o ecossistema. oportunidades válidas, devem aproveitá-las para criar novos negócios.

Vale ressaltar que empresas de padrão mundial, requerem prestadores de serviço do mesmo

nível. Logo, deficiências nessa área podem comprometer o desempenho do ecossistema. • Qual a densidade e qualidade do serviço de infraestrutura física?

• Quais organizações existem que ultrapassam as fronteiras locais? Disponibilidades de espaço físico para empreendimentos, como ofertas de pavilhões

para operação, ou escritórios/prédio para locação, a preços que novos empreendimentos pos-

Identificar essas organizações é fundamental para que o ecossistema consiga ter refe- sam arcar, são bons indicadores de densidade de infraestrutura. A inexistência de gargalos no

rências de vendas, negociação, interação com outros locais, outros ecossistemas, outros paí- transporte e na mobilidade também são importantes. Afinal, muito melhor investir no em-

ses, outros segmentos de clientes. Talvez a mensagem mais forte para os empreendimentos, preendimento, aquele tempo que se desperdiça em trânsito, por exemplo. Nesse aspecto, as

que ainda não ultrapassaram as fronteiras locais seja: “se a empresa X nossa vizinha conse- cidades de tamanho médio, sem problemas de trânsito, e que sejam relativamente bem servi-

gue, nós também temos que conseguir”! das por rodovias e serviço de transporte aéreo, levam vantagem.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 40


SUMÁRIO

• Quais são os setores chave da economia local?

Esse aspecto deve ser considerado na formação do ecossistema. Nada deve ser descar-

tado a priori. O crescimento de qualquer empreendimento é saudável para o ecossistema, mas

é totalmente razoável de se supor que o ecossistema tende a se desenvolver melhor em vol-

ta dos principais setores da economia local. Dando exemplos, a lógica indica ser bem menos

provável que startups do ramo da agricultura (agrotechs) se destaquem em ecossistemas onde

tais atividades econômicas tenham pouca representatividade, como Florianópolis e São Paulo

capital, por exemplo.

• Quais são as mais fortes vantagens competitivas regionais?

Fundamental identificar e capitalizar o máximo sobre essas vantagens. A região é forte

na indústria de determinado tipo de software (ex. ERP)? Como o ecossistema pode tirar van-

tagem disso e criar mais empreendimentos que tenham sinergia? Mesmo caso, se a região for

forte em instituições de ensino focadas em pesquisa científica: como transportar o resultado

das pesquisas, descobertas, patentes, etc. para ofertas de valor de novos empreendimentos?

O uso ao máximo das vantagens competitivas regionais deve estar sempre no radar dos inte-

grantes do ecossistema. Nenhum ecossistema pode se dar ao luxo de desperdiçar vantagens!

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 41


SUMÁRIO

CULTURA

• De onde as pessoas vêm?


• Quais são os seus sistemas de valores?

Esse tema relaciona-se ao impacto do local de origem, da “terra natal” – entendida


Em geral, valores entendidos como positivos são originários das escrituras religiosas, e
como instiladora de valores, motivações e posturas específicas – sobre o real e o imaginá-
objetivam a construção de um clima de respeito, confiança mútua e harmonia entre as pesso-
rio dos seres humanos. Em geral, pessoas vindas de vários diferentes locais, com diferen-
as. Por mais distintas que sejam as culturas e sistemas religiosos/espirituais (ex. ocidental x
tes históricos de vida e vivências culturais, unidas sob a égide de algum objetivo comum
oriental), suportando a todas elas, há valores como integridade, bondade, respeito, amor ao
– como construir um ecossistema empreendedor, por exemplo – tendem a ser mais dinâ-
próximo, para citar apenas alguns exemplos. Evidentemente que esse arcabouço de valores é
micas, criativas e motivadas. Um exemplo dessa importância é a relação que o povoamento
fundamental à construção de um ecossistema. Não é de se admirar, portanto, que a evolução
e desenvolvimento do centro-oeste brasileiro tem com migrantes dos três estados do sul.
da humanidade para sociedades mais complexas se tenha dado a partir de civilizações que ti-
Uma identidade muito forte foi criada a partir da origem dos colonizadores. Há mais tempo,
nham bem explícitos seu sistema de valores, como a Roma antiga, por exemplo.
o mesmo aconteceu com as imigrações, especialmente a alemã e italiana, para o Rio Grande

do Sul: conferiram características específicas – algumas das quais perduram até hoje – às
• Quais são as suas motivações?
comunidades (e consequentemente ecossistemas) que se formaram.

O que motiva as pessoas a estarem em determinada cidade ou região? No caso do Brasil,

as grandes migrações quase sempre se deram em função da busca de melhores oportunidades.

Uma vez morando em outro lugar que não o seu de origem, o quanto a pessoa se identifica com

a atual região onde vive tem impacto direto sobre suas motivações para querer melhorá-la,

através, por exemplo, do seu envolvimento com a construção do ecossistema.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 42


SUMÁRIO

• Quais são as “amenidades do lugar”?

O que a região que abriga o ecossistema oferece aos seus integrantes, além da possibili-

dade de empreender? Cultura, entretenimento, eventos sociais/comunitários, parques, pos-

sibilidades de contato com a natureza, enfim, aspectos ligados à qualidade de vida têm grande

importância para a formação e manutenção do ecossistema. Afinal, é preciso que as pessoas

gostem da sua comunidade, da sua cidade, que consigam se realizar nela morando, vivendo,

desfrutando, e não apenas trabalhando.

• Como criamos e mantemos um senso de urgência?

O senso de urgência é fundamental para que o ecossistema realize, entregue. Se não

existir, corre-se o risco do empreendedorismo que nele se tenta desenvolver, virar o que se

chama de “empreendedorismo de palco”, ou seja, só conversa, pitchs, desejos de “criar em-

preendimentos milionários”, de “mudar o mundo”, mas que ao final viram em nada. Cria-

-se um senso de urgência, mais uma vez, através da atitude das pessoas: a solução que se

criará, a proposta de empreendimento, parecem ter sentido? Os primeiros possíveis clientes

contatados a comprariam? Já ficaram em lista de espera? Comprariam pagando adiantado?

Se a resposta para essas perguntas for sim, comece a trabalhar com urgência.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 43


SUMÁRIO

• Quais são os tipos de redes de relacionamentos sociais existentes à inovação? • Como é percebido o fracasso?

Com as redes sociais tudo fica mais fácil. Grupos de WhatsApp ou outros tipos de fóruns Em ecossistemas mais maduros, o fracasso não é, de forma alguma, demeritório para

são de grande ajuda para tornar mais fluido o relacionamento entre inovadores, empreen- o empreendedor. Ao contrário, é entendido como pedagógico, como algo que trouxe ensina-

dedores, e demais partes interessadas do ecossistema. Importante observar que tais redes mentos valiosos. O ecossistema tem que construir essa percepção do fracasso: de que ele é uma

de relacionamentos devem der dedicadas ao tema, caso contrário – se outros assuntos, es- grande oportunidade de aumentar a probabilidade de sucesso dos novos empreendimentos

pecialmente os polêmicos, começarem a ser tratados através dessas redes – possivelmente gerados no ecossistema e que, idealmente, diminui a possibilidade de novas falhas, devido às

muitas pessoas as deixarão. lições aprendidas acumuladas pelos atores do ecossistema, através das falhas anteriores.

• Como as pessoas tratam com a incerteza, o risco e a aleatoriedade? • As pessoas constroem para a perfeição ou para a interação?

Esse tema está diretamente relacionado a como a sociedade lida com a real possibili- Aplica-se aqui o famoso axioma: “o ótimo é inimigo do bom”. Se as pessoas constroem

dade de fracasso. Quer evitá-lo a qualquer custo? Querer ser empreendedor e ter zero incer- (a proposta de valor dos seus empreendimentos) para alcançar aquilo que para elas seria “a

teza, zero risco, e imaginar que as coisas sairão sempre exatamente conforme projetado, é proposta de valor perfeita”, correm dois grandes riscos:

mais ou menos como acreditar que passaremos pela vida sem nunca errar. Ou seja, quem não

quiser conviver com a incerteza, algum risco, a aleatoriedade, e a possibilidade das coisas
1 – gastar um tempo enorme, para;
darem errado, possivelmente passará inerte pela vida. Inércia definitivamente não combina

com ecossistemas empreendedores. 2 - mostrar ao cliente e descobrir que - muito provavel-


mente - a mesma não é exatamente o que o segmento
de clientes procura.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 44


SUMÁRIO

Por isso, a importância da interação contínua com o mercado. A cada nova funciona- • Construirás a infraestrutura necessária (estradas, pontes, energia, acesso à internet,

lidade adicionada à proposta de valor – a qual preferencialmente deve ter vindo de uma in- etc.).

teração anterior com o mercado – teste-a com pessoas da vida real! Com o mercado. (Nada

de validar propostas com família e amigos. Só o mercado valida!) Construa para a interação • Investirás em ciência para gerar mais conhecimento e descobertas;

e mudança rápidas. Construir a proposta de valore perfeita? Só quando estiver claríssimo o

que o mercado quer. Uma frase famosa na inovação e empreendedorismo é: “se tu não ti- • Não criarás regulações onerosas de atender.

veres vergonha da primeira versão da tua proposta de valor, provavelmente a terá lançado

muito tarde”. • Não permitirás corrupção.

MANDAMENTOS • Não interferirás indevidamente na liberdade de contrato.

O autor que tomamos como referência para este capítulo, além de apresentar a pro- • Não deixarás a inflação sair de controle.

posta do Canvas do Ecossistema, ao final ainda faz uma análise leve e extremamente su-

cinta de alguns aspectos já abordados no Canvas e de outros ainda não comentados. Ambos

relacionados à construção de um “estado de espírito empreendedor”. O autor sugere o que

seria “a terceira tábua dos mandamentos” só que, nesse caso, a “tábua perdida” seria de-

votada à construção do ecossistema empreendedor. Finalizando: instruções, caminhos, regras a seguir, não
faltam àqueles que querem começar a construir o
Nela, os mandamentos são: ecossistema local ou regional. Também não deve faltar a
vontade e dedicação dos empreendedores e todos os que
• Educarás as pessoas. se sensibilizam com a importância desse tema.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 45


SUMÁRIO

SÍNTESE

Um ecossistema empreendedor pujante se constrói a partir de vários elementos. Alguns

deles – como o capital, por exemplo – são condições necessárias, mas não suficientes, para

essa construção. Diferentemente do capital, que é relativamente mais fácil de ser aportado a

partir de outros locais quando o ecossistema está apto a recebê-lo, elementos como o conhe-

cimento técnico e a cultura empreendedora e colaborativa, normalmente são mais desafiado-

res de se disponibilizar no ambiente empreendedor. O conhecimento, porque leva tempo, ne-

cessita de pessoas com formação teórica e ao menos alguma experiência prática – e que além

disso, ainda estejam dispostas a continuar estudando/aprendendo/experimentando, espe-

cialmente nesses tempos em que tudo evolui tão rapidamente. A cultura colaborativa, porque

depende do quão abertas as pessoas estão a confiar umas nas outras e serem merecedoras de

tal confiança. Esses elementos, assim como a liderança, as referências, os valores, o desejo de

realizar e de progredir, é que farão toda uma comunidade, uma cidade, uma região, estado ou

país, se engajar para formar um ecossistema empreendedor forte e que gera bons resultados.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 46


EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. A referência às florestas tropicais, como exemplos de ecossistemas bem desenvolvidos, c. Porque do primeiro ecossistema empreendedor do mundo saíram startups de biotecno-

se deve ao fato delas: logia.

a. Terem sido um local de geração de milhares de startups. d. Para facilitar o recebimento de financiamento governamental.

b. Oferecem água em abundância. e. Porque um ecossistema possui uma série de elementos e características que proporcio-

nam interações produtivas entre seus integrantes.

c. Oferecem condições fundamentais (ex. umidade, calor e nutrientes), para o desenvolvi-

mento da biodiversidade.

3. O erro não deve colocar a pessoa que errou em posição demeritória. Afinal, só não erra
d. Ainda terem grandes áreas intocadas pela atividade humana.
quem não...

e. Precisarem ser preservadas.


a. Faz.

b. Pensa.

2. Por que se tomou a palavra “ecossistema” emprestada da Biologia, para referenciar um

local geográfico receptivo ao empreendedorismo? c. Acredita.

a. Porque é palavra da moda. d. Justifica.

b. Porque é assim que se refere ao termo em inglês. e. Trabalha em equipe.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 47


EXERCÍCIOS SUMÁRIO

4. Um ecossistema pujante também pode ser definido por despertar nos empreendedores

a capacidade de enxergar oportunidades praticamente em todo lugar. Aqueles que re-

solvem capitalizar sobre essas oportunidades e abrem vários negócios – que podem ser

relacionados ou não – são chamados de:

a. visionários;

b. empreendedores em série;

c. empreendedores em linha;

d. tresloucados;

e. empreendedores sazonais.

5. Complete o Canvas do Ecossistema da tua cidade.


4. b

3. a

2. e

1. c

Respostas:

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 48


ANEXO SUMÁRIO

Característica Nota
Autoavaliação do seu Perfil Empreendedor: Ambiente, Atitudes e Know-How Comprometimento e determinação
1. É proativo na tomada de decisão
2. É tenaz e obstinado
(Adaptado de Dornelas, 2008, p. 32 a 34) 3. Tem disciplina e dedicação
4. É persistente ao resolver problemas
5. É disposto ao sacrifício para atingir metas
a. Atribua à sua pessoa uma nota de 1 a 5 para cada uma das características descritas: 6. É capaz de imersão total nas atividades que desenvolve
Obsessão pelas oportunidades
7. Procura ter conhecimento profundo das necessidades dos clientes
I. 5 – Excelente 8. É dirigido pelo mercado (market driven)
9. É obcecado por criar valor e satisfazer os clientes
II. 4 – Bom Tolerância ao risco, ambiguidade e incertezas
10. Corre riscos calculados (analisa tudo antes de agir)
III. 3 – Regular
11. Procura minimizar os riscos
IV. 2 – Fraco 12. Tolera as incertezas e falta de estrutura
13. Tolera o estresse e conflitos
V. 1 – Insuficiente 14. É hábil em resolver problemas e integrar soluções
Criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação
15. Não é convencional, tem cabeça aberta, pensa
b. Some as notas obtidas para todas as características. 16. Não se conforma com o status quo
17. É hábil em se adaptar a novas situações
18. Não tem medo de falhar
c. Analise seu resultado global com base nas explicações à sequência da tabela. 19. É hábil em definir conceitos e detalhar ideias
Motivação e superação
20. É orientado para metas e resultados
d. Após, liste seus principais pontos fortes e pontos fracos. 21. É dirigido pela necessidade de crescer e atingir melhores resultados
22. Não se preocupa com status e poder
23. Tem autoconfiança
I. Dos pontos fortes listados: Quais são os mais importantes para seu desempenho 24. É ciente de suas fraquezas e forças
25. Tem senso de humor e procura estar animado
como empreendedor? Liderança
26. Tem iniciativa
27. Tem poder de autocontrole
II. Dos pontos fracos listados, quais deveriam ser trabalhados para que o desempenho 28. Transmite integridade e confiabilidade
29. É paciente e sabe ouvir
seja melhorado? É possível melhorá-los? 30. Sabe construir times e trabalhar em equipe
TOTAL

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 49


ANEXO SUMÁRIO

Analise seu desempenho:

120 a 150 pontos: você provavelmente já é um empre-


PDI – Plano de desenvolvimento individual Definição de estratégia a seguir:
endedor. Possui as características comuns aos empreende- Principais pontos fortes Principais pontos fracos
1.........
dores e tem tudo para se diferencias no mundo dos negócios.
2..........

3.........
90 a 119 pontos: você possui muitas características

empreendedoras e às vezes se comporta como um. Porém,

você pode melhorar ainda mais se equilibrar os pontos ainda

fracos com os pontos já fortes.

60 a 89 pontos: você não é muito empreendedor, e pro-


Resultados desejados e prazo para alcançá-los:
vavelmente se comporta, na maior parte do tempo, como um Meta Prazo
administrador/analista e não como um “fazedor”. Para se 1.........

diferenciar e começar a praticar atitudes empreendedoras, 2..........

procure analisar os seus principais pontos fracos e definir 3.........

estratégias pessoais para eliminá-los.

Menos de 59 pontos: você não é empreendedor e, se

continuar a agir como age, dificilmente será um. Isso não

significa que você não tenha qualidades. Apenas que prefere

seguir a ser seguido. Se você pretende ter um negócio pró-

prio, reavalie sua carreira e seus objetivos pessoais.


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EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 50


REFERÊNCIAS SUMÁRIO

BERNARDI, Luiz Antonio. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BESSANT, John; TIDD, Joe. 1 ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.

CHIAVENATO, Idalberto. 3. ed. São Paula: Saraiva, 2008.

DORNELAS, José Carlos Assis. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

GLADWELL, Malcom. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.

HWANG, Victor W.; HOROWITT, Greg. The Rainforest, The Secret to Building the Next Silicon Valley. Ed. 1.02. Los Altos Hills, California, U.S.A., 2012.

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO: INTRODUÇÃO 51

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