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CULTURA E DIVERSIDADE 2

Francisco Ailton dos Santos


SUMÁRIO
Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU-
PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for-
BLOCO 2: ESTRUTURAL 3
ACESSIBILIDADE4 ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os

ACESSIBILIDADE À CULTURA E À INFORMAÇÃO 5 direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É

A CULTURA DA DIVERSIDADE E A DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL 6 proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita.

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA 7
SÍNTESE7
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC
SUSTENTABILIDADE9
Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS
AS TRÊS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE 11
VALIDANDO A SUSTENTABILIDADE 12
O PAPEL DA CULTURA NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 13
REITOR
O QUE É PRECISO FAZER PARA ALCANÇAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? 14
Claudino José Meneguzzi Júnior
A BIODIVERSIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 14
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
MEIO AMBIENTE, NATUREZA E CULTURA 15
Débora Frizzo
SÍNTESE20
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
ECONOMIA DA CULTURA 22
Altair Ruzzarin
CULTURA É MERCADORIA 23
DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD)
ECONOMIA DA CULTURA NO BRASIL 25
Lígia Futterleib
O PAPEL DO PODER PÚBLICO 26
SÍNTESE27
ECONOMIA CRIATIVA 29
Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD)
O QUE É A ECONOMIA CRIATIVA? 30
Coordenadora e Designer Instrucional
DO QUE TRATA A ECONOMIA CRIATIVA? 30
Sabrina Maciel
COMPETITIVIDADE NOS NEGÓCIOS 31
Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem
A ECONOMIA CRIATIVA E O SEU POTENCIAL 32
Igor Zattera, Jaqueline Boeira, Júlia Oliveira, Leonardo Ribeiro
SÍNTESE32
Revisora
CULTURA DA INOVAÇÃO 34
Luana dos Reis
A ESSÊNCIA DA INOVAÇÃO 35
A CULTURA DA MUDANÇA E INOVAÇÃO 36
SÍNTESE37
APRESENTAÇÃO

BLOCO 2: ESTRUTURAL

Caros, alunos! Neste bloco chamado de “estrutural” trataremos de assuntos que mostram

a importância da diversidade e da cultura na sociedade, e como estes temas podem gerar novas

economias e potencializar a indústria e as comunidades. Muitas são as esferas da cultura, mas

é preciso entender que a cultura não é um movimento isolado ou não está restrita a um evento

ou às paredes de um museu, ela está ao nosso redor em tudo o que vemos, falamos e ouvimos.

Ela está na gastronomia, na música, orienta a criação de novos produtos, movimenta o turismo.

A cultura é um importante drive para o fomento dos ecossistemas criativos, estimulando a ino-

vação, a sustentabilidade e incrementando a economia. Cultura é produto! Bom estudo!

CULTURA E DIVERSIDADE 2 3
ACESSO À CULTURA
E DIVERSIDADE
CULTURAL
BRASILEIRA
A cultura ao alcance de todos

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SUMÁRIO

Quando falamos em cultura, intrinsecamente relacionamos a palavra “diversidade”, pois elas • Entretenimento:
formam uma sentença quase inseparável. Para que haja diversidade precisamos validar a cultura

em sua esfera mais humana, e para que a cultura seja um fator potencial, humano e econômico, A minoria dos brasileiros frequenta cinema uma vez no ano. Quase todos os brasileiros nun-
ela tem que validar a diversidade em sua entrega. A acessibilidade à cultura e à informação ainda ca frequentaram museus ou jamais frequentaram alguma exposição de arte. Mais de 70% dos
é um grande desafio no Brasil e no mundo, por entender que existe “diversidade” na cultura e que brasileiros nunca assistiram a um espetáculo de dança, embora muitos saiam para dançar. Gran-
os pontos de contato (e de interesse) com esta ainda, não são eficientemente comunicados. de parte dos municípios não possui salas de cinema, teatro, museus e espaços culturais multiuso.

ACESSIBILIDADE À CULTURA E À INFORMAÇÃO • Livros e bibliotecas:

A relação entre cultura e direitos humanos, bem como de seu papel na luta contra a discrimi- O brasileiro praticamente não tem o hábito de leitura. A maioria dos livros estão concen-
nação, são questões que o Brasil enfrenta há muito tempo. Entretanto, a integração da cultura com trados nas mãos de muito poucos. O preço médio do livro de leitura é muito elevado quando
as demais políticas sociais é uma experiência recente que necessita ser aperfeiçoada para que haja o se compara com a renda do brasileiro nas classes C/D/E.
engajamento necessário para um desenvolvimento social sustentável. Vivemos em um momento de

reconhecimento dos direitos culturais como necessidade básica, o que conduz à busca de ações com • Acesso à internet:
as políticas sociais e de desenvolvimento. Seus impactos ainda não foram suficientes para reduzir o

quadro de desigualdades no acesso à produção cultural e é fundamental cuidar para que, ao contrá- Uma grande porcentagem de brasileiros não possui computador em casa, destes, a maio-
rio, o crescimento econômico não faça com que tais desigualdades sejam ainda mais extremas. ria não tem qualquer acesso à internet (nem no trabalho, nem na escola).

DESIGUALDADES NO ACESSO À PRODUÇÃO CULTURAL NO BRASIL • Profissionais da cultura:

Segundo a Unesco, o acesso à cultura em nosso país ainda é tímido, - visto a imensa pro- A metade da população ocupada na área de cultura não têm carteira assinada ou traba-

dução cultural do nosso país - essa representatividade pode ser medida pelo acesso da popu- lha por conta própria. (Fonte: Ministério da Cultura – IBGE - IPEA).

lação às bibliotecas, exposições de arte, cinema e também à internet:


Fonte: unesco.org

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SUMÁRIO

A concentração das políticas culturais locais, nos níveis estaduais e municipais pode fa- • As línguas indígenas ameaçadas de desaparecimento.

vorecer a superação desse quadro e reforçar a diversidade cultural como fator da sustentabili-

dade do desenvolvimento. • O conhecimento tradicional dos indígenas sobre a natureza.

A CULTURA DA DIVERSIDADE E A DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL • A afirmação dos direitos dos povos indígenas.

O Brasil tem uma notável e criativa diversidade, e esta diversidade cultural tem um pa- • A influência da cultura africana na cultura e história do Brasil.

pel central no desenvolvimento de projetos culturais no país. Áreas como o artesanato, peque-

nas manufaturas, moda e design são estratégicas para o país, em vista de sua potencialidade A cultura indígena e a africana são uma importante base da cultura brasileira, sendo que

em termos da melhoria das condições de vida das populações mais pobres. Elas podem trazer estas foram influenciadas pelo passar do tempo pelos colonizadores. Mesmo com os hábitos

empoderamento individual e contribuir com a redução da pobreza em muitas comunidades. dos povos europeus, os hábitos dos indígenas e africanos permanecem até hoje, alguns foram

adaptados, outros modificados, mas ainda estão muito presentes. Dos índios herdamos o hábi-

Ao tentar enfrentar seu problema mais urgente – a desigualdade social – o Brasil vem to do banho diário, o gosto pelas frutas, legumes, raízes e ervas. Da cultura africana herdamos

descobrindo a forte influência da cultura para a configuração dessa realidade, bem como seu o gosto pela feijoada e diversos alimentos, música e muitos ritmos. Estes hábitos constituem o

potencial de transformação social do cenário atual. Falta ainda uma abordagem cultural mais que chamamos de identidade cultural brasileira. Sem estas expressões, tão próprias do Brasil

profunda e eficaz relacionada aos povos indígenas e aos afrodescendentes. Estes dois grupos e só possíveis de serem construídas pela miscigenação, seríamos uma cópia de outra cultura.

de minoria apresentam os piores indicadores sociais do país, mas este cenário vem mudando

através de políticas sociais específicas. Em 2005 foi aprovada pela UNESCO a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Di-

versidade das Expressões Culturais, que traz como escopo a avaliação do impacto sobre as

Mesmo assim, é preciso que mais seja feito para preservar: relações comerciais que envolvem serviços culturais e bens culturais, com metas em favor da

diversidade cultural, com ênfase no pluralismo e no diálogo entre as culturas e os diversos

• As tradições dos povos indígenas. credos, e nas políticas de desenvolvimento.

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SUMÁRIO

O Brasil precisa urgentemente de leis mais definidas de proteção da sua diversidade cul- AS LÍNGUAS E A CULTURA
tural, pois somos um país multicultural e diversificado. É preciso mapear, proteger, promover

e entregar a cultura de forma acessível para todos, para que possamos conhecer, valorizar e A língua materna constitui uma parte essencial de uma comunidade étnica, pois carrega

potencializar nossas manifestações culturais. consigo valores e conhecimento que, frequentemente, são utilizados na prática e na transmis-

são do patrimônio cultural imaterial. A palavra falada em uma língua materna é importante na

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA promulgação e na transmissão de praticamente todo o patrimônio imaterial, especialmente

em tradições e expressões orais, canções e na maioria dos rituais. Ao usar sua língua materna,

A diversidade linguística e o plurilinguismo são essenciais para o desenvolvimento cultural e sus- os detentores de tradições específicas em geral usam conjuntos altamente especializados de

tentável de qualquer povo. Com o passar do tempo e a massificação da comunicação, a diversidade termos e expressões, os quais revelam a profundidade intrínseca de originalidade que existe

linguística está cada vez mais ameaçada, na medida em que mais e mais línguas desaparecem. Em entre a língua materna e o patrimônio cultural imaterial.

média, uma língua desaparece a cada duas semanas, levando com ela todo seu patrimônio cultural e

intelectual. Contudo, progresso tem sido realizado na educação plurilíngue com base na língua mater- Embora seja necessário o uso de línguas globais para uma comunicação rápida e efetiva

na com o crescimento da compreensão de sua importância, sobretudo nos primeiros anos escolares. comercialmente, existe a necessidade da preservação das línguas e dialetos que foram de-

senvolvidas e transmitidas por gerações. Estas línguas carregam conjuntos culturais imateriais

AS LÍNGUAS E A COMUNICAÇÃO que foram responsáveis pela caracterização cultural (identidade) de muitos povos.

Cada vez mais, a informação e o conhecimento são determinantes-chave na geração de SÍNTESE


riquezas, na transformação social e no desenvolvimento humano. As línguas são um dos princi-

pais meios para transmitir informação e conhecimento. Assim, a oportunidade de utilizar a pró- Neste capítulo vimos a importância do acesso, ainda restrito, à cultura no Brasil. Para um desenvol-

pria língua determina a medida pela qual as pessoas são capazes de participar de sociedades e vimento econômico sustentável e igualitário é preciso que todos tenham acesso aos equipamentos cul-

de gerar conhecimento. Sem o uso da língua materna específica ficaria difícil a transmissão de turais que constroem e divulgam o nosso repertório para que possam, a partir daí, gerar novas riquezas

características que são importantes para a definição da identidade cultural local, como expres- e bens materiais e imateriais, além de salvaguardar nossos costumes, nossas tradições e a nossa língua,

sões, gírias e nomes próprios. tão necessária para a comunicação das nossas ideias e para as nossas relações interpessoais.

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EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Qual a importância de preservarmos a nossa diversidade linguística?

2. O que podemos fazer para melhorar o acesso das pessoas à cultura no Brasil?

3. Qual o movimento cultural existente em sua cidade ou região que precisa ser melhor preservado?

CULTURA E DIVERSIDADE 2 8
SUSTENTABILIDADE
É fácil definir sustentabilidade, porém é difícil aplicá-la na prática:
ela implica no equilíbrio de valores, muitas vezes antagônicos.

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SUMÁRIO

Ser sustentável é uma das premissas básicas para qualquer projeto contemporâneo, mas ambientais tomaram forma muitos debates sobre o tema começaram a acontecer pelo mundo,

o que realmente é sustentabilidade, como identificá-la e como aplicá-la? trazendo questões como a globalização, a poluição e o desenvolvimento sustentável dos povos.

Inicialmente, sustentabilidade é uma palavra de muitos sentidos. Muitos associam a pa- O Desenvolvimento Sustentável (DS) tem sido mais abordado nas últimas décadas e

lavra a proteção dos ecossistemas naturais, o que pode ser explicado pelo fato do termo ter não surgiu repentinamente, é resultante de um longo processo de evolução de paradigmas

surgido junto com os movimentos ambientalistas na década de 1980, mas a sustentabilidade de relacionamento entre sociedade e natureza, o que não ocorreu de forma linear. No Brasil,

vai muito além das práticas ambientalistas. Ela faz parte de uma tríade que organiza e poten- a Constituição de 1988 traz questões relativas ao desenvolvimento sustentável, como a justi-

cializa ideias e negócios fazendo com que estes sejam mais equilibrados, adaptáveis e resis- ça social, a solidariedade, a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e a

tentes aos diversos cenários do mundo contemporâneo. igualdade de gênero e raça. Estes textos são de 1988, de lá pra cá muita coisa mudou e preci-

samos atualizar em nossas práticas todos esses conceitos referentes à sustentabilidade.

O conceito de sustentabilidade também traz um certo antagonismo, uma vez que o

que é sustentável para uns pode não ser para outros. Ou, ao mesmo tempo que o que produz O DS foi o tema central da discussão da II Conferência Mundial Sobre Meio Ambiente e

enriquecimento de uns poucos, provoca empobrecimento de muitos outros. O termo e suas Desenvolvimento, a Eco 92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, onde foi assinado um dos

diversas interfaces ainda é cabível de interpretações. mais importantes documentos sobre o assunto, a Agenda 21. Na ocasião, a Agenda foi assi-

nada por governantes de 170 países e fornecia diretrizes para alcançar o Desenvolvimento

Em seu contexto histórico a sustentabilidade era abordada, até a década de 1960, apenas Sustentável no planeta para o século XXI. A Agenda 21 ainda é um dos mais importantes do-

pelo viés ambiental e de forma esporádica por alguns países, pois até essa época o único desenvol- cumentos sobre a promoção da sustentabilidade no mundo, mas assim como a Constituição

vimento que interessava era o de bens materiais. Após a década de 1960, quando as preocupações Brasileira, precisa ser atualizada para uma melhor convergência às novas demandas sociais.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 10
SUMÁRIO

AS TRÊS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE É comum surgir de tempos em tempos novos paradigmas que orientam significativa-

mente a maneira como as empresas e os negócios se posicionam perante seus públicos e so-

ciedade em geral. De alguns anos para cá a sustentabilidade tem sido o tema que orienta o

surgimento de novas ideias. Desde então, observa-se o esforço incansável das organizações e

marcas na promoção de ações e divulgação dessa poderosa palavra em anúncios, propagan-

das e embalagens dos mais diversos produtos. Muitas vezes a palavra é usada indevidamente

apenas como estratégia de marketing. É preciso conhecer melhor as faces da sustentabilida-

de para não se deixar enganar pelo mal uso da expressão.


Dimensão Dimensão
Social Ambiental Para começar, a sustentabilidade é dividida em três dimensões (ou pilares): social, econômico

e ambiental. Para se desenvolver de forma sustentável, uma empresa ou sociedade deve atuar de
DS forma que essas três dimensões coexistam e interajam entre si de forma plenamente harmoniosa.

Vamos então entender um pouco mais de cada um desses pilares?

DIMENSÃO SOCIAL
Dimensão
Econômica Trata-se de todo capital humano que está direta ou indiretamente relacionado às atividades

desenvolvidas por um negócio ou empresa. Isso inclui, além de seus colaboradores, seu público-

-alvo, fornecedores, a comunidade a seu redor e a sociedade em geral. Desenvolver ações social-

mente sustentáveis vai muito além de dar benefícios aos funcionários. Deve-se proporcionar um

ambiente que estimule a criação de relações de trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer

o desenvolvimento pessoal e coletivo dos atores, direta ou indiretamente envolvidos no processo.

Fonte: adaptado de Sepúlveda, 2002 e Buarque, 2002.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 11
SUMÁRIO

DIMENSÃO ECONÔMICO tivos propostos de uma empresa ou negócio, não podendo ser definidos com base em ações

pontuais ou simplesmente mercadológicas.

Para que uma empresa seja economicamente sustentável, ela deve ser capaz de produzir,

distribuir e oferecer seus produtos ou serviços de forma que estabeleça uma relação de com- Podemos afirmar que a sustentabilidade é um mindset, uma atitude mental, não é algo

petitividade justa em relação aos demais concorrentes do mercado. Além disso, seu desenvolvi- que acontece isoladamente ou que pode ser implantado em um estalar de dedos. É uma ini-

mento econômico não deve existir às custas de um desequilíbrio nos ecossistemas a seu redor. ciativa consciencial onde empresas, comunidades, pessoas e demais atores são integrantes de

Se uma empresa lucra explorando as más condições de trabalho dos funcionários ou a degrada- um sistema benéfico que deve coexistir em perfeita sintonia. Assim, para que haja equilíbrio, é

ção do meio ambiente da área a sua volta, por exemplo, ela definitivamente não está tendo um necessário que cada parte leve em consideração a sua participação dentro deste sistema sus-

desenvolvimento econômico sustentável, já que não existe harmonia nas relações estabelecidas. tentável, entendendo que a atuação das partes interfere no resultado do todo.

DIMENSÃO AMBIENTAL Como podemos identificar uma sociedade sustentável?

Por fim, o desenvolvimento sustentável ambientalmente correto se refere a todas as con-

dutas que possuam, direta ou indiretamente, algum impacto no meio ambiente, seja a curto,

médio ou longo prazos. O desenvolvimento sustentável busca, em primeiro lugar, minimizar

ao máximo os impactos ambientais causados pela produção industrial. Caso não seja esse o

objetivo, provavelmente estaremos falando muito mais de estratégias de marketing do que

de sustentabilidade de fato.

VALIDANDO A SUSTENTABILIDADE

Para que a sustentabilidade aconteça é necessário planejamento, acompanhamento e

avaliação de resultados constantes, pois suas três dimensões devem estar alinhadas aos obje-

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SUMÁRIO

Segundo Denise Kronemberger, em seu livro Desenvolvimento Sustentável, existem al- O PAPEL DA CULTURA NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
guns indicadores que mostram a sustentabilidade agindo dentro de uma sociedade. Segue

alguns destes indicadores: É imperativo integrar sistematicamente as especificidades culturais na concepção, na

medida e na prática do desenvolvimento sustentável, já que isso garante o envolvimento de

• Sociedade com ampla capacidade de iniciativa das pessoas. populações locais e o resultado satisfatório dos esforços para se atingir este desenvolvimento.

O turismo sustentável, as indústrias culturais e criativas, são poderosos subsetores econômicos

• Capaz de improvisar e inovar. que geram empregos, estimulam o desenvolvimento local e incentivam a criatividade.

• Apta a buscar alternativas para promover o seu autodesenvolvimento. Os sistemas de conhecimentos indígenas, bem como as suas práticas de gerenciamento

ambiental, proveem valiosos critérios e ferramentas para enfrentar os desafios ecológicos atu-

• Competente para buscar formas de inserção social e para gerar emprego e renda. ais, bem como prevenir perdas de biodiversidade, reduzir a degradação de terras e mitigar os

efeitos da mudança climática.

• Com acesso equitativo a terra, moradia e serviços públicos básicos.

Na transição para as sociedades verdes, o diálogo e a tolerância serão pontos-chave para o en-

• Capaz de mobilizar-se em defesa de seus interesses. tendimento mútuo e para a construção de alianças entre nações e países, levando à cultura de paz, a

qual é um pré-requisito para o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, devemos aproveitar ao

• Capaz de criar novas e diversas organizações sociais. máximo a diversidade cultural do mundo, já que ela promove o desenvolvimento e a coesão social.

• Alto investimento em capital humano, com distribuição de renda justa. Apesar de haver muito a ser feito para integrar completamente a cultura nas políticas

internacionais de desenvolvimento, a Rio+20 foi um passo importante na inclusão do papel

da cultura. Agora, é preciso progredir nessa questão para garantirmos a habilidade do setor

cultural de apoiar o desenvolvimento sustentável, verdadeiramente e com a ajuda de todos;

e para que a cultura torne-se uma das chaves para o marco de desenvolvimento sustentável.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 13
SUMÁRIO

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Natural (CNUDN), conhecida A BIODIVERSIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
também como Rio+20, foi uma conferência realizada entre os dias 13 e 22 de junho de

2012 na cidade brasileira do Rio de Janeiro, cujo objetivo era discutir sobre a renovação O termo biodiversidade - ou diversidade biológica - descreve a riqueza e a variedade da

do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. natureza: as plantas, os animais e os microrganismos que fornecem alimentos, remédios e boa

parte da matéria-prima industrial consumida pelo ser humano. A palavra biodiversidade deriva

O QUE É PRECISO FAZER PARA ALCANÇAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? de diversidade biológica e consiste na variedade de formas de vida existentes no mundo. Esse

conceito foi idealizado por Walter G. Rosen em 1985, enquanto planejava a realização de um

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende primeiramente de planejamento fórum sobre diversidade biológica na cidade de Washington, Estados Unidos (FRANCO, 2013).

e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representa uma nova

forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente e a sua biodiversidade.

O termo desenvolvimento é bastante confundido com crescimento econômico, que de-

pende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento

tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais.

Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos na-

turais dos países. Desses recursos dependem não só a existência humana e a diversidade bio-

lógica, mas também o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável suge-

re qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos, o

aumento da reutilização, da reciclagem e da criação de novas técnicas produtivas que possam

otimizar o uso dos insumos naturais. Para que haja um crescimento sustentável, que não es-

gote os nossos recursos, é preciso observar a biodiversidade de cada local para implementar

políticas de uso destes recursos e assim promover a sustentabilidade.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 14
SUMÁRIO

Para entender o que é a biodiversidade, devemos considerar o termo em dois níveis di- o uso dos recursos hídricos, a conservação das florestas, o aquecimento global, e muitos ou-

ferentes: todas as formas de vida e as inter-relações, ou ecossistemas, na qual a existência de tros, são os debates sobre todos estes assuntos. São todos temas que se incluem na questão

uma espécie afeta diretamente muitas outras. Essa variabilidade aparece apenas como resul- ambiental, tão discutida pela mídia e cada vez mais importante nas decisões políticas e eco-

tado da natureza em si, sem sofrer intervenção humana. Assim, ela pode variar de acordo com nômicas de nações e empresas, além de afetar diretamente a vida de todos nós.

as diferentes regiões ecológicas. Refere-se, portanto, à variedade de vida no planeta, incluindo

a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da O meio ambiente são as florestas e os desertos, a atmosfera e os oceanos; os animais sel-

fauna, de fungos microscópicos e de microrganismos; a variedade de funções ecológicas de- vagens e os domésticos; incluindo todas as atividades que de alguma maneira causam efeito

sempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitats e sobre este ambiente em que habita a nossa civilização. Podemos incluir nesta ação a agricul-

ecossistemas formados pelos organismos. tura, a criação de gado e a pesca; a produção de tudo o que consumimos, desde a extração das

matérias-primas até o transporte à loja ou nossa casa. O assunto é muito amplo e intrínseco

O desenvolvimento consciencial e cultural da biodiversidade de cada região está intrin- em nossas atividades diárias, do lixo que produzimos aos nossos próprios corpos, tudo é meio

sicamente ligada ao desenvolvimento sustentável das nações e suas economias. Podemos ambiente.

trazer, como exemplo, o agronegócio, a indústria moveleira e a extração de petróleo, que mo-

vimentam a economia brasileira, mas que precisam ser usadas de forma consciente para que

não cessem.

MEIO AMBIENTE, NATUREZA E CULTURA

Como a nossa civilização está inserida no meio ambiente e como ele conduz nossas

construções culturais?

Há pelo menos vinte anos, fala-se cada vez mais sobre o meio ambiente. A proteção do

meio ambiente, a sustentabilidade, o aumento da poluição, a exaustão dos recursos naturais,

CULTURA E DIVERSIDADE 2 15
SUMÁRIO

CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

A expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada pela primeira vez, pelo natu- • Meio ambiente artificial, constituído pelo espaço urbano construído.

ralista francês Geoffrey de Saint-Hilaire em sua obra “Études progressives d´un naturaliste”, de

1835, onde milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e ambiance desig- • Meio ambiente cultural, integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, pai-

na o que rodeia esse ser. sagístico, turístico, que, embora artificial, difere do anterior pelo sentido de valor especial

que adquiriu ou de que se impregnou.

Há uma grande discussão em torno da redundância do termo meio ambiente, por con-

ter duas palavras com significados similares, como observa Vladimir Passos de Freitas (2001, p. NOVAS CULTURAS E A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: CONSUMO CONSCIENTE
17): a expressão meio ambiente, adotada no Brasil, é criticada pelos estudiosos, porque meio

e ambiente, no sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo, tal emprego importaria em O meio ambiente não são somente as coisas que existem na natureza, mas principal-

redundância. Na Itália e em Portugal usa-se, apenas, a palavra ambiente. mente a relação entre elas, sendo que o mundo natural não é estático, todas as coisas exercem

influências umas sobre as outras. Nossa civilização desenvolveu-se muito tecnologicamente, e

Conforme José Afonso da Silva (2004, p. 20), o conceito de meio ambiente deve ser glo- exerce cada vez mais pressão sobre a natureza, utilizando-se de seus recursos, sendo impos-

balizante, “abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais sível que alguma atividade humana não cause impacto sobre o ambiente, seja localmente

correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patri- ou globalmente. Isto é ainda mais evidente há pelo menos 200 anos, quando o processo de

mônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico”. industrialização e urbanização que teve início na Europa espalhou-se gradualmente por todo

o mundo. Paradoxalmente, apesar de tecnologicamente avançados como nunca o fomos, nós

Dessa forma, o conceito de meio ambiente compreende três aspectos, quais sejam: humanos dependemos cada vez mais da natureza. Criamos as ferramentas, a agricultura, as

leis e a ciência. Mas dependemos cada vez mais dos recursos naturais - energia e matéria -

• Meio ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora; para continuarmos mantendo a nossa própria natureza, elaborada ao longo dos últimos mi-

enfim, pela interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre lhares de anos.

as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 16
SUMÁRIO

Isto pode ser feito através de algumas iniciativas:

• Compra consciente: favorecendo produtos eticamente corretos, realizando negociações

baseadas em princípios no bem comum, e não só na satisfação de interesses individuais.

• Boicotes morais: recusar produtos de marcas que visem os interesses individuais e vão

contra os conceitos de sustentabilidade.

• Consumo sustentável: o consumo feito interagindo com o nosso planeta. Produtos orgâ-

nicos, recicláveis ou reutilizados.

Consumir menos, buscar alternativas e viver apenas com o necessário. Esta é a mensa-

gem do lowsumerism, uma tendência de consumo que tem em seu princípio consumir me-

nos, pensando no meio ambiente e no bem social de uma maneira geral.

O recado foi dado e está claro: o processo de autodestruição causado pelo consumismo

Há pouco tempo fala-se em sustentabilidade, e de lá para cá muito se modificou no apenas poderá ser freado por meio de um profundo despertar de consciência. O que isso sig-

comportamento e no consumo pelo viés ambiental. Vários são os movimentos globais que vi- nifica na prática? Como ser mais consciente e consumir menos? Como esse comportamento

sam reduzir os impactos da indústria sobre o nosso planeta. Estamos muito mais conscientes pode ser viável em uma sociedade dominada por indústrias e marcas?

do que fomos em décadas passadas. As novas gerações são nativas de época consumo cons-

ciente ou consumo responsável, que significa adquirir produtos eticamente corretos, ou seja, Foi nos anos 90 que o cenário do consumo se tornou preocupante, transformando-se

cuja elaboração não envolva a exploração de seres humanos, animais e não provoque danos em consumismo. Tal comportamento foi fortalecido pela mentalidade do “você é o que você

ao meio ambiente. consome”, vigente desde então. Neste período, a mídia de massa começou a abordar os ma-

CULTURA E DIVERSIDADE 2 17
SUMÁRIO

les destes excessos e, nadando contra a corrente, iniciativas ambientais deram voz a previsões

ecológicas catastróficas. Tudo isso contribuiu para que manifestações da consciência lowsu-

mer começassem a ampliar seu alcance — mesmo que ainda timidamente.

Recentemente, nos anos 2010, o boom da economia compartilhada ajudou a vislumbrar

alternativas para os moldes engessados do capitalismo, trazendo ao cotidiano das pessoas

mais abertura para o despertar do lowsumerism. Quando se fala em redução de consumo, é

impossível não falar também em desigualdade social, onde as camadas populacionais menos

privilegiadas já operam desde sempre, por necessidade, na lógica da escassez de bens mate-

riais, adotando alternativas ao consumo como trocas e doações. Vale lembrar que o excesso

não se apresenta apenas na quantidade dos bens possuídos, mas também na adesão à lógica

da obsolescência programada, vigorante desde os anos 50.

O crescente desenvolvimento tecnológico resultou também em um grande problema

ambiental: o lixo eletrônico. Dados do relatório da ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvi-

mento Industrial), mostram que o Brasil produz, em média, 1 milhão de toneladas de resíduos

tecnológicos por ano. Quanto mais aparelhos eletrônicos disponíveis, maior será o consumo

de energia elétrica, inevitavelmente não podemos evoluir sem a tecnologia e todos os seus

recursos. Cabe a nós criarmos meios de progredir minimizando os nossos rastros. O consumis-

mo aliado à falta de cultura ambiental tem sido grande inimigo do meio ambiente nas últi-

mas décadas, mas além destes, o ecossistema tem muitos inimigos, sendo que alguns deles

parecem inofensivos. A informação e a conscientização, que geram a cultura necessária, são as

grandes armas na defesa dos nossos recursos.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 18
SUMÁRIO

MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O meio ambiente é abordado como um bem difuso, ou seja, sem sua titularidade atribu- • Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país, fiscalizando as

ída a ninguém individualmente, nem mesmo ao Estado, caracterizando-o como bem de uso entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético.

comum do povo, sobre o qual todos possuem direito. A preservação e defesa do meio ambien-

te ecologicamente equilibrado é atribuída tanto ao poder público como à coletividade. Em • Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização públi-

outras palavras, todos, tanto Estado quanto populares, devem zelar pela qualidade ambiental ca à preservação do meio ambiente.

e, se necessário, defendê-la.

• Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco

Deve o cidadão, parte integrante da coletividade, agir em defesa do meio ambiente ba- sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à

seando-se no interesse comum. A participação popular no governo pode ser desempenhada crueldade.

através da inclusão e participação comunitária no processo de definição, implementação e

avaliação de ações e políticas públicas. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente

degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso da lei.

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à cole-

tividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consi-

deram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações

§ 1ºPara assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de

natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas

• Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos (Incluído pela Emenda

espécies e ecossistemas. Constitucional nº 96, de 2017).

CULTURA E DIVERSIDADE 2 19
SUMÁRIO

Estes são alguns parágrafos que regem a conduta ambiental em nosso país. Observem

que o assunto do uso de animais para práticas desportivas, tão polêmico, quando para fins

culturais é amparado pelo nossa Constituição. A Constituição Brasileira fornece diversas visões

às práticas culturais e ambientais. Vale a reflexão de que temos ao nosso dispor um ótimo do-

cumento, amplo em diversas frentes, que estruturam nossas práticas, mas desde a sua criação

já se passaram mais de 30 anos e precisamos usar a ética e o bom censo em nossas interpre-

tações contemporâneas, seja à cultura, seja ao meio ambiente.

SÍNTESE

Neste capítulo vimos que a sustentabilidade é uma premissa básica e indispensável para

qualquer negócio contemporâneo e que as suas dimensões (social, ambiental e econômica)

devem promover o equilíbrio dentro das comunidades estimulando o desenvolvimento social

e cultural das pessoas. Vimos também que o desenvolvimento sustentável passa pela esfera

da cultura, pois trata do desenvolvimento de um mindset onde empresas e atores sociais, em-

poderados deste conhecimento, promoverão a mudança em suas comunidades.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 20
EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Você conhece alguma empresa que promova ações verdadeiramente sustentáveis. Que ações ela desenvolve e por que são sustentáveis?

2. Com base no capítulo acima, que práticas sustentáveis você pode adotar em seu trabalho ou negócio?

3. Você considera o Brasil um país de práticas sustentáveis? Por quê?

CULTURA E DIVERSIDADE 2 21
ECONOMIA
DA CULTURA
Nunca se falou tanto da capacidade
que a cultura tem de gerar economias.

22
SUMÁRIO

O momento em que vivemos no Brasil e no mundo reforçam a necessidade de melhor CULTURA É MERCADORIA
circunscrevermos a contribuição da economia da cultura para o desenvolvimento de socieda-

des mais sustentáveis, independentes e potencialmente inovativas. O que significa entender- Mas uma mercadoria distinta, com duplo valor: econômico e cultural. Mensurar econo-

mos melhor o papel, o significado e o modus operandi das atividades culturais e sua vocação micamente a cultura não é só possível, mas necessário. As análises econômicas ajudam a en-

para gerar riquezas e desenvolver o patrimônio, material e imaterial. tender fenômenos culturais e reforçam uma percepção positiva das atividades culturais, ao

conferir a elas valor palpável. O comércio global de bens e serviços culturais movimentou em

Quando falamos em economia da cultura estamos falando de um mercado em ampla 2005 mais 1,3 trilhão de dólares, cerca de três vezes mais do que no ano de 1998. Este dado

expansão, e para o qual (infelizmente) ainda não estamos preparados para nele operar e com- afirma a importância econômica da cultura, além da esfera unicamente “cultural”.

petir. A cultura comprovadamente potencializa a criatividade, gerando valores e competitivi-

dade. O desenvolvimento cultural incentiva as atividades criativas, libertando o mercado ao As indústrias culturais e seus produtos e serviços são a vitrine deste campo: a indústria

qual está inserido da dependência excessiva da exportação e de commodities. A economia editorial, a indústria audiovisual, a indústria da música, entre outras. Tais setores se estrutu-

da cultura é uma das mais sustentáveis economias do mundo contemporâneo, sendo uma ram como cadeias produtivas, basicamente, dizem respeito à criação, produção, distribuição

poderosa alternativa à atual concentração de desenvolvimento e renda. e consumo de conteúdos e experiências culturais. Há também as atividades econômicas re-

lacionadas à cultura que se estruturam como arranjos ou sistemas produtivos locais; e as de

Do ponto de vista da economia, a expressão “economia da cultura” identifica o conjun- caráter individual, associativo e institucional.

to de atividades econômicas relacionadas à cultura. Do ponto de vista da cultura, trata-se

do conjunto de atividades culturais com impacto econômico. Pode-se incluir neste conjunto Há vários conceitos de economia da cultura, e mesmo outras expressões, com diferen-

qualquer prática direta ou indiretamente cultural que gere valor econômico, além do valor ças conceituais que muitas vezes têm fundo político: os americanos, por exemplo, pensam

cultural. em termos de “economia do copyright”. Os ingleses, de “indústrias criativas”. Os escandinavos,

de “economia da experiência”. Há pesquisadores que falam em “economia do conteúdo”. Não

A economia é, portanto, uma das dimensões da cultura! importando a forma como é denominada, podemos observar que a cultura está intrínseca em

todas estas atividades.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 23
SUMÁRIO

O estudo “A Economia da Cultura na Europa”, divulgado em 2006 pela Comissão Euro- ado no uso de recursos inesgotáveis (como criatividade) e consome cada vez menos recursos

peia, traz o mais abrangente e profundo estudo já realizado sobre a economia da cultura no naturais esgotáveis. Apresenta um uso intenso de inovações e impacta o desenvolvimento de

mundo. Segundo este estudo, a “economia da cultura” foi responsável, em 2003, por 2,6% do novas tecnologias. Finalmente, seus produtos geram bem-estar, estimulam a formação do ca-

PIB e 3,1% dos postos de trabalho dos 25 países que formavam a Comunidade Europeia no pital humano e reforçam vínculos sociais e identidade.

período. O estudo aponta a existência de um “setor cultural e criativo” formado por segmentos

industriais e não-industriais ligados diretamente à expressão cultural e por atividades em que Segundo o Global Entertainment & Media Outlook, da Price Waterhouse Coopers, o setor

a cultura impacta criativamente a produção de bens, não necessariamente culturais. As ativi- cresce mais de 6,6% ao ano, bem acima da média da economia mundial (5%); na América Latina,

dades geradoras de valor econômico deste “setor cultural e criativo” são as que constituem o projeta-se um crescimento anual médio de 8,5%. Estes dados estão sendo atualizados, mas sabe-

campo da “economia da cultura”. Estas atividades ainda influenciam outros grandes setores, mos que os indicadores econômicos da cultura para os últimos anos serão bem mais expressivos.

como ciência e tecnologia e os eletro-eletrônicos.

Além do setor industrial da cultura, que inclui os segmentos do audiovisual, da música e

da publicação de livros, entre outros, o estudo inclui, no campo da “economia da cultura”, a in-

dústria da mídia (imprensa, rádio e TV), a área criativa (moda, arquitetura, publicidade, design

gráfico, design de produtos e design de interiores), o turismo cultural e as expressões artísticas

e instituições culturais (artes cênicas, artes visuais, cultura popular, patrimônio material, mu-

seus, arquivos, bibliotecas, eventos, festas e exposições).

O conjunto de pesquisas recentes sobre este assunto indica que a economia da cultura

é atualmente o setor que mais cresce, mais gera renda, mais exporta e mais emprega, e o que

melhor remunera. Trata-se de um feito quantitativo e qualitativo. É ainda o setor que mais im-

pacta positivamente outros setores igualmente vitais e mais gera valor adicionado. Está base-

CULTURA E DIVERSIDADE 2 24
SUMÁRIO

ECONOMIA DA CULTURA NO BRASIL

O Brasil tem o maior potencial de crescimento no continente, por três fatores:

• Mercado cultural interno expressivo.

• Políticas públicas diversificadas.

• A riqueza e a diversidade da nossa cultura.

Deve-se tratar a economia da cultura no Brasil pensando não apenas na situação exis-

tente, mas sobretudo no potencial não-realizado, assim como nas oportunidades que se colo-

cam, em termos de geração de renda, emprego, exportação e inclusão, tanto nacionalmente

quanto local ou regionalmente.

De acordo com o Sistema de Informações e Indicadores (IBGE/MinC) estima-se que a

participação da cultura no PIB brasileiro seja superior a 5%, sendo a cultura, notadamente,

um eixo estratégico de desenvolvimento socioeconômico. O Banco Mundial situa a cadeia

produtiva da cultura como responsável por 7% do PIB do planeta. Atualmente, o Brasil carece

de um sistema unificado e padronizado para aferir a participação da Cultura no PIB nacional.

Apelidado de “PIB da Cultura”, este sistema é chamado de Conta Satélite da Cultura e já existe

em 21 países no mundo, sendo sete da América do Sul (Colômbia, Chile, Uruguai, Argentina,

Peru, Bolívia e Equador). No Brasil, os dados existentes não são construídos com a periodicida-

CULTURA E DIVERSIDADE 2 25
SUMÁRIO

de necessária para poderem ser comparados, e não há consenso no setor sobre quais setores de renda e emprego, por seu impacto na formação do capital humano e no desenvolvimento

e subsetores deveriam ser acompanhados. de novas tecnologias, e seus efeitos sociais altamente positivos.

O IBGE/MinC, mostra que as empresas culturais são responsáveis por 5% dos postos de O PAPEL DO PODER PÚBLICO
trabalho da indústria do país, com um salário médio de 5,6 mínimos (para 4,6 de toda a indús-

tria). No que toca aos serviços culturais, os dados são ainda mais significativos: 9% do total de O poder público já se deu conta da importância para a economia da cultura e o que ela

empregos e 5,9 mínimos de salário médio (para 3,2 de todos os serviços). pode representar em termos de desenvolvimento. Existem sistemas de financiamento público

da cultura que utilizam recursos federais, estaduais e municipais. As fontes são os orçamentos,

O crescimento do setor no Brasil tem sido muito expressivo, ainda que os valores abso- fundos específicos e leis de incentivo, mas o papel público não pode parar aí, deve ir muito

lutos sejam modestos, se comparados ao que se verifica nos países desenvolvidos e em outros além.

setores da economia brasileira. Segundo a Price Waterhouse Coopers, a economia da cultura

no Brasil tem taxa de crescimento anual estimada em 8,4%, ou quase o dobro da estimativa O papel do poder público, neste campo, deve ser exercido através de cinco eixos principais:

de crescimento do PIB brasileiro.

• Formular e implementar políticas públicas, tendo em vista a diversidade cultural, a for-

Pesquisa da Fundação João Pinheiro aponta que o setor gera no Brasil 160 postos de tra- mação de públicos, o estímulo à criação, à produção e à distribuição, a promoção de ex-

balho para cada R$ 1 milhão investido, mais do que a construção civil e o turismo, por exem- portações e a valorização da cultura nacional.

plo. Há, portanto, um vasto potencial a ser trabalhado pelo poder público, pelo terceiro setor

e pela iniciativa privada. • Produzir e apoiar a produção da cultura, além de pesquisas e estudos sobre diversos as-

pectos relacionados ao tema, de modo a permitir uma melhor quantificação e também

A sociedade brasileira manifesta uma óbvia vocação à cultura. Poucos países apresen- ajudar a qualificar o debate e as políticas públicas.

tam um conjunto de expressões culturais tão amplo, diversificado e intenso quanto o nosso.

Trata-se de um diferencial competitivo, mas este diferencial deve ser explorado. A economia • Gerir instrumentos eficazes e diversificados de fomento a projetos, grupos, empresas e insti-

da cultura é, assim, um novo front de desenvolvimento, por sua grande capacidade de geração tuições culturais, com recursos suficientes para estimular um processo de desenvolvimento.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 26
SUMÁRIO

• Disponibilizar crédito de longo prazo, com juros subsidiados às empresas culturais. As políticas públicas voltadas para a economia da cultura constituem, na verdade, polí-

ticas de desenvolvimento, e assim devem ser pensadas. Mais recursos para a cultura, se bem

• Regular as práticas econômicas, tendo em vista o equilíbrio dos mercados e a mediação aplicados, podem ser mais recursos para o desenvolvimento do país.

entre o interesse das empresas e o interesse público.

A cultura, portanto, deve ser uma prioridade não apenas por seu papel “cultural” na vida

Por serem baseados em criação, e portanto geradores de propriedade intelectual, os bens social do Brasil, mas por seu papel econômico.

e serviços culturais se encontram no epicentro da chamada “economia do conhecimento”, cons-

tituindo um dos campos mais dinâmicos e atrativos da economia contemporânea. Na atual fase SÍNTESE
do capitalismo global o que está cada vez mais no centro das disputas competitivas são os ati-

vos intangíveis, baseados em criatividade, ideias e valores. Vale dizer, ainda, que a economia é Neste capítulo vimos a importância da economia da cultura e a sua representatividade
cada vez mais “cultural”, tendo em vista o impacto crescente de práticas e valores culturais em para a geração de bens, materiais e imateriais, de duplo valor: cultural e econômico. Vimos
processos econômicos diversos. Basta pensar, por exemplo, na questão da inovação. também que a cultura é um grande front de sustentabilidade, atuando em todas as suas di-

mensões, pois está baseada no uso de recursos inesgotáveis (como criatividade) e consome
No Brasil, a economia da cultura tem um vasto potencial ainda não-realizado de produ- cada vez menos recursos naturais esgotáveis. Vimos que a cultura estimula a inovacão e im-
ção e distribuição de riqueza de forma sustentável, com geração de emprego e renda, assim pacta diretamente no desenvolvimento de novas tecnologias. Em se tratando de Brasil, a so-
como de bem-estar, identidade e capacitação do capital humano. Trata-se de uma vocação ciedade brasileira manifesta uma clara vocação à cultura, pois o nosso país apresenta um con-
da sociedade brasileira que, se devidamente aproveitada, pode contribuir decisivamente para junto extremamente rico e diversificado de expressões culturais, produzindo ativos intangíveis
o crescimento do Brasil, assim como para a qualificação deste crescimento, possibilitando um nacionais, baseados em criatividade, ideias e valores.
desenvolvimento pleno.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 27
EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Que ações, ou conjunto destas, poderíamos incentivar para o desenvolvimento da cultura no Brasil?

2. Você pratica alguma atividade cultural econômica? Qual?

3. Na sua opinião, o brasileiro é muito influenciado culturalmente por outros povos? Por quê?

CULTURA E DIVERSIDADE 2 28
ECONOMIA
CRIATIVA
Como a criatividade e a cultura
podem potencializar a economia?

29
SUMÁRIO

Já sabemos da grande importância da cultura para a economia, mas para que a engre- No entanto, de alguns anos pra cá, determinadas atividades que utilizam criatividade

nagem cultural funcione é preciso investir nos ecossistemas criativos, incentivar a criatividade em sua essência - e que agregam valor a bens e serviços de cunho intelectual, artístico e cul-

e estimular a inovação. tural -, foram separadas em um único segmento, o da “indústria criativa”.

O QUE É A ECONOMIA CRIATIVA? DO QUE TRATA A ECONOMIA CRIATIVA?

A economia criativa é baseada na inteligência coletiva e na criatividade das pessoas. O termo “economia criativa” se refere a atividades com potencial socioeconômico que

Indo muito além das artes, é o setor econômico formado pelo conjunto das atividades econô- lidam com criatividade, conhecimento e informação. Para entendê-las é preciso ter em men-

micas relacionadas à produção e distribuição de bens e serviços que utilizam a criatividade e te que empresas do seguimento combinam a criação, produção e a comercialização de bens

as habilidades dos indivíduos ou grupos. criativos de natureza cultural e de inovação.

Muito além do capital, da matéria-prima e da mão de obra, nas últimas décadas, em- Em comum, empresas da área dependem do talento e da criatividade para efetivamen-

presas e governos passaram a reconhecer o conhecimento como importante insumo de pro- te existir. Elas estão distribuídas em 13 diferentes áreas:

dução. Isso significa que o uso de ideias e da criatividade passou a ter papel essencial na eco-

nomia, sendo um elemento extremamente necessário para produzir mercadorias ou serviços. 1. Arquitetura

Aliás, em todo mundo, a chamada “economia criativa” é tida como parte importante da 2. Publicidade

economia global e é vista como uma área em constante crescimento. Isso porque, em termos

socioeconômicos, as atividades que envolvem esta área são bastante inovadoras e importan- 3. Design

tes geradoras de empregos e de engajamento cultural.

4. Artes e antiguidades

Mas a sua definição nem sempre é feita de maneira fácil porque, de certa forma, quando falamos

em economia criativa lembramos que a “criatividade” é algo utilizado em quase toda ação humana. 5. Artesanato

CULTURA E DIVERSIDADE 2 30
SUMÁRIO

6. Moda outros setores econômicos, mesmo os mais antagônicos.

7. Cinema e vídeo Por exemplo, você consegue facilmente encontrar um publicitário empregado em uma

empresa da área automobilística ou um designer trabalhando em uma siderúrgica. Quando

8. Televisão não estão necessariamente em suas áreas, esses profissionais ainda encontram em sua criati-

vidade o principal elemento do seu trabalho.

9. Editoração e publicações

COMPETITIVIDADE NOS NEGÓCIOS


10. Artes cênicas

No atual modelo econômico mundial, o conhecimento, a cultura e a criatividade são

11. Rádio fatores de competitividade entre países. Eles fazem uma nação se destacar ou não entre as

outras e ajudam a criar a identidade cultural de um lugar.

12. Softwares de lazer

Existe uma tendência crescente onde o simbólico ou intangível consegue definir o valor

13. Música de um bem ou serviço. Por exemplo, uma característica de cunho autoral consegue delinear

ou identificar um produto ou atividade. Para ser mais claro, basta imaginar que o design de

É importante dizer que, por focar em criatividade, imaginação e inovação como sua um móvel pode ajudar a identificar se um produto é originário de um país ou outro simples-

principal característica, a economia criativa não se restringe apenas a produtos, serviços ou mente pelo modo como foi desenhado e as características aplicadas a ele.

tecnologias. Ela engloba também processos, modelos de negócios, modelos de gestão, en-

tre outros. Na esteira deste movimento global, a criatividade envolvida no processo de desenvolvi-

mento de um produto ou atividade é um fator bastante relevante. Além disso, o setor criativo

Ainda sob esta ótica, o segmento não está presente apenas em empresas exclusivamen- é um importante formador de inovação econômica e social porque o setor tem grande poten-

te com um foco criativo: profissionais do ramo estão distribuídos em praticamente todos os cial de impactar outras áreas com soluções práticas e econômicas.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 31
SUMÁRIO

A ECONOMIA CRIATIVA E O SEU POTENCIAL modelo da Unesco e definiu cultura como aquilo que produz “conteúdos simbólicos”. Entram

na conta serviços de arquitetura, design, gestão cultural, parques de diversão e ensino de lín-

Hoje, nem tudo da economia criativa é medido, e os cálculos que acontecem usam guas junto com atividades artísticas como música e teatro.

fontes e metodologias diferentes, que agora, possivelmente serão harmonizados devido a

sua importância. Conforme apresentado anteriormente, o Banco Mundial estima que a ca- Dois setores já apresentam dados mais consolidados. Um deles é o audiovisual, respon-

deia produtiva da cultura seja responsável por 7% do PIB do planeta e esse número vem sável por 0,44% do valor agregado da economia brasileira, e que tem experimentado cresci-

aumentando. mento expressivo.

A pioneira no estudo da economia criativa foi a Austrália, em 1994. Hoje, 21 países já tem Outro mercado grande é o editorial, estimado em R$ 5,4 bilhões, o que faz dele um dos

um sistema que mede o impacto da Cultura no PIB, entre eles 7 da América do Sul (Chile, 10 maiores do mundo, segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato

Uruguai, Argentina, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia – a principal referência). A definição não Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Além do desafio das mudanças tecnológicas, como a

é fácil. Um dos modelos é de círculos concêntricos: no meio ficariam as atividades criativas ascensão dos livros digitais, esse mercado também precisa lidar com formação de público.

mais puras (artes visuais e literatura, etc) que se diluem na medida em que se misturam com Uma pesquisa de 2011 apontou que apenas 50% dos brasileiros podem ser considerados lei-

as atividades na sua órbita (o negócio dos museus ou da publicação, por exemplo). A World tores. Em 2007, esse número era de 55%.

Intellectual Property Organization (Wipo) por exemplo, foca naquilo que gera direitos autorais.

No Reino Unido, pioneiro na criação de políticas próprias para economia criativa em 1997 no SÍNTESE
governo de Tony Blair, o foco era em indústrias onde passava de 30% a proporção de trabalha-

dores criativos sobre o total de empregados. Neste capítulo vimos que a economia criativa tem o potencial de impactar de forma

positiva a economia global, em termos de inovação, produtividade, geração de empregos,

“Não há modelo certo ou errado das indústrias criativas, simplesmente maneiras diferen- conhecimento e identidade cultural. Profissões que participam do segmento costumam ser

tes de interpretar as características estruturantes da produção criativa”, diz um artigo do Atlas bastante procuradas por estimular talentos individuais e buscar soluções para problemas glo-

Econômico da Cultura Brasileira, assinado pelos pesquisadores João Maria de Oliveira, Bruno bais. Além de gerar empregos qualificados e renda, os setores criativos conversam com outras

Cesar Pino Oliveira de Araujo e Leandro Valério Silva. A publicação usou como referência um áreas da economia, agregando valor e competitividade a produtos e serviços.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 32
EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Por que a economia criativa é relevante no mundo atual?

2. Qual o setor da economia criativa que mais está presente em sua cidade?

3. Cite três áreas que são afetadas indiretamente pela criatividade?

4. Como podemos incentivar a criatividade?

CULTURA E DIVERSIDADE 2 33
CULTURA DA
INOVAÇÃO
Onde, afinal, encomendamos este produto cultura
da inovação para “instalar” em nossas organizações?

34
SUMÁRIO

Nunca se falou tanto sobre a importância da inovação nas empresas e de se promover uma cul- exemplo, o horário de trabalho, acesso a redes sociais, etc.

tura de inovação para propiciar um processo criativo e sustentável de geração de produtos e soluções.

Se a necessidade de inovar nas nossas empresas já é assumida como uma premissa básica, onde en- • Uma visão clara e de longo prazo da organização e da proposta de valor de seus produtos

comendaremos este produto cultura da inovação para “instalarmos” em nossas organizações? e serviços. Uma cultura de inovação bem-sucedida exige vetores inteligentes e coerentes.

Podemos definir a cultura da inovação como a “ausência de comportamentos, regras e Uma cultura de inovação adequada a uma empresa ou projeto consiste em gerenciar

ambientes que impeçam o desenvolvimento natural das pessoas em sugerir melhorias e ino- vários fatores, muitas vezes antagônicos, tal como competências, aspectos comportamentais,

vações, aliada a um conjunto de visões, procedimentos e recursos que potencializem estas ambientes, processos, recursos e estratégias. Promover a inovação é um desafio complexo que

iniciativas.” Uma cultura baseada em inovação só terá terreno fértil para estabelecer proces- requer esforço e energia por parte de todos os envolvidos. A formatação de um mindset ino-

sos alinhados, focados e contínuos se não existirem obstáculos internos – muitas vezes ocultos vativo não acontece da noite para o dia e não existem fórmulas prontas para implantá-lo.

– que possam barrar ideias ou visões.

A inovação não tem modelo, não tem tamanho e não tem forma, tão pouco poderá ser

Alguns comportamentos podem facilitar o desenvolvimento de um ecossistema inovador: copiada, por vezes poderá ser adaptada.

• Comportamento apreciativo e aberto, generalizado em toda a organização, é base para A ESSÊNCIA DA INOVAÇÃO
proliferação de ideias inovadoras.

O que lhe vem à cabeça quando ouve a palavra “criatividade”? Se você for como muitas

• Ambientes agradáveis em termos visuais e sonoros, com espaços compatíveis aos mo- pessoas, sua mente logo pensará em algo artístico, como pintura, escultura, música ou dança.

mentos de criação e descanso: salas especiais, espaços de convivência, arranjos flexíveis, Muitos acham que a criatividade é um atributo fixo, como nascer loiro, mas não, com as ferra-

cores das paredes, etc., garantem a motivação e energia necessária. mentas certas ela poderá ser desenvolvida.

• Um conjunto de direitos e deveres vigentes na empresa, definindo o quanto os colabo- Existe o que podemos chamar de “mito da criatividade”, onde muitos pensam que pes-

radores podem dar livre vazão à necessidade de pesquisar, comparar e gerar ideias; por soas criativas nascem assim. É um mito no qual muita gente acredita. A verdade é que todos

CULTURA E DIVERSIDADE 2 35
SUMÁRIO

temos potencial criativo muito maior esperando ser explorado. A chamada “confiança criativa” importante para as empresas diante da complexidade do presente comércio global. Fenôme-

é um conceito fundamentado na crença de que todos somos criativos. Esse é o primeiro passo nos tecnológicos como o Google e o Facebook têm despertado e se beneficiado da criativida-

para a essência da inovação! de para mudar a vida de bilhões de pessoas pelo mundo, provando que as grandes inovações

que transformam o nosso estilo de vida moderno são baseadas na criatividade.

“A crença na sua capacidade criativa reside no coração da inovação”.


Uma pesquisa de opinião realizada pela Adobe Systems com cinco mil pessoas de três conti-

Em seu cerne, a confiança criativa envolve acreditar na sua capacidade de mudar o mundo nentes reporta que 80% das pessoas acreditam que a criatividade é fundamental para o crescimento

ao seu redor. É a convicção que você é capaz de fazer qualquer coisa. A criatividade é “habilidade” econômico. No entanto, apenas 25% dessas pessoas acham que têm condições de aplicar o seu po-

muito mais ampla e universal, entendendo-se muito além das áreas consideradas “artísticas”. A tencial criativo na vida pessoal e profissional, o que representa um enorme desperdício de talento.

criatividade é o sentido de usar a imaginação para criar algo novo. Dessa forma, a criatividade

entra em ação sempre que você tem a chance de criar novas ideias, soluções ou abordagens. A CULTURA DA MUDANÇA E INOVAÇÃO

Durante grande parte do século 20, os “sujeitos criativos” foram relegados ao segundo Mudar e adaptar a cultura é tão importante quanto tê-la, porém, isso não acontece de

plano, no entanto, as atividades criativas que pareciam exóticas ou extravagantes se populari- maneira natural, e como qualquer mudança sempre causa resistência. Para que haja a ino-

zaram apenas uma década atrás e passaram a ser validadas em toda parte. Segundo Sir Ken vação é necessário (sempre) que haja mudança. O processo de aquisição da cultura tem que

Robinson em seu TED talk de 2006 intitulado “Do Schools Kill Creativity”, a criatividade é tão vir acompanhado do sentimento de certo desapego para que haja uma evolução natural, que

importante na educação quanto a alfabetização e deveria receber o mesmo status. Hoje, ser leve a mudança e consequentemente à inovação.

criativo pode ser sinônimo de inteligência, mas por muitos anos isso era um empecilho à pro-

dutividade, pensamento que foi difundido nos primórdios da Revolução Industrial. A Cultura organizacional de uma empresa ou sistema, de acordo com Chiavenato (1999), é

um conjunto de hábitos e crenças que os membros de uma organização utilizam em comum,

No mundo dos negócios a criatividade quase sempre se manifesta na forma de inova- estabelecidos através de valores, atitudes e normas. É representada inclusive pelas principais

ção. A maioria das empresas já percebeu que a chave para o crescimento, e até para a sobrevi- lideranças de uma empresa ou instituicão, que adquirem critérios semelhantes, por exemplo,

vência, é a inovação. A criatividade então se apresenta como a competência de liderança mais para tomadas de decisão, herdados muitas vezes do fundador da organização. Instituições de

CULTURA E DIVERSIDADE 2 36
SUMÁRIO

grande porte e familiares têm em seu cerne culturas organizacionais mais engessadas, como importante ressaltar que nem toda mudança significa uma mudança cultural, apenas quando

meio de proteção às mudanças externas e de manutenção de seus sistemas de “sucesso”. Em se sente que a organização muda seus hábitos, suas crenças e valores.

empresas de menor porte a cultura é por vezes mais fácil de ser percebida e consequentemente

modificada, pois ela se apresenta por meio dos estilos de liderança mais jovens, projetos mais Implementar a cultura não é somente apropriar-se dos seus equipamentos tradicional-

ousados, constante uso de tecnologia e procedimentos alinhados às tendências do mercado. mente conhecidos, é preciso, nos dias atuais, desenvolver um poderoso e flexível mindset

para gerenciar as adaptabilidades necessárias para a sustentabilidade de uma organização ou

Ter uma cultura definida é importante para uma organização, pois ela demonstra a per- projeto ao seu mercado. As novas tecnologias, as redes sociais e os movimentos migratórios,

sonalidade da empresa frente a seus clientes, fornecedores e o mercado de uma maneira intensificados pelas mudanças politicas e econômicas mundiais têm confrontado diferentes

geral, além de definir métodos e práticas, comportamentos e atitudes para todos os níveis de culturas pelo mundo, gerando conhecimento, mas também muitos atritos.

colaboradores e stakeholders. Porém, esta cultura interna tem que ser vista como uma vari-

ável, ou seja, passível de mudanças com o passar do tempo, influenciada muitas vezes pelos Inovar é arriscado, não inovar é mais arriscado ainda.
macroambientes, como as forças econômicas, políticas e culturais, adaptando-se à realidade. É preciso estar preparado para a inovação!
A cultura interna de uma organização deve ser bem definida, a ponto de identificar esta orga-

nização frente aos seus clientes, mas também aberta e flexível para que possa se adequar às SÍNTESE
suscitáveis mudanças dos cenários culturais e econômicos aos quais estamos submetidos.

Neste capítulo vimos a importância da economia criativa e seus setores, e de como a cria-

As mudanças sejam em seus níveis micro ou macro, quando implantadas, geram certo tividade está intrinsecamente ligada à produção de valores culturais e econômicos. Vimos que

desconforto e também resistência de diversos tipos. O processo inovativo dentro de uma ins- as atividades que envolvem as áreas criativas são bastante inovadoras e importantes geradoras

tituição quando implantado de maneira lenta, talvez não seja percebido, mas se as mudanças de empregos e de engajamento cultural. Vimos também a necessidade em cultivar diariamente

acontecerem de forma acelerada, a empresa terá que contornar situações de insatisfação de dentro das organizações um ambiente propício, aberto e flexível às inovações. Essa necessidade

algumas partes. As mudanças são válidas quando as organizações se propõem a um deter- se dá pela importância urgente e atual em ajustar as organizações às novas mudanças compor-

minado objetivo, no qual a mudança da cultura faz-se necessária, seja para crescimento, para tamentais, sociais e econômicas, em um mercado complexo e imprevisível onde é preciso estar

gerar novos valores, para alinhamento com seus clientes ou para uma expansão do mercado. É atendo a todos os sinais e pronto para gerenciar a mudança a qualquer momento.

CULTURA E DIVERSIDADE 2 37
EXERCÍCIOS SUMÁRIO

1. Por que é tão necessário hoje em dia ter a cultura da mudança implementada em uma organização?

2. Qual a importância da cultura para a inovação?

3. Quais são os fatores que mais influenciam as mudanças organizacionais nos dias atuais?

CULTURA E DIVERSIDADE 2 38
REFERÊNCIAS SUMÁRIO

planalto.gov.br (acessado em 21 de março de 2019)

pontoeletronico.me / http://pontoeletronico.me/2015/lowsumerism-entenda/ 21 de março de 2019

CULTURA E DIVERSIDADE 2 39

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