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e-book 2022

LAB CRIAÇÃO A P R E S E N TA Ç Ã O 2022

A P R ES E N TA Ç Ã O Página 05

M Ó D U LO 1 Página 10

Cultura e democracia
Aula 01 Cultura e participação social Página 12
Aula 02 Economia da cultura e soliedariedade Página 28
Aula 03 Pesquisas e informações culturais Página 46

M Ó D U LO 2 Página 64

Corpo, arte e política


Aula 04 Artes e vida pública Página 66
Aula 05 Teatro Documentário Página 78
Aula 06 Escrita e dramaturgia negra Página 92
Aula 07 Escrita e dramaturgia pós-gênero Página 104
Aula 08 Acessibilidade em cena Página 116
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
___________________________________________________
M Ó D U LO 3 Página 128
Ciclo Cultura e Sociedade / Organização: Viviane Pinto, Milena Argenta. Gestão Cultural
São Paulo, SP: Bendita Prosa, Girassol Incentiva e Simpoiese, 2022. PDF.
Aula 09 Projeto sociocultural Página 130
Aula 10 Fomento a projetos socioculturais Página 148
ISBN 978-65-997920-0-7
___________________________________________________

2 Página 162
1. Criação 2. Formação 3. Arte 4. Cultura 5. Sociedade C R É DIT O S FI N A IS 3
Aula 02 M Ó DULO I C U LT U R A E D E M O C R A C I A AULA 02

ECONOMIA DA CULTURA E SOLIDARIEDADE


INTERSECÇÕES POSSÍVEIS
Educadora

Luana Vilutis

Sinopse Sumário

O setor cultural possui grande potencial econômico quais contribuem para a experimentação de formas
para geração de trabalho e renda, constituindo-se alternativas de gestão, promovendo mudanças na
como o quarto maior item de despesa das famílias relação com os meios de produção e na circulação
brasileiras, vide dados estatísticos do Sistema de das atividades e dos produtos culturais por meio da
Informações e Indicadores Culturais (SIIC) 2009– atuação em rede. O papel das políticas públicas de
2020, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geogra- cultura para o desenvolvimento cultural de territó- 1. Apresentação 30
fia e Estatística — IBGE, entre outras instituições rios também será alvo de análise, considerando a 2. Economia da Cultura 32
que mapeiam informações e indicadores do setor. descentralização e a eficiência na execução dos 2.2. Breve panorama conceitual e histórico
Além disso, a cultura é considerada, pelas Nações recursos das políticas culturais, as quais possibili- da economia da cultura
Unidas, o 4º pilar do desenvolvimento sustentável, tam arranjos produtivos locais sustentáveis. 2.1 Economia criativa no mundo
em uma perspectiva que entende não só o desenvol- e no Brasil: alcances e limites
vimento cultural para além de sua dimensão econô-
Questões provocadoras 3. Economia Solidária 36
mica, mas também como a ampliação de liberdades,
3.1. Conceito, característica e
oportunidades e escolhas sobre como se organizar, O que é economia da cultura? Por que e como pen-
atores da economia solidária
criar e produzir cultura em sociedade. Neste sentido, sar a geração de renda com o trabalho cultural?
3.2. Economia solidária e cultura:
esta videoaula pretende refletir sobre a economia da O trabalho cultural possibilita condições de vida aproximações e particularidades
cultura considerando não apenas a geração de tra- digna na sociedade capitalista em que vivemos?
balho e renda, mas também o interesse comunitário Como podemos tornar o trabalho com a cultura 4. Ações Públicas 41
por essa atividade, que é essencialmente solidária, sustentável? No que a economia solidária se dife- 4.1 Papel dos fundos de cultura no
coletiva e plural. Vamos dialogar sobre a sustenta- rencia de outros modelos de desenvolvimento cul- fomento à diversidade cultural
bilidade das práticas culturais com a aproximação tural e qual a sua relação com as políticas públicas 4.2 Experiências e aprendizados
de práticas e princípios da economia solidária, os direcionadas à cultura?
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1. Apresentação

IMAGEM 01
A proposta desta atividade é estimular a reflexão circulação e o consumo de bens e serviços cultu-
acerca da relação entre cultura e economia na rais, mas sem perder de vista o projeto de desen-
promoção da diversidade cultural de grupos e co- volvimento impulsionado nesse processo.
munidades. Para tanto, partimos de uma concepção
Temos, como pano de fundo desta atividade, a
plural da economia da cultura, na qual os valores
sinergia entre economia e solidariedade no desen-
mobilizados pelos bens e serviços culturais não
volvimento cultural de comunidades. Concebemos
são apenas financeiros, mas também simbólicos
o desenvolvimento não apenas sob a ótica do cres-
e sociais. Após compreender como a economia
cimento econômico — e é importante destacar que,
da cultura está organizada, abordaremos o papel
embora essa concepção seja bastante difundida
da economia solidária no desenvolvimento de uma
na atualidade, trata-se de uma conquista recente,
outra cultura de organização social da produção
que ainda não está totalmente consolidada. A partir
cultural e, ao final, apresentaremos alguns instru-
da década de 1960, os organismos internacionais
mentos de financiamento público à cultura com a
passaram a rever a compreensão da dimensão tra-
discussão acerca do papel do Estado no fomento à
dicional da cultura como um obstáculo ao desenvol-
diversidade cultural.
vimento; mas, no Brasil, essa contradição é vigente
O contexto em que situamos a reflexão aqui até os dias atuais, como revelam projetos de lei
proposta diz respeito à centralidade da cultura na que querem liberar a mineração em terras indíge-
sociedade contemporânea, e podemos identificar nas, para citar apenas um exemplo de violação de
isso ao observar como cultura pauta campanhas direitos humanos em nome de um suposto desen-
políticas, orienta escolhas de consumo, influencia a volvimento.
produção industrial de setores variados (que pas-
Além de gerar trabalho, produzir riquezas e fazer
sam a se guiar por valores de status na definição
circular valores, a participação da cultura no de-
de seus produtos), entre outros exemplos da forte
senvolvimento ocorre na medida em que possibilita
relevância da cultura e de sua transversalidade atu-
a expressão identitária de grupos e comunidades,
al. Contudo, ao mesmo tempo que a cultura ocupa
valorizando sua autoestima e promovendo o sen-
essa centralidade, temos lacunas e ausências nas
timento de pertencimento. Esse aspecto é chave
políticas públicas no que diz respeito ao fomento
por estimular a autonomia e a autodeterminação de
à cultura e à promoção de seu acesso. É nessa
grupos sociais, além de promover sua participação
contradição que inserimos esta atividade.
no processo de construção de direitos econômicos,
A partir da abordagem ampla de cultura feita na sociais, culturais e ambientais.
atividade anterior, Cultura e participação social,
A questão central que orienta o conjunto das
podemos ver que não é possível conceber a cultura
reflexões aqui propostas diz respeito à promoção
de maneira homogênea nem dissociada da multipli-
da diversidade cultural de grupos e comunidades
cidade de perspectivas que a compõem. O mesmo
na perspectiva de sua sustentabilidade. Em que me-
ocorre com a dimensão econômica da cultura: esta
dida práticas econômicas plurais e ações culturais
abrange os aspectos produtivos e materiais da cul-
diversas podem contribuir para o desenvolvimento
tura, mas vai além, contemplando também formas
cultural de comunidades? Como as políticas cultu-
de gestão e organização social, bem como valores
rais podem fomentá-las? Estas são algumas das
e representações culturais experimentados em
questões que trataremos a seguir.
seu contexto social. Falar em economia da cultura
significa, portanto, abordar a criação, a produção, a

30 IMAGEM 01. Cultural diversity large. Crédito: მარიამ იაკობაძე.


31
Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/00/Cultural_diversity_large.jpg
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2. Economia da cultura também o reconhecimento das culturas populares


e da produção cultural não mercantil, até então
desconsideradas nesse universo.

Da segunda metade do século 20 até os dias atu-


ais, a importância econômica da cultura só cresceu,
A economia é uma ciência social voltada ao estudo lidade na vida cultural de vários países perdurou e isso se deve muito às transformações provocadas
das diferentes maneiras como as pessoas definem anos. Um exemplo disso é a Inglaterra do século 16, pelas Tecnologias de Informação e Comunicação
suas demandas e como a sociedade se organi- período em que as casas de espetáculo de Londres — TICs. As plataformas digitais revolucionaram a
za para alcançar bem-estar individual e coletivo. contaram com mais de 50 milhões de visitas entre produção cultural e fizeram surgir novos segmen-
Nessa concepção mais alargada de economia, não 1560 e 1642 (FRANCO, 2009). tos, como os jogos eletrônicos e o desenvolvimento
é apenas a dimensão material e qualitativa de pro- de softwares. A expansão das TICs e o impacto
Mesmo que nessa época ainda não houvesse
dução e consumo de bens e serviços que interessa. da digitalização na produção cultural têm relação
um mercado da cultura propriamente dito, a vida
Para além da regulação entre a oferta e demanda, direta com o surgimento da economia criativa.
cultural era expressiva e combinava entretenimento,
a economia comporta também uma dimensão
sociabilidade, informação e trocas econômicas.
qualitativa, voltada à possibilidade de escolhas dos
Conforme vai se libertando das imposições éticas
indivíduos, à afirmação de identidades, à autoesti-
e estéticas da Igreja e do Estado, a cultura passa a
ma e à difusão da diversidade cultural.
constituir, de maneira progressiva, uma relação com
Na economia da cultura ocorre o mesmo. Por ser o público consumidor de cultura e, assim, o merca- 2.2 Economia criativa no mundo
um ramo da economia, ela estuda os impactos do da cultura assume a mediação e a organização
e no Brasil: alcances e limites
econômicos do setor cultural e também contem- da produção dos bens simbólicos e culturais.
pla essa dimensão qualitativa, que revela o valor
Contudo, até meados do século 20, as incursões O contexto de surgimento da economia criativa é o Para conhecer como
simbólico, substantivo e imaterial dos bens e
econômicas no campo da cultura eram restritas e da sociedade da informação, em que a tecnologia, algumas dessas instituições
serviços culturais. Portanto, não são apenas preços
estavam circunscritas ao que era conhecido como as redes e a informação (logo, a cultura) passam a concebem a economia
e índices econômicos que nos interessam quando
“alta cultura”, ou seja, a economia da arte, voltada ocupar um lugar central na organização da socieda- criativa e a relação entre
tratamos de economia da cultura, mas também
especificamente a música clássica, literatura, belas de. O aprofundamento tecnológico no capitalismo cultura e desenvolvimento,
os impactos que as atividades culturais provocam
artes, teatro, dança e ópera. O foco desses investi- contemporâneo e o aumento do peso econômico recomendamos as
sobre a autonomia das pessoas, a educação e os
mentos ainda era orientado pelo mecenato público dos serviços como setor dominante constituíram
valores promovidos na sociedade, o desenvolvi- seguintes leituras:
e privado e não contemplava as culturas populares, um cenário favorável para a difusão da criatividade
mento cultural.
que, a partir de preconceitos elitistas, não eram como recurso econômico, aliada à inovação como UNCTAD. Relatório de Economia
Essa concepção alargada de economia da cultura reconhecidas nem tinham valor mercantil. Nessa suposto motor de desenvolvimento. Criativa 2010 – Economia Criativa:
é, contudo, muito recente e levou centenas de anos época, ainda não se utilizava o termo “economia da Uma Opção de Desenvolvimento
No final dos anos 1990 e no início dos anos 2000,
para ser construída, com disputas e tensões que, cultura” — o que era reconhecido era a “economia Viável. Disponível em: https://
a contribuição financeira das indústrias culturais,
de certa maneira, existem até hoje. Faremos um pa- da arte”. unctad.org/pt/docs/ditctab20103_
por exemplo, a do audiovisual, para a economia pt.pdf. Acesso em 22 mar. 2022.
norama rápido dessa trajetória para compreender
É com o avanço tecnológico do início do século 20 de diversos países passou a chamar a atenção de
como a economia da cultura foi concebida ao longo
que os impactos da Revolução Industrial alcança- organismos internacionais. É nesse período que a UNESCO. The 2009 UNESCO
da história e qual a sua realidade atual.
ram o campo da produção cultural. A reprodução economia da cultura entrou na pauta de debates Framework for Cultural Statistics
técnica de textos, imagens e sons criou novas for- da Organização Mundial do Comércio — OMC, do – FCS.
mas culturais, como a fotografia e o cinema, e a tec- Banco InterAmericano de Desenvolvimento — BID,
2.1 Breve panorama conceitual e nologia industrial passou a ser aplicada à produção UNESCO INSTITUTE FOR
do Banco Mundial, da UNCTAD — Conferência das
histórico da economia da cultura de bens simbólicos e culturais, com produção em Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvi-
STATISTICS – UIS. Montreal,
Canadá, 2009. Disponível em: http://
Embora a relação entre cultura e economia seja massa e reprodução em série. Essa tecnologização mento e da UNESCO — Organização das Nações uis.unesco.org/sites/default/files/
comumente abordada a partir do surgimento de da cultura fez que a produção cultural se mercan- Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. A documents/unesco-framework-for-
um mercado da cultura, o que ocorreu na Europa, tilizasse e as indústrias culturais proliferassem, economia criativa passou a ser vista por essas ins- cultural-statistics-2009-en_0.pdf.
entre os séculos 18 e 19, sabemos que essa relação emergindo uma cultura midiatizada em meados do tituições e pelas potências econômicas europeias Acesso em 23 mar. 2022.
começou antes disso. Basta lembrarmos da Grécia século 20. É nesse momento que a economia da como futuro do crescimento do emprego e dos
Antiga, de seus poetas e do teatro, cuja centra- cultura se desenvolveu e consolidou, contemplando lucros de exportação.

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dos (IPI) sobre acessórios e máquinas de jogos de Por fim, chamamos a atenção para a forma de
vídeo, o que beneficia as empresas que fabricam construção da oferta e da demanda dos bens cul-
A economia criativa, originalmente chamada de de propriedade intelectual, situando a formulação
consoles e acessórios de games, como a Sony e turais em contextos diversos, inclusive e especial-
indústrias criativas, incorpora setores como design, de ações públicas nacionais de economia criativa
a Microsoft, sem garantia de que essas empresas mente naqueles que não seguem a forma de organi-
moda, softwares informáticos, publicidades e arqui- na intersecção entre sustentabilidade, diversidade
repassem o desconto ao produto final — o que zação social da indústria e não estão inseridos na
tetura, entre outros. O contexto de sua consolida- cultural, inovação e inclusão social.
poderia beneficiar o consumidor. Enquanto isso, lógica centralizada de mercado e da propriedade
ção é marcado por um deslocamento da narrativa
editais nacionais de fomento seguem suspensos e privada. Não podemos reduzir o processo criativo
da cultura para a criatividade, e o que distingue as
indústrias criativas das indústrias culturais é o des- Princípios norteadores da economia produtos de primeira necessidade não têm redução a mercadorias para o consumo nem instrumenta-
criativa brasileira tributária. lizá-lo para finalidades úteis, e isso não retira nem
taque econômico dado aos setores que mobilizam
diminui sua relevância econômica.
funções secundárias, utilitárias e funcionais dos IMAGEM 02
Antes de encerrar esta primeira parte, é funda-
bens e serviços culturais, como os mencionados mental destacar três aspectos relativos às lacunas
acima. e ausências enfrentadas pelas políticas públicas
A economia da cultura reúne
de cultura e economia criativa: a informalidade,
A economia criativa, como conceito, teve origem experiências, nos mais diversos
os componentes simbólicos de bens e serviços
no Reino Unido e expressou o interesse desse país elos de seu sistema, que são
econômicos e a forma de construção da oferta e
em se reposicionar economicamente por meio da intangíveis, o que dificulta sua
da demanda. Passaremos brevemente por cada um
identificação de novos setores para firmar sua com- exclusiva mensuração econômica
desses aspectos.
petitividade em um mercado cada vez mais globali-
em termos financeiros. É muito
zado e marcado pelo aumento da incidência privada É sabido que bens e serviços culturais geram traba-
recorrente que os elos e os
na gestão dos serviços públicos. Foi na década de lho e renda e estão organizados em redes e cadeias
setores do sistema produtivo na
1990 que a maioria das políticas para as indústrias produtivas diversas. Contudo, é importante desta-
área cultural estejam articulados
criativas se desenvolveu e ganhou relevância em car que grande parte da produção e da circulação
em redes que mobilizam ciclos
países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, de bens e serviços culturais acontece na informali-
integrados de criação, produção,
Estados Unidos, França, Reino Unido, entre outros. dade, sem registro nos relatórios estatísticos e nos
distribuição, comercialização,
indicadores da economia da cultura. A ausência de
Também chama a atenção e ajuda a compreender consumo, crédito, formação,
pesquisas periódicas e seriadas no Brasil já é uma
o crescente interesse voltado à economia criativa a Esses foram os princípios escolhidos para orientar memória e gestão de bens,
fragilidade enorme que afeta o campo cultural na
indústria de copyright norte-americana. Essa eco- a formulação das ações públicas da SEC entre serviços, práticas e saberes
identificação de tendências, vocações, fragilidades
nomia envolve a produção e a distribuição de bens 2010 e 2015. Em termos de suas diretrizes, havia na área cultural. Acreditamos
e oportunidades. Contudo, a falta de informação
que incorporam a propriedade intelectual, como as forte ênfase em valorizar, proteger e promover que cada elo desse sistema
sobre os setores culturais e criativos que operam
indústrias fonográfica e editorial, bem como as in- a diversidade cultural; prever o desenvolvimento
na informalidade é uma das principais lacunas que movimenta a economia da cultura.
dústrias do audiovisual e do software. Em 2019, nos local e regional a partir da sustentabilidade, da
a economia da cultura possui, desde sua origem, no
Estados Unidos, essa economia foi responsável por inovação de produtos e processos; e conceber a
Brasil, o que precisa ser levado em consideração É igualmente necessário
movimentar 11,99% do PIB norte-americano, o que inclusão produtiva da população como promoção
sempre que se analisarem seus dados. considerar que a produção
representa valores acima de U$ 2,50 trilhões (IIPA, da cidadania cultural. Contudo, diante do esfacela-
cultural também reúne um
2020). É possível afirmar, assim, que a escolha mento das políticas culturais federais desde 2016, Outro aspecto a ser destacado é justamente o fato
conjunto de sujeitos e redes,
dos setores que integram as indústrias criativas é as ações públicas de economia solidária também de que a economia da cultura não apenas mobiliza
calcados em identidades
eminentemente política, e a inserção dos softwares enfrentaram retrocesso e redirecionamento. dados financeiros, mas também compõe-se por
territoriais, e que muitas vezes
teve como objetivo fortalecer a propriedade inte- outra forma de valor, com elementos simbólicos
A amplitude das atividades criativas no Brasil é estes se organizam em sistemas
lectual e impactar a geração do PIB das indústrias de extrema relevância. Referimo-nos à criação de
grande, está organizada em nichos de mercado produtivos com lógicas próprias
criativas. vínculos sociais, à construção de identidades, ao
e envolve desde o artesanato até as cadeias de funcionamento, alimentadas
fortalecimento da participação social e do controle
No Brasil, a economia criativa passou a ocupar a produtivas das indústrias culturais e a indústria de
social, à educação e à sociabilidade que bens e por relações solidárias e
agenda pública no final dos anos 2000. A Secre- games, por exemplo. Isso faz com que o inte-
serviços culturais proporcionam e estimulam. Como cooperativas, as quais nem
taria de Economia Criativa foi institucionalizada em resse político de cada gestão dê maior ênfase à
mensurar esses alcances intangíveis da economia sempre são mensuráveis em
2012 no Ministério da Cultura, e a definição do es- definição dos setores e das atividades que serão
da cultura é aspecto profundamente relevante e estudos e pesquisas econômicas
copo dos setores criativos seguiu marcos interna- priorizados nas ações públicas de fomento. Um
que não pode ser deixado de lado nas reflexões e nacionais. É nessa brecha que
cionais, como o da UNESCO (2009). Houve um es- exemplo disso é o governo Bolsonaro, que, desde
ações deste campo. situamos a economia solidária que
forço da Secretaria de Economia Criativa (SEC) de o início de seu mandato, já editou três decretos de
abordaremos a seguir.
não restringir a abordagem da pasta à concepção redução de Imposto sobre Produtos Industrializa-

IMAGEM 02. Fonte: BRASIL, 2010. Crédito da imagem: Sasa.arq.


34 Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gr%C3%A1fico_-
35
_A%C3%A7%C3%B5es_para_o_desenvolvimento_da_economia_criativa.png
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Vale relembrar os sete princípios do cooperativis- Os sujeitos da economia solidária são muitos e
mo, os quais são chave para a economia solidária diversos, com atuação nos mais variados espaços:
3. Economia solidária e direcionam sua organização e gestão: no âmbito da produção, temos os empreendimen-
tos econômicos solidários; no que diz respeito ao
1. Adesão voluntária e livre: os apoio e à formação, estão as entidades de fomento
empreendimentos econômicos solidários
são organizações abertas à participação de e assessoria; no poder público, existem os gestores
qualquer pessoa, sem discriminação de sexo, públicos; por fim, na parte de mobilização política
raça, classe social, opção política e religiosa e
Como vimos, a pluralidade e a hibridização estão A solidariedade a que nos referimos não é uma so- e articulação social, temos as redes, os fóruns e as
orientação sexual. Todas as pessoas seguem
presentes tanto na cultura quanto na economia. Não lidariedade característica da caridade, baseada em o mesmo modelo de gestão e organização; uniões de trabalhadores.
podemos restringir a abordagem de uma ou outra a relações sociais desiguais e assimétricas e mobili- 2. Gestão democrática: todos os integrantes Os empreendimentos econômicos solidários estão
apenas uma dimensão nem limitar sua complexidade zada no âmbito privado dos indivíduos. Mesmo que do empreendimento têm os mesmos poderes.
organizados em associações, cooperativas, clubes
a um escopo ou atividade. É nessa característica plu- essa solidariedade tradicional tenha motivação de Cada associado representa um voto, e as
decisões são tomadas coletivamente, em de trocas, empresas autogestionárias, bancos
ral que situamos a economia solidária e nela também corrigir desigualdades sociais e atuar em defesa dos assembleia; comunitários de desenvolvimento, agências de
identificamos o aspecto definidor da sustentabilidade mais vulneráveis, ela opera sobre bases fortes de
3. Participação econômica dos membros: turismo comunitário, fundos rotativos, grupos de
de empreendimentos culturais. Trataremos disso hierarquização e relações assimétricas, além de ser todos os associados ou cooperados são consumo responsável, entre outros.
nesta seção, com foco voltado à definição de eco- voltada ao engajamento moral dos indivíduos. A eco- donos do empreendimento e contribuem
igualmente para a formação do capital Devido ao aumento de políticas públicas de econo-
nomia solidária, seu conceito, suas características nomia solidária não se orienta pela perspectiva de
da cooperativa ou associação, o qual é
e seus atores. Veremos também as aproximações mobilizar a responsabilidade individual para correção controlado coletivamente de maneira mia solidária na primeira década dos anos 2000, os
existentes entre a economia solidária e a cultura. de injustiças, mas sim de promover a ação coletiva democrática; gestores públicos constituíram a Rede de Gestores
por transformação social. 4. Autonomia e independência: o de Políticas Públicas de Economia Solidária, que
funcionamento do empreendimento é tem representação federal, estadual e municipal.
A economia solidária desloca essa solidariedade controlado pelos seus integrantes. Todos são
Contudo, desde a dissolução da Secretaria Nacio-
3.1 Conceito, característica e clássica mais comumente praticada pela igreja à donos e têm autonomia de decisão.
nal de Economia Solidária (Senaes), em decorrência
atores da economia solidária esfera pública, inovadora e em rede. Impulsionada 5. Educação, formação e informação: todos
ensinam e aprendem, e o empreendimento
do Golpe de 2016, o governo federal não tem parti-
pela reciprocidade, e tendo como pano de fundo a
tem como objetivo destinar recursos e ações cipado, o que reforça o papel e a responsabilidade
A economia solidária reúne formas de produzir, ven- modernidade democrática de direitos, a solidarieda- para formar seus associados por meio de das gestões territoriais na manutenção das políticas
der, comprar e trocar sem exploração do trabalho de que orienta a economia solidária se expressa nas capacitações permanentes e formações
continuadas. A criação de um fundo com essa de promoção à economia solidária.
nem destruição do meio ambiente, com cooperação relações associativas e nas lógicas de proximidade.
finalidade é recomendado;
As entidades de fomento e assessoria são ligadas
e fortalecimento dos grupos e das comunidades A cooperação, por sua vez, orienta-se pela exis- 6. Intercooperação: todos se ajudam às universidades e às organizações da sociedade
envolvidas. Ela é um movimento social que existe tência de interesses e objetivos comuns entre os com ações recorrentes de apoio mútuo e
intercâmbio de informações, produtos e civil (OSC). Muitas universidades realizam projetos
no mundo há mais de duzentos anos e compreende integrantes dos empreendimentos e funciona com
serviços entre os associados; interdisciplinares de extensão, pesquisa e estudos
uma diversidade de práticas econômicas, sociais, base na união de esforços e capacidades de seus
7. Interesse pela comunidade: os junto à Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
políticas e culturais que envolvem produção de bens, associados. Na cooperação, independentemente do empreendimentos trabalham para o bem- Populares (ITCPs), por meio dos quais produzem e
prestação de serviços, finanças, trocas, comércio e tipo de formalização institucional que o empreendi- estar de suas comunidades, por meio da
difundem conhecimento relativo à economia solidá-
consumo baseados nos princípios de solidariedade, mento assumir, seja cooperativa, seja associação, os realização de programas socioculturais
realizados em parceria com o governo e ria e realizam iniciativas territoriais de geração de
cooperação e autogestão. Passaremos por cada princípios de gestão cooperativa se mantêm e a pro- outras organizações da sociedade civil, de trabalho e renda.
um desses princípios para compreender melhor as priedade dos bens é coletiva; a partilha de resultados maneira que todos saem ganhando.
características da economia solidária. acontece entre todos os associados, e a responsabi- Muitos atores, empreendimentos e organizações
lidade solidária orienta as decisões. de economia solidária se articulam em redes de
No Brasil, esta forma de organização do traba- A autogestão, por sua vez, é o exercício da
cooperação das mais diversas. O Fórum Brasileiro
lho baseada na solidariedade e na reciprocidade gestão democrática, em que os associados
de Economia Solidária é um exemplo de articulação
ganhou força e escala a partir da década de 1990, participam do conjunto de decisões do empre-
nacional que conta também com fóruns estaduais,
diferenciando-se da lógica que vigora no merca- endimento, sejam elas referentes aos processos
municipais e ampla representatividade. No âmbito
do capitalista, o que é fundamental na sociedade de trabalho, sejam elas relativas a questões es-
do poder público, em 2003, junto à instituição da
contemporânea para equilibrar o excessivo protago- tratégicas e cotidianas. A governança de ações
Senaes, foi criado o Conselho Nacional de Econo-
nismo do capital e imprimir caráter redistributivo nas e tudo o que envolve cargos de coordenação e
mia Solidária, que, atualmente, encontra-se parali-
atividades econômicas. O ato associativo na eco- direção também são compartilhados democra-
sado, como vários outros conselhos nacionais de
nomia solidária exige relações de confiança entre ticamente entre os associados do empreendi-
participação social.
trabalhadores, e a reciprocidade e a solidariedade mento. É possível contratar serviços externos de
fortalecem as relações interpessoais, o que contribui capacitação, assessoria, assistência técnica e/
para a articulação de ações coletivas em redes. ou gerencial, mas sem substituir ou restringir o
protagonismo dos associados.

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3.2 Economia solidária e cultura: Em seu território, você conhece grupos culturais. Afinal, depender apenas de editais
públicos é um risco muito alto, ao qual a história re-
aproximações e particularidades algum empreendimento ou iniciativa
cente das políticas culturais já revelou não ser bom
cultural com essas características?
Conheça o Atlas Digital da Economia se expor. Uma das formas de evitar essa vulnerabili-
Compartilhe essa experiência
Solidária e veja informações sobre dade é diversificar as fontes de financiamentos.
A economia solidária se relaciona com a cultura no Fórum.
empreendimentos de economia
desde o seu surgimento e, quando paramos para A geração de trabalho e renda é uma das grandes
solidária na sua região, no seu estado
observar atentamente essa relação, vemos que ela motivações da economia solidária, mas, como
e no seu município: Uma das características da economia solidária que
tem naturezas distintas. Por um lado, como já men- vimos, não é a única. O interesse pela comunidade
http://atlas.sies.org.br/ a aproxima muito da cultura diz respeito ao seu
cionado, a economia solidária configura uma cultura é outro princípio que reforça o caráter territorial das
caráter plural, e isso tem a ver não só com a diver-
de organização do trabalho cooperativo e autoges- práticas dos empreendimentos da economia solidá-
Para ter mais informações sobre sidade de práticas, atores e setores que contempla,
tionário. Por meio de suas ações e de seus atores, ria. Ela mobiliza iniciativas voltadas para o desen-
o histórico da economia solidária e seu mas também, e fundamentalmente, com a mobiliza-
ela representa um processo contínuo da prática de volvimento sustentável das suas comunidades, na
conceito, bem como conhecer algumas ção e a articulação de diferentes fontes de recursos
valores de solidariedade e reciprocidade, igualda- perspectiva do que é chamado de “etnodesenvolvi-
experiências, acesse o Caderno econômicos. Assim, a economia solidária combina
de de direitos e de cooperação. Como projeto de mento”. Segundo essa concepção, a identidade cul-
Pedagógico Educandas práticas econômicas variadas, por exemplo, a ven-
desenvolvimento sustentável, a economia solidária tural, territorial e étnica é o que organiza a atividade
e Educandos, do ProJovem Campo da de produtos e serviços, o acesso a editais pú-
implica uma transformação cultural, de valores e econômica e lhe confere sentido; ou seja, qualquer
— Saberes da Terra: http://portal. blicos, bem como trocas e doações realizadas por
práticas cotidianas. Não podemos conceber a eco- iniciativa econômica deve levar em consideração
meio de iniciativas de ajuda mútua. Isso também é
mec.gov.br/index.php?option=com_ nomia solidária sem essa mudança cultural intrínse- primeiro a identidade cultural das comunidades e
muito comum no campo da cultura, especialmente
docman&view=download&alias=6013- ca às suas ações. dos grupos sociais envolvidos nessa ação, como
em se tratando de iniciativas comunitárias, ligadas
caderno4-educando-economia- povos indígenas, quilombolas, povos tradicionais,
Por outro lado, a relação entre cultura e economia às culturas populares.
solidaria&Itemid=30192 comunidades rurais, ribeirinhas, comunidades de
solidária também ocorre nos setores de produção
Essa combinação de diferentes lógicas econômicas fundo de pasto, de periferias urbanas, entre outras.
e de serviços, a partir do reconhecimento e da
que a economia solidária mobiliza é um aspecto-
valorização dos empreendimentos econômicos e O etnodesenvolvimento combina desenvolvimento
-chave para compreendermos a intersecção entre
solidários que atuam no campo da produção e da econômico e diversidade cultural ao prever que ini-
cultura e economia solidária. Na perspectiva da
circulação de bens culturais. Assim temos o que ciativas econômicas não podem destruir as bases
pluralidade, a economia solidária articula diferentes
chamamos de economia solidária da cultura, um étnicas de uma comunidade, mas sim respeitar sua
lógicas econômicas: mercantil, reciprocitária e não
conjunto diverso de iniciativas culturais e coletivas, autonomia e autodeterminação. Ao mesmo tempo,
mercantil (ou redistributiva).
orientadas pelos princípios da economia solidária, essa perspectiva concebe que o desenvolvimento
os quais incentivam a diversidade cultural, orien- As trocas mercantis são operacionalizadas por da etnicidade de uma comunidade precisa ocorrer
tam-se pela democracia econômica, praticam a meio da comercialização de produtos e serviços, o de forma aliada à promoção de seu desenvolvimen-
autonomia comunitária e promovem o desenvolvi- que configura o acesso ao mercado. A lógica reci- to econômico para que esses grupos sociais não
mento territorial e a sustentabilidade de suas comu- procitária é aquela realizada por meio de relações fiquem marginalizados ou impedidos de partilhar, de
nidades e empreendimentos nos diversos setores de solidariedade, como contribuições voluntárias, forma paritária, simétrica e em igualdade de opor-
culturais e segmentos artísticos. trocas diretas, doações, mutualização de recursos, tunidades, as condições do desenvolvimento. Esse
vaquinhas, entre outras práticas que muitas vezes é outro aspecto que aproxima a economia solidária
A criação, a produção, a distribuição, a circulação, a
são, inclusive, não monetárias, ou seja, não envol- da cultura e que se relaciona com a sustentabilida-
difusão, o consumo e a fruição de bens e serviços
vem dinheiro. A lógica não mercantil ou redistribu- de e o desenvolvimento.
culturais também fazem parte da economia solidá-
tiva, por sua vez, ocorre via financiamento público
ria. O artesanato talvez seja o setor mais conhe- Outra aproximação que podemos identificar entre
governamental ou não governamental (acesso a
cido, mas existem, em todo o país, diversas ações a economia solidária e a cultura diz respeito ao tra-
editais, repasses de recursos, subsídios e auxílios
cooperativas, solidárias e associativas envolvendo balho associado e autogestionário. Esse princípio
financeiros, por exemplo).
teatro, audiovisual, confecção, cultura digital, músi- da economia solidária é também muito praticado
ca, cultura popular, turismo de base comunitária e Na economia da cultura, muitos empreendimentos no campo cultural, afinal de contas, é praticamente
Compre de quem faz. Feira de diversos outros setores criativos. articulam essas diferentes lógicas econômicas para impossível fazer um show, uma peça de teatro, um
artesanato da Praça Luiz Viana, manter suas ações culturais, contando especial- filme ou qualquer outra apresentação artística ou
mente com iniciativas de ajuda mútua, como cessão ação cultural sem o trabalho coletivo de artistas,
Jequié/BA. Foto: Luana Vilutis.
de espaços, trabalho voluntário, permutas etc. A iluminadores, cenógrafos, operadores de câmara e
mobilização da pluralidade de fontes de recursos demais profissionais.
é muito frequente e, inclusive, é um aspecto que
O que torna os processos produtivos culturais
contribui muito para a sustentabilidade de artistas e
dignos da economia solidária é o fato de o trabalho

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coletivo e a comunidade serem os motores que


determinam os demais fatores de produção, ou 4. Ações Públicas
seja, quando a centralidade está na dimensão
humana do desenvolvimento. É nesse contexto
que ocorre uma sinergia entre os vínculos solidá-
rios estabelecidos nas experiências territoriais,
Nesta parte final da atividade, trazemos uma refle- tes de recursos próprios das instituições financia-
o estabelecimento de relações de confiança, o
xão sobre o papel do Estado brasileiro no finan- das são medidas que podem ser combinadas à
reconhecimento da diferença e a realização da
ciamento da cultura, problematizando aspectos dedução do imposto.
igualdade de oportunidades, aspectos essenciais
essenciais do fomento público a ações culturais e
para a promoção da diversidade cultural. No âmbito nacional, temos a Lei Rouanet (Progra-
econômicas de promoção da diversidade cultural e
ma Nacional de Apoio à Cultura — PRONAC), ins-
da solidariedade. Para tanto, abordaremos os dois
tituída em 1991 pela Lei nº 8313, que, atualmente,
Como vimos, não é o setor de principais mecanismos de fomento à cultura, os
vem sofrendo sucessivas revisões pelo governo
produtos ou de serviços que fundos de cultura e o incentivo fiscal, conhecendo
federal, provocando alterações controversas.
define se uma prática ou um seus alcances e limites. Em seguida, passaremos
Algumas das modificações polêmicas recentes
empreendimento integra a brevemente por algumas lições apreendidas de
na Lei Rouanet dizem respeito à redução do valor
economia solidária, mas sim experiências de fomento à economia solidária da
máximo permitido para ser captado por projeto
sua forma de gestão, como são cultura, as quais podem inspirar futuras iniciativas.
aprovado: de R$ 60 milhões, o teto caiu para R$
tomadas as decisões e o lugar 500 mil — com algumas exceções de projetos que
que a coletividade assume na podem captar R$ 4 milhões ou R$ 6 milhões. O
condução do trabalho. Dessa governo anunciou que prevê restringir o limite para
forma, uma iniciativa econômica de 4.1 Papel dos fundos de cultura no pagamento de cachês de artistas com recursos
cultura e um projeto de economia fomento à diversidade cultural incentivados para R$ 3 mil por apresentação, o
criativa podem se identificar com que representará, se aprovada, uma redução de
a economia solidária, e há diversas Na atividade passada, Cultura e Participação Social, 93% do limite em vigor.
formas de isso ocorrer: partilhar foi possível conhecer os principais desafios da ins-
Os fundos de cultura são modalidades de finan-
os valores da economia solidária e titucionalização da política cultural no Brasil. Apesar
ciamento direto que funcionam, em sua maioria,
correspondê-los aos seus princípios de a regulamentação do Sistema Nacional de Cul-
por meio de editais e seleções públicas. Os re-
de organização social da produção; tura (SNC) ainda não ter sido instituída, a criação de
cursos que os alimentam são variados, de fontes
contemplar o desenvolvimento sistemas de financiamento da cultura nos estados e
diversas e podem vir de outros fundos, como é o
territorial, participativo e sustentável nos municípios foi amplamente difundida na primei-
caso dos repasses de fundos estaduais a fundos
dentre suas estratégias de atuação; ra década e meia dos anos 2000.
municipais. Também podem ser abastecidos pela
promover a diversidade cultural e O sistema de financiamento da cultura proposto no arrecadação de impostos, como o ICMS, por
valorizar o saber local; fomentar âmbito do SNC recomenda às unidades federativas exemplo, além de dotação orçamentária específi-
a justiça social e a preservação criarem seus mecanismos de fomento e financia- ca no orçamento do poder público. A perspectiva
ambiental; desenvolver ações mento combinando instrumentos diferentes, como do repasse de recursos do Fundo Nacional de
culturais vinculadas à educação o incentivo fiscal e o fomento direto via fundo de Cultura (FNC) para os fundos estaduais e munici-
cidadã com formação continuada, cultura. A combinação de diferentes instrumentos pais de cultura é, ainda hoje, uma enorme neces-
entre outros aspectos. dinamiza esse incentivo e contribui para a plura- sidade e uma conquista pendente que contribuirá
lidade cultural, ao permitir uma ampliação e uma muito para a articulação sistêmica das políticas
diversificação do acesso a recursos públicos. culturais brasileiras.
O incentivo fiscal é uma modalidade de financia- No modelo federal de financiamento à cultura, a
mento de projetos culturais por meio de renúncia disparidade de volume e a desigualdade de aces-
fiscal ou investimento. Ele permite a empresas ou a so entre o Fundo Nacional de Cultura e a Lei Rou-
pessoas físicas apoiarem financeiramente projetos anet é enorme. O volume de recursos captado no
aprovados através de doação ou patrocínio. Os incentivo fiscal federal (Lei Rouanet) chega a ser
incentivadores podem deduzir de seu Imposto de 70 a 80 vezes superior ao recurso do Fundo Na-
Renda uma parte ou 100% do valor investido no cional de Cultura (NETO, 2017). Essa disparidade
projeto, e a exigência de contrapartidas e de apor- se repete no âmbito estadual. As demais unidades
federativas do país, em grande medida, seguem
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o modelo federal de financiamento da cultura, priorizando o 4.2 Experiência e Aprendizados


incentivo fiscal em vez dos fundos de cultura na distribuição
de recursos públicos a esse setor. Bahia, Pernambuco, Goiás
e Distrito Federal fogem a essa regra e possuem fundos A ação pública de cultura que mais se aproximou da É possível identificar, nessa concepção, uma profun-
estaduais de cultura com mais recursos que os montantes economia solidária foi o programa Cultura Viva, res- da relação entre a economia solidária da cultura e o
mobilizados pelas leis de incentivo. ponsável pela implementação dos pontos de cultura. desenvolvimento cultural de grupos e comunidades.
Desde sua concepção, em 2004, o programa tinha a Estabelecemos aqui uma conexão direta entre essa
Os fundos de cultura constituem uma modalidade de finan-
economia solidária como um de seus pilares, e a pri- concepção de desenvolvimento cultural e a perspecti-
ciamento complexa, heterogênea e plural. Reconhecidas,
meira TEIA — Encontro Nacional de Pontos de Cultu- va sustentável do desenvolvimento, uma vez que suas
muitas vezes, como complementares e mais abrangentes
ra foi realizada em parceria com a Secretaria Nacional ações aliam o compromisso com a comunidade ao
que o incentivo fiscal, as finalidades dos fundos de cultu-
de Economia Solidária, envolvendo empreendimentos sentimento de pertencimento, à prática da gestão de-
ra costumam ser associadas à promoção da diversidade
econômicos solidários de todo o Brasil, em conjunto mocrática, ao exercício da cidadania, ao respeito ao
cultural, à transversalidade da cultura, ao desenvolvimento
com os pontos de cultura. No evento, foi utilizada uma patrimônio cultural e à identidade das comunidades,
cultural e à participação social. A transparência e a descen-
moeda social e foram realizados debates e oficinas bem como à preservação destes.
tralização territorial do fomento cultural também são ca-
sobre economia solidária e cultura.
racterísticas amplamente difundidas dos fundos de cultura. No âmbito das políticas de fomento da dimensão
Embora os editais públicos sejam, de fato, o mecanismo de Em 2012, o programa Cultura Viva implementou uma econômica da cultura, é fundamental destacar a
fomento direto mais difundido e praticado no âmbito dos ação específica, voltada à premiação de pontos lógica econômica da cultura popular que, em grande
fundos de cultura, é importante destacar que, além de apoiar de cultura e organizações da sociedade civil para medida, difere dos grandes domínios mercadológicos
projetos da comunidade cultural, muitos fundos também o desenvolvimento de projetos na área de econo- e do prestígio industrial e, muitas vezes, é negada e in-
custeiam despesas do órgão público de cultura e financiam mia solidária. Foram premiadas 12 organizações no visibilizada por não ser viável economicamente. Con-
programas institucionais. valor de R$ 100 mil para cada projeto. Depois disso, tudo, o fato de uma produção cultural não ser rentável
em 2015, foi lançado outro edital do Ministério da não elimina seu valor econômico, apenas lhe confere
Outro aspecto importante a ser considerado é o fato de os
Cultura, em parceria com a Senaes, para apoio de outro sentido. A dimensão econômica de práticas
fundos de cultura também serem contingenciados e so-
Redes através do qual também foram fomentadas culturais comunitárias, populares e solidárias muitas
frerem com as instabilidades da política cultural do Estado
iniciativas de pontos de cultura articulados em redes vezes revelam-se sustentáveis por sua utilidade social
brasileiro. Mesmo instituídos e regulamentados por lei, há
de economia solidária. No ano de 2010, os pontos de e pela sustentação dos laços de sociabilidade. Entre
fundos de cultura que deixaram de operar. Ou seja, embora
cultura protagonizaram a organização da I Conferên- as responsabilidades e exigências das políticas pú-
representem um avanço em relação à democratização do
cia Nacional de Economia Solidária da Cultura, que blicas, situamos o fomento dessas práticas culturais,
acesso à cultura no Brasil, os fundos de cultura ainda cons-
ocorreu em Osasco/SP, onde reafirmaram a prioriza- inclusive e fundamentalmente quando estas dizem
tituem um desafio a ser consolidado, ampliado e fortalecido
ção da dimensão solidária da produção cultural como respeito ao funcionamento e à sobrevivência de práti-
institucionalmente. A contrapartida de 20% exigida às insti-
uma escolha política. Isso fica claro na caracterização cas culturais locais, territoriais e comunitárias.
tuições que acessam o FNC institui uma prática muitas vezes
das formas de organização econômica destacadas
replicada na instituição dos fundos estaduais, o que reforça Experiências como o Cultura Viva, com seus alcances
no documento da Conferência (BRASIL; OSASCO;
o desequilíbrio entre esse instrumento e as leis de incentivo e limites, ensinam-nos que, para promover o desen-
REDE, 2010, p. 17):
que chegam a financiar 100% dos projetos. volvimento cultural de um território, de seus grupos e
comunidades, é importante ir além da realização de
A estratégia de formular o financiamento e o fomento à cul-
A solidariedade aparece não apenas eventos ou da promoção de uma expressão cultural
tura de maneira sistêmica, integrando diferentes instrumen-
como oposição à competição ou específica. Ensinam-nos também que lançar editais
tos e mecanismos, ainda é uma conquista a ser alcançada. como traço de compaixão humana, pontuais não é suficiente: é necessário prever um
Embora antiga na história das políticas culturais brasileiras, mas também como compromisso com
conjunto de programas e ações públicas continuadas,
essa proposta nunca ocorreu de maneira equilibrada e as lutas coletivas por transformações
sociais. A constituição de estruturantes e plurais que mobilizem um processo
eficiente. A concentração regional do fomento e o baixo entrelaçamentos em redes de democracia cultural e promovam a interação entre
reconhecimento da importância do investimento público em solidárias emerge com o propósito
diversidade de expressões artísticas e manifestações
cultura dentro do próprio Estado são aspectos que dificul- de criar circuitos econômicos
entre empreendimentos solidários culturais. Colocar em prática a transversalidade da
tam ainda mais a distribuição do acesso à cultura. A pouca
dentro de uma mesma lógica e com cultura e sua intersetorialidade é outro aprendizado
oferta de capacitação para o acesso a recursos públicos e sustentabilidade econômica, social, importante, que deve ocorrer por meio da articulação
a falta de sistemas de informações mais desenvolvidos, que ambiental e cultural. Enfim, são
da cultura com outras pastas da gestão pública no
ofereçam transparência aos processos de acesso a recur- alguns dos princípios e vocações
identificados nestas iniciativas desenho de ações intersetoriais de fomento à cultura.
sos na cultura, compõem alguns dos desafios a serem alcan- que lhes conferem singularidade
çados no âmbito das políticas de financiamento e fomento à e legitimidade na elaboração de
cultura no Brasil. estratégias de desenvolvimento,
sobretudo em âmbito local.

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