Você está na página 1de 48

07.01.1230 – Out1999.

1ª Edição, Outubro de 1999.

Todos os direitos reservados pela


Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis – AMORC
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa

COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO
Charles Vega Parucker, F.R.C.
Grande Mestre

Proibida a reprodução em parte ou no todo


Índice

3 Prolegômenos Charles Vega Parucker

5 Educação da Juventude S. Balakrishna Joshi

14 A Educação Serge Toussaint

16 A Família - Formadora de Gerações Carol H. Behrman

19 A Temível Adolescência Judy Child

23 Aprendizagem Pré-escolar Nedra A. Niles

26 Como Ensinar Princípios Místicos a Crianças


Robert E. Daniels

29 Conversando com o Mestre Interior do Seu Filho


Ana Rímoli de Faria Doria

32 Crianças Problemáticas B. L. Burditt


35 Decálogo para o Jovem do Século XX Maria Moura

38 Resposabilidade Patrícia e Sherman Reinius

42 Uma Sinopse para a Juventude

1 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


2 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Prolegômenos

Para agir precisamos superar as influências que o nosso meio


exerce sobre nós e elevar o nível vibratório deste mesmo meio, pois,
o ambiente que nos cerca realimenta o ciclo vicioso das reclamações
sem ação.
Reclamamos, muitas vezes, do trânsito. Outras vezes da política,
das injustiças sociais, dos desentendimentos que levam as guerras, do
trabalho, dos filhos… em fim reclamamos de tudo e de todos a toda
hora. Será que não é hora de parar de reclamar e agir?
Como então? A resposta é simples. Através da educação!
Para efetivamente mudarmos os problemas do trânsito, da polí-
tica, das injustiças sociais, das guerras, do trabalho… devemos nos
educar e ensinar aos nossos filhos uma nova maneira de olhar para
o mundo. Afinal, não é este um dos grandes objetivos da AMORC?
Na maioria das publicações da Ordem podemos ler: “O objetivo
da Ordem Rosacruz, AMORC é promover a evolução da humanidade
através do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo
e propiciar uma vida harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e
paz.” Neste sentido a AMORC é uma escola; uma escola para a vida
que nos permite agir sobre o nosso meio começando por nós mesmos
e por aqueles que nos cercam.
Assim, o período onde as potencialidades são maiores, onde
ainda não foram intimidadas pelas vicissitudes da vida, é a infância.
Por esta razão é que devemos investir todos os nossos esforços na
3 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
melhoria da qualidade de vida; devemos investir nas nossas crianças. Para nós, adultos,
e principalmente para elas, crianças, devemos trabalhar para a evolução da humanidade.
Dar o primeiro passo, é sempre difícil e toda ajuda é bem-vinda. Saber onde começar
é a questão e para ela temos a resposta. O primeiro passo desta senda é o aprimoramento
das formas de comunicação.
Através do diálogo com nossos amigos, familiares e principalmente com as nossas
crianças, encontraremos o segundo, terceiro, quarto… enfim todos os passos seguintes.
Conseguiremos, através de esforço e muito trabalho, atingir o nosso objetivo: O Domínio
da Vida.
Para auxiliar neste diálogo reunimos aqui onze textos escritos por diversos autores, que
podem servir de fio condutor para dinâmicas de discussão. A questão da adolescência, a
importância da educação na infância, a base sólida que deve ser a família, são alguns dos
temas tratados. Temos a certeza que todos encontrarão pontos que tocarão a sensibilidade
e que instigarão a comunicação neste Encontro Rosacruz de Pais e Filhos.
Atendendo ao novo programa da Ordem Rosacruz de estímulo à Ordem Juvenil o pre-
sente opúsculo deve servir como um elemento de estudo nos nossos Organismos Afiliados,
para que nas reuniões a serem realizadas regularmente seja feita uma análise gradativa de
temas vinculados aos jovens, quer da AMORC ou não. Necessitamos conhecê-los mais,
os jovens de nossa época, e queremos que se expressem com toda a força de sua mente.
Os artigos foram especialmente selecionados nesta direção.
Cada reunião entre nós deve ter um tema para reflexão e meditação. Disto, com cer-
teza, surgirão novas modalidades para aprimorarmos o relacionamento entre os adultos
e os jovens rosacruzes. Que os Mestres Cósmicos nos dirijam na Sagrada Missão de me-
lhorarmos o mundo para os nossos herdeiros, nossos sucessores! E que a Paz verdadeira
esteja com todos!

Fraternalmente,

Charles Vega Parucker


GRANDE MESTRE

4 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Educação da Juventude
Não apenas mera instrução mas persuasão.

S. Balakrishna Joshi

A educação e a juventude estão intimamente associadas, como


a fragrância e a flor. A educação destina‑se principalmente à juven-
tude, uma vez que a juventude representa a primavera da existência,
quando o indivíduo tem de desabrochar para a aquisição de conhe-
cimento, sabedoria e formação do caráter. Uma pessoa carente de
educação, não passa de um bípede. No atual sistema democrático é
tanto responsabilidade quanto privilégio da juventude receber edu-
cação apropriada que a equipe para uma vida agradável e cidadania
esclarecida. Lamentável é, no entanto, que a finalidade e filosofia
da educação não sejam devidamente compreendidas.
Educação não é a aquisição mecânica do árido conhecimento
dos fatos, contido nos livros, e o sucesso superficial nos exames
com todos os seus defeitos inerentes não representa a meta do
empenho educacional. Educação é um processo compreensivo e
sintético que objetiva o desenvolvimento do corpo, o alimento da
mente, a sublimação das emoções e a regeneração do espírito, e sua
consecução consiste na expressão de uma personalidade completa.
A base para a realização deste ideal somente pode ser conveniente
e verdadeiramente assentada nas escolas e universidades, que são
agências específicas criadas com a finalidade de educar os jovens.
Um senso de disciplina baseado numa compreensão esclarecida dos
valores morais e éticos, representa a necessidade evidente da hora,
em todos os países.
5 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
É uma tragédia que, com o espantoso avanço da ciência, o homem esteja degenerando
para um estado de selvageria civilizada, aniquilando as virtudes básicas que conferem
dignidade e encanto à natureza humana, Nossa educação se transformará em desperdício
colossal e objeto de motejo se não inspirar nos jovens uma fé duradoura nas Verdades
Eternas e não conseguir neles instilar um senso verdadeiramente estético que considera
a vida como uma magnífica oportunidade para a realização da perfeição. É conveniente
lembrar que as escolas e universidades não são simples estruturas de tijolo e argamassa,
construídas para abrigar milhares de jovens com energia exaltada, durante a maior parte do
dia. As escolas e universidades são oficinas de sabedoria, sementeiras de caráter, cidadelas
de disciplina, arsenais de democracia e viveiros da nação, preparando

Corações puros, mentes fortes,


fé verdadeira e mãos hábeis,

Homens a quem a avidez pelos cargos


não pode aniquilar;

Homens que têm opinião e vontade


para expressar.

Por isso, se as nossas instituições educacionais quiserem cumprir sua sublime finalidade,
terão de ser transmutadas em centros de cultura.
A educação da juventude se constitui em responsabilidade associada que deve ser
assumida por diferentes pessoas. Os professores, naturalmente, nela desempenham papel
importante. Uma instituição educacional reflete aquilo que os seus professores dela fazem,
e os professores são aquilo que o seu Diretor ou seu Reitor os inspira ser. Nem sempre é
correto culpar os jovens quando as coisas andam erradas nas instituições educacionais.
Os professores têm de compreender que não são compêndios animados cuja ação é a de
transmitir partículas desconexas de conhecimento contidas na letra morta dos textos, e
sim condutos vivos, cuja missão é a de transferir energia moral e espiritual por meio de
instrução ilustrativa e influência pessoal. A mente do jovem não é uma grande lata de
lixo na qual possam ser convenientemente lançados montes de conhecimento, mas um
organismo vivo que tem de ser estimulado para atividade criativa. O trabalho do professor,
portanto, não é apenas instruir, mas persuadir.

Disciplina e Caráter
A degeneração aflitiva nos padrões de trabalho e conduta tão em evidência entre
a juventude nos dias que correm, é devida, em grande parte, ao fato de que o professor
abandonou ou desistiu de seu comando moral. A maioria dos professores não é capaz de
impor o respeito que é sua prerrogativa por força de seu nobre trabalho. Os estudantes
de hoje são, no verdadeiro sentido, os construtores do amanhã, em cujas delicadas mãos
treme o futuro destino do pais. É, portanto, dever dos professores que se incumbiram da
tarefa importante de moldar os cidadãos embrionários, treiná‑los, em disciplina e caráter,
6 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
para que possam assumir suas responsabilidades condignamente quando chegar a ocasião.
Constitui dever moral, exigido dos professores, o manter o jovem sob controle razoável.
É perfeitamente possível mostrarem-se rigorosos sem se tornarem ásperos e firmes sem se
tornarem cruéis. Isto não significa que eles deverão brandir sua autoridade e intimidar o
jovem até a submissão. O medo jamais poderá fazer um prosélito sincero: faz inabaláveis
rebeldes e débeis covardes. Os professores devem despertar no jovem um respeito sagrado
que nasça da reverência e não um medo covarde que decorra da incapacidade de reação.
Isto eles poderão conseguir, se forem absolutamente sinceros e ardorosos no cumprimento
de seus deveres elementares e compreensivos e imparciais em suas atitudes para com os
estudantes. Quando os jovens percebem que os professores trabalham dedicadamente para
o seu progresso em todos os sentidos, passam a idolatrá‑los e a indisciplina jamais sobrevirá.
O professor deve se tornar um exemplo solene para seus alunos, em todos os sentidos;
suas palavras, gestos e ações, imbuídas com senso de disciplina para que sua vida transpa-
rente se torne um compêndio luminoso sobre ética dinâmica. Os estudantes que crescem à
imagem de seus professores absorverão, então, inconscientemente, os elementos essenciais
de um nobre caráter. A responsabilidade do professor nesse sentido, tornou‑se atualmente
maior devido à penetração de vários elementos prejudiciais que tentam corromper a mente
dos jovens e neutralizar a influência salutar da instrução organizada.
Os professores dotados de disposição mental e capacidade adequadas só podem
transformar a educação em influência poderosa para o bem. É verdade que o quinhão dos
professores deverá ser consideravelmente aumentado como ato de mera justiça; todavia,
não é correto imaginar‑se que os seus vencimentos devam ser exagerados para “atrair” o
tipo correto de homem e mulher para a profissão. A “atração”, com o propósito de excitar
a cobiça abjeta, tem em si mesma um elemento que toca a vulgaridade. Ao contrário,
caso se queira galvanizar a educação, homens e mulheres imbuídos de fé e fervor deverão
“gravitar” para a profissão com disposição para trabalhar dedicadamente. O perigo é que,
quando apenas as possibilidades materiais do professor são salientadas, haverá luta pela
profissão e os que forem realmente bons poderão ser alijados na competição. A educação
nas mãos daqueles que não acreditam na vocação e à força abriram caminho para o ma-
gistério por meio de auxilio fortuito devido às ninharias resplandecentes que se agitavam
à sua frente, poderá se tornar uma calamidade em vez de beneficio.

O Lar e a Escola
É desastroso que os pais freqüentemente se esqueçam de que têm de desempenhar papel
importante na educação da juventude. O lar deve ser tanto uma réplica da escola quanto
a escola um prolongamento do lar. Os pais são os primeiros professores e os professores os
segundos pais. Eles devem, portanto, estender sua cooperação esclarecida aos professores
e fortalecer a influência da escola por observação contínua e controle eficiente sobre o
jovem no lar. Mais do que isto, o exemplo de sua conduta deverá ser digno de emulação.
Caso se queira fazer da educação da juventude uma influência benéfica, os poderes
competentes deverão também estender aos professores toda a proteção e auxílio. Devam
dotar os professores com poder suficiente para enfrentar adequadamente os casos de in-
disciplina juvenil, e se colocarem ao lado dos professores a qualquer preço. Ai da educação
7 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
se as pessoas no poder se entregaram a pânicos freqüentes sob a mórbida influência da
critica insensível, e profanarem a imagem da majestade do professor! É realidade dolorosa
que, por um falso senso de cavalheirismo democrático aos jovens seja conferida excessiva
liberdade, atribuindo-lhes importância extraordinária.
Não compete aos jovens que se dirigem às escolas e universidades indagar por que e,
sim, modificarem‑se e transformarem‑se em refinados espécimes de cidadãos cultos. Eles
devem compreender que, a despeito de quão precoces possam ser, não podem reivindicar
a madura experiência da idade que apenas se evidencia pela participação em diferentes
e inúmeras situações na vida, durante longos anos. A humildade é prova inequívoca de
cultura; o autodomínio a essência da disciplina; e a educação se transforma em recurso
valioso apenas quando é iluminada pelo caráter. Se os jovens possuem a necessária sabedoria
amadurecida para decidir qual o curso de ação que o governo deverá adotar com respeito
às importantes questões nacionais de amplas conseqüências, o tipo dos indivíduos que
devem dirigir as instituições educacionais e estabelecer programas, a maneira pela qual
devem ser conduzidos os testes para determinar o valor e a diligência dos estudantes e
a formulação de princípios para a determinação do progresso acadêmico, então não será
necessário que freqüentem instituições educacionais para receber instrução, pois estarão
desperdiçando tempo e energia.
Consequentemente se os jovens, devido a excesso de confiança nos impulsos, se des-
viarem das normas de conduta estabelecidas, o governo terá de exercer sua autoridade e
poder para trazê‑los novamente à sensatez e sobriedade, sem ceder ao sentimentalismo
tolo que hesita em coibir a liberdade caprichosa de indivíduos desencaminhados. É
repugnante notar que os atos indecorosos da juventude são voluvelmente desculpados
com superabundância de argumentos insípidos. Se as condições forem ideais, os padrões
toleráveis de conduta merecerão apenas ligeira menção encomiástica. Somente quando as
condições não são favoráveis e quando obstáculos sérios desencorajam o esforço sincero
e tremendas desigualdades põem à prova a paciência, deve ser estabelecido um senso de
disciplina para fixar a conduta.
Portanto, o jovem deve, necessariamente, com empenho deliberado, ser instruído em
boas maneiras, conduta decente e atitudes corretas. Com toda a eficiência persuasiva da
autoridade moderada, os jovens têm de ser levados a compreender a suserania da lei moral
e a necessidade de obedecê‑la A instrução ética, organizada em linhas disciplinadas e con-
ducentes à descoberta do Espirito que é a Realidade final, deve se constituir na parte mais
importante de toda a instrução para que a educação se torne uma bênção para a juventude
(Reimpresso do Bhavan’s Journal de 16 de Julho de 1967)

8 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


A Educação

Serge Toussaint, FRC


Grande Mestre da Jurisdição de Língua Francesa

Quero lhes falar hoje de um assunto que me toca par­ticularmente


e que me pa­rece fundamental para os rosacruzes. Trata-se da educa-
ção. Contrariamente ao que se poderia pensar a priori, este assunto é
profundamente místico, pois implica toda a problemática do futuro
que aguarda a humanidade, dado que o mundo de amanhã será em
grande parte o que as crianças de hoje dele farão. A este respeito, o
próprio Pitágoras dizia: “De todas as artes, a educação é a mais espiri-
tual, pois aplica-se às almas em via de evolução e condiciona o futuro da
__________
* humanidade”. Desejo
Primeiro Grau, no Brasil. então compartilhar com os Fratres e Sorores o
resultado de minhas reflexões e de minhas meditações nesse campo.
De maneira geral, podemos dizer que a educação deve ser aplicada
em dois lugares principais: na escola e na família. Evidentemente, a
educação escolar assenta sobre os professores, prin­cipalmente os do
primário*, dado que os primeiros anos da infância são funda­mentais
no aspecto educativo. Quanto à educação familiar, depende natu-
ralmente dos pais, pois eles são os mais interessados em seus filhos
e deveriam lhes dedicar toda a sua atenção. Em última análise, é a
eles que cabe a responsabilidade maior de educá-los. Ora, a julgar
pelo estado atual da sociedade, parece evidente que muitos deles
não assumem corretamente essa responsabilidade, o que se traduz
em certa forma de decadência moral e cultural. Há então urgência
nessa ques­tão, pois a História mostra que foi a partir do momento em
que a educação foi negligenciada que ocorreu o declínio das grandes
9 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
civilizações do passado. Neste particular quero lembrar-lhes a adver­tência que Platão dirigiu
a seus con­cidadãos no começo da degeneração do povo grego: “Quando os pais se acos­tumam
a deixar os filhos fazerem o que queiram, quando as crianças não mais atentam para o que eles
dizem, quando os professores tremem diante de seus alunos e preferem adulá-los, quando enfim
os jovens desprezam as leis porque não mais reconhecem por trás delas a autoridade de nada e de
ninguém, então é aí que está em toda beleza e em toda juventude o começo da tirania”.
Em primeiro lugar, vejamos em que deveria consistir a educação escolar. Se digo de-
veria, é porque sinto que a escola não corresponde às exigências que deveria satisfazer no
tocante às crianças. Não se trata de uma crítica aos docentes, pois eu mesmo fui professor
e conheço o mérito deles e a dificuldade de sua tarefa. O que está em questão é mais o
próprio sistema escolar. Acho, com efeito, que esse sistema reflete a sociedade em que
vivemos, que é materialista demais. É isso que explica por que o ensino ministrado nas
escolas visa mais à aquisição de conhecimentos puramente intelectuais do que ao despertar
das consciências. Ora, todo mundo sabe que “ciência sem consciência nada mais é que a ruína
da alma” e que a dignidade humana assenta mais na inteligência do coração do que na do
cérebro, uma naturalmente não excluindo a outra.
Nas escolas atuais, a educação situa-se em três níveis principais: físico, artístico e
intelectual. Como todos sabem, a educação física consiste geral­mente em exercitar as
crianças em disciplinas esportivas que podem ser praticadas individual ou coletivamente.
Pode se tratar de atletismo, ginástica, futebol, ou outros esportes. Essas atividades não
são inúteis em si mesmas, porque são benéficas para o corpo e constituem um meio de a
pessoa se descontrair mentalmente. Apesar disso, elas são muito freqüentemente pra­ticadas
num mau espírito de com­petição, ou seja, com o objetivo de dominar o outro e mesmo de
“derrotá-lo”, como se ouve dizer comumente. Ora, essa motivação me parece negativa,
porque se traduz em relações de força que podem chegar à violência, sem contar o fato de
que todos os meios são às vezes empregados para ganhar, notadamente a trapaça.
No sentido absoluto, acho que o espírito de competição não deveria se basear no desejo
de dominar o outro e, menos ainda, de derrotá-lo, e sim no desejo de estimular um concor-
rente de menor capacidade a melhorar seu próprio desempenho. Vale dizer que a educação
física na escola deveria permitir às crianças desenvolverem-se em atividades condicionadas,
não pela adversidade e a confrontação e sim pela cumplicidade e a emulação. Além disso,
essas atividades deveriam sempre ter um caráter posi­tivamente lúdico. Em outras palavras,
seria necessário que elas privilegiassem constantemente o jogo no sentido que este termo
tinha origi­nalmente, ou seja, de divertimento que não tinha outro objetivo senão o do
prazer individual e coletivo que ele podia proporcionar àqueles que a ele se entregavam.
Independentemente das atividades puramente esportivas, a educação física, tal como é
aplicada nas escolas, deveria enfatizar a noção de despertar corporal. Ou seja, os programas
escolares deveriam dedicar mais tempo a despertar as crianças para seu próprio corpo, a fim
de que elas tomassem consciência de que ele é uma obra-prima das leis naturais e merece
todo o seu respeito. Assim, seria necessário fazê-las praticar exercícios de relaxação, de
respiração, de concentração nas diversas partes do corpo, etc. Isso permitiria sensibilizá-las
gradativamente para a dimensão psíquica e mesmo espiritual de seu ser. Em última análise,
o ideal seria fazê-las compreender tão logo possível que seu corpo é sede de uma atividade
consciente e é verdadei­ramente o templo de sua alma.
10 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Passemos agora à educação artística, tal como poderia ser aplicada à escola. Eviden-
temente, ela diz respeito ao aprendizado da arte. Mas, que é arte? Embora não exista ne-
nhuma definição dogmática e empírica desse termo, para mim ele designa a aptidão para
expressar no plano objetivo a harmonia e a beleza que nossa alma é capaz de perceber em
nós ou ao nosso redor, o que lhe dá uma dimensão espiritualista. Neste particular, parece-
me evidente que nenhuma obra realmente inspirada pode nascer sob a impulsão exclusiva
do ego. Infelizmente, vivemos numa época em que predomina o culto às aparências e em
que se qualificam como “artistas” pessoas cujo talento é duvidoso mas que se aprovei­tam
da tolice humana ou das modas impostas por uma falsa elite.
Na Grécia Antiga a arte tinha grande importância no ensino que era ministrado às
crianças. Desde sua mais tenra idade elas eram iniciadas à pintura, à escultura, à música,
ao canto, à dança e a outras práticas que contribuíam para despertar seu senso artístico.
Esse ensino tinha dois objetivos principais: por um lado, cana­lizar seus sentidos objetivos
para algo harmonioso; por outro lado, permitir-lhes expressar o ideal de beleza, tal como a
alma humana pode percebê-lo. A arte era ademais definida pelos gregos como a “linguagem
da alma”. Infelizmente, não é mais esse o caso em nossos dias, o que explica por que seu
aprendizado na escola se limita mais freqüentemente a um passatempo intelectual, quando
deveria corresponder a uma disciplina de des­pertar interior.
É óbvio que nem todas as crianças estão destinadas a se tornarem artistas. Não obs-
tante, parece-me indispensável despertar seu senso artístico, pois a alma que nelas reside
o possui em estado latente e só quer expressá-lo, de uma forma ou outra. Isso implica que
seria necessário educá-las bastante para aquilo que é belo e harmonioso, seja no campo da
música, da pintura ou da escultura. Assim, a escola deveria ser um lugar privilegiado para
iniciar as crianças à beleza das coisas. Como? Fazendo-as escutar boa música, mostrando-
lhes pinturas inspiradoras, permitindo-lhes ver ou tocar esculturas harmoniosas. Nesse
sentido seria preciso também sensibilizá-las para as maravilhas da natureza, pois ela é em
verdade uma obra de arte que contém todas as artes: a música, no canto dos pássaros e
no murmúrio dos riachos; a pintura, nas cores e tonalidades das paisagens; a escultura, na
variedade dos relevos e das formas naturais, etc.
Após termos assim visto os princípios básicos da educação física e da educação artística,
vejamos agora o que podemos dizer quanto à educação intelectual que, assim me parece,
deveria ser transmitida nas escolas. Antigamente, essa educação consistia essencialmente
em ensinar às crianças noções ditas de base, tais como a aritmética, a geometria, a or-
tografia, a gramática, a conjugação, a história, a geografia e as ciências naturais. É certo
que esse ensino não era perfeito e lhe faltava pedagogia, no sentido de que as lições eram
dadas geralmente de maneira magistral, devendo os alunos se limitar a escutar o professor.
Mas tinha pelo menos a vantagem de ir ao essencial e de lhes inculcar conhecimentos dos
quais alguns podiam servir para toda a vida. Neste particular, a escola cumpria um papel
social decisivo.
Hoje em dia, os programas escolares tendem a fazer da aquisição do saber uma coisa
secundária e privilegiar o método de ensino que consiste doravante em fazer do aluno o
seu próprio mestre, o que me parece ao mesmo tempo utópico e demagógico. É isso que
explica por que uma criança que antigamente aprendia a ler no máximo em um ano leva
agora dois e mesmo três anos para dominar a leitura de um texto de dificuldade mediana.
11 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Analogamente, todos poderão notar que nossas crianças são cada vez piores em ortogra-
fia, não conseguem contar corretamente, têm bem pouca noção de história e geografia,
etc. Esse estado de coisas prova perfeitamente que há um problema de base na educação
escolar. De minha parte, acho que já é mais que tempo de dar novamente à escola o seu
verdadeiro papel, que consiste precisamente em inculcar nas crianças conhecimentos de
base, o que aliás não impede de despertar simul­taneamente sua aptidão para buscarem e
descobrirem por si mesmas.
Além do fato de que a maioria dos programas escolares foram esvaziados em parte de
seu conteúdo, em favor de um método que deixa a desejar, co­meteu-se o erro de querer
dirigir todas as crianças para estudos ditos inte­lectuais, os quais não são no entanto garantia
do melhor futuro. A meu ver, aqui também trata-se de uma forma de demagogia, tanto
mais grave quanto deixa supor que todos os alunos são iguais no plano intelectual. Como
místicos, sabemos perfeitamente que não é esse o caso. Por isso seria necessário voltar a
valorizar os trabalhos manuais e introduzir novamente o seu aprendizado na escola, a fim
de que as crianças dotadas para esse gênero de trabalho pudessem preparar-se para ele
tão logo possível, sem no entanto se negligenciar o inculcar nelas os conhe­cimentos gerais
que lhes poderiam ser úteis. Assim fazendo, estou convencido de que se reduziria a evasão
escolar e de que se permitiria a cada criança encontrar mais facilmente o seu caminho.
Tendo assim indicado as grandes linhas da educação escolar, tal como a concebo,
vejamos agora o que podemos dizer quanto à educação parental. Acho que ela deve se
aplicar em três níveis: disciplinar, moral e espiritual. Em primeiro lugar, saibam que estou
perfei­tamente cônscio de que a noção de disciplina pode causar espécie a priori, e mesmo
chocar, pois vivemos numa sociedade cada vez mais liberal, para não dizer libertária. Não
obstante, estou convicto de que as crianças precisam ser disciplinadas e obedecer a certas
regras. Acho que muitos pais são permissivos demais e dão a seus filhos uma liberdade
excessiva, o mais das vezes porque eles próprios não têm mais referências nesse campo.
Ora, as crianças têm necessidade de proibições, pois sabem no âmago delas mesmas que
há coisas que podem fazer e outras que não devem fazer. Todos poderão aliás notar que
elas tendem a testar os adultos para ver até onde podem ir em seu comportamento. É
preciso então estabelecer limites para elas, a fim de que tenham um quadro de referências
em sua vida diária. Se não o fazemos, elas se sentem entregues a si mesmas e cometem
toda espécie de excessos, com todos os prejuízos que cedo ou tarde resultam disso para
elas mesmas e para outrem.
Ensinar disciplina às crianças não significa privá-las de toda liberdade de palavra e
ação, visto que elas precisam falar e agir para expressar o que pensam e para desenvolver
sua personalidade. Como eu já disse, trata-se antes de lhes fixar regras de comportamento,
expli­cando-lhes em que essas regras são ao mesmo tempo necessárias e benéficas. Neste
sentido, é preciso sempre privilegiar o diálogo com as crianças, pois a auto­ridade, em sua
mais nobre aplicação, consiste em fazer com que elas reconhe­çam o bom fundamento da-
quilo que lhes é permitido ou proibido fazer, a ponto de que se conformem sem problema.
Do contrário, o autoritarismo é nefasto no plano da educação, porque então as crianças
obedecem somente por medo de serem punidas. Sempre achei que o autoritarismo é a
pedagogia dos fracos e que toda pessoa que dele faz uso não tem autoridade natural, o que
a obriga a se fazer temer em lugar de respeitar.
12 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Talvez os Fratres e Sorores se per­guntem em que campos será necessário disciplinar as
crianças. Com o risco de lhes parecer pragmático demais e exi­gente demais, penso que é
nos aspectos mais correntes da vida cotidiana. Por exemplo, parece-me indispensável que
lhes seja ensinado a serem pontuais nos horários que se aplicam a elas, a serem ordeiras e
cuidadosas, a prestarem serviços nas tarefas domésticas, a se deitarem quando isto lhes for
ordenado, a não transgredirem as proibições que foram estabelecidas de acordo com elas, a
fazerem seus deveres escolares, a nada exigirem que não seja merecido ou justificado, etc.
Ensinando-lhes essas conveniências disciplinares, contribuímos para despertar nelas o senso
de respon­sabilidade e imbuí-las do fato de que a vida comporta certamente direitos, mas
também deveres. Em outras palavras, elas são iniciadas ao seu futuro papel de cidadãos, o
que me leva agora a lhes falar da educação moral que os pais devem aplicar a seus filhos.
Antigamente, a instrução moral fazia parte dos programas escolares. No primário, o
professor apresentava toda manhã uma virtude capital por meio de uma breve história
ou de um provérbio escrito no quadro. Pessoalmente, eu adorava esse tipo de lição e
estou convencido de que o mesmo acontecia com meus colegas de classe. Assim era que
nos explicavam por que é bom ser paciente, tolerante, corajoso, pres­timoso, educado,
honesto, etc. Infeliz­mente, isso não tem mais lugar nas escolas. Por quê? Provavelmente
porque a palavra moral adquiriu uma conotação pejorativa ou mesmo negativa, a ponto
de que aqueles que hoje em dia falam nisso são tidos como reacionários ou retrógrados.
No entanto, essa palavra é definida como a ciência do bem e do mal. Ora, não vejo em que
essa ciência é retrógrada e menos ainda antiquada. Em última análise, observei que a
maioria daqueles que a consideram assim o fazem para justificar sua própria amoralidade.
Há também pessoas que rejeitam a moral porque nela vêem uma conotação judaico-cristã
que reprovam. Neste caso, nada as impede de substi­tuírem a moral pela noção de ética.
As observações precedentes me levam a definir o que entendo por moral. De maneira
geral, ela designa para mim o respeito a si mesmo, a outrem e ao ambiente. Em virtude
desta definição mística, é preciso ensinar as crianças a cuidarem delas mesmas e a não
se aviltarem com comportamentos con­trários ao seu bem-estar físico ou mental. Como?
Cuidando que tenham ritmos regulares para comer e dormir, que não assistam a filmes que
façam a apologia da violência ou da vulgaridade, que tenham leituras sadias e inspiradoras,
que tenham equilíbrio entre suas obrigações escolares e seus momentos de lazer, etc. Para
que as crianças respeitem a si próprias, os pais devem também cercá-las de toda a sua
afeição e parabenizá-las toda vez que elas façam algo bom. Este ponto me parece muito
importante, pois, se é normal repreendê-las e mesmo puni-las quando isso se justifique, é
preciso também sabermos expressar para elas o nosso contentamento e mesmo recom­pensá-
las quando o mereçam. Assim as iniciamos aos próprios princípios da lei de compensação.
Aplicada ao respeito para com os outros, a educação moral consiste em ensinar às
crianças o senso da polidez e da prestimosidade. Infelizmente, a polidez é muitas vezes
considerada, hoje em dia, como sinal de certa ingenuidade ou, pior ainda, como uma for-
ma de parvoíce. No entanto, parece-me que saber dizer “bom dia”, “até logo”, “por favor”,
“obrigado”, “desculpe”, etc., nada tem de ridículo, mas dá testemunho do interesse que se
dedica aos outros e contribui para harmonizar as relações humanas. Assim também, ajudar
um cego a atravessar uma rua, carregar um pacote para uma pessoa idosa, ceder o lugar
a um adulto no trem ou num ônibus, etc., são atos de civilidade a que as crianças devem
13 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
ser sensibilizadas. Quanto ao respeito de que é preciso imbuí-las para com o ambiente,
consiste simplesmente em despertar nelas o amor à natureza, a fim de que elas preservem
sua beleza e sua pureza para as gerações vindouras.
Tendo assim visto a educação disci­plinar e moral que os pais devem dar a seus filhos,
consideremos agora a edu­cação espiritual que é preciso lhes transmitir. Como todos sabem,
essa forma de educação não existe nas escolas, principalmente nas escolas públicas. Mas
é cultivada nas instituições religiosas, embora elas se limitem o mais das vezes a inculcar
dogmas nas crianças e a condicionar sua adesão a algum credo. Como rosacruzes, devemos
iniciá-las verdadeiramente à espiritualidade. Em outras palavras, temos o dever de criá-las
na convicção de que têm uma alma e de que a missão de sua vida consiste em aprimorar essa
alma. Isso implica em sensibilizá-las para as principais leis divinas, creio eu especialmente
o carma e a reencarnação. Digo sensibilizar porque não devemos cometer o erro de querer
absolutamente que nossos filhos adiram sem reserva à filosofia rosacruz. Antes devemos
nos esforçar para imbuí-los dos valores morais que já mencionei e lhes explicar em que o
respeito a esses valores contribuirá necessariamente para a felicidade deles.
Para inculcar nas crianças o desejo de aprimorarem sua alma, é preciso primeiro lhes
explicar em que é ao mesmo tempo necessário e meritório comportar-se com dignidade no
plano humano. Isso implica ajudá-las a tomar consciência de seus defeitos e encorajá-las
a corrigi-los. Por exemplo, se uma criança tende a ser ciumenta, egoísta, orgulhosa, etc.,
é preciso, com amor, compreensão e pedagogia, mostrar-lhe que, se ela persistir nesse
comportamento, atrairá aborrecimentos para si mesma, não terá amigos e nunca será
realmente feliz. Paralelamente, é preciso felicitar regu­larmente as crianças pelas qualidades
que manifestem na vida corrente, a fim de que sintam certa elevação e continuem a ser
desprendidas, generosas, modestas, etc. De maneira geral, temos o dever de ajudá-las a fazer
distinção entre um comportamento que é fundamental­mente bom e um comportamento
que é fundamentalmente mau, o que pressupõe definir com elas o sentido geral que um
místico pode dar ao bem e ao mal.
Enfim, para que a educação es­piritual seja completa no tocante às crianças é preciso
que os pais as imbuam da fé em Deus, tal como os místicos O concebem, ou seja, enquanto
Inte­ligência Cósmica que criou o universo, a natureza e o próprio ser humano, segundo
leis imu­táveis e perfeitas. E é preciso lhes mostrar em que todas as religiões são respeitá-
veis, mesmo que nenhuma dentre elas de­tenha o mo­nopólio da Verdade. Nesse campo,
o melhor é cultivar nas crianças a tole­rância e lhes explicar que um dia haverá uma Re-
ligião Universal. Para­lelamente, é preciso encorajá-las a buscar o Deus de todos os seres
humanos em seu próprio âmago, pois nunca o encon­trarão nos Livros Sagrados e menos
ainda nos credos que deles resultaram. Ou seja, fazê-las compreender que a verdadeira
espiritualidade é aquela que o indivíduo encontra em si mesmo e que se aplica para o bem
dos outros. Agindo assim, não somente faremos de nossas crianças os cidadãos do mundo,
mas também verda­deiros agentes da Divindade.
Para encerrar esta mensagem, parece-me muito importante insistir no fato de que a
condição primeira em matéria de educação consiste em darmos a nossas crianças o exem-
plo do comportamento que nelas desejamos inculcar. Com efeito, somos sua referência
cotidiana. Como então esperarmos que elas sejam pon­tuais, ordeiras, polidas, prestimosas,
tolerantes, espiritualizadas, etc., se nós mesmos não somos assim? É verdade que nenhum
14 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
de nós é perfeito e que o papel do educador é difícil, mas devemos nos esforçar para ser-
mos tão fiéis quanto possível ao ideal que nutrimos sobre a educação e nos lembrarmos
constan­temente de que as crianças são almas que Deus nos confiou. Nunca esque­çamos
que nosso dever de adultos é o de elevá-las, no mais místico sentido deste termo, isto é,
no sentido de elevarmos sua consciência aos ideais espirituais profun­damente humanistas.
Esta é a nossa missão primeira como rosacruzes.

Mensagem de Serge Toussaint, Grande Mestre da Grande Loja da Jurisdição de Língua Fran-
cesa da AMORC, na Convenção de Estrasburgo, em julho de 1997.

15 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


A Família
Formadora de Gerações

Carol H. Behrman

Confrontados com o termo “educação”, quase todos nos evoca-


mos facilmente a figura de um prédio escolar, salas de aula, diretor,
corpo docente, livros, quadros‑negros, giz, papel, lápis, e assim por
diante. Esta é uma imagem conveniente, mas não um quadro real
da educação.
Nosso sistema escolar é apenas um dos métodos empregados pela
sociedade para o treinamento e educação dos jovens. É um instru-
mento e não um processo global porque a educação em si, mesma é
um curso que dura a vida inteira, um rio que começa a fluir no dia
em que nascemos e continua seu fluxo dentro de nós, ao nosso redor,
por todos os dias de nossa existência. Tudo e todos que nos tocam
contribuem para nossa educação. Nossos mestres não são aqueles
que ficam diante dos alunos; são também os nossos amigos, vizinhos,
parentes, livros e jornais, filmes de cinema e televisão e, mais que
tudo, nossos pais.
Existe hoje uma tendência para depreciar o papel do lar na
educação da criança, e enfatizar o da escola. Na verdade, a escola
desempenha uma função imensamente importante, vital mesmo, mas
é o lar que fornece o solo e as sementes que, plantadas e alimentadas,
se transformam nas idéias e atitudes fundamentais de uma pessoa.
Não é sempre exatamente assim. A família, como unidade básica
da sociedade é, infelizmente, uma entidade obviamente imperfeita, a
julgar pelos trágicos enganos e abismais profundezas em que a socie-
16 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
dade tem mergulhado no passado. Crescemos com a carga de inúmeros e sombriamente
fascinantes complexos, neuroses e ideologias contaminadas, muitas das quais, talvez a
maioria delas, foram absorvidas dos desvios e limitações conscientes e inconscientes de
nossos pais. É preciso admitir que os resultados são, com muita freqüência, assustadores.
Muitos sociólogos, psicólogos, antropólogos e outros expertos “ólogos”, nos dizem que
a unidade familiar está superada; é um anacronismo, um fóssil interessante. Deve haver,
dizem‑nos, um modo melhor, mais eficaz, de criar um ser humano capaz de enfrentar
o mundo cada vez mais complexo do presente e do futuro. Oferecem‑nos um variado
sortimento de planos detalhados de sistemas de escolas maternais e de estudos que con-
trolarão e manipularão o desenvolvimento do indivíduo desde sua infância. Esses sistemas
são uma grande tentação em face dos deploráveis resultados de nosso sistema atual, mais
indiferente, e tendo em vista especialmente a aparente desintegração da vida familiar em
nossa sociedade de hoje. O emprego de papai exige que ele passe cada vez mais tempo fora
de casa, ele nunca está presente para prover o forte símbolo de segurança, essencial para
um lar estável. Mamãe, também, está sendo seduzida para deixar seu papel tradicional e
lançando‑se com espontânea alegria à oportunidade de realizar‑se através de um salário,
no mercado de trabalho. Assim, cada vez mais, um vazio está sendo criado, o qual, di-
zem‑nos, só pode ser preenchido pelos recursos públicos de educação da criança desde o
berço até a maturidade.
É para isto que estamos caminhando? Se é, como será o “homem do futuro”, produto
de um ambiente objetivo cuidadosamente controlado? Libertar‑se‑á ele das ambigüida-
des e conflitos íntimos do tipo de indivíduo das famílias do passado? A resposta é, muito
provavelmente, sim.
Mas também é muito provavelmente verdade que ele estará livre de outras emoções
perturbadoras e ineficazes como o amor, a compaixão e o enlevo. Ele estará liberto dos
sentimentos inquietantes e até mesmo torturantes que deram surgimento às mais altas
expressões humanas na poesia, na literatura, nas artes e na música. Ele terá se desvencilhado
dos grilhões das emoções que diminuem e corrompem o homem, mas ao mesmo tempo
perderá as paixões que enobrecem o homem e dão sentido à vida, pois não há amor sem
ódio, alegria sem tristeza, nem êxtase sem desespero. Nosso homem, doutrinado em grupo,
será um bom e obediente robô, um fazedor de produtos, não de sonhos, um pragmático
sem aspirações nem ideais.
A unidade familiar embora imperfeita é, até hoje, o único instrumento inventado
pela sociedade para produzir um homem humano acossado por fraquezas humanas, mas
com os olhos postos nas estrelas. Uma família mais forte, não mais fraca, é a nossa única
esperança para o surgimento do homem capaz de alcançar as estrelas não só fisicamente,
mas espiritualmente.
O reconhecimento da importância da parte da educação total que é ministrada no lar
é essencial se quisermos que a família seja fortalecida para poder se tornar a formadora das
gerações futuras, superiores às que as precederam. Nossas escolas podem ensinar história,
matemática, ciências e literatura, mas é em casa que principalmente adquirimos as atitu-
des e padrões com os quais avaliamos essa poderosa concentração de conhecimentos. Os
valores morais são por demais importantes para ficarem entregues a ocorrências fortuitas
e máquinas impessoais de ensinar.
17 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Os pais de hoje estão sendo assediados por todos os lados e por todos os meios com a
dificuldade e inutilidade de sua tarefa, quando o que precisam é de encorajamento, orien-
tação e confirmação do valor supremo do lar como alicerce da educação.
O mais moderno e progressista complexo de escolas só poderá arruinar‑se e fracassar se
for construído sobre bases enfraquecidas. Essas bases devem ser fortalecidas e revigoradas.
Recai sobre nossos líderes e sobre os responsáveis pelas comunicações o dever de ajudar
os pais a desempenhar seu vital papel na educação, para que, juntamente com as escolas,
possam criar um homem melhor para o futuro.

18 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


A Temível Adolescência
Aceitando o Desafio com todo o seu coração

Judy Child, PhD, SRC, IRC

O período da adolescência é geralmente o mais difícil na relação


pais‑filho porque esse é o período da separação. Tanto os pais quanto o
filho estão experimentando desafios em seu próprio desen-volvimento
pessoal. O filho está aprendendo a atuar como adulto independente,
o que significa que ele ou ela deve, sair (física, emocional e psicolo-
gicamente) do ambiente do lar. Os pais estão aprendendo a deixar
ir. O processo exige que ambos, pais e filho, aprendam a viver com
a ambigüidade, a complexidade e o compromisso em todos os níveis
de interação.
O período da adolescência é necessariamente desafiador, mas
se o desafio for aceito com todo o coração, há o potencial para
um profundo crescimento pessoal e a alegria de desenvolver uma
amizade permanente entre pais e filho. O conceito espiritual da
evolução da personalidade-alma individual quase sempre traz para
uma perspectiva mais clara a qualquer coisa que aconteça entre os
pais e o adolescente. Ao meditar sobre esse princípio espiritual, você
descobrirá que, como adulto, compreenderá sua própria infância e a
do seu adolescente com muito mais honestidade, e de tal modo que
poderá agir com sabedoria e compaixão no presente.
Há três medos poderosos que muitas vezes interferem na nossa
habilidade para resolver os problemas de sermos pais de adolescentes.
O primeiro medo surge do nosso instinto natural de guiar e proteger.
Tememos que nossos filhos venham a se ferir, a cometer erros, ou
19 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
que de algum modo não sejam capazes de lidar com os desafios da vida. Se examinarmos
honestamente esse medo por nossos filhos, descobriremos que ele tem suas raízes em nosso
próprio medo de sermos feridos, de errarmos ou de não sermos capazes. Nossa tarefa, como
guias e protetores, é apoiarmos e encorajarmos o instinto natural dos nossos filhos para
explorar, experimentar, correr riscos e crescer. Fazemos isso dando aos nossos adolescentes
tantas escolhas (e portanto responsabilidade) quanto possível em todas as áreas da sua vida.
Estabelecer linhas de orientação freqüentemente gera conflitos, porque o adolescente
está aprendendo a apreciar o equilíbrio entre escolha e responsabilidade, enquanto os pais
estão aprendendo a fazer escolhas que limitam seu senso de responsabilidade. A ambos é
exigido que mudem suas percepções do relacionamento, porque os padrões de interação
estão mudando como parte de um processo de desenvolvimento natural. Como pais, es-
tabelecemos o tom desse processo por meio da nossa conscientização do fato de que, em
primeiro lugar, ele está acontecendo; por um continuo auto exame das nossas próprias
motivações e reações emocionais; pelo estabelecimento de valores de comunicação honesta
e respeito mútuo, através do exemplo pessoal. Quanto mais aprendemos a confiar em nosso
próprio processo de crescimento (a evolução da nossa própria personalidade-alma), mais
aprendemos a confiar na capacidade dos nossos adolescentes para enfrentar seus próprios
desafios de vida.
O segundo medo tem suas raízes na confusão sobre nosso lugar no mundo que nos
cerca, nossa identidade social. Tanto os pais quanto o adolescente são vulneráveis a igual
pressão até que aprendam a aceitar a responsabilidade pessoal. Essa é uma questão difícil
de ser resolvida em qualquer idade e em qualquer circunstancia. Quando estamos profun-
damente envolvidos emocionalmente, tornamo‑nos vulneráveis uns aos outros de maneiras
significantes. Freqüentemente sentimos que estamos vulneráveis ao que outras pessoas
pensarão a nosso respeito por causa de algo que alguém da nossa relação está fazendo.
Sabemos, como adultos, que isso é uma ilusão, porque relacionamentos verdadeiros são
honestos e oferecem apoio. Aqui estamos falando essencialmente sobre consciência de
grupo e de nossa natural interdependência como seres humanos.

Comunicação – a Chave
Se nós, como pais, ficamos envolvidos numa situação em que sentimos que nossa
reputação está correndo risco por causa do comportamento do nosso adolescente, é
extremamente importante que examinemos imediatamente nossos próprios medos. Se
estivermos encarando nosso filho como se ele fosse um reflexo de nós mesmos e, portan-
to, aquilo que ele faz afeta nossa reputação, estaremos dando ao nosso filho um excesso
de poder em nosso relacionamento; e estaremos lhe negando sua personalidade própria.
Quanto mais estreita for a nossa mentalidade, mais tentaremos restringir as experiências
de vida do nosso adolescente, muitas vezes com conseqüências dramáticas, rebelião de-
clarada e conflito. Não temos o direito de tentar forçar uma outra pessoa a viver segundo
nossas expectativas. O outro irá instintivamente resistir, abertamente ou por retraimento,
porque seu processo de crescimento natural está ameaçado. Os pais devem abrir mão de
seus próprios medos a fim de reabrir a comunicação com seus adolescentes. Se nossos re-
lacionamentos adultos estiverem realmente correndo risco por causa do comportamento
20 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
do nosso adolescente, é hora de reavaliarmos esses relacionamentos, bem como nosso
relacionamento com nosso filho. A diversificação humana louva a diferença, pois ela é
um reflexo do poder da imaginação criativa, do processo de individuação e do potencial
de evolução da personalidade-alma.
O terceiro medo, o medo de não ser amado, afeta tanto os pais quanto o adolescente,
embora os pais sejam menos aptos a reconhecê‑lo em si mesmos. Temos medo de que não
seremos compreendidos, que seremos rejeitados, que não seremos acreditados – todos os
medos dos quais sofremos com essa mesma idade e não os resolvemos quando adultos.
Esse é um medo particularmente importante de se analisar (o medo de não ser amado)
relativamente ao fato de sermos pais de adolescentes. O processo desenvolvimental requer
que a conexão pais-filho seja deliberadamente afrouxada mas não quebrada, que pais e
filho aprendam a serem amigos, a reconhecerem e a respeitarem a individualidade de cada
um. Uma vez que esse é um processo gradual que se estende por vários anos, com conflitos
inevitáveis, a interação e a comunicação devem ser abordadas com cuidado. Sermos bem-
sucedidos como pais de adolescentes exige coragem, concentração e comprometimento
com nosso próprio processo de crescimento. O período da adolescência está repleto de
mudanças, tanto para os pais como para o filho. A mudança pode ser sentida como exci-
tante e desafiadora, ou como temível e esmagadora. A chave se encontra em nosso próprio
coração, em nossa capacidade de amar, de dar assim como receberíamos. O medo de não
ser amado é superado quando amamos sem o pensamento do eu ou a necessidade do amor
retribuído. Isso e particularmente verdadeiro quando, como pais, esperamos ou exigimos
que nossos filhos compreendam e apreciem “tudo o que fizemos por eles”. Na verdade,
essa compreensão e apreciação geralmente vêm depois que o filho atinge a idade adulta.

Uma
VamosPrática
considerar umaÚtil
prática Útil que o ajudará a resolver o problema que pode estar
enfrentando como pai ou mãe de um adolescente. Por exemplo, suponhamos que sua filha
pareça estar perdendo o interesse pelos assuntos escolares, embora ela costumasse ser
uma boa estudante. Você está preocupado porque acredita que a educação é importante
e que sua filha se beneficiará enormemente de uma boa educação. Talvez você ache que
está captando mensagens cruzadas da parte dela a respeito do que está acontecendo, e
está também consciente de que tem fortes pressentimentos sobre a situação. As coisas
envolvidas são muito importantes para serem tratadas superficialmente ou para que uma
decisão súbita seja tomada, portanto a solução levará tempo. Comece pela decisão de abrir
mão dos seus medos sobre a situação. Isso provavelmente vai demandar firmes esforços
durante dias ou semanas.
Durante o período de meditação, visualize todos os seus medos sobre a situação indo
ambos a do seu campo de consciência. Perceba que o medo está interferindo com sua ca-
pacidade dever o problema com clareza. Preste atenção ao que você está pensando sobre a
situação. Está com medo de que sua filha esteja pondo em risco o futuro dela? Como ela se
sente com relação ao seu próprio futuro? Os interesses dela a estão levando numa direção
tal que a educação que ela realmente quer não está disponível em sua escola atual? Será
que talvez ela necessitasse deixar a escola por algum tempo? Você tem medo do que os
21 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
outros dirão se ela fizer algo incomum? Há um conflito de valores entre vocês? Tem medo
de que se você confrontar a situação ela o rejeitará, não o ouvirá, etc.? Tome consciência
de seus medos, encare‑os e saiba que você quer se livrar deles. Novamente, visualize o
medo indo embora do seu campo de consciência.

Concentre-se em Ouvir
Ao mesmo tempo, à medida que começa a sentir certa distância emocional do pro-
blema, concentre‑se em ouvir ao invés de interferir. Ouça o que sua filha está dizendo e
fazendo, ouça sua própria reação, ouça a silenciosa voz interior. Abra sua consciência para
a informação que você necessita. Vá em busca de conselhos se achar que isso é apropriado,
e depois faça uma cuidadosa avaliação. Permita que suas percepções mudem à medida que
você aprende a escutar sem medo. Acima de tudo, não force uma solução. O processo de
crescimento tem seu próprio ritmo e direção, tanto o seu quanto o do seu adolescente. A
solução mais saudável irá gradualmente emergir em sua consciência a medida que você
meditar sobre abrir mão do medo, e escutar o Eu Interior.
Você saberá que encontrou a solução mais saudável porque ela irá encher de amor seu
coração. Quando você é confrontado com mais do que uma possível solução para uma
dada situação, a solução correta irá entrar em ressonância com, aquilo que em seu cora-
ção você sabe que é o certo. Ela não será vingativa, punitiva ou coercitiva. Ela incluirá a
oportunidade, para você e seu adolescente, de explorarem alternativas e chegarem a uma
decisão juntos. É importante que escolhas genuínas sejam exploradas aberta e honesta-
mente. Isso vai levar tempo, dependendo da qualidade de comunicação que você já tenha
atingido com seu filho.
Quanto mais você puder ver a si mesmo e ao seu adolescente como personalidades-alma
individuais, cada qual em seu próprio caminho de vida rumo ao mesmo centro espiritual,
mais será capaz de aceitar os desafios da adolescência com a confiança de que vocês serão
capazes de criarem juntos um relacionamento harmonioso.

22 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Aprendizagem
Pré-Escolar

Nedra A. Niles
Escola St. Michael, Dallas, Texas

Ainda há equívoco sobre quando começa a aprendizagem; mas é


certo – embora a idéia possa ser devastadora – que as crianças estão
aprendendo o tempo todo. Nunca há um vazio.
Como professora de crianças, gostaria de sugerir que os passos
mais importantes do aprendizado da criança são dados antes dos seis
anos! Isso tem a ver com as atitudes e os relacionamentos básicos
do seu aprendizado, do seu viver com os outros e consigo mesma.
A importância do aprendizado pré-escolar no ambiente da escola
parece ter ganho ampla aceitação nos Estados Unidos, a julgar pelo
crescente número de escolas para crianças de três, quatro e cinco
anos.
Isso indica o reconhecimento da importância da aprendizagem
durante os primeiros anos. Assim sendo, é sempre um choque ouvir
dizer que o aprendizado da criança começa com a experiência mais
formal de ler do primeiro grau. Estou precipuamente preocupada
com as primeiras experiências da infância e com os efeitos dessas
experiências no aprendizado da criança dentro da escola.
Se o primeiro grau é a experiência escolar inicial da criança, essa
aprendizagem formal será acelerada se ela tiver um período de atenção
expandido e habilidade para ouvir; também se tiver discernimento
para notar diferenças e similaridades.
Ela precisa de coordenação muscular, tanto para manusear lápis
e tesouras quanto para correr e pular. Precisa ser capaz de lembrar
23 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
instruções e orientações simples em seqüência, números, palavras e rimas. Precisa ser capaz
de expressar suas idéias com vocabulário adequado e em frases combinadas.
Essas atitudes básicas, se iniciadas com sucesso logo nos primeiros anos, não só tornarão
o primeiro grau emocionante, mas abrirão caminho para uma vida mais produtiva e criativa.
O profissional do ensino reconheceu que os pais são os instrutores quando disse que era
mais proveitoso entrevistá-los no lugar dos futuros estudantes, porque esses importantes
sentimentos são ensinados em casa.
Entre essas atitudes estão os sentimentos do valor pessoal, do valor dos outros e o
respeito por eles, além de uma atitude geral de confiança e fé. A primeira atitude é o
sentimento do valor pessoal porque é aí que a criança começa. A princípio ela está preci-
puamente voltada para si mesma.

A Descoberta de Si Mesma
Essa descoberta de si mesma inclui liberdade de atividade, certas proteções, o estímulo à
autoconfiança, o desenvolvimento da independência e o tempo de ser curiosa e investigar.
No âmbito de certas limitações que a protegem fisicamente, a criança deve ter liberdade
de atividade e estar livre de medo.
As escolas para crianças pequenas proporcionam essa oportunidade, visto que o tama-
nho das salas, o equipamento e a orientação são projetados para dar liberdade de atividade.
Se a criança deve crescer em seu sentimento de valor pessoal, precisa ser elogiada por
suas consecuções.
Ela deve ser estimulada a ser independente tão logo dê provas de que é capaz de as-
sumir a responsabilidade que acompanha essa ação independente. Sua vida não deve ser
tão cheia de atividades planejadas que ela não tenha tempo para inquirir, para manifestar
curiosidade ou para sonhar.
De sentimentos sobre si mesma para sentimentos a respeito dos outros é um passo
quase imperceptível. A criança tem reações emocionais construtivas e negativas e cresce
quando aprende a aceitar ambas essas reações e dirigi-las para canais criativos e aceitáveis.
A criança contrariada que bate num coleguinha que tomou o seu brinquedo fica ainda
mais contrariada quando é punida por um adulto por ter batido nesse coleguinha. O pai
ou o professor deve compreender esse sentimento natural, expressar essa compreensão
indulgentemente e sugerir um modo mais aceitável de resolver o conflito.
Com muita freqüência, quando pensamos que estamos ensinando a controlar emoções
estamos apenas ensinando a criança a esconder seus sentimentos. No jardim da infância
falamos muito em partilhar com os outros e esperar sua vez. Isto tem a ver, não somente
com balanços, quebra-cabeças e livros, mas também com tempo – dar a alguém a vez de
falar e prestar atenção a ele. Nessas situações é aprendido o respeito ao valor dos outros.
Do ego e de outras pessoas é apenas um pequeno passo inter-relacionado para reali-
zações mais amplas. Nisso, mais freqüentemente, o adulto é que aprende com a criança.
As crianças estão fisicamente mais próximas da beleza e da maravilha da Terra. São mais
sensíveis à adoração, podem se dar com mais facilidade e menos reservas aos mistérios da
fé do que a maioria dos adultos. Nessa área, como nas outras que foram mencionadas, os

24 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


professores e os pais têm de prover a oportunidade, o ambiente e o clima. E isso, creio eu,
pode ser mais bem proporcionado pelos pais de quatro modos:
Tire um tempo para escutar seu filho; você estará aprendendo, tanto quanto ensinando.
Depois da escola, espere até que ele esteja disposto a contar como foi o seu dia. Isto será
mais compensador do que ir ao seu encontro com “Então, que foi que você aprendeu hoje”?
Como adulto, você tem uma variedade de interesses e atividades, mas estar em casa
pelo menos a maior parte do tempo quando seu filho também está é melhor do que deixar
que alguma outra pessoa esteja em seu lugar.
Certo sistema de comportamento que inclua alguns padrões positivos e algumas proi-
bições é necessário; mas, fora disso, dê oportunidade a seu filho de tomar suas próprias
decisões como ele puder. Se você der orientação o tempo todo, vai acabar sendo preterido.
Quando seu filho tiver três anos, deixe ele ser uma criança de três anos; quando tiver
cinco, deixe ele ser uma criança de cinco. Desafie-o a dar o próximo passo de crescimento,
mas não esteja tão preocupado com esse desafio e com o próximo passo que não o aprecie
no ponto em que ele está agora.

25 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Como Ensinar Princípios
Místicos a Crianças
Robert E. Daniels, FRC
Ex-Grande Mestre da Jurisdição de
Língua Inglesa para as Américas

Pais Rosacruzes muitas vezes expressam o desejo de que a Ordem


fizesse mais pelas menininhas, jovens demais para serem Columbas,
ou, no caso dos meninos, que ela tivesse rituais que lhes permitissem
freqüentar Convocações com seus pais. Embora isto talvez não seja
por enquanto possível, há muito que todos os pais de temperamento
místico podem fazer para incutir o modo místico de viver na mente
de seus filhos, de maneira que eles cresçam conhecendo e utilizando
princípios cósmicos.
No passado, quando ensinamentos esotéricos foram proibidos
os pais transmitiram aos filhos os princípios desses ensinamentos
mediante exemplos simples e cotidianos que eram rapidamente assi-
milados. Não se reuniam, nem dispunham de monografias expondo
os ensinamentos, como hoje as conhecemos. Hoje, que temos tanto
conhecimento facilmente à nossa disposição, cabe‑nos a responsabi-
lidade de fazer o mesmo pelos nossos filhos. Os princípios do Carma,
a lei de Causa e Efeito; o conceito de reencarnação; e a prática da
meditação, podem ser colocados em idéias fáceis de entender e que
sejam atraentes para a mente infantil. Tenho ouvido pais afirmarem
que seus filhos nada sabem sobre princípios místicos, e que pretendem
explicar esses princípios aos filhos quando estes começarem a fazer
perguntas. Então, talvez seja tarde demais.
As crianças vivem mais intimamente em contato com o plano
psíquico do que muitas vezes nos damos conta. Uma criancinha, dei-
26 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
tada em sua cama à noite, pode ver belos lampejos de luzes coloridas no quarto, e pode ser
estimulada a continuar a vê‑los pela benévola e amorosa compreensão de seus pais. Estes,
podem explicar à criancinha que aquelas luzes coloridas são raios protetores que a circun-
dam, ou que são bondosas vibrações emitidas pela mente de amorosos amigos e parentes.

Explicação da Aura
Também é possível falar sobre a aura e explicá‑la, com a mesma facilidade, diariamente,
dizendo às crianças que, em seu interior, há uma brilhante estrela, chamada “alma”. Essa
alma fica mais brilhante a cada bom pensamento que temos, e a cada boa ação que pratica-
mos durante o dia. Quando ficamos zangados, ou quando fazemos algo que não está certo,
aquela estrela fica mais fraca, e, se continuamos a agir mal, ela se torna muito pequena e
não pode ser vista pelos outros. Quando permitimos que ela cresça e brilhe intensamente,
ela é vista por todo mundo, que sente que temos uma personalidade maravilhosa, feliz, e
para nós atrai bons amigos e bons acontecimentos. Essa estrela pode ser chamada de “estrela
mágica” das crianças. Elas ficam simplesmente fascinadas com a idéia de que possuem uma
estrela secreta ou mágica, que as torna especiais e algo diferentes de outras crianças que
elas conheçam e que nada saibam sobre essa “estrela mágica”.
O princípio da reencarnação também pode ser explicado de maneira muito simples,
quando relacionado com acontecimentos comuns da nossa vida diária. Minha filha, por
exemplo, há muito procurava entender as complexidades desse intricado conceito. Por que
não voltamos no mesmo corpo, com o mesmo nome e para a mesma casa?
Agora, ela tem um novo cãozinho, extremamente travesso, sempre mordendo tudo
em que pode pôr os dentes e fuçando o chão à procura de coisas para mastigar. De muitos
modos, ele se comporta como um cão que eu tive quando criança. Um dia, minha filha
estava me perguntando como era aquele meu cão e, constatando espantosas semelhanças
entre ele e o novo cãozinho, ocorreu‑me aproveitar o incidente como um meio de explicar
a reencarnação à minha filha, de modo mais concreto. Disse‑lhe então que, embora meu
cão tivesse um nome diferente, e tivesse aparência muito diferente, comportava‑se exata-
mente como o seu cãozinho, e que isto era o que acontecia quando as pessoas morriam e,
depois, voltavam para a Terra, numa nova encarnação. Seu corpo morria, mas a verdadeira
personalidade interior – que as tomava especiais, que as fazia comportarem‑se de seu jeito
peculiar – nunca morre, mas, volta para um outro corpo, mais tarde. Agora, minha filha
diz a todo mundo, feliz da vida, que seu cãozinho é a reencarnação daquele meu cachorro!
É inútil tentar explicar conceitos místicos em termos difíceis, pois, as crianças não os
compreenderiam e fugiriam assustadas. A verdade é simples, e deve ser apresentada com
simplicidade, para que possa ser compreendida e aceita pela ávida mente infantil. Por que
esperar até que a criança tenha “idade suficiente” para compreender princípios místicos,
para a eles a expor? Então, talvez seja tarde demais, porque ela poderá rejeitá‑los em favor
de outros princípios que tenha assimilado de amigos, ou de livros que tenha lido na escola.
Outro importante princípio que os pais deveriam ensinar a seus filhos é o da medi-
tação. Chamo‑o de “procurar a luz dentro da gente”, e é espantoso como as crianças
aderem rapidamente a esse novo jogo de procurar essa luz e sentir o seu calor. Passo então
a explicar que Deus é essa luz dentro da gente. Além disso, quando uma criança cai e se
27 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
machuca, é tão fácil dizer‑lhe que feche os olhinhos, veja a luz interior e a envie para a
parte do corpo que esteja doendo, ao mesmo tempo dizendo: “Obrigado, Deus, por ter
feito eu me sentir melhor”.
O modo místico de viver é exatamente isto – um modo de viver – e não uma coleção
de doutrinas filosóficas que são apenas lidas e depois arquivadas para futuras consultas.
Vivendo diariamente os princípios místicos, e ensinando nossos filhos a viver segundo os
mesmos princípios, asseguraremos uma geração mais esclarecida, de pessoas voltadas para
a espiritualidade. A percepção cósmica está se intensificando, e é de se esperar que não
mais seja inibida. Sejamos gratos a isto, assegurando que nossos filhos seguirão os nossos
passos, assim como os filhos de outros místicos e filósofos do passado. Não permitamos que
eles considerem o misticismo uma espécie de crença oculta que seus pais abraçavam, de
que eles próprios nunca participaram, e de que nunca lhes foi dita muita coisa. Agora que
a sabedoria arcana é facilmente acessível a todos, não a ocultemos à nossa própria família.
Antes, usemos esses ensinamentos, sabiamente, para guiar nossos filhos na mística senda.

28 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Conversando com
o Mestre Interior
do Seu Filho

Ana Rímoli de Faria Doria, SRC


Educadora e Ex-Chefe do setor de Columbas da AMORC-GLP

O eu interior opera modificações maravilhosas no compor-ta-


mento da criança.
Em seu processo evolutivo, o ser humano passa por incontáveis
experiências no plano terreno, onde aprende, buscando a perfeição,
através de diferentes situações, em diferentes lugares, ambientes e
grupos familiares. É óbvia, por isso, a relevante contribuição dos pais,
já que são os encarregados, transitória e cosmicamente, da tarefa su-
blime, embora, por vezes, árdua, de formar a personalidade dos filhos.
E o que, de certa forma, é um privilégio, passa a ser também uma
esplêndida oportunidade de troca de experiências pela vida afora,
um mútuo enriquecimento espiritual, um dando, outro recebendo.
No decorrer dos anos que se sucedem, os pais têm a incumbência
de criar ou proporcionar situações apropriadas para os filhos, de modo
que estes possam exteriorizar suas características interiores, refletidas
pela Alma perfeita que, por sua vez, procura expressar a personalidade.
Sendo a Alma uma parcela Divina e de origem Cósmica, ou, em
outras palavras, a extensão de Deus no homem, lógica e evidente-
mente, é também Divina, em qualquer pessoa, no mesmo grau, seja
ela tida por nós como uma santa, ou criminosa, apesar das diferenças
espirituais existentes entre os homens; uns, com maior consciência
espiritual, outros, moralmente superiores. Esta diferenciação, porém,
não reside no interior, na essência da Alma, mas no exterior, na sua
expressão. Resulta que a qualidade Divina da Alma é mais manifesta
29 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
em umas pessoas do que em outras, e essa radiação ou esse reflexo das características Divinas
é que se chama personalidade e que nada mais é do que a característica objetiva da vibração
interior da Alma. Por estarem intimamente relacionadas essas duas condições “alma” e
“personalidade” é que a metafísica Rosacruz adota a sugestiva e significativa expressão:
personalidade‑alma. Essa personalidade, ou Eu Interior, ou expressão da Alma no interior
do ser humano, tem necessidade de evoluir, de se desenvolver, o que não acontece com
a Alma. Jamais poderemos fazer nossa Alma regredir, mas podemos desenvolver o reflexo
da Alma, a personalidade, o Eu Interior.
A essência anímica ou Alma nunca se separa da Alma Cósmica ou Universal porque
não é um segmento anexado ao homem ou um tipo de substância, mas uma efusão Cósmica,
um fluxo que atravessa o homem; tanto assim que, ao ocorrer a transição, quando o veículo
ou receptáculo da Alma se torna imprestável, destruído, o fluxo continua, exatamente
como a corrente elétrica que se pode manifestar em outra lâmpada, quando uma se queima.
No desempenho de sua ingente tarefa, os pais devem tornar‑se o modelo, o exemplo
permanentemente vivo do que desejam que o filho seja, embora não devam esperar que ele
atinja o nível de realização do adulto. Em seu primeiro aprendizado pela impossibilidade
de usar o raciocínio e outras faculdades latentes, cujo funcionamento ocorrerá mais tarde,
a criança imita o que vê, percebe e ouve. Esse vivenciar, em termos de que e quanto quase
sempre passa despercebido aos pais; entretanto, a irreversibilidade do tempo e a repercussão
futura das condições desfavoráveis no lar, decididamente, levarão a conseqüências desas-
trosas não só para a criança, como para os que com ela vierem a conviver e, até mesmo,
para a comunidade, como é o caso dos delinqüentes infantis que, segundo estatísticas,
procedem, em grande parte, de lares desfeitos e ausência de cuidados assistenciais, pois
uma criança desorientada pode ser inocente e cegamente levada a experiências prejudiciais
ao seu progresso, à sua evolução.
No contato diário e constante com o filho, os pais devem promover, desde cedo, a fa-
miliarização da criança com seu Mestre Interior. Para isso, devem começar explicando‑lhe
que dentro de seu corpo está o eu real, que chama de Mestre Interior e que, aos poucos,
gradativamente, vai se exteriorizar. As crianças, geralmente, ficam fascinadas pela idéia
de que tem dentro de si um Mestre (Interior) que possui as qualidades que elas atribuem
ao ideal que buscam, sentindo‑se assim, mais seguras e independentes. Um menino, por
exemplo, imagina que o Mestre Interior seja um personagem, valente, forte e bonito.
Por certo muitos dos que nos lêem estarão indagando silenciosamente: “Como falar ao
Mestre Interior de uma criança, sem qualquer outra interferência?”
Responderemos que o processo é simples e consiste em conversar com a criança quando
ela estiver dormindo. Na verdade, nesse instante, apenas o eu exterior dorme; é o único
momento em que o Eu Interior ou o Mestre Interior exerce, durante algum tempo ou
horas, completo controle sobre o corpo. Deve o Eu Interior ficar muito feliz por estar o Eu
exterior tão cansado que deseja deitar e dormir, deixando desta forma, campo livre para
ele (o Eu Interior) poder agir, não interferindo, assim, no trabalho construtivo que esse
Mestre Interior deseja realizar em todo o corpo da criança.
O Mestre Interior jamais se cansa; por isso, não precisa dormir; é imaterial, imortal e
opera incessantemente; dirige as batidas do coração, o movimento dos pulmões, do fígado,
dos rins, intestinos e de todos os órgãos. Já imaginaram se o Eu Interior dissesse que está
30 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
cansado e por isso vai interromper o controle das batidas cardíacas, para poder repousar
um pouco?
Com o eu exterior, acontece o contrário; quando se cansa, precisa repousar e uma das
primeiras coisas que ele torna inativa é o fatigado cérebro mortal. Quando este adormece,
perde todo o controle do eu exterior e deixa de interferir na ação do Eu Interior, como
dissemos. Então, o Mestre Interior, que durante o sono da criança fica silencioso mas
desperto, passa a exercer mais controle do corpo adormecido do que fazia antes.
Pois bem; é nesse momento, ou seja, quando a criança está dormindo, que a mãe (ou
o pai) deve conversar docemente com ela. Estará falando ao Mestre Interior do filho, que
ouve e compreende tudo o que é dito, mantendo vividas as impressões ou informações
recebidas; e, por concordar, sempre, com o que é bom, passa a aplicar todas as sugestões
boas e construtivas.
Por este processo podem ser erradicados os chamados “maus hábitos”, como roer
unhas, enurese, mentir, furtar ou usar linguagem de baixo calão. E como conseqüência,
o Eu Interior opera modificações maravilhosas no comportamento da criança quando
está acordada, pois tudo o que lhe é dito quando adormecida fica registrado no armazém
permanente da memória e jamais é esquecido, o que não aconteceria se fosse falado ao
eu exterior da criança. Poderia causar alguma impressão momentânea, porém, logo as
palavras seriam esquecidas.
A conversa com o Mestre Interior não deve se prolongar além de dois ou três minutos
e, se a criança, por acaso, mencionar algo da conversa ouvida (pela interferência de seu
eu exterior), não é recomendável a mãe (ou o pai) repetir o que foi falado, mas apenas
confirmar que falou com ela, na noite anterior.
Sentando ao lado da caminha da criança, sem acender a luz ou fazer qualquer barulho,
chama‑a pelo nome duas ou três vezes, com voz suave e baixa. Então, diz‑lhe: “É mamãe
que está aqui” (ou papai) e começa a falar sobre o assunto que imaginou, o que e como a
criança deve fazer no dia seguinte, empregando, sempre, conceitos construtivos e nada
dizendo que seja desagradável, ruim ou perigoso. Por isso, é conveniente que a mãe prepare
previamente, uma relação das coisas que deseja instilar na mente do filho, uma de cada
vez, e sempre com afirmações positivas. Por exemplo, se a criança quebrou um copo ou
um brinquedo e atribuiu esse ato a um irmão, ou outra pessoa, a mãe, que sabe que foi o
filho o responsável, nunca dirá à criança: “Você não deve quebrar as coisas” ou “não diga
mentiras”, mas dizer: “As coisas podem se quebrar, meu filho, basta a gente tomar cuidado
com elas para que fiquem sempre em bom estado”, “pode contar a verdade para mamãe
pois ela compreenderá que isso pode acontecer”, e assim por diante.
Quando este processo se divulgar e se tornar bastante conhecido e amplamente
praticado, o de conversar com o Mestre Interior do filho, estamos certos de que será um
excelente auxiliar dos pais na tarefa educativa que têm de desempenhar, ao preparar a
personalidade‑alma que lhes foi confiada pelo Cósmico, sob a forma de um pequenino Ser.

31 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Crianças Problemáticas

B. L. Burditt, M.D., F.R.C.

A criança que tem apresentado problemas pode se tornar um


indivíduo marcado. Infelizmente, com freqüência, o culpado é o
adulto. A atitude materialista da média das pessoas – seja a pessoa
comum, um cientista, ou um professor – mais cedo ou mais tarde cai
num padrão fixo. Esses padrões de pensamento devem-se ao estado
não evoluído da mente adulta.
Automaticamente, a criança é rotulada – a princípio mental-
mente ou no campo do pensamento. O pensamento é causa de ação.
Depois que o adulto chega a uma conclusão no plano mental ou de
pensamento, suas ações passam a seguir um padrão. Esse adulto não
pesou cada caso – como deve fazer quem examina as coisas – evitando
chegar a alguma conclusão sem primeiro pensar por si mesmo. Ele
aceitou o que “disseram”.
A criança é cada vez mais empurrada para baixo, como um prego
num pedaço de madeira, pelas atitudes deformadas do adulto. Tende
a perder sua criatividade, quando sente que nada está melhorando,
que não pode melhorar coisa alguma, que sua vida diária é controlada
por pressões e que as ações de todo mundo apenas fazem eco à sua
própria ansiedade e ao seu próprio desespero. Nenhum jovem nessa
situação pode deixar de protestar. O estado deformado da mente
adulta causou o seu dilema; sua frustração e sua ansiedade já o pres-
sionaram demais; e a reação natural a tais atitudes é a retaliação. Com
freqüência os adultos também empunham a espada da retaliação;
32 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
mas eles são apenas deformações que se desenvolveram fisicamente, não emocionalmente.
Atitudes e ações dos adultos – tais como se refletem em suas auras, seus padrões de
pensamento, suas intolerâncias – são responsáveis por uma porcentagem muito alta de
nossa delinqüência juvenil. Isso é um efeito da mentalidade materialista de hoje, que não
evoluiu consideravelmente nos últimos oito mil anos, conforme a História. Os imutáveis
valores do espírito, o empenho pela verdade e pela tolerância, a prática do amor – que
deveriam ter preenchido as grandes páginas da História – não parecem relevantes numa
época impregnada de ciência, abandonada pela religião e até destituída de ideais humanís-
ticos. Parece que chegamos ao ápice da irresponsabilidade, enquanto a criança permanece
indefesa, pois não sabe que forças, que condições está enfrentando e em que direção está
sendo impelida.
Mas uma coisa ela tem a seu favor. A História nos mostra que todos aqueles que es-
colhem governar pela força, sem raciocinar, acabam se arruinando. Os faraós, os césares
e os hítleres tentaram usar de força e fracassaram. Não obstante, a intolerância é tão
predominante que o típico jovem com problemas vai ser continuamente reprimido na luta
contra a suspeita quanto a suas ações. A criança não sabe que não é o que um homem diz
o que conta, nem o que fere, e sim o que ele pensa é que cria a condição desfavorável para
aquele que é rotulado de delinqüente. Se os homens deixassem de agir como lobos uns para
com os outros e se os seres humanos afinal aprendessem o que chamam impropriamente
de humanidade, então os infelizes que deram um passo errado – as mais das vezes por
ignorância – seriam ajudados e lhes seria indicado o caminho certo para a liberdade e o
ajuste à normalidade.
O pai, o médico, o advogado, a pessoa comum, o chefe, os professores, são culpados
de 90 a 95 por cento da delinqüência infantil e juvenil, não por perversidade, mas por
causa de seu estado de ser não evoluído, de sua gritante ignorância. Coloque-se um desses
indivíduos intolerantes, não evoluídos, numa posição de poder – como diretor de uma
escola, ou supervisor – e deixe-se que uma criança seja marcada por um deles; essa criança
estará numa rota de crise até que seja afastada de sua influência, ou que o culpado venha a
falecer ou seja destituído do cargo, porque o fato de ele continuar será a ruína da criança.
Mais uma vez, não se trata de perversidade e sim de ignorância e falta de compaixão,
de conhecimento e da sabedoria de como ajudar. A pessoa comum que não sabe lidar com
esse problema, “livra sua cara” rotulando a criança de delinqüente e não pensando mais no
assunto. Fazer qualquer outra coisa exigiria tempo, estudo, energia, despesa e – o que é
pior e mais doloroso – o tormento e a luta mental de ter de pensar.
Temos de seguir outro caminho ao lidarmos com as relações humanas. A moderna psi-
quiatria nos diz que é inútil ficarmos furiosos com as pessoas que se comportam de maneira
estúpida e maldosa. Em lugar de perdermos a cabeça, devemos estudar os motivos desse
comportamento. Estamos falando de indignação contra a iniqüidade, e isso é melhor do
que indiferença à iniqüidade. Se não gostamos da situação, devemos fazer alguma coisa
para mudá-la.
A maioria desses problemas seria resolvida se os jovens fossem tratados com delicadeza e
compaixão. Se discordamos do nosso oponente – no caso a criança – isto não é justificativa
para o destruirmos. Se ele é cego, devemos ajudá-lo a ver; se é aleijado, devemos ajudá-lo
a se locomover; se é doente, devemos fazer um esforço para ele se curar. O senso de jus-
33 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
tiça deve ser despertado nele; isto é, é preciso mostrar-lhe que nós, adultos, somos justos.
Então, o que é bom nele se juntará ao que é bom em nós. O primeiro passo que devemos
dar consiste em encararmos as crianças como jovens adultos que esperamos ajudar a se
tornarem pessoas como nós mesmos temos esperança de ser – ansiosas por levar uma vida
tranqüila e respeitável. Sua energia e seu pensamento têm de ser devidamente orientados.
Perceberemos então que o sucesso da criança na vida há de ser a medida do nosso
sucesso. Se fôssemos isentos de culpa poderíamos julgar os outros, mas nós, adultos, não
somos assim. Apenas nos satisfazemos em dispensar conselhos e nos entregarmos a farisaicas
advertências. Se queremos corrigir a situação, pela qual nós mesmos somos responsáveis,
a chama da reforma social deve arder em nosso coração, levando a luz de uma nova vida,
feliz e sem frustrações, à mente e ao coração dessas crianças.
Não devemos apresentar o tempo todo à criança os seus defeitos, porque isto não pode
ajudá-la; só pode deprimi-la e frustrá-la. Devemos mostrar-lhe o seu próprio lado mais
elevado e mais nobre. Qualquer outra atitude leva ao desespero e à arma da retaliação
contra um inimigo que ela não pode ver.
O jovem delinqüente é assim porque está fazendo retaliações contra seus rivais, mas
estes foram os primeiros a serem delinqüentes, ou a criança não teria adquirido esse rótulo.
Em outras palavras, a ignorância dos adultos causa a maioria dos casos de delinqüência.
Ninguém, nem mesmo uma criança de seis anos, respeita a ignorância; e, ao senti-la,
reage contra ela. Para extinguirmos a delinqüência precisamos erradicar as condições que
a provocaram. Se os adultos tivessem verdadeiro amor à humanidade em seu coração, o
desejo de ajudar os outros a ajudarem a si mesmos, não haveria crianças problemáticas.
A resposta final, ao que parece em nosso atual estado de evolução da consciência
coletiva da humanidade, pode ser resumida da seguinte maneira:
Devemos disciplinar nossas crianças. Disciplina, se remontamos à sua raiz etimológica,
vem do vocábulo discípulo, que significa “aquele que é ensinado”. Precisamos disciplinar
nossos jovens. Primeiro, como os adultos ensinam ou disciplinam a si mesmos? Se puder-
mos encontrar a resposta correta para esta pergunta, vamos então saber por nossa própria
experiência como disciplinar nossos filhos ou os filhos de outras pessoas sobre os quais
tenhamos autoridade.
Em última análise, a resposta é portanto simples: disciplinamos guiando; isto é, vivendo
aquilo que ensinamos. Vivendo nosso ensinamento disciplinar, estabelecemos um ideal
na consciência da criança.

34 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Decálogo para o
Jovem do Século XX

Maria Moura, SRC


Ex-Grande Mestre da Jurisdiçãode Língua Portuguesa

Observa‑se entre os jovens de hoje, uma grande ansiedade que


faz palpitar seus corações e estimular sua mente, na busca do conhe-
cimento de si próprio, de seus destinos mais altos, de algo, enfim, que
os leve (ou lhes traga) a uma vida melhor.
Despertados para a milenar e filosófica expressão “Conhece‑te
a ti mesmo”, os jovens modernos, mais do que quaisquer outros,
atiram‑se, a um só tempo, a todas as formas de expressão e à busca
de conhecimento de seu eu. Como todavia, o grau de maturidade
do adolescente nem sempre lhe permite encontrar o que e o como
de sua busca inconsciente, e por não achar a resposta adequada para
as dúvidas que assaltam seu espírito, debate-se ele entre as poucas
alegrias que a vida lhe proporciona, e as tristezas de sua pressuposta
ignorância das coisas e dos fatos transcendentais…
Quantos de nós, adultos, com vivências mais amplas e mais
profundas, podemos afirmar que encontramos a resposta para a
manifestação do filósofo, ao preconizar o “Conhece‑te a ti mesmo”?!
Certamente essa será conquista de algumas, de várias encarnações…
Mas nem por isso, devemos cruzar os braços; pelo contrário, é preciso
“trabalhar” e muito, nesse sentido.
Esse trabalho é de larga abrangência por implicar influências di-
versas como, entre outras, as da própria natureza de cada um, do meio
ou ambiente em que se vive, daqueles que convivem conosco, e do
exercício ou cultivo mental realizado através de estudos, leituras, etc.
35 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
Em que pese a vontade crescente que os jovens manifestam, de se autogovernarem, de
viverem sua própria vida, de descobrirem por si sós e viver mais intensamente os fatos da
vida do ser humano, identificando‑se mais e mais com ela, parece conveniente lembrar
que não pode ser dispensada a orientação sadia, construtiva, inteligente e subsidiária dos
mais velhos, no preparo, na formação do jovem, ao ingressar no mundo.
E neste ano dedicado à JUVENT’UDE, detenhamo‑nos, em nossa faina diária e ro-
tineira, para refletir um pouco mais sobre o que nós, adultos, podemos fazer em prol da
juventude, e o jovem, em seu próprio favor. Grande parte dessa tarefa ingente (senão toda
ela) compete à EDUCAÇÃO. Já disse alguém que a juventude e a educação estão tão
intimamente associadas como a fragrância e a flor.
À guisa de exortação para os jovens que ardentemente anseiam “progredir espiritual-
mente”, alinhavamos alguns pensamentos distribuídos em um decálogo e que ajudarão a
gregos e troianos, numa homenagem aos jovens, no ano de 1985, internacionalmente
consagrado à juventude.

1. Jovem ser humano: lembre‑se de que você é o elo de uma infinita cadeia que jamais
poderá interromper‑se: você vem de seus antepassados e volverá a ser um deles por sua
descendência, na prole incontável do futuro. Procure por isso, compreender os que o
precederam, e agradeça àqueles que, antes de você, foram assim para que você pudesse
ser o que é hoje, existir. Sem sentir, você será um tranqüilo e transitório instrumento
desse passado. Lembre‑se de que a marca que o berço trás só é indelével, indestrutível,
para aqueles que são enfermos da vontade e da razão.

2. Procure sempre ser um digno exemplo, seguindo, tanto nos grandes quanto nos humildes
misteres, os padrões superiores que verá na família, na escola e na comunidade.

3. Lembre‑se de que a nobreza não reside apenas na riqueza e nas altas linhagens; ela pode
existir – e existe! – entre os humildes, pois está na alegria de viver, na serenidade de
consciência, na suave abnegação e no respeito ao semelhante.

4. Empregue sempre a palavra verdadeira que pode ser, a um só tempo, amparo para os
oprimidos e lição para os poderosos. Ore pelos que sofrem, pois a oração “é a fortaleza
do homem e a fraqueza de Deus”.

5. Dirija, cuidadosamente, sua atenção e a brandura de seu coração para todo o lugar, para
todos os que o procuram.

6. Busque sempre, investindo para um ideal. Certamente, como a floresta que não é convi-
dativa por sua pujança mas pela sombra que oferece, o ideal dará o colorido e perfumará
sua vida. Sem medo; se o tiver, perca‑o, para encontrar a alegria de achar.

7. Pense que viver é um benefício que se retribui; a retribuição é uma forma de trabalho; e
este acompanha os resíduos da trepidação universal, ungindo de todas as graças aquele
que o exerce. Não existe tarefa mesquinha, ainda que possa ser apagada; se a alma dela
36 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
participa, o labor resulta em opulência.

8. Há mãos que pensam e cérebros que movem. Procure ser útil pela exatidão que marca a
disciplina, a ordem, a eficiência, o desinteresse e a perseverança. O homem útil desco-
nhece o peso da existência e o pavor da hora derradeira. Como peregrino da perfeição,
procure confiar em si mesmo, na exatidão dos seus propósitos, na simplicidade de seus
desejos e de suas ações, na disciplina de seus instintos.

9. Cabe lhe, ó jovem do final do século XX, preparar um mundo melhor para os que virão;
faça tudo o que puder para que sua influência tutelar não venha, jamais, a ser lamentada.

10. Observe a mãe natureza: dia e noite, sol e treva, nuvens negras e céu azul, luminosidade
e brumas, primaveras e invernias, aragens e tempestades, quebram a monotonia do espaço
e ensinam a delícia das recompensas e até mesmo, dão‑nos o senso de real felicidade.

É assim, a vida do homem, que segue os quadros da mãe natureza: ri, na infância, como
uma madrugada primaveril; chameja na adolescência como um raio, um meio‑dia de verão
e confia na maturidade como uma tarde de outono…
E você terá um destino abençoado e fértil, alvorecendo, refulgindo, consolando, e na
utilidade de sua vida você encontrará a verdadeira alegria, a suprema felicidade.

37 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Responsabilidade
Um caminho para um mundo de paz

Patrícia e Sherman Reinius

Quantas vezes temos ouvido o clamor: “Nada posso fazer com


meus filhos”? Quantas vezes já dissemos isto a nós mesmos? O clamor,
no entanto continua, “…eles são desonestos, bebem, e estão viciados
em drogas. Não podemos nos entender com eles. Fomos bons pais,
e tudo fizemos por eles.”
Desde que eles não se adaptam às nossas maneiras, pômo‑los
para fora; podem ir embora. Erguemos os braços em total desespero,
e deixamos que eles tratem de sua vida ou que o Estado deles tome
conta. O raciocínio que fazemos é que se não os pusermos fora de
casa eles afetarão o resto da família. Não somos fracassos como pais;
os filhos simplesmente se revelaram maus. Pensamos que já é tarde
demais e que muito tempo seria necessário para ministrar compreen-
são, disciplina e amor.
Somos realmente responsáveis pelos nossos filhos? Como pais,
somos responsáveis pela alimentação, vestuário, e educação. Toda-
via, até que ponto vai a nossa responsabilidade? Se permitirmos que
uma criança coma mais do que deve e ela engorda, fugimos à nossa
responsabilidade de a mantermos sadia? É nossa responsabilidade ve-
rificar se nossos filhos estão fazendo os deveres escolares, ou devemos
deixar que eles mesmos decidam a respeito? Se nossos filhos violarem
as normas do lar ou do Estado, a quem cabe a res-ponsabilidade de
corrigir essa conduta? É responsabilidade do Estado corrigir a conduta
moral e ética de uma criança? Quando um filho atinge a idade de
38 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
dezoito anos, deixa ele de ser responsabilidade nossa? Torna‑se responsabilidade do Estado?
Por que, em primeiro lugar, a criança veio a fazer parte de nossa vida? Não foi para
que pudéssemos ajudá‑la a se tornar uma pessoa melhor? Não é de nossa obrigação tudo
fazer para incutir em nossos filhos a atitude conveniente de colaborar reciprocamente para
solucionar problemas e corrigir situações?
Tão logo nosso filho atinja a idade de dezoito anos, devemos nos sentir ainda responsá-
veis quando sua conduta se torna perigosa para a sociedade e para si mesmo? Ou devemos
expulsá-lo de casa por que ele não se adapta ao nosso padrão de conduta? Podemos dizer
que fizemos o que podíamos; que ele nasceu como é, e assim por diante, mas devemos
continuar a tentar a correção da conduta desagradável que passou a se manifestar. Somos
responsáveis por nossos filhos até eles atingirem a maioridade. Nenhum número de anos
pode ser estabelecido para a maioridade. Se nosso filho tiver dezoito anos e sua conduta for
perigosa, ele não atingiu ainda a maioridade. O mesmo se aplica se ele tiver vinte e quatro
anos. Todo pai que solta um filho perigoso na sociedade e o expulsa do lar está contribuin-
do, desse modo, para tornar a sociedade muito mais perigosa para que nela se possa viver.
É culpa dos pais que o filho não seja um membro útil da sociedade aos dezoito anos
de idade? Algumas pessoas dizem sim, outras dizem não. Poucos pais de hoje realmente
utilizam os anos entre o nascimento e a maioridade do filho para ensinar‑lhe moral, ética,
amor, compaixão, dignidade, contentamento pelo uso do corpo e da mente, e conduta
correta no lar e na sociedade. Podem os pais de uma criança que foi expulsa de casa e
lançada aos cuidados do Estado honestamente dizer que ensinaram todas essas coisas ao
seu filho que, mesmo assim, se tornou mau?
Vezes sem conta encontramos pais que têm medo que seus filhos não venham a amá-
‑los se implantarem a disciplina. Resultado, prevalece o abuso de liberdade. É isto amor
pelo filho? É o amor que faz com que uma pessoa fique de parte e observe uma outra fazer
grandes males a si mesma em vez de expor os inconvenientes dessa insensatez? Este tipo de
omissão é induzido mais pelo medo de críticas ou daquilo que os outros pensarão a nosso
respeito, do que por discriminação e amor pelos nossos semelhantes.

Somente os pais podem mudar a implacável maneira de viver que está se insinuando
Medo
lentamente para destruir a unidade familiar, o orgulho pelo país, e o lar. Olhemos atenta-
mente em torno de nós e julguemos honestamente a nossa responsabilidade; não é tarde
demais. Conquistemos nossos filhos, amemo‑los, disciplinemo‑los, tornemo-los fortes e
úteis, transmitamo‑lhes dignidade, concedamo‑lhes liberdade quando adultos.
O medo da responsabilidade parece existir em todos os setores da vida hoje em dia,
não apenas na educação das crianças. O medo da responsabilidade nas relações amigáveis,
regionais e individuais, é excessivo atualmente. Por que? Estamos tão temerosos daquilo
que os outros possam pensar a nosso respeito que não podemos nos levantar e dizer que
algo está errado? Amamos nossos filhos, nossa família, nossos amigos, nossa nação, mas
amamo‑los suficientemente para levantar‑nos e auxiliá‑los? Se for extremamente difícil
dizermos que algo está errado por temermos críticas ou não desejarmos interferir, estare-
mos prejudicando outros pela recusa de nosso auxílio. Inúmeras pessoas têm medo de ser
39 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
diferentes, e não indicarão um caminho melhor. Assumamos nossas responsabilidades em
todas as situações da vida
Levantemo‑nos e sejamos julgados. Não nos preocupemos por sermos diferentes. Não
nos preocupemos com o que outros poderão dizer. Se nos levantarmos, logo outros se
levantarão, e a seguir veremos um grupo de pessoas de pé, ao nosso lado.
Hoje em dia, há mais evasivas ao se debater a questão da responsabilidade do que em
qualquer outra época. Entre as evasivas ou desculpas, está o carma. Ouvimos dizer que não
devemos interferir com o carma de uma outra pessoa pois se o fizermos, seremos respon-
sáveis pelas conseqüências. Também é comum ouvirmos que todos agem sob sua própria
responsabilidade; não podemos ajudar ninguém; cada qual deve encontrar seu próprio
caminho. É esta realmente a maneira de operar dos princípios cósmicos? Naturalmente, não.
Mesmo os pais que são estudantes de misticismo têm problemas com seus filhos. Inúme-
ras pessoas recuam, e dizem que tudo isto é devido à evolução da criança ou põem a culpa
no carma das crianças ou dos pais. Todavia, uma criança suficientemente evoluída para
nascer em uma família com pais que apreciam as coisas mais sublimes da vida e que por
elas estão lutando, tem suficiente evolução para se tornar um membro útil da sociedade,
se criada com amor e compaixão e instruída quanto à moral, ética, e responsabilidade.
Além disso, o carma não institui punição para ser expiada em urna vida futura. Ao
invés disto, o carma oferece oportunidades para desenvolvimento e aprendizado, uma
outra possibilidade para aprender o que, ainda não foi aprendido. O carma da criança não
é a causa de sua conduta inaceitável, mas o carma dos pais pode ser a causa ou, de outra
maneira, o efeito da causa. O que os pais fizeram ou deixaram de fazer na última semana,
no ano passado ou há dez anos, é provavelmente a causa da conduta de hoje da criança.

É verdade bastante que se ajudarmos alguém, ficaremos responsáveis pelas conseqü-


ências. É além disso verdade que somos responsáveis pela ajuda a outros em ocasião de
Harmonia
necessidade. O propósito cósmico está orientado para toda a humanidade. Para estar em
harmonia com o propósito do Cósmico, o indivíduo deve estar voltado para a coletivida-
de ou, pelo menos, para o auxílio a outros. Em outras palavras, todo ser humano tem a
responsabilidade de auxiliar a outros em todas as oportunidades que se lhe apresentarem.
Este modo de viver é precisamente o que estabelece a nossa harmonia com o Cósmico.
Como se vê, nada há a temer por causa da interferência no carma de uma outra pessoa.
É muito mais provável que nos tornemos úteis com relação à evolução da humani-
dade, ao invés de empecilhos a um indivíduo qualquer. Assim, teremos de precisar o que
realmente é interferência e o que é, em verdade, medo e indolência. Para que possamos
chegar a essa conclusão, deveremos nos harmonizar com o Cósmico e analisar a situação
dessa posição vantajosa. Com o ponto de vista cósmico, não somente encontramos a
solução; tornarmo‑nos a solução.
Por onde poderemos começar para melhorar o mundo? O primeiro passo é começarmos
por nós mesmos, transmitindo aos nossos filhos e à nossa família a nossa intensificada
capacidade para amar e compreender. Nossos filhos são as sementes do futuro. Devemos
cuidar deles com desvelo, extirpar as ervas daninhas que tentam estrangulá‑los, levando‑os
40 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
assim à maturidade, com amor e disciplina. Comecemos a cultivar as rosas.

41 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Uma Sinopse
para a Juventude

É razoável que os jovens busquem a segurança de que suas vidas


terão significado e propósito, e que eles devam ser tomados em conta
como pessoas reais.
Esta sinopse é um levantamento que objetiva auxiliá‑los a esboçar
um modo de ação que lhes permita evitar a difícil situação de Hamlet,
privado de ancoradouro seguro, tentando, em vão, encontrar uma
enseada tranqüila em um oceano turbulento. Ela poderá ajudá‑los a
evitar a sua desilusão e desespero.
As pretensões dos jovens diferem das que eram acalentadas pelas
antiquadas pessoas enérgicas e agressivas, por que eles estão cansa-
dos de antagonismos e desejam, acima de tudo, estabelecer relações
humanas leais e afetuosas.
Eles entram na sociedade em um momento crítico, conturbado, de
sua história. Estão preocupados com a probabilidade de uma cultura
tecnológica desumanizada. Muitos deles estão buscando as respostas a
indagações que perturbavam seus avós. Isto é o que perguntam: Como
poderemos conseguir paz, liberdade, ordem, prosperidade e progresso
com as diferentes condições de vida em muitas nações? Como pode-
remos estabelecer em todo o mundo as condições de bem‑estar que
foram alcançadas em algumas partes? Como poderemos desfrutar dos
benefícios de uma tecnologia que rapidamente se desenvolve, sem
destruir os demais valores que apreciamos?
Beneficio insignificante pode advir da exaustão de nossa mente e
42 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
de nossos sentimentos, em nos lamentar por termos nascido em um mundo conturbado.
Quando nos dispomos a consertar as coisas, devemos compreender que as pessoas não
são propriamente um estorvo, mas que estão confusas a respeito de si mesmas e de sua
função na vida real. Todavia, não podemos planejar assegurar o futuro de outros antes de
termos concebido um plano para a nossa vida…
Essencial a uma filosofia construtiva é a resposta à pergunta: “Que estamos fazendo
para concretizar aquilo que pretendemos?” Algumas coisas têm de ser corrigidas, mas
corrigirmo-las não significa necessariamente que devamos promover uma revolta. Fazemos
as coisas que estão dentro da nossa capacidade. Naaman ficou furioso com o profeta por
dizer que para ficar curado da lepra tudo que ele precisava fazer era banhar‑se no Rio Jor-
dão. Os criados disseram a Naaman: “Se o profeta tivesse te ordenado fazer alguma coisa
grandiosa, não a terias feito? Não é muito melhor, então, quando ele te diz: “Banha‑te e
conserva‑te limpo?”
Quando começarmos a limpar nossos universos intelectual e espiritual, verificaremos
que é realmente um erro a concentração sobre um determinado aspecto da vida, com a
exclusão de outros. Nenhum benefício traria o mergulharmos em sentimentalidade, na
piedade, na retidão, na caridade e em pensamentos sublimes enquanto ainda buscamos
prosperidade econômica, ou colocarmos de parte as necessidades da vida quando estamos
cogitando de profundas questões filosóficas.

As Tensões da Vida
A confusão humana é causada pelo fato dos jovens, hoje, manifestarem um interesse
pessoal tão grande pelos outros seres na superfície da Terra, que a vida é uma permanente
tensão.
Isto é algo que não afligia seus pais cujas fronteiras de envolvimento pessoal eram res-
tritas. Hoje em dia, somos dominados pelos jornais, pela televisão, e pelas noticias no rádio
a respeito de fome, enchentes, tempestades e guerras, de modo que estamos acostumados
a crises, e vivemos como se o modo difícil fosse a única maneira de viver.
Todos sentem que estão envolvidos em tudo que está acontecendo em toda parte. Mos-
tram‑se perplexos a respeito das condições econômicas em seu país e com as perturbações
políticas no exterior; com a exaustão dos recursos naturais e não‑renováveis da Terra, e
com a potência de veículos espaciais espiões ou portadores de bombas.
Os jovens estão sujeitos (como jamais estiveram) à difusão das opiniões das pessoas
sobre instintos, complexos, reflexos, glândulas, conduta, sexo, e às preocupações diárias
decorrentes da guerra ao problema do trânsito.
A transição para rumos novos está no ar. Algumas pessoas dispõem‑se a modificar as
coisas como se essa fosse sua missão na vida. À semelhança dos antigos cavaleiros, procuram
tornar‑se heróicos matadores de dragões.
Outros sinceramente acreditam, julgando pelo que vêem e ouvem ao seu redor, que
uma fase destrutiva deve ser suportada antes que uma sociedade humana verdadeiramente
nobre possa vir a existir.
A maioria das pessoas tem a impressão de que antes de nos desligarmos das crenças
que deram à sociedade a sua estrutura no passado, precisamos edificar uma estrutura nova
43 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos
na qual possamos confiar, para o amparo que todo Ser humano necessita.
As sugestões para aperfeiçoamentos de qualquer espécie devem ser positivas, indicando
a forma de ação reparadora. É possível que algumas pessoas se deliciem em se entregar
a especulações negativas, lamentando-se sobre o que não tem remédio, porém a pessoa
positiva se porá imediatamente em ação para corrigir a situação.
Quase todos nós temos conhecimento de coisas que estão erradas ou de coisas desejáveis
que estão faltando. A prova de maturidade é que expressamos a paciência e a fortaleza
necessárias para encontrar o caminho para corrigir as situações.
As mudanças são usualmente mais aceitáveis para os jovens do que para os velhos. Há
uma lacuna de experiência entre os velhos e os jovens; eles estão apreciando os aconteci-
mentos baseando‑se em padrões diferentes. Em toda a sua longa vida, o avô jamais ouviu
falar de poder nuclear, perturbação sacrilíaca, ou vôo supersônico, e tudo que ele sabia a
respeito de uma visita à Lua era o que Jules Verne lhe havia contado. Por outro lado, os
jovens não conheceram guerras mundiais e crises econômicas.
Os jovens acreditam que seus antepassados suportam grandes males para evitar os
incômodos de eliminá‑los. Isto não acontece de maneira generalizada. As pessoas mais
idosas cresceram sob essas condições e estão a elas tão acostumadas que não as percebem,
nem são por elas afetadas. Pensemos na maneira em que nos habituamos com um buraco
no tapete da sala, e que faz, com que sobre ele passemos sem que o percebamos.
Os jovens se mostram impacientes para fazer com que as coisas aconteçam de conformi-
dade com seus desejos; os velhos ficam inquietos quando as coisas não correm da maneira
que esperavam. Apreciada desta maneira, a lacuna entre gerações não é propriamente um
abismo aterrador, mas apenas uma depressão que pode ser transposta com um pouco de
compreensão tolerante expressada por ambas as partes.

Reimpresso da revista Monthly Letter of The Royal Bank of Canada.

44 Encontro Rosacruz de Pais e Filhos


Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis – AMORC
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Data de Fundação: 9 de maio de 1956.
Reconhecimento de Utilidade Pública Municipal: 21 de setembro de 1967.
Reconhecimento de Utilidade Pública Estadual: 19 de julho de 1968.
Registro no CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social: 28 de novembro de 1995.
Reconhecimento de Utilidade Pública Federal: 28 de fevereiro de 1997.
Reconhecimento de Utilidade Pública Municipal da Filial Quatro Barras – Morada do Silêncio Chaminé da
Serra: 19 de junho de 1997.

Composto, revisado e impresso na:

Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa


Rua Nicarágua, 2620 – 82515-260
Bacacheri – Curitiba – Paraná – Brasil
Caixa Postal 4450 – 82501-970
Fone: (41) 351-3000 – FAX: (41) 351-3065
http://www.amorc.org.br/ – E-mail: rosacruz@amorc.org.br

Você também pode gostar