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Conforme afirma Alfieri (2014, p.

68), as operações cognitivas dizem respeito ao


conhecimento intelectual, qualidade do espírito que permite ao homem fazer ciência,
filosofia e arte, assim como possuir uma religião; enquanto que a atividade valorativa, a
operação no âmbito dos valores – estima da consciência pela qual sente atração ou
repulsa -, não é, a rigor, um ato cognitivo, haja vista que os valores não são obtidos por
meio de raciocínios, mas são constatados pela análise da natureza e vida social, embora
sejam identificados e reconhecidos, o que envolve cognição.

Por conseguinte, o ser pessoal possui como específico a possibilidade de, ao contrário dos
animais que sentem desejo e repulsa e esses determinam suas reações, autodeterminar-
se. Posto isso, a liberdade é um constituinte irrenunciável da pessoa. “[...] o homem não
está entregue inerme ao jogo dos estímulos e das respostas, mas pode fazer-lhes frente,
pode vetar o que entra nele”

Assim como os animais, o ser humano possui reações no campo do instinto e da emoção,
as quais estão ligadas apenas ao seu aspecto psíquico; porém ele é capaz dos atos
espirituais, que envolvem pensamento – razão, intelecção – e valoração. Nesse sentido,
haja vista que “[...] tanto os atos cognitivos como os atos valorativos operam como objetos
(unidades de sentido que se apresentam à consciência)” (ALFIERI, 2014, p. 69), é possível
perceber que em ambos os atos é a consciência intencional do homem que apreende um
correlato objetivo. Ademais, essa capacidade humana de empenhar-se na direção de
valores estimados – essa força de vontade - se fundamenta numa energia de
“autoplasmação”, que diversa da liberdade de modelar-se possuída pelo caráter, não está
limitada por uma disposição original, dado que está enraizada no “eu mesmo”.

Stein permite perceber a subjetividade como estando fundamentada numa consciência


intencional, ou seja, numa consciência que não é considerada sem si mesma, porque é
sempre consciência de algo, mesmo quando consciência de si.

Ademais, por objeto Stein entende tudo o que se apresenta diante do sujeito, seja uma
coisa física, material, imaterial, psíquica, espiritual.

Ademais, para a filósofa, pessoa humana é tripartida – corpo, alma e espírito – e


essencialmente unitária. Assim, como fora demonstrado, o corpo não é na reflexão
steiniana uma espécie de “cárcere para alma”, mas constitui a dimensão material do
sujeito pela qual ele pode ser afetado pelo ambiente externo, pelo qual expressa o que se
passa em sua vida interior e pela qual atua no mundo, imprimindo nele as marcadas da
sua personalidade. No que diz respeito à análise das outras duas dimensões da pessoa, foi
possível por meio deste escrito evidenciar o modo como Stein diferencia a estrutura
psíquica e a consciência pura, a qual diz respeito à vida do “eu”, âmago profundo da
pessoa.
Comunidade vem considerada não apenas como agrupamento humano, mas estruturalmente como um
tipo de relação interpessoal, marcada pelo posicionamento da pessoa a partir do uso da razão e
liberdade.

método que permite chegar às essências, apreendendo que pessoa e comunidade são ontologicamente
interdependentes.

A estrutura ôntica da pessoa humana

Dimensões distintas da pessoa: corporeidade, psique e o espírito. Stein apreende o ser humano como
microcosmo, no sentido de compartilhar elementos estruturais típicos com os seres do reino vegetal e
animal.

a) Corporeidade
A pessoa se apresenta a nós com diversas características físicas que podem ser apreendidas em
sua exterioridade (altura, peso, cor, etc.) o que significa que, em sua constituição corpórea, o
ser humano pode ser considerado como “coisa material”. junto às qualidades sensíveis
apreendidas na forma material identificada, percebemos também que o ser humano possui
pontos de recepção nos quais colhe a realidade que está diante de si, assim como uma
capacidade de se mover, isto é, responder de forma motora àqueles estímulos que o tocam,
configurando-se como “ser sensível” e “ser animado”. A capacidade sensível se conecta ainda a
estados atuais, onde percebemos que sua capacidade de movimento próprio está influenciada
por impulsos internos.
O corpo não é apenas uma massa corpórea (Körper), mas um corpo vivente próprio (Lieb)
(Stein, 1917/1998). Eu o percebo não apenas quando sou tocado por algo externo, mas
também o percebo a partir de dentro, sinto o que lhe acontece e este se oferece a mim como
um objeto que está sempre aqui, com uma estabilidade temporal e espacial que me permite
reconhecer que a existência está vinculada diretamente a ele, de forma que não existiria um
corpo próprio sem sujeito. O eu está sempre ligado ao corpo próprio e não seria possível
desligar-me dele, exceto através da vivência da fantasia ou da recordação. A presença da
corporeidade própria aponta para a existência de uma vida interior, de uma vida presente que
anima e dirige o corpo, que pode o tomar como instrumento de expressão, de ação e de
intervenção na realidade criando novos objetos intencionalmente .

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