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MATERIAL
DIDÁTICO PARA A EaD:
PROCESSO DE PRODUÇÃO
Cuiabá, 2009
Comissão Editorial Drª Ana Arlinda de Oliveira
Dr Carlos Rinaldi
Drª Gleyva Maria Simões de Oliveira
Drª Lucia Helena Vendrúsculo Possari
Drª Maria Lucia Cavalli Neder
Drª Onilza Borges Martins
Ficha Catalográfica
P856m Possari, Lucia Helena Vendrúsculo.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção./
Lucia Helena Vendrúsculo Possari; Maria Lucia Cavalli
Neder. Cuiabá: EdUFMT, 2009..
104 p. il.
Inclui bibliogragia
ISBN 978-85-61819-63-7
CDU 37.018.43
Cuiabá, 2009
COLETÂNEA
“EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA”
Oreste Preti,
organizador da coletânea.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 9
CONVERSA INICIAL 11
PROBLEMATIZAÇÃO 13
TEXTOS-BASE
PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU
O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder 17
MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO NA EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder 35
PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EAD
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari 47
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO
PROCESSO SEMIODISCURSIVO
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari 63
SABER +
O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE
OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA
Maria Lúcia Cavalli Neder 81
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari 91
APRESENTAÇÃO
CONVERSA INICIAL
Então:
Vamos lá, então, prezado cursista.
As autoras
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 13
PROBLEMATIZAÇÃO
PLANEJANDO O TEXTO
DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O
GUIA DIDÁTICO PARA A EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
TEXTO-BASE
O objetivo do texto-base deve ser não só o de garantir o desen-
volvimento de conteúdo básico indispensável ao andamento do curso,
mas também o de abrir oportunidade para o processo de reflexão-ação-
reflexão por parte dos alunos. Nesse sentido, o texto deve possibilitar ao
aluno, por meio de um processo dialógico, construir seu conhecimento
sobre a área ou tema em foco.
O conteúdo selecionado para ser trabalhado nos textos-base
deve servir como dinamizador curricular, permitindo, sempre que possí-
vel, a relação teoria-prática por parte do aluno. É importante que, nesses
textos considerados marcadores curriculares, haja definição de objetivos
e esclarecimento sobre sua organização, somados a sugestões de tarefas e
18 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
TEXTO DE APOIO
Bem, você deve estar pensando ou se perguntando: uma vez
elaborado o texto-base ou os guias didáticos , está resolvida a questão do
material didático de um curso de EAD, não é mesmo?
Pois, se você pensa assim, está equivocado. Mesmo que se opte
por um material didático impresso para o desenvolvimento de um curso,
com certeza esse material não pode se resumir apenas aos textos-base.
O texto-base, afirmamos, serve já como marcador curricular e
metodológico, mas não traz em si a potencialidade de abrangência e
aprofundamento que qualquer área, disciplina ou temática merecem.
Por esta razão, no planejamento de qualquer curso, é preciso
que os responsáveis pelas áreas de conhecimento constantes do currículo
indiquem e trabalhem textos complementares (de livros, revistas, jornais
ou textos encomendados especificamente para discussão de determinado
tema), sobretudo para apoiar as pesquisas a serem desenvolvidas pelos
alunos. Esses textos, que costumamos chamar textos de apoio, devem ser
também considerados material didático do curso, embora não tenham
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 21
Textos
Escritos
Textos Textos
de Apoio Base
Textos
Livros dos Alunos
Pesquisa
Hipertextos
Textos
Internet CD-Rom
Textos Revistas
de Jornal Eletrônicas
Textos
Audivisuais
Vídeo Vídeo Vídeo
Educativo Conferência Exclusivo Filmes
Palestra Seminários
Textos
Orais
MAPA CONCEITUAL
DIMENSÕES
ORAL
VERBAL
ESCRITO
TEXTO PINTURA
MÚSICA
NÃOVERBAL
CORPORAL
QUADRINHOS
- Desenvolvimento: apresentação do
conteúdo, mediante divisão em partes
(capítulos, unidades). Proposição de
atividades. Saber + .
Comentando:
I- INTRODUÇÃO-APRESENTAÇÃO
II- DESENVOLVIMENTO
III- CONCLUSÃO
1. DISCIPLINA INTRODUTÓRIA
2. CADA DISCIPLINA
3. CONCLUSÃO
1. TíTULO DA UNIDADE:
vai iniciar seu texto científico (aqui você deve considerar o exposto
no item 2.1). Você deve lembrar que tem objetivos claros em rela-
ção ao conteúdo a ser trabalhado. Seu texto deve ser adequado à
descrição de seu interlocutor e de fácil compreensão. Para tanto,
você deve considerar:
- texto para EAD: você está produzindo um texto para um
aluno que não estará frente a frente com você. Por isso,
seu texto deve permitir uma leitura sem problemas, o que
pressupõe sua preocupação com o uso de vocabulário
acessível ao nível cultural de seu aluno, com conhecimento
prévio dele sobre o assunto, com suas leituras anteriores.
Sua linguagem deve ser precisa, clara, limpa.
- a estrutura interna do texto deve permitir que o aluno vá
assimilando os conhecimentos em pequenas dosagens.
Ele deve perceber qual a estrutura proposta para o desen-
volvimento das ideias, para isso é importante fazer uma
conveniente divisão e subdivisão de cada tópico.
- é importante que você vá apresentando, em cada uma das
partes, questões para despertar o interesse, suscitar
perguntas. É significativo propor também exercícios e/ou
atividades que permitam pequenas sínteses no decorrer
do texto.
- texto dialógico: você pode optar por uma abordagem dialó-
gica no desenvolvimento do próprio texto, ou nas introdu-
ções e/ou fechamentos das subunidades. O importante é
seu leitor perceber a si mesmo num processo de diálogo,
em que ele participa como sujeito da produção do conheci-
mento.
- estilo e formatação textual: o tamanho da letra, o distan-
ciamento entre as linhas e parágrafos também são pon-
tos importantes na organização do texto impresso. O
próprio tamanho do parágrafo, às vezes, interfere na
compreensão. Frases longas e intercaladas, usadas
excessivamente, igualmente dificultam a compreensão.
32 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
PROJETO
POLÍTICO -
PEDAGÓGICO
Bases Seleção do
epistemológicas conteúdo
F
I
Mapa conceitual
Diretrizes N
(área/disc/mod)
A
L
I
Princípios D Unidades/capítulos
A
D
Conceitos E Objetivos
Ideias-chave S
Avaliação
Saber +
Planejamento
MATERIAL DIDÁTICO E O
PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO NA EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
A
o refletirmos a respeito da EAD, temos que, primeiramente,
focar a essência, aquilo que é substantivo. Isto é, não são as
características, não é o adjetivo (ser a distância, presencial,
semipresencial, modular) que deve ser o centro de nossa ação, mas, sim,
a compreensão de que estamos fazendo educação. É importante, antes de
qualquer outra consideração, que tenhamos consciência de que estamos
construindo uma prática educativa. A EDUCAÇÃO é a essência e deve
ser compreendida como prática social que, em interface com outras
práticas, contribui para a construção de significados culturais, reforçan-
do e/ou conformando interesses sociais e políticos.
Silva (1996) afirma que a educação, o currículo, a pedagogia
estão envolvidos numa luta em torno de significados. Esses significados
são construídos a partir de relações estabelecidas entre os sujeitos da
prática educativa, através da organização e do desenvolvimento do
currículo.
A forma e o modo pelo qual o currículo é organizado merecem,
também, atenção especial. Tanto conteúdo como forma, afirma Apple
(1989), são construções ideológicas. A modalidade ou a forma de organi-
zação curricular não pode e não deve ser pensada ou discutida isolada das
discussões políticas, isto é, dos processos de significação que se quer ou
se deseja construir por meio da educação.
A Educação a Distância, como modalidade de organização e
desenvolvimento de currículo educacional, não deve ser reduzida apenas
a questões metodológicas ou a possibilidades de uso de novas tecnologi-
as da informação e da comunicação (TIC). Deve ser vista sempre como
36 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
parte de um projeto político que vincule a educação com a luta por uma
vida pública na qual o diálogo, a tolerância e o respeito à diferença este-
jam atentos aos direitos e às condições que organizam a vida pública
como uma forma social justa e democrática.
lo de comunicação unidirecional.
Na Comunicação, com uso de meios técnicos (TV, computador,
etc.), Acedo afirma que se está falando em comunicação mediada, que
deve ser:
PRODUÇÃO DE
MATERIAL
DIDÁTICO PARA A EAD
Lúcia Helena V. Possari
texto dos textos que já lemos e dos interdiscursos de que fazemos parte. É
um texto polifônico. Assim também na leitura, este texto fará parte de seu
intertexto, ou seja, é mais um.
Por falar em texto, este é escrito e será lido por você, no impres-
so, mas pode-se também escrever para ser veiculado na rede mundial de
computadores ou produzi-lo para ser visto num vídeo ou para ser ouvido
num CD-ROM ( ou fita cassete) ou, ainda, lido num site.
A opção pelo meio(áudio, audiovisual, hipertextual) que fizer-
mos vai determinar nosso texto, nosso discurso.
Vocês já devem ter visto, na internet, textos escritos exatamente
como no impresso. Já devem ter visto enciclopédias inteiras na internet.
Não é por estar sendo veiculado na Rede que os autores tiveram a preocu-
pação de modificar o texto. Ou seja, nesse caso, o texto só foi transferido
do impresso para a tela.
Para falarmos, então, sobre o modo de veiculação dos textos,
retomamos o conceito de Possari e Neder (2003)1:
Assim,
1. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L. C. Linguagem, o entorno, o percurso. 3ª. Ed.
Cuiabá: EDUFMT, 2003
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 49
PARTE I
LEITOR/LEITURA - POR UMA TIPOLOGIA EM EAD
3. É a metáfora que recorre à imagem de bulbos e tubérculos. O rizoma pode ser conectado a
qualquer outro. É o princípio da multiplicidade. Não é um sistema centrado ou
hierárquico, é circulacão de estados momentâneos.
4. DELEUZE, G e GUATARRI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio: Ed. 34,
1995, v.1
52 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
PARTE II
A EAD E OS PROCESSOS COMUNICATIVOS
13. MORAN, José. M. Como ver televisão. São Paulo: Paulinas, 1995.
60 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
14. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L.C. Oficina para produção de material
impresso. In: Laboratório de produção para a Educação a Dsitância. Curitiba:
NEAD/UNIREDE, 2001.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 61
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:
SUA CONCEPÇÃO COMO
PROCESSO SEMIODISCURSIVO
A
inerência semiótica da EAD não se limita às questões textuais
– que apontam, inclusive, para as questões discursivas –,
amplia-se, ou melhor, inicia-se no conceber a EAD politica-
mente, portanto ideologicamente.
Concebo ideologia, conforme Bakhtin, como fenômeno semio-
lógico, para quem cada campo de criatividade ideológica tem seu próprio
modo de orientação para a realidade, e refrata à sua própria maneira. Para
o autor, no domínio dos signos, na esfera ideológica, existem diferenças
profundas, pois esse domínio é, ao mesmo tempo, da representação, do
símbolo, da fórmula científica etc.
Ideológico, neste caso, são as linhas de fuga para as quais apon-
tam os Projetos de EAD. Primeiramente, as questões políticas, cujo
cerne contempla as sociais e econômicas: política afirmativa = a possibi-
litação a um maior número de estudantes da formação imprescindível;
isto se dá num tempo, numa simultaneidade, signos do contemporâneo.
A esse tempo, chamo de agoridade (POSSARI,2001)2: são tem-
poralidades que exigem que se insira, na educação, o ecossistema onde
sejam configurados tempo e espaço. Quanto à espacialidade, o signo não
é o de não localização, e sim de emissão-recepção. A mediação sígnica,
64 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
ASPECTOS SEMIODISCURSIVOS NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
net, pode optar pelas trilhas que melhor lhe aprouver, modificá-los, etc.
Os textos eletrônicos são os que mais possibilitam a interativi-
dade3.
Nos textos da WEB, os links a serem feitos, com o restante de
toda rede de cruzamentos e bifurcações, constituem-se pela seleção,
organização e filtro de possibilidades. Possari (2002) compara ao rizoma
(DELEUZE E GUATARI,1995): um ponto de fuga que põe em contato
um mundo de informações.
Na WEB não existe hierarquia, portanto nem linearidade,
sequência predeterminada. Entretanto cada site por sua caracterização é
diferenciado e se faz agente de seleção e hierarquização. Por não ser line-
ar não há predeterminação dinâmica ou estrutural.
As metáforas da navegação e do surfe são adequadas aos proce-
dimentos interativos(não interacionais) da WEB.
O e-mail, por sua vez, constitui-se numa das formas legítimas
da interação: envia-se um e-mail a um interlocutor determinado. O que se
diz e o que se pretende como efeito de sentido será regulado pelo propósi-
to do texto, pelo grau de intimidade – que determinará, por sua vez, o
grau de formalidade. A resposta poderá ocorrer de acordo com o que foi
tencionado ou não. Não há previsibilidade.
Quando o e-mail é enviado por um emissor para um interlocutor
coletivo, o que vai determinar a adequação da linguagem, da abordagem,
será uma imagem única, coletiva, delineada pelo emitente.
Individual ou coletivo, o e-mail é interacional. Todavia, sem a
previsibilidade, o interlocutor poderá inserir tópicos, incorporar trechos
e devolvê-lo diferente ou enviá-lo a outros em outra forma. Houve a inte-
ratividade.
Conforme Possari (2002), ler, no processo interativo, significa
hibridar, escolher, optar, decidir, montar, colar, ressignificar.
de outra coisa: tudo está no lugar dos sentidos que não são dados, têm que
ser construídos na relação entre interlocutores, presenciais ou por virtua-
lização.
O signo seja ele por representação, seja por indiciação, seja por
simbolização constitui-se na materialidade – condição de interação4.
Os signos que representam, trazem em seu cerne uma caracte-
rística de apreensão de fenômenos de primeiridade. Sua categoria é icô-
nica, na medida em que representa por aparência visual ou fônica com o
que quer fazer significar. Não será necessário, por parte do interlocutor,
esforço para além da identificação. Esse quali-signo se dá a conhecer por
ele mesmo.
Em linguagem verbal, exemplifica-se pela metáfora, pela ono-
matopéia.
Em linguagem não verbal, exemplifica-se por todas as figuras,
desenhos, fotos de pessoas, objetos, animais. Na tela do computador,
são chamadas de ícones todas as representações (figurinhas da impres-
sora – para imprimir; do disquete – para gravar; da tesoura – para colar e
por aí vai.).
Os signos que são indiciais, por sua vez, caraterizam-se como
fenômeno de apreensão de secundidade. Para significar, impõem ao inter-
locutor procurar/estabelecer pistas e relações de causa/consequência.
Verbalmente, os índices podem ser os AINDA, ATÉ, os
ÍSSIMOS.
Não segmentais podem ser a entonação, a entoação, o timbre.
Não verbalmente, as marcas de pneus deixadas numa pista depo-
is de uma freada.
Em qualquer texto, as marcas, pistas da preferência do autor por
tal abordagem; as tonalidades de um quadro para dizer do calor, do frio;
nos textos publicitários como argumentos etc.
Os signos simbólicos estão engendrados pela condição de terce-
iridade, de convenção. Então, todas as linguagens, todos os textos são
simbólicos? Sim!
O SIGNO-TEXTO EM EAD
veis interações... os sentidos podem ser todos, mas não qualquer um. Está
pressuposto um sítio de significância, que implica...a constituição de um
leitor ideal.
O leitor ideal, de acordo com ORLANDI (1986), é aquele idea-
lizado no ato de enunciação. Idealizado significa ter-se feito conjecturas
das histórias de leituras dele para os sentidos que se quer que ele atribua
ao texto. A autora categoriza outros dois: real e virtual. O primeiro seria
aquele cuja leitura coincidiu com as proposições de sentidos construídas
e esperadas pelo autor. O segundo é o imprevisível, aquele que, para além
das previsões do autor, atribui outros sentidos.
O leitor real é o leitor parafrástico. Ele repete os sentidos do
autor e, quando muito, o parafraseia. O leitor virtual avança e permite
que sua história de leituras amplie os sentidos: é o leitor polissêmico.
Discorrer sobre produção/autoria e produção/leitura em EAD
requer compreender que a produção do texto e sua proposta de leitura e
ato de leitura, portanto a interlocução/interação, não se dá na proporção
um para um. Dá-se na proporção um para vários. Já é sabido que o autor é
um, mas não único. Ele é um conjunto de vozes – polifonia – sobre o
tema. O leitor, por sua vez, são os alunos de determinado curso, cujas
diferentes histórias de leituras e memórias discursivas obrigam que a
leitura seja a mais polissêmica possível.
Se para um leitor determinado, idealizado, corre-se o risco de
que os sentidos a serem atribuídos não coincidam com os pretendidos,
como produzir textos, num processo de EAD, onde o polo leitor, repre-
sentado por milhares de sujeitos-leitores, constitui-se por diferentes
níveis, classes, objetivos, formação escolar e, portanto, configura-se
como um espaço de conhecimento onde a resistência ou a aceitação de
significados vão se dar na arena bakhtiniana?
Essa tarefa difícil para o corpo/autor/historiciade que produz
aquele signo-texto deve ter por pressuposto as dimensões sociocomuni-
cativas e semantico-conceitual-formais(POSSARI E NEDER, 2001).
Da mesma forma, apontar para o jogo de imagens autor/leitor e
garantir que o objetivo do texto não se perca, sejam quais forem as histó-
rias de leitura. Todavia, já se sabe que todo o cuidado não evitará tensões
e conflitos. Mesmo trazendo suas marcas de textualidade: coerência,
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 75
entre os interlocutores.
Há que prever que os leitores/alunos poderão interpretar apenas
algumas das fulgurações que se destacam da constelação de sentidos
pretendidos. O que antes era controlar, delimitar, classificar e ordenar
nos processos de avaliação, devem dar lugar à dispersão. De outro modo,
estar-se-á criando a ilusão da unidade de sentido, que faz parecer que o
sentido é evidente e único.
C
omo já afirmamos em outra passagem, no texto-base, a
produção, a seleção e a organização de textos para a EAD devem
estar atreladas ao projeto político-pedagógico do curso que se
quer desenvolver. Todo texto, concebido como material didático, deve
ser pensado e concebido no interior de uma proposta curricular, que, por
sua vez, deve ser construída na perspectiva de objetivos delineados em
um projeto político de formação. O material didático do curso,
consubstanciado através de textos, deve configurar-se no âmbito da
proposta curricular. Neder (2003), o considera um dos dinamizadores da
construção curricular e também como um balizador metodológico. É,
através do material didático, que são feitos os recortes das áreas de
conhecimento trabalhadas no curso, além do direcionamento
metodológico pretendido. Entre o material didático básico de um curso a
distância, podemos encontrar: material impresso, material audiovisual e
material multimídia.
É o material didático que possibilita que as diretrizes e os
princípios definidos no Projeto Político-Pedagógico do curso sejam
garantidos no desenvolvimento da prática pedagógica. São também os
balizadores das bases epistemológicas definidas para a sustentação das
ações pedagógicas.
82 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
A DIMENSÃO SOCIOCOMUNICATIVA
Você já tinha parado alguma vez para pensar sobre isso? Quando
você produz um texto oral ou escrito, por exemplo, leva em
conta essas questões?
Dimensão Semântico-Conceitual-Formal
Textos
Escritos
Textos Textos
de Apoio Base
Textos
Livros dos Alunos
Pesquisa
Hipertextos
Textos
Internet CD-Rom
Textos Revistas
de Jornal Eletrônicas
Textos
Audivisuais
Vídeo Vídeo Vídeo
Educativo Conferência Exclusivo Filmes
Palestra Seminários
Textos
Orais
Material Didático para a EaD: Processo de Produção 91
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO:
AGORIDADES
A
heterogeneidade pós-moderna traz como valor privilegiado a
diferença e, como consequência, o desbastamento da figura da
instituição. em todas as suas versões: o Estado, a família, a
escola, a universidade, o Partido – e o esfacelamento das noções de
representação e delegação.
Vem-se solicitando da escola ampliação de papéis e redefinição
dos propósitos escolares.
A par disso, os processos de sociabilidade, dependentes de
diferentes modos de ver, devem permear as formas de compreender, e,
ainda, a necessidade de ler e se produzir textos nas diversas linguagens, a
fim de que se possam dominar recursos de informática, o que implica
redimensionar os conceitos de tempo-espaço para que se aproprie de
lógicas que não são formais necessariamente nem se calcam em
princípios explicativos herméticos. Implica dizer que se assume um
compromisso com o ensino dialógico, com base em realidades comuni-
92 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
complexidade.
Criam-se novos modos de educação em que se interpenetram
conceitos de interatividade e de interação.
Entende-se por interação o processo pelo qual interlocutores
inter-agem, e decorrem daí os efeitos de sentido. Entende-se por
interlocutores os dois polos de qualquer situação de comunicação
(verbal, não verbal, mediada por tecnologias).
Quanto à interatividade, de acordo com Silva (2000), o
vocábulo é composto por dois componentes lexemáticos, o primeiro
significando entre, e o segundo, espaçamento, repartição, relação
recíproca. Mais especificamente nos casos de educação, interatividade
(assim como nas tecnologias de informática e internet) significa
interferir, modificar o que está sendo objeto de aprendizagem.
Cabe ressaltar que a modalidade interativa pressupõe um
emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a explorar,
oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interferência e às
modificações; mensagem modificável, em mutação e receptor como
coautor, criador. Ao contrário, nas outras maneiras de conceber a
comunicação, na unidirecionalidade, o emissor é um narrador, proposi-
tor; a mensagem, fechada, imutável; o receptor, passivo.
Falar de interatividade é deslocar o conceito do DO IT YOUR
SELF do momento, punk, considerado subcultura, que, no entanto, legou
a lição do FAÇA VOCÊ MESMO. É a tendência fragmentária da
indústria do entretenimento, para todas as situações de interação.
Não deve ser vista como novidade. Por volta de 250 a.C., de
acordo com Manguel (1999), foi criada uma arte que mudaria para
sempre a natureza da comunicação: escrever. Naquela época, o objetivo
era organizar uma sociedade cada vez mais complexa com leis, éditos e
regras de comércio. Escrever, grafar em tabuletas era a grande vantagem
sobre a memória – ao que Platão, em FEDRO, ataca violentamente o
deus Toth por ter inventado a escrita. Todavia, ao criar a escrita, os
registros, implicava criar leitores. Escrever exigia leitores. O escritor era
um produtor de mensagens, de signos que pediam por decodificação e
também por interatividade. Pedia a generosidade de um leitor.
De lá para cá, muito se acrescentou à tecnologia da escrita.
96 Material Didático para a EaD: Processo de Produção
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS