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Índice

Seção do Leitor
4 Controladores de movimento
O crescente aumento do uso de servo-acionamentos e inver-
sores de freqüência em máquinas de processos dedicados,
Notícias
5 fizeram surgir os controladores de movimentos, que são equi-
pamentos desenvolvidos para automação de máquinas que
necessitam de controle de posição, de trajetória, de veloci-
Problemas e Soluções
9 dade ou torque.
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Evoluções da Princípios dos motores lineares
Eletropneumática O motor linear nada mais é do que uma massa com propriedades
Entenda como a eletropneumática está se adequando às novas magnéticas que é atraída ou repelida por outra e restringida a
formas de comunicação em chão-de-fábrica que, em cada andar em trilhos. Veja por que, apesar de simples no seu funciona-
novo produto, procura acompanhar os avanços que rondam o mento, os motores lineares vêm ganhando destaque nas aplica-
mundo da Automação Industrial.
12
ções industriais.
40
Manutenção de servomotores Aterramento Elétrico
São inúmeras as razões pelas quais se tem adotado a utiliza- Este artigo mostra os aspectos básicos das normas, proble-
ção dos servomotores síncronos e assíncronos trifásicos na mas e soluções, bem como o processo de tratamento químico

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indústria nacional. Neste artigo são levantadas algumas das do solo.
dúvidas mais freqüentes com que os profissionais de manuten-
ção se deparam em seu dia-a-dia no campo.
14 Analisadores por
condutibilidade térmica
Desmitificando a visão artificial A análise por condutibilidade térmica consiste em medir a con-
nas aplicações industriais dutibilidade térmica de uma amostra, relacionando-a com a con-
Entenda como funcionam os sistemas de visão que, devido à centração de um determinado componente no gás em análise.
Conheça os dispositivos capazes de realizar esta análise.
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grande redução de custo que sofreram nos últimos tempos,
tiveram um grande aumento no número de aplicações na indús-
tria.
17 Aplicações de redes RS-485
Comparação de sistemas Descubra qual o segredo da popularidade da rede de comunica-
ção RS-485, cujas aplicações se estendem desde a integração
com motores de passo e servomotores
de pontos de venda e terminais de coleta de dados até aplicações
Com motores de passo e servomotores competindo nas apli-

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de alto desempenho em Automação Industrial.
cações industriais, como decidir qual é o melhor? Veja neste
artigo o que é necessário levar em conta para fazer uma esco-
lha inteligente.
20 Medidores de deformação
O medidor de deformação (strain gauge) é muito utilizado para
Imunidade a interferência por medições de grandes massas ou monitoramento de estru-
radiofreqüência turas em construção ou em restauração, face a sua con-
A RFI (Radio Frequency Interference) é um sério problema de fiabilidade, precisão e sensibilidade. Entenda seu princípio de
EMI (Electromagnetic Interference) para os equipamentos eletrô- funcionamento, suas aplicações e os critérios para escolha do
nicos modernos. Conheça os níveis e modos de falhas e as princi- melhor sensor.
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pais técnicas de proteção contra este problema.
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Como aplicar inversores de
Arquiteturas de sistemas freqüência
de Automação Industrial utilizando CLPs Conheça os aspectos mais importantes a serem considerados
Este artigo faz uma abordagem sobre os aspectos de comuni- na utilização de inversores de freqüência, tais como quando
cação de dados para arquiteturas comumente utilizadas em utilizar sistemas escalares e vetoriais, características gerais e
automação de plantas de processos industriais empregando parâmetros que devem ser considerados no efetivo emprego
CLPs.
32 de inversores.
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Editora Saber Ltda.
Diretores
Hélio Fittipaldi
Thereza M. Ciampi Fittipaldi
Editorial
www.mecatronicaatual.com.br Aberta a temporada de eventos
Mecatrônica Atual
Editor e Diretor Responsável Começou a temporada de feiras e eventos no Brasil sobre auto-
Hélio Fittipaldi
mação industrial. Há encontros para todo o tipo de público, desde os
Editor Assistente
Paulo Gomes dos Santos
engenheiros mais experientes até aqueles que estão começando a
carreira agora. Uma característica similar nesses eventos, que cada
Publicidade
Eduardo Anion - Gerente vez mais toma corpo, são os encontros promovidos por fabricantes
Ricardo Nunes Souza
Carla de Castro Assis junto com seus parceiros de projeto. Foi o que já fizeram nesse ano
Melissa Rigo Peixoto empresas como Rockwell, Altus e Advantech. Esse tipo de reunião
Conselho Editorial parece que está se tornando uma boa alternativa para as empresas,
Alexandre Capelli
Juliano Matias ao invés de participar de várias feiras durante o ano.
Newton C. Braga Uma das notícias que está sendo aguardada com muita expec-
Colaboradores tativa pelo setor é a compra da Intellution pela GE Fanuc. Quase
Alaor Mousa Saccomano
Augusto Ottoboni todo o setor de automação já sabe da compra da empresa pelos
Carlos Henrique C. Ralize
Gilberto Abrão Jana Filho
bastidores, mas, por enquanto, todos os detalhes estão sendo
Gilberto Branco guardados pela matriz norte-americana que deixou a América do
Jeff Kordik
José Ricardo da Silva Sul como último lugar para o anúncio oficial. Nesse campo da
Mário Sérgio Di Grazia
Osmar Brune
automação também há a expectativa quanto a atuação da Won-
Paulo Cesar de Carvalho derware no Brasil.
Paulo Eduardo Pansiera
Ronei Rosseti Dentro da proposta de contemplar, na revista, a automação de
Sérgio Vieira
Wendell de Queiróz Lamas processos, nesta edição você vai conferir os artigos “Analisadores
por condutibilidade térmica” e “Arquiteturas de sistemas de auto-
Foto da capa: sala de controle da PQU
mação industrial utilizando CLPs”, (o sucesso ou fracasso de um
ASSINATURAS
www.mecatronicaatual.com.br processo de automação, na maioria das vezes, é definido já na
Fone/Fax: (11) 6195-5335
Atendimento das 8:30 às 17:30 h
elaboração de sua arquitetura.)
Como foi dito na edição passada, estamos trabalhando numa
Impressão
W.Roth revista que seja a cara da automação industrial brasileira. Cada
Distribuição
detalhe na revista está sendo estudado para criarmos um veículo
Brasil: DINAP que seja o palco de discussão de engenheiros, técnicos, gerentes
Portugal: Midesa
e diretores.
MECATRÔNICA ATUAL
(ISSN - 1676-0972) é uma publicação E para continuar melhorando, é importante que continuemos
da Editora Saber Ltda. contando com a participação dos leitores com críticas, sugestões
Redação, administração,
edições anteriores, publicidade e e até mesmo artigos técnicos. A idéia é que a revista não seja um
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R. Jacinto José de Araújo, 315 “clube fechado”, mas que tenha a participação do maior número
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Notícias Atual

Mecatrônica
Notícias
Sérgio Vieira

A GE Fanuc compra a Intellution e segura divulgação


A GE Fanuc, braço de automa- comenta nada a respeito da aquisição GE e combina as tecnologias que
ção industrial do Grupo GE, com- para a imprensa brasileira. aumentam benefícios aos clientes
pletou a aquisição da Intellution, Ex-divisão do Grupo Emerson Pro- em torno do mundo. A comunidade
uma das maiores empresas do cess, a Intellution possui mais de 185 worldwide do manufacturing pode
mundo em softwares para automa- mil instalações de sistemas supervisó- esperar as novas tecnologias que
ção industrial. A notícia da aquisi- rios em todo o mundo. No Brasil, seu mudarão e melhorarão a maneira
ção está sendo tratada com cautela principal produto, o iFix, está presente como nós fazemos o negócio”,
pelas duas partes envolvidas na nos mais variados segmentos indus- disse Charlene Begley, presidente
operação. triais e, muitas vezes, é escolhido da GE Fanuc, em entrevista nos
A América do Sul será o último como sistema preferencial mesmo em Estados Unidos.
país a saber os detalhes oficiais da fornecimento de projetos turnkey de Na mesma reportagem, usuários
aquisição. De acordo com um enge- automação, onde concorre com siste- americanos de automação acredi-
nheiro da GE, a estratégia é divul- mas de outros fabricantes. Nos Esta- tam que a compra da Intellution pela
gar os detalhes da operação nos dos Unidos suspeita-se que o nome GE possibilita oportunidades sem
Estados Unidos, depois na Europa, Intellution será mantido. Fala-se em precedentes no ambiente industrial.
em seguida será a vez da Ásia uma nova empresa chamada: GE Eles vislumbram a oportunidade de
e, em meados de julho ou Agosto Fanuc Intellution. comprar sistemas de supervisão
deste ano será a vez da América “A aquisição da Intellution é parte completos dentro de um pacote de
do Sul. Por esse motivo, ninguém da estratégia global do crescimento da fornecimento global pela GE.

A Astrein investe em atualização tecnológica


Após investir R$ 1,5 milhão “A aquisição de produtos prontos O Sistema Informatizado de
em 2002, a Astrein Engenharia de para gerenciamento de manutenção Manutenção é voltado para ativi-
Manutenção espera obter neste ano de ativos e a terceirização de ser- dades de planejamento, programa-
um crescimento de 25%. Boa parte viços na área de manutenção era ção e controle de manutenção em
dos investimentos foram direciona- um passo dado exclusivamente por equipamentos móveis, equipamen-
dos para atualizar o Sistema Infor- algumas empresas com alto grau de tos estacionários, veículos e ins-
matizado de Manutenção - SIM, automação e hoje se dissemina em talações prediais, possibilitando o
importante linha de negócios da empresas de pequeno e médio porte, controle de qualquer tipo de manu-
empresa. abrindo as portas de um grande mer- tenção, seja ela corretiva, preven-
De acordo com o diretor, Mar- cado”, afirma. tiva ou preditiva. “O SIM proporciona
celo Ávila Fernandes, a primeira De olho nesse mercado promis- redução de custos de manutenção,
versão do SIM foi desenvolvida em sor, a Astrein definiu nova linha de das paradas dos equipamentos, do
1986 e ao longo dos anos recebeu negócios para atuar com serviços de tempo de detecção de falhas, dos
diversas atualizações, conquistando Planejamento e Controle de Manuten- gastos com terceiros, do estoque de
uma carteira de mais de 450 clientes ção (PCM). “Com esse novo serviço, sobressalentes, gerando aumento
dos mais diversos setores (alimen- a empresa cresceu 65% entre 2000 e da produtividade da mão-de-obra,
tos, petroquímica, eletroeletrônica, 2002 e prevê um aumento no fatura- maior simplificação e agilidade nos
gráfica, autopeças, telecomunica- mento de 25% em 2003 sendo o ser- trabalhos administrativos, indispen-
ções, metalurgia, comunicações, viço de PCM responsável por 30%”, sáveis para as empresas com ISO
têxtil, farmacêutica, entre outros). calcula. 9000 e QS 9000”, conclui.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 5


Atual Notícias

Siemens: foco na área de serviços


A Siemens começou a colocar mens pode interferir remotamente no é conhecido como “Protocolo de
em prática uma série de estraté- equipamento de uma indústria. Mas é Kyoto”. Empresas poluidoras pode-
gias para tornar sua divisão de tese mesmo. Na Suzano Papel e rão pagar pela cota de emissão de
Serviços de Engenharia mais conhe- Celulose, onde a Siemens fechou poluentes. Empresas como a Sie-
cida perante o público industrial. A contrato global e de interferência mens poderão receber por projetos
empresa não quer ficar para trás dos no processo, funcionários da contra- apresentados de “não emissão de
dois principais concorrentes: ABB tada permanecem 24 horas na planta poluentes”, ou por aquilo que deixa-
Service e Alstom. As soluções da acompanhando todo o processo de ram de emitir.
empresa nessa área foram apresen- produção. A Siemens Engenharia e Ser-
tadas pelo diretor de manutenção, Kersten Barth informou que a Sie- vice possui oito anos de existência e
Marcus Fermann, e pelo responsá- mens quer ir mais além com a sua área fatura R$ 150 milhões no Brasil. No
vel internacional por essa divisão, de serviços. Através do módulo de mundo fatura US$ 1 bilhão e possui
Kersten Barth. redução do consumo de energia, ela 28.400 funcionários. Uma ordem do
As ferramentas da empresa quer participar do mercado mundial presidente mundial da Siemens visa
nessa área pretendem ir de encon- de redução de emissões de poluen- migrar 50% da receita da empresa
tro aos anseios das indústrias que, tes. O mercado nasceu em 1997 e para a área de serviços.
cada vez mais, visam reduzir as
falhas, paradas, passivos ambien-
tais e melhorar os aspectos sociais
dentro do ambiente de chão-de-
fábrica. “Existe, hoje, pouca infor-
mação que é trocada entre os
segmentos de uma mesma indús-
tria”, inclui Fermann no rol de neces-
sidades de indústrias.
Assim como os seus concorren-
tes, a Siemens elabora cada con-
trato de serviço, que pode incluir
manutenção e instalação, de acordo
com cada cliente. “A novidade é que
estamos incluindo a parte de manu-
tenção já na fase de desenvolvi-
mento de um futuro projeto”, aponta
Fermann. Para ter um diferencial
no mercado, a Siemens também
está oferecendo a possibilidade de Fermann explica à imprensa ferramentas
formar uma joint venture com o pró- de serviço da Siemens.
prio cliente. A partir daí, segundo
o diretor, estabelece-se uma partici-
pação de 50% para cada empresa Lon Works em laboratório de São Carlos
nos novos projetos identificados e
adquiridos. Coordenado pelos professores LonWorks dotada de sensores, con-
O EPS - Energy Potential Scan, Mário Pinotti Jr. e Luis Carlos Pas- troladores e atuadores, além de
detector de oportunidades de redu- sarini, o Laboratório de Eletrônica módulos de desenvolvimento.
ção de energia, está entre as fer- Embarcada da Escola de Engenha- No laboratório também são
ramentas da Siemens oferecidas ria de São Carlos (USP) desenvolve desenvolvidas atividades focadas
às indústrias. A empresa também atividades voltadas para o estudo no estudo de técnicas e ferramen-
possui controlador lógico programá- de sensores, instrumentação para tas para o Foundation Fieldbus. O
vel com porta Web para encaminhar controle de processos e protocolos desenvolvimento de algoritmos e
dados de processo e manutenção. de campo (fieldbuses). de software vem sendo realizado
Outra ferramenta é o Online Ser- Entre as atividades do laborató- em parceria com empresas. Três
vice baseada numa infra-estrutura rio está o desenvolvimento da tec- plantas experimentais estão em ati-
de informações globais que compre- nologia LonWorks para otimização vidade, onde são trabalhadas gran-
ende envio de dados em alta veloci- do consumo de energia elétrica em dezas como temperatura e pressão.
dade para sistemas de diagnósticos projetos de automação predial. Para São desenvolvidas, ainda, ativida-
e manutenção remota. Este último desenvolver os trabalhos, o labo- des para otimização do controle de
item significa, em tese, que a Sie- ratório foi equipado com uma rede motores e combustão interna.

6 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias Atual

Encontro Brasil-Áustria de automação em SBC


Mais de 100 profissionais, execu- desenvolvimento. Kopacek contou que dencial, além de suas soluções de
tivos e acadêmicos ao 3º Workshop o parque industrial austríaco é com- integração. Foi discutida a presença
Austrian-Brazilian Automation Day, posto de pequenas e médias empresas de vários sistemas e protocolos pre-
promovido pelo Centro Universitário que utilizam redes neurais, complexos sentes no mercado que impedem
da FEI - Faculdade de Engenharia sistemas de automação e robótica. o desenvolvimento de uma automa-
Industrial. O foco do evento foi a dis- Carlos Eduardo Pereira, professor ção predial e residencial integrada.
cussão em torno da automação nas da Universidade Federal do Rio Os dois palestrantes lembraram que
pequenas e médias empresas bra- Grande do Sul, e Paulo Coviello, dire- a integração na automação reduz
sileiras e sua inserção no mercado tor de Soluções da Siemens Brasil, custos operacionais, aumenta a pro-
globalizado. apresentaram palestras sobre os pro- dutividade e melhora o controle e
Peter Athanasiadis, cônsul blemas na automação predial e resi- acesso às informações.
comercial da Áustria, elogiou a ini-
ciativa e ressaltou a importância
da troca de conhecimentos entre
os dois países. “A Áustria possui
muitas empresas de pequeno e
médio porte e, estas, tiveram
grande dificuldade em se atualizar”,
disse. Elfriede Rommens, represen- O evento discutiu auto-
mação de pequenas e
tante do Ministério de Transporte,
médias empresas.
Inovação e Tecnologia daquele
país, lembrou que há 30 anos
o governo austríaco percebeu a
necessidade de cooperação entre
universidades e empresas para
o desenvolvimento tecnológico e,
desde então, apóia encontros tec-
nológicos e fornece suporte para
pesquisa, projetos corporativos e
desenvolvimento de centros de
excelência locais.
Entre os temas das palestras
que fizeram parte do evento desta- A Wonderware desembarca no Brasil
cam-se: robôs, prototipagem rápida,
educação à distância, automação A Wonderware, unidade de negó- controle industrial.
predial e residencial integrada, téc- cios do Grupo Invensys e fornece- O mercado será atendido pela
nicas de monitoramento e contro- dora de softwares de automação unidade brasileira da Wonderware
ladores lógicos programáveis. Peter industrial, está desembarcando no em conjunto com o distribuidor
Kopacek, professor doutor do IHRT Brasil para dar suporte ao cresci- autorizado Scan Automação que
Institute, órgão da Universidade de mento das vendas dos seus produ- continuará responsável pela comer-
Tecnologia de Viena, acredita que tos, como o InTouch, carro chefe da cialização, suporte e treinamento
os principais problemas do Brasil empresa. “Independentemente da dos usuários finais. “A Scan intro-
são a falta de mão-de-obra especia- instabilidade global, a Wonderware duziu os produtos da Wonderware
lizada e recursos para tecnologia e decidiu expandir suas operações, no Brasil conquistando uma base
atendendo a solicitação dos usuá- extensa de clientes importantes e
rios de nossos produtos, e temos um market share expressivo através
certeza de que esta decisão está de um atendimento diferenciado”,
Nota no caminho certo para continuar conta Fontinele da Silva, diretor da
A Usina Coimbra-Cresciumal
(Leme/SP) instalou um medidor de
crescendo”, comenta Andres Szlu- Scan Automação.
densidade para manter o nível ener- fik, diretor regional para o Mercosul. “Com a oferta constante de
gético de xarope durante o processo No comando da Wonderware inovações tecnológicas que garan-
de evaporação. O equipamento, DT301, Brasil está o engenheiro Eduardo tem ao usuário proteção total de
fabricado pela Smar, foi instalado no Lima, profissional com mais de 15 seu investimento, temos confiança
ano passado e de acordo com o corpo anos de experiência na área de no futuro da Wonderware e nossa
técnico da Usina, tem se mostrado automação industrial e um dos pio- expectativa é expandir e consolidar
uma ferramenta valiosa na obtenção
neiros em diversos projetos envol- nossa posição no mercado brasi-
de resultados precisos no controle de
xarope.
vendo sistemas de supervisão e leiro”, afirma Eduardo Lima.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 7


Atual Notícias

Introdução à Automação e à Robótica


“Automação de Sistemas e Robó- dução à automação, controle de
tica” é um livro para introduzir o sistemas, interfaceamento, transdu-
leitor em um segmento de cres- tores e atuadores empregados em
cente importância e aplicação na Robótica, mecanismos de transmis-
indústria moderna. As diversas áreas são de potência, robôs manipulado-
que abrangem o estudo da Robó- res e sistemas de visão.
tica incluem Eletrônica, Informática, O autor é engenheiro eletrônico e,
Mecânica, Física e Matemática. O desde 1993, é coordenador do Labo-
trabalho, elaborado por Fernando ratório de Robótica do Instituto de
Pazos, aborda principalmente os Tecnologia ORT do Rio de Janeiro,
conceitos da Robótica aplicada à onde projetou e desenvolveu diver-
indústria, estuda a estrutura dos sis- sos robôs e sistemas automatizados
temas automatizados, seu compor- controlados por computador, além
tamento, seus componentes básicos, de interfaces e programas com fins
elementos e dispositivos utilizados, didáticos. Ministra cursos de exten-
além de programas simples de con- são sobre Controladores Lógicos
trole de sistemas. Programáveis no COPPE (UFRJ) e
Em cada capítulo são aborda- é colaborador da revista “Mecatrô-
dos os seguintes tópicos: intro- nica Atual” desde outubro de 2001.

Rockwell realiza “Complete Automation” e divulga metas


Repetindo a filosofia do evento De acordo com Talanskas, a estra- Hoje, a Rockwell possui especia-
passado - Integração com autono- tégia para alcançar os números acima listas por funcionalidade de cada
mia - a Rockwell Automation reali- citados é alavancar a base instalada produto. Também foram nomeados
zou mais uma edição do Complete elevando o conhecimento para o ERP engenheiros de vendas que coor-
Automation, evento que reuniu 12 (sistemas de gestão). Bem, na prática, denam as vendas nacionais por
laboratórios práticos direcionados a significa que, cada vez mais, a Rockwell cliente. Nesse sentido, dois enge-
usuários das indústrias de processo terá soluções para facilitar o trâmite de nheiros coordenam as vendas
e manufatura. “É a integração inde- informações entre o chão-de-fábrica e nacionais de produtos Rockwell
pendente”, diz Danilo Talanskas, os níveis gerenciais de seus clientes. para a Petrobrás e a Companhia
presidente da subsidiária brasileira. Uma dessas soluções foi lançada Vale do Rio Doce. Por ano são
“As unidades têm autonomia na no ano passado. Trata-se de um contro- investidos no Brasil US$ 2 milhões
condução dos negócios, mas traba- lador lógico que possui um módulo XM em produto e treinamento.
lham como um todo para o cliente”. para permitir a entrada para dados de O presidente da Rockwell não
Essa filosofia também serviu para manutenção. Além disso, a Rockwell soube informar quanto a empresa
que a Rockwell desenvolvesse pro- também tem direcionado fortes investi- cresceu na indústria de processo,
dutos para o cliente ter mais liber- mentos para a área de software com a após ter obtido licença para fabri-
dade para construir ou modificar compra de várias empresas. car produtos na tecnologia Foun-
sistemas de automação. É o caso do Outra estratégia da empresa é dation Fieldbus. “Temos uma meta
ControlLogix, sistema que combina investir mais no capital humano interno que não pode ser divulgada na par-
controle seqüencial, de processo e para ter um diferencial no mercado. ceria com a Smar”.
de posição junto com comunicação
de entrada e saída de sinais. O Con-
trolLogix foi uma das ênfases dadas
pela Rockwell nos laboratórios utili-
zados pelos usuários.
A multinacional americana apre-
sentou também suas metas para a Talanskas (à esquerda) ao
parte de Serviços. Em nível mun- lado do americano Michael
Johnston, diretor de Marke-
dial, o objetivo é ter 25% da receita ting para a América Latina.
proveniente dessa área, hoje, essa
cota é de 12%. Na subsidiária brasi-
leira, o setor de serviços responde
por 30% da receita. .

8 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


...Soluções Atual

Problemas e
Soluções

Problema de comunicação em Rede Modbus RS-485


Paulo César de Carvalho
3 V para equipamentos que estão na diferença de referência dos drives
Este problema ocorreu em uma mesma rede. RS-485. A solução, neste caso,
rede modbus de uma usina hidrelé- Comparando com os valores de será preferencialmente evitar mis-
trica no momento da implantação da D+/ terra dos MGEs, comprovei que turar, na mesma rede, hardwares
rede em campo. Para explicar o que a diferença do D+/ terra dos single diferentes. Quando isso não for
aconteceu, vejamos a arquitetura loops era da ordem de 1 V. Transferi possível, verificar antecipada-
da rede, na figura 1, no momento os single loops para a rede dos mente a compatibilidade entre eles
da implantação em campo do sis- MGEs no canal “A” e todos os dis- com a medida da tensão D+ em
tema. positivos comunicaram-se normal- relação ao terra e D- em relação
A rede modbus RS-485 do canal mente. ao terra com o mestre sem comu-
“A”, formada por 9 medidores de nicação, conforme procedimento
grandezas elétricas, todos do Conclusão descrito anteriormente. Este pro-
mesmo fabricante, funcionava nor- cedimento deve ser feito alimen-
malmente. A rede do canal “B” Apesar do protocolo de comuni- tando-se todos os dispositivos
apresentava taxas de erro muito cação de todos os equipamentos ser com a mesma tensão utilizada em
elevadas e praticamente não havia modbus e a forma de ligação ser campo.
comunicação. Para esta rede obser- a mesma (RS-485 a 2 fios), poderá
vei que, quando somente as UTRs haver incompatibilidade elétrica
ou somente os single-loops esta- entre hardwares diferentes devido à Figura 1 - Rede MODBUS na
vam conectados, a rede operava implantação do sistema.
normalmente. Constatei que havia
alguma incompatibilidade entre o
hardware das UTRs e o hardware
das single-loops e passei a investi-
gar o motivo de tal fato.
Para descobrir o que estava
ocorrendo, reprogramei a placa-
mestre modbus para interromper
a comunicação do canal “B” e, a
seguir, desconectei todos os dis-
positivos escravos conectados à
rede e, na seqüência, conectei um
de cada vez. Para cada dispositivo
conectado, media a tensão da linha
“D+” para a terra e “D-” para a
terra. Anotei todos os valores e
também fiz a mesma coisa para os
dispositivos do canal “A”. Verifiquei
que o grupo das UTRs apresentava
valores semelhantes de D+/ terra.
Porém, no grupo das single-loops,
a diferença entre estes valores era
maior que 3 V e, tipicamente, esta
diferença não pode ser maior que

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 9


Atual Problemas e...

Defeito em contatores...Contatos e contatos!


Alaor Mousa Saccomano
Sobretensão e impulsos à total danificação dos contatos,
O segundo grande grupo de de tensão passando pela sensível diminui-
possíveis defeitos em contatores ção da vida útil, são os mais
se relaciona aos contatos. Estes Muitas vezes têm-se, nos circuitos diversos efeitos ocorridos pelo
estão sempre submetidos a forças e redes, variações de tensão, em desrespeito às categorias de
de impacto e deformação, além de alguns casos ocasionadas por baixo emprego (IEC 947).
manobras de carga que geram altos fator de potência, mas na maioria das
arcos voltaicos. vezes por oscilações e picos de tensão. Curto-Circuito
O poder de ação de um contato Essas variações provocam no circuito
se deve basicamente à geometria de força sobrecorrentes que supera- A soldagem dos contatos (cola-
do mesmo e à composição de suas quecem os contatos, levando conse- mento) é provocada pelo aumento
ligas, que podem ser na maior parte qüentemente à queima dos mesmos. repentino da corrente nos mesmos.
dos casos: AgNi, AgCdO ou AgSnO2 Em alguns casos, pode-se ter tran-
além, é claro, da presença de cobre Falta de fase ferência de material entre os conta-
(Cu) sobre os mesmos. Continuare- tos fixo e móvel. Dimensionando-se
mos nossa análise observando os Se ocorrer falta de uma das fases o fusível corretamente, com cer-
principais defeitos encontrados em do motor energizado por um contator, teza este problema é evitado, pois
contatos. ele tenderá a continuar seu movi- ele atuará nos momentos de falha
mento, provocando a sobrecarga das de curto-circuito e sobrecorrente
Subtensão ou intermitência de fases restantes e a conseqüente excessiva.
alimentação na bobina queima dos contatos ligados nas fases
sobrecarregadas. Fim da vida elétrica-mecânica
Na ocorrência de tensões baixas Pode-se evitar este tipo de pro- ou vida útil
ou variação dos valores nominais de blema através de um adequado dimen-
alimentação, provoca-se a diminui- sionamento dos sistemas de proteção, Nesta situação, os contatos de
ção da capacidade de “atracamento” basicamente fusíveis retardados. força soldam-se, impedindo a aber-
do contator. Com o enfraquecimento tura do circuito. Isto ocorre devido
da ação de contato entre os conta- Má conexão ao envelhecimento e desgaste dos
tos fixos e móveis, devido à falta de mesmos. A troca do contator se faz
força magnética na bobina, há uma Parafusos, quando apertados com então necessária (figura 2).
acentuada elevação das correntes torque abaixo do especificado, pro-
do circuito de força do mesmo, pro- vocam o mau contato das conexões
vocando a queima dos contatos. que se tornam sujeitas ao aumento da Queima dos contatos
Erros de dimensionamento, ca- resistência de contato, levando à dis-
Cabeçote móvel intacto
bos muito longos e problemas de sipação térmica nos mesmos - conta-
distribuição são constantes causas tos, parafusos, arruelas e terminais. A
deste defeito. queima ocorre lenta e gradualmente
(veja figura 1), com a descoloração
Figura 1 - Queima de terminal visível das partes envolvidas. Esses
mal conectado. defeitos podem ocorrer no circuito de
Danificação da parte externa
força ou de comando. Manutenções
do contator preventivas, com reaperto dos termi-
nais baseados em valores de torque
corretos, evitam este problema.

Erro de dimensionamento
quanto a categoria de emprego
Queima do
terminal mal A falta de observação quanto Figura 2 - Fim da vida útil.
conectado ao limite de corrente, número de
manobras por hora e valores de
corrente conforme a carga estabe-
lecida, é uma grande fonte para
os mais diversos defeitos em con-
tatos de contatores: do colamento

10 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


...Soluções Atual

Problema com ferramenta posicionadora


José Ricardo da Silva
o deslocamento de uma esteira para do programa), o sistema confirma
Foi solicitado ao setor de fer- a outra. Como resolver isto? O sis- a posição do atuador semi-rotativo
ramentaria de uma empresa, a tema em questão era comandado por através dos sensores de fim-de-
construção de um dispositivo de CLP e com uma simples alteração no curso. Sabendo em que posição o
transferência de peças obedecendo programa o problema foi solucionado. atuador se encontra, a válvula dire-
as seguintes condições, mostradas Pedi mais detalhes sobre o funcio- cional é acionada para confirmar a
na figura 1: namento do dispositivo e fui infor- posição do atuador, sem produzir
- Retirar a peça da esteira 1; mado que, no fim do expediente, o nenhum movimento, pressurizando
- Colocar a peça na esteira 2; atuador rotativo podia ficar parado assim a câmara que terá o ar de
- Possibilidade de parar na posi- tanto na esteira 1 quanto na esteira 2. escape controlado durante o pri-
ção intermediária; Com base nesta informação, fizemos meiro movimento. Um timer garante
- Distância entre o centro da a seguinte alteração no programa: o tempo necessário para que a
esteira 1 e o centro da esteira 2: 1,2 Utilizando um flag de inicialização pressão de trabalho seja alcançada
m; (“contato” interno do CLP que é ati- na câmara, antes de habilitar a par-
- Peso da peça 0,820 kg. vado somente na primeira varredura tida do sistema.

O problema

Sempre no início do dia, o pri-


meiro movimento do sistema era
feito com violência, sem a ação
das válvulas controladoras de fluxo.
Foram realizadas várias tentativas
de ajuste na velocidade através das
válvulas controladoras de fluxo sem
sucesso.
A parte do circuito que apre-
sentou problema (representada na
figura 2), estava em perfeito estado:
um atuador semi-rotativo com vál-
vulas controladoras de fluxo que
regulam a velocidade do atuador,
comandado por uma válvula direcio-
Figura 1 - Condições
nal de três posições, sendo a posi- do dispositivo.
ção de centro fechada para parada
intermediária, a posição com as
setas paralelas deslocando o atua-
dor para esteira 1 e a posição com as
setas cruzadas deslocando o atua-
dor para a esteira 2. Foram também
instalados amortecedores hidráuli-
cos nos finais de curso para absor-
ver o impacto gerado pela inércia do
movimento.
A regulagem é feita por meio do
estrangulamento do ar de escape
durante o movimento a ser contro-
lado. Neste caso, depois de horas
com o sistema parado, as câmaras
de ar do atuador que estavam blo-
queadas pela posição central da vál-
vula direcional, perdiam pressão e,
no dia seguinte, no primeiro movi- Figura 2 - Parte do
mento, não havia ar pressurizado circuito que
nas câmaras para permitir a ação da apresentou problema.
válvula controladora de fluxo durante

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 11


Atual Reportagem

Evoluções
da Eletropneumática

F
ruto de um refinamento da Sérgio Vieira
tecnologia pneumática, a
eletropneumática está ade-
quando-se às novas formas de comu-
nicação em chão-de-fábrica e, em
cada novo produto, procura acom- projetos nessa tecnologia que foram
panhar os avanços que rondam o empregados na fábrica da Audi, em
mundo da automação industrial. De São José dos Pinhais (PR).
acordo com Celso Vicente, presidente A eletropneumática é empregada o uso de equipamentos elétricos. É
da Câmara Setorial de Equipamentos no mercado tanto por usuários finais o caso das áreas classificadas, ou
Hidráulicos, Pneumáticos e de Auto- como por desenvolvedores de máqui- áreas de segurança intrínseca, onde
mação da Abimaq - Associação Bra- nas e equipamentos. De acordo com o risco de explosão deve ser próximo
sileira das Indústrias de Máquinas e Vicente, ela possui uma área de de zero.
Equipamentos as principais mudan- aplicação muito bem definida, não Enquadram-se como áreas de
ças da eletropneumática acontecem havendo assim, uma concorrência tão segurança intrínseca as termelétricas
muito mais do lado da eletrônica que acirrada no mercado. “Geralmente, a gás natural ou bagaço de cana, cen-
da pneumática propriamente dita. quando se usa a pneumática está tros de produção de botijões de gás,
Ele cita como exemplo a incorpo- se buscando um custo menor, mas caldeiras, tanques de armazenamento
ração da eletropneumática às redes também com menor precisão nas de combustível, etc. A Petrobras, por
de comunicação digital em chão-de- paradas. Já a hidráulica tem custo exemplo, possui vários projetos de
fábrica: Profibus, DeviceNet, Interbus, mais alto, mas possui maior força automação de áreas classificadas e
Asi-Bus e outras. A partir dessa inte- motriz e melhor precisão”, diz Vicente, não abre mão da tecnologia pneumá-
gração novos campos se abriram para que também é gerente de marketing tica.
a velha e conhecida pneumática, assim da Divisão Automation da Parker Han- É importante lembrar que a pneu-
como para as próprias redes de con- nifin.. mática (acionada por solenóide) ou
trole digital. Para Vicente é importante Apesar de todo o refinamento de a eletropneumática (acionada por
que a comunidade técnica entenda controle presente em sistemas digitais comando elétrico) são bastante robus-
essas evoluções da tecnologia pneu- ou da precisão encontrada em equi- tas e tornam-se insensíveis a vibra-
mática e observe como ela também pamentos hidráulicos, a automação ções e golpes de ações mecânicas do
acompanha as evoluções da mecânica pneumática é, ainda hoje, indispensá- próprio processo. Podem ser empre-
e da hidráulica. “Temos visto incorpo- vel em várias partes da indústria. Ela gadas em ambientes agressivos onde
ração de várias funções da eletrônica”, é empregada, inclusive, em áreas crí- há a presença de poeira, oscilações
complementa Ana Cláudia Fukushiro, ticas onde deve-se evitar ao máximo de temperatura, umidade e até sub-
responsável pela área de marketing mersão em líquidos (quando proje-
da Festo Automação. tada corretamente). A pneumática traz
“A comunicação eletropneumática ainda vantagens quanto à facilidade
em fieldbus tem mais de dez anos”, de operação e manutenção de seus
lembra Daniel Ribeiro Gonçalves, componentes.
gerente da Divisão Pneumática da Assim como as demais tecnolo-
Bosch Rexroth. Assim como Vicente, gias, a pneumática também traz suas
ele considera uma evolução impor- limitações. Entre elas destacam-se
tante porque a pneumática acompanha as altas velocidades, a difícil obten-
todas as tecnologias desenvolvidas no ção de velocidades uniformes e para-
ambiente fieldbus. É o caso das fer- das intermediárias e limite de pressão
ramentas de diagnóstico que possibi- máxima de 1723,6 kPa. Basicamente,
litam saber o status de instrumentos existem quatro métodos de constru-
pneumáticos. ção de circuitos pneumáticos: intuitivo,
Ainda no campo da comunicação, minimização de contatos (seqüência
a eletropneumática, recentemente, mínima), maximização de contatos
também passou a se comunicar em (cadeia estacionária) e circuito lógico.
Celso Vicente: “Eletropneumática possui
redes de fibra ótica. Segundo Daniel área de aplicação bem
Em um circuito, a parte pneumática
Gonçalves, a Bosch Rexroth já possui definida.” representa o acionamento das partes

12 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Reportagem Atual

mecânicas, enquanto o circuito elé- responsável pelo controle de tráfego, cativas aconteceu quando as válvu-
trico representa a seqüência de são permitidas apenas comunicações las passaram a ser montadas em
comandos dos componentes pneu- ponto-a-ponto entre mestre e escravo, trilho Din adequando-se ao padrão
máticos para que as partes móveis ou ponto a multiponto também no de montagem encontrado na indús-
das máquinas ou equipamentos apre- modo mestre/escravo. tria. “Cada vez mais, os produtos
sentem os movimentos finais deseja- Mas, apesar da novidade interes- estão caminhando para uma modu-
dos. sante, os usuários deverão esperar laridade”, diz a gerente de marke-
pelo menos uns três anos para ver a ting da Festo.

EM SINTONIA COM O FUTURO “Geralmente, quando se usa a pneumática está


Já não é de hoje que o mundo se buscando um custo menor, mas também com
caminha para a eliminação de cabos,
seja lá onde eles estiverem instalados.
menor precisão nas paradas. Já a hidráulica tem
No ambiente de chão-de-fábrica não custo mais alto, mas possui maior força motriz e
poderia ser diferente. Sendo assim,
é comum encontrar equipamentos
melhor precisão”
comunicando-se em uma célula atra-
vés de cabos e enviando dados para tecnologia empregada a todo vapor. “A A parte física da pneumática
salas de controle pelo sistema wire- curto prazo, a tecnologia wireless em também passou a contar com novos
less. Só para citar um exemplo, esta pneumática não deverá vingar”, com- componentes de vedação, o que
realidade já é presente em vários pro- pleta Daniel Gonçalves, lembrando permitiu aumentar a vida útil de
jetos das empresas de saneamento, que a Bosch Rexroth possui várias válvulas bidirecionais. Lançadas no
onde, as estações elevatórias comu- pesquisas nessa área, principalmente, Brasil, há dez anos, as placas cerâ-
nicam-se com os centros de opera- no que diz respeito à confiabilidade micas aparecem como alternativa
ções via wireless. de dados. A Festo Automação infor- aos carretéis de aço e plástico. São
Com a eletropneumáutica não mou que não possui conhecimentos consideradas menos suscetíveis a
poderia ser diferente e os primeiros sobre a aplicação de rede wireless em ambientes agressivos e encontram
equipamentos com envio de sinal em eletropneumática, mas que na matriz grande aplicação nas indústrias de
wireless já começam a aparecer no alemã deve haver pesquisas sobre o alumínio, papel e celulose e side-
mercado. Diferentemente dos CLPs assunto. rurgia. As válvulas com isolação
e das IHMs, que incorporaram o pro- Embora aconteça de forma mais cerâmica são mais caras que as
tocolo 802.11, a eletropneumáutica tímida que a elétrica, a parte física convencionais e, talvez por esse
vai aparecer no mercado de auto- da pneumática também passa por motivo, são pouco conhecidas no
mação comunicando-se através do mudanças. Uma das mais signifi- Brasil.
protocolo Bluetooth, padrão de curto A válvula proporcional de pressão
alcance e baixo custo. Com essa é outro exemplo do avanço na parte
tecnologia, os usuários industriais física da pneumática. Através de um
de eletropneumática poderão criar sinal entre 0 e 10 volts, é possível
redes com até oito dispositivos inter- obter uma pressão proporcional ao
ligados, sendo um deles o mestre e sinal enviado. Hoje, em geral, o usuá-
os outros os escravos. Geralmente, rio emprega as válvulas on/off que
nas aplicações com Bluetooth várias permitem deixar um circuito pneu-
redes independentes e não sincroni- mático com ou sem pressão. A novi-
zadas podem se sobrepor ou existir dade pode fazer com que a tecnologia
na mesma área. Um sistema dis- pneumática ganhe mais espaço nas
perso chamado scatternet é res- indústrias de processo, desde que
ponsável pela reunião de várias seja associada a equipamentos mecâ-
redes sobrepostas onde um grande nicos.
número de dispositivos podem se Para Ana Cláudia, da Festo, cada
comunicar. vez mais, os usuários de eletropneu-
No que diz respeito a colisões de máutica devem ter produtos com
dados, a eletropneumáutica deverá tecnologia acoplada (cilindro e vál-
sair beneficiada por comunicar-se na vula), o que pode representar uma
tecnologia Bluetooth. É que cada grande redução de espaço e custos
canal desse protocolo está associado com manutenção. A tendência bene-
a uma espécie de “sub-rede” e é ficia, principalmente, os fabricantes
identificado pela seqüência de fre- de máquinas e equipamentos que
qüências e pelo relógio do disposi- sempre estão objetivando reduzir o
tivo mestre. Como esse dispositivo é Arquitetura Bluetooth. tamanho de seus produtos.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 13


Atual Manutenção

Manutenção
de Servomotores Augusto Ottoboni*

Globalização, redução de custos de fabricação, dinâmica, precisão


de posicionamento, baixa manutenção ou simplesmente melhoria dos
processos de fabricação. São inúmeras as razões pelas quais se tem
adotado a utilização dos servomotores síncronos e assíncronos trifá-
sicos na indústria nacional.
Cada vez mais capacitado, o profissional técnico das indústrias
não se assusta mais com esta tecnologia e muitos já se aventu-
ram em sua utilização sem nenhum grau de arrependimento. Por
outro lado, muitas são as dúvidas que ainda persistem na cabeça
destes profissionais, principalmente os de manutenção, pois é jus-
tamente ali que o contato se torna mais freqüente e nada amigável.
Neste artigo, levantamos algumas das dúvidas mais freqüentes com que
os profissionais de manutenção se deparam em seu dia-a-dia no campo.

1. O vazamento de óleo para o assíncrono trifásico. A circulação de desmontá-lo e retirar o rotor. Verifi-
servomotor pode prejudicar o fun- corrente elétrica em seu estator pro- cando a parte externa do rotor e a
cionamento? Como? voca o aparecimento de um campo parte interna do estator, é possível
eletromagnético com sentido, direção constatar se há ou não marca de
Muitos servomotores estão conec- e intensidade. Este campo se opõe ao curto-circuito (arco voltaico). Este é
tados diretamente a redutores mecâ- campo magnético existente no rotor, o sinal mais forte de baixa isolação,
nicos e caixas de transmissão (figura criado a partir de ímãs colados de ou seja, se a quantidade de óleo que
1). Este procedimento auxilia a efi- forma linear e simétrica sobre o rotor. penetrou no servomotor foi suficiente
ciência do conjunto, pois minimiza o Quando há vazamento do redutor ou para degradar a isolação do mesmo.
número de acoplamentos. caixa de transmissão para o servo- Caso seja constatada a presença
Porém, o servomotor necessita motor e a quantidade de óleo é insu- de tais sinais (normalmente têm as-
estar preparado para este procedi- ficiente para comprometer o funcio- pecto de queima), significa que houve
mento, tendo um anel de retenção na namento do servo, não há problema. rompimento da isolação do verniz do
ponta do seu eixo de saída para, assim, Mas, como saber se a quantidade de estator e, por conseqüência, curto-cir-
poder evitar que este óleo, presente óleo presente internamente no motor cuito para massa (terra); este curto-
tanto no redutor como na caixa de não o danificou? circuito gera um arco voltaico de
transmissão, passe para o seu interior. Primeiramente, sempre que houver alta corrente que além de danificar o
O servomotor tem o mesmo prin- a presença de óleo no interior do estator, também desmagnetiza o ro-
cípio de funcionamento do motor servomotor, haverá a necessidade de tor naquela região. Muitas empresas
tentam recuperar tanto estator quanto
rotor, sem sucesso.

2. Como saber se um rotor já tra-


balhou por muitos anos e avaliar se
ele tem condições de uso ou não?

Caso seja constatado, visualmente,


excesso de oxidação, lâminas de
ímã descoladas, aspecto de desgaste
(atrito com alguma parte do motor),
F.1 Servomotor sícrono + presença de sinais que normalmente
redutor planetário. têm aspecto de queima, isso significa
que o rotor se encontra em condições

14 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Manutenção Atual

danosas ao funcionamento do servo- 1. Desenergize o servomotor; servomotor. É aconselhável encami-


motor. Porém, nada como colocá-lo 2. Com o motor completamente nhar o equipamento para pessoal
em funcionamento para efetivamente montado (estator + rotor), deixe o ser- especializado.
testar suas reais condições. Este teste vomotor bem fixo na bancada;
requer alguns cuidados. 3. Segure a ponta de eixo do ser- 5. Umidade constante no servo-
Lembre-se: os servomotores pos- vomotor e tente girá-lo em qualquer motor: o que pode ocasionar nas
suem uma relação de fluxo eletromag- sentido (obviamente este teste vale peças?
nético (tensão/freqüência) diferente da para pequenos servomotores).
fornecida pela rede convencional de Basicamente, oxidação nas partes
alimentação trifásica das concessio- Nos servomotores de pequeno metálicas, degradação na fita que reco-
nárias de energia elétrica, graças a porte é possível girar o eixo e sentir bre os ímãs do rotor e deterioração do
sua bobinagem especialmente con- certa dificuldade no movimento devido verniz isolante do estator, levando à
feccionada para proporcionar maior à mudança de polaridade, já nos ser- redução da vida útil do servomotor.
dinâmica ao sistema. vomotores de grande porte, este movi- Nos casos onde houver a necessi-
Portanto, nada de alimentar o ser- mento não é possível devido à alta dade de utilizar o servomotor em con-
vomotor diretamente à rede trifásica, intensidade de campo magnético. dições de extrema umidade, deve-se
ele poderá queimar-se. Mas, e se na Em qualquer outra circunstância especificar o equipamento com grau
plaqueta de identificação do servomo- onde houver certa facilidade no girar de proteção IP65 (próprio para estas
tor estiver marcando 220V trifásico de do eixo, significa que este rotor está situações).
alimentação? A relação de fluxo ele- com campo magnético deficiente e,
tromagnético da rede de alimentação portanto, com algum problema. Veja 6. Em quais aplicações, é reco-
é a seguinte: na figura 2 um servomotor em corte. mendável o uso de servomotores
com grau de proteção IP65?
∅ = V = 220 = 3,67 4. Quando a fita envolvente dos
ƒ 60 ímãs está com alguma parte que Normalmente, máquinas-ferramen-
roçou na carcaça, o que pode impli- ta e operatrizes, ou seja, de usinagem
A relação de fluxo eletromagnético car no seu funcionamento? em geral, utilizam servomotores para
fornecida ao servomotor pelo servo- deslocamento de eixos, mesas e fusos.
conversor é totalmente diferente e não Este desgaste da fita pode identifi- Os processos de usinagem exigem
linear. Isto ocorre para possibilitar a car um possível problema mecânico no dinâmica e precisão (posição e rota-
extrema dinâmica e torque a que está equipamento (rolamento danificado, ção), mas também necessitam de flui-
sujeito o servomotor. Então, deve-se desalinhamento, tampa deslocada, dos refrigerantes em suas ferramentas
fazer os testes através de um servo- eixo empenado, etc...). Solucionado de corte. Este fluido vaporiza-se em
conversor apropriado. o problema, deve-se verificar visual- determinadas situações da usinagem
mente se na região onde havia o des- fazendo com que o ambiente de traba-
3. Como avaliar se a intensidade gaste da fita envolvente, há algum lho do servomotor se torne agressivo
de campo magnético dos ímãs do dano nos ímãs (deslocamento, trinca, em termos de umidade.
estator está adequada ou não? etc...). Qualquer destas situações con- Empresas do ramo alimentício e
dena o rotor. de bebidas também têm um alto índice
Esta avaliação necessita de equi- Descolamento de ímã do rotor de umidade, nestes casos também é
pamento específico, o que não é pode significar que o servomotor aconselhado a utilização de grau de
possível na maioria dos casos. Os ser- sofreu um sobre-aquecimento ou proteção IP65 ou maior.
vomotores novos, ainda na linha de algum impacto do rotor com o estator.
produção, passam por um teste num Não é aconselhável tentar colar 7. Para que serve o “resolver”?
equipamento chamado de freio ele- o ímã novamente, pois, este é um
tromagnético ou dinamômetro, e nele processo automático e o processo O resolver é um gerador de sinais
é verificado seu torque nominal com manual pode gerar outros danos ao analógicos (figura 3) que fornece
seu rotor bloqueado.
Nos casos tradicionais (a maioria
deles) onde não se dispõe de ins-
trumentos específicos para medição,
e justamente onde queremos chegar,
também se pode estimar, de forma
simples, a intensidade de campo mag-
nético dos ímãs. Avaliar esta intensi-
dade requer um pouco de habilidade
e experiência, mas nada fora do
comum.
O procedimento para a avaliação é
o seguinte: F.2 Servomotor em corte.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 15


Atual Manutenção

em certos casos, a solicitação de pes-


soal especializado para avaliar a apli-
cação e redimensionar o sistema.

12. A altitude influencia no com-


portamento do servomotor?

Da mesma forma que no motor


F.3 Sinal analógico gerado pelo resolver. assíncrono trifásico convencional, o
comportamento do servomotor acima
ao servoconversor a condição de ava- ção de um servomotor similar e, após de 1000 metros do nível do mar sofre
liar a velocidade e o posicionamento as ligações, conectá-lo ao servocon- alterações. Quanto mais alto, menor
do servomotor. Seu funcionamento é versor para ver se não gera falha. é a quantidade de oxigênio presente
similar ao encoder digital, com a van- Normalmente, o servomotor possui na atmosfera (mais rarefeito fica o ar).
tagem de resistir melhor às vibrações, apenas três terminais de ligação (U,V, Assim, o servomotor deve trabalhar
alta temperatura e umidade. W), portanto, o problema reside na com potência reduzida e limitada a
ligação entre servomotor e servocon- operar a no máximo 4000 metros de
8. “Resolver” - quais os defeitos versor, o ideal é manter a relação U-U, altitude (veja figura 5).
mais comuns? O que pode provo- V-V e W-W, para manter a seqüência
car um destes defeitos? de fases correta.

O “Resolver” é um dos geradores 11. Qual temperatura ideal de


de sinais mais resistentes, tanto em trabalho para o servomotor?
sua mecânica, quanto em sua estru-
tura elétrica. Normalmente, os defeitos A temperatura ambiente ideal é
mais comuns são oriundos de proble- de 40 C. Porém, os servomotores
mas na ligação entre o servomotor e síncronos não têm grandes proble-
o servoconversor: mas com temperatura e, portanto,
- Inversão dos canais de sinal não necessitam de ventilação para
(A+B); auxiliar na refrigeração. Para tempe-
- Cabo de sinal inadequado (impe- raturas acima de 40 C é possível tra-
dância muito alta); balhar utilizando potência reduzida.
- Deslocamento do ponto zero do Observe na figura 4 o gráfico Potên-
resolver: este acontece quando pes- cia x Temperatura.
soal não habilitado retira o resolver na A ventilação forçada em servomo-
desmontagem do servomotor (nunca tores serve para poder retirar mais
retire o resolver!). torque do que o nominal de plaqueta. F.5 Gráfico Potência x Altura.
Portanto, numa situação de manuten-
9. Como medir a resistência do ção onde a substituição do servomo- CONCLUSÃO
servomotor? tor se faz necessária, é imprescindível
a substituição do servomotor por outro As respostas aqui apresenta-
O servomotor tem alimentação tri- com as mesmas características ou,
das para estas perguntas, com
fásica (fornecida pelo servoconversor)
e pelo princípio de funcionamento de certeza, não resolvem 100% dos
motores trifásicos (quaisquer) há a casos encontrados no campo,
necessidade de um balanceamento porém, servem de procedimen-
entre suas fases. Este balancea- tos a serem seguidos para
mento faz com que o valor de resis- eliminar possíveis causas de futu-
tência entre as bobinas do servomotor ros problemas. Estas respostas
possua valores de resistência bem
foram elaboradas em conjunto
próximos entre si. A medição é reali-
zada sempre entre duas fases e atra-
com experientes especialistas
vés de um ohmímetro. de Engenharia, Manutenção e
Assistência Técnica que viven-
10. Como identificar a ligação ciam situações como estas diaria-
do motor quando há perda da placa mente. n
de bornes ou danos?

O ideal (e também mais rápido) é


*Augusto Ottoboni é consultor técnico pleno
através da comparação com a liga- F.4 Gráfico Potência x Temperatura. da SEW Eurodrive.

16 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

Desmitificando
a visão artificial nas
aplicações industriais
Ronei Rossetti*
Gilberto Jana**
que a quantidade de informação a ser
armazenada é extremamente grande,
Como entender visão artificial sem compará-la com a visão real? o que exige do controlador altíssima
Imagine a visualização de um objeto através de uma câmera e que velocidade de processamento, sendo
seja possível armazenar a imagem capturada por ela. Se pudermos esse um dos aspectos determinantes
interagir com essa imagem que é, na verdade, um retrato fiel do objeto, da velocidade de resposta do sistema.
As aplicações de sistemas de visão,
fazendo verificações de conformidade de forma extremamente veloz,
geralmente, trabalham numa veloci-
entenderemos melhor o que vem a ser a visão artificial: um super dade total (captura, armazenamento,
sensor. processamento e resultado) de 30
milissegundos (~1/30 segundo).
Pode-se encontrar no mercado,
sistemas de visão que utilizam um
computador como controlador, outros

A
s aplicações industriais temas coloridos requerem interpreta- possuem controladores que podem ou
para a visão artificial ção mais complicada). Suponhamos não estar embutidos numa câmera.
vieram com os equipa- também que cada pixel tenha uma Estes últimos possuem a vantagem de
m e n t o s denominados sistemas resolução de 8 bits, ou seja, cada um ter entradas e saídas digitais incorpo-
de visão ou verificadores de imagem. deles possa diferenciar até 256 tons radas, o que elimina a necessidade de
Esses equipamentos permitem a veri- de cinza. Teremos então uma quanti- equipamentos adicionais. Nesse caso,
ficação da imagem de um produto dade total de pixels a serem analisa- o próprio controlador pode comandar
comparando-a com um padrão e das de 22 x 22 = 484, vezes 8 bits diretamente os outros equipamentos
obtendo uma resposta “sim” ou “não”. por pixel, dando no total 3872 bits de que fazem parte do processo. Também
Como toda tecnologia nova, as primei- informação a ser armazenada no con- há no mercado controladores mais
ras soluções com sistemas de visão trolador ou computador, dependendo robustos que podem controlar, simul-
eram grandes, caras e difíceis de pro- do sistema usado. taneamente, dois sistemas de visão
gramar. Só eram utilizadas em situa- Embora não exista regra geral, os artificial, o que resulta em redução de
ções onde nenhum outro recurso tinha vários tipos de câmera aplicados em custo.
a mínima possibilidade de dar certo. sistemas de visão possuem um sensor Outro aspecto importante é quanto
Um conjunto básico para um sis- CCD com uma quantidade de pelo ao método de programação do con-
tema de visão consiste apenas de menos 480 colunas por 480 linhas. trolador, pois, isso pode ser um fator
uma câmera e um controlador (veja Usando o exemplo citado percebe-se complicador na hora da implantação
figura 1), dispensando, em muitos
casos, até mesmo o computador e o
monitor (o controlador pode ser mon-
tado dentro do painel da máquina).
Embora haja vários tipos de câme-
ras, as mais usadas são do tipo CCD
(Charged Coupled Devices), normal-
mente num substrato de silício, que
consiste basicamente de um sensor
que converte sinais luminosos em elé-
tricos. O sensor CCD é distribuído F.1 Conjunto básico para
como uma matriz, sendo que cada uma solução com sistema
parte é chamada pixel. de visão.
Observando a figura 2, vamos
supor que a pastilha seja empregada
numa câmera com possibilidade de
visualizar apenas tons de cinza (sis-

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 17


Atual Dispositivos

tado no local da aplicação. Esse traba-


lho deve ser desenvolvido em conjunto
com o fornecedor, visto que sua implan-
tação requer tempo e recursos, e uma
informação incompleta poderá compro-
meter toda a eficácia da aplicação.

APLICAÇÕES

Devido à grande redução de custo


que os equipamentos para inspeção
visual sofreram nos últimos tempos, o
F.2 Exemplo de um sensor CCD 22x22. F.3 Análise do contorno de uma peça. número de aplicações tem aumentado
substancialmente. O emprego tem
do sistema. Alguns equipamentos per- técnica e econômica da aplicação. ocorrido, principalmente, em situações
mitem a desconexão de periféricos Algumas vezes, o custo da ilumina- onde o ser humano se cansa rapida-
após a alteração no programa. Entre- ção chega a superar o custo do pró- mente de tarefas repetitivas Exemplo:
tanto, alguns sistemas requerem o prio equipamento de verificação da observar se o rótulo de uma embala-
auxílio de um computador auxiliar imagem. Existem alguns equipamen- gem está bem posicionado; presença
conectado. tos de verificação de imagem que de objeto estranho no interior de um
Durante a escolha do equipamento propõem correções dos problemas vasilhame, data de validade de produ-
deve ser observada ainda a facilidade decorrentes de má iluminação atra- tos (reconhecimento de caracteres).
na alteração de parâmetros, quanti- vés de algoritmos, porém, isso só Esse tipo de inspeção vem sendo
dade de programas residentes e quan- é verdade em casos muito específi- feito tanto em processos contínuos
tidade de características possíveis de cos, não sendo regra geral, nem algo como aplicações tipo “pick and place”,
serem avaliadas em cada programa. milagroso, que permita a estabilidade onde o resultado da posição de uma
Como a quantidade de informa- desejada. peça obtido pelo sistema de visão é
ção a ser processada é muito grande, Com base em tudo o que foi exposto passado para o manipulador que vai
devem existir recursos que permitam até aqui, fica claro que este tipo de até o local exato para pegá-la.
uma otimização do controlador durante equipamento precisa não só ser cri- As possibilidades de aplicação são
a captura da imagem. Um exemplo teriosamente escolhido, como também muitas e os equipamentos estão cada
é mostrado na figura 3 onde o inte- ensaiado em laboratório e, depois, ajus- vez mais sofisticados. Aplicando-se
resse é apenas analisar o contorno da esta tecnologia é possível obter pro-
peça. Nesse caso, o controlador pode cessos de fabricação de produtos com
detectar bordas ou fronteiras, des- muito mais qualidade.
prezando outras características como
área, posição, baricentro, etc.

A ILUMINAÇÃO

Como o sistema de visão é muito


rápido e a captura da imagem a ser
analisada é feita por uma câmera, o
ambiente, mais especificamente, a ilu- F.4 Iluminações para sistema de visão
minação, é de suma importância. Som-
bras e outras interferências podem
comprometer a repetibilidade das aná-
lises e tornar o sistema instável. A
iluminação deve ser criteriosamente
analisada em ensaios laboratoriais
antes de qualquer possibilidade de
especificação do conjunto. Veja, na
figura 4, alguns exemplos de ilumi-
nações utilizadas com sistemas de
visão. *Gilberto Abrão Jana Filho é gerente de
Representando a parte mais com- engenharia da Metaltex.
plicada do sistema, a iluminação pode, *Ronei Rossetti é engenheiro de aplica-
por si só, determinar a viabilidade ções da Metaltex.

18 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Atual Notícias
Automação

Comparação de
sistemas com motores de passo
e servomotores Jeff Kordik*

Os sistemas com motores de passo e servomotores são usados do servomotor possuem um prêmio
igualmente em aplicações de controle de movimento de alta perfor- de U$ 399. Tipicamente, os sistemas
de servo de mesma potência custam
mance e alta precisão. Essas aplicações incluem a automação indus- mais do que os sistemas de motores
trial, equipamentos semicondutores, biotecnologia, jogos e muitos de passo.
outros usos. O mercado total para tais dispositivos supera US$ 1 Na tabela 2 fornecemos a potên-
bilhão por ano. cia contínua máxima de cada sis-
tema. O motor de passo tem sua

C
om motores de passo e sistindo em um servomotor A100 e um potência de pico em 900 rpm, onde
servos competindo nas apli- drive programável BLU100-Si. Esse o torque é de 0,78 N.m. A potência é
cações, como pode o con- sistema 2 é mostrado na figura 2. o produto da velocidade pelo torque,
sumidor decidir qual é o melhor? A O BLU100-Si inclui todos os recursos ou seja:
maioria já deve ter ouvido que moto- programáveis do 3540i mais alguns
res de passo “são mais econômicos” outros relacionados com servos.
e que os servos “são mais rápidos”. A tabela 1 apresenta a lista de
Para fazer uma escolha inteligente, preços dos sistemas 1 e 2, assim onde V é a velocidade em rpm e T
devemos analisar o problema mais como outros sistemas que discuti- é o torque em N.m.
profundamente. Este artigo examina remos posteriormente. O servo-drive A potência de pico do servo é de
os destaques, pontos fortes e fracos custa U$ 200 mais do que o drive 3000 rpm, muito maior do que a do
dos sistemas com servos e motores de motor de passo e os comandos motor de passo. Isso pode ser ou
de passo. Nós também comparamos, não ser bom. Se a aplicação requer
em detalhes, um sistema real de cada torque elevado em baixa velocidade,
tipo e avaliamos sua conveniência
para uma aplicação.

PREÇO E PERFORMANCE

Para comparação, escolhemos


dois sistemas na mesma faixa de
potência: 70 - 100 watts. Ambos, moto- HT23-400
HT23-397
res de passo e servos, exigem ele-
HT23-394
mentos eletrônicos de controle, de
F.1 Motores de passo e drive de 140 W.
modo que também os incluímos na
comparação. O sistema 1 usa um mo-
tor de passo HT23-400 e um driver pro-
gramável 3540i. O 3540i inclui um
amplificador e um controlador que
pode ser programado pelo usuário
para operar sozinho ou receber
comandos de um PC hospedeiro, PLC
ou outro tipo de computador. Esse dri-
ver pode ser ligado em rede para
aplicações multi-eixo usando RS-485
ou ainda um Hub SiNET Motion
Control Network. O sistema de moto-
res de passo é mostrado na figu-
ra 1. Para comparação escolhemos
um sistema de servo de 100 W con-

20 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

uma redução de 3:1 da caixa de redu-


F.2 Servomotores e driver de 100 W. ção, a velocidade de saída na carga
está limitada a 1000 rpm contínuos e
1666 rpm de pico.
Outra solução para o problema do
torque em baixa velocidade é empre-
gar um servomotor maior como o
A200. Este deve requerer também
um drive maior, o BLU200-Si (veja
A800 A400 tabela 1 para o preço e figura 4
A100
A30 para a foto do drive). Mesmo com
um drive mais caro, o sistema 4,
na verdade, custa menos que o sis-
tema 3 - o que usa a cabeça de
redução.
Como visto na tabela 3, o torque
de saída do A200 é de apenas 0,64
N.m, o que pode ser suficiente. Moto-
res de passo podem ser operados com
um aumento da margem de torque
em comparação aos servos porque
eles podem apresentar uma redução
então o servo vai exigir o uso de de torque devido à ressonância. Um
reduções para “adequar a velocidade motor de passo de 0,99 N.m pode não
para o torque”. Os servos, geral-
mente, têm menor torque que os
motores de passo de mesma potên-
cia, mas podem rodar mais rapida-
mente.
A figura 3 ilustra um gráfico do
torque versus a velocidade para o
motor de passo HT23-400 e o ser-
vomotor A100. Também incluímos um
servo maior, o A200, para uma finali-
dade que ficará clara brevemente.
Vamos considerar uma aplicação
prática. Se o sistema roda a 300 rpm, T.1 Preço dos componentes e sistemas.
então o motor de passo leva uma van-
tagem clara. Em 300 rpm, o HT23-400
tem um torque de 0,99 N.m. O servo
A100 tem apenas 0,32 N.m. O único
modo de fazer com que o servo con-
siga ter maior torque é acrescentar
uma redução de 3:1 como no sis-
tema 3. Isso aumenta a saída de 300 T.2 Comparação de potência.
rpm do A100 em 3x. Com isso, o
A100 pode produzir um torque de 0,95
N.m, quase o mesmo que o motor de
passo. A tabela 3 compara os valores
de torque.
Mas, o sistema 3 custa US$ 1533,
comparado com US$ 481 do motor
de passo. Além disso, a redução
apenas faz o preço do servo piorar.
Além disso, se o sistema exige qual-
quer necessidade de alta veloci-
dade, como uma “aceleração rápida”,
o A100 com redução não pode
alcançá-la. O A100 está limitado a
3000 rpm e 5000 rpm de pico. Com F.3 Torque versus velocidade para 3 sistemas.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 21


Atual Notícias
Automação

rpm proporcionando torque total neste


caso.
Começamos a formular alguns limi-
tes para ao quais cada tipo de motor
deve ser aplicado. Em 300 rpm o sis-
tema de motor de passo tem torque
superior e melhor preço. Em 3000 rpm
o sistema de servo domina, apesar do
preço maior. Em 1800 rpm, o motor de
passo tem maior torque para o preço,
mas outros fatores jogam em favor do
servo. Vejamos esses fatores.

T.3 Comparação de torque. ACELERAÇÃO

operar provavelmente em 0,64 N.m, o Para processos de alta veloci-


que significa que o A200 deve ganhar dade, não importa tanto o torque
a competição. ou a velocidade, mas sim o tempo
E se a aplicação exigir uma ope- do ciclo. Para produzir muitas peças
ração em 1800 rpm? Analisando o rapidamente, devemos ter o movi-
gráfico da figura 3, podemos ver que mento mais rápido ponto a ponto. Isso
o torque do HT23-400 em 1800 rpm depende da aceleração. Os movimen-
é de 0,35 N.m. O A100 só pode con- tos rápidos são freqüentemente 50%
seguir isso com uma cabeça de redu- de aceleração e 50% de desacelera-
ção. Mas, obter o mesmo torque por ção, e apenas uma pequena parcela
mais dinheiro não é o que a maioria de tempo em velocidade constante.
dos usuários pretende. O sistema Esses movimentos são denominados
A200 proporciona 2x o torque para “triangulares” porque o gráfico veloci-
2,6 x o custo, e isso não é bom, dade x tempo se assemelha a um tri-
a não ser que outros fatores sejam ângulo.
considerados. Vamos analisar esses Se pudermos aumentar a taxa de
fatores. aceleração de um movimento trian-
Se a aplicação requer 3000 rpm, gular, o tempo de movimento dimi-
então os servos devem dominar. nuirá significativamente. A aceleração
Tomando um motor de passo para F.4 200 Watt Servo Drive. é determinada pelo torque do motor
rodar em 3000 rpm é difícil e arris- dividido pela inércia. Quando a inér-
cado. Os servos rodam bem em 3000 cia é dada em g.cm2 e o torque em

T.4 Comparando torque, inércia e aceleração.

22 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

N.m, podemos calcular a aceleração Se a velocidade visada é 1800 rpm, g.cm2. Estes números são apenas
em rpm/s da seguinte forma: então estamos limitados a 0,35 N.m, para comparação. Num sistema real
e então a taxa de aceleração torna-se não é desejável que estes valores
37,983 rpm/s. O sistema 2 de servo de aceleração sejam encontrados,
A100 tem apenas 42 g.cm2 de inér- porque assumem que todo o torque
cia, de modo que ele não precisa de é aplicado na aceleração. Num sis-
muito torque para acelerar uma carga tema real, algum torque é usado
Quando se calcula a taxa de acele- leve. Então, a taxa de aceleração do para vencer o atrito. Além disso, você
ração, inércia e torque devem ser leva- servo é baseada no torque disponí- deve deixar uma certa margem de
dos em conta, e os servos têm uma vel (0,32 N.m) e na inércia total de torque.
inércia muito menor do que os moto- 442 g.cm2. O servo alcança 300 rpm E o que acontece se a carga for
res de passo. Considere uma aplica- em 0,003 segundos, muito próximo maior? Fizemos alguns cálculos com
ção onde a inércia de carga é 400 do motor de passo, e alcança 1800 uma carga de 2000 g.cm2. Agora o
g.cm2. O motor HT23-400 tem uma rpm em aproximadamente metade do sistema é dominado pela inércia da
inércia de 480 g.cm2, dando um total tempo do motor de passo. A acelera- carga, e então os servos perdem a
de 880 g.cm2. A aceleração máxima ção do motor de passo até 1800 rpm sua vantagem de “torque para inér-
até 300 rpm, para o motor de passo será: cia”, como pode ser visto na tabela 5.
é:

DESTAQUES E COMPLEXIDADE

Ainda em relação ao assunto da


inércia da carga, é um bom momento
para discutir alguns destaques espe-
ciais dos servos. Os servos são,
Enquanto que a aceleração do por natureza, do tipo “closed loop”.
e para o servomotor na mesma servo até 1800 rpm será: O motor e/ou a carga devem estar
rotação: conectados para fornecer uma reali-
mentação precisa. Usualmente, isso é
feito por um encoder óptico ou resol-
ver. Esse dispositivo de realimentação
informa ao controlador onde o motor
e a carga estão durante todo o tempo.
Eles também proporcionam informa-
ções sobre a velocidade. Os sistemas
A tabela 4 mostra a relação de motor de passo também podem
Podemos alcançar 300 rpm em tempo e velocidade para os quatro empregar um encoder para realimen-
aproximadamente 0,003 segundos. sistemas com uma carga de 400 tação, mas não da mesma forma.

T.5 Acelerando uma carga maior.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 23


Atual Notícias
Automação

De fato, o 3540i pode utilizar um enco- A adição de caixas de redução Os servos podem ser sobre-exci-
der como opção. Sistemas baratos de ajuda consideravelmente, porque a tados de modo a aumentar o torque.
motores de passo baseados em enco- inércia da carga, quando “refletida” Eles podem suportar tipicamente cor-
der não são usualmente “servos”, para o motor através das engrenagens rentes até 3 vezes maiores que a
mas pode-se verificar que o motor é proporcional ao quadrado da taxa corrente nominal de modo a ajudar
não se paralisa ou sofre interferências de redução. Uma caixa de redução de a vencer variações inesperadas de
na posição desejada por uma força 3:1 reduz a velocidade do motor em carga ou para se obter uma acelera-
externa. 3x, e reduz a inércia refletida em 9x. ção rápida.
Os sistemas de servo ajustam Assim, o sistema 2 de motor A100,
constantemente os sinais de vê uma inércia de carga de 2000/9 =
comando baseados em realimenta- 222 g.cm2. A relação deve ser 222/42 POSICIONAMENTO FINO
ção do motor. Isso permite aos servos = 5,3:1, o que é excelente.
superarem distúrbios inesperados e O motor A200 tem um tamanho Devido ao fato de que eles empre-
serem automaticamente compensa- maior do que o A100 assim, sua inér- gam realimentação e loops sofisti-
dos contra ressonância. Eles são efi- cia também é maior. A relação de inér- cados de controle, os servos bem
cientes, usando apenas a energia cia do A200 com uma carga de 200 ajustados operam de uma forma mais
que a carga precisa para ser movida. g.cm2 é de 2000/200 = 10:1. fina do que os motores de passo. Eles
E são também, geralmente, silencio- Servos têm ainda vantagens adi- possuem menor variação de torque e
sos dada a distância entre a resso- cionais em relação aos motores de menor variação de velocidade. Para
nância e o uso eficiente da potência. passo devido a sua natureza de comparação, programamos o sistema
Mas os servos precisam ser ajus- “closed loop”. Por exemplo, a cor- 1 e o sistema 2 para operação em três
tados para o loop de controle e rente pode ser monitorada como uma velocidades diferentes: muito baixa
as condições de carga. Um sistema medida da carga. Se o sistema sofrer (10 rpm), baixa (300 rpm) e rápida
típico de servo usa um loop de posi- carga, o atrito e a corrente aumentam. (1800 rpm). Medimos as variações de
ção PID (Proporcional, Integral, Deri- Um sistema de servo pode detectar velocidade usando um tacômetro ana-
vativo). Além disso, existem muitos isso e alertar o operador de manuten- lógico de precisão e um osciloscópio
parâmetros de realimentação e exci- ção. A velocidade instantânea e erros digital. O resultado dos testes apa-
tação que têm de ser usados nos de posição também podem ser infor- rece na tabela 6. O servo teve uma
cálculos. Os sistemas de motores mados. Além disso, um servomotor performance muito melhor do que o
de passo são populares não apenas pode ser “desligado” enquanto o enco- motor de passo nas baixas velocida-
pelo baixo custo, mas também por der permanece ligado. Dessa forma, des, especialmente nas muito baixas
que eles são simples de entender e se o operador movimentar a carga, como 10 rpm. É importante ter o
empregar. o drive ainda continua sabendo onde servo apropriadamente ajustado ou
Existem limites para todos os siste- ela se encontra. um aumento do ripple de velocidade
mas de controle de servos. Um deles Os servos podem ser operados no pode ocorrer.
é a relação de inércia. Tradicional- modo de torque, o que é útil em aplica-
mente, os fabricantes dos drives de ções tais como a vedação de garrafas,
servos recomendam um limite de 10:1 colocação de parafusos e tensiona- PRECISÃO
para a relação carga inércia do motor. mento de fios. Os motores não podem
Muitos drives modernos podem manu- manusear aplicações onde se neces- Dado que o servomotor possui
sear maiores relações, especialmente sita de torque constante. um dispositivo de realimentação como
com comutação senoidal e recursos
de feed forward. Mas os limites ainda
se aplicam. O sistema 2 com uma
carga de 2000 g.cm2 deve ter um
casamento de inércia de 2000/41 = 47
ou 47,6:1. Isso pode afetar a estabili-
dade.

T.6 Ripple de Velocidade. F.5 Precisão de posicionamento de um sistema com motor de passo.

24 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

um encoder, deve-se esperar que ele “médio”, o que pode afetar a agudeza Mas, mesmo os servos não são per-
tenha um posicionamento mais pre- e a precisão de funcionamento. feitos. Eles podem posicionar dentro
ciso. Se apropriadamente ajustado, Para poder desenhar uma curva de uma margem de ±1 contagem
ele pode ficar numa faixa de ±1 da comparativa, programamos os siste- da posição comandada se o sistema
contagem do encoder na posição mas 1 e 2 para passos vagarosos estiver ajustado apropriadamente. Os
comandada. Porém, um ajuste pobre quando acoplados a um encoder servomotores A100 têm um encoder
pode levar a uma “oscilação” onde óptico de alta resolução. de 800 contagens por revolução. Isso
o motor se move, forçando o enco- As leituras do encoder foram com- significa 360/8000 = 0,045 graus, o
der a uma contagem onde ele deve- paradas com a posição ideal do motor que quer dizer que devemos esperar
ria estar parado. de tal forma que o erro pode ser cal- uma precisão melhor do que ±0,045.
Os sistemas de motor de passo culado. Usamos a opção de encoder A figura 5 mostra isso. Assim, o
são normalmente open loop, o que do 3540i para conectar um encoder servo tem aproximadamente metade
significa que eles aplicam corrente de 120 000 cont/ver a um PC para do erro de um sistema de motor de
aos enrolamentos do motor e espe- coletar os dados. passo em laço aberto sem compen-
ram que as leis da Física façam o Os resultados estão plotados nas sação.
resto. Previsões sobre as caracte- figuras 5 e 6. O sistema com motor Isso compensa o custo adicional
rísticas do motor são feitas, espe- de passo tem um padrão cilíndrico de um sistema de servo? Somente se
cialmente torque x deslocamento, que se repete quatro vezes por ciclo precisão for necessária. Por exemplo,
quando o driver do motor é proje- elétrico (200 vezes por rotação do suponha que estes motores sejam
tado. Mas, os motores variam sensi- eixo). Isso sugere que as tabelas usados para movimentar uma carga
velmente de um modelo para outro, de passo do drive podem ser ajus- num movimento linear acompanhado
devido às diferenças entre as geo- tadas para compensar os erros. de um movimento de parafuso. Se o
metrias do circuito magnético (forma Em situações especiais os fabrican- passo do parafuso é de 5 mm por
do dente, força do ímã, air gap, por tes algumas vezes fornecem tabelas volta, o erro do motor de passo será
exemplo). Os drivers standard como especiais para determinados tipos de de ±10 graus, e o erro linear será:
o 3540i são vendidos para diferentes motor de modo a se obter a perfor-
consumidores e podem ser usados mance ótima na aplicação.
com motores diferentes. Isso signi- É neste ponto onde o feedback é
fica que o projetista deve calcular útil. O driver “sabe” se o motor está
as tabelas de passo para um motor fora de posição e pode corrigir isso.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 25


Atual Notícias
Automação

também ocupa metade do espaço,


se você não precisar de uma cabeça
de redução. O A200 pesa quase o
mesmo que o motor de passo e
produz o dobro da potência. Clara-
mente, os servomotores são meno-
res que os motores de passo de
potência equivalente.
Deve ser notado que os motores
de passo muito pequenos são meno-
res que os servos porque eles não
necessitam de um encoder. Enquanto
os motores podem ser reduzidos para
tamanhos menores e menores potên-
cias, os encoders têm limites, pois a
roda de codificação eletrônica impede.
F.6 Precisão de posicionamento de um sistema com servo motor. Para tamanhos menores que 40 mm,
o encoder torna-se uma porcenta-
O servo tem metade do erro, observar na tabela 7, o tamanho da gem significativa do tamanho total do
ou 700 mícrons. O usuário precisa eletrônica dos servos difere muito motor.
perguntar: “quanto de erro eu pre- pouco da eletrônica dos motores de
ciso?”. passo. O drive BLU100-Si é mais
leve que os outros porque ele usa os CONCLUSÃO
mais modernos e eficientes transis-
TAMANHO E PESO tores MOSFETs, que não precisam Discutiu-se que as vantagens pri-
de dissipadores de calor. Para apli- márias dos motores de passo são:
O mundo está ficando menor. cações portáteis um peso menor é - torque elevado em baixas veloci-
O hardware para controle de movi- importante. dades;
mento precisa encolher também, de Na tabela 8 comparamos o tama- - baixo custo;
modo a caber nele. Os servos têm nho e a massa dos motores. O motor - simplicidade.
uma vantagem em muitas aplica- A100, que tem uma potência similar Os servos também podem ser
ções porque os motores são meno- à do motor de passo, é bem mais usados onde o seu custo alto é justifi-
res e mais leves. Como podemos leve: 0,5 kg versus 1,0 kg. O A100 cado por:
- torque em altas velocidades;
- tamanho compacto e peso redu-
zido;
- precisão e agudeza;
- controle em laço fechado.

Depois de avaliar estes aspec-


tos das aplicações no controle de
movimento, uma decisão inteligente
pode ser feita resultando numa per-
formance desejada por um custo
mínimo. Para aqueles que leram este
T.7 Tamanho e peso da eletrônica do . artigo esperando uma clara vitória
dos motores de passo em relação
aos servos, nós só podemos dizer
que o vencedor é...você, o leitor,
porque tem muitas possibilidades de
escolha no mercado de controle de
movimento, permitindo-lhe escolher
o melhor equipamento para sua apli-
cação.

*Jeff Kordik é especialista em software


e desenvolvedor de novos produtos da
Applied Motion Industries.
T.8 Tamanho e peso de motores. Tradução: Newton C. Braga

26 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Energia Atual

Imunidade a interferência
por radiofreqüência
Osmar Brune*

RFI (Radio Frequency Interference) é um sério problema de falhar em campos da ordem de 0,1
EMI (Electromagnetic Interference) para equipamentos eletrônicos V/m, embora isto seja bem menos
comum.
modernos, que pode ser causado por transmissores de alta potên-
Infelizmente, muitos ambientes típi-
cia (broadcast, comunicações ou radar), e também por transmisso- cos têm campos variando de 0,1 V/m
res de baixa potência (rádios portáteis, celulares). Nem sempre o a 100 V/m, portanto os problemas
transmissor mais potente causa o maior problema. Um transmissor podem ocorrer, e de fato ocorrem. A
de baixa potência, a um metro da “vítima”, pode causar problemas tabela 1 mostra alguns níveis típicos.
Felizmente, campos elétricos mais
bem maiores do que um transmissor de broadcast (rádio, TV) a um elevados surgem somente próximos
quilômetro de distância. dos transmissores. A intensidade do
campo elétrico é função da potência

A
do transmissor (P), do ganho da
o mesmo tempo, recep- aumentar a menos que precauções antena (A) e da distância da antena
tores de rádio ou TV sejam tomadas. Uma destas precau- (d). Uma fórmula simples para prever
também são vulneráveis ções é executar os projetos de equipa- rapidamente o pior caso do campo
à poluição de RFI causada por com- mentos eletrônicos para que alcancem elétrico (E) é:
putadores próximos. Tais receptores a imunidade adequada para o ambiente
devem retirar baixíssimos níveis de em que devem ser utilizados.
potência de um espectro de RF den- Sistemas construídos com semi-
samente ocupado, e converter essa condutores (estado sólido) são par- Onde E é dado em Volts/metro, P
27 energia em informação útil (rádio, TV, ticularmente vulneráveis a RFI. Até em Watts e d em metros. A fórmula
imagem de radar, etc.). pequenos níveis de tensão induzida assume que a fonte é isotrópica (irra-
O primeiro problema é de imuni- podem perturbá-los. Circuitos analógi- dia igualmente para todas as dire-
dade, isto é, a suscetibilidade de equi- cos com sinais de baixa potência são ções) e que o receptor está no campo
pamentos eletrônicos falharem devido particularmente vulneráveis, assim distante (1,5 metros a 30 MHz, ou
a RFI. O segundo problema é de emis- como circuitos de fontes de alimenta- apenas 5 cm a 1 GHz). A fórmula fun-
são não intencional de radiofreqüên- ção como reguladores. Mas, circuitos ciona especialmente bem para walkie-
cia. digitais também podem ser perturba- talkies portáteis e celulares. Nestes
Este é o terceiro artigo de uma dos, se os níveis de ruído forem sufi- casos, o ganho da antena pode ser
série sobre EMI. No primeiro artigo da cientemente altos. aproximado para 1.
série (EMC e EMI: Compatibilidade e Projetistas de equipamentos mili- Aplicando a fórmula, observa-se
Interferência Eletromagnética) foram tares já estão acostumados a colocar que um transmissor com potência
abordados os conceitos básicos de a imunidade a RFI como objetivo pri- efetiva (P.A) de 1 W produz 5,5 V/m
EMI e EMC. No segundo artigo, foram mordial, uma vez que quase todos a 1 metro de distância, o que pode
analisados distúrbios no fornecimento esses equipamentos devem passar causar problemas. Por outro lado, um
de energia. E nesta edição, analisare- por testes de suscetibilidade a RF. transmissor de 10 kW a 1 km de
mos o problema da imunidade a RFI. Da mesma maneira, equipamentos distância produz um campo de 0,55
A questão do controle de emissões de automotivos requerem testes bastante V/m.
RFI será tratada em um artigo poste- rigorosos. Mas nas demais áreas,
rior. A leitura dos artigos anteriores é esta abordagem está sendo recém-
recomendada para melhor compreen- iniciada.
são de alguns conceitos citados neste
artigo.
Todo equipamento eletrônico é uma NÍVEIS DE FALHAS
vítima potencial da energia de RF
de transmissores próximos. Transmis- Sistemas eletrônicos não protegi-
sores podem variar de alta potência dos falham freqüentemente ao serem
até rádios portáteis ou celulares. Com submetidos a campos elétricos entre
a atual proliferação de produtos de 1 V/m e 10 V/m, ou maiores. Alguns
RF, estes problemas certamente vão sistemas muito sensíveis podem até T.1 Níveis típicos de RFI.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 27


Atual Energia

MODOS DE FALHAS TÉCNICAS DE aumentar a robustez bem próximo


PREVENÇÃO do dispositivo mais crítico. Também
O modo de falha principal é a CONTRA RFI deve-se colocar filtros nas linhas de
retificação, que pode resultar num entrada e saídas externas.
offset DC (para fontes de RF de nível Uma dica é aumentar a robustez O uso de ferrites e de placas de cir-
constante) ou num componente AC dos circuitos mais críticos, que fun- cuito impresso multilayer geralmente
demodulado (para fontes de RF modu- cionam como “antenas escondidas”. também é eficaz.
ladas). No último caso, seu sistema Como mencionamos anteriormente, Circuitos analógicos merecem
está se comportando como o famoso os receptores mais vulneráveis são atenção especial. Embora operem
rádio de cristal. Portanto, é essencial estágios analógicos de baixa potência em baixa freqüência, são vulneráveis
bloquear a energia de RF antes que e reguladores de fontes de alimenta- a RF de alta freqüência retificado. É
ela seja retificada, este é um conselho ção. interessante inserir ferrites e peque-
que não deve ser esquecido. Outra técnica é suavizar estas nos capacitores de alta freqüência
Os circuitos mais vulneráveis são antenas escondidas, que tanto podem bem próximos destes circuitos. Os
os analógicos de baixo nível de potên- ser cabos, como descontinuidades circuitos analógicos mais críticos são
cia, como pré-amplificadores. Altos da blindagem funcionando como os que trabalham com menor nível de
níveis de RF têm potência compará- antenas de fendas (slot antennas). potência, e freqüentemente também
vel aos níveis do sinal normal, e são Geralmente, cabos são as antenas os que ficam mais próximos da fron-
amplificados para os estágios poste- predominantes em freqüências a- teira do equipamento com o mundo
riores. baixo de 300 MHz, mas em freqüên- externo. Porém, há casos em que o
Por exemplo, em certos casos cias maiores, fendas e até placas segundo e terceiro estágios também
pode-se ouvir rádios na faixa do cida- de circuito impresso podem se tornar merecem atenção, pois alguma parte
dão (27 MHz) em aparelhos de tele- antenas eficientes. da energia de RF pode passar pelo
fone ou amplificadores de áudio, Você pode refinar esta distinção primeiro estágio e ser amplificada por
que funcionam na faixa de kHz, e não com uma regra popular chamada de ele.
na faixa de MHz. Em sistemas de “regra de 1/20 comprimento de onda”, Muitos sensores analógicos
controle industrial, sensores ana- que diz que qualquer cabo ou fenda modernos (de temperatura, strain
lógicos (ex: pressão, temperatura) com dimensões superiores a 1/20 do gauges, e outros) incorporam circui-
podem sofrer flutuações severas se comprimento de onda pode ser uma tos ativos no sensor. Desta maneira,
tais ruídos forem retificados nos está- antena eficiente. A 100 MHz, isto sig- o primeiro estágio de amplificação
gios analógicos com baixo nível de nifica 15 cm. A 1 GHz, apenas 15 pode estar longe do sistema principal.
potência. mm. Nestes casos, é necessário aumen-
Circuitos digitais, por outro lado, tar a robustez nas duas pontas de
são mais suscetíveis a outros tipos Proteção no Nível um sistema interligado por um cabo:
de ruído que não RFI, tais como “gli- do Circuito o sensor e o receptor. Isto é mostrado
tches” no fornecimento de energia, na figura 1.
ESD e outros fenômenos que produ- Uma boa proteção contra RFI Observe algumas técnicas pratica-
zam pulsos falsos. Entretanto, com começa no nível do circuito. Deve-se das nestes circuitos da figura 1:
níveis de RF suficientemente altos, cir-
cuitos digitais também podem sucum-
bir. Raramente problemas ocorrem
abaixo de 10 V/m. Todavia, devido à
tendência a dimensões reduzidas e
tensões de operação também reduzi-
das, os níveis de imunidade tendem a
cair. Os sintomas são comportamen-
tos bizarros, tais como parada dos
programas ou corrupção da memória.
A retificação de RF em circuitos
de potência, como reguladores, nor-
malmente se mostra através de pro-
blemas nos circuitos digitais. A tensão
de alimentação pode aumentar além
dos limites, causando comportamento
digital bizarro. Ao perceber um pro-
blema gerado por RF num circuito
digital, é interessante primeiro inves-
tigar o comportamento das fontes de
alimentação, para depois verificar o
resto dos circuitos. F.1 Proteção para circuitos analógicos.

28 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Energia Atual

- desacopla-se todas tensões de ali-


mentação dos chips analógicos com
capacitores de alta freqüência;

- coloca-se filtros de alta freqüência


(capacitores de alta freqüência +
ferrites) em todas as linhas que
entram ou saem do equipamento;

- a referência também recebe filtros


de alta freqüência, se não estiver
aterrada.

Reguladores de potência tam-


bém merecem atenção especial. F.2 Proteção para reguladores.
Falhas nestes circuitos aparecem
como falhas digitais, mas alguns 50 MHz, sua indutância e resistência à utilização de placas multi-layer por
poucos capacitores bem colocados são muito baixas. Acima de 500 MHz, serem mais caras. Entretanto, pro-
podem resolver estes problemas. a capacitância dos terminais permite blemas de alta freqüência como RFI
Reguladores são dispositivos com a passagem de altas freqüências. Fer- normalmente requerem técnicas de
realimentação, portanto qualquer rites SMD (Surface Mounted Devices) projeto de alta freqüência.
offset causado por RF (DC ou modu- podem funcionar bem na banda de Estas melhorias em placas multi-
lado) pode afetar a tensão de saída. GHz, pois não têm terminais expos- layer se devem a dois efeitos. Pri-
Se estes níveis ultrapassarem os tos. Como regra, uma bead tem impe- meiro, reduz-se as áreas de loop entre
valores limites de uma alimentação dância da ordem de 50 a 100 Ω em trilhas de sinal e alimentação, que
para um sistema digital, os efeitos 100 MHz, e alguns poucos ohms em podem atuar como pequenas antenas
são imprevisíveis. Uma técnica fre- 1 MHz. Além disso, a energia de RF não intencionais. Segundo, obtém-se
qüentemente recomendada é colocar indesejável é dissipada na ferrite na uma impedância de terra menor, o que
capacitores de 1000 pF diretamente forma de calor, ao invés de ser des- diminui a amplitude do ruído sobre a
na entrada e saída de reguladores, viada para outro ponto do circuito. referência de terra.
tanto lineares como chaveados. Isto Alguns cuidados devem ser toma-
pode ser observado na figura 2. dos ao utilizar ferrites. Primeiro, tenha Proteção em Cabos
Circuitos digitais podem ser afe- certeza de utilizar ferrites EMI, ao e Conectores
tados por RFI, mas dificilmente com invés de ferrites de baixa perda.
níveis menores que 10 V/m. Portanto, Segundo, utilize-os em um circuito Quanto mais alta a freqüência,
se você está projetando para o mer- de baixa impedância para alta fre- maior deve ser a qualidade dos cabos
cado comercial (3 a 10 V/m) e obser- qüência. Capacitores shunt (deriva- e conectores. Cabos atuam como
var uma falha digital devido a RFI, ção para o terra) de 100 a 1000 antenas não intencionais (tanto recep-
provavelmente trata-se de uma falha pF funcionam bem para propiciar toras como transmissoras) para ener-
em reguladores. esta baixa impedância, mas deve-se gia de RF. Conectores propiciam fuga
Circuitos de entrada e saída, na manter os terminais dos capacitores não intencional de (e para) a blin-
periferia do equipamento, devem uti- curtos para diminuir indutâncias para- dagem do cabo, e maus conectores
lizar filtros de alta freqüência como síticas dos mesmos. Terceiro, cuidado podem transformar um ótimo cabo em
primeira linha de defesa. O objetivo com a saturação, que pode ser pro- ineficiente.
é isolar o sistema eletricamente dos vocada por correntes DC ou de baixa Cabos e conectores devem ser
cabos que agem como antenas não freqüência. Normalmente, pequenas considerados como um sistema, e
intencionais. Lembre-se que filtros ferrites são adequadas para 100 a não individualmente. Uma analogia
de alta freqüência geralmente devem 500 mA, e beads com o tamanho de útil é uma mangueira de jardim. Sua
cobrir uma ampla faixa de freqüên- um resistor de 2 W são adequadas conexão à torneira, e também entre
cia, entre 10 kHz e 1 GHz. Para tanto, de 5 a 10 A. a mangueira e a conexão, são tão
geralmente necessitam dois ou três Placas de circuito impresso multi- importantes como o material da man-
estágios cascateados em série. Esta layer são outras armas efetivas contra gueira em si. A melhor mangueira
análise sobre filtros EMI foi feita no RFI. Já houve casos em que a imuni- do mundo vaza se a conexão não
artigo anterior, a respeito dos distúr- dade cresceu 10 vezes ao mudar de é boa. O mesmo acontece com
bios no fornecimento de energia. uma placa de 2 camadas para outra de cabos e conectores para problemas
Ferrites (ou beads) são muito úteis 4 camadas. A imunidade cresce inclu- de RFI. Seguem-se algumas reco-
para aumentar a imunidade a RFI (e sive para circuitos de baixa freqüên- mendações:
também para ESD e emissões). Fer- cia, como circuitos de áudio ou de - Use blindagem de alta qualidade
rites para EMI são mais efetivas na instrumentação. Muitos projetistas de acima de 10 MHz. Acima desta fre-
faixa de 50 MHz a 500 MHz. Abaixo de sistemas analógicos são resistentes qüência, fugas tendem a ocorrer atra-

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 29


Atual Energia

vés da blindagem. Neste caso, deve-se cionam como antenas. A melhor situ- veis e a suas referências de terra.
utilizar malhas de alta cobertura, ação é uma linha de retorno de terra Problemas de RF freqüentemente são
ou malhas sobre folhas metálicas. para cada sinal. observados em sistemas onde filtros
Somente folhas metálicas poderiam de EMI são conectados a referência
ser utilizadas, mas uma ruptura pode- Técnicas de de terra do sinal, ao invés de no terra
ria provocar fugas, portanto, malhas Aterramento do chassis (quando estes 2 terras são
sobre folhas são preferíveis; para RF isolados entre si).
- Use conectores de alta quali-
dade. Este conselho é bom para qual- A indutância é um grande vilão para Técnicas de Blindagem
quer freqüência, mas particularmente o aterramento de RF. Muitos enge- para RF
acima de 10 MHz. O objetivo é prover nheiros se preocupam com a resistên-
cobertura de 360o na junção entre cia do aterramento, e se esquecem da A maior parte dos sistemas de alta
a blindagem do cabo e o chassi do indutância. Como regra geral, um fio velocidade necessitam de alguma
equipamento. Cada junção não deve circular possui uma indutância própria blindagem, no mínimo para controlar
oferecer fugas (blindagem do cabo de 10 nH por cm. Para a maior parte emissões irradiadas. Se você precisa
ao conector, conector a conector, e dos fios, a reatância indutiva predo- alcançar imunidade na faixa de 1 a 10
conector ao chassi); mina sobre a resistência em freqüên- V/m até 1 GHz, é complicado fazê-lo
- Se não é possível blindar, filtre. cias acima de 10 kHz. A 100 MHz, a sem blindagem. Felizmente, a menos
Para cabos que transportam sinais de indutância reativa é diversas ordens que você tenha de cumprir especifi-
até 1 MHz, filtragem pode ser utilizada de magnitude maior do que a resis- cações militares, 30 a 60 dB de efi-
normalmente ao invés de blindagem. tência. cácia da blindagem geralmente são
A 1 MHz, o comprimento de onda Um meio de reduzir a indutância suficientes (atenuações entre 30 e
é de 300 m, portanto a maior parte é utilizar uma tira metálica larga e 1000 vezes).
dos cabos não funciona como boas grossa ao invés de um fio circular. Materiais de baixa espessura são
antenas. A filtragem, mesmo, assim Em teoria, um plano infinito seria o adequados para blindagem. Finas
é necessária para evitar que freqüên- melhor, mas do ponto de vista prá- coberturas condutivas proporcionam
cias mais altas entrem ou saiam do tico é a relação de aspecto (com- blindagem efetiva na faixa de RF
sistema através dos cabos. Pequenos primento para largura) que importa. entre 10 kHz a 10 GHz e acima.
filtros de alta freqüência compostos Uma relação de 3 para 1 é recomen- Folhas de alumínio proporcionam 90
de ferrites e de capacitores de bypass dável. dB de blindagem nesta faixa de fre-
funcionam bem. Mantenha os termi- O local mais adequado para ater- qüência. Pinturas metálicas de níquel
nais destes componentes curtos, e rar é próximo dos pontos de entrada ou cobre de baixa espessura propor-
conecte os capacitores de bypass ao e saída no chassi. Esta técnica cionam 40 a 60 dB, e deposição ele-
terra do chassis, não ao terra do cir- ajuda a manter a integridade da blin- trolítica proporciona 80 dB ou mais.
cuito (a menos que estes dois terras dagem e minimiza correntes de modo Isto pode ser utilizado em chassis
sejam comuns). Coloque estes filtros comum no cabo, desviando-as para feitos de plástico, na parte interna
o mais próximo possível dos conec- o chassi. dos mesmos.
tores para minimizar a captação do Se você deve aterrar sua placa Às vezes pode ser necessário uti-
ruído por trilhas ou fios do equipa- num ponto único, faça-o o mais pró- lizar chapas de aço para blindar. Blin-
mento. Ainda melhor, use conectores ximo possível dos conectores de dagens finas são ineficientes para
com filtros embutidos montados dire- entrada e saída. Esta técnica geral- campos magnéticos de baixa freqüên-
tamente no chassi; mente é necessária para sistemas cia, tais como os provocados por
- Não esqueça dos cabos inter- analógicos, nos quais laços de terra fontes de alimentação ou circuitos
nos. Cabos internos ao equipamento de baixa freqüência são um problema de deflexão magnéticos. Neste caso,
também são antenas não intencio- sério. você precisa de chapas de aço gros-
nais. Cuidado com a rota destes Para placas de alta freqüência ou sas ou outro tipo de material ferroso.
cabos, evitando que passem perto digitais, aterre em múltiplos pontos do Geralmente, estas considerações não
de ranhuras no chassi (por exemplo, chassi através de conexões curtas, são relevantes acima de 20 kHz. Em
ranhuras de ventilação). Isto é espe- grossas e largas. especial, lembre-se de que blindagens
cialmente crítico quando tais cabos Para placas mistas onde há cir- finas ajudam a resolver a maior parte
transportam sinais analógicos de cuitos analógicos e também digitais, dos problemas de imunidade a RFI.
baixo nível de potência. Mantenha os você pode fazer aterramentos múlti- Ranhuras (exemplo: para ventila-
cabos internos no mínimo a 5 cm plos através de capacitores para ater- ção) podem destruir blindagens contra
de ranhuras e outras aberturas no rar as altas freqüências, e manter um RF. Estas descontinuidades agem
chassi; ponto único de aterramento para as como antenas de fendas (slot ante-
- Se você está utilizando flat- baixas freqüências evitando loops de nas), que reirradiam energia de alta
cables, utilize o máximo número de terra. freqüência.
fios que puder para retornos de terra O objetivo principal é desviar para Por isso você deve manter seus
e os espalhe uniformemente no cabo. o chassi correntes de RF, evitando cabos e placas de circuito impressos
Isto minimiza áreas de loop que fun- que cheguem aos circuitos vulnerá- longe destas ranhuras.

30 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


É a dimensão mais longa da ranhura que é crítica, e não
a sua área. Uma regra é limitar a maior dimensão da ranhura
a 1/20 do comprimento de onda da maior freqüência de inte-
resse. Para 100 MHz, isto significa 15 cm, mas para 1 GHz,
apenas 15 mm. Mesmo esta regra pode não ser suficiente,
pois produz uma atenuação de apenas 20 dB através da
ranhura.
Penetrações não filtradas também podem destruir blin-
dagens contra RF. Se um fio isolado passar através da
blindagem, e este fio não for filtrado, ele poderá transpor-
tar ruído por dentro do sistema blindado. Todas penetra-
ções devem ser ou aterradas no chassi, ou desacopladas
contra o chassi via filtros de alta freqüência. Obviamente,
você não pode aterrar diretamente cabos de potência ou
de sinal, mas neste caso filtre-os antes de passar pela bar-
reira de blindagem.
Aqui, vão algumas recomendações sobre blindagem para RF:
- Use uma cobertura metálica, com o mínimo de ranhuras;
- Filtre ou aterre todas as penetrações de cabos na blinda-
gem;
- Mantenha a máxima dimensão das ranhuras menor que
12 mm se você precisa imunidade até 1 GHz, e mantenha
os cabos e circuitos críticos pelo menos a 5 cm destas
ranhuras;
- Você pode precisar de materiais de vedação (gasket mate-
rials) para suas ranhuras, portanto projete os chassis para
adicionar estes materiais, se necessário.

TESTES DE IMUNIDADE A RFI

Para imunidade a RFI, uma norma comercial chave


é a IEC-61000-4-3, que prescreve campos de 1 a 10
V/m numa faixa de freqüência de 80 a 1000 MHz. Estes
são os testes que são utilizados pela Comunidade Euro-
péia. Outras organizações, como a FDA (Food and Drug
Administration, nos Estados Unidos) também adotam esta
norma. Ela é recomendada para fabricantes de equipa-
mentos eletrônicos mesmo quando um nível obrigatório
não existe para seus produtos ou mercados.
Normas diferentes são utilizadas nos contratos militares
(MIL-STD-461, Estados Unidos) e automotivos (SAE
J1113).

CONCLUSÕES

Este terceiro artigo da série sobre EMC/EMI abordou


problemas de imunidade a RFI, analisando de que maneira
podem causar falhas, e como se pode preveni-los.
Outros artigos desta série prosseguirão abordando outros
tipos de interferências eletromagnéticas e tópicos relaciona-
dos, como componentes, blindagem e aterramento.

Bibliografia
- Daryl Gerke e Bill Kimmel
EDN: The Designer’s Guide to Electromagnetic Compatilibity
Kimmel Gerke Associates Ltd.

*Osmar Brune é projetista de produtos e sistemas da


Altus Sistemas de Informática.
Atual Notícias
Automação

Arquiteturas de Sistemas de
Automação Industrial
utilizando CLPs
Paulo C. de Carvalho ções prontas para serem exibidas
para os operadores através de Interfa-
ces Homem-Máquina Locais ou ainda
serem enviadas a um nível acima
para serem visualizadas em salas
de operação através de Sistemas de
Supervisão (veja na foto ao lado). Em
indústrias de processo, os CLPs esta-
rão sempre conectados entre si com
o nível de supervisão através de uma
rede de comunicação industrial.
Nível 2 - Neste nível ficarão as
Copesul/Divulgação

interfaces Homem-Máquina – IHM


– também chamadas de Sistemas
de Supervisão, que são computa-
dores industriais rodando softwares
de supervisão e controle conecta-
dos em rede aos CLPs. Através
Neste artigo faremos uma abordagem sobre os aspectos de desses equipamentos, o operador
comunicação de dados para arquiteturas comumente utilizadas em poderá comandar a planta por meio
automação de plantas de processos industriais empregando Contro- de telas gráficas, gráficos de tendên-
cias, relatórios de alarmes e relató-
ladores Lógico Programáveis – CLPs. rios de produção.
Nível 3 - Neste nível fica o sistema
corporativo da planta que acessa um

A
primeira coisa que é dis- as grandezas físicas do chão-de- banco de dados onde outros relatórios
cutida em um processo fábrica. Podemos citar elementos de gerenciais são gerados e os aplicati-
de automação é qual a aquisição de sinais: sensores, trans- vos são normalmente desenvolvidos
melhor arquitetura para que o sistema missores de temperatura, pressão, com ferramentas do tipo Visual Basic
atinja as exigências de um determi- chaves de fim-de-curso, contatos de ou Delphi. O Sistema de Supervisão
nado projeto. Existem várias formas relés, etc. E os atuadores: contato- do nível 2 tem interface com o sis-
diferentes de arquitetura que satis- ras, válvulas, inversores de freqüên- tema corporativo através do banco de
fazem as exigências do projeto e o cia, etc... Além dos componentes dados que é o ponto de “junção” dos
fator custo é muito importante, pois convencionais, ou seja, aqueles que níveis de supervisão e corporativo da
todo projeto tem uma limitação de disponibilizam ou recebem sinais em planta.
investimento que já foi previamente corrente ou tensão, temos também os No campo da Automação, diaria-
aprovada pela diretoria da empresa. equipamentos que possuem recursos mente surgem novas tecnologias e
Fatores como prazo para a conclu- de comunicação serial e, nesse caso, novos conceitos e observa-se no
são do serviço e necessidade maior possuem múltiplas funções associa- mercado que as empresas tendem a
de mão-de-obra também influem na das a um único cabo de conexão ser conservadoras na hora de adqui-
escolha da melhor arquitetura para o como, por exemplo, os multimedi- rir tecnologia e querem aquilo que
sistema de automação. Assim, trata- dores de energia e equipamentos comprovadamente funciona. Uma
remos aqui de alguns conceitos que especiais de medição de grandezas nova tecnologia é mais bem aceita
devemos levar em consideração na analógicas como nível e tempera- em situações onde o risco de sua
análise de uma arquitetura. tura. aplicação é compensado pelos bene-
Nível 1 - Neste nível ficam os CLPs fícios que essa tecnologia poderá
montados em painel elétrico que rece- trazer.
NÍVEIS DO SISTEMA DE AUTOMAÇÃO berão os sinais do nível 0. Nele, as Ainda aproveitando a divisão em
informações vindas do nível 0 são níveis feita anteriormente, iniciare-
Nível 0 – Neste nível ficam os ele- tratadas e o software dos CLPs mos nossa discussão falando sobre
mentos que “aquisitam” e comandam irá cuidar de deixar estas informa- o nível 0 ou nível de campo, onde

32 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

temos a aquisição dos sinais do zação do controle deverá ser levado A resposta é sim. Neste caso, se
chão-de-fábrica responsáveis pelas em conta e deverá ser menor que o tempo de manutenção para troca
informações indispensáveis na auto- a soma dos tempos de aquisição da cabeça remota (da ordem de 1
mação. Aqui a grande pergunta que e processamento do CLP para que ou 2 horas) não puder ser tolerado,
surge é: não resulte em mau funcionamento alguns fabricantes oferecem a pos-
do controle, o que poderá inviabilizar sibilidade de redundância na cabeça
É melhor utilizar remota para a o sistema. remota. A troca da cabeça defeituosa
aquisição dos sinais ou levar os Segurança: Em processos indus- é feita automaticamente pelo equipa-
sinais através de cabos elétricos triais contínuos, a parada de pro- mento, chamado de troca tipo “hot
diretamente até o CLP? dução implica em grandes prejuízos stand by”.
A remota é um hardware que para a companhia e paradas da
“aquisita” os sinais digitais e analó- planta devem ser evitadas de todas A remota também pode fazer
gicos e possui um canal de comuni- as formas. Logicamente, a automa- intertravamento?
cação serial onde esses dados são ção não deve ser a causadora do Até aqui vimos duas possibilida-
disponibilizados em um protocolo de problema de parada e as perguntas des: fazer a aquisição via cabo con-
comunicação como, por exemplo, o mais freqüentes são: vencional ou via cabeça remota e o
MODBUS, PROFIBUS, DEVICENET, processamento no CLP. Para alguns
AS-i, entre outros. A diferença básica E se a rede da remota falhar? processos é possível também que
entre eles está na velocidade de trans- O risco deverá ser analisado e, a remota faça um pequeno proces-
missão, capacidade de diagnóstico de caso o tempo de parada para a manu- samento local evitando que a perda
falhas e facilidade de configuração tenção (cerca de 3 horas) seja um de comunicação implique em risco
dos equipamentos em rede. Para se fator de muito risco para o processo, ao sistema. Ou seja, no lugar de
fazer uma comparação entre os dois a solução será colocarmos uma rede uma remota pode ser colocado um
primeiros que são amplamente utili- redundante e, se possível, lançar os pequeno CLP que aquisita os sinais
zados, temos: a velocidade de comu- cabos por caminhos diferentes. O de campo, executa intertravamento
nicação: o MODBUS chega a 38.400 custo aumentará, mas, se a segu- e disponibiliza as informações para
bps, enquanto o PROFIBUS pode rança é o fator principal, com certeza o CLP central. Nesse caso, esse
chegar a 12.000.000 bps. Este último esse custo será justificável. pequeno CLP normalmente possui
também possui mais informações de IHM local para que os dados possam
diagnóstico, mas é mais caro e exis- Pode ocorrer problema de inter- ser acessados por um operador
tem menos equipamentos com essa ferência na rede e isso provocar local, deixando o sistema mais ver-
interface. A idéia da remota é apenas falha de comunicação entre o CLP sátil e com menor dependência da
transferir os dados para o CLP sem e a remota? rede de comunicação com o CLP
fazer nenhuma lógica entre eles, ou Esse tipo de conexão atende a central. Essa solução é utilizada,
seja, sem fazer nenhum intertrava- maioria das necessidades se a blin- por exemplo, para certos controles
mento, apenas passar as informações dagem do cabo elétrico em RS-485 locais que não podem parar como o
para o CLP que processa essas infor- for bem aterrada e, se este cabo for controle de temperatura de um forno
mações. Nessa escolha devemos veri- passado em eletroduto galvanizado ou o controle de variáveis analógi-
ficar alguns aspectos: aterrado, e ainda for escolhida uma cas em um evaporador. É bastante
Ligação elétrica: O custo de liga- trajetória para o cabo de forma que comum, nessa situação, um CLP
ção elétrica é menor para as remotas, passe longe de cabos de alta tensão local aquisitando os sinais, fazendo
pois você leva um único cabo de rede e fontes de ruídos elétricos. o processamento local. Existe uma
até o CLP ao invés de levar um cabo Entretanto, quando o ambiente IHM para o operador alterar os set-
para cada sinal no caso de ligações possui muito ruído elétrico como, por points no local e este CLP poderá
convencionais. Essa é a principal van- exemplo: local com máquinas com estar ligado em rede com outro CLP
tagem da remota. solda por indução, subestações e maior.
Velocidade de atuação: A aqui- usinas de energia, etc., é aconse- Muitos CLPs já vêm integrados a
sição de sinais diretamente pelo lhável a utilização de fibras ópticas. grandes máquinas ou projetos. Isso é
CLP é mais rápida que a feita por Outra vantagem da fibra óptica é que muito comum nas indústria automo-
remota. Quando você escolher a a velocidade não diminui com a dis- bilística e alimentícia. Nesses casos,
aquisição através de remotas, ques- tância como no caso do cabo elétrico. o comprador deverá atentar para
tione junto ao fabricante do equi- Para conexões longas, acima de 100 evitar comprar uma “caixa preta”, ou
pamento o tempo de aquisição dos metros, ou quando o ambiente possui seja, comprar um CLP com proto-
sinais, principalmente quando neces- campo elétrico muito intenso, a fibra colo proprietário e sem condição de
sitamos fazer algoritmos de controle torna-se indiscutivelmente a melhor ser colocado em rede com outros
tipo PID. Neste caso precisamos solução de meio de transmissão. CLPs da planta. O ideal é especifi-
aquisitar, enviar via rede o valor ana- car uma porta de comunicação dis-
lógico para o CLP que executará E se a cabeça remota falhar, vou ponível em protocolo aberto como,
o algoritmo PID e retornará o sinal perder todos os sinais que estou por exemplo, MODBUS-RTU, PRO-
para o atuador. O tempo de atuali- aquisitando? FIBUS-DP, FIELD BUS, etc., os quais

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 33


Atual Notícias
Automação

devem ser as variáveis que o fabri- Qual é o melhor CLP a utilizar?


cante deverá deixar disponível para A resposta para esta pergunta,
que esse equipamento possa ser naturalmente, não é tão simples
integrado na rede de campo da porque existem muitas marcas no
fábrica. Sempre que possível, o com- mercado e o técnico que está espe-
prador deverá verificar qual o CLP cificando o equipamento ou sistema
que virá no equipamento e solicitar deverá se concentrar na especificação
algumas opções para a marca do que o equipamento deverá atender.
CLP para garantir a compatibilidade Uma vez atendidas as especifica-
em rede e facilitar a manutenção ções, certamente mais de uma marca
futura. poderá ser escolhida e outros fatores
como preço, prazo, assistência técnica
e custo do serviço associado definirão
OUTROS EQUIPAMENTOS COM a compra. O objetivo dessa análise
INTERFACE SERIAL é apresentar as características funda-
mentais exigidas para os sistemas de
Equipamentos como medidores F.1 Arquitetura de nível 0 com cabos automação utilizados na indústria de
de grandezas elétricas, inversores de multivias. processo.
freqüência, relés de proteção, etc.
possuem interfaces seriais. Nesses
casos, a preocupação deverá ser REDE DE COMUNICAÇÃO
tanto com o protocolo quanto com o ENTRE OS CLPs E O SISTEMA
formato que os dados são disponibi- DE SUPERVISÃO
lizados. A intenção é evitar o extenso
trabalho de formatação de dados Essa rede de dados vai interligar
pelo programa do CLP, e aumento os vários CLPs permitindo que as
do custo do projeto com o desenvol- informações sejam disponibilizadas
vimento de gateways (equipamentos em uma sala de controle. Alguns
que convertem protocolos de comu- deles utilizam redes com protocolos
nicação). proprietários e isso poderá limitar
Devem-se evitar incompatibilida- o usuário quando ele necessitar
des elétricas com a mistura de equi- ampliar o sistema. Para evitar esse
pamentos diferentes na mesma rede tipo de problema, a rede mais uti-
de comunicação, ainda que possuam lizada atualmente para o nível 1 é
o mesmo protocolo. Para se evitar a rede Ethernet. Aqui vale lembrar
este tipo de problema é sempre bom que existem diversos protocolos de
um teste prévio na etapa de desenvol- F.2 Aquisição de E/S via remota. comunicação disponíveis em Ether-
vimento do projeto (ver coluna sobre net e que em uma mesma rede
rede MODBUS na seção Problemas Na figura 3 é apresentada a inter- Ethernet podem trafegar diferentes
e Soluções). face com o campo utilizando uma protocolos e até mesmo os proto-
A figura 1 ilustra a arquitetura remota e a interface via rede serial colos de e-mail e de transferência
de nível 0 de uma indústria de pro- com equipamentos especiais que dis- de arquivos (FTP). É comum sepa-
cessos com a aquisição de sinais põem de interface serial. Para isso é rar a rede ethernet da planta da rede
de Entrada e Saída(E/S) convencio- necessário que o CLP possua canais ethernet do resto da indústria para
nal utilizando cabos multivias que de comunicação no mesmo proto- evitar problemas de tráfego na rede
são conectados ao CLP. A figura 2 colo de comunicação desses equipa- do sistema de automação. Freqüen-
mostra a arquitetura de nível 0 de mentos. A tendência atual é de cada temente, chamamos a rede ethernet
uma industria de processos com a vez mais equipamentos possuírem do sistema de automação de rede
aquisição de sinais de E/S conven- interface serial de comunicação. Por ethernet industrial. Existem equi-
cionais empregando remota conec- segurança, além dos dados serem pamentos disponíveis no mercado
tada via cabo de rede ao CLP. Neste enviados via rede, alguns sinais de para redes ethernet industriais
caso, há uma diminuição do serviço alarme e condições de segurança redundantes em formato de anel
de ligação elétrica, uma vez que a (sinais de segurança de uma caldeira, dando ao sistema um nível ade-
remota é colocada a mais próxima por exemplo) devem ser enviados quado de confiabilidade da rede
possível do elemento de campo. também via cabeamento convencio- (ver www.hirschmann.com). O ca-
Após digitalizar os sinais, a remota nal. bo de rede ethernet do tipo par tran-
disponibiliza uma interface de comu- Vamos agora analisar o Nível 1 da çado permite interligar distâncias de
nicação serial para o CLP e basta, arquitetura onde ficam os Controla- apenas 100 m. Já utilizando fibra
então, um cabo de comunicação dores Lógicos Programáveis. Aqui a óptica do tipo multimodo, podemos
entre os dois equipamentos. grande pergunta que surge é: atingir tipicamente 3 km sem o uso

34 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

para a comunicação entre os CLPs


e o sistema de supervisão é:
Disponibilidade no CLP e no
driver do Sistema de Supervisão
de rede de comunicação Ethernet,
sendo desejável para sistemas de
grande porte que exista recurso para
comunicação por mensagem não
solicitada.

REDE DE COMUNICAÇÃO
ENTRE OS CLPs E OUTROS
EQUIPAMENTOS

Como já foi discutido anterior-


mente, é comum em CLPs para con-
F.3 Aquisição de E/S via remota e via comunicação serial com equipamentos inteligentes. trole industrial a comunicação com
vários equipamentos inteligentes do
de repetidor. A figura 4 ilustra uma CLP deverá preparar os dados soli- chão-de-fábrica: remotas, inversores
rede ethernet industrial em formato citados e disponibilizar os mesmos de freqüência, controladores locais
de anel óptico redundante. na porta ethernet para comunica- especializados e interfaces homem-
Como vimos anteriormente, a ção. Esse tempo, em geral, é maior máquina locais. Sendo assim, é funda-
capacidade do CLP se conectar a que o tempo do próprio meio de mental que na especificação desses
uma rede aberta do tipo ethernet transmissão, ou seja, a performance equipamentos se leve em conta a
é fundamental para automação de desse sistema depende muito mais quantidade de canais seriais de comu-
processos industriais. Outro aspecto da velocidade do CLP de disponi- nicação que devem estar disponíveis,
a considerar será a performance bilizar os dados para transmissão informando o protocolo de comunica-
dessa comunicação. A performance do que da velocidade do canal de ção (profibus ou modbus, por exem-
da rede está associada à sua velo- comunicação. No modo de comu- plo) e o meio físico da comunicação
cidade de comunicação e à forma nicação por “mensagem não solici- (RS-232, RS-485 ou óptico).
como são transmitidos os dados. tada”, o CLP é que toma a iniciativa A seguir, exibimos na figura 5 uma
Com relação à velocidade da rede de comunicação mandando para o arquitetura típica do nível 0 e 1 de um
de CLPs podemos dizer que a veloci- sistema de supervisão apenas as sistema de automação. Observar as
dade de 10 Mbits/s atende a grande tabelas de dados onde houve altera- várias redes de comunicação: Rede
maioria dos processos industriais, ção. De tempos em tempos o CLP ethernet industrial entre os CLPs e
onde o tráfego de dados é bem manda todos os dados, independen- o nível 2 (sistemas de supervisão),
menor que na rede ethernet admi- temente de ter havido alteração nos rede de comunicação entre o CLP e
nistrativa. No entanto, alguns CLPs mesmos, e esse envio é chamado equipamentos inteligentes (remotas e
já possuem rede com velocidade de de comunicação para integridade controladores locais especializados) e
100 Mbits/seg (fast ethernet). Porém, dos dados. O sistema de comunica- entre o CLP e IHM locais.
o principal “gargalo” para o sistema ção por mensagens não solicitadas
não é a velocidade do meio de trans- melhora muito a performance, prin-
missão, mas sim a forma como o cipalmente para meios de transmis- CONCLUSÃO
CLP trata essa comunicação. Há são que tenham baixa velocidade ou
duas formas básicas para comuni- sistemas que tenham grande volume Neste artigo analisamos o nível
cação de dados entre os CLPs e de dados. A desvantagem de se uti- 0 (nível de aquisição de sinais de
os sistemas de supervisão: Polling lizar mensagens não solicitadas é campo) e o nível 1 (nível comunica-
e “Mensagens não Solicitadas”. Na que o tempo de desenvolvimento ção entre CLPs e o sistema de super-
comunicação por polling, quem toma do programa ladder do CLP será visão) da arquitetura dos Sistemas de
a iniciativa de comunicação é sempre maior, aumentando o custo de ser- Automação. Esperamos, então, que o
o sistema de supervisão, que pede viços. Além do CLP, o sistema de leitor possa analisar esses aspectos
para o CLP as tabelas de comuni- supervisão também deverá admitir na escolha da melhor arquitetura para
cação. Independentemente, de ter o recurso de mensagem não solici- um sistema de automação. No pró-
havido modificação nos dados lidos tada no seu driver de comunicação, ximo artigo abordaremos os demais
pelo CLP, o supervisório fará a leitura e essa característica não está dispo- níveis da arquitetura de um sistema
desses dados de forma cíclica com nível em todos os drivers de comu- de automação.
tempo de polling ajustado no sistema nicação. Assim, resumidamente, a
de supervisão. Assim, a cada soli- característica importante a analisar *Paulo C. de Carvalho é gerente de Engenha-
citação do sistema de supervisão o na rede de comunicação do CLP ria da Altus/Campinas.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 35


Atual Notícias
Automação

F.4 Rede ethernet industrial em formato de anel óptico redundante .

F.5 Arquitetura de sistema de automação.

36 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

Controladores
de movimento
Mário Sergio Di Grazia*

A revolução industrial foi, sem dúvida, um marco inigualável na


história moderna. A produção artesanal, dependente da habilidade
individual, deu lugar à produção em massa, reduzindo os custos de
produção, elevando a qualidade e permitindo o acesso a bens de con-
sumo e bens duráveis a uma parcela cada vez maior da população.
A automação de máquinas e equipamentos é a força propulsora da
indústria moderna. Este artigo visa ilustrar o funcionamento básico dos
Controladores de Movimento e sua contribuição ao desenvolvimento
da indústria em geral.

O crescente aumento do uso


de servo-acionamentos e
inversores de freqüência
em máquinas de processos dedi-
Para facilitar a compreensão das fun-
ções dos controladores de movimen-
tos, descreveremos algumas das fun-
ções principais normalmente encon-
fechada proporciona alta precisão de
controle mesmo com grandes varia-
ções de carga.
É essencial no controle de “spin-
cados, fez surgir os controladores tradas nos controladores de movimen- dles” ou eixos - árvores em tornos
de movimentos, agregando caracte- to disponíveis no mercado. e/ou máquinas operatrizes, principal-
rísticas de controladores numéricos mente em operações de usinagens de
computadorizados (CNCs) com as roscas, onde um desvio de velocidade
mesmas funções e a facilidade de pro- CONTROLE DE TORQUE irá representar alteração no passo do
gramação de um controlador lógico filete, inutilizando a peça.
programável (CLP). Permite o controle preciso do
Os controladores de movimentos torque do servomotor independente-
(figura 1) são equipamentos desen- mente da velocidade e posição do POSICIONAMENTO
volvidos para automação de máqui- mesmo. O controle de torque é normal-
nas que necessitam de controle de mente utilizado em aplicações onde a Há vários tipos de posicionamen-
posição, de trajetória, de velocidade grandeza fundamental de controle é o tos dependendo da função a ser rea-
ou torque. torque e/ou a força aplicada à carga. lizada pela máquina. No caso de um
Possuem funções específicas para Podemos citar como exemplo as ope- posicionamento, o importante é levar
controle de servo-acionamentos como rações de rosqueamento de tampas o servomotor à posição solicitada com
posicionamentos simples, interpola- como as de embalagens de denti- a máxima precisão.
ção linear, interpolação circular, inter- frício, potes, frascos, etc., onde o O posicionamento pode ser incre-
polação helicoidal, cames eletrônicos, torque de aperto deve ser o suficiente mental ou absoluto. No posiciona-
engrenagem eletrônica entre outros. para garantir o perfeito fechamento da mento incremental, o controlador de
Tais funções são geralmente reu- embalagem, porém não tão elevado movimentos conta os pulsos do enco-
nidas em blocos funcionais permitindo que impeça sua abertura. der incremental e controla o servo-
fácil programação, reduzindo o custo O controle de torque ainda é uti- motor de forma a atingir a posição
de desenvolvimento do projeto, visto lizado para aperto de parafusos em solicitada. No caso de perda de ener-
que as mesmas já se encontram pron- blocos de motores e de máquinas, gia, a máquina deverá ser reiniciada
tas para uso, evitando a criação de como também no controle de tração a partir da posição zero, visto que o
algoritmos complexos e demorados. em bobinadeiras e desbobinadeiras. encoder incremental não memoriza a
sua última posição. A maioria dos con-
troladores possui uma função especí-
CONTROLE DE VELOCIDADE fica denominada “Home Position” ou
busca da posição zero ou referen-
É uma das funções básicas de um ciamento, permitindo referenciar auto-
controlador. O controle de velocidade maticamente a máquina. A função
é realizado em malha fechada por rea- “Homing” utiliza normalmente o pulso
limentação de um encoder ou gera- “C” do encoder como referência de
F.1 Controladores de Movimentos. dor de pulsos. O controle em malha posição zero.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 37


Atual Dispositivos

No posicionamento absoluto é Normalmente, é necessário infor- helicoidal, como o filete de uma rosca,
necessário a utilização do encoder mar ao controlador apenas o diâmetro conforme se vê na figura 4.
absoluto o qual informa em tempo real e a posição inicial do círculo e o con- Geralmente é necessário informar
sua posição, mesmo com queda de trolador se encarregará de mover os apenas o diâmetro e o passo ao con-
energia, não sendo necessário reini- eixos X e Y de forma a gerar o movi- trolador assim como as coordenadas
ciar ou referenciar a máquina. mento circular solicitado. A figura 3 de partida.
A precisão do posicionamento é exibe uma mesa X,Y produzindo um
dada pelo número de pulsos do enco- movimento circular.
der. Para um posicionamento preciso ENGRENAGEM ELETRÔNICA
é recomendável que a resolução seja
10 vezes maior que a resolução INTERPOLAÇÃO HELICOIDAL Essa é uma das funções típicas
da máquina. Por exemplo, para uma dos Controladores de Movimentos. O
máquina que trabalhe com posiciona- Ela necessita de três eixos, sendo controlador garante o sincronismo de
mentos variando em 0,1 mm, o enco- formada pelas interpolações linear e fase mecânica da mesma forma que
der utilizado deverá indicar 0,01 mm circular resultando em uma trajetória um conjunto de engrenagens.
por pulso. Esse procedimento é neces-
sário, visto que o posicionamento per-
feito não existe. O mesmo varia dentro
de uma faixa aceitável de desvio,
sendo normal o erro de mais ou
menos um ou dois pulsos no final do
posicionamento.
Na maioria dos controladores, é
possível estabelecer a faixa de desvio
de posição aceitável, sendo o erro
sinalizado pelo mesmo.

INTERPOLAÇÃO LINEAR

Para interpolação linear é neces-


sária a utilização de dois eixos. Eixo
é o nome genérico dado a um acio-
namento individual. A figura 2 ilustra
uma mesa posicionadora X,Y, respon-
sável pelo deslocamento do cabeçote
de corte a laser. F.2 Exemplo de Interpolação Linear.
Na interpolação linear os eixos
X e Y são controlados de forma
que a somatória dos dois movimen-
tos resulte em uma trajetória linear,
também denominada de interpolação
linear.
Na maioria dos Controladores de
Movimento é possível programar com
facilidade trajetórias lineares para for-
mação de figuras geométricas defini-
das ou compor figuras lineares por
justaposição de trajetórias. A figura
2 mostra uma interpolação linear for-
mando um triângulo, que será cortado
por um feixe de laser ou maçarico.

INTERPOLAÇÃO CIRCULAR

A interpolação circular é obtida por


dois eixos de forma que o resultado
da ação conjunta dos mesmos resulte
em um círculo. F.3 Exemplo de Interpolação Circular.

38 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

mento do came no eixo do servo.


Normalmente, é utilizado um encoder
instalado em um ponto da máquina
como referência de posição. Caso a
máquina varie de velocidade, o con-
trolador irá seguir essa variação em
fase mecânica variando sincronizada-
mente a execução do came eletrô-
nico.

F.6 Exemplo de Came Eletrônico.


F.4 Exemplo de Interpolação Helicoidal.

A figura 5 ilustra a aplicação em também avançar ou atrasar a fase de FUNÇÕES LÓGICAS


uma máquina impressora de quatro um dos servomotores, permitindo fácil
cores. ajuste das cores de impressão. Freqüentemente, os Controladores
No arranjo da esquerda, os cas- de Movimentos oferecem, além das
telos de impressão são acionados funções específicas de controle de
por um eixo único que distribui o CAME ELETRÔNICO movimentos, funções lógicas progra-
movimento para cada castelo através máveis em diagrama de blocos do
de engrenagens. O motor de aciona- Esta função permite criar um movi- tipo “Ladder”, permitindo a implemen-
mento é único e como a transmissão mento complexo sincronizado a um tação de lógicas de intertravamento
de movimentos é mecânica, existe um movimento de referência externo. A e comando, facilitando o projeto e
perfeito sincronismo entre os castelos figura 6 apresenta o arranjo mecânico instalação, visto que todo o controle
de impressão. típico onde um motor aciona através torna-se residente em um único equi-
No arranjo da direita, os eixos e de um redutor um came mecânico, pamento.
engrenagens foram substituídos por que por sua vez aciona um êmbolo
servomotores acionados por um Con- produzindo um movimento horizontal
trolador de Movimentos. Esse arranjo de acordo com o formato externo do CONCLUSÃO
é chamado de “Shaftless”, pois eli- came.
mina o eixo único, reduzindo a com- A utilização de um Controlador de Podemos concluir que os Contro-
plexidade de construção da máquina Movimentos substitui o came mecâ- ladores de Movimentos foram desen-
e permitindo maiores velocidades de nico e seus acessórios por um servo- volvidos para facilitar a automação de
operação. acionamento e um fuso de esferas. máquinas e linhas de produção atra-
A função de engrenagem eletrô- Através de programação ade- vés da inserção de complexas rotinas
nica permite ainda alterar o valor de quada, o controlador de movimentos de posicionamento e interpolação em
engrenamento eletronicamente, como reproduz eletronicamente o movi- simples comandos de programação.
Inicialmente destinados às máquinas
de maior grau de complexidade, atual-
mente estes controladores (pela sua
razoável redução de custos) já são uti-
lizados em um número cada vez maior
de máquinas e equipamentos, redu-
zindo custos de produção e permitindo
ampliar a produtividade e qualidade
das máquinas e linhas de produção.

*Mário Sergio Di Grazia é engenheiro


de aplicação da Yaskawa Elétrico do
F.5 Exemplo de Engrenagem Eletrônica em uma máquina gráfica. Brasil.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 39


Atual Retrofitting

Princípios dos
motores lineares
Paulo E. Pansiera*

O motor linear nada mais é do que uma massa com propriedades


magnéticas, que é atraída ou repelida por outra e restringida a andar
em trilhos.

MOTORES LINEARES EM O outro pólo magnético forte é É claro que o trabalho da força tan-
MÁQUINAS-FERRAMENTA chamado de secundário (figura 3).O gencial será sempre o mesmo, não
secundário é uma única peça (setor)

A
interessando se o motor é rotativo ou
mesma força magnética ou seqüência de peças, com núcleo se é linear. Já a velocidade não. Com
que faz um rotor de um de imãs permanentes e acessórios fusos de esfera, estávamos limitados
motor convencional girar é para sua fixação à máquina. a rotações de 3000 e 4000 rpm, apro-
a responsável pela propulsão em um A disponibilidade comercial do ximadamente. Se desejássemos altas
motor linear. O princípio é o mesmo, secundário está em setores de 200, 300 velocidades com esses fusos, devería-
ou seja: tome um motor comum de ou 500 mm, ou até de outras dimen- mos dispor de passos largos e daí não
corrente contínua e desenrole o esta- sões, dependendo do fabricante. O haveria rigidez do fuso se os mesmos
tor com o mostra a figura 1. O efeito primário deverá sempre estar comple- não fossem de diâmetros apreciáveis:
produzido pelo eixo, que é conhecido tamente emparelhado ao secundário, 63 mm, 80 mm ou ainda maiores. Com
como torque (produto da força pela por conseguinte, o número de setores inércias desta grandeza, principal-
distância do centro do rotor até a cir- do secundário deve ser suficiente para mente para a frenagem e aceleração,
cunferência média do estator) passa todo o curso útil do eixo e ainda alguma não era possível obter deslocamen-
agora a uma única grandeza que é a folga. Na prática, percebe-se que a tos rápidos em curtas distâncias e,
força tangencial. melhor folga é exatamente o compri- dessa forma, ficávamos “escravos” de
A potência, que no motor com rotor mento do primário, sendo 50% de sobra máquinas lentas e dizíamos (na ver-
é calculada pelo produto do torque de secundário em cada extremidade dade ainda dizemos) que o limite era
pela rotação, é no motor linear, calcu- de eixo (figura 4). mecânico.
lada pelo produto força x velocidade Em termos de performance, tais Os motores lineares vieram para
média. motores possuem características que ampliar esse limite. Modelos tradicio-
Para fazer o motor linear da figura revolucionam a dinâmica da máquina. nais atingem 14500 N em velocidades
1 mover-se, basta excitarmos o esta- de 100 m/min. Para velocidades de
tor desenrolado da mesma forma que 200 m/min, a força fica reduzida pra-
fazíamos quando este se apresentava ticamente à metade. Perceba porém
em disposição circular: alternando os que quando nos encontramos em altas
pólos e buscando um alinhamento de velocidades, não estamos requerendo
opostos entre a parte móvel e fixa. esforço de corte e, portanto, as forças
Quanto mais rápido alternarmos os não precisam ser grandes. Já as velo-
pólos, mais veloz será o nosso motor. cidades sim, afinal, quando não esta-
A perfeita combinação de freqüência mos cortando, o tempo é morto.
de chaveamento e corrente produzirá No caso da grandeza de força,
um campo magnético capaz de asse- considere um fuso de 60 mm de diâ-
gurar acurácia e velocidade. Para tal, metro. Se tivermos um motor linear
sempre em combinação com um motor produzindo 10.000 N, isso equivale
linear, deverá vir um conversor estático a termos um torque de 300 Nm na
CA-CC ou CA-CA, dependendo da tec- ponta do fuso mencionado. É torque
nologia do motor, assim como fazemos suficiente para acionar muitas máqui-
hoje com servomotores síncronos. nas. Entretanto, se for necessário um
Em máquinas-ferramenta, o mo- aumento de força, pode-se usar uma
delo de motor linear mais usado é o de combinação de dois primários para
indução. Neste motor, a parte móvel produzir um campo magnético mais
é chamada de primário e construtiva- forte.
mente é análoga ao estator (se bem A figura 5 ilustra um exemplo de
que aqui não temos uma forma circu- aplicação múltipla de motores lineares
lar). Observe a figura 2. F.1 Princípio do motor digital. em máquina-ferramenta. Trata-se de

40 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Retrofitting Atual

uma fresadora tipo portal onde todos


os eixos são lineares, assim como os
motores. Em motores lineares esta-
mos salvos dos desgastes de fuso,
folga da porca, necessidade de lubri-
ficação da porca, flexão e vida dos
rolamentos de mancalização.
Para utilizar um motor linear, a F.2 Parte móvel do motor linear.
máquina deverá ser “pensada” para
tal. A própria estrutura mecânica que
carrega a ferramenta deverá ser rígida
e leve, de forma a beneficiar-se das
velocidades e acurácia destes moto-
res (figura 6).
Casos práticos mostram que moto-
res lineares possuem acurácia infe-
rior a um centésimo de mícron: isso F.3 Parte fixa do motor linear.
mesmo, cem vezes menor que um
mícron. Quer mais? Acelerações de
2G. Com isso, você já tem motivos de
sobra para pensar ou, ao menos, con-
siderar utilizar esses motores em uma
futura aplicação.
Alguns reprovam meu discurso
dizendo que eu não me refiro ao
custo desses motores. Sem dúvida, o F.4 Parte móvel sobre parte fixa.
custo por kW de um motor deste é
superior (cerca de quatro vezes) ao
equivalente rotativo. Contabilize que o
motor linear elimina o uso de fusos
de esfera, porcas e rolamentos, além
de ser afetado pela baixa demanda de
mercado.
O mesmo aconteceu com os com-
putadores: no começo os preços eram
exorbitantes até que alguém inventou
o PC para a sua casa. O motor linear já
está nesse estágio. Não estou dizendo
que você deve trocar todos os moto-
res por lineares desde já, mas consi-
dere inicialmente uma combinação.
Máquinas híbridas estão surgindo,
principalmente na área de linhas trans- F.5 Aplicação múltipla de motores lineares em máquina-ferramenta.
fer para indústria automobilística e
tornos verticais. Nestes últimos, um trica e passível de realizar um tra- máxima e a velocidade máxima para
eixo que é usado tanto para a usina- balho máximo, de acordo com suas quando a força é nominal.
gem como para a carga e descarga, é características construtivas e limites Perceba no gráfico que o seg-
equipado com motor linear, enquanto externos de drives. mento de (Fmax, Vmax,Fmax) para (FN,
que os demais ainda permanecem Falando de índices e siglas úteis Vmax,FN) é uma reta e que representa
com o conjunto tradicional de fuso de para a especificação do motor linear, uma manutenção da potência máxima
esfera e porca dupla. veja na figura 7 onde as grandezas útil. O gráfico mostra um ponto de tra-
força e velocidade estão represen- balho F1 que está na região inferior da
tadas. FN significa a força nominal curva. Apenas comportamentos nessa
DIAGRAMA DE FORÇAS do motor, que é um dado de catá- região são possíveis.
E VELOCIDADES logo. Também do catálogo de qual- Em um “motor de gaiola” podemos
quer fabricante, você extrai FMAX. Em acelerar indefinidamente por meio do
Quando buscamos um motor linear, adição a esses dois fatores, outros aumento da freqüência até que haja
o motivo mais forte deve ser uma dois surgem. São eles a Vmax, Fmax algum tipo de instabilidade como um
necessidade de velocidade. O motor e Vmax,FN significando a velocidade arco voltaico, sobre-aquecimento ou
linear é também uma máquina elé- máxima quando a força também é a uma fadiga acelerada de rolamentos.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 41


Atual Retrofitting

primário e o secundário. Esse espaço, motores. O tratamento matemático


chamado “gap” (do inglês), deve obe- dos motores lineares, principalmente
decer a dimensão de 1 mm, com tole- pelo desenvolvimento das equações
rância de 0,3 mm. Nem mais nem de Maxwell para o plano, agora em
menos para reproduzir com exatidão as três dimensões, diferentes do motor
características mencionadas no catá- tradicional (duas dimensões) foi ela-
logo do fabricante. Um gap diferente borado em 1972 pelo Eng. Sakae
torna o sistema mais instável, com Yamamura, do IEEE - Tokyo. A ciên-
menor acurácia ou mais rígido, dre- cia é bem nova. Aproveite feiras,
nando mais corrente e reduzindo o palestras e outros eventos para fami-
limite de força útil. liarizar-se com este que será o supra-
A literatura disponível sobre moto- sumo da tecnologia de movimento
res lineares no Brasil, resume-se a deste início de século.
alguns catálogos de fabricantes estran-
geiros ou trabalhos de Mestrado e *Paulo Eduardo Pansiera é supervisor de
vendas da área de soluções de automação para
Doutorado sobre os princípios desses máquinas-ferramenta da Siemens.
F.6 Exemplo de estrutura de máquina.

F.7 Diagrama de forças e velocidade.

No motor linear também podemos pre-


senciar um limite mecânico e magné-
tico causado pela temperatura.
Por ser um circuito de circulação
de corrente, o “efeito joule” está
presente e com ele o aumento de
impedância pela temperatura. Se qui-
sermos manter as características de F.8 Rendimento do motor em relação à temperatura.
dados de catálogo do motor, é impor-
tante mantê-lo refrigerado numa tem-
peratura de no máximo 35 C para a
refrigerante que vem do tanque.
Verificando o gráfico da figura 8,
observe o quão drástico é o efeito da
temperatura no rendimento dos moto-
res lineares. Após 35 C de tempera-
tura do líquido de entrada, a força
nominal já fica abaixo dos 100% de
especificação de catálogo. Caso não
se utilize líquido refrigerante na circu-
lação interna, o motor terá no máximo
50% de sua força nominal disponível.
Acima de 120 C o motor já sofre
danos estruturais. Até lá, a partir dos
35 C já existe perda da acurácia.
Dessa forma, recomendo fortemente
o emprego de circuitos fechados de
refrigeração forçada dos motores. A
figura 9 ilustra esses condutores.
Ainda aproveitando a figura, veja
que existe um espaço de ar entre o F.9 Conectores para refrigeração.

42 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Energia Atual

Aterramento Elétrico
Alexandre Capelli

Um dos pontos mais críticos da instalação elétrica de uma TIPOS DE ATERRAMENTO


máquina ou equipamento de automação industrial é, sem dúvida,
o aterramento elétrico. Os três sistemas da NBR 5410
O objetivo deste artigo é mostrar aspectos básicos das normas, mais utilizados na indústria são:
problemas e soluções, bem como o processo de tratamento quí- A – Sistemas TN-S:
mico do solo.
Notem pela figura 1 que temos
o secundário de um transformador
FUNÇÕES X NORMAS Para automação industrial é reco- (cabine primária trifásica) ligado em Y.
mendável a utilização do proce- O neutro é aterrado logo na entrada,
ABNT (Associação Brasileira de dimento para “equipamentos de e levado até a carga. Paralelamente,
Normas Técnicas) possui uma norma tecnologia da informação”, onde o outro condutor identificado como PE é
específica que rege a área de instala- valor ôhmico do terra é inferior a 5 Ω, utilizado como fio terra, e é conectado
ções elétricas em baixa tensão. Essa e o sistema é equipotencial. à carcaça (massa) do equipamento.
norma é a NBR 5410, cuja estrutura é Ora, notem que não estamos con-
dividida em subseções. As de núme- templando EMI, funcionalidade dos B – Sistema TN-C:
ros: 6.3.3.1.1, 6.3.3.1.2, e 6.3.3.1.3 sistemas de comunicação (RS-232,
referem-se aos possíveis sistemas de RS-485, etc.), entre outros fatores que Esse sistema, embora normali-
aterramento que podem ser encon- influenciam o bom funcionamento do zado, não é aconselhável, pois o
trados na indústria. Não podemos sistema. fio terra e o neutro são constituídos
confundir, entretanto, um aterramento Isso significa que, além de cumprir pelo mesmo condutor. Dessa vez, sua
“dentro das normas”, com o melhor as normas, o técnico deve escolher identificação é PEN (e não PE, como
aterramento para uma situação em qual solução é a melhor, visto que o o anterior).
particular. Conforme veremos mais equipamento deve oferecer mais do Podemos notar pela figura 2 que,
adiante, a própria norma propõe três que segurança. após o neutro ser aterrado na entrada,
tipos básicos de aterramento. Cabe Segurança, aliás, não é diferencial, ele próprio é ligado ao neutro e à
ao técnico ou engenheiro de campo, mas sim obrigação. Somente pode- massa do equipamento. Deve ser uti-
portanto, escolher a melhor alterna- mos considerá-la como tal, quando lizado somente quando não há pos-
tiva para cada caso. ela vier acompanhada de boa per- sibilidade da passagem de mais um
formance, relação custo/benefício, e cabo pelo eletroduto.
“Sendo assim, o que garante a confiabilidade.
norma?” A seguir trataremos dos três tipos C – Sistema TT:
mais comuns de aterramento utili-
Ao contrário do que muitos zados na indústria, e devidamente Na figura 3 vemos que o neutro
pensam, estar apenas dentro das normalizados. O sistema IT não foi é aterrado logo na entrada e segue
normas não significa que o equipa- abordado, tendo em vista sua restri- (como neutro) até a carga (equipa-
mento funcionará bem. ção de uso. mento). A massa do equipamento é
Quanto ao aterramento elétrico, ao
instalarmos uma máquina segundo a
NBR5410, temos a certeza de que
três itens básicos estão assegurados:
1º. O usuário do equipamento está
protegido contra descargas atmosfé-
ricas, através da viabilização de um
caminho alternativo para a terra.
2º. Não haverá cargas estáticas
acumuladas na carcaça da máquina.
3º. Os dispositivos de proteção
contra surtos terão seu funcionamento
facilitado, através da corrente des-
viada para o terra. F.1 Sistema TN-S.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 43


Atual Energia

Mistura com 50% de terra e 50% de


gel..

F.2 Sistema TN-C.

Mistura pronta dentro do buraco.

F.3 Sistema TT.

aterrada com uma haste própria, inde- Temos vários produtos que podem
pendente da haste de aterramento do ser colocados no solo antes ou depois
neutro. da instalação da haste para diminuir- Adição de 25 litros de água.
Esse sistema é o melhor tipo para mos a resistividade do solo. A Bento-
evitar-se interferências elétricas entre nita e o Gel são os mais utilizados.
máquinas, visto que cada terra é iso- De qualquer forma, o produto a ser
lado. Entretanto, pela mesma razão, empregado para essa finalidade deve
os equipamentos ficam mais suscep- ter as seguintes características:
tíveis à queima durante uma descarga
atmosférica (loop de terra). - Não ser tóxico

- Deve reter umidade


TRATAMENTO QUÍMICO DO SOLO Misturar
- Bom condutor de eletricidade
Como já observamos, a resistên-
cia do terra depende muito da consti- - Ter pH alcalino (não corrosivo)
tuição química do solo. Muitas vezes,
o aumento de número de “barras” - Não deve ser solúvel em água.
de aterramento não consegue dimi-
nuir a resistência do terra significati-
vamente.
Somente nessa situação devemos SEQÜÊNCIA DE
pensar em tratar quimicamente o TRATAMENTO QUÍMICO DO SOLO Preenchimento com terra.
solo.
O tratamento químico tem uma Uma observação importante no
grande desvantagem em relação ao que se refere à instalação em baixa
aumento do número de hastes, pois tensão é a proibição (por norma)
a terra, aos poucos, absorve os ele- de tratamento químico do solo para
mentos adicionados. Com o passar do equipamentos a serem instalados em
tempo, sua resistência volta a aumen- locais de acesso público (colunas de
tar, por conseguinte, essa alternativa semáforos, caixas telefônicas, contro-
deve ser o último recurso. Buraco com 50 cm x 50 cm ladores de tráfego, etc.). Essa medida

44 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Energia Atual

visa à segurança das pessoas nesses - Aquecimento anormal das etapas Para:
locais. de potência (inversores, converso-
res, etc.), e motorização. Sf < 35 mm2 → St = 16 mm2

IMPLICAÇÕES DE UM - Funcionamento irregular de compu- Sf ≥ 35 mm2 → St = 0,5 Sf


MAU ATERRAMENTO tadores pessoais.

Ao contrário do que muitos - Falhas intermitentes, que não Onde:


pensam, os problemas que um ater- seguem um padrão. Sf = a seção transversal dos cabos
ramento deficiente pode causar não (fios) de alimentação do equipa-
se limitam apenas aos aspectos de - Queima de CIs ou placas eletrô- mento (fases).
segurança. nicas sem razão aparente, mesmo St = a seção transversal do fio terra.
É bem verdade que os principais sendo elas novas e confiáveis.
efeitos de uma máquina mal aterrada
são choques elétricos ao operador, e - Interferências e ondulações em Observem que para diâmetros infe-
resposta lenta (ou ausente) dos sis- monitores de vídeo. riores a 35 mm2 para as fases, temos
temas de proteção (fusíveis, disjunto- o fio terra de 16 mm2. Já para diâ-
res, etc.). metro iguais ou acima de 35 mm2, o
Mas outros problemas operacio- BITOLA E CONEXÃO DO FIO TERRA fio terra deverá ter seção transversal
nais podem ter origem no aterramento igual à metade da seção dos cabos
deficiente. Ter uma boa haste ou um solo de alimentação. Quanto a conexões,
favorável não basta para termos um devemos optar em 1º lugar pela fixa-
bom aterramento elétrico. ção por solda do fio terra à haste.
TIPOS DE PROBLEMAS As conexões da haste com os Isso evita o aumento da resistência
ENCONTRADOS EM CAMPO cabos de terra, bem como a bitola do do terra por oxidação de contato. Se
cabo terra também contribuem muito isso não for possível, poderemos uti-
- Quebra de comunicação entre para a resistência total de aterra- lizar anéis de fixação com parafusos.
máquina e PC (CLP, CNC, etc.), mento. Nesse caso, porém, é conveniente
em modo on-line. Principalmente, No que se refere à bitola do fio que a conexão fique sobre o solo,
se o protocolo de comunicação for terra, ela deve ser a maior possível. e dentro de uma caixa de inspeção
RS-232. Temos a seguir uma regra prática que (figura 4).
evita desperdícios, e garante um bom
- Excesso de EMI gerado (interferên- aterramento.
cias eletromagnéticas). CONCLUSÃO

Conforme o leitor já deve ter


percebido, ao contrário dos bens
de consumo (eletrodomésticos), o
desempenho dos equipamentos indus-
triais é muito influenciado pelo aterra-
mento elétrico.
Isso exige do técnico de integra-
ção, tanto dos processos contínuos
quanto da manufatura, uma atenção
especial. Portanto, é aconselhável a
consulta criteriosa da norma, bem
como das especificações técnicas do
fabricante.
A melhor solução é o ponto de
intersecção entre os dois “documen-
tos”, pois esta é a alternativa que con-
templa maior segurança com melhor
performance.

Referência Bibliográfica
- “Mecatrônica Industrial” Alexandre Capelli,
2002. Editora Saber Ltda.

Este livro pode ser adquirido pela Internet no


site www.editorasaber.com.br, ou pelo tele-
F.4 Fio terra fixado a haste por um anel. fone (11) 6195-5333.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 45


Atual Dispositivos

Analisadores por
condutibilidade térmica
Gilberto Branco*

A análise por condutibilidade térmica ou condutividade térmica,


permite determinar a concentração de um gás em uma mistura
gasosa. A análise consiste em medir a condutibilidade térmica da
amostra, relacionando-a com a concentração do componente no
gás em análise. Essa técnica é muito utilizada atualmente para
determinar a concentração de H2 (Hidrogênio) em uma amostra.

E
mbora seja uma análise quan-
titativa, uma vez que o de-
tector, como veremos na se-
quência, não consegue determinar qual
gás está sendo analisado e sim o
quanto de calor é transferido do fila- térmica em kcal / h . m2. oC / m CONDUTIBILIDADE TÉRMICA
mento para o gás, trata-se de uma S = área da secção transversal DOS GASES
técnica com grande velocidade de res- em m2
posta e de fácil adaptação no controle θ = diferença de temperatura em A equação que determina a con-
e supervisionamento de processos. Por o
C dutibilidade térmica dos gases em
essas razões, e também devido ao e = espessura em m. relação ao ar atmosférico é:
relativo baixo custo do equipamento,
esse tipo de analisador é muito empre- Como podemos observar, o fluxo
gado na análise de gases industriais. calorífico depende não apenas das
Alguns conceitos fundamentais que dimensões físicas e diferença de tem- onde:
foram utilizados no desenvolvimento peratura, mas também de uma carac- Kr = condutibilidade térmica rela-
dessa técnica são: terística física própria do meio onde tiva do gás
Calor: que é a energia térmica que se processa a transferência de calor, Kgás = condutibilidade térmica do
se transfere de um corpo para outro, que é a condutibilidade térmica. gás em kcal / h . m2. oC / m
ou entre as partes deste, quando Define-se, então, condutibilidade K ar = condutibilidade térmica do ar
houver diferença de temperatura. térmica como a capacidade da maté- em kcal / h . m2. oC / m
Transferência de calor: que pode ria de conduzir calor, com menor ou
ocorrer de três modos diferentes: Con- maior facilidade. Algumas literaturas apresentam os
dução, Convecção e Radiação.

E, independentemente do processo,
o calor se propaga espontaneamente
de um ponto de maior temperatura para
outro de menor temperatura.

CONDUTIBILIDADE TÉRMICA

Em 1822, Fourier definiu que em


regime estacionário, o fluxo calorífico
em um material homogêneo é dado
pela equação:

onde:
φ = fluxo calorífico
K = coeficiente de condutibilidade T.1 Condutibilidade térmica de alguns gases.

46 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

valores de condutibilidade térmica dos componente em análise com a condu- Se fizermos circular pela câmara
vários gases e na tabela 1 obser- tibilidade térmica da mistura gasosa. de medição uma mistura que conte-
vamos a condutibilidade térmica de Nesse princípio de operação, é uti- nha um gás de interesse, por exem-
alguns gases, em valores absolutos lizado um circuito de medição que plo, H2 em N2, a temperatura do
(K) e relativos (Kr). opera por comparação consistindo, filamento de medição ficará menor
Note que a condutibilidade térmica na sua forma mais simples, de duas que a temperatura da câmara de
do Hélio (He) e do Hidrogênio (H2) câmaras idênticas conectadas nos referência, pois a condutibilidade
é substancialmente maior do que as braços adjacentes de uma ponte de térmica dessa mistura é maior que
demais, o que torna esse tipo de aná- Wheatstone, observe a figura 1. Uma a do N2. Assim sendo, a ponte será
lise bastante seletiva. Porém, deve-se das câmaras (M) é a de medição na eletricamente desequilibrada, apa-
ter cuidados principalmente com outros qual circulará a amostra, enquanto a recendo então uma corrente que
gases misturados na amostra, uma vez outra câmara (R) é a de referência, o amplificador enviará para o indi-
que, como veremos a seguir, a mistura onde um gás de características tér- cador na proporção da concentra-
de um ou mais gases faz com que a micas constantes pode ser selado ou ção do componente na amostra. A
amostra tenha uma alteração da con- circular continuamente. Esse tipo de escala do medidor poderá, dessa
dutibilidade total. arranjo compensa particularmente as maneira, ser calibrada em % Vol de
variações de temperatura externa às H2. Observe, porém, que esse dis-
câmaras. positivo mede a diferença de con-
CONDUTIBILIDADE TÉRMICA DE Quando as duas câmaras conti- dutibilidade térmica entre os gases
UMA MISTURA GASOSA verem o mesmo gás (usualmente a das duas câmaras.
câmara de referência é preenchida Os circuitos de medição são con-
A condutibilidade térmica de uma com Nitrogênio - N2), os filamentos figurados de acordo com o número
mistura gasosa depende do tipo e da aquecidos, que transferem calor no e a disposição elétrica das câmaras
concentração de seus componentes sentido das paredes internas das de medição e referência na ponte
e pode ser calculada, dentro de um câmaras, estarão na mesma tempe- de Wheatstone, fator esse que apre-
desvio médio de 2%, pela seguinte ratura. Dessa forma, a ponte estará senta como maior vantagem entre as
equação: eletricamente equilibrada levando o demais configurações, a de ser mais
amplificador a “entender” que não sensível para qualquer tipo de compo-
existe gás de interesse na câmara nente analisado.
de medição, fazendo com que a indi- Usualmente, as câmaras de medi-
onde: cação do analisador seja o início da ção e referência são projetadas de
Km = condutibilidade térmica da faixa de medição. forma a minimizar as perdas de calor
mistura
Ki = condutibilidade térmica de
cada gás
ji = fração molar de cada gás
Mi = massa molar de cada gás.

PRINCÍPIO DE OPERAÇÃO

Essa técnica consiste em rela-


cionar a concentração do gás

F.1 Circuito básico de medição. F.2 Exemplo de câmara.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 47


Atual Dispositivos

por convecção e radiação, uma vez pureza, tem tornado esta nova tecno- gases produzidos.
que o filamento deve perder calor logia (processo não criogênico) mais A figura 3 ilustra alguns pontos
apenas por condução no gás. Essas atrativa. de análise que podem ser aplicados
câmaras são encontradas sob formas As peneiras moleculares têm a neste processo.
diferentes, de acordo com o modo capacidade de adsorver moléculas Uma das medições consideradas
pelo qual o gás é admitido no inte- de gás para separar o Oxigênio do em uma planta de fracionamento de
rior da câmara. Veja o exemplo da Nitrogênio usando a tecnologia de ar atmosférico é a concentração de
figura 2. Caso a câmara de referên- adsorção por balanço de pressão Hidrogênio no ponto após a unidade
cia seja do tipo selada, as conexões (PSA). Da mesma forma, a tecnologia de remoção de Oxigênio.
de entrada e saída serão fechadas de membrana de separação permite O Hidrogênio é introduzido na
por conectores apropriados, após o uma rápida permeação do oxigênio e coluna de Argônio bruto (em excesso
enchimento da câmara com gás de do vapor de água do fluxo de Nitrogê- e na quantidade determinada pelo cál-
referência. nio que atravessa as fibras da mem- culo estequiométrico) com a finalidade
brana. de remover o Oxigênio (contaminante
nessa fase do processo).
APLICAÇÃO Aplicações de Analisadores O excesso de Hidrogênio é moni-
de Gás torado para controlar a adição e a
O analisador por condutibilidade eficiência da conversão. Um analisa-
térmica pode ser encontrado nos Os custos de produção em uma dor de condutibilidade térmica é nor-
mais variados tipos de processos planta desse tipo são inicialmente malmente utilizado nessa etapa do
industriais tais como: fracionamento relacionados à operação e à energia processo para manter o excesso do
do ar, alto-forno, conversor, síntese elétrica. Entretanto, esses custos Hidrogênio < que 3%.
do amoníaco e fornos, determinação podem inviabilizar a planta caso as Deve-se considerar que as carac-
de contaminantes, etc. A seguir, des- variáveis do processo não sejam bem terísticas específicas da planta
creveremos um exemplo de aplica- controladas. Uma alta concentração dependerão dos produtos e da pureza/
ção para análise “on-line” utilizado de impurezas no Oxigênio, por exem- qualidade desejada dos produtos a
em uma planta de fracionamento de plo, torna o produto de menor qua- serem extraídos do processo. Con-
ar. lidade e, em decorrência disso, de seqüentemente, o tipo e a natureza
menor valor no mercado. Os ana- da instrumentação empregada depen-
Introdução lisadores de gás têm um papel derá do projeto da planta. As possíveis
fundamental nestes processos para aplicações mencionadas são típicas e
Uma planta de fracionamento de garantir a eficiência e conseqüente- podem não ser necessárias em todas
ar, normalmente separa os compo- mente a pureza e a qualidade dos as plantas.
nentes do ar atmosférico em três
componentes gasosos puros, Nitro-
gênio (N2), Oxigênio (O2), e Argônio
(Ar). Os outros componentes do ar
atmosférico, tais como, vapor de
água, Dióxido de Carbono (CO2), e os
hidrocarbonetos são contaminantes
e devem ser removidos para garantir
a segurança, a eficiência de opera-
ção da planta e a pureza/qualidade
do produto.

Princípio de Operação Geral de


uma Planta de Separação de
Ar Atmosférico

Existem três tipos de tecnologias


básicas que permitem a separação
do ar atmosférico em componentes
puros. Esses processos incluem:
- Fracionamento por criogenia;
- Adsorção por balanço de pres-
são (PSA);
- Membrana de separação.

O baixo custo e a facilidade


de produção, porém com perda da F.2 Pontos típicos de análise.

48 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

DICAS PRÁTICAS especial para que seja evitada uma plantas de separação de ar atmosfé-
contaminação da amostra, que pode rico que utilizam amostras em fluxo
Gases Interferentes ser facilmente causada pela absorção que contêm amostras na fase líquida.
(pelos componentes analisados) de Essas amostras devem ser vaporiza-
A amostra aplicada na medição contaminantes existentes no próprio das de forma a se obter composições
pode ser binária, ou seja, compostas sistema de amostragem. representativas e para que seja evi-
por dois componentes, ou complexa Outra fonte de erros pode ser a tado “tempo morto” no processo de
que tenha um comportamento binário difusão dos componentes do ar atmos- análise.
do ponto de vista da condutividade tér- férico, através de tubos ou outros Basicamente, os cuidados devem
mica. Essa condição é possível desde materiais plásticos ou de pequenos ser os mesmos já citados, lembrando
que a variação dos diversos compo- vazamentos no sistema. ainda que deve ser dada especial
nentes seja interdependente. Estes problemas podem ser atenção no processo de volatili-
Nunca se deve desprezar a pre- minimizados utilizando-se materiais zação do componente a ser ana-
sença de outros gases na compo- não adsorventes, não quimicamente lisado.
sição da amostra, uma vez que a ativos. O aço inoxidável é tipicamente Dois métodos que têm sido apli-
somatória da condutividade térmica o melhor material para análises com cados com sucesso consistem na
desses gases será “sentida” pelo baixa umidade. vaporização por spray e a deposição
sensor e, como resultado, será indi- A manutenção de uma alta vazão de gotas da fase líquida sobre uma
cada erroneamente como concen- de by-pass (em relação ao diâmetro superfície aquecida. A transferência
tração do componente de interesse, do tubo de amostragem), assegura do calor se dá de forma rápida, per-
ocasionando um erro substancial ao
resultado da análise. Embora os pontos a serem analisados sejam
Sistema de limpos e praticamente livres de contaminantes,
amostragem há diversos outros fatores importantes que, caso
Como em qualquer aplicação de sejam ignorados, podem acarretar em sérias
análise, é necessário um sistema de
amostragem apropriado para que se
falhas na análise.
obtenha uma análise precisa e confiá-
vel. As aplicações em analisadores um rápido equilíbrio e um baixo mitindo a vaporização de toda a fase
em uma planta de separação de ar tempo de resposta ao sistema e a líquida, incluindo até mesmo os com-
atmosférico não são diferentes. amostra. ponentes que tenham um alto ponto
Embora os pontos a serem ana- Para análises de concentração de ebulição como os hidrocarbone-
lisados sejam limpos e praticamente muito baixa, (< 25 ppm), é impor- tos.
livres de contaminantes, há diversos tante que sejam evitados os tubos de Em resumo, embora as amostras
outros fatores importantes que, caso material plástico nas linhas de amos- nesse tipo de processo sejam geral-
sejam ignorados, podem acarretar em tragem, bem como outras possíveis mente limpas e livres de conta-
sérias falhas na análise. fontes de difusão tais como, diafrag- minantes, são necessárias algumas
mas de borracha nos reguladores de considerações especiais principal-
Amostra na fase gasosa pressão. mente para análises em baixa con-
Onde houver aplicações de centração.
Usualmente, uma amostra na fase bombas de amostragem, e forem Esses problemas, embora não
gasosa tem a seguinte seqüência: utilizadas bombas com diafragmas sejam de difícil solução, devem ser
- Filtragem inicial; de borracha, deve-se providenciar a observados e resolvidos para garantir
- Controle e redução da pressão; purga reversa (back purge) do lado a confiabilidade da análise.
- Transporte da amostra até o ana- externo da membrana de borracha
lisador; para garantir que os contaminantes Bibliografia
- Chaveamento da amostra (quan- atmosféricos sejam mantidos fora do - Hauser, E. A., “The Application of On-
do aplicado); contato com o diafragma. Stream Analytical Instrumentation in Air
Separation Plants” Beckman instruments,
- Controle de amostra / by-pass; Como em qualquer sistema de 1965.
- Chaveamento de amostra / gás análise, os pontos onde pode haver - Shelley, Suzanne, “Out of Thin Air”. Che-
de calibração (quando aplicado); acúmulo de gás (zona morta) devem mical Engineering, 1991.
ser reduzidos e/ou eliminados, dimi- - Hardenburger, Thomas, “Producing Nitro-
- Filtro final; gen at the Point of Source”, Chemical Engi-
- Análise. nuindo-se assim o tempo morto da neering, 1992.
análise. - Analisadores Industriais - SENAI - Santos.
Nesse tipo de processo, onde B.L. Costa Neto e C.H. Brossi.1982.
muitas análises são feitas em baixas Amostra na fase líquida
concentrações (parte por milhão - *Gilberto Branco é Engenheiro de Aplicação
Existem diversas aplicações em da Contech Engenharia.
ppm), deve ser dada uma atenção

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 49


Atual Eletrônica

Aplicações de redes
RS - 485
Carlos Henrique C. Ralize*

Muitas das redes de comunicação existentes atual-


mente são baseadas no padrão elétrico RS-485. Sempre
que precisamos de um meio elétrico para criar uma rede
multiponto a longas distâncias ou alta velocidade, com
instalação rápida e barata, a primeira opção é a RS-485.
Suas aplicações se estendem desde a integração de
pontos de venda e terminais de coleta de dados até apli-
cações de alto desempenho em Automação Industrial,
incluindo também redes de terminais de preços em lojas
de departamentos até a interligação de sensores meteo-
rológicos. Mas qual o segredo de tal popularidade?

O
nome RS-485 significa fabricantes de redes baseadas na todos os outros operam como recep-
Recommended Standard RS-485. tores. O mecanismo de controle
485. Apesar de ser conhe- O padrão RS-485 pode ser defi- de acesso ao meio físico não é defi-
cido por esse nome, o padrão já nido como uma rede ponto-multi- nido no padrão e faz parte do pro-
foi transformado em norma pela TIA ponto, half-duplex, com transmissão tocolo utilizado. São muito comuns
(Telecommunications Industry Asso- diferencial. Isso significa que a rede implementações baseadas no meca-
ciation) e pela EIA (Electronic Indus- pode ser formada por vários dispo- nismo “Mestre-Escravo”, mas também
tries Alliance). A última revisão data sitivos conectados ao mesmo bar- podem ser utilizados escalonadores
de março de 1998 e o código da ramento e que, enquanto um dos ou o mecanismo “Token-Passing”. É
norma é TIA/EIA-485-A. Ainda assim, dispositivos opera como transmissor, possível ainda empregar o padrão
a norma continua com o mesmo cará-
ter de recomendação para a indústria
eletrônica e de telecomunicações. Isto
quer dizer que apenas os padrões
elétricos necessários à fabricação de
transmissores e receptores são clara-
mente definidos. Entre esses padrões
estão o modo de transmissão dife-
rencial, as impedâncias máximas e
mínimas de entrada e saída dos dis-
positivos e os níveis de tensão aceitá-
veis na rede. Detalhes como tipos de
cabos e conectores, número máximo
de nós, técnica de terminação, taxas
de transmissão e distâncias máximas,
bem como o protocolo de comunica-
ção digital são deixados em aberto e
normalmente são determinados pelos F.1 As tensões características de um canal RS-485.

50 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Eletrônica Atual

F.3 Composição da tensão de modo


comum (VCM) em um canal RS-485.

um protetor contra surtos capaz de


absorver sobretensões e descargas
atmosféricas. Este tipo de instalação,
no entanto, não é muito comum e na
maioria dos casos o retorno pelo terra
é suficiente.
O outro componente importante da
tensão em modo comum é a tensão de
ruído VNOISE. Normalmente, os cabos
F.2 Níveis de tensão típicos de uma transmissão RS-485. Note que a tensão de 0 V é empregados em redes RS-485 são
diferencial. Pode haver uma diferença de potencial entre este nível e o terra. pares trançados. Neste caso, pode-
mos considerar que a tensão de ruído
RS-485 para comunicação full-duplex, ruído. As figuras 1 e 2 ilustram a rela- será induzida igualmente em ambos
ou seja, transmissão e recepção ção entre estas tensões. os condutores, como mostrado na
simultânea. Neste caso, a rede não Uma das características mais mar- figura 3. Por ser somada igualmente
será ponto-multiponto, mas sim ponto cantes do padrão RS-485 é a tensão aos dois condutores, o diferencial VOS
a ponto, e serão utilizados dois pares de modo comum. Esta tensão é a relativo ao ruído induzido será pró-
de cabos. soma de três componentes: a tensão ximo de 0 V. Isso permite reconstruir
A transmissão do sinal é diferen- diferencial VOS, já citada, a diferença o sinal enviado com grande precisão
cial. Isso quer dizer que qualquer entre os potenciais de terra dos dispo- mesmo em presença de muitos ruídos
transmissor RS-485 possui dois canais sitivos e o ruído induzido nos cabos. A elétricos. Isso reduz a necessidade de
independentes conhecidos como A e figura 3 mostra esta composição. Os usar cabos blindados na maioria das
B, que transmitem níveis de tensão dispositivos RS-485 devem ser cons- aplicações. Ainda assim, se estiver-
iguais, porém com polaridades opos- truídos para suportar VCM variando mos trabalhando em altas velocidades
tas (VOA e VOB ou simplesmente VA e entre -7 e +12 V. Essa diferença ocorre ou longas distâncias em ambientes
VB). Por esta razão, é importante que porque os circuitos A e B, por não for- industriais, os cabos blindados prove-
a rede seja ligada com a polaridade marem um loop de corrente, têm seu rão mais estabilidade à rede.
correta. Embora os sinais sejam opos- retorno absorvido pelo terra. Diferen- A figura 5 ilustra as tensões VOA
tos, um não é o retorno do outro, ças de potencial de terra podem pro- e VOB medidas em relação ao terra.
isto é, não existe um loop de cor- vocar esta diferença que na norma é Observe que há ruído induzido de
rente. Cada sinal tem seu retorno pela definida como VGPD. Em redes muito forma praticamente igual nos dois
terra ou por um terceiro condutor de longas esta tensão pode exceder os canais. A figura 6 demonstra a tensão
retorno, entretanto, o sinal deve ser limites de segurança podendo, inclu- diferencial medida entre os conduto-
lido pelo receptor de forma diferencial sive, causar a queima dos circuitos res A e B na mesma rede.
sem referência ao terra ou ao con- tranceptores. Um fato pouco conhe-
dutor de retorno. Este sinal diferen- cido é que um terceiro condutor pode
cial, lido em relação ao ponto central ser usado para referência de tensão, OS LIMITES DO PADRÃO
da carga, é que é interpretado como como exemplificado na figura 4. Se
sinal de transmissão. Qualquer tensão houver a necessidade de fazer essa Qualquer padrão de rede tem
maior que 200 mV é um nível alto equalização, devemos utilizar um cabo limites quanto à distância máxima,
ou “marca”. Uma tensão menor que com três condutores e interligar o ter- número máximo de dispositivos (ou
-200 mV é um nível baixo ou “espaço”. ceiro condutor ao pino “signal GND”. nós), dimensionamento de termina-
Níveis entre -200 mV e +200 mV Além disso, devemos desacoplar esse ções e máxima taxa de comunicação.
são indefinidos e interpretados como condutor do terra pela utilização de Com o padrão RS-485 não é dife-

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 51


Atual Eletrônica

definidas na norma são a topologia


e as terminações. Pode-se utilizar
RS-485 em uma variedade de topo-
logias, como barramento, estrela ou
anel. As topologias mais usadas são
o barramento ou o daisy chain, uma
variação do barramento em que o
cabo vai de um nó diretamente ao
próximo, ao invés de um barramento
com derivações (ver figura 8). Na
topologia em barramento são forma-
dos “stubs”, trechos de cabo dis-
F.5 Medição dos canais A e B em
tantes do barramento e que podem
F.4 Terceiro condutor usado como refe- relação ao GND. adicionar cadeias de propagação de
rência de tensão para os sinais. reflexões de sinais, causando erros.
A norma define que os stubs devem
rente, mas, curiosamente, uma das ser mantidos curtos, por esta razão,
razões da popularidade desse padrão precisa ser evitada a configuração
é que esses limites são muito flexíveis em estrela que possui muitos stubs
e em muitos casos, facilmente ultra- longos. Pela mesma razão, a melhor
passados. topologia é a daisy chain em que
A norma define que a máxima dis- os stubs são praticamente inexisten-
tância de ponta a ponta em uma tes. Redes como a Profibus possuem
rede RS-485 é de 5000 pés (apro- conectores apropriados para a mon-
ximadamente 1200 m) e a máxima tagem desta topologia. Embora redes
taxa de transmissão é de 10 Mb/s. em anel como a da figura não sejam
Existe uma relação inversa entre o recomendáveis, é possível construir
comprimento do cabo e a velocidade anéis compostos por vários segmen-
máxima como apresentado no grá- F.6 Forma de onda do sinal diferen- tos ponto a ponto, ou seja, cada
fico da figura 7. A queda de veloci- cial. dispositivo se comunica com o ante-
dade em grandes distâncias deve-se rior por um canal ponto a ponto full-
à necessidade de considerar os atra- Todavia, essa conclusão não é cor- duplex e com o próximo por outro
sos na transmissão causados pela reta. Na verdade, a carga máxima canal RS-485 de mesmas caracte-
indutância e capacitância do cabo. deve ser de 32 ULs, mas se um fabri- rísticas. A rede Interbus se baseia
Estes limites são os mínimos reco- cante produz dispositivos com carga neste princípio. Embora pareça mais
mendados pela norma, no entanto de 1⁄2, 1⁄4 ou 1/8 de UL, podem ser complicado, uma vez que cada dis-
existem redes que excedem ligeira- formadas redes com até 64, 128, positivo deve possuir dois transcep-
mente estes valores usando trans- ou 256 dispositivos respectivamente. tores, esta configuração permite criar
ceptores com características elétricas Algumas redes comerciais existentes redes de até 12 km, com até 512
ligeiramente alteradas. A rede Pro- se baseiam nesse tipo de dispositivos dispositivos se comunicando a 500
fibus, por exemplo, pode atingir 12 com carga reduzida. Mesmo com dis- kbps.
Mb/s a 100 m e algumas redes positivos de 1 UL, é possível empre- Quanto às terminações, existem
podem alcançar distâncias maiores gar repetidores para criar segmentos várias técnicas. Uma rede curta traba-
que 1200 m. É possível também utili- de rede independentes. Cada seg- lhando em baixas velocidades pode
zar repetidores para aumentar a dis- mento pode ter carga de 32 UL. O operar sem terminação. O método
tância máxima. padrão não impõe limite máximo de mais usual é utilizar dois resistores
Outro limite que pode ser ultrapas- número de segmentos ou de dispositi- de terminação com resistência equi-
sado é o número de dispositivos por vos em uma rede, porém esse número valente à impedância do cabo, conec-
segmento de rede. A norma define não é ilimitado, pois depende inclusive tados em paralelo com a rede, um
um valor de impedância de entrada da taxa de transmissão, da distância em cada extremidade. A maior parte
para os dispositivos correspondentes máxima da rede e da quantidade de dos cabos usados em redes RS-485
a uma Unidade de Carga (UL) e esta- dispositivos endereçáveis. O próprio possui impedância próxima a 100 Ω,
belece que um dispositivo receptor ou endereçamento não é estabelecido mas isso não é uma regra geral e é
transceptor não pode exceder 1 UL. pelo padrão RS-485, mas sim pelo necessário consultar o fabricante do
Também determina que um transmis- protocolo usado. Por essa razão, há cabo para dimensionar corretamente
sor deve ser capaz de alimentar uma redes com o número máximo de nós as terminações.
rede carregada com até 32 ULs mais endereçáveis variando de 32 até 512 Mas agora o leitor deverá estar
cabos e terminações. Daí, é natural nós. se perguntando: Se todos os limites
concluir que uma rede RS-485 pode Enfim, duas outras características são flexíveis, como devo dimensionar
possuir no máximo 32 dispositivos. importantes que não são totalmente minha instalação? Como posso saber

52 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Eletrônica Atual

qual a carga de meus dispositivos? recendo uma solução de baixo custo nenhum é tão flexível, adaptável e
Quantos dispositivos posso empregar e ainda assim muito resistente a varia- barato como a RS-485. Eis aí o o
em cada segmento? Quantos ende- ções de tensão e ruídos. Outros meios segredo de sua popularidade.
reços posso ter? Eu preciso utilizar físicos existem para estas redes como,
cabos blindados? Que tipo de termi- por exemplo, fibras ópticas, rádio ou *Carlos Henrique de Castro Ralize é Técnico
nação usar? Ethernet. Cada um deles possui vanta- em Eletrônica do Departamento de Engenha-
Para todas estas perguntas, a res- gens e desvantagens, mas certamente ria de Manutenção da Sabesp.
posta é a mesma. Embora o padrão
RS-485 tenha muitos pontos em
aberto, as redes derivadas desse
padrão possuem características muito
bem definidas pelo fabricante ou
pelo consórcio que regulamenta a
implementação. E estas característi-
cas devem ser obedecidas. Algumas
implementações definem as caracte-
rísticas dos cabos, tais como a quan-
tidade de condutores, blindagem e
às vezes até a cor dos condutores
e da capa externa. Todas definem
inclusive a pinagem dos conectores,
a resistência e configuração das ter-
minações, as taxas de transmissão,
topologias recomendadas, número
máximo de dispositivos endereçá-
veis, métodos de identificação dos
dados, tamanho do pacote de dados,
método de controle de acesso ao
meio, etc.
Entre as redes industriais de
protocolo aberto existentes atual-
mente, são baseadas na RS-485:
Profibus, Interbus e Modbus. Além
dessas, dezenas de fabricantes
de equipamentos industriais pos-
suem implementações proprietárias
baseadas na RS-485. Cada uma
delas tem características ligeira- F.7 Relação entre a taxa de transmissão e o comprimento do cabo.
mente diferentes, mas podemos ter
certeza de que todas partilham
muitas características elétricas em
comum. Por isso é importante enten-
der o funcionamento deste padrão
tão versátil, pois sua instalação
será sempre parecida e em alguns
casos elas poderão até utilizar equi-
pamentos iguais como, por exem-
plo, conectores e protetores contra
surtos e sobretensões.

CONCLUSÃO

A RS-485 isoladamente não é uma


rede. Esse padrão é somente um meio
físico, compartilhado por dezenas de
redes existentes no mercado. Mas é
um meio físico muito bem projetado
com características que facilitam sua
instalação em ambiente industrial, ofe- F.8 Topologias possíveis.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 53


Atual Dispositivos

Medidores
de deformação
Wendell de Queiroz Lamas*

Quando uma força é aplicada a uma estrutura, o comprimento é quantificada como fator de medida
desta muda. A deformação decorrente é, por definição, a razão (Gauge Factor - GF).
O fator de medida é a razão entre
dessa mudança em relação às suas dimensões originais, sendo o
a variação da resistência elétrica e a
medidor de deformação (strain gauge) usado para medi-la. do comprimento:

A figura 1 apresenta esse


comportamento, assim co-
mo a relação da deforma-
ção ε em função da força aplicada onde, O fator de medida para medidores
como sendo uma variação fracional εT = deformação na direção per- metálicos está tipicamente em torno
do comprimento: pendicular (transversal) à força; de 2. Seria ideal que os dispositivos
ε = deformação axial. apenas medissem a resistência elé-
Por exemplo, a Relação de Pois- trica em resposta à tensão mecânica
son para o aço permeia valores entre aplicada, porém tanto o transdutor
Quando o transdutor, conhecido por 0,25 e 0,3. quanto a amostra sofrem variações
extensômetro (strain gage), é colado à em função da temperatura a que estão
estrutura formando um arranjo conhe- expostos. Os fabricantes desses apa-
cido por célula de carga, terá toda CARACTERÍSTICAS relhos processam os materiais de
distorção sendo transferida para si. forma a diminuir tal sensibilidade às
As células de carga contêm material Existem vários tipos de medido- variações térmicas.
condutor e a distorção causada pela res de deformação (strain gauges), Para a efetiva leitura da força
aplicação de uma força resulta na conforme a disposição dos extensô- aplicada sobre um transdutor, faz-se
mudança de sua resistência elétrica. metros (strain gages) na amostra a uso de um circuito amplamente utili-
Ao medir esta variação na resistência ser medida, assim como um grande zado em medidas elétricas: a Ponte
elétrica pode-se obter a medida equi- número de formas e de aplicações de de Wheatstone, conforme mostra a
valente à deformação causada e, por suas medidas, sendo o mais utilizado figura 3.
extensão, a força aplicada. A defor- o medidor de liga metálica. Consiste em excitar-se com uma
mação pode ser positiva (tensão ou Esse medidor consiste de um fio tensão elétrica (ddp) um arranjo de 4
expansão) ou negativa (compressão) muito fino arranjado sobre uma folha (quatro) resistores e em um par de
e é expressa em unidades como “in/in” metálica, na forma de uma grade. pontos específicos do arranjo (dife-
ou “mm/mm”. Na figura 2, esse arranjo (célula de rente dos pontos nos quais a ddp está
Ao ser aplicada uma força axial, carga) pode ser observado, bem como sendo aplicada ao circuito), mede-se
como visto na figura 1, um fenômeno suas principais partes componentes. o quanto desse valor foi transferido à
conhecido como “Deformação de Pois- É importante que se monte corre- saída.
son” causa a contração da barra em tamente o arranjo para a melhor trans- Normalmente, a tensão elétrica na
sua circunferência (largura), D, no sen- ferência da tensão mecânica aplicada saída é zero (ponte em equilíbrio ou
tido transversal ou perpendicular. A na amostra e, por conseguinte, maior balanceada), assim qualquer mudança
magnitude dessa contração transversa precisão na medida.
é uma propriedade do material indi- Um parâmetro fundamental da lei-
cada por sua “Relação de Poisson” tura é a sensibilidade à tensão mecâ-
(v): nica que está sendo aplicada, que

F.2 Célula de carga padrão: extensô-


F.1 Deformação de uma estrutura sob ação de uma força. metro sobre estrutura metálica.

54 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

saída de 0 V até que uma força


seja aplicada. Contudo, as tolerâncias
dos resistores e a tensão mecânica
induzida pela aplicação do transdutor
gerarão uma ddp inicial. Essa ddp
pode ser corrigida de duas formas: uti-
lizando-se um circuito de ajuste para
retornar a saída a zero; ou, pode-se
medir a saída sem força aplicada e
compensar a diferença por software.
Até aqui, tem sido ignorada a
F.3 Ponte de Wheatstone. F.4 Circuito de 1⁄4 de Ponte. resistência elétrica do fio de ligação

F.5 Circuito de Meia Ponte. F.6 Circuito de Ponte Completa.

em alguma das resistências elétricas


proporciona uma alteração nesse
valor, em razão direta a sua própria
variação.
Partindo desse princípio de funcio-
namento, as medições da força apli-
cada a uma superfície são realizadas
substituindo-se um ou mais resistores
da Ponte de Wheatstone por transdu- F.7 Ligação a dois fios.
tores.
Portanto, os medidores de defor-
mação (strain gauges) são formados
a partir da colocação de células de
carga nos ramos da Ponte de Wheats-
tone, onde, por sua vez, as células de
cargas são arranjos constituídos pelos
extensômetros (strain gages) coloca-
dos sobre estruturas metálicas padro-
nizadas. F.8 Ligação a três fios.
Os arranjos normalmente utiliza-
dos são os circuitos de 1⁄4 de ponte, conforme visto na figura 5, dobra-se do extensômetro, o que beneficiou o
meia ponte e ponte completa, que a sensibilidade da ponte ao se fazer entendimento dos conceitos apresen-
indicam a quantidade de transdutores dois ramos ativos, embora em sentidos tados. Porém, na prática, essa atitude
utilizada, respectivamente um, dois e diferentes, onde há um ramo montado pode trazer consigo conseqüências
quatro. na expansão da amostra (RG + ∆R) e negativas à medição.
Como os valores medidos são de outro na compressão (RG - ∆R). A figura 7 demonstra uma ligação
magnitudes muito pequenas, quanto Por fim, um arranjo com transduto- a dois fios do elemento transdutor.
maior o número de transdutores utili- res nos quatro ramos, como visto na Essa ligação acrescenta ao circuito
zados, maiores serão a sensibilidade figura 6, proporciona um aumento de uma resistência de 2 ohms no braço
à tensão mecânica e a precisão da sensibilidade considerável, estando em que o extensômetro está conec-
leitura. montados dois transdutores na expan- tado, considerando-se um fio de 15 m
Na figura 4, apenas um resistor são e outros dois na compressão. de comprimento e 1 ohm de resistên-
é substituído, o que implica em varia- As equações correspondentes a cia elétrica.
ções muito pequenas na saída. cada circuito supõem uma ponte ini- Essa resistência elétrica do fio de
Ao substituir dois dos resistores, cialmente equilibrada, o que gera uma ligação deve ser considerada como

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 55


Atual Dispositivos

um resistor integrante do circuito. Uma Outro fator bastante significativo Com base nessas considerações,
característica que não pode ser esque- é a influência da temperatura. Bus- existem vários tipos de medidas de
cida é a influência dessa nova resistên- cando eliminá-la, a ligação a três fios força, conforme seu arranjo na amos-
cia elétrica na sensibilidade da leitura. A é a opção mais recomendada, pois tra. Nas figuras 9 a 12 podem ser
perda de sensibilidade pode ser quanti- dois dos três fios ficam conectados vistos alguns exemplos bastante utili-
ficada por: a ramos adjacentes, neutralizando zados.
assim os efeitos um do outro, con- Um sistema computadorizado
forme ilustrado na figura 8. mede a diferença de potencial na
saída da ponte de Wheatstone antes
que uma tensão mecânica seja apli-
cada, então a intervalos regulares ou
a cada vez que uma determinada
condição ocorrer, volta a medir esse
sinal.

A MELHOR ESCOLHA

Os dois critérios preliminares para


a seleção do tipo de medidor que
melhor se adeque à necessidade da
aplicação são a sensibilidade e a pre-
F.9 Tensão de Dobra: resultando de uma força linear (FV) exercida no sentido vertical. cisão.
Deve-se destacar que quanto maior
a quantidade de extensômetros a ser
utilizada, maior será a rapidez da
medida realizada e com maior preci-
são. Certamente, uma ponte completa
responderá melhor que uma de 1⁄4,
porém seu custo é significativamente
maior.
A tabela 1 apresenta um resumo
dos tipos de medidores e suas caracte-
rísticas gerais. Ao escolher-se a melhor
maneira de efetuar uma medida com
transdutores de força (strain gages),
devem-se ter em consideração as
características particulares para cada
fabricante.

APLICAÇÕES

F.10 Tensão Axial: resultando de uma força linear (FA) exercida no sentido horizontal. Os extensômetros são de grande

F.11 Tensão de Tesoura: resultando de uma força linear (FS) com F.12 Tensão de Torção: resultando de uma força circular (FT)
componentes no sentido vertical e no horizontal. com componentes no sentido vertical e no horizontal.

56 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Dispositivos Atual

utilidade na pesagem de artigos. Por com quatro extensômetros. Seu intuito CONCLUSÃO
exemplo, na base de silos de grãos, nessa construção é servir como
em balanças, na indústria aeroespa- medida para as deformações da garra, Mesmo passando despercebidos
cial, entre outras. assim compensando seu posiciona- no dia-a-dia das pessoas, os exten-
A figura 13 apresenta um arranjo mento. sômetros e as montagens para medi-
interno a uma balança vertical para ção das forças por eles mensuráveis,
grandes cargas. As células de carga ganham sua importância quando há
ficam internas ao cilindro que sofre necessidade de medições de grandes
tensão mecânica decorrente do esfor- massas ou monitoramento de estrutu-
ço de tração em cabos de aço de guin- ras em construção ou em restauração,
dastes e de pontes rolantes, proporcio- face a sua confiabilidade, precisão e
nando sua deformação e, por conse- sensibilidade.
guinte, a medida da força realizada.
Na Universidade de Taubaté, no
Laboratório de Robótica e Instru-
*Wendell de Queiróz Lamas é professor da
mentação, foi construída uma garra F.13 Célula limitadora de Carga Universidade de Taubaté, especializado em
para o ROBOTAU, constituída por Modelo TC (Alfa Instrumentos Ele- informática industrial, em instrumentação e em
duas lâminas de alumínio, cada qual trônicos Ltda.). análise numérica.

T.1 Resumo das configurações de medida. (Fonte: National Instruments).

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 57


Atual Notícias
Automação

Como aplicar
inversores de freqüência
Alaor Mousa Saccomano*

Neste artigo, trataremos alguns aspectos importantes a serem apenas como aspecto comercial, mas
considerados na utilização de inversores de freqüência: aplicação que gera dor de cabeça aos técnicos
envolvidos, é a assistência técnica
de sistemas escalares e vetoriais, características gerais encontra- do equipamento. Certificar-se que a
das em vários inversores comercializados e parâmetros que devem mesma possui competência e eficiên-
ser considerados no efetivo emprego de inversores, além de uma cia (atendimento rápido e confiável) é
rápida abordagem quanto a erros e defeitos. tão importante quanto o tipo de inver-
sor que será aplicado.

P
ara alcançar o efeito desejado dade do motor que aciona o ventilador/ Outras opções valiosas a se con-
e otimizar os investimentos, compressor seja controlada, de modo siderar na instalação se dão quanto à
é sumariamente importante que, nos momentos de menor utiliza- qualidade de energia das mesmas, se
responder a algumas questões e, até ção de carga, a velocidade seja diminuí- já existem problemas como fator de
mesmo, se aprofundar em um estudo da e conseqüentemente o fluxo de ar potência e fator de distorção, ou ainda
de custo/benefício antes de instalar também. Diminuindo-se a velocidade, se há bancos de capacitores para cor-
um inversor de freqüência sobre um logicamente haverá uma redução da reção de fator de potência já instala-
motor ou sistema. Em muitos casos, energia consumida pelo sistema motor- dos. Neste caso, cuidados especiais
verifica-se que a adoção de medidas inversor, resultando em economia direta devem ser tomados, pois os inverso-
mais simples podem resultar em efeito no processo. res são cargas não-lineares, que nor-
similar à aplicação de um inversor em Assim, antes de optar pela instala- malmente resultam em piora para a
motor de indução assíncrono trifásico. ção e escolha de um inversor de fre- atuação de capacitores de correção.
Em algumas situações, é mais inte- qüência, alguns cuidados devem ser E não esqueçamos do que é básico:
ressante a utilização de servomotor tomados quanto a: - tensão da rede;
brushless quando o principal objetivo - rede de alimentação; - freqüência da rede;
é posicionamento. Se o problema é - sistemas de proteção e secciona- - local de instalação;
com sistema de partida de longa inér- mento; - sistemas de proteção específicos
cia, a aplicação de soft-starter (partida - interferência eletromagnética e (fusível ultra-rápido e sensores);
eletrônica suave) pode ser uma solu- blindagem; - compatibilidade com o motor a
ção melhor e mais econômica. - cabos e aterramentos; ser acionado (potência, tensão de ali-
No controle de velocidade e torque - local de instalação e grau IP. mentação, freqüência nominal).
para se estabelecer um melhor resul-
tado sobre o sistema, seja no controle Os aspectos de carga x desem- ENTENDENDO MELHOR A APLICAÇÃO -
de velocidade de uma máquina-ferra- penho estabelecerão as informações DETALHANDO O INVERSOR.
menta, na variação de velocidade em cruciais para a escolha do tipo de
sistemas de alimentação e dosagem, inversor (escalar ou vetorial), e do tipo A primeira abordagem para a apli-
no controle de vazão ou fluxo de um de controle (com ou sem malha de cação de um inversor de freqüência
processo, no controle de elevação em realimentação) no processo. não está no próprio equipamento ou
pontes rolantes, cranes, entre outros, Além disso, quesitos como a inte- no motor, mas sim na carga. (figura 1)
a utilização de um inversor é funda- ração do sistema inversor com o res- As considerações devem ser feitas
mental. tante do processo ou máquina, isto é, a partir das necessidades e caracterís-
Outra necessidade de aplicação se como o equipamento se comunica com ticas próprias da carga. A velocidade da
encontra no controle de velocidade de os demais equipamentos presentes ou carga, seu torque, como se processa a
processos para economia de energia. como as informações do inversor são aceleração da mesma, ciclo de traba-
Um exemplo disso está na utilização de repassadas ao operador/supervisor, as lho, potência requerida, curva de torque
controle do fluxo de ar em um sistema interfaces IHMs necessárias, o grau de x velocidade, rendimento e momento
central de ar-condicionado. Em proces- compactação do equipamento e o sis- de inércia, são algumas das informa-
sos que possuem velocidade fixa em tema de frenagem (quando necessá- ções que devem ser respondidas pelo
seus motores acionadores, e o fluxo é rio) também devem ser especificados engenheiro ou técnico que irá especifi-
controlado via dampers, tem-se con- pelo engenheiro ou técnico que deseja car o equipamento de controle de velo-
siderável perda de energia, pois a efetuar uma correta e eficiente aplica- cidade-torque. Muita informação já deve
regulagem do fluxo de ar se dá pelo ção de inversor no controle de motor estar disponível pelo próprio motor elé-
escape do mesmo no sistema. É mais de indução. Um ponto pouco discu- trico que já está instalado sobre a carga,
inteligente e econômico que a veloci- tido, principalmente por ser encarado se o processo for um retrofitting. Mas,

58 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

se iniciar do zero, o projeto deverá


responder as solicitações já colocadas
anteriormente, além de um bom conhe-
cimento do processo que será “tocado”
pelo conjunto motor-inversor, o que sem
dúvida ajuda muito.
Os fabricantes de motores nor-
malmente têm tabelados os tipos de
cargas em função de velocidade x
torque de aplicações mais comuns.
Destacam-se:
Função constante - A velocidade
aumenta, mas o torque continua em
seu valor inicial. Assim, não são espe- F.1 Esquema de acionamento de uma carga.
rados nesse tipo de aplicação sobres-
saltos de potência no motor ou inversor, direta da corrente, é possível obter uma o processo em situação crítica, é pre-
ou mesmo sobretorques de partida. amostra razoável do tipo de função tor- ciso sobredimensionar o equipamento.
Função linear - Neste caso, o que-velocidade que o processo exige. Quanto de retrofitting de motores para
torque é aumentado ponto-a-ponto, Quanto ao emprego de motores, sistemas de elevação antigos, como
linearmente, até a velocidade nominal. a norma brasileira NBR 7094 explica rotor bobinado (motor de anéis AC-2),
Função quadrática - As cargas muito sobre ciclos de trabalhos, cargas impor um inversor que possibilite pelo
tipificadas como função quadrática ou e partidas e outras informações rele- menos 100% de sobretorque é impres-
parabólica têm o aspecto de incre- vantes que sempre municiam o proje- cindível, além de utilizar malhas fecha-
mento rápido do torque com o aumento tista para uma perfeita aplicação. das neste controle de velocidade.
de velocidade. Normalmente, o torque Para caracterizar o universo da apli-
de partida é baixo, mas se eleva rapi- cação também é importante conhecer ESCALAR OU VETORIAL
damente. Ventiladores e bombas, são o ambiente para a instalação (Qual é a
alguns dos exemplos neste sistema situação da rede de alimentação? Qual Há alguns anos, o domínio da tec-
de acionamento. o local onde vai ser instalado? Será nologia escalar impedia, de certa
Função hiperbólica - Quando a em um painel? Qual o grau de prote- forma, uma visão mais abrangente dos
carga, aumentanto sua velocidade, tem ção IP necessário? Há algum banco processos de controle de velocidade-
diminuição de torque, mas necessi- de capacitores instalados na mesma torque em máquinas trifásicas de indu-
dade de manter constante sua velo- rede?) e as necessidades de interfa- ção. Fazer um motor AC trifásico variar
cidade, como em um torno que vai ceamento com a operação/supervisão sua velocidade, conforme a necessi-
desbastando a superfície do material, (IHM, rede de supervisão, supervisó- dade do processo sem ter de se pre-
diminuindo seu raio. Como o torque é rio, qual é o controlador que atua sobre ocupar com os limites de velocidade
função direta do raio de ação da ferra- o inversor - CLP ou CNC?). de um coletor, nem com desgaste de
menta, haverá a diminuição do torque Algumas dicas já podem ser dadas escovas ou cuidados com o campo de
da carga imposta ao motor, o que pode como, por exemplo, a aplicação de excitação, já era um grande avanço.
ocasionar variação de velocidade, o inversores em sistemas de elevação. É Quem já trabalhou com máquina de
que é realmente indesejado. interessante notar que, eventualmente, corrente contínua conhece os proble-
uma ponte rolante ou guindaste pode mas, como o disparo por falta de
No Brasil há diversos produtores ser sobre-solicitado em termos de res- campo: perdendo o campo em uma
que atuam no mercado e fornecem posta de carga. O motor sempre res- MCC, perde-se a referência de con-
suporte para aplicação. Em seus sites, ponderá aos limites de sobretorque trole e acontece o fenômeno denomi-
encontram-se muitas informações imposto, em muitos casos em até nado disparo, com perda de torque e
específicas que auxiliam a caracteriza- quase 100%. Assim, o inversor de aumento impulsivo da velocidade do
ção da carga. Um outro modo, quando freqüência que acionará este tipo de motor, levando-o em alguns casos à
a carga é de difícil caracterização, é máquina, deve estar preparado para destruição. Daí a necessidade de cons-
tentar inferir o valor de torque e veloci- manter o motor nestas situações críti- tante monitoramento sobre a corrente
dade. Isto só é possível em cargas já cas. Habitualmente, dispomos ao sis- do campo de excitação. Mesmo assim,
instaladas, onde se deseja a aplicação tema inversor-motor a possibilidade em sistemas onde o controle de veloci-
de um inversor de freqüência. É traba- de se trabalhar com valores mínimos dade ocorre em uma faixa entre 10%
lhoso mas, em último caso, se torna de 50% de sobre-torque, o que nos a 150% da velocidade nominal, apli-
uma solução viável. Deve-se proceder leva a um sobredimensionamento do car inversor em modo escalar é a solu-
medindo a velocidade do sistema em conjunto motor entre 50% a 150%, ção mais viável quando se considera
seus diversos ciclos de trabalho e a em algumas situa- desempenho e custo.
corrente de consumo com um oscilos- ções, por questões de segurança. A O controle de velocidade, mantendo
cópio (via ponta de corrente ou shunt). regra é não economizar nesse tipo de o fluxo estatórico (V sobre f ou Volts/
Lembrando que o torque é função aplicação, e portanto: para não parar Hertz) ou ainda por observação de

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 59


Atual Notícias
Automação

escorregamento, tem a vantagem de dade de até 0,5%, fazem dos equipa- serem “setados” (ajustados) e proceder
fácil implementação e de constar na mentos dotados dessa tecnologia muito com a parametrização essencial. Para
maior parte dos produtos comercializa- mais atraentes em suas aplicações. Na tanto, uma boa observada no manual do
dos. Qualquer carga, que possua pata- realidade, a única distinção entre um fabricante e informações junto ao pós-
mar de controle de torque constante vetorial sensorless e um com encoder venda são um bom caminho a seguir.
para variação de velocidade, ou mesmo (ou outro tipo de realimentação posi- A maior parte dos inversores possui
de funções quadráticas, pode ser con- cional), está na malha fechada do sis- funções genéricas que analisaremos a
trolada via um inversor escalar com, tema e na parametrização do inversor seguir. Mas antes, uma questão impor-
por exemplo, ventiladores, calandras, para a utilização da mesma. Em muitos tante a ser entendida é quanto ao modo
bombas, entre outros tipos de carga. O casos, principalmente em retrofitagem como o inversor age no motor que está
afinamento deste controle pode ser feito de máquina, não é muito fácil adequar controlando, no aspecto de alcançar a
adotando-se a realimentação (enco- um sensor de velocidade no eixo do velocidade desejada, seja no ligamento,
der, resolver, tacogerador), que atua na motor ou outro por ele acionado. Em mudança de valor desejado de veloci-
malha de controle de velocidade, resul- outros, o custo de cabos e sistemas dade, frenagem ou solicitação da carga.
tando em melhor controle do processo. gerais para realizar a realimentação Na verdade, o que deve ser especifi-
Na maior parte dos casos, a malha podem invibializar o projeto. Na maior cado são as rampas de aceleração e
interna ou de controle de corrente (indi- parte dos inversores hoje existentes no desaceleração (figura 4).
retamente do torque), não é aplicada ao mercado, através da setagem de sim- Estes valores são, na realidade,
produto, mas sim um sistema de limi- ples parâmetros, consegue-se um ele- parâmetros a serem definidos no inver-
tação de corrente. Isto quer dizer que mento escalar ou vetorial, com ou sem sor. O que se faz é atuar sobre os
na maioria das situações, os inver- realimentação. Por exemplo, um inver- ganhos dos controladores de malha de
sores escalares trabalham com torque sor modelo CFW09 da WEG (figura 2), velocidade (PI ou PID, ou mesmo um
absoluto, ou constante em valor quase pode ser ajustado para trabalhar com o outro controlador mais ativo). Observe o
máximo, permitindo ainda a possibili- tipo de controle desejado, definido por detalhe em diagrama de blocos no artigo
dade de boost de torque em momentos um parâmetro (P202): “Controle de velocidade e torque de
críticos, como na partida. Muitas vezes, 0 V/f (60 Hz) motores trifásicos” publicado na revista
estes valores de boost de torque são 1 V/f (50 Hz) Mecatrônica Atual nº 8 (fevereiro/março
programáveis no inversor, delimitando 2 V/f Ajustável de 2003). A definição da rampa deve
valores de tempo que podem chegar a 3 Vetorial Sensorless ser pautada quanto à necessidade da
alguns minutos de aplicação de sobre- 4 Vetorial com Encoder. carga e disponibilidade de desempe-
torque, com valores em torno de 2 a 3 No caso de um G5 da Yaskawa nho do motor. Assim um valor de rampa
vezes o nominal. (figura 3), a escolha é realizada atra- muito rápido, pode levar a carga a ter
Outro exemplo de aplicação de con- vés do parâmetro A1-02: sobressaltos, o que em alguns casos
trole escalar se dá quando um mesmo 0 V/f sensorless não é aconselhável (esteiras transpor-
inversor atuará sobre vários motores. 1 V/f com realimentação tadoras e elevadores). Rampas mais
Resumindo, se a sua aplicação não 2 Vetorial sensorless longas servem muito bem para ace-
necessita de variação rápida de acele- 3 Vetorial de fluxo. lerar grandes inércias, como centrífu-
ração (resposta dinâmica em até 5 ms), Para parametrização de um inver- gas e moinhos. Rampas rápidas podem
variação de velocidade em função da sor, sempre é imprescindível conhecer sobreaquecer o motor, principalmente
variação de carga, controle de torque a aplicação. Mais um exemplo: acionar na desaceleração. Ainda sobre a rampa,
com precisão de até 10% e nunca tenha uma centrífuga, de alta inércia, o que os momentos críticos se encontram nas
a necessidade de torque em veloci- em muitas situações deve-se utilizar bordas, no início e fim da rampa, onde
dade zero, associado a vantagem de um boost de torque na partida. Se for ocorre uma abrupta descontinuidade da
baixo custo e robustez do equipamento, empregado um equipamento Siemens, aceleração, podendo gerar sobressal-
então o problema se resolve com um modelo Micromaster, o parâmetro P079 tos de velocidade e torque. Em muitos
inversor escalar. A melhora do desem- - “Elevação da corrente de partida (%)” -
penho será sentida na utilização de permite que seja ajustado um boost de
malha de realimentação de velocidade. tensão (elevação) de modo que a cor-
A possibilidade escalar sensorless neste rente de partida pode ser especificada
caso deve ser pouco explorada, devido para até 250% da nominal do motor, até
ao pobre desempenho da maior parte que a freqüência de trabalho desejada
dos inversores na situação de carga e (velocidade de referência) seja alcan-
variação da mesma. çada. Os valores a serem especificados
Um inversor vetorial com atuação podem ser de 0 a 250.
sensorless é uma solução abrangente
para o controle de velocidade e torque AJUSTANDO A OPERAÇÃO
de máquinas na maioria das vezes,
senão todos os envolvidos pela atua- Uma vez definido o universo da apli-
ção de um inversor escalar. Resposta cação, pode-se escolher o inversor e F.2 Inversor modelo CFW09, da WEG.
dinâmica rápida e precisão de veloci- definir quais serão os parâmetros a

60 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003


Notícias
Automação Atual

Problema Ação Causas prováveis

Sobrecorrente na saída - Verificar fases de alimentação - Curto entre duas fases


- Aumentar o tempo de rampa - Rampa de aceleração muito rápida
- Rever a carga - Inércia da carga muito alta.

Sobretensão do link - Verificar a tensão, a mesma deve - Alta tensão de alimentação; alta inér-
ser no máximo 15% acima da nominal cia de carga
- Aumentar o tempo de desaceleração - Rampa de desaceleração muito
rápida

Subtensão - Verificar fusível do link - Fusível do link aberto ou contator/


- Medir tensão da rede, não deve ser tiristor de disparo do link não entrou
menor que 25% da nominal - Baixa tensão da rede
- Aumentar o tempo de desaceleração - Rampa de desaceleração muito
rápida

Falta de fase ou subtensão - Medir alimentação e verificar fusíveis - Baixo valor de tensão ou falta fase

Sobretemperatura nos - Verificar ventilador - Ventilação forçada com defeito


dissipadores - Liberar passagens de ar
- Limpar filtros

Erro de memória/watchdog - Verificar aterramento - Ruído elétrico


- Sensoreamento da tensão do link DC - Erro de memória
com defeito - Conflito de versão
- Verificar a versão da EPROM quando
utilizá-la para reprogramar outro inver-
sor

Curto terra fase de saída - Inserir reatância na entrada - Capacitância entre cabos muito alta

Sobretemperatura no motor - Verificar temperatura do motor - Excesso de carga ou rotor travado


- Verificar rolamentos do motor - Baixa isolação
- Verificar carga
- Testar sensor PTC ou termistor

Capacitância para terra muito alto, - Instalar reatância trifásica em série - Cabos longos >50m
falta a terra na entrada - Freqüência de chaveamento alta
- Diminuir parâmetro de freqüência de
chaveamento

Motor não gira - Instalar filtros de RFI próximos do - Erro de fiação de controle/referência
Inversor, um para cada fase, próximos ou de potência
um do outro e aterrar na chapa de
fixação juntos
- Afastar os cabos de alimentação do
inversor em relação a outros circuitos

Flutuação de velocidade - Aperto de todas as conexões - Mau contato nos cabos de potência
ou referência

Velocidade incompatível com a - Verificar polaridades da malha de - Descontrole de velocidade


programada ou muito baixa realimentação

Interferência EMI - Instalar filtros de RFI próximos do - Ruídos em sistemas próximos


Inversor, um para cada fase, próximos - Resetegem de micros e PLCs
um do outro e aterrar na chapa de
fixação juntos
- Afastar os cabos de alimentação do
inversor em relação a outros circuitos

Aumento desproporcional do Inserção de indutância no link DC Cabo aquecendo, ruídos em


conjunto de harmônicas e baixo equipamentos
FP

T.1 Erros e defeitos.

Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003 61


Atual Notícias
Automação

da rampa como uma função limite onde uma vez setadas, impõe veloci-
- rampa S ou integração temporal do dade e sentido definido ao inversor.
início/ fim de rampa. Das funções gené- Proteção contra sobre tempera-
ricas, podemos destacar: tura ou I2t - esta função realiza o
Partida com o motor girando ou constante monitoramento da tempera-
fly start - possibilidade de permitir que tura dos elementos chaveadores, ou
o inversor energize o motor em movi- também via sensor PTC ou termistor
mento. Se esta função não for bem dentro do motor, supervisionando a tem-
ajustada/empregada, ocorrerá sobre- peratura do motor, que é a grande res-
tensão no circuito intemediário (link ponsável pela maior parte das falhas.
DC). Valores de rampa de aceleração Self-tunning ou auto-ajuste - os
para esta função normalmente são sistemas que utilizam Controle Veto-
diferentes dos valores pré-setados rial necessitam, também de levanta-
para uma aceleração normal. mentos de valores de indutância de F.3 Inversor modelo G5, da Yaskawa.
Jog - esta função normalmente dispersão (σLs), corrente de magenti-
está associada a uma entrada digital, zação (Iµ) constante rotótica (LR/RR), Elaboramos uma pequena e sim-
que é programada para receber sinal resistência do estator (RS), constante ples tabela para um apoio inicial a
source (positivo) ou sink (negativo). de torque (TM) e indutância estatórica manutenção. São dados genéricos,
Quando atuada, mantém o motor com (LS). Estes valores nem sempre são pois cada fabricante tem seu próprio
velocidade constante, definido nos fáceis de serem encontrados pelo pro- sistema construtivo, arranjo de projeto
parâmetros de freqüência de Jog ou jetista. No auto-ajuste, o próprio inver- e códigos de falhas. O fundamental é
similar. É utilizada para ajuste de posi- sor se encarrega via algoritmos de se ter noção de onde pode ocorrer o
ção de máquinas. estimação e identificação, do levanta- erro: (tabela 1: Erros e defeitos).
Rejeição de freqüências ou exclu- mento destes dados junto o motor.
são de freqüência de ressonância - CONCLUSÃO
na variação de velocidade, o conjunto E A INSTALAÇÃO?
vibra, além de que, nos momentos Os aspectos de definição e aplica-
de aceleração e desaceleração, passa Até aqui, não falamos quase nada ção de inversores de freqüência para
por toda a gama de freqüências até o sobre procedimentos e dicas de ins- acionamento de motores de indução
valor de velocidade desejado. Poderá talação de inversores. Na realidade, assíncronos trifásicos (MI), são consi-
acontecer, que dada freqüência, tenha esse assunto merece por si só um deravelmente extensos e detalhistas. A
batimento com a freqüência complexa artigo que faremos futuramente. experiência nos mostra que nunca um
própria do sistema; isto fará com que caso é igual a outro. O objetivo deste
a mesma se amplifique, aumentando RESOLVENDO PEQUENOS artigo é chamar a atenção do leitor
excessivavente o ruído e vibração do PROBLEMAS E DEFEITOS de Mecatrônica Atual para alguns dos
conjunto. Essa função exclui a viabi- muitos detalhes interessantes quanto
lidade de utilizar esta freqüência na Muitos dos erros e defeitos podem a aplicação de inversores. Não abor-
variação de velocidade do motor ser pequenos problemas como mau damos ainda os acessórios do sis-
Freqüência de PWM ou freqüên- dimensionamento de protetores (uti- tema, como IHM, rede de comunicação,
cia de pulsação - as chaves de potên- lizar sempre um fusível ultra-rápido - entradas e saídas digitais/analógicas,
cia do inversor (IGBTs Power Mosfets, categoria aR - para proteger o in- etc. Para um futuro próximo, artigos que
Transistores de Potência ou MCTs) são versor), ou falta de reatâncias de abordem os procedimentos de manu-
chaveados segundo a freqüência de rede, ou mesmo problemas de EMI tenção, estudos de casos de aplica-
PWM definida na parametrização do e fuga a terra. Antes de contatar a ção e resolução de defeitos em campo
motor. Valores baixos de chaveamento assitência técnica, que pode demo- e em bancada serão produzidos. Para
(1,6 a 4 kHz) têm a vantagem de limitar rar, pode-se tentar algumas soluções questões mais urgentes, mande-nos
as perdas de chaveamento (tempo de rápidas. um e-mail para a Seção do Leitor.
subida e descida no acionamento das ATENÇÃO: conheça bem os limi-
chaves de potência) e diminuir a interfe- tes impostos por sua garantia, para *Alaor Mousa Saccomano é professor do depar-
tamento de Engenharia da UNIP (Campus Alpha-
rência de alta freqüência. A contrapar- não mexer onde não deve e, em con- ville) e diretor da MAC TREIN Consultoria e
tida é que o ruído acústico no motor seqüência disso, vir a perdê-la. Treinamento S/C
é muito desagradável. Se elevarmos a
freqüência de chaveamento para níveis
maiores (10kHz...20kHz), o ruído estará
na faixa inaudível, porém aumenta-se
consideravelmente as perdas de chave-
amento e interferência de RFI.
Multivelocidade - esta função é
uma combinação das entradas digi-
tais (que são acessórios) do inversor, F.4 Rampa de aceleração e desacelaração do inversor.

62 Mecatrônica Atual nº10 - Junho - 2003

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