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Artigo Sobre Qualidade e Desempenho PDF
Artigo Sobre Qualidade e Desempenho PDF
ABORDAGEM GERAL
Resumo:
Palavras chave: desempenho, NBR 15575, vida útil, durabilidade, qualidade da construção.
Abstract:
Essa degradação antecipada das edificações tem influência direta dos custos de
manutenção e reparo das mesmas. No que se refere a sistemas estruturais em concreto
armado e protendido, destaca-se que as atividades relacionadas à manutenção, reparo e
restauração das estruturas e suas partes correspondem a 35% do total do volume de trabalho
do setor da construção civil, e esse número vem aumentando nos últimos anos (GARCIA-
ALONSO et. al., 2007). Mehta e Monteiro (2008) citam que em países industrialmente
desenvolvidos estima-se que 40% do total de recursos da indústria de construção são
destinados a intervenções de estruturas já existentes e menos de 60% em novas instalações.
Segundo os autores o crescimento dos custos envolvendo a reposição de estruturas e a
crescente ênfase no custo do ciclo de vida, mais do que no custo inicial, está forçando os
engenheiros a darem mais atenção às questões de durabilidade. Dados coletados pela
NACE International (2002) mostram que nos Estados Unidos o custo anual relacionado ao
processo corrosivo de infraestruturas civis (pontes, aeroportos, portos, entre outros) é estimado
em US$ 22,6 bilhões. Em estudo realizado no Brasil, Meira e Padaratz (2002) observaram que
os investimentos em intervenções de manutenção, em uma estrutura com alto grau de
deterioração, podem chegar a aproximadamente 40% dos custos de execução do componente
degradado.
Mas, como projetar edificações duráveis, com no mínimo 50 anos de vida útil? Se o
que se vê atualmente nos noticiários é um grande número de desabamentos e colapso de
estruturas ou de suas partes1,2,3,4, onde se verifica que a vida útil das construções está
atingindo valores muito menores do que os previstos em normas (que para a maioria das
estruturas é de 50 anos).
Sinistros ocorridos no Brasil, como o desabamento dos edifícios Palace II5 e Areia
Branca6 e o acidente no estádio de futebol Fonte Nova7, assim como os citados nas notas
1
Desabamento de edifico em reforma, ocorrido em 27 de agosto de 2013, em São Mateus,São Paulo,
SP. Dez mortos e 26 feridos.
2
Desabamento de laje, ocorrido em 11 de fevereiro de 2013, em São João da Barra, RJ. Dez feridos
e duas vítimas fatais.
3
Desabamento de marquise, ocorrido em 14 de fevereiro de 2013, em Belo Horizonte, MG. Uma
vítima fatal.
4
Desabamento de três edifícios, ocorrido em 25 de janeiro de 2012, centro do Rio de Janeiro. Cinco
pessoas morreram.
5
Desabamento, ocorrido em 21 de fevereiro de 1998 no Rio de Janeiro, RJ, vitimando oito pessoas.
de 1 a 4, causaram prejuízos econômicos, sociais e perdas humanas irreparáveis. Essas
ocorrências têm chamado à atenção da comunidade da construção brasileira para a
necessidade do projeto para a durabilidade, do maior controle do projeto e execução de
novas edificações e, sobretudo, da necessidade do constante monitoramento e/ou
manutenção das obras já existentes. Fatores como programação de manutenção, estimativa
de custos ao longo da vida útil e necessidade de se construir edificações mais duráveis
(com maior vida útil) devem ter maior importância nos projetos e gerenciamento de
empreendimentos, considerando também o custo do ciclo de vida (CCV). Em suma, é
necessário melhorar a qualidade das edificações produzidas.
Neste sentido, na última década a comunidade da Engenharia Nacional tem
promovido alguns debates técnicos como “Lições de Areia Branca: acidentes,
8
responsabilidades e segurança das obras ”, promovido pelo IBRACON (Instituto Brasileiro
do Concreto), ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e
IBAPE/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo). Em
março de 2007, a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica de Solos), o IBRACON e a
ABECE deram início a outro debate, intitulado “O Momento Atual da Engenharia Brasileira 9”.
Esse debate culminou na realização de vários eventos sucessivos (nas cidades de: Rio de
Janeiro, RJ; Porto Alegre, RS; Recife, PE e Brasília, DF), visando à discussão e reflexão do
momento histórico da Engenharia Civil brasileira.
Na esfera Internacional, organizações como o ACI (American Concrete Institute), a
fib (Fédération Internationale Du Béton), a RILEM (Reunion Internationale de Laboratoires
D’essais et Materiaux), a ISO (International Standards Organization), entre outras, há anos
têm trabalhado para melhorias deste setor, inserindo novos conceitos na Indústria da
Construção em prol da durabilidade e aumento da vida útil das construções. Vários
documentos publicados por estas instituições têm introduzido, ao longo dos anos, soluções
relevantes tanto do ponto de vista de durabilidade quanto do ponto de vista econômico. Um
destaque especial é conferido ao fib 53 (2010) “Design of durable concrete structures” o qual
tem o intuito de identificar modelos consensuais relacionados à durabilidade e preparar uma
estrutura física voltada à normalização do projeto baseada na aproximação de desempenho.
No Brasil, a Norma de Desempenho (NR 15575), lançada em 2013, constitui-se no
principal documento normativo voltado ao desempenho de edificações habitacionais.
Objetiva estabelecer uma sistemática de avaliação de tecnologias e sistemas construtivos
6
Desabamento, ocorrido em 14 de outubro de 2004, Recife, PE, vitimando quatro pessoas.
7
Ruptura parcial do anel superior da arquibancada, ocorrida em 25 de novembro de 2007, Estádio
Fonte Nova, Salvador, BA, vitimando sete pessoas.
8
Este debate culminou na elaboração de manifesto público cuja segurança das obras civis no Brasil é
abordada e está disponível em http://www.ibracon.org.br/Metro/Manifestopublico.pdf.
9
Informações sobre os temas discutidos e o andamento dos debates estão disponíveis no endereço
eletrônico: http://www.ibracon.org.br/metro_linha4_new.asp.
habitacionais, com base em requisitos e critérios de desempenho expressos em normas
técnicas brasileiras vigentes.
A Norma Brasileira de Desempenho teve sua primeira tentativa de lançamento em 12
de maio de 2008, com entrada em vigor prevista para 12 de maio de 2010. No entanto, a
norma não entrou em vigor e passou por uma reformulação/adequação sendo novamente
publicada em de março de 2013, com entrada em vigor a partir de 19 de julho de 2013.
Com o passar dos anos, ocorreram grandes mudanças nos materiais de construção,
ambiente de exposição e procedimentos de cálculos. Verificou-se que o concreto armado
apresentava limitações e que somente o parâmetro resistência (R) era insuficiente para atender
às exigências de projeto. Então se enfatizou a durabilidade (D) destas estruturas e dos seus
materiais constituintes, aliando posteriormente este conceito ao desempenho (DES) das
mesmas, ou seja, ao comportamento em uso. Contudo, ainda faltava inserir nos projetos a
variável “tempo”, surgindo então os estudos de vida útil (VU). Atualmente, fatores como
competitividade, custos e preservação do meio ambiente estão novamente impondo mudanças
na maneira de se conceber estruturas, exigindo que estas sejam projetadas de forma holística,
pensando no seu ciclo de vida (CV) e nos custos associados (CCV - Custo do Ciclo de Vida). A
partir do CCV vários estudos podem ser conduzidos, com destaque às estimativas de custos de
manutenção ao longo da vida útil, estudos de impacto ambiental, entre outros, auxiliando na
seleção da melhor alternativa de projeto para novas estruturas ou de manutenção, reparo,
reabilitação ou destinação final para estruturas existentes. Com isso o projeto para a
sustentabilidade (SUS) torna-se possível (POSSAN, 2010). A Figura 1 apresenta o resumo
desta evolução conceitual do projeto das estruturas de concreto.
Resistência (R)
Durabilidade (D)
SUS CCV VU DES D R Desempenho (DES)
Vida Útil (VU)
Custo do Ciclo de Vida (CCV)
Sustentabilidade (SUS)
1 1
2
Qualidade Funcionalidade
(durabildiade)
3
2 2
Para alcançar esse equilíbrio é fundamental projetar estruturas com elevada vida útil, pois
quanto maior ela for menos recursos são necessários para a construção de novas
estruturas. Essa mesma premissa é válida para as edificações.
Desempenho pode ser definido como o comportamento em uso. No caso de uma edificação
pode ser entendido como as condições mínimas de habitabilidade (como conforto térmico e
acústico, higiene, segurança, entre outras) necessárias para que um ou mais indivíduos
possam utilizar a edificação durante um período de tempo.
O desempenho pode variar de um indivíduo para o outro, pois depende das
exigências do usuário (na concepção) ou dos cuidados no uso (manutenção). Também
depende das condições de exposição do ambiente em que a edificação será construída,
como temperatura, umidade, insolação, ações externas resultantes da ocupação etc.
Mas como estabelecer o desempenho de uma edificação? Segundo a NBR 15575-1
(2013) internacionalmente é comum estabelecer o desempenho por meio da definição de
requisitos (qualitativos), critérios (quantitativos ou premissas) e métodos de avaliação, os
quais sempre permitem a mensuração clara do seu cumprimento.
Segundo a Norma, para que uma edificação tenha um desempenho adequado deve-
se buscar junto ao usuário a captação dos requisitos de desempenho. Com base nestes
requisitos qualitativos (segurança, resistência, conforto, boa estética, etc.) devem-se
estabelecer os critérios de desempenho (estabilidade estrutural, resistência ao fogo,
conforto térmico e acústico, durabilidade, etc) por meio de resoluções normativas
prescritivas vigentes.
Destaca-se que as Normas prescritivas estabelecem requisitos com base no uso
consagrado de produtos ou procedimentos, buscando o atendimento às exigências dos
usuários de forma indireta. Já as Normas de desempenho traduzem as exigências dos
usuários em requisitos (qualitativos) e critérios (quantitativos), e são consideradas como
complementares as Normas prescritivas, sem substituí-las. A utilização simultânea de
normas prescritivas e de desempenho visa atender às exigências do usuário com soluções
tecnicamente adequadas (NBR 15575-1, 2013).
É importante lembrar que a norma de desempenho (NBR 15575, 2013) não se aplica
a obras em andamento ou a edificações concluídas até a data da sua entrada em vigor (19
de julho de 2013). Também não se aplica a obras de reformas nem de “retrofit” nem
edificações provisórias. O objetivo principal da norma é imprimir melhoria da qualidade das
construções habitacionais produzidas no Brasil, atuando de forma complementar com o
conjunto de normas preceptivas da ABNT vigentes e já difundidas na comunidade da
construção.
4. DURABILIDADE
10
http://www.cbic.org.br/sala-de-imprensa/apresentacoes-estudos/norma-de-desempenho-3.
11
Requisitos de desempenho são condições que expressam qualitativamente os atributos que a
edificação e suas partes devem possuir, a fim de que possam satisfazer às exigências do usuário
(NBR 15575-1:2013).
O conceito de durabilidade associa-se diretamente à vida útil. Refere-se às
características dos materiais e/ou componentes, às condições de exposição e às condições
de utilização impostas durante a vida útil da edificação. Destaca-se que a durabilidade não é
uma propriedade intrínseca dos materiais, mas sim uma função relacionada com o
desempenho dos mesmos sob determinadas condições ambientais. O envelhecimento
destes resulta das alterações das propriedades mecânicas, físicas e químicas, tanto na
superfície como no seu interior, em grande parte devida à agressividade do meio ambiente.
Para Mehta e Monteiro (2008) “uma vida útil longa é considerada sinônimo de durabilidade”.
12
Corresponde a todos os estágios da vida do produto, no caso o produto é a edificação. Pode
abranger desde a concepção passando pela construção, operação, manutenção e reparo até a
demolição e destinação dos resíduos.
Ações de manutenção
A lto ]
Incremento de desempenho
N ív e l d e d esem p enho
Nível mínimo de
•
desempenho
[B a ixo
Normalmente, a Vida útil é expressa em anos, sendo estabelecida pela maioria das
Normas e Códigos do concreto (ver Tabela 2) uma vida útil de projeto (VUP) mínima de 50
anos para a maioria das estruturas e 100 anos para estruturas civis, como obras de
infraestrutura, pontes, viadutos, barragens entre outras.
A lto ]
penho
Nível mínimo de
estru tura l
de desem
desempenho
•
N íve lde
Nível
[B a ixo
Tempo
A vida útil real ou efetiva de uma estrutura pode não ser necessariamente igual à
vida útil de projeto (VUP) originalmente especificada, face às incertezas inerentes ao
processo de degradação da estrutura (como ação dos mecanismos de degradação, cargas,
etc.). Para se ter certeza de alcançar a VUP é necessário considerar uma margem de tempo
ou um nível de desempenho adequado, considerando, para isso, não apenas aspectos do
ponto de vista de engenharia, mas também do ponto de vista econômico e não técnico.
A NBR 15575 (2013) destaca que para se atingir a VUP mínima é necessário atender,
simultaneamente, os cinco aspectos abaixo descritos:
Do ponto de vista técnico, é fundamental que a vida útil (VU) seja considerada no
nível do projeto, uma vez que 50% do desempenho dos edifícios dependem do projeto
(BORGES, 2009). Mas como inserir as questões de vida útil na fase de projeto da
edificação? Pois, apesar da vida útil quando definida no nível do projeto tender a diminuir o
custo global, o construtor, para reduzir o custo inicial, tende a construir pelo menor custo de
construção, optando por alternativas que não favorecem a durabilidade e consequentemente
a vida útil da edificação.
Uma alternativa importante para considerar a vida útil no projeto é a análise do Custo
do Ciclo de Vida (CCV) da edificação, onde os fatores intervenientes no projeto, execução e
manutenção são considerados ao longo do tempo incluindo os custos associados,
auxiliando na identificação de alternativas de projeto que possam conduzir a menores custos
de operação, manutenção, reparo e reabilitação, durante a vida útil da construção. Com isso
tem-se uma curva de desempenho e uma de custos ao longo do tempo, conforme
apresentado na figura 5.
Essa análise pode ser usada para justificar altos investimentos iniciais de um projeto,
em razão dos benefícios econômicos advindos ao longo do tempo. Suas vantagens são
mais bem percebidas quando se podem comparar diferentes alternativas de projeto, sendo
que os maiores benefícios desta análise, são alcançados em projetos de novas edificações.
Todavia, não há impedimentos para seu emprego em edificações já existentes.
Alto
1
CCV
Custos
Custo de Custo de
aquisição manutenção e reparo
Baixo Confiabilidade
Desempenho Alto
Ressalta-se que a análise do CCV exige visão sistêmica e multidisciplinar, pois além do
conhecimento em engenharia são necessários conhecimentos básicos em ciência dos
materiais, processos estocásticos e engenharia econômica.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto, a execução, a seleção dos materiais, a caracterização do ambiente de
exposição e as estratégias de manutenção e reparo são de suma importância para a
garantia de durabilidade (qualidade) de uma estrutura ou componente, e
consequentemente, sua vida útil. Qualquer negligência em relação a estes aspectos
torna o desempenho das mesmas insatisfatório quanto à durabilidade, afetando
diretamente a vida útil requerida.
A vida útil de uma estrutura pode ser limitada por aspectos técnicos, funcionais ou
econômicos. Os aspectos técnicos são todos aqueles não relacionados com o uso
da estrutura (requisitos para a integridade estrutural da edificação, capacidade
resistente dos componentes e materiais). Os funcionais referem-se à capacidade de
uma estrutura cumprir com o conjunto principal de funções para a qual foi projetada
(resistir às ações que é solicitada). Já os econômicos são relativos aos custos de
manutenção necessários para que a estrutura siga em uso.
A qualidade das obras do país precisa com urgência ser melhorada. Inúmeras obras
recém-construídas tem apresentado degradação acentuada, as quais podem não
atingir a VUP, sobretudo sem intervenções de manutenção. Também os proprietários
precisam “entender” a importância e a necessidade das ações de manutenção para a
garantia da vida útil, ou seja, é necessário “criar a cultura da manutenção” das
edificações.
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