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PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Gustavo Tanganini Pitelli1


Gerson de Marco2

Resumo: O concreto é um dos principais materiais utilizados no ramo da construção civil,


encontrado na maior parte das obras (edifícios, pontes, usinas hidrelétricas entre outras
construções). As estruturas dele são denominadas estruturas de concreto armado, formadas
basicamente pela composição de concreto e aço, geralmente são encontradas na forma de
pilares, vigas e lajes.
Entretanto, a execução e manutenção desse método construtivo devem ser realizadas
rigorosamente, assim evitando as chamadas patologias.
Este trabalho contém o estudo sobre as patologias que as estruturas podem apresentar, suas
possíveis causas e soluções.

Palavras-chave: Causas. Concreto. Corrosão. Patologia. Soluções.

PATHOLOGIES IN REINFORCED CONCRETE STRUCTURES

Abstract: Concrete is one of the main materials used in the construction industry, found in most
of the works (buildings, bridges, hydroelectric plants, among other constructions). Its structures
are called reinforced concrete structures, formed basically by the composition of concrete and
steel, are usually found in the form of pillars, beams and slabs.
However, the implementation and maintenance of this constructive method must be carried out
rigorously, thus avoiding so-called pathologies.
This paper contains the study on the pathologies that structures can present, their possible
causes and solutions.

Key-words: Causes. Concrete. Corrosion. Pathology. Solutions.

1
Graduando do Curso de Engenharia Civil da Universidade de Araraquara- UNIARA. Araraquara-SP. E-mail:
gupitelli@hotmail.com
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Orientador. Docente Curso de Engenharia Civil da Universidade de Araraquara- UNIARA. Araraquara-SP. E-
mail: gersondm@yahoo.com.br
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INTRODUÇÃO
O concreto é um dos principais materiais utilizados no ramo da construção civil, no
entanto não é o único elemento construtivo suscetível a patologias. As armaduras de aço têm
extrema importância em se tratando de resistência a tração nas estruturas de concreto armado.
Elas por sua vez também correm riscos patológicos, ou seja, problemas com oxidação.

Existem dois tipos de oxidação, a oxidação superficial é um mecanismo genético que


pode ocorrer mesmo com a ausência de água, como o nome já diz, trata-se de um efeito
superficial que não afeta a seção da barra e consequentemente não afeta sua resistência,
podendo ser utilizada normalmente. O outro fenômeno é conhecido como corrosão, este é um
fenômeno que gera uma crosta de ferrugem que se solta das barras, alterando sua seção e
comprometendo sua resistência. A corrosão ocorre geralmente quando o aço entra em contato
com a água e oxigênio.
Para Helene (2014), a corrosão é o processo em que o aço retorna ao seu estado natural,
ou seja, como geralmente é encontrado na natureza, formado por compostos estáveis na forma
de óxidos.
Segundo Souza e Ripper (2009), o concreto é um protetor para as armaduras, ele inibe
a entrada de umidade e oxigênio na estrutura, mas para isso deve ser executado corretamente
de forma em que haja total cobrimento das armaduras.
A evolução dos materiais e técnicas construtivas a fim de acelerar e finalizar as obras
em menor prazo, estão resultando em uma queda de qualidade no resultado de estruturas em
concreto armado. Esta queda de qualidade devido falhas na execução ou na manutenção das
estruturas acabam resultando nas chamadas patologias.
Segundo Moraes Vieira (2016), patologias são defeitos que ocorrem em alguma etapa
da execução destes elementos estruturais, ou seja, vigas, pilares ou lajes.
Ter conhecimento e saber diagnosticar possíveis causas e soluções para patologias
podem evitar problemas futuros, sendo eles problemas simples que podem ser corrigidos com
pequenos reparos ou até problemas graves como desastres ou a condenação da obra. É
responsabilidade do engenheiro atender todas as expectativas do cliente, portanto é essencial
que se evite possíveis patologias. Problemas patológicos podem resultar em custos não
previstos no projeto ou atraso na entrega da obra. Eles têm impacto direto sobre a vida útil dos
elementos estruturais e na segurança dos civis ao seu redor.
A Norma Regulamentadora (NR) nº 6118/2014 – Projeto de Estruturas de Concreto,
apresenta a vida útil de uma estrutura, o período o qual as características físicas do projeto se
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mantem sem a necessidade de intervenções significativas, respeitando os requisitos de uso e


manutenção prescritos pelo projetista e construtor, incluindo a execução de reparos necessários
devido danos acidentais.
Este trabalho tem como objetivo estudar as principais causas dos problemas patológicos
referentes as estruturas de concreto armado, podendo ser elas por falha na execução, no projeto
ou até na manutenção durante sua vida útil, descrevendo possíveis soluções para estes
problemas.
Será realizada pesquisa bibliográfica com foco no estudo sobre patologias em estruturas
de concreto armado. Estimulando futuros engenheiros a se dedicarem às pesquisas com o
objetivo de se adquirir mais conhecimento sobre o tema e desenvolver novos métodos de
prevenção e soluções para problemas patológicos.
Este tema foi escolhido devido o número de manifestações patológicas que vem
ocorrendo cada vez com mais frequência no dia a dia da construção civil. A falta de mão de
obra especializada leva a maioria das construtoras optarem pela mão de obra pouca
qualificação, seja ela em qualquer etapa da construção. Esta escolha afeta diretamente o
resultado da obra aumentando drasticamente o surgimento de patologia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICAS

O material utilizado para pesquisa, é extremamente didático e possui as diretrizes


necessárias e coerentes para o avanço do projeto.

Com base nesta, é compreendido e definido o que são patologias ligadas a estruturas de
concreto armado, Moraes Vieira define da seguinte forma:

“O termo patologia vem da medicina, tendo origem no grego onde Pathos = Doença e Logos =
Estudo, na medicina significa estados patológicos ou falta de saúde. É também responsável por
estudar o surgimento, os sintomas e os possíveis tratamentos das doenças, na construção civil o
sentido é o mesmo.” (Moraes Vieira, 2016 p. 19)

Quando existem manifestações patológicas em edificações deve-se realizar um estudo


para definir suas causas e determinar se há solução para o problema ou se a estrutura está
comprometida, Moraes Viera destaca:
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“Na prática, quando uma edificação tem sintomas patológicos deverão ser realizados estudos da
situação e encontradas as ocorrências dos problemas, falhas ou defeitos e então é feita a
classificação do grau de patologia, concluindo se o problema é estrutural, podendo comprometer
a vida útil da estrutura, ou se é apenas algum aspecto visual.” (Morares Vieira, 2016 p. 19)

A mão de obra não qualificada tem impacto direto na possibilidade de surgirem futuras
patologias na estrutura. As falhas humanas provenientes de falta de atenção ou até mesmo falta
de conhecimento na execução de algumas etapas construtivas podem acarretar problemas
indesejados e não previstos. como mostra Moraes Vieira em:

“As falhas humanas durante a construção de uma estrutura são frequentes, tendo sua origem, na
maioria das vezes, por falta de qualificação profissional, ou seja, de mão de obra especializada,
o que pode acarretar a estrutura manifestação de problemas patológicos futuros.” (Moraes Vieira,
2016 p. 27)

A fissura é um tipo de patologia encontrada nas estruturas de concreto armado, elas são
bem preocupantes dependendo de seu grau de abertura. Para uma análise e diagnóstico correto
é necessário classificar o grau dessa fissura, determinando se ela ainda sofre efeito da causa
responsável pela fissuração ou se ela só sofreu esse efeito durante um determinado tempo e
agora está estável. Souza e Ripper destacam:

“O fissuramento em uma estrutura pode ter diversas causas e para que se possa ter um estudo
eficaz e correto da configuração da fissura, do grau de abertura da mesma e se há variação em
relação ao tempo, é necessário classificar a fissura, como ativa ou inativa, ativa quando a causa
responsável por gerar a fissura ainda atua sobre a estrutura e inativa, ou seja, estável, quando a
causa teve efeitos por um período de tempo e após esse período deixou de atuar na estrutura.”
(Souza e Ripper, 2009 p 57)

Conforme (HELENE; 2014), patologias ligadas a corrosão da armadura geralmente só


aparecem depois de muitos anos que a estrutura está sendo utilizada, podendo demorar até 15
anos para surgirem, raramente este tipo de patologia demonstra sintomas com pouco tempo de
uso. Fissuras e manchas são um sinal que a estrutura apresenta quando está sendo afetada por
problemas relacionados a exposição e deterioração da armadura.
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As fissuras mesmo não sendo estruturais acabam impactando negativamente na vida útil
das estruturas, mesmo não condenando diretamente a estrutura, elas acabam facilitando a
entrada de agentes oxidantes como água e oxigênio. Mostrado por Neville e Brooks em:

“Estas pequenas fissuras não estruturais interferem na vida útil das estruturas de concreto
armado, facilitando da entrada de agentes ambientais agressivos, e entre eles a penetração de
água e oxigênio, possibilitando o aparecimento da corrosão das armaduras.” (Neville e Brooks,
2013.)

1 PATOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

No ramo da construção civil patologia é um termo utilizado para descrever problemas


construtivos que podem comprometer a integridade estrutural de uma obra. Essas patologias
podem ser provenientes de diversas falhas, na maioria das vezes surgem de erro humano tanto
na execução da obra quanto nos projetos. Além disso, a ausência de manutenção adequada
prevista pelo projetista também é uma das grandes causas que comprometem as estruturas de
concreto.

2 CONCRETO E SUA COMPOSIÇÃO

O concreto é um dos matérias mais utilizados no ramo da construção civil, praticamente


indispensável, porém se utilizado de forma incorreta pode acarretar muitos problemas para o
dono da construção ou a empresa encarregada pela obra.

Sua composição é dada basicamente da mistura de água, cimento, pedra e areia. É de


suma importância que na hora da execução da obra se respeite as proporções de cada material,
como já calculado e previsto em projeto. Cada obra possui uma necessidade e uma
particularidade na hora de balancear e definir as proporções do concreto, essas proporções são
definidas através da resistência característica à compressão (fck) que deve ser atingida. A
proporção da mistura de matérias é denominada dosagem ou traço do concreto.

A quantidade de água utilizada tem extrema importância e impacto direto na resistência


e na qualidade do concreto, ela é responsável por ativar os reagentes químicos da mistura, ou
seja, se for utilizado pouca água, corre-se o risco de não ativar os reagentes químicos, portanto
o concreto não atinge a textura de pasta que deve ter para poder ser utilizado, porém caso possua
excesso de água na mistura, o concreto atinge a textura de pasta mas perde resistência podendo
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não atingir a resistência recomendada, isso pode impossibilitar a utilização do mesmo. A


dosagem de água perfeita está relacionada à quantidade de cimento q irá ser adicionado ao
concreto, essa relação tem o nome técnico fator água/cimento (a/c).

Figura 1- Dosagem do concreto.

Fonte: http://www.portaldoconcreto.com.br/cimento/concreto/concretos.html

A imagem acima mostra diversas misturas e combinações que podem ser feitas a partir
do concreto afim de atingir com mais facilidade a resistência necessária de acordo com a
necessidade. O concreto quando misturado com a brita pode elevar sua resistência a
compressão, mas não possui uma resistência a tração muito grande. Já o aço por ser um material
com grade resistência à tração, quando utilizado junto ao concreto evita limitações indesejadas
da estrutura. Esta junção de concreto e aço é denominada estrutura de concreto armado.

2.1 Os aditivos

De acordo com NBR 11768/92 (Aditivos para concreto de cimento Portland), os aditivos
são produtos químicos que quando adicionados na mistura do concreto modificam algumas de
suas propriedades com a função de adequar melhor o concreto de acordo com sua utilização.
De maneira geral os aditivos têm como finalidade aumentar e melhorar a qualidade do concreto
e diminuir seus pontos fracos. Segundo Souza & Ripper, os aditivos devem ser utilizados de
forma correta na proporção correta, caso isso não seja respeitado pode-se obter em uma mistura
não homogenea podendo ocasionar efeitos indesejados no concreto.
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2.2 Agregados

De forma geral os agregados são materiais naturais q possuem uma granulometria e que
podem ser adicionados ao concreto para diminuir o seu custo. Os denominados agregados
graúdos nada mais são que cascalhos, pedregulhos, seixos, mas o mais utilizado no ramo da
construção civil é a pedra brita. Já dentre os agregados miúdos temos os diversos tipos de areia,
podendo ser encontrados em dunas, fundo de rios ou até nas praias, no caso as areias de praia
não são utilizadas na construção civil devido à alta concentração de cloreto de sódio que pode
ocasionar a oxidação das armaduras. Como qualquer outro material que pode ser adicionado ao
concreto o agregado também pode trazer problemas indesejados, os agregados devem ser
elementos inertes, ou seja, materiais que não sofrem variações de volume. Essa variação de
volume pode acarretar em vãos vazios dentro da estrutura após a concretagem possibilitando o
surgimento de patologias.

3 FALHAS DE PROJETO

Os projetos são um conjunto de informações que devem ser determinadas pelo projetista
para que os construtores possam seguir durante a execução da obra. Um projeto deve conter
informações sobre quais passos devem ser seguidos, qual o material utilizado, como e quando
deve ser realizado cada etapa, essas informações são cruciais para que um projeto possa ser bem
lido e a obra bem executada. Estudos mostram que falhas no desenvolvimento do projeto é a
maior causa de problemas patológicos nas construções, em seguida vem as falhas de execução
do projeto, como mostrado no gráfico a seguir:

Gráfico 1- Principais causas patológicas

Fonte: http://ibape-rs.org.br/2013/06/patologia-da-construcao-civil-principais-causas/
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No caso das estruturas de concreto armado, o erro mais comum de ser cometido é
quando o projetista responsável esquece de compatibilizar o projeto estrutural com o projeto de
instalações (hidráulicas e elétricas), isso pode acarretar a execução de furos não previstos nos
elementos estruturais e assim fazendo os mesmos perderem resistência. Esses furos podem
acarretar na necessidade de reforços estruturais e consequentemente aumentando o custo da
obra.
Figura 2- Furos não previstos no projeto

Fonte: (Mychel de Moraes Vieira, 2016)

Os erros de projeto podem ocorrer em qualquer etapa da construção, os projetos devem


ser muito bem detalhados e explicados para evitar esse tipo de problema na execução de uma
obra. Deve-se detalhar os matérias, as cotas e como será executado cada etapa, isso pode evitar
um resultado indesejado sendo ele estrutural ou até arquitetônico.

4 FISSURAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

As fissuras são as patologias que mais preocupam dentro da construção, elas são sinais
de perigo e de colapso na estrutura, na maioria das vezes condenam o elemento estrutural onde
se encontra. Uma fissura deve ser cuidadosamente analisada por um profissional devidamente
especializado para que posteriormente possa se definir a causa da patologia e se é possível ou
não realizar um reparo estrutural.

As fissuras denominadas ativas são aquelas cujo a causa da patologia ainda age sobre a
estrutura, já as fissuras inativas são aquelas em que sofreram uma atuação de forças por um
determinado período e depois não agiram mais sobre a estrutura, ou seja, estável.
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A NBR 6118 diz que as fissuras são consideradas agressivas quando elas possuem
abertura superiores a 0,2 milímetros quando se tratam de estruturas expostas a meios agressivos
fortes como áreas industriais ou em contato direto com a maré, 0,3 milímetros quando as
estruturas estão em meios de agressividade mediana como áreas urbanas e 0,4 milímetros
quando estão em meio de pouca agressividade como áreas rurais.

4.1 Fissura por flexão

Um dos grandes culpados pelo surgimento de fissuras nas estrutura do concreto armado
são as sobrecargas elevadas a que são submetidas, isso ocorre quando o projetista não calcula
a estrutura corretamente ou quando a utilização da estrutura não condiz com o que foi projetado,
ou seja, a estrutura foi dimensionada para um tipo de utilização e está sendo utilizada de outra
maneira.

No caso das vigas submetidas flexão, as fissuras surgem perpendicularmente às


trajetórias dos esforços de tração, ou seja, são praticamente verticais no centro do vão e
caminham em direção ao ponto de maior tração no elemento, no caso a parte inferior da viga.
Essas fissuras tendem a ter uma inclinação de aproximadamente 45° em relação ao eixo
horizontal, como mostrado na figura abaixo:

Figura 3 – Viga isostática submetida à flexão

Fonte: (Thomaz, Ercio, 2014)

No caso das lajes submetidas a flexão, o tipo de fissura pode variar de acordo com o
tipo de apoio em que se encontra, podendo ser uma laje com borda engastada ou uma laje com
apoio livre, varia também de acordo com a relação entre seu comprimento e sua largura e o tipo
de amarração utilizada.
No caso de ausência de armaduras negativas, a laje começa apresentar fissuras em sua
parte superior especificamente próximas a seu contorno.
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Figura 4 – Fissuras devido à ausência de armadura negativa

Fonte: (Thomaz, Ercio, 2014)

4.2 Fissuras por compressão

Para (Marcelli, 2007), as fissuras por compressão são mais preocupantes e alarmantes
que as fissuras por flexão. Isso se justifica pelo fato de que o concreto é um material com baixa
resistência a tração e alta resistência a compressão, portanto quando surgem fissuras
provenientes de compressão o caso é grave, podendo indicar o colapso da estrutura, ou seja,
onde o elemento estrutural (vigas e pilares) não suporta sua carga para o qual foi projetado e
consequentemente redistribui os esforços para os pilares mais próximos que também são
sobrecarregados e comprometidos.
Em alguns casos a estrutura pode estar sofrendo com esforços de tração e de compressão
ao mesmo tempo.

Figura 5 - Trincas por compressão

Fonte: (Marcelli, 2007)


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4.3 Fissuras provenientes de formas e escoras

A movimentação ou retirada precoce de formas e escoras podem alterar a forma


geométrica da estrutura e alterar sua resistência final. Isso pode ocorrer devido a uma falha no
projeto de escoras e formas ou até mesmo falhas na execução devido à ausência da fixação
necessária.

De acordo com NBR 14931/2004 (Execução de estruturas de concreto –


Procedimentos), escoras e formas não devem ser movimentadas ou retiradas dos elementos
estruturais antes que o concreto tenha atingido a resistência necessária para resistir aos esforços
a que estão sendo submetidas, evitando deformações.

Figura 6 –Fissuração por movimentação de fôrmas e escoramentos

Fonte: (Souza & Ripper, 2009)

4.4 Mecanismos de retração do concreto

A retração do concreto é um fenômeno natural que ocorre em sua massa, porém quando
o concreto é utilizado junto a outros materiais construtivos com coeficiente de tração diferente
podem surgir fissuras na estrutura. É o caso das estruturas de concreto armado, onde os
vergalhões dificultam a retração natural do concreto. É indispensável que se preveja este tipo
de situação na execução dos projetos para evitar fissuras indesejadas na estrutura.
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Figura 7 – Fissuração por retração do concreto

Fonte: (Souza & Ripper, 2009, p. 63)

Existem diversos tipos de retração que podem ocorrer quando se utiliza cimento no
preparo de um material. Os três mais importantes são a retração química, a retração de secagem
e a retração por carbonatação. A retração química é uma reação que ocorre na fase inicial do
preparo, ou seja, na fase de hidratação do cimento, ela age de maneira a reduzir o volume entre
o cimento e a água. A retração por secagem ocorre devido a perda de água excessiva que a
mistura sofre, isso geralmente ocorre quando o concreto fresco sofre exposição a temperaturas
irregulares, ou seja, ventos fortes, temperaturas muito altas e a baixa umidade do ar. A retração
por carbonatação é o processo onde a cal hidratada reage com o gás carbônico agindo de forma
a reduzir o volume do concreto.
Retrações em elementos estruturais podem gerar fissura na estrutura e comprometer sua
resistência. No caso das vigas e pilares de concreto armado é de extrema importância que se
leve em consideração o fator água/cimento e as condições de cura em que os elementos estão
expostos. Caso haja a retração do concreto nas vigas, é comum aparecerem fissuras horizontais
nos pilares que a sustentam. É possível identificar facilmente uma retração em uma viga pois
tendem a ter uma aparência esbranquiçada após a secagem, isso ocorre devido ao alto consumo
de água que o cimento tem durante a mistura.
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Figura 8 – Fissuras horizontais nos pilares

Fonte: (Thomaz, Ercio, 2014)

No caso das lajes as fissuras por retração surgem após o endurecimento do concreto,
essas fissuras geralmente surgem em forma de mosaico e podem aparecer em ambas as faces
da estrutura. Essas fissuras podem causar o deslocamento da laje transferindo esses esforços
para os elementos cerâmicos, podendo até os deslocarem e danificarem de acordo gravidade do
problema.

Figura 9 – Fissuras de retração de laje

Fonte: (Souza & Ripper, 2009)

5 CORROSÃO DA ARMADURA

A corrosão é definida como o processo em que um material, geralmente metálico,


começa a se deteriorar. No caso dos vergalhões utilizados nas estruturas de concreto armado a
corrosão é definida como o processo em que o aço começa a retorna ao seu estado natural, ou
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seja, como foi encontrado e retirado da natureza. O processo de corrosão ocorre geralmente
quando o material metálico tem contato com umidade e com o ar.

No caso das estruturas de concreto armado isso ocorre, pois, as armaduras são
posicionadas muito próximas as extremidades dos elementos estruturais e na hora da
concretagem muitas vezes não são respeitadas os cobrimentos mínimos exigidos para uma
execução adequada, isso ocorre na maioria das vezes devido ao mal adensamento na
concretagem.

Existem dois tipos de corrosão, sendo elas a oxidação e a própria corrosão. A oxidação
das armaduras é um processo menos agressivo onde os vergalhões apresentam uma oxidação
superficial, mas sem a necessidade do contato com a água, isso ocorre, pois, aço sofre uma
reação onde é produzido uma película de óxido de ferro. Por se tratar de um efeito superficial
e não alterar a seção da barra, a oxidação não compromete a resistência dos vergalhões podendo
ser normalmente utilizados. O processo de corrosão propriamente dito é um processo mais
agressivo aos vergalhões, ele gera ferrugem nas barras e consequentemente alteram sua seção
comprometendo sua resistência e sua utilização. Esse processo ocorre basicamente em meio
úmido, onde a armadura teve contato com água e oxigênio, esse contato gera um processo
eletroquímico e através disso se gera a ferrugem nas barras.

6 TÉCNICAS DE RECUPERÇÃO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Ao detectar-se que uma estrutura de concreto armado está com um problema patológico
deve-se imediatamente iniciar um estudo e analise da estrutura para identificar o quanto antes
a origem desta patologia. É de extrema importância que um profissional qualificado realize um
estudo aprofundado e detalhado sobre o caso para que o a origem do problema seja identificada
corretamente para que posteriormente se estude as possíveis medidas a serem tomadas para a
recuperação e o reforço da estrutura.

Segundo (Souza & Ripper, 2009), na primeira etapa um engenheiro civil perito em
patologias deve realizar um levantamento de dados para q possa identificar com máxima
precisão as técnicas e medidas a serem tomadas. A segunda etapa consiste em entender o
comportamento da estrutura afetada, e identificar a origem do problema patológico, podendo
ser mais de uma origem. A terceira e ultima etapa é onde o engenheiro responsável pelo estudo
chega a um diagnóstico. Dependendo do grau de comprometimento da estrutura ou o custo de
recuperação o engenheiro pode determinar a demolição do elemento estrutural afetado.
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6.1 Recuperação superficial do concreto

Todos os reparos que forem feitos em estruturas de concreto armado devem antes ter
um preparo correto da superfície para que não se ocorra imprevistos, caso não seja respeitado
está medida preventiva a estrutura pode ter o reparo comprometido.

O primeiro passo para realizar a limpeza superficial do concreto é a realização do


preparo do substrato de acordo com as condições locais e a proporção do trabalho que será
realizado. Após o preparo do substrato deverá ser realizada a limpeza da superfície do concreto.
Este processo pode ser através de jatos de água fria, jatos de água quente, vapor, soluções
ácidas, soluções alcalinas, entre outros métodos utilizados.

O polimento é uma técnica que deverá ser utilizada quando o concreto apresentar uma
superfície muito áspera decorrente de falhas na execução, podendo ser por falta de adensamento
necessário, formas ásperas ou até um erro na dosagem do concreto. O polimento é um processo
que visa deixar a superfície do concreto lisa sem imperfeições ou partículas soltas, pode ser
feita manualmente ou com maquinário pesado de acordo com o tamanho da estrutura.

Figura 10 – Superfície áspera da estrutura

Fonte: (Mychel de Moraes Vieira, 2016)

6.2 Lavagens através de soluções (ácidas e alcalinas)

O uso de soluções ácidas deve ser empregado em estrutura onde apenas a lavagem com
água não consegue realizar a remoção das impurezas e imperfeições da estrutura, como tintas,
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graxas, ferrugem, manchas de cimento, etc. As soluções ácidas não devem ser utilizadas em
estruturas com um cobrimento da armadura muito pequena nem próximo a juntas de dilação,
caso seja utilizado de maneira incorreta, as soluções ácidas podem se infiltrar em locais que
impossibilitam sua remoção causando efeito indesejados na estrutura. Neste caso, muitas vezes
utiliza-se soluções alcalinas que tem um processo semelhante as soluções ácidas, mas que não
são agressivas as armaduras. Mas esse tipo de solução também tem seus cuidados a serem
tomados, elas podem vir a reagir com alguns tipos de agregados reativos.

6.3 Jatos de água

Segundo (Souza & Ripper, 2009), os jatos de água são os mais utilizados na limpeza do
substrato para que possa posteriormente realização a aplicação do reparo. Esse tipo de jato de
alta pressão é muitas vezes empregado junto a jatos de areia.

Figura 11 – Aplicação de jatos de água para lavagem da superfície

Fonte: (Souza & Ripper, 2009)

6.4 Apicoamento

O apicoamento é uma técnica utilizada para retirada de camadas externas de estruturas


de concreto. Este processo é realizado com a intenção de preparar a superfície para receber uma
nova camada de concreto, aumentando assim o cobrimento da estrutura. Este processo pode ser
realizado de maneira mecânica ou manual. A manual é realizada através de ponteiro, talhadeira
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e marretas leves de até 1kg, o processo mecânico é realizado através de martelos pneumáticos
elétricos de até 5kg. Esta técnica deve ser realizada com atenção e respeitando a profundida de
perfuração para que não comprometa a integridade da estrutura.

6.5 Tratamento de fissuras por flexão

As fissuras por flexão têm duas soluções para sua correção, a retirada de sobrecarga ou
realizar um reforço estrutural. No caso de o engenheiro optar pela retirada de sobrecarga, em
meios internos e não agressivos, em fissuras menores que 0,3mm não é necessário o tratamento,
caso forem maiores que 0,3mm e ativas, tratas com selante e se forem passivas, injetar resina
epóxi. Já em ambiente agressivos e úmidos, as especificações e procedimentos são os mesmos
só que respeitando a abertura de 0,1mm.
Porém se o engenheiro optar pelo reforço estrutural é indispensável que se analise
cuidadosamente a estrutura e os esforços a que está submetida para que possa se realizar
corretamente os cálculos e dimensionar e escolher adequadamente o reforço necessário. Um
reforço bastante utilizado é a aplicação de uma armadura auxiliar na face inferior da viga,
evitando sua flexão. Este processo implica no corte de uma pequena parte na face inferior da
viga para que seja colocado a armadura auxiliar que será fixada com adesivo estrutural no pilar
de apoio e posteriormente receberá o enchimento.
Existem diversos outros tipos de reforço estrutural para serem realizados em vigas, entre
eles estão a aplicação de fibras de carbono na face inferior da viga ou até a fixação de um perfil
metálico embaixo da viga impossibilitando a flexão.

6.6 Tratamento de fissuras por compressão

As fissuras por compressão são fissuras que ocorrem geralmente pela falha no
dimensionamento ou na execução das estruturas. Essas falhas podem ser corrigidas na fase de
projeto evitando assim esse tipo de fissura na estrutura. Caso ocorra este tipo de fissura pode-
se tomar diversas medidas para a realização do reforço estrutural, uma delas é a colocação de
armaduras suplementares na estrutura ou a colagem de chapas de aço que estabilizam a
estrutura, pode-se realizar também o preenchimento das fissuras através da aplicação de
microconcreto ou realizar o preenchimento com graute.
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6.7 Tratamento de fissuras por retração

As fissuras por retração ocorrem devido a reação da água com o cimento durante a fase
de secagem da estrutura. Essa reação gera tensões internas no elemento estrutural que estimular
a retração do concreto submetendo a peça a uma tração alta. O concreto por não possuir uma
resistência alta a tração acaba gerando fissuras na peça.

Esse tipo de fissura pode ser prevenido na fase de execução da estrutura. Existem alguns
matérias que podem ser adicionados no concreto para que ele se torne mais flexível visando
evitar o surgimento de fissuras. Entre esses materiais estão a fibra de aço e a fibra de
polipropileno, ambas as fibras tem a função de inibir o surgimento de fissuras no concreto.

Caso a estrutura vir a apresentar fissuras por compressão o procedimento a ser tomado
é a selagem das fissuras visando evitar que as armaduras da estrutura sejam agredidas pelo meio
ambiente.

6.8 Injeção das fissuras

Esta técnica é compreendida como o preenchimento perfeito dos vãos e fissuras da


estrutura. No caso de fissuras passivas, utiliza-se materiais rígido como epóxi ou grautes, já no
caso de fissuras ativas é necessário a utilização de materiais flexíveis para o preenchimento dos
vãos como resinas acrílicas ou poliuretânicas.

Para (Souza & Ripper, 2009), o sucesso desse procedimento depende da experiencia do
aplicador, a escolha adequada da bomba de injeção e a escolha do material correto para o tipo
de fissura apresentada.

Figura 12 – Processo de injeção de fissuras

Fonte: (Pires, 2015)


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7 TRATAMENTO DAS ARMADURAS

No caso de armaduras afetadas pelo contato com o ambiente, as barras devem ser
lavadas com jatos de alta pressão de areia ou realizada a limpeza manual ou mecânica de
escovação. Este processo deve garantir que não fiquem materiais nocivos após a limpeza, após
a realização da limpeza o engenheiro deve analisar e constatar se ouve perda na seção da barra
e se a estrutura necessita de um reforço estrutural através da implantação de novas barras de
aço.

A prevenção deste tipo de patologia na execução é fundamental, respeitando o


cobrimento mínimo exigido, a utilização de agregados adequados e até realizar a aplicação de
materiais impermeabilizantes nas barras antes da concretagem. Na fase de projeto o mais
importante é analisar e classificar a agressividade do ambiente em que a estrutura ficará exposta.

CONCLUSÃO

Como foi visto, as estruturas de concreto armado estão suscetíveis a diversos tipos de
patologias, na maioria das vezes podendo ser evitadas se houver a atenção necessária no projeto
e na execução das obras. Um projeto bem executado com todas as especificações necessárias
pode adiar ou até evitar a necessidade de manutenções futuras na estrutura. Na maioria dos
casos, as patologias são originadas por falhas humanas devido a falta de experiencia e
qualificação para realização dos serviços.

Para obter uma boa estrutura, é de suma importância que se utiliza o traço correto de
concreto de acordo com sua utilização, monte adequadamente as caixarias, realize corretamente
a concretagem e o adensamento, respeite o tempo de cura da estrutura e respeite as
especificações do projetista.

Caso ocorra o surgimento de patologias é de extrema importância que se procure


imediatamente um engenheiro perito e qualificado para lidar com o problema. Caso o
diagnóstico do problema e o método utilizado para a correção da patologia não forem corretos
o sucesso do trabalho feito está comprometido.

Desta maneira, este trabalho procurou identificar as principais patologias nas estruturas
de concreto armado, mostrando os métodos mais comuns utilizados na construção civil, bem
como as práticas de recuperação e reforço dos elementos estruturais, tendo como objetivo
ampliar o conhecimento dos métodos de reparo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Júnior, W.G.V. Corrosão em Armaduras de Concreto Armado (2016) – Universidade de


Araraquara (UNIARA).

MARCELLI, M. Sinistros na construção civil: causas e soluções para danos e prejuízos


em obras – São Paulo: Pini, 2007

NBR 14931/2004 (Execução de estruturas de concreto - Procedimentos)

NBR 6118/2014 (Projeto de Estruturas de Concreto).

NBR 7211/2005 (Agregados para Concreto – Especificação)

SOUZA, V.C. M.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto.


São Paulo, PINI, 2009. 250p.

THOMAZ, E. Trincas em Edifícios: causas, prevenções e recuperações.


Ed. São Paulo. PINI, 2003. 194p. (Tiragem,09).

Vieira, M.M. Patologias em estruturas de concreto (2016) - Universidade de Araraquara


(UNIARA).

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