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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL

DOS CRIMES CONTRA A VIDA ................................................................................................... 20


1. HOMICÍDIO ........................................................................................................................... 20
1.1. PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 20
1.2. CONCEITO..................................................................................................................... 21
1.3. TOPOGRAFIA DO CRIME.............................................................................................. 21
1.4. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 21
1.5. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 22
1.6. OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 22
1.7. TIPO OBJETIVO............................................................................................................. 22
1.8. MEIOS DE EXECUÇÃO ................................................................................................. 23
1.9. TIPO SUBJETIVO .......................................................................................................... 23
1.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 23
1.11. HOMICÍDIO DOLOSO PRIVILEGIADO (ART. 121 §1º) .................................................. 24
1.11.1. Previsão legal....................................................................................................... 24
1.11.2. “Privilegiadoras” (na realidade são minorantes especiais) .................................... 24
1.11.3. Privilegiadoras e erro na execução ...................................................................... 26
1.11.4. Comunicabilidade das privilegiadoras .................................................................. 26
1.12. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO (art. 121, §2º) ..................................................... 26
1.12.1. Previsão legal....................................................................................................... 27
1.12.2. Compatibilidade entre qualificadora e dolo eventual............................................. 27
1.12.3. Qualificadoras do homicídio em espécie (análise do art. 121, §2º) ....................... 27
1.12.4. Ocorrência de duas ou mais qualificadoras .......................................................... 45
1.13. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO ................................................................. 46
1.14. HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121 §3º) .......................................................................... 46
1.15. MAJORANTES DO HOMICÍDIO (ART. 121 § 4º)............................................................ 48
1.15.1. Previsão legal....................................................................................................... 48
1.15.2. Majorantes do homicídio culposo ......................................................................... 48
1.15.3. Majorante do homicídio doloso ............................................................................. 51
1.15.4. Majorante do homicídio doloso praticado por grupo de extermínio ....................... 51
1.15.5. Majorante do feminicídio ...................................................................................... 52
1.16. PERDÃO JUDICIAL (ART. 121 §5º) ............................................................................... 53
1.16.1. Previsão legal e conceito ..................................................................................... 53
1.16.2. Ônus da prova...................................................................................................... 54
1.16.3. Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial ............................... 54
2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO ............................................................................................. 55
2.1. PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 55
2.2. CONCEITO DE SUICÍDIO .............................................................................................. 55
2.3. OBJETO JURÍDICO........................................................................................................ 55

1
2.4. PUNIBILIDADE DO PARTÍCIPE ..................................................................................... 56
2.5. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 56
2.6. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 56
2.7. CRIME PLURINUCLEAR ................................................................................................ 56
2.8. TIPO SUBJETIVO .......................................................................................................... 57
2.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 57
2.10. MAJORANTES ............................................................................................................... 58
2.11. “DUELO AMERICANO” .................................................................................................. 59
2.12. “ROLETA RUSSA” .......................................................................................................... 60
2.13. “PACTO DE MORTE (AMBICÍDIO) ” .............................................................................. 60
3. INFANTICÍDIO ....................................................................................................................... 60
3.1. PREVISÃO LEGAL E CONCEITO .................................................................................. 60
3.2. “SOB A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL” ........................................................ 60
3.3. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE .................................................................................. 61
3.4. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 61
3.5. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 62
3.6. CONDUTA ...................................................................................................................... 62
3.7. LIMITE TEMPORAL........................................................................................................ 62
3.8. TIPO SUBJETIVO .......................................................................................................... 63
3.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 63
3.9.1. Infanticídio (art. 123) X Abandono de recém-nascido com resultado morte (art. 134,
§2º) 63
4. ABORTO ............................................................................................................................... 63
4.1. CONCEITO..................................................................................................................... 63
4.2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE ABORTO E PREVISÃO LEGAL ......................... 64
4.3. ESPÉCIES DE ABORTO CRIMINOSO........................................................................... 64
4.3.1. Auto-aborto (art. 124, 1ª parte) ................................................................................ 64
4.3.2. Consentimento para o aborto (art. 124, 2ª parte) ..................................................... 65
4.3.3. Aborto sem consentimento (art. 125) ....................................................................... 65
4.3.4. Aborto consensual (art. 126) .................................................................................... 65
4.4. TIPO SUBJETIVO .......................................................................................................... 65
4.5. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 65
4.6. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 65
4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 66
4.8. MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA .................................................................... 66
4.9. AUTOABORTO e CONSENTIMENTO PARA O ABORTO.............................................. 66
4.10. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM CONSENTIMENTO/ABORTO
CONSENSUAL.......................................................................................................................... 67
4.10.1. Aborto SEM consentimento .................................................................................. 67
4.10.2. Aborto COM consentimento ................................................................................. 68
4.11. CASUÍSTICA .................................................................................................................. 69

2
4.12. “FORMA QUALIFICADA” ................................................................................................ 70
4.13. ABORTO PERMITIDO OU LEGAL - Tipo permissivo ..................................................... 71
4.13.1. Previsão legal....................................................................................................... 71
4.13.2. Aborto necessário (terapêutico) ........................................................................... 72
4.13.3. Aborto sentimental (humanitário ou ético) ............................................................ 72
4.14. ABORTAMENTO DE FETO ANENCEFÁLICO ............................................................... 73
DA LESÃO CORPORAL ............................................................................................................... 74
1. LESÃO CORPORAL .............................................................................................................. 74
1.1. PREVISÃO LEGAL/TOPOGRAFIA ................................................................................. 74
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO .......................................................................................... 76
1.3. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 76
1.4. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 76
1.5. TIPO OBJETIVO............................................................................................................. 77
1.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 79
1.7. LESÃO CORPORAL DOLOSA LEVE (art. 129, caput) ................................................... 79
1.8. LESÃO CORPORAL DOLOSA GRAVE (art. 129, §1º) ................................................... 79
1.9. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA (Art. 129, §2º) ............................... 81
1.10. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE - HOMICÍDIO PRETERDOLOSO (art. 129,
§3º) 84
1.11. PRIVILÉGIOS (art. 129, §§ 4º e 5º) ................................................................................ 84
1.12. LESÃO CORPORAL CULPOSA (art. 129, §6º) .............................................................. 85
1.13. MAJORANTES (art. 129, §7º) ......................................................................................... 86
1.13.1. Previsão legal....................................................................................................... 86
1.13.2. Remissão ao art. 121, §4º: majorante de lesão culposa e dolosa ......................... 86
1.13.3. Remissão ao art. 121, §6º: Lei 12.720/12 ............................................................. 86
1.13.4. Remissão ao art. 121, §6º: “grupo de extermínio” ................................................ 86
1.13.5. Remissão ao art. 121, §6º: “milícia armada” ......................................................... 86
1.14. PERDÃO JUDICIAL (art. 129, §8º) ................................................................................. 87
1.15. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR (art. 129, §§ 9º, 10, 11) ..................................... 87
1.15.1. Art. 129, §9º - Lesão corporal leve qualificada (âmbito doméstico e familiar) ....... 88
1.15.2. Art. 129, §10 – Causa especial de aumento de pena (§§1º a 3º) (âmbito doméstico
e familiar) 89
1.15.3. Art. 129, § 11 – Causa especial de aumento de pena dos crimes cometidos contra
deficientes (âmbito doméstico e familiar) ............................................................................... 89
1.16. CONTRA INTEGRANTES DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS
FAMILIARES (art. 129, § 12) ..................................................................................................... 90
1.17. AÇÃO PENAL NO CRIME DE LESÃO CORPORAL ....................................................... 92
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E SAÚDE ...................................................................................... 93
1. CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO HOSPITALAR EMERGENCIAL.......... 93
1.1. PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 93
1.2. POSIÇÃO TOPOGRÁFICA............................................................................................. 93
1.3. CRIME DE PERIGO ABSTRATO ................................................................................... 94
3
1.4. BEM JURÍDICO PROTEGIDO ........................................................................................ 94
1.5. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 94
1.6. SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 95
1.7. TIPO OBJETIVO............................................................................................................. 95
1.7.1. Exigir ....................................................................................................................... 95
1.7.2. Cheque-caução ....................................................................................................... 95
1.7.3. Nota promissória...................................................................................................... 95
1.7.4. Ou qualquer garantia ............................................................................................... 95
1.7.5. Bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos .......................... 95
1.7.6. Como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial. ...................... 96
1.8. PREENCHIMENTO PRÉVIO DE FORMULÁRIOS ADMINISTRATIVOS ........................ 96
1.9. EXIGÊNCIA DE GARANTIA APÓS O ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR DE
EMERGÊNCIA .......................................................................................................................... 96
1.10. FORMAS DE PRATICAR O DELITO .............................................................................. 96
1.11. TIPO SUBJETIVO .......................................................................................................... 96
1.12. CONSUMAÇÃO.............................................................................................................. 97
1.13. TENTATIVA .................................................................................................................... 97
1.14. CASO HIPOTÉTICO ....................................................................................................... 97
1.15. AÇÃO PENAL ................................................................................................................. 98
1.16. PENA .............................................................................................................................. 98
1.17. FORMA MAJORADA ...................................................................................................... 98
1.18. DEVER DE AFIXAR AVISO ............................................................................................ 98
1.19. PUNIÇÃO DESTA CONDUTA POR OUTROS RAMOS DO DIREITO ............................ 99
DA RIXA ..................................................................................................................................... 100
1. RIXA .................................................................................................................................... 100
1.1. CONCEITO................................................................................................................... 100
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO: ....................................................................................... 100
1.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 101
1.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 101
1.5. CONDUTA .................................................................................................................... 101
1.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 101
1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 101
1.8. RIXA COM MORTE OU LESÃO GRAVE ...................................................................... 102
DOS CRIMES CONTRA A HONRA ............................................................................................ 103
1. PREVISÃO LEGAL, CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS DOS CRIMES CONTRA A HONRA
103
2. CALÚNIA (art. 138 do CP) ................................................................................................... 104
2.1. CONCEITO................................................................................................................... 104
2.2. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 104
2.3. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 105
2.4. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 106

4
2.5. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 107
2.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 107
2.7. CALÚNIA X DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA .................................................................. 107
2.8. FORMAS DE CALÚNIA ................................................................................................ 108
2.9. EXCEÇÃO DA VERDADE (ART. 138, §3º) ................................................................... 108
2.10. EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE (CPP, ART. 523) ........................................................ 109
3. DIFAMAÇÃO ....................................................................................................................... 110
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 110
3.2. CONCEITO................................................................................................................... 110
3.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 110
3.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 110
3.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 111
3.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 111
3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 111
3.8. EXCEÇÃO DA VERDADE (ART. 139, PARÁGRAFO ÚNICO) ..................................... 111
3.9. OFENSA DIRIGIDA DIRETAMENTE À VÍTIMA ............................................................ 112
3.10. EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE (CPP, ART. 523) ........................................................ 112
4. INJÚRIA............................................................................................................................... 113
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 113
4.2. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 113
4.3. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 113
4.4. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 114
4.4.1. Injúria absoluta X Injúria Relativa ........................................................................... 114
4.4.2. Variações da língua ............................................................................................... 115
4.5. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 115
4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 115
4.7. EXCEÇÃO DA VERDADE ............................................................................................ 115
4.8. PERDÃO JUDICIAL ...................................................................................................... 115
4.9. QUALIFICADORA: INJÚRIA REAL (ART. 140, §2º) ..................................................... 116
4.10. QUALIFICADORA: INJÚRIA PRECONCEITO (ART. 140, §3º)..................................... 117
5. DISPOSIÇÕES COMUNS DOS CRIMES CONTRA A HONRA ........................................... 118
5.1. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES): TODOS OS CRIMES CONTRA A
HONRA ................................................................................................................................... 118
5.1.1. Previsão legal ........................................................................................................ 118
5.1.2. Análise do art. 141 CP ........................................................................................... 118
5.2. HIPÓTESES DE EXCLUSÃO DE CRIME: INJÚRIA e DIFAMAÇÃO (art. 142) ............. 120
5.2.1. Previsão legal ........................................................................................................ 120
5.2.2. Natureza jurídica do art. 142 .................................................................................. 120
5.2.3. Análise do art. 142 ................................................................................................. 120
5.3. RETRATAÇÃO: CALÚNIA E DIFAMAÇÃO ................................................................... 122
5.3.1. Lei 13.188/2015 ..................................................................................................... 123

5
5.4. PEDIDO DE EXPLICAÇÕES: TODOS OS CRIMES CONTRA A HONRA .................... 123
5.5. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA....................................................... 124
5.6. UMA CONDUTA: CALÚNIA, DIFAMAÇÃO e INJÚRIA ................................................. 125
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL ................................................................... 126
1. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO ................................................................................ 126
1.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 126
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 126
1.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 126
1.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 127
1.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 127
1.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 127
1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 128
1.8. FORMAS QUALIFICADAS (art. 148, §1º e §2º) ............................................................ 128
1.8.1. Previsão legal ........................................................................................................ 128
1.8.2. Análise do art. 148, §1º .......................................................................................... 128
1.8.3. Penas .................................................................................................................... 129
1.8.4. Ação penal............................................................................................................. 130
1.8.5. Análise do art. 148, §2º .......................................................................................... 130
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO ................................................. 130
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA ................................ 132
1. LEI N. 12.737/2012 (“LEI CAROLINA DIECKMANN”) ........................................................ 132
1.1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 132
1.2. SOBRE O QUE TRATA A LEI N. 12.737/2012 ............................................................ 132
2. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO...................................................................... 133
2.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 133
2.2. BEM JURÍDICO PROTEGIDO ...................................................................................... 133
2.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 133
2.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 133
2.5. ANÁLISE DAS ELEMENTARES DO TIPO ................................................................... 133
2.5.1. Invadir .................................................................................................................... 134
2.5.2. Dispositivo informático ........................................................................................... 134
2.5.3. Alheio .................................................................................................................... 134
2.5.4. Conectado ou não à rede de computadores .......................................................... 134
2.5.5. Mediante violação indevida de mecanismo de segurança ..................................... 134
2.5.6. Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo. .......................................................................... 135
2.5.7. Ou com o fim de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. .................. 135
2.6. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................. 135
2.7. CONSUMAÇÃO............................................................................................................ 135
2.8. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO (ART. 154-A) X FURTO MEDIANTE
FRAUDE (ART. 155, § 4º, II) ................................................................................................... 135

6
2.9. OBTENÇÃO DE VANTAGEM ....................................................................................... 137
2.10. TENTATIVA .................................................................................................................. 137
2.11. PENA ............................................................................................................................ 137
2.12. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO ....................................................... 137
2.13. DELEGACIAS ESPECIALIZADAS EM CRIMES VIRTUAIS.......................................... 138
2.14. FIGURA EQUIPARADA ................................................................................................ 138
2.15. INVASÃO QUE GERA PREJUÍZO ECONÔMICO (CAUSA DE AUMENTO) ................ 139
2.16. INVASÃO QUALIFICADA PELO RESULTADO (QUALIFICADORA) ............................ 139
2.17. CAUSA DE AUMENTO DE PENA ................................................................................ 140
2.18. CAUSA DE AUMENTO DE PENA ................................................................................ 140
2.19. AÇÃO PENAL ............................................................................................................... 140
3. INSERÇÃO DO § 1º AO ART. 266 DO CÓDIGO PENAL .................................................... 141
3.1. OBSERVAÇÃO............................................................................................................. 141
3.2. INTERRUPÇÃO OU PERTURBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO OU TELEFÔNICO
141
3.2.1. Previsão Legal ....................................................................................................... 141
3.2.2. Art. 266 Caput ....................................................................................................... 142
3.2.3. Art. 266 § 1º ........................................................................................................... 142
4. INSERÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO AO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL ........................ 143
4.1.1. Falsificação de documento particular ..................................................................... 143
4.1.2. Falsificação de cartão ............................................................................................ 143
5. VACATIO LEGIS ................................................................................................................. 144
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .................................................................................. 145
1. FURTO ................................................................................................................................ 145
1.1. TOPOGRAFIA DO CRIME............................................................................................ 145
1.2. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 145
1.3. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 146
1.4. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 146
1.4.1. Comete algum crime o proprietário que subtrai coisa sua na LEGÍTIMA posse de
terceiro? 146
1.4.2. E o credor pignoratício, que tinha posse legítima, ao se apoderar da coisa quando
deveria devolvê-la, comete algum crime? ............................................................................ 146
1.4.3. Funcionário público que subtrai coisa em poder da Administração pratica qual crime?
147
1.4.4. E o proprietário que subtrai coisa comum de condômino, coerdeiro ou sócio, que
crime comete? ..................................................................................................................... 147
1.5. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 147
1.6. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 147
1.6.1. Conduta ................................................................................................................. 147
1.6.2. Objeto material ...................................................................................................... 148
1.7. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 150
1.8. “FURTO DE USO” ........................................................................................................ 150

7
1.9. FURTO FAMÉLICO ...................................................................................................... 150
1.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA DO FURTO ................................................................ 150
1.10.1. Teorias explicativas da consumação do furto ..................................................... 151
1.10.2. Tentativa no crime de furto ................................................................................. 152
1.11. MAJORANTE DO FURTO NOTURNO (§1º) ................................................................. 152
1.12. FURTO PRIVILEGIADO (“FURTO MÍNIMO”) ............................................................... 153
1.12.1. Requisitos cumulativos: primariedade do agente e pequeno valor da coisa. ...... 153
1.12.2. Direito subjetivo do réu....................................................................................... 155
1.13. CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO (art. 155, §3º) ........................................................... 155
1.13.1. Energia genética ................................................................................................ 155
1.13.2. Sinal de TV a cabo ............................................................................................. 156
1.13.3. Furto de energia elétrica X Estelionato mediante alteração do medidor ............. 156
1.14. FURTO QUALIFICADO (art. 155, §§ 4º) ....................................................................... 156
1.14.1. Inciso I: furto com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
156
1.14.2. Inciso II: furto com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
157
1.14.3. Inciso III: furto com emprego de chave falsa; ..................................................... 159
1.14.4. Inciso IV: furto mediante concurso de duas ou mais pessoas; ........................... 160
1.15. FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 155 §5º) .................................................. 161
1.15.1. Existe possibilidade de tentativa do furto qualificado do §5º? ............................. 161
1.15.2. Situações de prova ............................................................................................ 161
2. ROUBO ............................................................................................................................... 162
2.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 162
2.2. TOPOGRAFIA DO CRIME............................................................................................ 162
2.3. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 163
2.4. SUJEITOS DO CRIME ................................................................................................. 163
2.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 163
2.5.1. Roubo próprio (art. 157, caput) .............................................................................. 163
2.5.2. Roubo impróprio ou “por aproximação” (art. 157, §1º) ........................................... 164
2.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 165
2.6.1. Roubo próprio ........................................................................................................ 165
2.6.2. Roubo impróprio .................................................................................................... 166
2.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 166
2.7.1. Roubo próprio ........................................................................................................ 166
2.7.2. Roubo impróprio .................................................................................................... 167
2.8. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES, ART. 157, §2º) .......................... 167
2.8.1. Inciso I: Emprego de arma ..................................................................................... 168
2.8.2. Inciso II: Concurso de duas ou mais pessoas ........................................................ 170
2.8.3. Inciso III: Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância ................................................................................................................... 170
2.8.4. Inciso IV: Subtração de veículo automotor que vá para o exterior ou outro Estado 171
8
2.8.5. Inciso V: Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade . 171
2.8.6. Parágrafo 2º: a pena aumenta-se de um terço até metade .................................... 171
2.9. JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................... 173
2.9.1. Roubo praticado no interior de ônibus ................................................................... 173
2.9.2. Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um
patrimônio ............................................................................................................................ 175
2.10. QUALIFICADORAS (§3º).............................................................................................. 176
2.11. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 177
3. EXTORSÃO ......................................................................................................................... 179
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 179
3.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 180
3.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 180
3.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 180
3.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 180
3.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 181
3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 181
3.8. MAJORANTES (art. 158 §1º) ........................................................................................ 182
3.9. FORMA QUALIFICADA (art. 158 §2º)........................................................................... 183
3.10. “SEQUESTRO-RELÂMPAGO” (art. 158, §3º) ............................................................... 183
4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO .............................................................................. 185
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 185
4.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 186
4.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 186
4.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 186
4.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 187
4.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 187
4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 188
4.8. FORMAS QUALIFICADAS (art.159 §§1º, 2º e 3º) ........................................................ 188
4.8.1. § 1º: Três qualificadoras. Pena - reclusão, 12 a 20 anos. ...................................... 188
4.8.2. §§2º e 3º - Cinco observações sobre a extorsão mediante sequestro qualificada pelo
resultado lesão grave ou morte: ........................................................................................... 189
4.9. DELAÇÃO PREMIADA (art. 158 §4º - minorante) ......................................................... 189
5. ESTELIONATO.................................................................................................................... 190
5.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 190
5.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 191
5.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 191
5.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 191
5.5. TIPO OBJETIVO: ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO ESTELIONATO ......................... 192
5.5.1. Fraude ................................................................................................................... 192
5.5.2. Vantagem ilícita (indevida) ..................................................................................... 192
5.5.3. Prejuízo alheio ....................................................................................................... 193

9
5.6. ESTELIONATO X USO DE DOCUMENTO FALSO ...................................................... 194
5.7. ESTELIONATO X APROPRIAÇÃO INDÉBITA ............................................................. 194
5.8. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 195
5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 195
5.10. CRIME IMPOSSÍVEL (“CRIME OCO”) ......................................................................... 195
5.11. ESTELIONATO PRIVILEGIADO OU MÍNIMO (art. 171 §1º) ......................................... 195
5.12. MODALIDADES ESPECIAIS DE ESTELIONATO (§2º) ................................................ 196
5.12.1. Estelionato por disposição de coisa alheia como própria ................................... 197
5.12.2. Estelionato por alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria .................. 198
5.12.3. Estelionato por defraudação de penhor .............................................................. 198
5.12.4. Estelionato por fraude na entrega de coisa ........................................................ 200
5.12.5. Estelionato por fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro ..... 200
5.12.6. Estelionato por fraude no pagamento por meio de cheque................................. 201
5.13. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA (art. 171, §3º) ....................................... 203
5.14. ESTELIONTO CONTRA IDOSO ................................................................................... 204
5.14.1. Quem é idoso? ................................................................................................... 204
5.14.2. Natureza do § 4º ................................................................................................ 205
5.14.3. Causa de aumento tanto para o caput como para o § 2º .................................... 205
5.14.4. Dolo ................................................................................................................... 205
5.14.5. Vigência ............................................................................................................. 205
5.15. ESTELIONATOS PREVISTOS EM LEI ESPECIAL ...................................................... 205
5.15.1. Lei 7.492/86 (LSFN): Art. 6º. .............................................................................. 205
5.15.2. Lei 11.101/05 (Lei de Falências): Art. 168. ......................................................... 206
5.15.3. Lei nº 12.299/10 (Estatuto do Torcedor): Art. 41-E ............................................. 206
6. RECEPTAÇÃO .................................................................................................................... 206
6.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 206
6.2. TOPOGRAFIA DO CRIME............................................................................................ 207
6.3. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 207
6.4. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 207
6.5. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 208
6.6. CLASSIFICAÇÃO DO DELITO ..................................................................................... 208
6.7. RECEPTAÇÃO SIMPLES PRÓPRIA E IMPRÓPRIA (art. 180, ‘caput’) ........................ 208
6.7.1. Receptação própria ............................................................................................... 208
6.7.2. Receptação imprópria ............................................................................................ 208
6.7.3. Questões comuns à receptação própria e imprópria .............................................. 209
6.7.4. Tipo subjetivo do art. 180, caput ............................................................................ 210
6.7.5. Consumação e tentativa ........................................................................................ 210
6.8. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA .................................................................................... 211
6.9. RECEPTAÇÃO CULPOSA ........................................................................................... 212
6.10. BENEFÍCIOS (§5º - PERDÃO JUDICIAL E PRIVILÉGIO) ............................................ 213
6.11. CAUSA DE AUMENTO DE PENA OU QUALIFICADORA? .......................................... 213
10
7. DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ................................... 214
7.1. IMUNIDADES PATRIMONIAIS ABSOLUTAS - ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (ART. 181)
214
7.1.1. Previsão legal ........................................................................................................ 214
7.1.2. Crime cometido contra cônjuge; ............................................................................ 215
7.1.3. Crime cometido contra ascendente ou descendente ............................................. 215
7.2. IMUNIDADES PATRIMONIAIS RELATIVAS - ESCUSAS RELATIVAS (ART. 182) ...... 215
7.2.1. Previsão legal ........................................................................................................ 215
7.2.2. Crime cometido contra cônjuge separado judicialmente ........................................ 216
7.2.3. Crime cometido contra irmão ................................................................................. 216
7.2.4. Crime cometido contra tio ou sobrinho com quem o agente coabita ...................... 216
7.3. RESSALVAS ÀS IMUNIDADES ................................................................................... 216
7.4. POLÊMICA: LEI MARIA DA PENHA ............................................................................. 216
DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL ............................................................ 217
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ...................................................................... 219
1. A LEI 12.015/09: “DIGNIDADE SEXUAL” ............................................................................ 220
2. SUCESSÃO DA LEI PENAL NO TEMPO ............................................................................ 220
3. ESTUPRO (CP, art. 213) ..................................................................................................... 220
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 220
3.2. SUJEITOS DO CRIME ................................................................................................. 221
3.3. TIPO OBJETIVO (CONDUTA) ...................................................................................... 221
3.3.1. “Constranger” (núcleo do tipo - forçar, obrigar, coagir)........................................... 221
3.3.2. “Conjunção carnal” ................................................................................................ 222
3.3.3. “Praticar ou permitir com que se pratique outro ato libidinoso”............................... 222
3.4. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 223
3.5. OBJETO JURÍDICO E OBJETO MATERIAL ................................................................ 223
3.6. CONSUMAÇÃO e TENTATIVA .................................................................................... 223
3.7. CAUSA DE AUMENTO DE PENA ................................................................................ 223
3.8. QUALIFICADORAS: RESULTADOS QUALIFICADORES - ART. 213 §1º (PRIMEIRA
PARTE) E §2º ......................................................................................................................... 224
3.9. QUALIFICADORA: ART. 213, §1º SEGUNDA PARTE. VÍTIMA MENOR DE 18 E MAIOR
DE 14 ANOS ........................................................................................................................... 225
3.10. CONCURSO DE CRIMES ............................................................................................ 225
3.10.1. Mesmo contexto fático ....................................................................................... 225
3.10.2. Ausência de mesmo contexto fático ................................................................... 226
4. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE ( “estelionato sexual” - CP, art. 215) ................ 226
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 226
4.2. SUJEITOS DO CRIME ................................................................................................. 226
4.3. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 227
4.4. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 228
4.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 228
5. ASSÉDIO SEXUAL (CP, art. 216-A) .................................................................................... 229
11
5.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 229
5.2. CONCEITO................................................................................................................... 229
5.2.1. Assédio sexual X Assédio ambiental X Assédio moral ........................................... 229
5.3. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 229
5.4. SUJEITOS .................................................................................................................... 229
5.5. MAJORANTE: VÍTIMA MENOR DE 18 ANOS (ART. 216 §2º)...................................... 229
5.6. MAJORANTES DO ART. 226 ....................................................................................... 230
5.7. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 230
5.8. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 230
5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 231
6. ESTUPRO DE VULNERÁVEL (CP, art. 217-A) ................................................................... 231
6.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 231
6.2. ALTERAÇÕES.............................................................................................................. 232
6.2.1. Abolição do art. 224 do CP (presunção de violência), e consequentemente o art. 9º
da LCH. 232
6.2.2. Idade do primeiro vulnerável. ................................................................................. 232
6.2.3. Lex mitior e lex gravior ........................................................................................... 232
6.2.4. Com a nova lei, Há espaço para a antiga discussão sobre a relatividade da
presunção de violência? ...................................................................................................... 233
6.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 234
6.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 234
6.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 234
6.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 234
6.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 234
7. LENOCÍNIO CONTRA VULNERÁVEL (corrupção de menores) .......................................... 235
7.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 235
7.2. SUJEITOS DO CRIME ................................................................................................. 235
7.3. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 236
7.4. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 236
7.5. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 236
7.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 237
8. “CORRUPÇÃO DE MENORES” (SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE - CP, art. 218-A) ....................................................................... 237
8.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 237
8.2. SUJEITOS .................................................................................................................... 238
8.3. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 238
8.4. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 239
8.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 239
9. AÇÃO PENAL NOS CRIMES SEXUAIS (CP, art. 225) ........................................................ 239
9.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 239
9.2. OBSERVAÇÕES .......................................................................................................... 240

12
9.3. A NOVA HIPÓTESE DE CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL NOS CRIMES
CONTRA DIGNIDADE SEXUAL DE CRIANÇA E ADOLESCENTE – “LEI JOANNA
MARANHÃO” – LEI 12.650/12. ............................................................................................... 240
9.3.1. Análise da parte final do dispositivo ....................................................................... 240
9.3.2. Analisando a expressão “crimes contra a dignidade sexual de crianças e
adolescentes, previstos no CP ou em leis especiais” ........................................................... 241
9.3.3. Não confundir com crimes contra a dignidade sexual praticados contra
VULNERÁVEIS .................................................................................................................... 243
9.3.4. Vigência da Lei n. 12.650/2012 ........................................................................... 243
9.3.5. Lei irretroativa ........................................................................................................ 243
10. DISPOSIÇÕES GERAIS: MAJORANTES (CP, art. 234-A) .............................................. 244
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA .................................................................................. 244
1. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ................................................................................................ 244
1.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 244
1.2. BEM JURÍDICO PROTEGIDO ...................................................................................... 245
1.3. SUJEITOS .................................................................................................................... 245
1.4. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 245
1.5. CONDUTA .................................................................................................................... 245
1.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 246
1.7. MAJORANTE................................................................................................................ 246
2. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA.............................................................................. 247
2.1. PREVISÃO LEGAL: ART. 288-A .................................................................................. 247
2.2. NÚCLEO DO TIPO ....................................................................................................... 247
2.3. “ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR, MILÍCIA PARTICULAR, GRUPO OU ESQUADRÃO”
247
2.3.1. “Organização paramilitar” ...................................................................................... 248
2.3.2. “Grupo” .................................................................................................................. 248
2.3.3. “Milícia privada” ..................................................................................................... 248
2.3.4. “Esquadrão” ........................................................................................................... 248
2.4. FINALIDADE: COMETIMENTO DE CRIMES DO CP ................................................... 249
2.5. VIGÊNCIA DA LEI ........................................................................................................ 249
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA .................................................................................... 249
1. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297 CP) ............................................ 250
1.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 250
1.2. ART. 297 CAPUT, §§ 1º E 2º: FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO .............. 250
1.2.1. Previsão legal ........................................................................................................ 250
1.2.2. Bem jurídico tutelado ............................................................................................. 250
1.2.3. Sujeitos .................................................................................................................. 250
1.2.4. Conduta ................................................................................................................. 251
1.2.5. Objeto material ...................................................................................................... 251
1.2.6. Tipo subjetivo ........................................................................................................ 252
1.2.7. Consumação ......................................................................................................... 252

13
1.2.8. Competência ......................................................................................................... 252
1.3. ART. 297, §§3º E 4º: FALSIDADE DE DOCUMENTOS DESTINADOS À PREVIDÊNCIA
SOCIAL ................................................................................................................................... 253
1.3.1. Previsão legal ........................................................................................................ 253
1.3.2. Falsidade material ou ideológica? .......................................................................... 253
2. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR (ART. 298 CP) ..................................... 254
2.1. ANÁLISE DO CAPUT ................................................................................................... 255
2.2. INSERÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO AO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL ................. 255
2.2.1. Falsificação de cartão ............................................................................................ 255
3. FALSIDADE IDEOLÓGICA .................................................................................................. 256
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 256
4. FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO ..................................................... 257
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 257
4.2. BEM JURÍDICO ............................................................................................................ 257
4.3. SUJEITOS .................................................................................................................... 257
4.3.1. Sujeito ativo ........................................................................................................... 257
4.3.2. Sujeito passivo ...................................................................................................... 258
4.4. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 258
4.4.1. Estudo do caput ..................................................................................................... 258
4.4.2. Divulgação antecipada do resultado do concurso para poucas pessoas ............... 259
4.4.3. Não importa o meio pelo qual o agente tenha obtido a informação de conteúdo
sigiloso 259
4.4.4. Espécies de certame ............................................................................................. 259
4.4.5. Concurso previsto na Lei de Licitações.................................................................. 260
4.5. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL ........................................................................... 260
4.6. EXTENSÃO PREVISTA NO § 1º DO ART. 311-A......................................................... 260
4.7. CRIME DE CONDUTA LIVRE ...................................................................................... 262
4.8. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................. 262
4.9. CONSUMAÇÃO............................................................................................................ 262
Obtenção de vantagem: .......................................................................................................... 262
4.10. TENTATIVA .................................................................................................................. 263
4.11. COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 263
4.11.1. Regra geral ........................................................................................................ 263
4.11.2. Competência no caso de concursos públicos organizados pelo CESPE ............ 263
4.12. PRECEITO SECUNDÁRIO INSUFICIENTE À PROTEÇÃO SATISFATÓRIA DO BEM
JURÍDICO ............................................................................................................................... 264
4.13. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO........................................................... 265
4.14. INADMISSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ........................ 265
4.15. PRISÃO EM FLAGRANTE............................................................................................ 265
4.16. ACENTUADA PROBABILIDADE DE O CONDENADO RECEBER PENA RESTRITIVA
DE DIREITOS ......................................................................................................................... 265

14
4.17. PROIBIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO, AVALIAÇÃO OU EXAME
PÚBLICOS COMO NOVA FORMA DE INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS ............. 265
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................... 266
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM
GERAL (CRIMES FUNCIONAIS) ................................................................................................ 267
1. INTRODUÇÃO AOS CRIMES FUNCIONAIS ....................................................................... 267
1.1. A IMPORTÂNCIA DOS CRIMES FUNCIONAIS ........................................................... 267
1.2. SUJEITOS .................................................................................................................... 268
2. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS ........................................ 268
2.1. CÓDIGO PENAL ART. 327........................................................................................... 268
2.2. FUNCIONÁRIO PÚBLICO TÍPICO OU PROPRIAMENTE DITO (ART. 327, CAPUT) .. 268
2.3. FUNCIONÁRIO PÚBLICO ATÍPICO OU POR EQUIPARAÇÃO (ART. 327, §1º) .......... 269
2.4. MAJORANTE DE PENA DO §2º DO ART. 327 ............................................................ 270
2.5. CRIMES FUNCIONAIS: PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS ................................................. 270
2.6. CRIMES QUE SERÃO ESTUDADOS ........................................................................... 271
3. PECULATO ......................................................................................................................... 271
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 271
3.2. POSIÇÃO TOPOGRÁFICA........................................................................................... 271
3.3. PECULATO PRÓPRIO (art. 312, ‘caput’)...................................................................... 272
3.3.1. Previsão legal ........................................................................................................ 272
3.3.2. Objeto jurídico ....................................................................................................... 272
3.3.3. Sujeito ativo ........................................................................................................... 272
3.3.4. Sujeito passivo ...................................................................................................... 273
3.3.5. Tipo objetivo – “peculato-apropriação” ................................................................... 273
3.3.6. Tipo objetivo – “peculato-desvio” ........................................................................... 274
3.3.7. Tipo subjetivo ........................................................................................................ 274
3.3.8. Consumação e tentativa ........................................................................................ 275
3.3.9. Peculato-desvio (art. 312) X Emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art.
315) 275
3.4. PECULATO IMPRÓPRIO (PECULATO-FURTO, CP, art. 312, §1º) ............................. 275
3.4.1. Previsão legal ........................................................................................................ 275
3.4.2. Sujeitos .................................................................................................................. 275
3.4.3. Tipo subjetivo ........................................................................................................ 276
3.4.4. Consumação e tentativa ........................................................................................ 276
3.5. PECULATO CULPOSO (CP, art. 312, §2º) ................................................................... 276
3.5.1. Previsão legal ........................................................................................................ 276
3.5.2. Sujeitos do crime ................................................................................................... 276
3.5.3. Tipo objetivo .......................................................................................................... 277
3.5.4. Consumação e tentativa ........................................................................................ 277
3.6. CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE (§3º) PARA O PECULATO CULPOSO ......... 277
3.7. PECULATO-ESTELIONATO ou PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM (CP, art.
313) 277
15
3.7.1. Previsão legal e conceito ....................................................................................... 277
3.7.2. Sujeitos do crime ................................................................................................... 278
3.7.3. Tipo objetivo .......................................................................................................... 278
3.7.4. Tipo subjetivo ........................................................................................................ 278
3.7.5. Consumação e tentativa ........................................................................................ 278
3.8. PECULATO ELETRÔNICO (arts. 313-A e 313-B) ........................................................ 278
3.8.1. Previsão legal e diferenciação ............................................................................... 278
4. CONCUSSÃO (CP, art. 316) ............................................................................................... 280
4.1. PREVISÃO LEGAL E CONCEITO ................................................................................ 280
4.2. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 280
4.2.1. Possibilidades ........................................................................................................ 280
4.2.2. Princípio da especialidade ..................................................................................... 280
4.3. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 281
4.4. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 281
4.4.1. Conduta ................................................................................................................. 281
4.5. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 282
4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 282
5. CORRUPÇÃO PASSIVA (CP, art. 317) ............................................................................... 283
5.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 283
5.2. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 283
5.3. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 284
5.4. TIPOS DE CORRUPÇÃO ATIVA .................................................................................. 284
5.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 285
5.6. CORRUPÇÃO PASSIVA PRÓPRIA E IMPRÓPRIA ..................................................... 285
5.7. CORRUPÇÃO ANTECEDENTE E SUBSEQUENTE .................................................... 286
5.8. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 286
5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 286
5.10. MAJORANTE DE PENA (ART. 317, §1º) ...................................................................... 286
5.11. CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA (ART. 317§2º) ............................................. 287
6. PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA (art. 319-A) ......................................................................... 287
6.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 287
6.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 288
6.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 288
6.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 288
6.5. TIPO OBJETIVO........................................................................................................... 288
6.6. OBJETO MATERIAL..................................................................................................... 289
6.7. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 289
6.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 289
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA ADMINISTRAÇÃO EM GERAL .... 289
1. DESCAMINHO (ART. 334 CP) ............................................................................................ 290
1.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 290
16
1.2. CONCEITO................................................................................................................... 290
1.3. BEM JURÍDICO ............................................................................................................ 291
1.4. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 291
1.5. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 292
1.6. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................. 292
1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 292
1.8. EMPREGO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA OU MATERIAL ......................................... 292
1.9. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ............................................................................... 293
1.10. PENA ............................................................................................................................ 293
1.11. COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 293
1.12. FIGURAS EQUIPARADAS ........................................................................................... 294
2. CONTRABANDO ................................................................................................................. 295
2.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 295
2.2. CONCEITO................................................................................................................... 296
2.3. BEM JURÍDICO ............................................................................................................ 296
2.4. SUJEITOS .................................................................................................................... 296
2.5. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................. 296
2.6. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ............................................................................... 296
2.7. PENA ............................................................................................................................ 297
2.8. COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 297
2.9. FIGURAS EQUIPARADAS ........................................................................................... 297
2.10. QUADRO-RESUMO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ................................................ 299
2.11. FALHA DA LEI .............................................................................................................. 299
3. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (CP, art. 168-A) ......................................... 300
3.1. LEI 9.983/00 ................................................................................................................. 300
3.2. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 300
3.3. ART. 168-A, CAPUT CP – APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
PROPRIAMENTE DITA........................................................................................................... 301
3.3.1. Sujeitos .................................................................................................................. 301
3.3.2. Natureza do art. 168-A........................................................................................... 302
3.3.3. Consumação e tentativa ........................................................................................ 302
3.3.4. Tipo subjetivo ........................................................................................................ 303
3.3.5. Prazo ..................................................................................................................... 303
3.4. ART. 168-A, §1º - FORMAS EQUIPARADAS À APROPRIAÇÃO INDÉBITA
PREVIDENCIÁRIA .................................................................................................................. 303
3.5. ART. 168-A, §2 – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ........................................................ 304
3.6. ART. 168-A §3º - PERDÃO JUDICIAL OU SUBSTITUIÇÃO POR PENA DE MULTA ... 305
4. “ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO” (ESTELIONATO MAJORADO) - ART. 171, §3º (CRIME
PATRIMONIAL) .......................................................................................................................... 305
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 305
4.2. NATUREZA DO CRIME DE ESTELIONATO CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL ...... 305

17
5. FALSIDADE DE DOCUMENTOS DESTINADOS À PREVIDÊNCIA SOCIAL (CP, art. 297,
§§3º e 4º) .................................................................................................................................... 307
5.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 307
5.2. ESPÉCIE DE FALSIDADE............................................................................................ 308
5.3. FALSIDADE IDEOLÓGICA EM CONCURSO COM CRIME CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA ........................................................................................................................... 308
6. SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA (CP, art. 337-A) ........................... 308
6.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 308
6.2. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA................................................................ 309
6.3. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE .................................................................................... 309
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ...................................................... 310
1. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA ............................................................................................. 310
1.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 310
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 310
1.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 311
1.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 311
1.5. CONDUTA .................................................................................................................... 312
1.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 313
1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 314
1.8. MAJORANTE: CAUSA DE AUMENTO DE PENA (art. 339 §1º) ................................... 314
1.9. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA ............................................................................. 314
2. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO (ART. 340 CP) ...................... 315
2.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 315
2.2. ART. 339 x ART. 340 .................................................................................................... 315
2.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 315
2.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 315
2.5. CONDUTA .................................................................................................................... 315
2.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 315
2.7. TENTATIVA E CONSUMAÇÃO .................................................................................... 316
3. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA (ART. 341 CP) ......................................................................... 316
3.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 316
3.2. BEM JURÍDICO TUTELADO ........................................................................................ 316
3.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 317
3.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 317
3.5. CONDUTA .................................................................................................................... 317
3.6. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 317
3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 317
4. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA...................................................................... 318
4.1. PREVISÃO LEGAL ....................................................................................................... 318
4.2. OBJETO JURÍDICO TUTELADO .................................................................................. 318
4.3. SUJEITO ATIVO ........................................................................................................... 318

18
4.4. SUJEITO PASSIVO ...................................................................................................... 319
4.5. CONCURSO DE PESSOAS ......................................................................................... 319
4.6. CONDUTA .................................................................................................................... 319
4.7. TIPO SUBJETIVO ........................................................................................................ 320
4.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 320
4.9. CONCURSO DE CRIMES ............................................................................................ 320
4.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................... 321
4.11. FALSO TESTEMUNHO NA CARTA PRECATÓRIA ..................................................... 321
4.12. CAUSA DE AUMENTO (ART. 342§1º CP) ................................................................... 321
4.13. RETRATAÇÃO (ART. 342§2º) ...................................................................................... 321

Obs.: O professor abordou os principais crimes. O caderno não esgota todos os delitos da parte
especial.

19
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

1. HOMICÍDIO

1.1. PREVISÃO LEGAL

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição e pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o
crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício,
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço)
se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de
60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma

20
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº
6.416, de 24.5.1977)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de
2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos
ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015)

1.2. CONCEITO

Nelson Hungria: É o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na


orografia (montanha) dos crimes. O homicídio é o crime por excelência.

Von Lizst: Destruição da vida humana.

Conceito moderno: Destruição da vida extrauterina de alguém praticada por outra pessoa.

1.3. TOPOGRAFIA DO CRIME

Art. 121, caput: Homicídio doloso simples.

Art. 121, §1º: Homicídio doloso privilegiado.

Art. 121, §2º: Homicídio doloso qualificado.

Art. 121, §2º-A: Feminicídio

Art. 121, §3º: Homicídio culposo.

Art. 121, §4º: Majorantes.

Art. 121, §5º: Perdão judicial.

Art. 121, § 6º: Homicídio doloso majorado.

Art. 121, § 7º: Homicídio doloso majorado

Concurso: onde está o homicídio preterdoloso? NÃO está aqui no art. 121. Está no art.
129, §3º, lesão corporal seguida de morte.

1.4. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, isolada ou associada a outrem. Trata-se de crime comum, ou seja, o tipo
não exige qualidade ou condição especial do agente.

21
E no caso dos irmãos Xifópagos (siameses), onde um deles comete homicídio? A doutrina
diverge:

1ª C: O irmão criminoso deve ser absolvido. No conflito entre o interesse de punir e o


estado de liberdade do irmão inocente, prevalece este último (Euclides da Silveira).

2ª C: O irmão criminoso deve ser condenado, mas só vai cumprir pena quando o irmão
inocente praticar crime sujeito à pena de prisão (FMB). Prevalece o direito à liberdade.

1.5. SUJEITO PASSIVO

Ser vivo, nascido de mulher.

Magalhães Noronha entende que o Estado é tão vítima quanto a pessoa que morreu. “A
vida humana é condição de existência do próprio Estado”.

Se o sujeito passivo for Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, a


conduta pode configurar tanto o art. 121 do CP quanto o art. 29 c/c art. 2º da Lei 7.170/83 (Crimes
contra a Segurança Nacional), a depender da existência ou não de motivação política no
assassinato.

Novamente os irmãos siameses: Se o agente quer matar apenas um dos irmãos,


responderá quanto a este com dolo direto de 1º grau, e em face do segundo responderá com dolo
direto de 2º grau, pois a morte de um irmão era evento necessário para a morte do outro (ver
acima).

1.6. OBJETO MATERIAL

Onde recai a conduta descrita no tipo: Pessoa viva.

Se for pessoa morta, trata-se de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto
material do crime.

1.7. TIPO OBJETIVO

Tirar a vida extrauterina de alguém.

Vida intrauterina Vida extrauterina


Aborto Homicídio ou infanticídio

O momento no qual a vida passa a ser extrauterina refere-se ao início do parto. Antes é
aborto; após é homicídio ou infanticídio. Três correntes discutem qual é o momento exato de início
do parto:

1ª C: Com o completo e total desprendimento do feto das entranhas maternas.

2ª C: Desde as dores do parto.

3ª C: Dilatação do colo do útero.


22
IMPORTANTE: É importante lembrar que existe homicídio mesmo que a vida extrauterina
não seja viável.

STJ Informativo 507

OBS: Rogério Greco afirma que, adotando-se a teoria da imputação objetiva seria possível
sustentar que o fato seria atípico, pois não haveria incremento de risco, uma vez que o resultado
morte ocorreria de qualquer forma.

1.8. MEIOS DE EXECUÇÃO

O homicídio é um Crime de execução livre, podendo ser praticado:

- Por ação ou omissão;

- Por meios diretos ou indiretos: Ex.: Tiro ou uso de animal.

- Por meios físicos, psicológicos ou emocionais. Exemplo: meios mecânicos ou susto, riso,
emoção violenta.

1.9. TIPO SUBJETIVO

O homicídio admite tanto a forma dolosa (dolo direto ou eventual), como a forma culposa,
nos termos do §3º do art. 121.

OBS: A finalidade do agente pode significar um privilégio ou qualificadora.

1.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime é material (exige produção de resultado para a consumação), consumando-se


com a morte. Dá-se a morte com cessação da atividade encefálica, conforme dispõe o art. 3º da
Lei 9.434/97 (Lei da Remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo para fins médicos).

A tentativa é possível, pois o crime é plurissubsistente (a execução admite fracionamento).

Homicídio simples é hediondo?

Em regra, não, salvo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. É o


chamado homicídio condicionado.

OBS1: Esse homicídio que está tipificado no § 6º do art. 121.

OBS2: existe posicionamento que defende que o homicídio praticado por grupo de
extermínio é sempre qualificado, pois praticado por motivo torpe.

23
1.11. HOMICÍDIO DOLOSO PRIVILEGIADO (ART. 121 §1º)

1.11.1. Previsão legal

Art. 121 § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante


valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um
sexto a um terço.

Trata-se de uma causa de diminuição da pena (minorante) devendo ser levada em conta na
3ª fase da aplicação da pena. Em razão da pena do homicídio, a redução não é muito alta. A
expressão PODE, prevista no §1º, deve ser lida DEVE. O privilégio faz parte da votação dos
quesitos pelos jurados. A sua votação antecede as penas acusatórias, sob pena de nulidade.

1.11.2. “Privilegiadoras” (na realidade são minorantes especiais)

1) Matar impelido por relevante valor social

Matar para atender aos interesses da coletividade. Exemplo: Matar um traidor da pátria;
matar perigoso bandido que aterroriza a vizinhança.

2) Matar impelido por relevante valor moral

Valor individual do homicida, que deve ser analisado a fim de que se perquira se é
relevante do ponto de vista da sociedade em que se vive. Matar para atender interesses pessoais,
porém ligados ao sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade. Exemplo: Eutanásia; pai que
mata estuprador da filha.

OBS: Nesses casos de pai que mata estuprador ou marido que mata a mulher adúltera não
há que se falar em legítima defesa da honra. Trata-se de fato típico, ilícito e culpável, porém com
causa de diminuição de pena.

Sobre eutanásia: A própria exposição de motivos do CP coloca a eutanásia como exemplo


de homicídio privilegiado.

E a ortotanásia? Trata-se da morte natural sem interferência da ciência, deixando a


doença evoluir em caso de paciente irrecuperável (cessar sobrevida artificial).

A eutanásia pode ser ativa ou passiva. Será ativa quando presentes atos positivos com o
fim de matar alguém, eliminando ou aliviando seu sofrimento. A passiva se dá com a omissão de
tratamento ou de qualquer meio capaz de prolongar a vida humana, irreversivelmente
comprometida, acelerando o processo morte. Não se pode confundir com a ortotanásia e a
distanásia. Como bem esclarece Regis Prado: “A ortotanásia tem certa relação com a eutanásia
passiva, mas apresenta significado distinto desta e oposto da distanásia. O termo ortotanásia
indica morte certa, justa, em momento oportuno. Destarte, corresponde à supressão de cuidados
de reanimação em pacientes em estado de como profundo e irreversível, em estado terminal ou
vegetativo. De outra parte, a distanásia refere-se ao prolongamento do curso natural da morte – e
não da vida – por todos os meios existentes, apesar de aquela ser inevitável, sem ponderar os
benefícios ou prejuízos que podem advir para o paciente.

24
OBS1: Deve ser impelido, ou seja, o motivo único ou mais forte deve ser o relevante valor
moral ou social. Se o sujeito mata pelo relevante motivo, mas não impelido pelo motivo, é sinal
que concorreram outros fatores determinantes para a conduta. Nesse caso, responderá pelo
homicídio simples com a atenuante genérica do art. 65, III, ‘a’.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


III - ter o agente;
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

OBS2: O valor deve ser relevante, ou seja, deve ser tão importante que de certa forma explique a
conduta. Na hora do julgamento o critério da relevância deve ser aferido de forma objetiva, ou
seja, não deve ser analisado somente na órbita de consciência do réu.

3) Homicídio Emocional

Exige três requisitos cumulativos:

3.1) Violenta emoção que domine o réu

Domínio não se confunde com mera influência (que configura atenuante genérica do art.
65 do CP). O domínio da violenta emoção é mais contundente, significando uma perda de
autocontrole, levando o agente a praticar o homicídio. É a chamada emoção-choque.

A mera INFLUÊNCIA de violenta emoção configura a chamada “emoção-estado”, que é


administrável, não configurando, por isso, a causa de diminuição de pena, mas sim a atenuante.
(art. 65, III, e CP), (o domínio cega; a mera influência confunde, turva).

A expressão “logo após” indica que a reação deve ser imediatamente ao conhecimento do
réu da injusta provocação, não sendo necessário ter presenciado ao ato.

3.2) Reação logo em seguida

Exige-se a imediatidade da reação. É a reação sem intervalo temporal.

Jurisprudência: A reação será considerada imediata enquanto perdurar o domínio da


violenta emoção (análise do caso concreto).

3.3) Provocação injusta (dolosa ou culposa) da vítima ao réu

Não traduz necessariamente um fato típico (exemplo: adultério, injusta provocação que
não corresponde a um fato típico).

Provocação não se confunde com agressão (que poderia possibilitar a justificação da


conduta pela legítima defesa).

A provocação pode ser tanto direta (contra o próprio homicida), como indireta (contra
pessoa distinta do homicida).

Exemplo de provocação indireta culposa: Atropelamento culposo de criança. O pai da


criança, vendo a cena, mata o motorista sob domínio de violenta emoção, logo em seguida ao
atropelamento e consequente morte da criança (provocação injusta).

25
OBS: Na quesitação, a privilegiadora vem após a pergunta se o jurado absolve o réu e
antes das qualificadoras.

§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos


relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com
a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue,
devendo ser formulados quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas
na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação.

1.11.3. Privilegiadoras e erro na execução

OBS: Vale lembrar que essas causas privilegiadoras são aplicadas mesmo que o agente
atue em erro na execução (“aberratio ictus”), ou seja, em vez de matar o estuprador da filha, mata
o filho deste. Nesse caso, responderá por homicídio privilegiado porque agiu impelido por motivo
de relevante valor moral (art. 73 - consideram-se as circunstâncias ligadas à vítima virtual).

1.11.4. Comunicabilidade das privilegiadoras

Conforme o art. 30 do CP:

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter


pessoal, salvo quando elementares do crime.

- As elementares (sua presença interfere na tipicidade) do tipo sempre se comunicam


desde que haja conhecimento do codelinquente. Exemplo: subtração (furto 155) + violência (157).
A violência é elementar do crime, sua presença interferiu na tipicidade do comportamento, furto 
roubo.

- As circunstâncias (sua presença interfere na pena) do tipo só se comunicam se


objetivas e se o codelinquente delas tiver conhecimento.

Circunstâncias subjetivas: ligada ao motivo ou estado anímico do agente

Circunstâncias objetivas: ligada ao meio/modo de execução.

Como as privilegiadoras não são elementares (são circunstâncias), e não são objetivas
(são subjetivas), não há que se falar em sua comunicabilidade entre os coautores do homicídio.

Exemplo: Somente o pai será beneficiado pela privilegiadoras ao matar o estuprador de


sua filha; o vizinho que o ajudou no crime responderá pelo homicídio simples.

O privilégio é um direito subjetivo do réu ou faculdade do juiz?

Prevalece que é direito subjetivo do réu, ou seja, preenchidos os requisitos o juiz DEVE
diminuir a pena. A expressão ‘pode’ do dispositivo se refere ao quantum de diminuição de pena.

1.12. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO (art. 121, §2º)

26
1.12.1. Previsão legal

É sempre hediondo, pouco importando qual a qualificadora.

§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

1.12.2. Compatibilidade entre qualificadora e dolo eventual

O dolo eventual combina com qualificadora subjetiva? Exemplificando, se o jurado


reconhece que o dolo é eventual, pode também reconhecer uma qualificadora subjetiva?

STF: O dolo eventual pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe do crime de
homicídio. Nada impediria que o agente — médico —, embora prevendo o resultado e assumindo
o risco de levar os seus pacientes à morte, praticasse a conduta motivado por outras razões, tais
como torpeza ou futilidade (no caso concreto, o lucro - RHC-92571).

Informativo 677 do STF

É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?

- No caso das qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe: SIM (posição do STJ e do STF)

- No caso de qualificadoras de meio: NÃO (posição do STF HC 95136/PR)

Por que o dolo eventual é incompatível com a qualificadora da surpresa?

Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o
agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse.
Ora, no caso do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar
a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a
produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não
pode responder por essa circunstância (surpresa).

1.12.3. Qualificadoras do homicídio em espécie (análise do art. 121, §2º)

27
I – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe

É o motivo moralmente reprovável, demonstrativo de depravação espiritual do sujeito.


Torpe é o motivo abjeto, vil, ignóbil e desprezível. É, pois, o motivo repugnante, moral e
socialmente repudiado. No dizer de Hungria, revela alta depravação espiritual do agente, profunda
imoralidade, que deve ser severamente punida.

Na previsão do motivo torpe o legislador trabalha com a chamada interpretação analógica


ou “analogia intralegem” (dá exemplos da conduta seguidos de um encerramento genérico).
Lembrando que a analogia pura é vedada para punir.

Exemplo dado pelo legislador: Homicídio cometido mediante paga ou recompensa. É o


chamado Homicídio mercenário ou mandato remunerado. Trata-se de delito onde
necessariamente há número plural de agentes (mandante e executor), ou seja, trata-se de crime
plurissubjetivo (de concurso necessário).

Quanto à paga e promessa de recompensa, prevalece que se refere à vantagem


econômica (Greco não faz essa limitação). A diferença entre elas é o momento em que são
realizadas.

OBS: matar por favor sexual é tão torpe quanto, só não configura o exemplo da vantagem
econômica.

No homicídio mercenário, a qualificadora da torpeza é só para o executor ou se


comunica ao mandante?

1ª C: Trata-se de circunstância subjetiva incomunicável nos termos do art. 30 do CP.


(Doutrina moderna – Rogério Greco).

2ª C: Trata-se de elementar subjetiva do homicídio qualificado, logo, comunicável aos


concorrentes, nos termos do art. 30 do CP. Ou seja, para essa corrente, o homicídio qualificado
configura um tipo penal autônomo.

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter


pessoal, salvo quando elementares do crime.

Informativo 575 STJ

Para o STJ (último entendimento):

- "A paga ou a promessa de recompensa" é uma circunstância acidental do delito de


homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente aos coautores do
homicídio.

28
- No entanto, não há proibição de que esta circunstância se comunique entre o mandante e
o executor do crime, caso o motivo que levou o mandante a encomendar a morte tenha sido torpe,
desprezível ou repugnante.

- Em outras palavras, o mandante poderá responder pelo inciso I do § 2º do art. 121 do


CP, desde que a sua motivação, ou seja, o que o levou a encomendar a morte da vítima seja algo
torpe. Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima.

- Por outro lado, o mandante, mesmo tendo encomendado a morte, não responderá pela
qualificadora caso fique demonstrado que sua motivação não era torpe. Ex: homem que contrata
pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. Neste caso, o executor responderá por homicídio
qualificado (art. 121, § 2º, I) e omandante por homicídio simples, podendo até mesmo ser
beneficiado com o privilégio do § 1º.

Vingança é sinônimo de motivo torpe?

Não, necessariamente. Deve-se analisar o caso concreto. Só existe uma espécie de


vingança que SEMPRE configura um motivo torpe: aquela onde o agente atinge não a pessoa que
o provocou, mas uma terceira pessoa que o atinja. É o exemplo do sujeito que, querendo vingar-
se de seu patrão, mata o filho deste.

O resto das vinganças nem sempre qualificam o homicídio: quanto mais torpe for a ação
que causou o sentimento de vingança, menos torpe será a vingança.

O ciúme não é considerado motivo torpe (e nem fútil). O motivo torpe é infamante e não se
pode considerar infamante algo que resulta de um sentimento bom como o amor.

II – Por motivo fútil

É o motivo insignificante, frívolo. Ocorre aqui uma grande desproporção entre a causa
moral da conduta e o resultado morte por ela operado. Exemplo: Briga de trânsito.

Motivo fútil não se confunde com motivo injusto. Injusto todo crime é.

Todo motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil.

Ex: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de ter
se apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria.

O motivo é injusto, considerando que não há justificativa para ceifar a vida de uma pessoa
por conta do fim de um relacionamento. Por outro lado, não se pode dizer que a razão que
motivou o agente seja insignificante (desprezível).

- O móvel fútil tem que ser o único que influencia o agente em seu desiderato. Se
concorrer outro motivo, acabará por diminuir a futilidade do motivo.

- Para incidir a qualificadora, o móvel fútil deve advir de pessoas em estado de


normalidade psíquica. Exemplo: Pessoa em estado embriaguez não pode responder por homicídio
qualificado pela futilidade, porquanto é privada de senso de proporção caracterizador do motivo
fútil.

E a questão do dolo eventual? A pessoa está em estado de embriaguez e o homicídio


poderá ser qualificado, como dito acima.

29
Ausência de motivos qualifica o crime?

1ª C: Se motivo pequeno (fútil) qualifica, a ausência de motivo também qualificará.


Jurisprudência (Capez, Greco). Seria um contrassenso conceber que o legislador punisse com
pena mais grave quem mata por futilidade, permitindo que o que age sem qualquer motivo receba
a sanção mais branda.

2ª C: O crime será qualificado quando o motivo é pequeno, que não se confunde com
ausência de motivos. Querer abranger a ausência é analogia in malam partem. Logo, o homicídio
será simples (Cezar Bitencourt, Damásio). Afirma que, apesar de ser ilógico, pelo respeito ao
princípio da legalidade, a ausência de motivos não se equipara ao motivo fútil. Equiparar
“ausência de motivo” a “motivo fútil” é fazer uma analogia in mallan partem.

Informativo 716 do STF

No caso concreto: A vítima iniciou uma discussão com algumas outras pessoas por causa
de uma mesa de bilhar. Tal discussão é boba, insignificante e, matar alguém por isso, é homicídio
fútil. No entanto, segundo restou demonstrado nos autos, o crime não teria decorrido da discussão
sobre a ocupação da mesa de bilhar, mas sim do comportamento agressivo da vítima. Isso porque
a vítima, no início do desentendimento, poderia deixar o local, mas preferiu enfrentar os
oponentes, ameaçando-os e inclusive, dizendo que chamaria terceiros para resolverem o
problema. Logo, a partir daí os agentes mataram a vítima, não mais por causa da mesa de sinuca
e sim por conta dos fatos que ocorreram em seguida.

Segundo noticiado no Informativo, o STF entendeu que “o evento ‘morte’ decorreu de


postura assumida pela vítima, de ameaça e de enfrentamento”. Logo, não houve motivo fútil.

Vale ressaltar, no entanto, que “a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por
si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil” (AgRg no REsp 1113364/PE, Rel. Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 06/08/2013). Assim, é preciso verificar a situação
no caso concreto.

É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo
tempo, privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja
qualificado e privilegiado ao mesmo tempo se esta qualificadora for de natureza objetiva (ex: meio
cruel, surpresa). Se a qualificadora for subjetiva, entende-se que ela é incompatível com o
privilégio.

Informativo 525 do STJ

Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto
desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil.

Cleber Masson fornece um exemplo: “Depois de discutirem futebol, “A” e “B” passam a
proferir diversos palavrões, um contra o outro. Em seguida, “A” cospe na face de “B”, que, de

30
imediato, saca um revólver e contra ele atira, matando-o. Nada obstante o início do problema seja
fútil (discussão sobre futebol), a razão que levou à prática da conduta homicida não apresenta
essa característica.

III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum

Também aqui o legislador trabalha com interpretação analógica.

 Meio insidioso: Aquele dissimulado na sua eficiência maléfica, ou seja,


desconhecido da vítima, que não sabe estar sendo atacada. Exemplo: Veneno. O
homicídio com emprego de veneno é chamado de venefício.

Veneno: Substância mineral, vegetal ou animal, que, introduzida no corpo da vítima, é


capaz de perturbar ou destruir as funções vitais de seu organismo. Exemplo de Hungria: Açúcar
para o diabético é veneno.

Para incidir a qualificadora é imprescindível que a vítima desconheça estar ingerindo a


substância venenosa (ignora estar sendo envenenada). Se a vítima tem conhecimento, não incide
ESTA qualificadora (pois o meio deixa de ser insidioso), mas pode estar presente outra (como o
meio cruel).

Exemplo: pessoa coloca arma na cabeça da pessoa e diz “beba este veneno”. A pessoa
bebe sabendo que era veneno. O homicídio é simples ou qualificado? É qualificado não pelo
emprego de veneno, pois a pessoa sabia que estava bebendo veneno, mas não deixa de ser
qualificado pela impossibilidade de defesa a vítima.

 Meio cruel: Aquele que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima. Exemplo:


tortura, asfixia, fogo.

Tortura: Não se confunde o homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 3º, III do CP),
com o crime de tortura qualificada pela morte (art. 1º, § 3º da Lei 9.455/97). Nesta a intenção do
agente é torturar, ocorrendo a morte de forma culposa (crime preterdoloso). Naquela, a intenção é
matar, sendo a tortura o meio de execução eleito.

OBS: Admite-se concurso entre a tortura simples e o homicídio qualificado, na hipótese em


que, depois de torturar a vítima o agente decide matá-la para assegurar a impunidade (art. 121,
§2º, V).

 Meio que resulte perigo comum: Fogo e explosivo, por exemplo.

IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido

Traição: Quebra de confiança. Exemplo: Marido que mata a mulher durante a conjunção
carnal. Tiro pelas costas.

Emboscada: Surpresa à vítima, pressupõe ocultamento do agressor. Ex.: Tocaia.


Pressupõe sempre uma premeditação.

31
Dissimulação: É a ocultação da intenção homicida. Exemplo: Fazer-se de amigo da vítima
para matá-la. A dissimulação pode ser moral (exemplo onde o agente leva a vítima para o motel) e
material (exemplo do disfarce). Também pressupõe uma premeditação.

OBS: Conforme Damásio, a premeditação, per si, não constitui circunstância qualificadora
do homicídio. Muitas vezes significa até mesmo uma resistência do agente à prática delituosa.
Apesar de não constituir uma qualificadora, deve ser valorada pelo juiz na fixação da pena-base.

Para que essa qualificadora (uso de meio que dificulte ou impossibilite defesa) exista é
necessário que a vítima tenha alguma possibilidade de defesa numa situação normal. Exemplo
onde não se configura: Vítima em coma.

Além disso, só se configura a qualificadora se a dificuldade ou impossibilidade de defesa


resultar da conduta do agente. Se a impossibilidade de defesa decorrer de característica da
vítima, não há que se falar na qualificadora oura estudada. Exemplo onde não se configura: Vítima
que anda de muletas; vítima de tenra idade etc. Ora, o agente não utiliza como recurso a
característica da vítima, e sim se aproveita dela.

OBS: Vale lembrar que essas circunstâncias relativas ao meio e modo de execução
(objetivas) são comunicáveis aos partícipes do crime, desde que, é claro, sejam de seu
conhecimento.

V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro


crime (conexão)

Sempre que for reconhecida essa qualificadora, o homicídio deverá ter relação com outro
crime, ou seja, deverá existir uma conexão entre os crimes, que pode ocorrer de duas formas:

Conexão objetiva teleológica: O agente mata para assegurar a execução de outro crime
(futuro). Exemplo: Matar o segurança da Gisele para estuprá-la. Assegurar a execução.

OBS: Mesmo que o segundo crime não se consume, ou mesmo seja impossível, é
qualificado o primeiro, pois basta que a finalidade do homicídio tenha sido a garantia da execução
(a censurabilidade da conduta daquele que age com esse fim é maior). Ocorrendo o segundo
crime, ocorrerá concurso de delitos.

Conexão objetiva consequencial: O agente mata para assegurar a impunidade,


vantagem ou ocultação de outro crime (pretérito).

Impunidade: Homicídio da testemunha que pode identificar o agente como autor de um


estupro.

Vantagem: Homicídio de coautor de furto para ficar com a totalidade da ‘res furtiva’.

Ocultação: Homicídio de perito que ia apurar a apropriação indébita do agente.

Conexão temporal (conexão ocasional): O agente mata por ocasião de outro crime, sem
vínculo finalístico. Ex.: Estava matando uma pessoa e aproveitei para matar o meu desafeto que
passava no local. NÃO CONFIGURA UMA QUALIFICADORA.

OBS1: Não se exige coincidência de sujeitos ativos para configurar a qualificadora. O


crime conexo ao homicídio pode ter como autor qualquer outra pessoa. Ex.: Pai mata a
testemunha de crime cometido pelo filho.

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OBS2: Quando o homicídio é realizado para garantir a execução, ocultação, impunidade
ou vantagem de uma contravenção, não se configura essa qualificadora (seria analogia in malam
partem). Entretanto, deve ser aplicada a qualificadora da torpeza, porquanto a qualificadora da
conexão é apenas uma especialização do motivo torpe.

VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino

Esta qualificadora foi incluída no CP pela Lei 13.104/2015, que:

a) Prevê o FEMINICÍDIO como qualificadora do crime de homicídio; e

b) Inclui o FEMINICÍDIO no rol dos crimes hediondos

Vejamos algumas impressões iniciais a respeito da novidade legislativa.

O que é feminicídio?

Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de


sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima
enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do
sexo masculino.

Feminicídio X femicídio

Existe diferença entre feminicídio e femicídio?

• Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);

• Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo
feminino” (por razões de gênero).

A nova Lei trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata
mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser
mulher.

Como era a punição do feminicídio?

Antes da Lei n. 13.104/2015, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o
homicídio ser praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Em outras
palavras, o feminicídio era punido, de forma genérica, como sendo homicídio (art. 121 do CP).

A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter ainda este nome) poderia ser
enquadrado como sendo homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou
fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto,
o certo é que não existia a previsão de uma pena maior para o fato de o crime ser cometido contra
a mulher por razões de gênero.

A Lei n. 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu, expressamente, que o


feminicídio, deve agora ser punido como homicídio qualificado.

A Lei Maria da Penha já não punia isso?

NÃO. A Lei Maria da Penha não traz um rol de crimes em seu texto. Esse não foi seu
objetivo. A Lei n. 11.340/2006 trouxe regras processuais instituídas para proteger a mulher

33
vítima de violência doméstica, mas sem tipificar novas condutas, salvo uma pequena alteração
feita no art. 129 do CP.

Desse modo, o chamado feminicídio não era previsto na Lei n. 11.340/2006, apesar de a
Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, que deu nome à Lei, ter sido vítima de feminicídio duas
vezes (tentado).

Vale ressaltar que as medidas protetivas da Lei Maria da Penha poderão ser aplicadas à
vítima do feminicídio (obviamente, desde que na modalidade tentada).

Foi acrescentado o inciso VI ao § 2º do art. 121 do CP

O rol de qualificadoras do homicídio encontra-se previsto no § 2º do art. 121 do CP.

A Lei n. 13.104/2015 acrescentou um sexto inciso ao rol do § 2º para tratar do


feminicídio. Confira:

Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
Feminicídio
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Sujeito ativo

Pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum).

O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.

Sujeito passivo

Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde
que do sexo feminino).

Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por
razões da condição de sexo feminino.

Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima
deve ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.

Transexual, homossexual e travesti. Diferenças

Transexual é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das


características psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transexualiade é um
transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se
enxerga (como homem ou mulher). Assim, em simples palavras, o transexual tem uma identidade
de gênero (sexo psicológico) diferente do sexo físico, o que lhe causa intenso sofrimento.

Existem algumas formas de acompanhamento médico oferecidas ao transexual, dentre


elas a cirurgia de redesignação sexual (transgenitalização), que pode ocorrer tanto para
redesignação do sexo masculino em feminino, como o inverso.

Importante, ainda, esclarecer que transexual não é o mesmo que homossexual ou travesti.
A definição de cada uma dessas terminologias ainda está em construção, sendo ponto polêmico,
34
mas em simples palavras, a homossexualidade (não se fala homossexualismo) está ligada à
orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, afetiva ou sexual por pessoas do
mesmo gênero. O homossexual não possui nenhuma incongruência de identidade de gênero. A
travesti (sempre se utiliza o artigo no feminino), por sua vez, possui identidade de gênero oposta
ao seu sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de
redesignação sexual.

Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que
o sexo físico continua sendo masculino.

Vítima travesti (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o
sexo físico continua sendo masculino.

Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode ser vítima de


feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher para
todos os fins de direito?

NÃO. A transexual, sob o ponto de vista estritamente genético, continua sendo pessoa do
sexo masculino, mesmo após a cirurgia.

Não se discute que a ela devem ser assegurados todos os direitos como mulher, eis que
esta é a expressão de sua personalidade. É assim que ela se sente e, por isso, tem direito,
inclusive de alterar seu nome e documentos, considerando que sua identidade sexual é feminina.
Trata-se de um direito seu, fundamental e inquestionável.

No entanto, tão fundamental como o direito à expressão de sua própria sexualidade, é o


direito à liberdade e às garantias contra o poder punitivo do Estado.

O legislador tinha a opção de, legitimamente, equiparar a transexual à vítima do sexo


feminino, até porque são plenamente equiparáveis. Porém, não o fez. Não pode o intérprete, a
pretexto de respeitar a livre expressão sexual do transexual, valer-se de analogia para punir o
agente.

Enfim, a transexual que realizou a cirurgia e passou a ter identidade sexual feminina é
equiparada à mulher para todos os fins de direito, menos para agravar a situação do réu. Isso
porque, em direito penal, somente se admitem equiparações que sejam feitas pela lei, em
obediência ao princípio da estrita legalidade.

Deve-se salientar, contudo, que, em sentido contrário, a Prof. Alice Bianchini, maior
especialista do Brasil sobre o tema, defende, em palestra disponível no Youtube, que a transexual
que realizou a cirurgia pode sim ser vítima de feminicídio.

Razões de condição de sexo feminino

“Razões de gênero” foi substituída no Congresso

A expressão escolhida é péssima. A redação é confusa, truncada e não explica nada.

No projeto de lei, a locução prevista para o tipo era: se o homicídio é praticado “contra a
mulher por razões de gênero”. Ocorre que, durante os debates, a bancada de parlamentares
evangélicos pressionou para que a “gênero” da proposta inicial fosse substituída por “sexo
feminino”, com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela lei. A
bancada feminina acabou aceitando a mudança para viabilizar a aprovação do projeto.

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Melhor seria se tivesse sido mantida a redação original, que, aliás, é utilizada na Lei Maria
da Penha: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero” (art. 5º) e nas legislações internacionais.

Mas, afinal, o que são “razões de condição de sexo feminino”?

O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um
dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão.

§ 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” quando


o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Violência doméstica e familiar (inciso I)

Haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra a mulher em situação de


violência doméstica e familiar.

Ao afirmar isso, o legislador ampliou bastante o conceito de feminicídio, já que, pela


redação literal do inciso I não seria necessário discutir os motivos que levaram o autor a cometer o
crime. Pela interpretação literal, não seria indispensável que o delito tivesse relação direta com
razões de gênero. Tendo sido praticado homicídio (consumado ou tentado) contra pessoa do sexo
feminino envolvendo violência doméstica, haveria feminicídio.

Ocorre que a interpretação literal e isolada do inciso I não me parece a melhor. É preciso
contextualizar o tema e buscar a interpretação sistemática, socorrendo-se da definição de
“violência doméstica e familiar” encontrada no art. 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), que assim a conceitua:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar


contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso do feminicídio baseado no inciso I do § 2º-A
do art. 121, será indispensável que o crime envolva motivação baseada no gênero (“razões de
condição de sexo feminino”). Ex.1: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem
“direito” de se separar dele; Ex.2: companheiro que mata sua companheira porque quando ele
chegou em casa o jantar não estava pronto.

Por outro lado, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo
que tenha a mulher como vítima, não haverá feminicídio se não existir, no caso concreto, uma
motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex: duas irmãs, que
vivem na mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o
quarto da outra e a mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado
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com violência doméstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação íntima de afeto, mas
não será feminicídio porque não foi um homicídio baseado no gênero (não houve violência de
gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a motivação do delito sido meramente
patrimonial.

Menosprezo ou discriminação à condição de mulher (inciso II)

Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique
caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.

Ex.: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter
conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria
capacitada para a função.

Tentado ou consumado

O feminicídio pode ser tentado ou consumado.

Tipo subjetivo

O feminicídio pode ser praticado com dolo direto ou eventual.

Natureza da qualificadora

A qualificadora do feminicídio é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a


esfera interna do agente (“razões de condição de sexo feminino”). Ademais, não se trata de
qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de execução.

Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa qualificadora não
se comunica aos demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiverem a mesma
motivação. Ex.: João deseja matar sua esposa (Maria) e, para tanto, contrata o pistoleiro
profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas
lucrar com a execução; João responderá por feminicídio (art. 121, § 2º, VI) e Pedro por homicídio
qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do feminicídio não se estende ao
executor, por força do art. 30 do CP:

Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter


pessoal, salvo quando elementares do crime.

Impossibilidade de feminicídio privilegiado

O § 1º do art. 121 do CP prevê a figura do homicídio privilegiado nos seguintes termos:

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor


social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.

É possível aplicar o privilégio do § 1º ao feminicídio? É possível que exista feminicídio


privilegiado?

NÃO. A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No


entanto, para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do
feminicídio, a qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que haja feminicídio privilegiado.
37
Competência

Se o feminicídio ocorre com base no inciso I do § 2º-A do art. 121, ou seja, se envolveu
violência doméstica, a competência para processar este crime será da vara do Tribunal do Júri ou
do Juizado Especial de Violência Doméstica (“Vara Maria da Penha”)?

Dependerá da Lei estadual de Organização Judiciária.

Situação 1: existem alguns Estados que, em sua Lei de Organização Judiciária preveem
que, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica, a
Vara de Violência Doméstica será competente para instruir o feito até a fase de pronúncia. A partir
daí, o processo será redistribuído para a Vara do Tribunal do Júri.

Segundo já decidiu o STF, essa previsão é válida. Assim, a Lei de Organização Judiciária
poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na Vara de Violência
Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência
doméstica. Não haverá usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento
propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri (STF. 2ª Turma. HC
102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014. Info 748).

Situação 2: se a lei de organização judiciária não prever expressamente essa competência


da Vara de Violência Doméstica para a 1ª fase do procedimento do Júri, aplica-se a regra geral e
todo o processo tramitará na Vara do Tribunal do Júri.

Crime hediondo

A Lei n. 13.104/2015 alterou o art. 1º da Lei n. 8.072/90 e passou a prever que o


feminicídio é crime hediondo.

O que muda no fato de o feminicídio tornar-se crime hediondo? Quais são as diferenças
entre o crime comum e o crime hediondo?

CRIME COMUM CRIME HEDIONDO (OU EQUIPARADO)


Em regra, admite fiança. NÃO admite fiança.
Admite liberdade provisória. Admite liberdade provisória.
Admite a concessão de anistia, graça e NÃO admite a concessão de anistia, graça e
indulto. indulto.
O prazo da prisão temporária, quando O prazo da prisão temporária, quando
cabível, será de 5 dias, prorrogável por cabível, será de 30 dias, prorrogável por igual
igual período. período.
O regime inicial de cumprimento da pena O regime inicial de cumprimento da pena
pode ser fechado, semiaberto ou aberto. pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
Admite a substituição da pena privativa de Admite a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos (art. 44 liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do
do CP). CP).
Admite a concessão de sursis, cumpridos Admite a concessão de sursis, cumpridos os
os requisitos do art. 77 do CP. requisitos do art. 77 do CP, salvo no caso do
tráfico de drogas por força do art. 44 da Lei
n.°11.343/2006.
O réu pode apelar em liberdade, desde O réu pode apelar em liberdade, desde que a
que a prisão não seja necessária. prisão não seja necessária.
Para a concessão do livramento Para a concessão do livramento condicional,

38
condicional, o apenado deverá cumprir 1/3 o condenado não pode ser reincidente
ou 1/2 da pena, a depender do fato de ser específico em crimes hediondos ou
ou não reincidente em crime doloso. equiparados e terá que cumprir mais de 2/3
da pena.
Para que ocorra a progressão de regime, o Para que ocorra a progressão de regime, o
condenado deverá ter cumprido 1/6 da condenado deverá ter cumprido:
pena. 2/5 da pena, se for primário; e
3/5 (três quintos), se for reincidente.
A pena do art. 288 do CP (associação A pena do art. 288 do CP (associação
criminosa) é de 1 a 3 anos. criminosa) será de 3 a 6 anos quando a
associação for para a prática de crimes
hediondos ou equiparados.

Constitucionalidade

A qualificadora do feminicídio é inconstitucional por violar o princípio da igualdade?

NÃO. O STF enfrentou diversos questionamentos nesse sentido ao julgar a ADC 19/DF
proposta em relação à Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) e na oportunidade decidiu que é
possível que haja uma proteção penal maior para o caso de crimes cometidos contra a mulher por
razões de gênero (STF. Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).

Assim, não há violação do princípio constitucional da igualdade pelo fato de haver uma
punição maior no caso de vítima mulher.

Na visão da Corte, a Lei Maria da Penha e, agora, a Lei do Feminicídio, são instrumentos
que promovem a igualdade em seu sentido material. Isso porque, sob o aspecto físico, a mulher é
mais vulnerável que o homem, além de, no contexto histórico, ter sido vítima de submissões,
discriminações e sofrimentos por questões relacionadas ao gênero.

Trata-se, dessa forma, de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da


mulher.

Ademais, a criminalização especial e mais gravosa do feminicídio é uma tendência


mundial, adotada em diversos países do mundo.

Vigência e irretroatividade

A Lei n. 13.104/2015 entrou em vigor no dia 10/03/2015, de forma que se a pessoa, a


partir desta data, praticou o crime de homicídio contra mulher por razões da condição de sexo
feminino responderá por feminicídio, ou seja, homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º,
VI, do CP.

A Lei n. 13.104/2015 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de sorte
que, quem cometeu homicídio contra mulher por razões da condição de sexo feminino até
09/03/2015, não responderá por feminicídio (art. 121, § 2º, VI).

VII – Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição

Esta qualificadora foi incluída no CP pela Lei 13.142/2015.

39
PONTOS IMPORTANTES

1) O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra
seus familiares) passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com
a função exercida.

A Lei n. 13.142/2015 acrescentou o inciso VII ao § 2º do art. 121 do CP prevendo o


seguinte:

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

REQUISITO 1: VÍTIMA DO CRIME

a) Autoridades ou agentes do art. 142 da CF/88

O art. 142 da CF/88 trata sobre as Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica).

b) Autoridades ou agentes do art. 144 da CF/88

O art. 144, por sua vez, elenca os órgãos que exercem atividades de segurança pública. O
caput desse dispositivo tem a seguinte redação:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

c) Situação dos guardas municipais

Como se vê pela redação do caput do art. 144 da CF/88, não há menção às guardas
municipais. Diante disso, indaga-se: o homicídio praticado contra um guarda municipal no
exercício de suas funções pode ser considerado qualificado, nos termos do inciso VII do § 2º do
art. 121 do CP? Essa nova qualificadora aplica-se também para os guardas municipais?

SIM. A qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP aplica-se em situações


envolvendo guardas municipais. Chega-se a essa conclusão tanto a partir de uma interpretação
literal como teleológica.

O inciso VII fala em “autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal”. Repare que o legislador não restringiu a aplicação da qualificadora ao caput do art. 144
40
da CF/88. As guardas municipais estão descritas no art. 144, não em seu caput, mas sim no § 8º,
que tem a seguinte redação:

Art. 144 (...) § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais


destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.

Desse modo, a interpretação literal do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP não exclui a sua
incidência no caso de guardas municipais. Vale aqui aplicar o vetusto brocardo jurídico “ubi lex
non distinguir nec nos distinguere debemus”, ou seja, “onde a lei não distingue, não pode o
intérprete distinguir”.

Ressalte-se que não se trata de interpretação extensiva ou ampliativa contra o réu. A lei
fala no art. 144 da CF/88, sem qualquer restrição ou condicionante. O art. 144 é composto não
apenas pelo caput, mas também por parágrafos. Ao se analisar todo o artigo para cumprir a
remissão feita pela lei (e não apenas o caput) não se está ampliando nada, mas apenas dando
estreita obediência à vontade do legislador.

Além disso, há razões de natureza teleológica que justificam essa interpretação.

O objetivo do legislador foi o de proteger os servidores públicos que desempenham


atividades de segurança pública e que, por estarem nessa condição, encontram-se mais expostos
a riscos do que as demais pessoas. Os guardas municipais, por força de lei que deu concretude
ao § 8º do art. 144 da CF/88, estão também incumbidos de inúmeras atividades relacionadas com
a segurança pública. Refiro-me à Lei n. 13.022/2014 (Estatuto das Guardas Municipais), que
prevê, dentre as competências dos guardas municipais, a sua atuação em prol da segurança
pública das cidades (arts. 3º e 4º da Lei).

d) Agentes de segurança viária

O mesmo raciocínio acima penso que pode ser aplicado para os agentes de segurança
viária, disciplinados no § 10 do art. 144 da CF/88:

§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e


da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de
outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à
mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito,
estruturados em Carreira, na forma da lei.

e) Servidores aposentados

Não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art. 121 do CP os servidores aposentados
dos órgãos de segurança pública, considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria
que ter sido expresso já que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser
autoridade, agente ou integrante do órgão público.

f) Familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública

Também será qualificado o homicídio praticado contra cônjuge, companheiro ou parente


consanguíneo até 3º grau das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança
pública.
41
Quando se fala em cônjuge ou companheiro, isso inclui, tanto relacionamentos
heteroafetivos como homoafetivos. Assim, matar um companheiro homoafetivo do policial, em
retaliação por sua atuação funcional, é homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VII, do
CP.

A expressão “parentes consanguíneos até 3º grau” abrange:

• Ascendentes (pais, avós, bisavós);

• Descendentes (filhos, netos, bisnetos);

• Colaterais até o 3º grau (irmãos, tios e sobrinhos).

O filho adotivo está abrangido na proteção conferida por este inciso VII? Se um filho
adotivo do policial é morto como retaliação por sua atuação funcional haverá homicídio qualificado
com base no art. 121, § 2º, VII, do CP?

O tema certamente suscitará polêmica na doutrina e jurisprudência, mas penso que não.

Existem três espécies de parentesco no Direito Civil:

a) parentesco consanguíneo ou natural (decorrente do vínculo biológico);

b) parentesco por afinidade (decorrente do casamento ou da união estável);

c) parentesco civil (decorrente de uma outra origem que não seja biológica nem por
afinidade).

De acordo com essa classificação, a adoção gera uma espécie de parentesco civil entre
adotando e adotado. O filho adotivo possui parentesco civil com seu pai adotivo.

O legislador, ao prever o novel inciso VII cometeu um grave equívoco ao restringir a


proteção do dispositivo às vítimas que sejam parentes consanguíneas da autoridade ou agente de
segurança pública, falhando, principalmente, por deixar de fora o parentesco civil.

Tivesse o legislador utilizado apenas a expressão “parente”, sem qualquer outra


designação, poderíamos incluir todas as modalidades de parentesco. Ocorre que ele, abraçando a
classificação acima explicada, escolheu proteger apenas os parentes consanguíneos.

É certo que a CF/88 equipara os filhos adotivos aos filhos consanguíneos, afirmando que
não poderá haver tratamento discriminatório entre eles. Isso está expresso no § 6º do art. 227:

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,


terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.

Desse modo, a restrição imposta pelo inciso VII é manifestamente inconstitucional. No


entanto, mesmo sendo inconstitucional, não é possível “corrigi-la” acrescentando, por via de
interpretação, maior punição para homicídios cometidos contra filhos adotivos. Se isso fosse feito,
haveria analogia in malam partem, o que é inadmissível no Direito Penal.

g) Parentes por afinidade também estão fora

Não estão abrangidos os parentes por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire
em decorrência do casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc.
42
Assim, se o traficante mata a sogra do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio
qualificado do art. 121, § 2º, VII, do CP. A depender do caso concreto, poderá ser enquadrado
como motivo torpe (art. 121, § 2º, I, do CP).

Resumindo as vítimas que estão abrangidas pela nova qualificadora:

O homicídio será QUALIFICADO se for cometido contra as seguintes vítimas:

AUTORIDADE, AGENTE OU INTEGRANTE da (o) (s):

• Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica);

• Polícia Federal;

• Polícia Rodoviária Federal;

• Polícia Ferroviária Federal;

• Polícias Civis;

• Polícias Militares;

• Corpos de Bombeiros Militares;

• Guardas Municipais*;

• Agentes de segurança viária*;

• Sistema Prisional (agentes, diretores de presídio, carcereiro etc.);

• Força Nacional de Segurança Pública.

OU

CÔNJUGE, COMPANHEIRO ou PARENTE consanguíneo até 3º grau de algumas das


pessoas acima listadas.

REQUISITO 2: RELAÇÃO COM A FUNÇÃO

Não basta que o crime tenha sido cometido contra as pessoas acima listadas. É
indispensável que o homicídio esteja relacionado com a função pública desempenhada pelo
integrante do órgão de segurança pública.

Assim, três situações justificam a incidência da qualificadora:

• O indivíduo foi vítima do homicídio no exercício da função.

Ex.: PM que, ao fazer a ronda no bairro, é executado por um bandido.

• O indivíduo foi vítima do homicídio em decorrência de sua função.

Ex.: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a quadrilha
que ele chefiava.

• O familiar da autoridade ou agente foi vítima do homicídio em razão dessa condição de


familiar de integrante de um órgão de segurança pública.

43
Ex.: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa como
retaliação por ter conduzido operação policial que apreendeu enorme quantidade de droga.

De outro lado, não haverá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP se o crime
foi praticado contra um agente de segurança pública (ou contra seus familiares), mas este
homicídio não tiver qualquer relação com sua função.

Ex.: policial civil, em seu período de folga, está em uma boate e paquera determinada
moça que ele não viu estar acompanhada. O namorado da garota, com ciúmes, saca uma arma e
dispara tiro contra o policial. Não haverá a qualificadora do inciso VII, mas o crime, a depender do
conjunto probatório, poderá ser qualificado com base no motivo fútil (inciso II).

Em suma, a novel qualificadora não protege a pessoa do militar, do policial, do delegado


etc. A nova qualificadora tutela a FUNÇÃO desempenhada por esses indivíduos. Esse é o bem
jurídico protegido.

OUTRAS OBSERVAÇÕES

a) Tentado ou consumado

Incidirá a qualificadora tanto nos casos de homicídio tentado, como consumado.

b) Elemento subjetivo

É indispensável que o homicida saiba (tenha consciência) da função pública


desempenhada e queira cometer o crime contra o agente que está em seu exercício ou em razão
dela ou ainda que queira praticar o delito contra o seu familiar em decorrência dessa atividade.

Ex.: João, membro de uma organização criminosa, está “jurado de morte” pela organização
criminosa rival e, por isso, anda sempre armado e atento. João não sabia que estava sendo
investigado pela Polícia Federal, inclusive sendo acompanhado por dois agentes da PF à paisana.
Determinado dia, ao perceber que estava sendo seguido, João, pensando se tratar dos membros
da organização rival, mata os dois policiais. Não incidirá a qualificadora do inciso VII do § 2º do
art. 121 do CP porque ele não tinha dolo de matar especificamente os policiais no exercício de
suas funções. A depender do conjunto probatório, João poderá, em tese, responder por homicídio
qualificado com base no motivo torpe (inciso I), desde que não fique caracterizada a legítima
defesa putativa.

c) Natureza da qualificadora

A qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a


esfera interna do agente (ele mata a vítima no exercício da função, em decorrência dela ou em
razão da condição de familiar do agente de segurança pública).

Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou
modo de execução.

Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa qualificadora não
se comunica aos demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiverem a mesma
motivação. Ex.: João, por vingança, deseja matar o Delegado que lhe investigou e, para tanto,
contrata o pistoleiro profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que
seu intuito é apenas lucrar com a execução; João responderá por homicídio qualificado do art.

44
121, § 2º, VII e Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do
inciso VII não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP:

Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter


pessoal, salvo quando elementares do crime.
d) Impossibilidade de a qualificadora do inciso VII ser conjugada com o privilégio do § 1º :

O § 1º do art. 121 do CP prevê a figura do homicídio privilegiado nos seguintes termos:

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor


social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.

A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No entanto,


para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do novo inciso VII a
qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que seja conjugada com o § 1º.

Quadro-resumo:

Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da (o)(s): ...desde que o homicídio
• Forças Armadas; tenha sido praticado no
• Polícia Federal; exercício das funções ao
O homicídio • Polícia Rodoviária Federal; lado listadas ou em
será • Polícia Ferroviária Federal; decorrência dela.
QUALIFICADO • Polícias Civis;
se tiver sido • Polícias Militares;
cometido • Corpos de Bombeiros Militares;
contra... • Guardas Municipais*;
• Agentes de segurança viária*;
• Sistema Prisional
• Força Nacional de Segurança Pública.
2) cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3º grau de algumas das
pessoas acima listadas.

1.12.4. Ocorrência de duas ou mais qualificadoras

Qualquer das causas qualificadoras pode servir para qualificar o homicídio, mas apenas
uma delas. As demais causas qualificadoras devem ser valoradas no cálculo da pena, no entanto,
a doutrina diverge quanto ao momento em que tais circunstâncias devem ser valoradas.

1ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias agravantes (2ª fase), nos termos do art. 61
do CP;

Crítica: não se pode ‘enxertar’ circunstâncias agravantes na segunda fase, sabidamente


legal, conforme o art. 61 e 62, taxativos.

2ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias judiciais desfavoráveis (1ª Fase), nos
termos do art. 59 do CP.

45
1.13. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO

Seria possível a ocorrência de um homicídio ao mesmo tempo qualificado e privilegiado?

Privilegiadoras (§1º do art. 121) Qualificadoras (§2º do art. 121)


- Relevante valor social (subjetiva) - Motivo torpe (subjetiva)
- Relevante valor moral (subjetiva) - Motivo fútil (subjetiva)
- Emoção (subjetiva) - Meio cruel (objetiva)
- Modo surpresa (objetiva)
- Finalidade especial (subjetiva)
- Feminicídio (subjetiva)
- Agentes de segurança (subjetiva)

O homicídio pode ser qualificado e privilegiado, mas somente quando a qualificadora for
referente a circunstâncias objetivas (inciso III e IV).

Circunstâncias subjetivas: São aquelas ligadas ao motivo ou ao estado anímico do agente.

Circunstâncias objetivas: São aquelas ligadas ao meio ou modo de execução.

Ex.: Não pode um homicídio ser qualificado por motivo torpe e privilegiado pela violenta
emoção. Ocorre uma contradição.

O privilégio prevalece, pois é perguntado primeiro ao jurado. A partir do momento em que o


jurado reconhece o privilégio, resta prejudicado o conhecimento da qualificadora subjetiva.

STF Sumula 162 "É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os
quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes.

*O homicídio qualificado-privilegiado é hediondo?

1ª C (PREVALECE, inclusive STF e STJ)  NÃO é hediondo. Esta corrente faz uma
analogia “in bonam partem” com o art. 67 do CP, segundo o qual na concomitância de
circunstâncias atenuantes e agravantes prevalecem as de caráter subjetivo, pois dizem respeito
aos motivos determinantes do crime. Assim, como na figura híbrida do homicídio qualificado-
privilegiado as privilegiadoras são subjetivas em face das qualificadoras necessariamente
objetivas, afasta-se a hediondez. Ademais, há clara incompatibilidade entre a hediondez e o crime
cometido por motivos ‘nobres’.

CP Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve


aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes,
entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do
crime, da personalidade do agente e da reincidência.

2ª C  É hediondo, pois o fato de incidir uma mera causa de diminuição de pena


(privilegiadora) não altera a qualidade do delito, que continua sendo homicídio qualificado e,
portanto, hediondo.

1.14. HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121 §3º)

§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um (admite suspensão condicional do processo) a
três anos.
46
Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta negligência, imprudência ou
imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando o resultado
morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), jamais querido ou aceito.

a) Violação do dever de cuidado

 Negligência: Ausência de cautela.

 Imprudência: Afoiteza.

 Imperícia: Falta de aptidão técnica para o exercício de arte ofício ou profissão.

A culpa concorrente da vítima não exime o agente de responsabilidade. O direito penal


não admite compensação de culpas. Porém, a culpa concorrente da vítima pode atenuar a
condenação do agente, nos termos do art. 59 do CP (comportamento da vítima).

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta


social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime: ...

Já quando estamos diante de culpa exclusiva da vítima (ou autocolocação da vítima em


perigo), não há que se falar em responsabilização penal, porquanto há quebra do nexo causal.

b) Homicídio culposo no trânsito

CTB Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de dois (não admite suspensão condicional do processo)
a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.

Homicídio culposo na direção de veículo automotor se subsumi ao art. 302 do CTB


(detenção de 02 a 04) e não ao art. 121, §3º do CP (detenção de 01 a 03).

OBS: O CTB é aplicado sempre que o agente estiver na direção do veículo (dando direção ao
veículo), mesmo que o motor esteja desligado.

Apesar de crimes com mesmo desvalor de resultado (morte culposa), percebe-se que as
penas são distintas. Por conta disso, há quem defenda (doutrina minoritária) a
inconstitucionalidade do art. 302 do CTB, por violação à proporcionalidade.

Tal entendimento, no entanto, não prevalece, pois, ao analisar-se o desvalor da conduta,


percebe-se que o risco da conduta no trânsito, por ser maior, autoriza uma pena mais severa.

Homicídio Culposo 121§3º CP 302 CTB


Norma geral Norma especial (“na direção de veículo automotor”)
Pena 1 a 3 anos (infração de médio potencial Pena de 2 a 4 anos
ofensivo) Infração penal de grande potencial ofensivo.

47
É constitucional (proporcionalidade/razoabilidade, etc.)? Temos o mesmo desvalor do
resultado. O desvalor da conduta é diferente, justificando pena mais severa para negligência no
trânsito, geradora de maior perigo. É assim que a grande maioria defende a constitucionalidade do
art. 302 do CTB.

1.15. MAJORANTES DO HOMICÍDIO (ART. 121 § 4º)

1.15.1. Previsão legal

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um


terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze)
ou maior de 60 (sessenta) anos.

1.15.2. Majorantes do homicídio culposo

OBS: essas regras não se aplicam ao homicídio culposo de trânsito.

1) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um


terço), se o crime resulta de INOBSERVÂNCIA DE REGRA TÉCNICA DE
PROFISSÃO, ARTE OU OFÍCIO, ou se o agente deixa de prestar imediato
socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Essa majorante não se confunde com a imperícia?

1ªC: Sim. Há bis in idem.

2ªC: Não se confunde com imperícia, pois nesta FALTA aptidão técnica (o sujeito não
conhece a regra técnica). Aqui, o sujeito tem aptidão técnica (conhece a regra), mas não a
observa. Na realidade, o que ocorre aqui é uma negligência profissional. É aqui que poderia ser
incluído o erro médico.

Homicídio culposo e negligência profissional

1ª C: Ocorrência de Bis in idem (STF HC 95.078).

2ª C: Não ocorrência do bis in idem, pois inobservância de regra técnica não é a essência
do crime culposo (STJ HC 63.929, julgado em 13/03/2007, STF RHC 17.530/RS  Prevalecia).

Informativo 520 do STJ

48
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o legislador, ao estabelecer
a circunstância especial de aumento de pena prevista no referido dispositivo legal, pretendeu
reconhecer maior reprovabilidade à conduta do profissional que, embora tenha o necessário
conhecimento para o exercício de sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o
evento criminoso de forma culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua
profissão. De fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que
concluir que essa majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração,
incidisse em pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para
configurar a culpa e a outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.

2) Omissão de socorro

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um


terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente DEIXA DE PRESTAR IMEDIATO SOCORRO
À VÍTIMA, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Trata-se de um crime culposo majorado por uma omissão dolosa.

OBS1: não incide o art. 135 CP (para evitar o bis in idem).

OBS2: Não incide o aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por terceiros.

OBS3: As duas observações acima conflitam diretamente com a absurda redação do


parágrafo único do art. 304 do CTB. O delito de não prestar socorro à vítima já morta é de
consumação impossível.

CTB Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de


prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por
justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não
constituir elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do
veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se
trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

STF: Se o autor do crime, apesar de reunir condições de socorrer a vítima (ainda com vida)
não o faz, por concluir pela inutilidade da ajuda, ainda assim sofrerá o aumento de pena.

Por que no CTB haverá um NOVO CRIME (art. 304) quando a pessoa foge para evitar o
flagrante, por exemplo, se omitindo de prestar socorro? A doutrina critica isso, pois em
comparação com outros delitos mais graves e inclusive dolosos, não há esse tipo de tratamento,
pois ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo.

3) O agente não procura diminuir as consequências do seu ato

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um


terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,

49
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
NÃO PROCURA DIMINUIR AS CONSEQUÊNCIAS DO SEU ATO, ou foge
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Conformo Fragoso, essa causa configura uma redundância da omissão de socorro.

INFORMATIVO 554 STJ

O aumento imposto à pena decorre do total desinteresse pela sorte da vítima.


O fundamento da norma incriminadora do § 4º do art. 121 é resguardar o dever de solidariedade
humana que deve reger as relações na sociedade brasileira (art. 3º, I, da CF/88). O que pretende
a regra em destaque é realçar a importância da alteridade (preocupação com o outro).

Assim, o interesse pela integridade da vítima deve ser demonstrado, a despeito da


possibilidade de êxito, ou não, do socorro que possa vir a ser prestado. Dessa forma, o dever
imposto ao autor do homicídio de tentar socorrer a vítima persiste, a não ser que seja evidente a
morte instantânea, perceptível por qualquer pessoa. Em outras palavras, havendo dúvida
sobre a ocorrência do óbito imediato, compete ao autor da conduta imprimir os esforços
necessários para minimizar as consequências do fato. Ao agressor, não cabe, no momento do
fato, presumir as condições físicas da vítima, medindo a gravidade das lesões que causou e as
consequências de sua conduta. Tal responsabilidade é do especialista médico, autoridade
científica e legalmente habilitada para, em tais circunstâncias, estabelecer o momento e a causa
da morte.

4) O agente foge para evitar o flagrante

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um


terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, OU FOGE PARA
EVITAR PRISÃO EM FLAGRANTE. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Essa causa agrava a pena do agente que demonstra insensibilidade de espírito e moral,
ausência de escrúpulo, além de prejudicar as investigações.

No entanto, não há que se falar em agravante quando o agente foge do local como forma
de autodefesa, como no caso de correr o risco de ser linchado por populares (nesse caso, há
espécie de estado de necessidade).
50
Rogério Sanches e doutrina moderna: Essa majorante viola o princípio do “nemu tenetur se
detegere”. A doutrina moderna diz que essa causa de aumento obriga a produzir prova contra si
mesmo e sucumbir ao seu instinto natural de liberdade.

Rogério Greco: O sujeito que presta socorro à vítima não pode ser preso em flagrante,
numa aplicação analógica do art. 301 do CTB, que impede essa forma de prisão cautelar àquele
que presta socorro à vítima de trânsito.

CTB Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de


que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá
fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.

1.15.3. Majorante do homicídio doloso

Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço),


se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo DOLOSO o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) se o crime É PRATICADO CONTRA PESSOA MENOR DE 14
(QUATORZE) OU MAIOR DE 60 (SESSENTA) ANOS.

É imprescindível que o agente conheça a idade da vítima, sob pena de responsabilidade


penal objetiva. Se ele não conhece, estamos diante de erro de tipo que desconstitui a majorante.

A idade deve ser verificada no momento da prática do crime, ou seja, no momento da


conduta (art. 4º do CP). Teoria da atividade.

ATENÇÃO: Idade maior de 60. No dia que faz 60 anos não se aplica a majorante.

Obs.: se o crime é culposo, não se faz este aumento de pena.

1.15.4. Majorante do homicídio doloso praticado por grupo de extermínio

Art. 121, § 6º - a pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for


praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.

Cuida-se de causa especial de aumento de pena, incidente na terceira e última fase da


dosimetria da pena, aplicado exclusivamente ao homicídio doloso, simples ou qualificado. Embora
não exista disposição expressa nesse sentido, é evidente que o homicídio praticado por milícia
privada será considerado hediondo. Com efeito, não há como se imaginar uma execução desta
natureza sem a presença de alguma qualificadora, notadamente o motivo torpe ou o recurso que
dificulta ou impossibilita a defesa da vítima.

Por milícia privada entende-se o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive


com a participação de militares fora de suas funções - com a pretensa de restaurar a segurança
de locais controlados pela criminalidade, diante da inércia do Poder Público.

Por grupo de extermínio entende-se a reunião de pessoas, matadores, justiceiros (civis ou


não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança
generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas.
51
Em relação ao número de pessoas que devem integrar a milícia privado ou o grupo de
extermínio, duas correntes:

1ªC: o número de agentes deve coincidir com o número da associação criminosa, qual
seja: três ou mais pessoas.

2ªC: defende que deve ser o mesmo número que caracteriza a organização criminosa, ou
seja, no mínimo quatro pessoas.

1.15.5. Majorante do feminicídio

A Lei n. 13.104/2015 previu também três causas de aumento de pena exclusivas para o
feminicídio. Veja:

§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o


crime for praticado:
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta)
anos ou com deficiência;
III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima.

a) Inciso I – gestante ou pós-parto

A pena imposta ao feminicídio será aumentada se, no momento do crime, a vítima (mulher)
estava grávida ou havia apenas 3 meses que ela tinha tido filho (a).

A razão de ser dessa causa de aumento está no fato de que, durante a gravidez ou logo
após o parto, a mulher encontra-se em um estado físico e psicológico de maior fragilidade e
sensibilidade, revelando-se, assim, mais reprovável a conduta.

b) Inciso II – menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência

A pena imposta ao feminicídio será aumentada se, no momento do crime, a mulher (vítima)
tinha menos de 14 anos, era idosa ou deficiente.

A vítima, nesses três casos, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a
conduta do agente se revela com alto grau de covardia.

Como o tipo utiliza a expressão “com deficiência”, devemos entendê-la em sentido amplo,
de forma que incidirá a causa de aumento em qualquer das modalidades de deficiência (física,
auditiva, visual, mental ou múltipla).

O conceito de deficiência está previsto no Decreto n. 3.298/99, sendo definida como


“toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que
gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o
ser humano” (art. 3º, I). No art. 4º são conceituadas as diversas categorias de deficiência (física,
auditiva, visual, mental e múltipla).

c) Inciso III – na frente de ascendente ou descendente da vítima

A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença de


descendente ou de ascendente da vítima.

52
Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos
descendentes ou ascendentes da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves
transtornos psicológicos.

Importante esclarecer algo muito relevante: semanticamente, quando se fala que foi
praticado “na presença de alguém”, isso não significa, necessariamente, que a pessoa que
presenciou estava fisicamente no local. Assim, o tipo não exige a presença física do ascendente
ou descendente. Poderá haver esta causa de aumento mesmo que o ascendente ou descendente
não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em
que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe; ele terá
presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do homicídio.

Ascendente: é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por diante.

Descendente: é o filho (a), neto(a), bisneto(a) etc.

Atenção: não haverá a causa de aumento se o crime é praticado na presença


de colateral (ex: irmão, tio) ou na presença do cônjuge da vítima.

Dolo: para que incidam tais causas de aumento, o agente deve ter ciência das situações
expostas nos incisos, ou seja, ele precisa saber que a vítima estava grávida, que ela era menor
que 14 anos, que tinha deficiência etc.

d) Agravantes genéricas e bis in idem:

Algumas dessas causas de aumento especiais são também previstas como agravantes
genéricas no art. 61, II, do CP. No caso de feminicídio, o magistrado deverá aplicar apenas as
causas de aumento, não podendo fazer incidir as agravantes que tenham o mesmo fundamento
sob pena de incorrer em bis in idem.

Ex.: se o feminicídio é praticado contra mulher idosa, o agente responderá pelo art. 121, §
2º, VI com a causa de aumento do inciso II do § 7º; não haverá, contudo, a incidência da
agravante do at. 61, II, “h”.

1.16. PERDÃO JUDICIAL (ART. 121 §5º)

1.16.1. Previsão legal e conceito

Art. 121 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de


aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente
de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Perdão judicial é um instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e
ilícito, por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses
taxativamente previstas em lei, levando em consideração determinadas circunstâncias que
concorrem para o evento. O Estado perde o interesse de punir.

“Forma tão grave”: sequelas de ordem físicas ou morais. Exemplo: ficar tetraplégico e/ou
perder um filho.

Requisito do perdão: “se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma


tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.

53
OBS: Não é necessária qualquer relação entre agente e vítima. Exemplo: Homicídio
culposo onde o agente fica tetraplégico. É errado aquele falso dogma de que a vítima fatal deve
ser o filho da vítima ou coisa que o valha.

Presentes os requisitos legais o juiz DEVE perdoar. Hoje, prevalece o entendimento


segundo o qual o perdão judicial é um direito público subjetivo de liberdade do agente, e não
uma faculdade do magistrado.

Princípio da bagatela imprópria: lembrando – o crime é fato típico, ilícito e culpável,


sendo a punibilidade sua consequência. O princípio da bagatela própria exclui o fato típico, pois
há insignificância da lesão ou perigo de lesão. Já o princípio da bagatela imprópria extingue a
pena, ante sua desnecessidade.

PERDÃO JUDICIAL PERDÃO DO OFENDIDO


Unilateral (não há como recusar) Bilateral (preciso ser aceito)
Cabe nas hipóteses taxativamente previstas em Casos de ação penal privada.
lei.

1.16.2. Ônus da prova

O ônus da prova da ocorrência dos requisitos à concessão do perdão cabe ao agente, ou


seja, na falta de êxito na atividade probatória quem sofre as consequências pela ausência de
provas é o agente. Vale dizer, aqui não se aplica o in dubio pro reo, exatamente pelo fato de o
ônus da prova ser da defesa.

1.16.3. Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial

Em que pese a divergência doutrinária, prevalece o entendimento segundo o qual a


natureza jurídica da decisão concessiva do perdão judicial é de sentença declaratória de extinção
de punibilidade. Dessa forma, não se presta a marco interruptivo prescricional, tampouco gera
qualquer efeito penal ou extrapenal, típicos das sentenças condenatórias.

1ª C: Sentença condenatória (STF).

-Remanescem efeitos secundários. Deve pagar custas, nome no rol de culpados.

- Interrompe prescrição;

- Serve como título executivo judicial;

- Depende do devido processo legal;

2ª C: Sentença declaratória extintiva da punibilidade (STJ).

- Não interrompe a prescrição;

- Não serve como título executivo, ou seja, vai precisar de um processo de conhecimento.

- Cabe na fase de inquérito policial, pois o juiz pode reconhecer a extinção da punibilidade
a qualquer tempo.

54
Entretanto, como se trata de sentença que reconhece culpa, sempre pressupõe o devido
processo legal. Entendendo ser sentença declaratória extintiva da punibilidade, ainda que haja
perdão, o sujeito tem o direito de se defender em juízo.

Prevalece a 2ª corrente, nos termos da Súmula 18 do STJ:

STJ Súmula: 18 - A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da


extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

Rogério não concorda com a Súmula, com base no art. 120 do CP. Ver acima.

Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial (apesar de condenatória)


não será considerada para efeitos de reincidência.

Só pode-se enxergar utilidade neste artigo se a sentença for condenatória.

Cabe perdão judicial para homicídio culposo no CTB?

O art. 300 do CTB previa o perdão judicial, porém foi vetado pelo Presidente. Apesar disso,
é possível o perdão judicial, com fundamento nas razões do veto. Ao vetar, o presidente disse que
o artigo era desnecessário, pois já havia previsão no art. 121 do CP, e este era mais benéfico que
aquele, por ser mais abrangente.

OBS1: A sentença que concede o perdão judicial é conhecida como uma sentença
autofágica. O juiz condena e automaticamente extingue a punibilidade.

OBS2: somente em 03 casos do CP é possível o perdão judicial – homicídio culposo (121


§3º), lesão corporal culposa e na injúria (140§1º).

2. PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO

2.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para


que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão,
de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência.

2.2. CONCEITO DE SUICÍDIO

Eliminação voluntária e direta da própria vida. Também é chamado de autocídio ou


autoquiria.

2.3. OBJETO JURÍDICO

55
Genérico: Pessoa.

Específico: Vida humana, bem indisponível.

2.4. PUNIBILIDADE DO PARTÍCIPE

Teoria da acessoriedade limitada: Conforme a referida teoria (adotada pelo CP), para que
o partícipe seja punido, o fato principal deve ser típico e ilícito.

Indaga-se: Suicídio é fato típico e ilícito? Não. Por razões ligadas à impossibilidade de
punir o agente (entre elas o princípio da alteridade ou transcendência) e à política criminal, o
suicídio, apesar de constituir uma injusta agressão, não constitui crime.

Então como pode ser punível o partícipe nesse caso?

Porque os núcleos da participação são elementares do tipo. O art. 122 não está punindo
uma atividade acessória, mas sim uma atividade principal.

2.5. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. É crime comum.

PROVA: ‘A’ induz ‘B’ a auxiliar ‘C’ a se suicidar. ‘A’ é partícipe do art. 122. ‘B’ é o autor do
art. 122.

2.6. SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado, ou seja, qualquer pessoa
capaz de resistir à conduta do sujeito ativo. Se o agente induz um incapaz, se diz que a
incapacidade passará a ser um instrumento de que se vale o agente para realizar um homicídio,
logo, responde pelo art. 121 na forma de autor mediato.

A vítima deve ser determinada. Pessoas incertas e indeterminadas não configuram o


crime. Exemplo: Autor de livro que incita seus leitores a se suicidarem não é sujeito ativo do crime
em análise. O fato é atípico pela indeterminação da vítima.

OBS MP: para que haja este delito é preciso que a vítima tenha um RESQUÍCIO de
capacidade, pois se o agente ativo reduz a vítima a uma incapacidade completa, ele pratica
homicídio.

2.7. CRIME PLURINUCLEAR

Induzir: Fazer nascer a ideia mórbida  Participação moral.

Instigar: Reforçar ideia já existente  Participação moral.

Auxiliar: Assistência material  Participação material.

As modalidades induzir e instigar pressupõem obrigatoriamente uma conduta comissiva.


Entretanto, quanto à modalidade auxiliar, seria possível sua punição da modalidade omissiva, vale
dizer, existe auxílio ao suicídio por omissão? Duas correntes:
56
1ª C: Não, pois a expressão ‘prestar auxílio’ indica uma ação, jamais omissão (Frederico
Marques).

2ª C (PREVALECE): É perfeitamente possível, desde que o omitente tenha o dever


jurídico de agir (omissão penalmente relevante). Exemplo: Pai não impede suicídio do filho.
Corrente de Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Greco etc.

O auxílio deve ser sempre acessório, não podendo intervir diretamente nos atos
executórios, sob pena de transformar-se em homicídio.

OBS: O suicida arrependido que pede auxílio para aquele que o assessorou, se não
obtiver socorro, será vítima de homicídio, pois no momento em que auxilia o suicida, o agente do
crime se transforma em garante, motivo pelo qual sua omissão será penalmente relevante (CP,
art. 13, §2º, ‘c’).

CP Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido.
...
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
...
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.

OBS2: O suicídio é um fato atípico, porém configura uma agressão injusta. Tanto é assim que a
coação exercida sobre o suicida, com o fim de impedi-lo de se auto exterminar, configura hipótese
de legítima defesa de terceiro, nos termos do art. 146, §3º, II do CP.

CP Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou


depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
...
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
...
II - a coação exercida para impedir suicídio.

2.8. TIPO SUBJETIVO

Somente é punido a título de dolo, direto ou eventual.

OBS: O único crime contra a vítima punível na modalidade culposa é o homicídio.

Que crime comete quem deixa, negligentemente, veneno de rato perto de pessoa
suicida? Duas correntes:

1ª C: Homicídio culposo.

2ª C (PREVALECE): Fato atípico.

2.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

57
Três correntes explicam quando o crime se consuma:
Hungria, Aníbal Bruno (clássicos) Mirabete, Damásio, Nucci Bitencourt
(modernos) PREVALECE
Induzir, instigar e auxiliar Induzir, instigar e auxiliar configuram Induzir, instigar e auxiliar configuram
configuram a consumação do crime execução do crime. execução.
(crime formal).
A morte ou lesão configuram Resultado morte é consumação.
A punibilidade fica condicionada ao consumação (crime material).
resultado morte ou lesão grave Resultado Lesão grave configura
(condições objetivas de tentativa. É uma tentativa punida de
punibilidade). forma sui generis, que não precisa da
norma de extensão do art. 14, II.

Fundamento: preceito secundário do


art. 122.

Crítica à primeira corrente: Condição Crítica: Porém, a tentativa mencionada


objetiva de punibilidade não faz parte no preceito se refere ao suicídio (que
do dolo do agente, e a morte da vítima não é crime) e não ao induzimento.
no art. 122 faz parte do dolo do agente.
1ª: Agente induz e vítima morre  1ª: Crime consumado, punível de 02 a
art. 122 consumado e punível. 06.

2ª: Agente induz e vítima se lesiona 2ª: Crime consumado, punível de 01 a


gravemente  art. 122 consumado e 03.
punível.

3ª: Agente induz, mas vítima não se 3ª: Fato atípico.


mata nem se lesiona  Crime
consumado, porém impunível.
OBS: Não admite tentativa. OBS: Não admite tentativa.

2.10. MAJORANTES

Art. 122
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência.

Trata-se de majorante ou de qualificadora?

Causa de aumento de pena, a ser considerada pelo juiz na 3ª fase do cálculo da pena.

I - Motivo Egoístico

Para satisfazer interesses pessoais do agente. Exemplo: Induzir o irmão ao suicídio para
ficar com a totalidade da herança.

II - Vítima menor

58
Para ser considerada menor a vítima não pode ter atingido 18 anos. Discute-se qual a
idade mínima limite para que ainda seja considerado menor e não passe a ser considerado
incapaz. Nesse sentido, duas correntes:

1ª C: Nucci, Luiz Régis Prado. Uma primeira corrente faz analogia com o art. 217-A do CP,
considerando que o limite de idade do menor é 14 anos, ou seja, em tendo idade inferior a essa,
será considerado incapaz, e, portanto, aquele que induz será autor mediato de homicídio.
Fundamento: Se o menor de 14 anos não tem, presumidamente, discernimento para consentir
validamente para a conjunção carnal, também não terá discernimento para resistir ao induzimento
ao suicídio (será homicídio).

Crítica: Essa corrente faz uma analogia in malam partem.

2ª C: Mirabete, Nelson Hungria. Depende do caso concreto. Será menor enquanto tiver
capacidade de discernimento. Menor é todo aquele com idade inferior a 18 anos, que não tenha
suprimida, por completo, a sua capacidade de resistência, devendo o juiz analisar o caso
concreto.

Casuística

Vítima de 19 anos?

Presume-se a capacidade de discernimento (responde pelo art. 122, caput). Se não tiver
capacidade, por qualquer causa, responde o agente por homicídio.

Vítima de 17 anos?

Presume-se a capacidade de discernimento, mas por ter menos de 18, o agente responde
com a pena majorada.

Se for incapaz de resistir, responde o agente por homicídio.

Vítima de 13 anos?

1ª C: Presume a incapacidade (responde pelo art. 121).

2ª C: Depende do caso concreto. Se tiver capacidade, responde pelo art. 122 com pena
majorada. Se não tiver capacidade, responde pelo art. 121.

III - Vítima com diminuída capacidade de resistência

Refere-se à capacidade meramente diminuída, e não totalmente eliminada, caso no qual o


agente responderia pelo art. 121 como autor mediato. Exemplos: Enfermo, ébrio, senil, depressivo
etc.

2.11. “DUELO AMERICANO”

Tem um perdedor e um vencedor. Que crime pratica o vencedor?

Duas armas. Apenas uma municiada. Cada participante pega uma arma e atira contra a
própria cabeça.

O vencedor (sobrevivente) vai responder pelo art. 122 do CP, pois participou do suicídio do
adversário.
59
2.12. “ROLETA RUSSA”

Apenas uma arma. O tambor com apenas uma bala. O vencedor (sobrevivente) responde
pelo art. 122.

2.13. “PACTO DE MORTE (AMBICÍDIO) ”

Duas pessoas pactuam as próprias mortes (namorado e namorada se trancam num carro e
ele liga uma mangueira com gás).

1ª hipótese: Namorado sobrevive, namorada morre. Homicídio cometido pelo namorado.

2ª hipótese: Namorado morre, namorada sobrevive. Participação em suicídio cometido por


ela.

3ª hipótese: Ambos sobrevivem.

ELE: Responde por homicídio tentado. Executou o crime que só não se consumou por
circunstâncias alheias a sua vontade.

ELA: Depende. Se o namorado sofreu lesão grave, responde pelo art. 122. Se o namorado
sofreu lesão leve ou sequer lesão sofre, trata-se de fato atípico (seguindo a corrente de que não
existe tentativa de participação em suicídio).

3. INFANTICÍDIO

3.1. PREVISÃO LEGAL E CONCEITO

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,


durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Nada mais é que um homicídio privilegiado, praticado pela mãe contra o próprio filho,
nascente ou neonato, durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal (critério
fisiopsíquico).

3.2. “SOB A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL”

Desde já, é bom fazermos uma distinção:

Puerpério: É o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às


condições pré-gravidez.

Estado puerperal: É o estado que envolve a parturiente durante e logo após e expulsão
da criança do ventre materno. Provoca profundas alterações físicas e psíquicas, que chegam a
transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo.

Como veremos a seguir, para que se trate de infanticídio e não de homicídio, não basta
que a agente esteja no período de puerpério (se bastasse, estaríamos diante de um critério
60
meramente biológico), tampouco é suficiente que esteja em estado puerperal. É imprescindível
que sua conduta tenha sido influenciada por esse estado. Diz-se, por isso, que o Brasil adotou o
critério fisiopsíquico ou biopsíquico na definição do delito de infanticídio.

Essa parturiente pode ser tratada como semi-imputável ou inimputável?

Nucci chega a dizer que é uma hipótese de semi-imputabilidade tratada de forma especial.

Prevalece que, dependendo do grau de desequilíbrio fisiopsíquico ela pode ser tratada
como semi-imputável (CP, art. 26, parágrafo único) ou até mesmo inimputável (CP, art. 26, caput).

3.3. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

Manifesta-se no tipo penal do infanticídio o princípio da especialidade, através de três


elementos especializantes:

a) Sujeitos ativo e passivo específicos: mãe e filho.

b) Condição de tempo: Durante ou logo após o parto.

c) Condição fisiopsíquica: Influência do estado puerperal.

Ou seja, existindo esses três elementos, o crime deixa de ser homicídio e passa a ser
infanticídio. Ausente qualquer deles, o sujeito ativo responde pelo art. 121 do CP.

É crime doloso contra a vida, logo é julgado pelo Tribunal do Júri. Não é crime hediondo,
tampouco equiparado, pois não consta do rol taxativo da Lei 8.072/90.

3.4. SUJEITO ATIVO

É a parturiente sob influência do estado puerperal. É um crime próprio.

Concurso de pessoas

Duas correntes discutem a possibilidade de concurso de pessoas no delito em análise:

1ª C: Não se admite concurso de pessoas, pois o estado puerperal é condição


personalíssima incomunicável (Aníbal Bruno). Nelson Hungria foi o criador dessa corrente, mas
mudou o entendimento.

2ª C (PREVALECE): Admite concurso de pessoas, pois nos termos do art. 30 do CP não


existe condição personalíssima, mas sim condição pessoal, comunicável quando elementar, como
é o caso do estado puerperal.

Em se admitindo a existência de concurso, três situações podem ocorrer (sempre


considerando que a parturiente está agindo sob influência do estado puerperal e que o terceiro
tem conhecimento disso):

a) Parturiente e médico executam o verbo matar.

ELA: Infanticídio.

ELE: Coautor do infanticídio.

61
b) Parturiente, auxiliada pelo médico, executa o verbo matar.

ELA: Infanticídio.

ELE: Infanticídio, na condição de partícipe.

c) Médico, auxiliado pela parturiente, executa o verbo matar.

Tecnicamente, ambos deveriam responder por homicídio, visto que a parturiente instiga o
médico a realizar a conduta prevista no art. 121, caput do CP.

No entanto, tal conclusão levaria a uma desproporcionalidade, porquanto a mãe ao instigar


teria uma pena mais grave do que se tivesse executado o delito.

Para fugir dessa incongruência, duas correntes apresentam soluções:

1ª C (PREVALECE): Ambos respondem por infanticídio, com base na Teoria Monista


(Nucci, Rogério Greco).

2ª C: Ela responde pelo art. 123; ele responde pelo art. 121, numa exceção pluralista à
teoria monista (Flávio Monteiro de Barros). Essa corrente leva em conta a justiça.

3.5. SUJEITO PASSIVO

Filho nascente (está nascendo) ou neonato (acabou de nascer).

Sujeito passivo também é próprio. Por isso, fala-se que o infanticídio é um crime
bipróprio.

OBS: Mesmo nascente ou neonato inviável é sujeito passivo (e objeto material) do delito de
infanticídio.

Infanticídio X Aberratio ictus/Aberratio in persona

O que ocorre se a mãe, sob influência do estado puerperal, mata por engano outra criança
recém-nascida no lugar de seu filho?

Art. 20, §3º do CP. Responde levando em conta as características da vítima virtual. É o
chamado infanticídio putativo.

E se a vítima virtual já estivesse morta? Continua sendo infanticídio. O crime sempre é


real, simplesmente consideram-se as qualidades da vítima virtual. Apenas hipoteticamente são
trocadas as qualidades.

3.6. CONDUTA

Matar: Crime de execução livre: ação ou omissão; meios diretos ou indiretos.

A forma omissiva será a imprópria, quando a mãe, na condição de garante e sob influência
do estado puerperal, deixa de realizar ações necessárias à sobrevivência do filho.

3.7. LIMITE TEMPORAL

62
Prevê o art. 123 que a conduta deve ser realizada durante ou logo após o parto. Ou seja,
antes desse interregno, tratar-se-á de aborto; após, tratar-se-á de homicídio.

Quanto tempo dura o “logo após”?

A jurisprudência diz que haverá “logo após” enquanto perdurar o estado puerperal.

3.8. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido exclusivamente a título de dolo (direto ou eventual), não admitindo a


modalidade culposa.

OBS: é preciso, também, que haja uma relação de causa e efeito entre o estado puerperal
e o crime, pois nem sempre ele produz perturbações psíquicas na parturiente.

Que crime pratica a mãe (sob estado puerperal) que culposamente mata o filho?

Duas correntes:

1ª C: O fato é atípico, pois se mostra inviável, na hipótese, atestar a ausência de prudência


normal em mulher desequilibrada psiquicamente (Damásio e minoria).

2ª C: O estado puerperal não elimina a capacidade de diligência normal e esperada do ser


humano, configurando homicídio culposo. O estado puerperal é uma circunstância de pena e
não excludente de crime (Hungria, Bitencourt, Noronha e MAIORIA).

3.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma com a morte do nascente ou neonato (cessação da atividade


encefálica). É um crime material.

Admite-se a tentativa.

É crime plurissubsistente (de execução fracionada).

3.9.1. Infanticídio (art. 123) X Abandono de recém-nascido com resultado morte (art. 134,
§2º)

Art. 123 Art. 134, §2º


Crime contra a vida Crime de perigo contra a vida
Dolo de dano (“quer matar”) Dolo de perigo (“quer expor a vida a risco”)
Morte dolosa Morte culposa
Júri Juiz Comum

4. ABORTO

4.1. CONCEITO

Aborto ou abortamento? Tecnicamente o termo correto seria abortamento, que é a ação


criminosa. Aborto é o resultado.
63
É a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção (óvulo fecundado,
embrião ou feto), haja ou não expulsão deste.

A partir de que momento a vida intrauterina é protegida pelo Direito Penal?

A partir da fecundação (encontro dos gametas) ou somente com a nidação (fixação do


óvulo fecundado no útero)?

Essa discussão é válida porque há meios que impedem a fecundação. Exemplo: DIU,
pílula do dia seguinte.

Para o Direito Penal, a vida intrauterina só tem relevância a partir da nidação. Se fosse a
partir da fecundação, a pílula do dia seguinte seria considerada instrumento abortivo.

Que infração penal pratica quem anuncia meios abortivos?

Art. 20 da LCP.

Art. 20. Anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar


aborto
Infração de menor potencial ofensivo.

Até que momento a vida intrauterina é protegida pelo tipo penal do aborto?

Até o início do parto, que é momento a partir do qual a vida passa a ser extrauterina.

4.2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE ABORTO E PREVISÃO LEGAL

Aborto natural: Interrupção espontânea da gravidez. INDIFERENTE PENAL.

Aborto acidental: Decorrente de quedas, traumatismos e acidentes em geral. FATO


ATÍPICO.

Aborto criminoso: Art. 124 a 127 do CP.

Aborto legal (ou permitido): Art. 128 do CP.

Aborto miserável (ou econômico-social): Praticado por razões de miséria. Insuficiência


financeira para sustentar a vida futura. NO BRASIL É CRIME.

Aborto “honoris causa”: Praticado para interromper gravidez adulterina. NO BRASIL É


CRIME.

Abortamento eugênico (ou eugenésico): Praticado em face dos comprovados riscos de


que o feto nasça com graves anomalias psíquicas ou físicas (ex.: anencefalia).

4.3. ESPÉCIES DE ABORTO CRIMINOSO

4.3.1. Auto-aborto (art. 124, 1ª parte)

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe


provoque:

64
4.3.2. Consentimento para o aborto (art. 124, 2ª parte)

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe


provoque:

4.3.3. Aborto sem consentimento (art. 125)

Art. 125 - Provocar aborto, SEM o consentimento da gestante:

Provocar aborto sem o consentimento da gestante. É a única espécie em que a gestante é o


sujeito passivo.

4.3.4. Aborto consensual (art. 126)

Art. 126 - Provocar aborto COM o consentimento da gestante:

Veja que há dois agentes concorrendo para o mesmo fato, cada um respondendo por um
tipo diferente: exceção pluralista à teoria monista.

4.4. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido somente a título de dolo (direto ou eventual).

Exemplo de dolo eventual: Gestante suicida que não consegue eliminar a própria vida, mas
consuma o abortamento. Rogério Greco defende que se nem mesmo o aborto é consumado, deve
a agente responder pela tentativa deste.

OBS: Se a vontade da gestante (ou do provocador) não é interromper a gravidez, mas


acelerar o parto, não se trata de aborto, se o feto vier a morrer, exatamente pela falta de dolo.

4.5. SUJEITO ATIVO

No auto-aborto e no consentimento para o aborto, trata-se de crime de mão própria,


sendo apenas gestante o sujeito ativo de delito (não se admite coautoria).

Nas demais espécies de aborto criminoso temos crimes comuns, podendo qualquer
pessoa ser sujeito ativo.

4.6. SUJEITO PASSIVO

1ª C: Sujeito passivo é o produto da concepção, além da gestante no caso de aborto


provocado sem seu consentimento. PREVALECE.

2ª C: Não sendo o feto titular de direitos, salvo aqueles expressamente previstos na lei
civil, o sujeito passivo é apenas o Estado. No caso de aborto praticado contra a gestante sem seu
consentimento, também ela figurará como sujeito passivo do delito.

Para a primeira corrente, em caso de aborto de gêmeos, seriam dois crimes em concurso
formal. Para a segunda corrente seria um único crime.

65
Adotando a primeira corrente: Se o médico não sabe que a mulher é grávida de gêmeos,
trata-se de erro de tipo. Logo responderá somente por um crime.

4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma com a morte do produto da concepção (crime material), pouco


importando se há ou não a sua expulsão, bem como se a morte ocorre dentro ou fora do ventre
materno.

OBS: O CP NÃO EXIGE que o feto seja viável para que reste configurado o crime de aborto.

Tratando-se de delito plurissubsistente, admite tentativa.

Exemplo: Médico ministra medicamento abortivo na gestante. Antes de o medicamento


fazer efeito a mulher é atropelada e morre. O atropelamento é uma concausa, absolutamente
independente, que produz o resultado. Responde o médico por tentativa de aborto.

Que crime ocorre se a gestante toma remédio abortivo, expele o feto – ainda vivo – e
vem a matá-lo com uma facada? Como a morte decorreu da facada desferida contra uma vida
EXTRA-UTERINA, não se trata de aborto, mas sim de homicídio ou infanticídio (dependendo se
com influência ou não do estado puerperal).

4.8. MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA

Os crimes de aborto são comissivos, entretanto, nos casos do art. 13, §2º (omissão
penalmente relevante dos garantidores), pode ocorrer na forma omissiva (Rogério Greco).

Exemplo: Gestante sofre grave sangramento e não toma nenhuma atitude, de forma que o
feto vem a morrer. Como ela era garante, deverá responder pelo aborto.

4.9. AUTOABORTO e CONSENTIMENTO PARA O ABORTO

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe


provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Não é crime comum, pois exige condição especial do sujeito ativo. No entanto, trata-se de
crime próprio ou de mão própria?

CRIME COMUM Não exige condição especial do Admite coautoria e participação.


agente.
CRIME PRÓPRIO Exige condição especial do agente. Admite coautoria e participação.

CRIME DE MÃO PRÓPRIA Exige condição especial do agente. Só admite participação.

1ª C: Trata-se de crime próprio, admitindo coautoria (porém o executor responde pelo art.
126 do CP - exceção pluralista à teoria monista). Luiz Régis Prado.

66
2ª C: Trata-se de crime de mão própria, não admitindo coautoria (a gestante responde
pelo art. 124 e o terceiro provocador pelo art. 126, cada um na condição de autor). Bitencourt.

Condutas

Auto-aborto

Consentimento para que outrem provoque o aborto.

OBS: Nesse caso do consentimento, o terceiro provocador responde pelo art. 126 do CP
(aborto consensual), numa exceção pluralista à teoria monista.

Como já vimos, prevalece que o crime do art. 124 é de mão própria, logo não se admite
coautoria.

Admite-se, no entanto, participação em sentido estrito, bastando para tanto que alguém
induza, instigue ou auxilie a gestante a praticar o crime.

Ocorre autoria mediata quando o auto-aborto é praticado sob coação moral


irresistível?

Não. Nesse caso o coator responde pelo crime específico do parágrafo único do art. 126
(aborto provocado por terceiro sem consentimento).

Gestante que realiza as condutas do tipo sem estar grávida  Crime impossível (crime
oco).

4.10. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM CONSENTIMENTO/ABORTO


CONSENSUAL

4.10.1. Aborto SEM consentimento

a) Previsão legal

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de três a dez anos.

É a forma mais grave de aborto. A única inafiançável.

Trata-se de um crime de dupla subjetividade passiva, pois além do produto da concepção,


também é sujeito passivo a gestante.

b) Formas de dissenso

O dissenso (não consentimento) pode ser:

a) Real, quando a gestante efetivamente não consente com o aborto;

67
b) Presumido, quando a lei desconsidera o consentimento da gestante, seja em face da
sua condição pessoal, seja em razão do meio empregado para obtê-lo, nos termos do
art. 126, parágrafo único do CP.

Art. 126, Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante


não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

OBS: Na hipótese do dissenso presumido, o provocador deve saber das circunstâncias da vítima
(exemplo: deve saber que a vítima era menor de 14 anos). Se não souber, responde pelo art. 126,
para não se incorrer em responsabilidade penal objetiva.

c) Tipo subjetivo

O crime é punido a título de dolo (direto ou eventual).

Quem desfere violento pontapé no ventre de mulher sabidamente grávida pratica crime de
aborto do art. 125 do CP, a título de dolo eventual.

Se não ficar configurado o dolo (direito ou eventual), responderá o agente pela lesão
corporal qualificada pelo aborto (crime preterdoloso).

Que crime pratica pessoa que mata mulher sabidamente grávida?

Concurso formal (impróprio) de crimes: homicídio e aborto.

4.10.2. Aborto COM consentimento

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de um a quatro anos.

a) Conduta

Interromper a gravidez COM O CONSENTIMENTO VÁLIDO da gestante. Se for inválido,


tratar-se-á de dissenso presumido (parágrafo único), respondendo o provocador do aborto pelo
art. 125.

Art. 126
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é
maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

Assim, o consentimento dado por menor de 14 anos é inválido, respondendo o autor pela
pena de aborto provocado sem consentimento.

Se o consentimento for dado por maior de 14 anos, é válido, devendo a gestante


responder pelo ato infracional correspondente ao crime de auto-aborto, enquanto o provocador
responderá por aborto consensual.

68
O consentimento dado por semi-imputável (em razão de anomalia psíquica) é válido. Na
hora da sentença, poderá ser substituída por medida de segurança. O abortador responde por
aborto consensual.

Se o consentimento for dado sob fraude com capacidade plena de iludir: é inválido, ou
seja, para ela o fato é atípico.

Se o consentimento for dado sob fraude sem capacidade plena de iludir: é válido.

Se o consentimento for dado sob coação irresistível: é inválido.

Se o consentimento for dado sob coação resistível: é válido.

4.11. CASUÍSTICA

a) Gestante consente com o aborto. Depois se arrepende. Se o terceiro provocador


continuar com o procedimento responde pelo art. 125 (aborto provocado sem
consentimento).

b) Namorado convence a namorada a praticar aborto.

 ELA: Autora do art. 124.

 ELE: Partícipe do art. 124 (partícipe - instigador).

c) Namorado transporta a namorada até clínica de aborto.

 ELA: Autora do art. 124 (consentimento para o aborto).

 ELE: Partícipe do art. 124 (partícipe - auxílio material).

d) Namorado paga o terceiro provocador para realizar aborto consentido pela namorada.

 ELA: Autora do art. 124.

 MÉDICO: Autor do art. 126.

 NAMORADO: Partícipe do art. 126, pois pagou para o médico realizar.

TIPO Art. 125 - Provocar aborto, sem o Art. 126 - Provocar aborto com o
consentimento da gestante: consentimento da gestante:
PENA Pena - reclusão, de três a dez Pena - reclusão, de um a quatro
anos. anos.
Inafiançável. Infração de médio potencial ofensivo
– admite suspensão condicional do
processo.
SUJEITOS SA: Crime comum. SA: Crime comum.
SP: Gestante e Feto SP: Feto

Obs.: a gestante que consentiu


pratica o 124.
CONDUTA Provocar aborto. Provocar aborto.
*E se a gestante se arrepende no
meio do processo e o terceiro

69
provocador não para? Ele vai
responder pelo 125.
TIPO SUBJETVO Dolo direto/eventual. Dolo direto/eventual.

*Agente chuta a barriga da


gestante, sabendo estar grávida:
lesões corporais da mulher + aborto
a título de dolo eventual (concurso
formal).
CONSUMAÇÃO Crime material: morte do feto. Crime material: morte do feto.
Admite tentativa. Admite tentativa.
DISSENSO PRESUMIDO X Art. 126
Parágrafo único. Aplica-se a pena do
artigo anterior (aborto sem
consentimento, art. 125), se a
gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou débil mental,
ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou
violência

Trata-se do dissenso presumido.


Requisitos:
-Agente provocador deve conhecer a
condição de menor de 14 anos da
agente ou de débil mental/alienada.
-O agente provocador deve saber
que o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou
violência.

4.12. “FORMA QUALIFICADA”

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas
de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Apesar de falar em aborto qualificado, tratam-se, na realidade, de majorantes. Aplicam-se


somente ao aborto consensual e ao aborto provocado por terceiro. São elas:

a) Gestante sofre lesão grave

b) Gestante morre

Por que as causas só se aplicam ao art. 125 (terceiro sem consentimento) e 126 (terceiro
com consentimento)? Porque o direito penal não pune autolesão (princípio da alteridade).

O namorado partícipe do auto-aborto (instigador) não é abrangido pela majorantes?


Não. Se não se aplica para o autor do delito (gestante), também não se aplica ao partícipe (o
acessório segue o principal).

70
Os resultados lesão grave e morte são culposos, ou seja, estamos diante de crimes
preterdolosos (ou preterintencionais). O dolo é dirigido ao aborto e não à lesão corporal e morte. É
o único crime contra a vida preterdoloso.

Se o agente desejava a produção do resultado morte (ou lesão grave), além do resultado
aborto, deverá responder por ambos os crimes em concurso formal impróprio (desígnios
autônomos).

Para incidir a majorante é imprescindível a consumação do aborto? Não. Pode ser


que as causas majorantes não decorram do aborto, mas dos meios utilizados para provocá-lo,
conforme prevê expressamente o caput do art. 127.

Surge então a dúvida:

Que crime pratica o médico que, durante as manobras abortivas, causa lesão grave
na gestante sem conseguir realizar o abortamento?

1ª C: Responde por aborto majorado consumado, pois se trata de figura preterdolosa não
admitindo tentativa. Exatamente o mesmo raciocínio que o STF esposou na súmula 610 em
relação ao latrocínio. Fernando Capez.

STF Súmula 610 - há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma,


ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.

2ª C: Responde por tentativa de aborto com pena majorada (tentativa de aborto


qualificado?). Apesar de preterdolosa, a infração admite tentativa quando a parte frustrada for
dolosa. Como vimos antes (ver crimes preterdolosos), não se admite a tentativa na parte
CULPOSA do crime, entretanto, na parte DOLOSA é perfeitamente possível (Rogério Greco).
PREVALECE.

4.13. ABORTO PERMITIDO OU LEGAL - Tipo permissivo

4.13.1. Previsão legal

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:


Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Qual a natureza jurídica dessas autorizações legais? Prevalece que é uma


descriminante especial, causa especial de exclusão da ilicitude.

Inciso I - Aborto necessário: A doutrina quase unânime entende ser uma causa especial de
estado de necessidade. Paulo José da Cosa Jr. chega a considerar um dispositivo desnecessário,
em virtude da regra geral prevista no art. 24 do CP (estado de necessidade). LFG concorda em
ser uma descriminante.

Inciso II - Aborto sentimental: A doutrina diverge.

71
1ª C: Causa de exclusão de ilicitude, por estado de necessidade, onde se preserva a honra
da mulher em detrimento da vida fetal.

2ª C: Como a honra é menos valiosa que a vida, estamos diante de um estado de


necessidade exculpante (teoria diferenciadora) ou diante de inexigibilidade de conduta
diversa, em ambos os casos excluindo a culpabilidade do agente.

3ª C: Exercício regular de direito.

4ª C: Estado de necessidade, onde se sacrifica uma vida em defesa da dignidade da pessoa


da gestante. Essa corrente leva em conta a importância do princípio da dignidade da pessoa
humana, um dos fundamentos da República e vetor de todos os direitos fundamentais.

5ªC: LFG diz ser excludente de tipicidade (ele adota a teoria da tipicidade conglobante).

4.13.2. Aborto necessário (terapêutico)

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:


Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Requisitos do aborto necessário

a) Praticado por médico

b) Para salvar vítima da gestante

c) Inevitabilidade do meio (único meio de salvar a vida – dispensa consentimento da


gestante).

E se for praticado por enfermeiro?

Não se aplica o art. 128, mas também não responde pelo crime, porquanto agiu em estado
de necessidade de terceiro.

OBS1: Dispensa consentimento da gestante.

OBS2: Dispensa autorização judicial.

4.13.3. Aborto sentimental (humanitário ou ético)

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:


Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Requisitos do aborto sentimental

a) Praticado por médico

72
b) Gravidez resultante de estupro (art. 213, contemplando atos libidinosos diversos da
conjunção carnal)

ANTES 12.015/2009 DEPOIS 12.015/2009


Abrangia, graças a analogia in Abrange expressamente, não
bonam partem. precisa sequer de analogia.

c) Consentimento da gestante ou representante legal

E se for praticado por enfermeiro? Não lhe é aplicado o art. 128. O enfermeiro pratica crime
de aborto.

OBS1: Dispensa autorização judicial.

OBS2: Dispensa condenação do estuprador.

E se o médico é enganado pela suposta vítima de estupro? Trata-se de erro de tipo


permissivo. Art. 20, §1º. O fato é atípico, mesmo que se trate de erro vencível, pois o aborto não
admite a forma culposa.

4.14. ABORTAMENTO DE FETO ANENCEFÁLICO

Anencéfalo: Embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação congênita, não possui
uma parte do sistema nervoso central, ou melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma
parcela do tronco encefálico.

O abortamento de feto anencefálico é crime?

O que diz a LEI?

- Para o CP é crime (não está autorizado pelo art. 128 do CP).

- A exposição de motivos do CP anuncia ser crime.

O que diz a DOUTRINA?

- Hipótese de exclusão da culpabilidade (inexigibilidade de conduta diversa).

OBS: Cezar Roberto Bitencourt diz que é dirimente exclusiva da gestante (do médico não).

- Feto anencefálico não tem vida intrauterina (não morre juridicamente). A doutrina liga o
começo da vida ao funcionamento da atividade encefálica, seguindo o parâmetro fixado pela Lei
de Transplantes, que fixa o momento da morte como aquele onde a atividade cerebral é cessada.

- Princípio da intervenção mínima: subsidiariedade e fragmentariedade. O abortamento diz


respeito à saúde e direito da mulher (e não da coletividade ou do próprio estado).

-Não poderíamos falar em tipicidade conglobante?

O que diz a JURISPRUDÊNCIA?

STF  ADPF 54.

73
A interrupção da gravidez de feto anencefálico não pode, portanto, ser classificada como
“aborto eugênico”, “eugenésico” ou mesmo “antecipação eugênica da gestação”. Segundo o Min.
Relator, a interrupção da gestação de feto anencéfalo não poderia ser considerado aborto
eugênico, compreendido no sentido negativo em referência a práticas nazistas. Descreveu que
anencéfalo não teria vida em potencial, de sorte que não se poderia cogitar de aborto eugênico, o
qual pressuporia a vida extrauterina de seres que discrepassem de padrões imoralmente eleitos.
Discorreu que não se trataria de feto ou criança com deficiência grave que permitisse sobrevida
fora do útero, mas tão somente de anencefalia. Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia
incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a deficiência, não.

Não há conflito entre o direito à vida dos anencéfalos e o direito da mulher à dignidade.
Isso porque, segundo o Min. Relator, direito à vida de anencéfalo seria um termo antitético
considerando que o anencéfalo, por ser absolutamente inviável, não seria titular do direito à vida.
Assim, o alegado conflito entre direitos fundamentais seria apenas aparente. Assentou que o feto
anencéfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de células e tecidos vivos, seria
juridicamente morto, de maneira que não deteria proteção jurídica, principalmente a jurídico-penal.
Corroborou esse entendimento ao inferir o conceito jurídico de morte cerebral da Lei 9.434/97, de
modo que seria impróprio falar em direito à vida intra ou extrauterina do anencéfalo, natimorto
cerebral. Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a
vida, porquanto se revelaria conduta atípica.

DA LESÃO CORPORAL

1. LESÃO CORPORAL

1.1. PREVISÃO LEGAL/TOPOGRAFIA

Art. 129 do CP.

Art. 129, caput - Lesão dolosa leve;


Art. 129, §1º - Lesão dolosa grave (conta com figuras preterdolosas);
Art. 129, §2º - Lesão dolosa gravíssima (conta com figuras preterdolosas);
Art. 129, §3º - Lesão seguida de morte (crime preterdoloso genuíno)  homicídio preterdoloso;
Art. 129, §§4º e 5º - Privilégios;
Art. 129, §6º - Lesão culposa;
Art. 129, §7º - Majorantes;
Art. 129, §8º - Perdão judicial;
Art. 129, §§ 9º, 10 e 11 - Violência doméstica e familiar.
Art. 129, § 12 – Contra agente de segurança
74
Lesão corporal (lesão dolosa leve)
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano. (IMPO)
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta: (lesão dolosa grave, conta com figuras preterdolosas)
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos. (Cabe suspensão condicional do
processo, mas não é IMPO)
§ 2° Se resulta: (lesão dolosa gravíssima, conta com figuras preterdolosas)
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis
o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: (homicídio preterdoloso)
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço. (Lesão privilegiada)
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões (só cabe no caput), pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
contos de réis: (lesão privilegiada)
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano. (Cabe suspensão condicional do
processo, é IMPO)
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das
hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias
são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um
terço).
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço
se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.

75
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é
aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Incolumidade pessoal do indivíduo.

Protege a integridade física, bem como a saúde fisiológica (correto funcionamento do


organismo) e a saúde mental do indivíduo.

Essa objetividade jurídica é prevista expressamente na exposição de motivos do CP.

Também nesse sentido, o art. 5º da CADH, in verbis:

1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica
e moral.

1.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Trata-se de um Crime comum.

E se for policial militar? Responde por abuso de autoridade em concurso com lesão
corporal. Quem julga esse sujeito?

O abuso é crime comum. A lesão é crime militar (impróprio). Ocorrerá a cisão do processo.
Abuso na Justiça Comum e a lesão corporal na JM.

Nesse sentido, a Súmula 172 do STJ.

STJ Súmula: 172 compete a justiça comum processar e julgar militar por
crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.

Motivo? O simples fato de o abuso de autoridade não ter previsão na lei militar.

1.4. SUJEITO PASSIVO

O tipo penal fala em ‘outrem’.

O que se entende por outrem? Qualquer ser humano vivo. Em regra, o sujeito passivo é
comum.

Exceções: Em quatro situações o sujeito passivo será próprio:

a) Art. 129, §1º, IV (aceleração de parto): Sujeito passivo  GESTANTE.

b) Art. 129, §2º, V (aborto): Sujeito passivo  GESTANTE.

76
c) Art. 129, §9º (violência doméstica e familiar): Sujeito passivo  Familiares ou pessoas
com quem o agente mantenha ou tenha mantido relação doméstica, de coabitação ou
de hospitalidade.

d) Art. 129, §12 (agente de segurança): Sujeito passivo  autoridade ou agente descrito
nos arts. 142 e 144 da CF, no exercício das funções, bem como seus familiares.

Discute-se a partir de que momento o ser humano poderia ser sujeito passivo da lesão
corporal, ou seja, se desde sua vida intrauterina ou se somente a partir do parto.

1ªC: Luiz Régis Prado e Mirabete: Somente a partir do parto a pessoa pode ser vítima de
lesões corporais.

2ª C: Rogério Greco: O produto da concepção, a partir da nidação, também é sujeito


passivo do crime.

Quem crime comete quem induz um doente mental a se autolesionar?

Crime de lesão corporal, na condição de autor mediato.

Se a vítima fratura o braço em função de se esquivar de um soco, o autor do golpe


responde por algum crime?

Sim, pelo crime de lesão corporal. A queda é uma concausa relativamente independente,
superveniente, que não, por si só, produziu o resultado. Conclusão: O agressor responde pela
fratura do braço (CP, art. 13, §1º, a “contrario sensu”).

Desvio + fratura (Causa efetiva


superveniente previsível )

SOCO
(CAUSA)

Ver teoria do fato típico/nexo causal/concausas.

1.5. TIPO OBJETIVO

O núcleo do tipo (conduta) é ofender a integridade física ou a saúde (fisiológica ou mental)


de outrem.

Trata-se de delito de execução livre, podendo ser praticado por ação ou omissão
(imprópria), por meio de violência física (ex.: soco) ou moral (ex.: susto).

Configura-se o crime não só com a criação pelo agente de ofensa à incolumidade da


vítima, mas também com o agravamento de uma enfermidade já existente.

A dor, bem como o sangramento, são consequências dispensáveis para a consumação do


delito, podendo ser consideradas pelo juiz na fixação da pena.

A pluralidade de ferimentos, no mesmo contexto fático, não desnatura a unidade do


crime, podendo ser considerada na fixação da pena-base.

Corte de cabelo ou de barba não consentido é crime?

77
1ªC: Pode configurar lesão corporal, mas é indispensável que a ação provoque uma
alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo.

2ªC: Pode configurar injúria real.

3ªC: pode configurar qualquer um dos dois crimes, dependendo do dolo do agente.

4ª C: Configura vias de fato.

A integridade física é um bem disponível ou indisponível ou, em outras palavras, o


consentimento do ofendido afasta a ilicitude da lesão corporal?

Para a doutrina moderna, a integridade física é um bem relativamente disponível (por


todos: Bitencourt).

O consentimento do ofendido (justificante supralegal) exclui o crime, desde que:

a) A lesão seja de natureza leve;

b) A lesão não contrarie a moral e os bons costumes.

O legislador concordou com a doutrina moderna, haja vista o art. 88 da Lei 9.099/95, que
prevê a necessidade de representação na ação penal do crime de lesão corporal leve.

Nesse sentido, vale mencionar o art. 13 do Código Civil, presente no capítulo referente aos
direitos da personalidade, que assim dispõe:

CC Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do


próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física,
ou contrariar os bons costumes.

E como se justifica a ablação do órgão do transexual (uma vez que a lesão é grave)?

Prevalece que se trata de exercício regular de direito, desde que sejam obedecidos os
ditames legais. Essa conclusão se baseia na Resolução 1652/2002 do Conselho Federal de
Medicina, na qual ficou definido que o transexualíssimo, por se tratar de uma patologia psíquica,
autoriza a intervenção cirúrgica como uma necessidade terapêutica.

Conduta do médico numa intervenção de emergência ou reparadora à luz da teoria geral


do delito:

O médico não responde por crime. Por quê?

a) Para Bento de Faria, é uma hipótese de atipicidade.

b) Para Assis Toledo, não é crime pela ausência de dolo de ofender a saúde.

c) Bitencourt fundamenta no consentimento do ofendido quando houver lesão leve.

d) Pierangeli defende estado de necessidade.

e) LFG defende pela ausência de risco proibido (teoria da imputação objetiva).

f) Zaffaroni diz que o fato é atípico, pois não é antinormativo (atos não determinados ou
não incentivados - tipicidade conglobante).

78
1.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime é material, consumando-se com a efetiva ofensa à incolumidade pessoal. Admite


tentativa nas modalidades dolosas.

1.7. LESÃO CORPORAL DOLOSA LEVE (art. 129, caput)

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem


Pena - detenção, de três meses a um ano.

Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende
de representação (Lei 9.099/95, art. 88). Cabe suspensão condicional do processo e transação.

Admite prisão em flagrante? A captura é possível, o que não se admite é a lavratura do


APF, caso o autor do fato se comprometa a comparecer ao Juizado.

Lei 9.099 - Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da


ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao
Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições
dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de
cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.

Quando uma lesão é leve? Quando não for grave, gravíssima ou seguida de morte. É um
conceito residual.

Admite-se a aplicação do princípio da insignificância? A doutrina tem admitido. Exemplo:


Pequenas arranhaduras; dor de cabeça passageira, beliscão etc.

1.8. LESÃO CORPORAL DOLOSA GRAVE (art. 129, §1º)

Lesão corporal de natureza grave


Pena - reclusão, de um a cinco anos.

As formas de lesão corporal grave não são infrações de menor potencial ofensivo, porém
admitem suspensão condicional do processo.

Art. 129,
§ 1º Se resulta:

É uma forma qualificada (e não majorada).

Considera-se lesão grave aquela que resulta em:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

79
Essa consequência qualificadora pode se originar tanto do dolo quanto da culpa do agente
(produzindo um crime preterdoloso).

-Ocupação habitual: Qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a


trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita (ainda que imoral).

Prostituta pode ser vítima dessa forma qualificada? Sim. É atividade de trabalho e lícita,
embora imoral.

Recém-nascido pode ser vítima dessa forma? Sim, basta que fique privado da atividade de
mamar, por exemplo.

Mulher com olho roxo que deixa de trabalhar é vítima dessa forma qualificada? Não! É a
lesão que tem que incapacitar a vítima e não seu sentimento de vergonha, ou seja, a simples
relutância em não trabalhar por VERGONHA não qualifica a lesão.

- Exame de corpo de delito

Por se tratar de crime não transeunte (que deixa vestígios), o exame pericial é
indispensável, sob pena de nulidade do processo, salvo quando impossível realizá-lo, nos termos
do art. 564, III, ‘a’ do CPP.

CPP Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


...
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
...
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado
o disposto no Art. 167;

CPP Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

No caso da qualificadora em análise, não basta a realização do primeiro e obrigatório


exame pericial. Nos termos do art. 168, §2º do CPP deve ser realizado o chamado exame
complementar, a ser efetuado depois de 30 dias da ocorrência do crime, a fim de comprovar-se a
efetiva incapacidade para o desenvolvimento das atividades rotineiras da vítima.

CPP Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial


tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por
determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu
defensor.
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de
delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, §
1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova
testemunhal.

Esse prazo é penal ou processual penal? O erro pode ocasionar nulidade do laudo.

80
O PRAZO é PENAL, até porque presente no próprio tipo. Logo, se inclui na contagem o dia
da ocorrência do crime.

II - Perigo de vida;

Trata-se da probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente


comprovado por perícia.

Perigo de vida não se presume! Comprova-se por meio de perícia. Ou seja, a região da
lesão (exemplo: cabeça) não autoriza presumir perigo de vida.

Esse resultado qualificador é necessariamente culposo (dolo na lesão e culpa no perigo de


vida, constituindo um crime preterdoloso).

Se o sujeito assume o risco de causar perigo de vida à vítima, trata-se de tentativa de


homicídio.

III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função;

Debilidade  Enfraquecimento. Diminuição da capacidade funcional.

Permanente  Duradoura, sem prazo determinado de recuperação. Não deve ser


entendida no sentido de perpetuidade.

Membros  Braços, antebraços e mãos; Coxas, pernas e pés.

Permanece a qualificadora mesmo que o enfraquecimento possa se atenuar ou se reduzir


com o uso de aparelhos de prótese.

É nessa qualificadora que entram os casos de perda de órgãos duplos.

A perda de um dente gera essa qualificadora?

Depende de perícia, que vai atestar se a perda do dente gera debilidade da função
digestiva.

Perda de um dedo?

O mesmo raciocínio da perda de dente. Depende se gerou debilidade permanente da mão.

IV - Aceleração de parto:

O sentido da lei é o de antecipação do parto, uma vez que só se pode acelerar aquilo que
já teve início.

É um resultado necessariamente culposo, no qual o feto é expulso com vida. Aqui o agente
jamais quis ou assumiu o risco da expulsão do feto; se assim não fosse, responderia pelo crime
de aborto tentado ou consumado.

É imprescindível que o agressor soubesse ou pudesse saber que a vítima era mulher
grávida, evitando-se assim responsabilidade penal objetiva.

1.9. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA (Art. 129, §2º)

Pena - reclusão, de dois a oito anos.


81
§ 2° Se resulta:

Não admite suspensão condicional do processo, mas admite ‘sursis’ (se a pena ficar no
mínimo).

A expressão “gravíssima” é doutrinária.

Para o CP, a lesão grave abrange tanto o §1º quanto o §2º do art. 129.

Entretanto, a Lei 9.455/97 (Tortura) adotou a expressão da doutrina.

Considera-se lesão gravíssima aquela que resulta em:

I - Incapacidade permanente para o trabalho;

Permanente  Duradoura no tempo e sem previsibilidade de cessação. Não


necessariamente perpétua.

Aqui, não se trata mais de ocupações habituais, mas de trabalho remunerado.

PREVALECE que para incidir essa qualificadora, o sujeito deve ficar incapacitado para
todo o tipo de trabalho, e não apenas para aquele realizado antes do fato (Hungria e Damásio)
(absurdo!).

A minoria entende que basta ficar incapacitada para o trabalho anterior, do contrário o
dispositivo seria quase que inaplicável. Até um tetraplégico pode desenvolver inúmeros trabalhos.

É um resultado qualificador que pode ser produzido tanto dolosa quanto culposamente.

II - Enfermidade incurável;

Trata-se de um processo patológico em curso que afeta a saúde em geral, para o qual não
existe cura na medicina.

Admite-se que a enfermidade incurável possa resultar tanto do comportamento culposo


quanto doloso do agente.

A transmissão do vírus da AIDS se subsumi ao aludido dispositivo?

Para o STJ, não. Trata-se de tentativa de homicídio, pois é uma doença de caráter letal.

PORTADOR DO VÍRUS HIV E TENTATIVA DE HOMICÍDIO – 2 Entendeu-


se que não seria clara a intenção do agente, de modo que a
desclassificação do delito far-se-ia necessária, sem, entretanto, vinculá-lo a
um tipo penal específico. [...]chegou-se a um consenso, apenas para
afastar a imputação de tentativa de homicídio. Salientou-se, nesse
sentido, que o Juiz de Direito, competente para julgar o caso, não estaria
sujeito sequer à classificação apontada pelo Ministério Público. HC
98712/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-98712) (informativo 603 –
1ª Turma)

Jurisprudência dá o exemplo da lesão que deixa a vítima manca. Rogério não concorda,
pois não seria por processo patológico.

III - Perda ou inutilização de membro, sentido ou função;

82
No §1º (lesão grave) a lei fala em mera debilidade. Aqui se trata de inutilização ou perda.

Existem duas hipóteses de perda de membro: Amputação (feita por médico em


procedimento cirúrgico) ou mutilação (realizada pelo agressor, culposa ou dolosamente, na
execução do crime).

Inutilização  Perda de capacidade funcional. Inoperância.

Perda de dedo configura lesão gravíssima? Não. Trata-se de debilidade permanente de


membro (braço/mão) e não perda do membro propriamente dito.

Perda de testículo configura lesão gravíssima?

Não. Tratando-se de órgãos duplos, para a lesão ser gravíssima deve atingir os dois. Do
contrário, gera ‘mera’ debilidade de função, produzindo uma lesão de natureza grave.

Impotência “coeundi” ou “generandi”: Em qualquer dos casos, trata-se de lesão gravíssima.


Em uma, ocorre a perda da função sexual; em outra, a perda da função reprodutora.

É um resultado qualificador doloso ou culposo.

IV - Deformidade permanente;

Dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz
de provocar impressão vexatória para a vítima (Desconforto para quem olha; humilhação para a
vítima).

Ex.: Jogar ácido no rosto da pessoa  É o chamado crime de VITRIOLAGEM (lesão


corporal gravíssima que provoca deformidade permanente em razão do emprego de ácido).

OBS: A idade, o sexo e a condição social podem ser determinantes para a conclusão
dessa qualificadora.

Exemplo de Hungria: Uma cicatriz no rosto de modelo pode ser considerada uma
deformidade permanente, ao passo que a mesma cicatriz no rosto de septuagenário torna-se
quase insignificante.

Itália e Argentina só reconhecem deformidade permanente no rosto. No Brasil é


reconhecida em qualquer parte do corpo, desde que aparente, ainda que apenas nos momentos
mais íntimos.

Esse resultado qualificador pode ser tanto culposo quanto doloso.

Informativo 562 STJ

83
CUIDADO! A grande maioria dos livros defende posição contrária ao que foi decidido pelo
STJ. Assim, muita atenção para o tipo de pergunta que será feita na hora da prova para não se
lembrar do que leu no livro e errar a questão, especialmente em concursos CESPE.

V - Aborto:

Esse resultado qualificador é necessariamente culposo. Do contrário (dolo de


abortamento), o agente responde pelo crime de aborto.

Ressalte-se que a gravidez deve ser de conhecimento do agente (ou pelo menos de
possível conhecimento), sob pena de incorrer-se em responsabilidade penal objetiva.

O que ocorre se a lesão tiver resultados qualificadores do §1º e também do §2º?

A qualificadora mais grave é usada como tal (ponto de partida do cálculo da pena),
enquanto a menos grave é valorada na fixação da pena-base.

1.10. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE - HOMICÍDIO PRETERDOLOSO (art. 129,


§3º)

Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente


não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:

Não há que se falar em dolo de matar. A morte, aqui, é sempre culposa. Trata-se de um
crime preterdoloso por excelência.

Ressalte-se: Por se tratar de conduta culposa, a morte deve ter sido ao menos previsível
(culpa consciente ou inconsciente). Do contrário, o agente responde apenas pelas lesões
provocadas.

Elementos do homicídio preterdoloso

a) Conduta dolosa visando ofender a incolumidade pessoal da vítima;

b) Resultado culposo mais grave que o pretendido (morte);

c) Nexo causal.

Caso fortuito ou força maior não permitem imputar o resultado morte ao agente. Responde
apenas por lesão.

Ver crime preterdoloso acima. “Vias de fato seguida de morte”.

1.11. PRIVILÉGIOS (art. 129, §§ 4º e 5º)

O art. 129, §4º prevê uma causa especial de diminuição de pena aplicável a TODAS as
figuras típicas anteriores. Rogério Greco estende a aplicação também às lesões domésticas e
familiares.

Art. 129, § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante


valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.

84
O §5º, por sua vez, prevê a possibilidade de substituição da pena, in verbis:

Art. 129, § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a
pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

A substituição aplica-se exclusivamente à LESÃO CORPORAL LEVE, e mesmo assim


somente se a lesão for privilegiada ou se tratar-se de lesão recíproca.

Rogério Greco: Os privilégios constituem direitos subjetivos do condenado, logo, se


presentes os requisitos que autorizem ambos, caberá ao juiz escolher, discricionariamente, uma
das soluções para ser aplicada, com base no princípio da suficiência da pena.

1.12. LESÃO CORPORAL CULPOSA (art. 129, §6º)

Art. 129, § 6° Se a lesão é culposa:


Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja ação penal pública depende
de representação (Lei 9.099/95, art. 89). Cabe suspensão condicional do processo e transação.

Não importa se a lesão for LEVE, GRAVE OU GRAVÍSSIMA para a tipificação do delito
culposo. Entretanto, o juiz poderá considerar a natureza da lesão na fixação da pena.

ATENÇÃO: Lesão culposa na direção de veículo automotor.

É o crime do art. 303 do CTB, com pena que varia de 06 meses a 02 anos.

Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se
ocorrer qualquer das hipóteses do § 1o do art. 302.(Redação dada pela Lei
nº 12.971, de 2014)

Discute-se se é constitucional essa desproporcionalidade.

No homicídio culposo de trânsito (que também tem pena maior) justifica-se a aparente
‘desproporcionalidade’ pela diferença no desvalor da conduta do agente, sendo a do trânsito mais
perigosa, exigindo um maior cuidado, e consequentemente justificando uma pena maior.

Entretanto, na lesão corporal esse argumento não tem sustento, tendo em vista a flagrante
desproporcionalidade das penas. A lesão CULPOSA de trânsito tem pena mais grave que a lesão
corporal DOLOSA do CP (3 meses a 1 ano).

É mais grave o sujeito agir sem intenção do que com dolo de lesionar.

PORÉM, ainda prevalece que é constitucional o dispositivo que pune mais severamente a
lesão culposa no trânsito.

85
1.13. MAJORANTES (art. 129, §7º)

1.13.1. Previsão legal

Art. 129 § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das
hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 12.720, de 2012)

1.13.2. Remissão ao art. 121, §4º: majorante de lesão culposa e dolosa

Art. 121 § 4o No homicídio culposo (aqui se leia LESÃO CORPORAL


CULPOSA), a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
doloso o homicídio (aqui se leia LESÃO CORPORAL DOLOSA), a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

1.13.3. Remissão ao art. 121, §6º: Lei 12.720/12

Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o


crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Sabendo que o grupo (em especial, as milícias privadas) explora o terror, pode querer
impor seu “poder” paralelo por meio de “surras”, sem buscar (num primeiro momento) a morte das
vítimas. Nesses casos, a pena de lesão corporal também será majorada.

1.13.4. Remissão ao art. 121, §6º: “grupo de extermínio”

Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o


crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Por GRUPO DE EXTERMÍNIO entende-se a reunião de pessoas, matadores, “justiceiros”


(civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a
matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou
perigosas.

Quantas pessoas devem, no mínimo, integrar esse “GRUPO”? O texto é totalmente


silente.

Com o advento da Lei 12.694/12 (organizações criminosas), já percebemos doutrina


preferindo fundamentar o raciocínio no conceito de “GRUPO” trazido no seu artigo 2.º, que se
contenta com a reunião de TRÊS ou mais pessoas.

1.13.5. Remissão ao art. 121, §6º: “milícia armada”

“Art. 121§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o


crime for praticado por MILÍCIA PRIVADA, sob o pretexto de prestação de
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.”
86
Por MILÍCIA ARMADA entende-se grupo de pessoas (civis ou não, repetindo a discussão
acima quanto ao número mínimo) armado, tendo como finalidade (anunciada) devolver a
segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Para tanto, mediante
coação, os agentes ocupam determinado espaço territorial. A proteção oferecida nesse espaço
ignora o monopólio estatal de controle social, valendo-se de violência e grave ameaça.

A Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1989, por meio da resolução
44/162, aprovou os princípios e diretrizes para a prevenção, investigação e repressão às
execuções extralegais, arbitrárias e sumárias, anunciando: “Os governos proibirão por lei todas as
execuções extralegais, arbitrárias ou sumárias, e zelarão para que todas essas execuções se
tipifiquem como delitos em seu direito penal, e sejam sancionáveis com penas adequadas que
levem em conta a gravidade de tais delitos. Não poderão ser invocadas, para justificar essas
execuções, circunstâncias excepcionais, como por exemplo, o estado de guerra ou o risco de
guerra, a instabilidade política interna, nem nenhuma outra emergência pública. Essas execuções
não se efetuarão em nenhuma circunstância, nem sequer em situações de conflito interno
armado, abuso ou uso ilegal da força por parte de um funcionário público ou de outra pessoa que
atue em caráter oficial ou de uma pessoa que promova a investigação, ou com o consentimento
ou aquiescência daquela, nem tampouco em situações nas quais a morte ocorra na prisão. Esta
proibição prevalecerá sobre os decretos promulgados pela autoridade executiva”.

1.14. PERDÃO JUDICIAL (art. 129, §8º)

Art. 129, § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo (aqui leia-se LESÃO


CORPORAL CULPOSA), o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária.

Aplica-se SOMENTE à lesão culposa. Não se aplica à lesão preterdolosa, tampouco a


dolosa.

Abrange também o art. 303 do CTB.

1.15. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR (art. 129, §§ 9º, 10, 11)

Até 1990, a violência no Brasil era tratada num círculo comum. A partir de então, começou-
se a especializar os tipos penais de violência, baseado em estatísticas. Surgiram então:

- ECA  Especializou a violência contra a criança e adolescente;

- CDC  Especializou a violência contra o consumidor;

- Lei 9.099/95  Tratou de maneira diferente a violência de menor potencial ofensivo;

- Lei 9.605/98  Especializou a Violência contra o meio-ambiente;

- Lei 9.503/97  Especializou a violência no trânsito;

- Estatuto do Idoso  Especializou a violência contra o idoso;

87
- Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), especializando a violência doméstica e familiar
contra a mulher.

Entretanto, apesar de a Lei Maria da Penha proteger a mulher, ela alterou os §§9º, 10 e
11, que também protegem o homem, desde que no âmbito familiar ou doméstico.

1.15.1. Art. 129, §9º - Lesão corporal leve qualificada (âmbito doméstico e familiar)

Art. 129, §9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,


irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena - 03 meses a 03 anos.

Importante: A infração deixa de ser de menor potencial ofensivo (pena máxima maior de 2
anos), mas continua admitindo suspensão condicional do processo (pena mínima menor de um
ano).

OBS: Essa qualificadora abrange SOMENTE a lesão leve, vale dizer, em se tratando de
lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, praticada no ambiente doméstico ou familiar,
incidem as penas dos §§1º a 3º do art. 129, c/c o §10.

-Sujeito ativo

Somente alguém que tenha com a vítima alguma das relações domésticas ou familiares
previstas no tipo.

-Sujeito passivo

Somente alguma das pessoas previstas no tipo (ambiente doméstico ou familiar).

Pode-se dizer que o crime é bipróprio, não obstante boa parte da doutrina entenda se
tratar de crime comum.

Vejamos quem são as pessoas previstas como vítimas:

a) Ascendente/descendente/irmão/Cônjuge/companheiro

OBS: São as mesmas pessoas legitimadas a representar ou oferecer queixa-crime em


razão da morte do ofendido (CCADI).

b) Com quem conviva ou tenha convivido

Pergunta-se: A expressão “com quem conviva ou tenha convivido” constitui um grupo


autônomo de vítimas ou mero complemento dos sujeitos do primeiro grupo? Em outras palavras:
para que os familiares sejam vítimas dessa forma qualificada de lesão, é necessária a
convivência/coabitação com o agente, ainda que pretérita?

Nucci: A expressão analisada é um complemento do primeiro grupo de sujeitos passivos,


exigindo uma convivência, ainda que pretérita, entre os envolvidos. Ou seja, se agredir um avô
com quem nunca tenha convivido não configura a qualificadora da violência familiar. NÃO É O
QUE PREVALECE.

88
Doutrina Majoritária: É um grupo autônomo de vítimas, de forma que não se exige dos
familiares a coabitação com o agente.

Exemplo de sujeitos com quem o agente conviva ou tenha convivido, mas que não fazem
parte do ambiente familiar: Amantes; república de estudantes etc.

c) Prevalecendo-se o agente das relações domésticas de coabitação ou hospitalidade.

Esse terceiro grupo de vítimas se refere às Visitas, hóspedes, empregados domésticos etc.

STJ: a qualificadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões


corporais cometidas contra HOMEM no âmbito das relações domésticas.

1.15.2. Art. 129, §10 – Causa especial de aumento de pena (§§1º a 3º) (âmbito doméstico e
familiar)

Art. 129, § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º (lesão grave, gravíssima
e seguida de morte) deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §
9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

O dispositivo traz causas especiais de aumento de pena às lesões graves, gravíssimas e


seguidas de morte praticadas no ambiente doméstico ou familiar.

Como exemplo, o art. 129, §1º (lesão grave), que tem pena prevista de 01 a 05 anos, terá
a pena majorada de 1/3, se o crime for cometido em ambiente doméstico ou familiar.

O mesmo ocorrendo com os §§2º (lesão gravíssima - pena de 02 a 08) e 3º (lesão seguida
de morte - pena 04 a 12).

Consequência da majoração de 1/3 nesses crimes:

§1º, 01 a 05 anos  Não mais admite suspensão condicional do processo.

§2º 02 a 08 anos  Não mais admite a ‘sursis’ comum ou especial.

§3º 04 a 12 anos  Não mais admite regime inicial aberto.

1.15.3. Art. 129, § 11 – Causa especial de aumento de pena dos crimes cometidos contra
deficientes (âmbito doméstico e familiar)

Art. 129, § 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de


um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.

Prevalece que é uma majorante exclusiva da lesão corporal leve qualificada do §9º. Se o
deficiente for vítima de lesão grave em ambiente doméstico e familiar, somente se aplica a
majorante do §10.

Em suma:

Art. 129, § 9º Art. 129, § 10 Art. 129, § 11


§ 9º Se a lesão for praticada § 10. Nos casos previstos § 11. Na hipótese do § 9º
contra ascendente, nos §§ 1º a 3º deste artigo, deste artigo, a pena será
descendente, irmão, se as circunstâncias são as aumentada de um terço se o

89
cônjuge ou companheiro, indicadas no § 9º deste crime for cometido contra
ou com quem conviva ou artigo, aumenta-se a pena pessoa portadora de
tenha convivido, ou, ainda, em 1/3 (um terço). deficiência.
prevalecendo-se o agente
das relações domésticas,
de coabitação ou de
hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três)
meses a 3 (três) anos.

Qualificadora no caso de É majorante de pena dos §§ Traz uma majorante para o §


lesão leve. 1º, 2º e 3º. 9º.
129, caput Art. 129, §1º 129, §9º
Pena 3m a 01 ano Pena: 01 a 05 anos (o § 10 Pena 3m a 03 anos (aumento
aumenta um terço) de um terço se a vítima for
129, § 9º portadora de deficiência)
Pena: 3m a 3anos Obs.: deixa de admitir
Obs.: Deixa de ser de suspensão condicional do
menor potencial ofensivo processo.
Art. 129, § 2º
Pena: 02 a 08 anos (o § 10
aumenta um terço)
Art. 129, § 3º
Pena: 04 a 12 anos (o § 10
aumenta um terço)
Em suma:

LESÃO DOLOSA LESÃO DOLOSA LESÃO DOLOSA LESÃO SEGUIDA


LEVE (caput) GRAVE (§1º) GRAVÍSSIMA (§2º) DE MORTE (§3º)
Pena: 03 meses a Pena: 01 ano a 05 Pena: 02 a 08 anos Pena: 04 a 12 anos
01 ano anos
Obs.: se praticada Obs.: se praticadas no âmbito doméstico e familiar passa a incidir o §
no âmbito 10, as penas serão aumentadas em um terço.
doméstico e
familiar, passa a
incidir o § 9º, com
pena de 03 meses
a 03 anos.
Deixa de ser Deixa de admitir Deixa de admitir Deixa de admitir
infração de menor suspensão sursis regime aberto para
potencial ofensivo condicional do admitir o
processo semiaberto

1.16. CONTRA INTEGRANTES DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA E SEUS


FAMILIARES (art. 129, § 12)

A Lei n. 13.142/2015 acrescentou o § 12 ao art. 129 do CP, prevendo o seguinte:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
(...)
Aumento de pena
90
(...)
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é
aumentada de um a dois terços.

Para quais espécies de lesão corporal se aplica o novo § 12?

A causa de aumento prevista no novo § 12 do art. 129 do CP aplica-se para todas as


espécies de lesão corporal DOLOSA, incluindo:

• Lesão corporal leve (art. 129, caput);

• Lesão corporal grave (art. 129, § 1º);

• Lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º);

• Lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º).

Fica de fora, portanto, a lesão corporal culposa (art. 129, § 6º do CP).

Valem as mesmas observações sobre o homicídio qualificado (feitas acima)

Para que incida essa causa de aumento, serão necessários também dois requisitos:

• Requisito 1: lesão corporal contra integrantes dos órgãos de segurança pública


ou contra seus familiares.

• Requisito 2: o delito deve ter relação com a função desempenhada.

Em resumo:

Requisito 1: Requisito 2:
Condição da vítima Relação com a função
1) autoridade, agente ou integrante da (o)(s): ...desde que o crime tenha
• Forças Armadas; sido praticado contra a
A pena da • Polícia Federal; pessoa no exercício das
LESÃO • Polícia Rodoviária Federal; funções ao lado listadas ou
CORPORAL • Polícia Ferroviária Federal; em decorrência dela.
será • Polícias Civis;
aumentada de • Polícias Militares;
1/3 a 2/3 se ela • Corpos de Bombeiros Militares;
tiver sido • Guardas Municipais;
praticada • Agentes de segurança viária*;
contra... • Sistema Prisional
• Força Nacional de Segurança Pública.
2) cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até 3º grau de algumas das
pessoas acima listadas.

91
1.17. AÇÃO PENAL NO CRIME DE LESÃO CORPORAL

Regra: Ação penal pública incondicionada (até 1995 não admitia exceções).

Exceções: Lei 9.099/95 (art. 89).

a) Lesão corporal leve

b) Lesão corporal culposa

Nesses dois casos, a ação penal é pública condicionada à representação da vítima.

As lesões corporais leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de


violência doméstica são de ação pública incondicionada ou condicionada? Em outras
palavras, este art. 88 da Lei n. 9.099/95 também vale para as lesões corporais leves e
culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência doméstica?

NÃO. Qualquer lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, praticada contra mulher no
âmbito das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA, ou seja, o Ministério
Público pode dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima.

O art. 88 da Lei nº 9.099/95 NÃO vale para as lesões corporais praticadas contra a mulher
no âmbito de violência doméstica.

Por quê?

Porque a Lei nº 9.099/95 NÃO se aplica aos crimes de violência doméstica e familiar
contra a mulher. Veja o que diz o art. 41 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006):

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de
26 de setembro de 1995.

Observações:

 Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não precisa fazer com que ela
assine uma representação, uma vez que a lei não exige representação para tais casos. Bastará
que a autoridade policial colha o depoimento da mulher e, com base nisso, havendo elementos
indiciários, instaure o inquérito policial;

 Em caso de lesões corporais leves ou culposas que a mulher for vítima, em violência
doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o inquérito policial e não o
termo circunstanciado. Isso porque não se aplica a Lei nº 9.099/95, que é onde se prevê o termo
circunstanciado;

 Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada
com o cônjuge, procura o Delegado, o Promotor ou o Juiz dizendo que gostaria que o inquérito ou
o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum efeito jurídico,
devendo a tramitação continuar normalmente;

 Se um vizinho, por exemplo, presencia a mulher apanhando do seu marido e comunica


ao delegado de polícia, este é obrigado a instaurar um inquérito policial para apurar o fato, ainda

92
que contra a vontade da mulher. A vontade da mulher ofendida passa a ser absolutamente
irrelevante para o início do procedimento;

 É errado dizer que todos os crimes praticados contra a mulher, em sede de violência
doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam existindo crimes praticados contra a
mulher (em violência doméstica) que são de ação penal condicionada, desde que a exigência de
representação esteja prevista no Código Penal ou em outras leis, que não a Lei n. 9.099/95.
Assim, por exemplo, a ameaça praticada pelo marido contra a mulher continua sendo de ação
pública condicionada porque tal exigência consta do parágrafo único do art. 147 do CP.

Este foi o entendimento do STJ, consolidado na Súmula 542.

Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal


resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

O que a Súmula nº 542-STJ afirma é que o delito de LESÃO CORPORAL praticado com
violência doméstica contra a mulher, é sempre de ação penal incondicionada.

Vale ressaltar que a Súmula nº 542-STJ reflete o entendimento do STF construído no


julgamento da ADI 4424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012).

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E SAÚDE

1. CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO HOSPITALAR EMERGENCIAL

A Lei n. 12.653/2012 incluiu um novo tipo no Código Penal: o crime de condicionamento


de atendimento médico-hospitalar emergencial.

1.1. PREVISÃO LEGAL

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial


Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia,
bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como
condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se
resulta a morte.

1.2. POSIÇÃO TOPOGRÁFICA

O art. 135-A foi inserido no Capítulo III do Título I do Código Penal. Esse capítulo trata dos
crimes que envolvem “periclitação da vida e da saúde”.

93
Periclitar significa “correr perigo”. Este Capítulo III, portanto, traz diversos crimes de perigo.
Desse modo, prevalece que o art. 135-A, pelo menos em sua forma simples (caput), é um crime
de perigo.

1.3. CRIME DE PERIGO ABSTRATO

Entende-se que o art. 135-A é CRIME DE PERIGO ABSTRATO, presumido ou de simples


desobediência.

Assim, para a consumação do delito basta a prática da conduta típica pelo agente, sem ser
necessário demonstrar que houve, concretamente, a produção de uma situação de perigo.

Pela simples redação do tipo percebe-se que não se exige a demonstração de perigo,
havendo uma presunção absoluta (juris et de jure) de que ocorreu perigo pela simples exigência
indevida.

Vale ressaltar que, apesar de haver polêmica na doutrina, o STF entende que:

“A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só,


comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A
tipificação de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes,
acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz para a
proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de caráter
coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. Portanto,
pode o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação e de
decisão, definir quais as medidas mais adequadas e necessárias para a
efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher
espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo. Apenas a
atividade legislativa que, nessa hipótese, transborde os limites da
proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional.” (HC 104410,
Relator Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, julgado em 06/03/2012)

1.4. BEM JURÍDICO PROTEGIDO

Vida e saúde das pessoas humanas.

1.5. SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime próprio considerando que somente pode ser praticado pelos
responsáveis (sócios, administradores etc.) ou prepostos (atendentes, seguranças, médicos,
enfermeiras etc.) do serviço médico-hospitalar emergencial.

Imaginemos o seguinte exemplo: O diretor geral do hospital edita uma norma interna
determinando que todas as recepcionistas somente podem aceitar a internação, ainda que de
emergência, de pessoas que apresentem cheque-caução.

Duas semanas depois, chega um paciente em situação de emergência e a recepcionista


do hospital faz a exigência do cheque-caução como condição para que ele receba o atendimento
médico-hospitalar emergencial.

94
Quem cometeu o crime, o diretor geral ou a recepcionista? Os dois. Pela teoria do domínio
do fato, o diretor-geral seria o autor intelectual e a recepcionista a autora executora.

A recepcionista poderia alegar OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA? NÃO. A obediência


hierárquica é uma causa excludente da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa (art.
22 do CP). Ocorre que um dos requisitos para que seja reconhecida a excludente pela obediência
hierárquica é que deve haver uma relação de direito público. Não incide essa excludente se a
relação for de direito privado, como no caso da relação empregatícia em um hospital privado.

1.6. SUJEITO PASSIVO

Pessoa destinatária do atendimento médico-hospitalar emergencial.

Atenção: se a exigência de caução foi feita a um parente da pessoa que seria internada, a
vítima é apenas a pessoa que seria internada e não o seu parente. Isso porque o bem jurídico
protegido é a vida e a saúde da pessoa em estado de emergência. Desse modo, não se trata de
crime patrimonial, pouco importando de quem se exigiu a caução.

1.7. TIPO OBJETIVO

1.7.1. Exigir

Ou seja, impor como condição para o atendimento.

1.7.2. Cheque-caução

É um cheque normal (título de crédito) assinado pela pessoa a ser atendida ou por terceiro
(familiar, amigo, etc.) com determinado valor ou mesmo com valor em branco e destinado a servir
como garantia de futuro pagamento das despesas que forem realizadas com o tratamento. Se as
despesas forem pagas, o cheque é devolvido; se não forem, o cheque é descontado.

1.7.3. Nota promissória

Consiste em um título de crédito (documento escrito) no qual uma pessoa (sacador) faz a
promessa, por escrito, de pagar certa quantia em dinheiro em favor de outra (beneficiário). A nota
promissória, neste caso, também funcionaria como um instrumento de garantia de que as
despesas médicas seriam pagas.

1.7.4. Ou qualquer garantia

Exs: fiança prestada por um parente do paciente; uma joia dada em penhor; a exigência de
que se passe o cartão de crédito para desconto futuro, como é feito na locação de veículos.

1.7.5. Bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos

O preenchimento prévio de formulários administrativos é vedado porque muitas vezes eles


escondem um contrato de adesão, com a previsão de cláusulas abusivas. O paciente ou seus
familiares, no momento de desespero em virtude da enfermidade, é compelido psicologicamente a
assinar sem ter o necessário discernimento quanto ao conteúdo do documento.
95
1.7.6. Como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial.

Segundo o Conselho Federal de Medicina, emergência é a constatação médica de


condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso,
exigindo, portanto, tratamento médico imediato (art. 1º, parágrafo 2º, da Resolução CFM n.
1451/95).

1.8. PREENCHIMENTO PRÉVIO DE FORMULÁRIOS ADMINISTRATIVOS

O tipo penal incrimina também a conduta de se exigir o preenchimento prévio de


formulários administrativos como condição para que seja prestado o atendimento médico-
hospitalar emergencial.

Deve-se alertar, contudo, que é possível imaginar que, em alguns casos, seja lícita a
exigência de prévio preenchimento de formulários administrativos, nas hipóteses em que essa
imposição for imprescindível para a saúde e a vida do paciente ou para resguardar a equipe
médica que faz o atendimento.

É o caso, por exemplo, do fornecimento de informações relacionadas com o tipo sanguíneo


da pessoa a ser atendida, caso seja imediatamente constatada a necessidade de uma transfusão
de sangue.

1.9. EXIGÊNCIA DE GARANTIA APÓS O ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR DE


EMERGÊNCIA

Pessoa sofre acidente e é levada para hospital particular, onde é prontamente atendida,
sem que seja feita qualquer exigência.

Após cessar o quadro de emergência do paciente, o responsável pelo hospital procura os


familiares, apresenta a tabela de valores dos serviços do hospital e exige um cheque-caução para
que o paciente continue internado. Esse responsável pelo hospital praticou o delito do art. 135-A?

NÃO, trata-se de conduta atípica.

Somente é crime a exigência como condição para o atendimento médico-hospitalar


emergencial. Não havendo mais situação de emergência, ainda que o paciente continue
necessitando dos serviços médico-hospitalares, é lícita a exigência de garantias para que o
paciente continue recebendo o atendimento.

1.10. FORMAS DE PRATICAR O DELITO

O crime somente pode ser praticado de forma COMISSIVA (por ação), não sendo possível
ser perpetrado por OMISSÃO. No entanto, trata-se de crime de execução livre, podendo ser
realizado de modo verbal, gestual ou escrito.

1.11. TIPO SUBJETIVO

O crime somente é punido a título de dolo. Não há previsão de modalidade culposa.

96
1.12. CONSUMAÇÃO

O crime é FORMAL. Logo, consuma-se com a simples exigência. A consumação ocorre no


exato instante em que é exigida a garantia ou o prévio preenchimento do formulário administrativo
como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial.

1.13. TENTATIVA

É possível, em tese, a tentativa. Trata-se, contudo, de difícil ocorrência na prática.

1.14. CASO HIPOTÉTICO

“A” está sofrendo um ataque cardíaco e é levado por seu irmão “B”, ao hospital. “B” para o
veículo na porta do hospital para que “A” desça e dê entrada o mais rápido possível na
emergência, enquanto ele vai estacionar o veículo.

Em um período de tempo curtíssimo (5 minutos, p. ex.), “B” consegue estacionar o


automóvel e se dirigir à entrada de emergência do hospital. Quando lá chega, descobre que seu
irmão ainda não foi internado porque a responsável pelo hospital está exigindo a apresentação de
um cheque-caução.

“B”, que é advogado, argumenta fortemente que esta prática é abusiva, ameaçando
formular representação contra o hospital na Agência Nacional de Saúde Complementar, momento
em que a responsável autoriza a internação mesmo sem a garantia anteriormente exigida.

Nesse exemplo hipotético, haverá o crime do art. 135-A (tentado ou consumado)?


Haverá desistência voluntária? Haverá arrependimento eficaz?

Não terá havido desistência voluntária nem arrependimento eficaz.

As razões são as seguintes:

O delito do art. 135-A é formal, logo, consuma-se com a simples exigência.

O fato de logo depois a funcionária do hospital ter permitido a internação não importa para
fins de consumação considerando que a exigência já foi feita, completando o tipo penal.

Na desistência voluntária (1ª parte do art. 15, CP), o agente inicia a execução do crime e,
antes dele se consumar, desiste de continuar os atos executórios.

Não se trata de desistência voluntária no exemplo dado, considerando que a execução já


tinha se encerrado e o crime se consumado com a simples exigência.

No arrependimento eficaz (2ª parte do art. 15, CP), o agente, após ter consumado o crime,
resolve adotar providências para que o resultado não se consuma.

Ocorre que o resultado de que trata o art. 15 do CP é o resultado naturalístico. Desse


modo, somente existe arrependimento eficaz no caso de crimes materiais, isto é, naqueles que
exigem a produção de resultado naturalístico. O delito do art. 135-A é, como disse, formal,
portanto, incompatível com o arrependimento eficaz.

97
O fato de o funcionário do hospital ter permitido a internação, após a exigência inicial da
caução, não torna a conduta atípica, servindo apenas como circunstância favorável na primeira
fase de dosimetria da pena.

1.15. AÇÃO PENAL

Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada (art. 100, CP).

1.16. PENA

Na forma simples (caput do artigo), a pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.

Consequências:

a) Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, submetido, portanto, ao rito


sumaríssimo (juizados especiais);

b) Não cabe prisão em flagrante (art. 69 da Lei n. 9.099/95);

c) É possível o oferecimento de transação penal (art. 76 da Lei n. 9.099/95);

d) Cabe a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95);

e) Não cabe prisão preventiva (art. 313, I, do CPP);

f) Em caso de condenação, é possível, em tese, a substituição da pena privativa de


liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do CP).

1.17. FORMA MAJORADA

O parágrafo único do art. 135-A prevê duas causas especiais de aumento de pena (obs:
não se trata de qualificadora, mas sim de majorante):

Se da negativa de atendimento resultar ...


Lesão corporal GRAVE MORTE
A pena é aumentada até o DOBRO. A pena é aumentada até o TRIPLO.

Este parágrafo único constitui-se em tipo preterdoloso, havendo:

a) Dolo no antecedente (na conduta de fazer a exigência indevida); e

b) Culpa no consequente (na lesão corporal grave ou morte).

Esta forma majorada NÃO é infração de menor potencial ofensivo.

1.18. DEVER DE AFIXAR AVISO

A Lei n. 12.653/2012 previu ainda que o estabelecimento de saúde que realize


atendimento médico-hospitalar emergencial fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou
equivalente, com a seguinte informação:

98
“Constitui crime a exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de
qualquer garantia, bem como do preenchimento prévio de formulários
administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar
emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal.

1.19. PUNIÇÃO DESTA CONDUTA POR OUTROS RAMOS DO DIREITO

A conduta punida por este novo tipo penal já era sancionada pelos demais ramos do
direito.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) prevê que é prática abusiva o fato
do fornecedor de serviços se prevalecer da fraqueza do consumidor diante de um problema de
saúde. Confira-se:

CDC Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em
vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-
lhe seus produtos ou serviços;

O Código Civil de 2002, por sua vez, prevê o estado de perigo como vício de
consentimento, apto a gerar a anulabilidade do negócio jurídico. A doutrina civilista em peso
classifica a exigência de cheque-caução para atendimentos emergenciais em hospitais como
típico exemplo de estado de perigo.

CC Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da


necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

Por fim, no âmbito do direito administrativo sancionador, a Agência Nacional de Saúde


Suplementar – ANS, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, possui a Resolução
Normativa n. 44, de 24 de julho de 2003, proibindo a prática nos seguintes termos:

Art. 1º Fica vedada, em qualquer situação, a exigência, por parte dos


prestadores de serviços contratados, credenciados, cooperados ou
referenciados das Operadoras de Planos de Assistência à Saúde e
Seguradoras Especializadas em Saúde, de caução, depósito de qualquer
natureza, nota promissória ou quaisquer outros títulos de crédito, no ato ou
anteriormente à prestação do serviço.

99
DA RIXA

1. RIXA

1.1. CONCEITO

Rixa é a briga perigosa entre mais de duas pessoas agindo cada uma por sua conta e
risco, acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas.

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:


Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave,
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis
meses a dois anos.

B C

Questão: Torcida “A” briga com a Torcida “B”.

Antigamente, como há dois grupos distintos, não haveria rixa se as torcidas brigassem
entre si.

Se vem a torcida “C” e entra no tumulto, antes era rixa.

Agora, porém, em ambos os casos se enquadra no art. 41-B da lei 10.671/03 (Estatuto do
Torcedor).

Estatuto do Torcedor
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local
restrito aos competidores em eventos esportivos:
Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:

I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco


mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante
o trajeto de ida e volta do local da realização do evento;
II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações
ou no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer
instrumentos que possam servir para a prática de violência..

1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO:

a) Direto: incolumidade da pessoa humana.

b) Indireto: ordem e paz públicas.


100
1.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. É comum.

OBS1: trata-se de crime plurissubjetivo (concurso necessário) de condutas contrapostas.

As condutas voltam-se umas contra as outras.

OBS2: Eventuais inimputáveis ou até mesmo briguentos não identificados são computados
na contagem do mínimo de três necessários para configuração do delito.

1.4. SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa, não só os briguentos, mas também qualquer pessoa atingida pelo
tumulto.

Para Rogério Greco, o crime de rixa é um caso excepcional em que o sujeito ativo é
também passivo, em virtude das mútuas agressões.

1.5. CONDUTA

“Participar de rixa”.

Participação (qual a diferença de ser partícipe da rixa e partícipe do crime de rixa?):

a) Material: o participante toma parte na luta (partícipe da rixa).

b) Moral: o participante, sem tomar parte na luta, incentiva os contendores (partícipe do


crime de rixa).

A rixa pode ser à distância? Em outras palavras, pressupõe contato físico?

É perfeitamente possível rixa à distância, com tiros, arremesso de pedras e objetos.

1.6. TIPO SUBJETIVO

Vontade consciente de tomar parte na luta ou incentivar os briguentos. Ou seja, quem


entra para separar os contendores não tem dolo de participar da rixa.

1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma com o início do conflito. Para a maioria trata-se de perigo abstrato.
Entretanto, para uma minoria o crime de perigo abstrato é inconstitucional por violar o princípio da
ofensividade ou lesividade e o princípio da ampla defesa; para esta minoria, o crime é de perigo
concreto.

Para a maioria, o crime é unisubsistente não admitindo tentativa.

OBS: Nelson Hungria admite a tentativa na chamada “rixa ex propósito” (rixa


combinada). Exemplo: três pessoas combinam um tumulto generalizado, quando vão começar, a
polícia aparece, impedindo o início do conflito.
101
É possível legítima defesa na rixa?

1ª SITUAÇÃO: PESSOA NÃO A, B e C brigando, geram um Legítima defesa.


PARTICIPANTE DA LUTA. perigo real para D, que para não
ser engolido pelo tumulto,
empurra os rixosos, se
desvencilha em legítima defesa.
2ª SITUAÇÃO: PESSOA A, B, C e D lutam com chutes, socos A reação de C não exclui o delito
PARTICIPANTE DA LUTA. e pontapés. Em determinado de rixa já consumado, mas exclui
momento da luta, C percebe que B a ilicitude do homicídio. Ou seja,
arma-se com revolver, e, responde somente por rixa.
percebendo a desproporcionalidade,
para não ser atingido pelo projétil,
mata B.

1.8. RIXA COM MORTE OU LESÃO GRAVE

Temos três sistemas de punição:

1º SISTEMA: SOLIDARIEDADE 2ª SISTEMA: CUMPLICIDADE 3º SISTEMA: AUTONOMIA


ABSOLUTA. CORRESPECTIVA
Se da rixa resultar lesão grave ou Havendo lesão grave ou morte e A rixa é punida por si mesma
morte, todos os participantes não sendo apurado o seu autor, independentemente do
respondem pelo evento (lesão todos os participantes respondem resultado lesão grave ou
grave ou homicídio), por esse resultado, sofrendo, morte, o qual, se ocorrer,
independentemente de se apurar entretanto, sanção intermediária a somente qualificará o delito.
quem foi o seu real autor. de um autor e de um partícipe. Apenas o causador da lesão
grave ou morte, se
identificado, responderá
também (concurso) pelos
delitos dos artigos 121 e 129.
Adotado pelo CP¹.

¹CP Art. 137, Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de


natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
detenção, de seis meses a dois anos.

Casuística:

a) A, B, C, e D em uma rixa. D sofre lesão grave, não se identificou o autor do golpe fatal.
Agora já temos uma rixa qualificada.

‘A’  responde por rixa qualificada.

‘B’ responde por rixa qualificada.

‘C’  responde por rixa qualificada.

‘D’  não podemos esquecer que ‘D’ foi a vítima, apesar de briguento. Mas também
responde por rixa qualificada. A qualificadora considera o maior perigo da luta e D, de qualquer
modo, concorreu para o maior perigo, mesmo que tenha sofrido a lesão grave.

102
b) A, B, C, D. D morre. C foi identificado como autor do golpe fatal.

‘A’  rixa qualificada.

‘B’ rixa qualificada.

‘C’ Temos duas correntes:

1ªC: rixa simples + 121 (rixa qualificada geraria um claro bis in idem).

2ªC: rixa qualificada + 121 (não há bis in idem). Responde pela qualificada por
conta do maior perigo da briga e o homicídio em razão da morte. PREVALECE.

c) A, B, C e D. C abandona a luta às 19 horas. D morre às 20 horas. Não foi identificado o


causador da morte.

‘A’ rixa qualificada.

‘B’ rixa qualificada.

‘C’ rixa qualificada. Isto porque C, de qualquer modo, contribuiu para o maior perigo da
luta.

d) A, B, C e D. D morre às 20 horas. E substitui D que morreu. O autor do golpe fatal não


foi identificado.

‘A’ rixa qualificada.

‘B’ rixa qualificada.

‘C’ rixa qualificada.

‘E’ rixa simples. Isso porque não contribuiu de nenhuma forma para morte de D.

DOS CRIMES CONTRA A HONRA

1. PREVISÃO LEGAL, CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS DOS CRIMES CONTRA A


HONRA

Legislação geral aplicável: Código Penal, arts. 138 a 140.

Leis especiais

 Código Brasileiro de Telecomunicações (aquele que embasava as interceptações


antes desta lei);

 Código Eleitoral (aqui todos os crimes contra a honra são de ação penal pública
incondicionada);

 Código Penal Militar;


103
 Lei de Segurança Nacional;

OBS: Aplica-se agora o CP aos crimes de imprensa.

CALÚNIA (ART. 138 CP) Imputação de determinado fato, previsto Ofende honra objetiva
como crime, sabidamente falso. (reputação). O que a sociedade
pensa do sujeito.
DIFAMAÇÃO (ART. 139 Imputação de determinado fato, Ofende a honra objetiva
CP) desonroso, em regra não importando se (reputação).
verdadeiro ou falso.
INJÚRIA (ART. 140 CP) Atribuição de qualidade negativa. Ofende a honra subjetiva
(dignidade, decoro). O que o
sujeito pensa de si mesmo.

Exemplo1: chamar pessoa de “ladrão” é injúria.

Exemplo2: dizer que pessoa x roubou banco x tal dia e hora, quando sabe que não
aconteceu é calúnia

Exemplo3: dizer que pessoa x estava na esquina “rodando bolsinha”. É difamação.

OBS1: Se o fato imputado for contravenção, tratar-se-á de DIFAMAÇÃO. O ‘fato


desonroso’ abrange a contravenção penal.

OBS2: Atentar para os crimes militares, cuja imputação falsa implica em calúnia.

2. CALÚNIA (art. 138 do CP)

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato (determinado)


definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa (menor potencial
ofensivo, cabe suspensão condicional do processo e transação).
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

2.1. CONCEITO

Caluniar consiste em imputar falsamente a alguém a prática de fato previsto como crime.

2.2. SUJEITO ATIVO

Crime comum.

Qualquer pessoa, salvo os detentores de inviolabilidade (imunidade material). Ex.:


Parlamentares.

104
OBS: Advogados não têm imunidade quanto à calúnia, mas apenas quanto à injúria e
difamação (EAOAB, art. 7º).

EAOAB
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no
exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções
disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. (Vide ADIN
1.127-8)
Informativo 539 STJ:

Assim, o advogado somente cometerá calúnia se ficar demonstrado que ele preencheu
todos os requisitos necessários para a configuração do delito, dentre eles o elemento subjetivo, ou
seja, o dolo.

2.3. SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa.

Observações:

Menor de 18 anos (inimputável) pode ser vítima de calúnia?

1ª C: Considerando que o menor de 18 anos não pratica crime, não pode ser vítima de
calúnia. A imputação falsa configura difamação (Hungria).

2ª C (PREVALECE): A lei exige a imputação de fato previsto como crime. Menor de 18


anos pratica fato previsto como crime, chamado de ato infracional. Assim, pode ser vítima de
calúnia.

Agora, imputar a prática de estupro a um recém-nascido não pode configurar a calúnia,


devido à falta de verossimilhança da imputação, requisito essencial da configuração da calúnia.

Pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia?

1ªC - STF/STJ: Pessoa jurídica, apesar de responsável penalmente nas infrações


ambientais, NÃO PRATICA CRIME, logo não pode ser vítima de calúnia. Pessoa jurídica só pode
ser vítima de difamação.

“A imputação da prática de crime a pessoa jurídica gera a legitimidade do


sócio-gerente para a queixa-crime por calúnia” (STF RHC 83091).

2ªC – Mirabete: diz que não pode ser vítima de crime contra a honra, pois o CP só protege
a honra de pessoa física.

3ªC – Silvio Maciel: pode ser vítima de calúnia, pois em tese, pode ser autora de crime
ambiental. Ver crimes ambientais.

O desonrado (ex.: prostituta) pode ser vítima de calúnia?


105
SIM, mesmo o desonrado guarda parcela de reputação a ser defendida.

Morto pode ser vítima de calúnia?

NÃO. Apesar de ser punível a calúnia contra os mortos (art. 138, §2º), nesses casos quem
figura como vítima é a família, interessada na reputação do defunto.

CP Art. 138, §2º


§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

A auto calúnia é punível?

SIM, porém configura o crime de autoacusação falsa (art. 341 do CP). Não é crime contra
a honra, mas sim crime contra a administração da Justiça.

Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou


praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Calúnia contra Presidente da República, do SF, da CD ou do STF configura crime


contra a Segurança Nacional, se houver motivação política (LSN, art. 26).

Do contrário configura o crime de calúnia do CP.

LSN Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado


Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal,
imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação.

2.4. TIPO OBJETIVO

A Conduta punível no caput é ‘Imputar’ determinado fato previsto como crime, sabidamente
falso. Já o §1º pune a divulgação da falsa imputação.

Ou seja, o caput pune o criador da calúnia enquanto o §1º pune o divulgador (vulgo
fofoqueiro).

A calúnia é um crime de execução livre: A imputação ou divulgação pode ser de forma


implícita ou explícita, praticada por qualquer meio: palavras, escritos, gestos etc.

OBS: O fato deve ser previsto como crime. Se for previsto como mera contravenção penal,
tratar-se-á de difamação.

PROVA: A falsidade da imputação deve ser objetiva (relacionada à existência do fato) ou


pode ser apenas subjetiva (relacionada à autoria do fato)?

Ambas configuram a calúnia. Haverá calúnia quando o fato imputado jamais ocorreu
(falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o acontecimento, não foi a pessoa apontada o
seu autor (falsidade que recai sobre a autoria do fato).

A honra (objetiva ou subjetiva) é disponível?

SIM. A honra é renunciável, vale dizer, o consentimento da vítima exclui o crime.

106
2.5. TIPO SUBJETIVO

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como


crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga.

Caput – dolo (direto/eventual).

§1º Dolo (direto) “sabendo falsa a imputação”.

Somente se admite a modalidade dolosa (direto ou eventual), sendo imprescindível a


finalidade específica de denegrir a honra da vítima (“animus callumiandi”).

As seguintes intenções do agente não configuram a calúnia:

“Animus jocandi” (brincadeira);

“Animus consulendi” (aconselhar);

“Animus narrandi” (testemunha);

“Animus corrigendi” (correção);

“Animus defendendi” (espírito de defesa).

Dolo eventual: Ocorre quando o agente, embora não soubesse da falsidade da imputação,
tivesse como saber.

2.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma no momento em que terceiro toma conhecimento da imputação


criminosa feita à vítima, sendo dispensável o dano efetivo à sua reputação (crime formal - basta a
potencialidade lesiva).

A tentativa é admissível quando a calúnia é realizada por meio escrito e interceptada pela
própria vítima, antes que terceiros tomassem conhecimento.

# Telegrama (fonograma) interceptado pela própria vítima configura calúnia tentada ou


consumada? R: No telegrama há a passagem da informação para outro, assim, a partir do
momento em que foi escrito alguém já tomou conhecimento do fato (terceiro), estando o crime
consumado antes de chegar ao destinatário final, portanto, quando a vítima intercepta o crime
está configurado.

2.7. CALÚNIA X DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Calúnia Denunciação Caluniosa

Art. 138, CP Art. 339, CP

Art. 138 - Caluniar alguém, Art. 339. Dar causa à instauração de


imputando-lhe falsamente fato investigação policial, de processo judicial,

107
definido como crime. instauração de investigação
administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime de que o sabe
inocente

Delito contra a honra Crime contra a administração da justiça.

A intenção única é ofender a honra. Mais do que ofender a honra, a intenção


do agente é ver instaurado procedimento
judicial contra alguém que sabe inocente.

Ação penal privada Ação penal pública incondicionada

Não se admite calúnia com imputação Admite-se denunciação caluniosa com a


falsa de contravenção penal. imputação de contravenção penal,
importando esta em uma redução da pena
pela metade.

2.8. FORMAS DE CALÚNIA

a) Calúnia explícita ou inequívoca: a ofensa é direta, manifesta. Não deixa dúvida


nenhuma acerca da vontade do agente em atacar a honra alheia.

b) Calúnia equívoca ou implícita: a ofensa é velada, discreta.

c) Calúnia reflexa: o sujeito, desejando caluniar uma pessoa, acaba na discrição do fato,
atribuindo falsamente a prática de um crime também a pessoa diversa.

2.9. EXCEÇÃO DA VERDADE (ART. 138, §3º)

CP Art. 138
Exceção da verdade

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:


I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art.
141 (presidente da república ou chefe de governo estrangeiro);
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido
por sentença irrecorrível.

Trata-se de um incidente processual, forma de defesa indireta (apresentada junto com a


resposta à acusação), através da qual o acusado da prática de calúnia pretende provar a
veracidade do que alegou e se eximir de responsabilidade pelo suposto crime contra a honra que
lhe foi imputado.

Sendo procedente a exceção (concluindo-se que a afirmação era verdadeira), configura-se


a atipicidade da calúnia, pela falta de elementar do tipo “falsamente”.

Excepcionalmente, não é cabível a exceção da verdade:

108
I - Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível

Ex.: ‘A’ imputa a ‘B’ o cometimento do delito de ‘exercício arbitrário das próprias razões’
(art. 345) contra ‘C’.‘B’ ingressa com queixa crime contra ‘A’ (por calúnia). ‘A’ pode buscar prova
da verdade? NÃO, pois ‘A’ não tem o direito de provar um fato (delito de exercício) ao qual cabe
somente a ‘C’ dar publicidade (princípio da disponibilidade da ação privada).

A razão de impedir a prova da verdade consiste em não admitir que terceiro prove a
verdade de um crime do qual a própria vítima preferiu o silêncio (evitando o strepitus judicii).

Rogério Greco defende a inconstitucionalidade dessa vedação ao uso da prova da


verdade, pois violaria o princípio da ampla defesa e presunção de inocência. O acusado
injustamente de calúnia ficaria ceifado do direito de provar a atipicidade de sua conduta.

II - Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141

Chefe de governo/Estado estrangeiro e Presidente da República.

Motivo Chefe estrangeiro: Razões diplomáticas.

Motivo Presidente: A honra da presidente é a própria honra da República. Quem sabe de


fato desonroso por ele cometido deve denunciar às autoridades competentes para julgá-lo, e não
ficar dilacerando sua honra aos quatro ventos.

Rogério Greco também defende a não-recepção desse dispositivo. Não permitir que um
inocente do crime de calúnia prove essa inocência através da exceção, é o mesmo que presumir
que o sujeito é culpado, o que viola frontalmente o princípio da presunção de inocência.

III - Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível

Ex.: ‘A’ imputou a ‘B’ o homicídio de ‘C’. ‘B’, absolvido definitivamente deste homicídio
ingressa com queixa por calúnia contra ‘A’. ‘A’ pode provar a verdade? Não, pois facultar a prova
da verdade, nesse caso, equivale a permitir a exumação de um fato acobertado pela coisa
julgada.

2.10. EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE (CPP, ART. 523)

Previsto no CPP, trata-se outro meio de defesa indireta, porém com objetivo diverso.

CPP, Art. 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da


notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no
prazo de dois dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na
queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou
para completar o máximo legal.

Rogério Sanches: Aqui, busca-se provar que o fato, verdadeiro ou falso, é público e
notório. A procedência dessa exceção gera absolvição por crime impossível (atipicidade). Não é
possível macular a honra que já está notoriamente maculada.

109
Nucci: A exceção da notoriedade do CPP se refere à mal denominado exceção da
verdade, em relação ao crime de difamação cometido contra funcionários públicos (ver abaixo).

Rogério Greco: O objetivo da notoriedade é demonstrar que o agente da calúnia realmente


pensava que o fato era verdadeiro, pois a notoriedade do mesmo assim o induziu a crer. Atua,
dessa forma, em erro de tipo, excluindo o dolo e consequentemente o crime.

3. DIFAMAÇÃO

3.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato (determinado) ofensivo à


sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Perceber: aqui não precisa ser fato falso.

3.2. CONCEITO

Difamar é imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação (honra objetiva), não importando
se verdadeiro ou não.

3.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, salvo os detentores de inviolabilidade (parlamentares e advogados – art.


7º EAOAB - no exercício da função).

3.4. SUJEITO PASSIVO

Crime comum. Qualquer pessoa.

Observações:

Pessoa jurídica pode ser vítima? Duas correntes:

1ª C: Os crimes contra a honra só protegem a honra de pessoa física (Mirabete). Não é por
outro motivo que os crimes contra a honra estão no capítulo dos crimes contra a pessoa (natural).

2ª C: Pessoa jurídica tem reputação a zelar, podendo ser vítima de difamação (STF RHC
83.091). PREVALECE.

LEGITIMIDADE - QUEIXA-CRIME - CALÚNIA - PESSOA JURÍDICA -


SÓCIO-GERENTE. A pessoa jurídica pode ser vítima de difamação,
mas não de injúria e calúnia. A imputação da prática de crime a pessoa
jurídica gera a legitimidade do sócio-gerente para a queixa-crime por
calúnia.

110
Morto pode ser vítima de difamação? NÃO. Morto não pode ser vítima de nenhum crime.
E nem mesmo é punível a difamação contra os mortos.

OBS: A não recepcionada lei de imprensa punia a difamação contra os mortos.

3.5. TIPO OBJETIVO

A conduta punível é “imputar fato ofensivo à sua reputação”. A imputação pode ser
implícita ou explícita. É crime de execução livre.

Ex. de difamação implícita: “Eu pelo menos nunca rodei a bolsinha na esquina”.

O tipo penal não faz expressa menção ao divulgador/propalador da difamação, como


ocorre na calúnia. Apesar disso, prevalece que tal conduta também é punível, pois está implícita
no caput. Entende-se que o verbo difamar abrange o tanto o criador da imputação como o
propalador.

3.6. TIPO SUBJETIVO

Crime punido somente título de dolo (direto ou eventual), sendo imprescindível a intenção
de ofender a honra (finalidade específica). “Animus diffamandi”. Ver acima os animus que excluem
a calúnia, eles se aplicam aqui.

3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Ofendendo a honra objetiva, a difamação também se consuma quando terceiros tomam


conhecimento da imputação.

É crime formal, dispensando efetivo dano à honra. Basta a potencialidade de dano.

Admite tentativa, na forma por escrito (carta interceptada pela vítima).

Cuidado com o telegrama e fonograma, pois mesmo que interceptado pela vítima, já está
consumado (o funcionário que deve elaborar, toma conhecimento da difamação).

3.8. EXCEÇÃO DA VERDADE (ART. 139, PARÁGRAFO ÚNICO)

Art. 139, Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o


ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas
funções.

Em regra, não se admite, uma vez que, mesmo verdadeira, a imputação realizada pode
configurar ofensa à reputação da vítima, configurando a difamação (o tipo penal da difamação não
exige a falsidade do fato imputado).

EXCEPCIONALMENTE, admite-se a prova da verdade se a vítima da difamação é


funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções (propter oficium). Ex.:
Imputar ao juiz o fato de trabalhar bêbado.

111
Fundamento dessa possibilidade: resguardo da honorabilidade do exercício da função
pública. É de interesse da Administração apurar possíveis faltas de seus funcionários no
exercício da função.

Tem-se entendido que se o funcionário não mais ostenta essa posição não é cabível a
“exceptio veritatis”, MESMO que os fatos tenham relação com o exercício da função pública.

A consequência da procedência da exceção da verdade é a exclusão da ilicitude. Trata-se


de hipótese especial de exercício regular de um direito. (Perceber que na calúnia, a exceção da
verdade exclui a tipicidade, por faltar o “falso”. Aqui não precisa ser fato falso).

Cabe exceção da verdade na difamação se o funcionário público é o Presidente da


República?

Não. A exposição de motivos do CP, no seu item 49, alerta que a exceção da verdade na
difamação não alcança o Presidente da República ou Chefe de governo em visita ao país, pelos
mesmos motivos que já vimos não ser admissível a exceptio na calúnia contra esses personagens
(razões políticas e diplomáticas).

3.9. OFENSA DIRIGIDA DIRETAMENTE À VÍTIMA

Não configura difamação, pois terceiros não tiveram conhecimento do fato desonroso
imputado, não alterando o panorama se a própria vítima divulgar a ofensa a ela dirigida a
terceiros.

Dependendo do caso, essa ofensa dirigida diretamente à vítima pode configurar injúria, se
lhe atingiu a honra subjetiva.

3.10. EXCEÇÃO DA NOTORIEDADE (CPP, ART. 523)

Rogério Sanches e Tourinho: Também é possível exceção de notoriedade, configurando


crime impossível por absoluta inidoneidade do meio utilizado para a prática do crime (a pretensa
difamação não atingiu a honra do sujeito, uma vez que, pela notoriedade do fato, a honra já está
maculada).

Bitencourt/Greco: Não é possível, em decorrência da vedação da exceção da verdade.

Resumo:

EXCEÇÃO DA VERDADE 138 – CALÚNIA 139 – DIFAMAÇÃO


REGRA Admite. Não admite.
EXCEÇÕES Art. 138 §3º, I, II, e II (aqui não Art. 139, §único (aqui admite a
admite exceção da verdade): exceção da verdade):
-Crime de ação privada e não foi -Funcionário público – propter
condenado. oficium.
-Pessoas do art. 141 (presidente e
chefe de governo estrangeiro)
-Absolvido por sentença
irrecorrível.
PROCEDÊNCIA Absolvição  atipicidade. Absolvição  exercício regular de
112
direito (descriminante especial –
exclui a ilicitude).
EXCEÇÃO DE Admite. Admite.
NOTORIEDADE

4. INJÚRIA

4.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (IMPO, cabe suspensão
condicional do processo e transação).
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa.

4.2. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, salvo os sujeitos que detém inviolabilidade, inclusive o advogado (art. 7º,
§2º do EAOAB).

A auto injúria não existe como fato típico, porém, excepcionalmente, pode constituir crime
se a expressão utilizada ultrapassar a órbita da personalidade do indivíduo, atingindo a honra de
terceiros. Exemplo: O sujeito dizer que é corno. Nesse caso, estará ofendendo a honra da mulher.

Mirabete: É crime de injúria alguém afirmar que é filho de uma prostituta (PUTA). Nesse
caso, o sujeito passivo é a mãe do agente.

4.3. SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa com capacidade de entender a expressão ofensiva. Do contrário a


dignidade ou decoro da vítima não são ofendidos.

A expressão filho da puta ofende quem? O filho, pois a ele está sendo dirigida a ofensa. É
ele o objeto da ofensa. É a chamada “injúria oblíqua”.

Pessoa jurídica pode ser vítima de injúria? NÃO, pois pessoa jurídica não tem honra
subjetiva (dignidade ou decoro).

OBS: Mirabete entende que as pessoas jurídicas não podem ser vítimas de nenhum crime
contra a honra.

113
É punível a injúria contra os mortos?

Lembrando: Calúnia é punível e difamação não.

A injúria contra os mortos também não é prevista pela lei (A não-recepcionada lei de
imprensa previa), podendo o fato, conforme o caso, configurar o delito de vilipêndio a cadáver
(Mirabete).

A injúria cometida contra funcionário público no exercício das suas funções constitui crimes
de desacato (Mirabete).

OFENSA CONTRA OS 138 – CALÚNIA 139 – DIFAMAÇÃO 140 – INJÚRIA


MORTOS
É punida (vítima: Não é punida. Não é punida.
familiares).

4.4. TIPO OBJETIVO

A conduta é injuriar, ou seja, atribuir qualidade negativa a outrem, ofendendo dignidade ou


decoro (honra subjetiva).

Dignidade: Sentimento que tem o indivíduo sobre seu próprio valor moral ou social.

Decoro: Respeitabilidade do indivíduo.

É um crime de execução livre, vale dizer, pode ser praticado por palavras, escritos, gestos
ou até mesmo por omissão.

Exemplo de injúria por omissão: Ignorar ou não retribuir cumprimento, como forma de
humilhar a pessoa.

IMPORTANTE

Imputar determinado fato criminoso. Calúnia.


Imputar determinado fato desonroso. Difamação.
Atribuir qualidade negativa. Injúria.

Que crime configura imputar fato indeterminado/genérico/vago a alguém?

INJÚRIA. Conclusão: A imputação de fato pode configurar injúria, desde que seja vago,
genérico, impreciso.

Exemplo: Aquele funcionário vive metendo a mão nos cofres públicos.

4.4.1. Injúria absoluta X Injúria Relativa

Injúria absoluta - A expressão tem por si mesma, e para qualquer pessoa, significado
ofensivo, constante e unívoco.

Injúria relativa - A expressão assume caráter ofensivo se proferida em determinadas


circunstâncias de forma, tom, modo, tempo, lugar, pessoa etc.
114
4.4.2. Variações da língua

-Geográfica (diatópicas).

-Chamada sociocultural (diastráticas).

-Modalidade de expressão utilizada pelo agente (diafásicas).

4.5. TIPO SUBJETIVO

Crime punido apenas a título de dolo, exigindo-se a finalidade específica de ofender a


honra subjetiva da vítima (“animus injuriandi”). Todos animus comentados na calúnia, repetem-se
aqui como excludentes do dolo.

4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se quando a vítima toma conhecimento da imputação, dispensando efetivo dano


à sua honra. Trata-se de CRIME FORMAL.

A tentativa é cabível?

1ª C: NÃO se admite tentativa na injúria, pois no momento em que o sujeito ajuíza a queixa
é porque ele já tomou conhecimento da imputação e, portanto, o crime já se consumou.

2ª C: SIM. Quando a injúria é plurissubsistente (execução fracionada) admite tentativa.


Exemplo: O agente manda uma carta injuriosa para a vítima que, antes de recebê-la, vem a
morrer. Tomando conhecimento da carta, seus sucessores podem ingressar com queixa-crime
buscando a punição do agente por tentativa de injúria. Prevalece.

OBS: Zaffaroni admite a tentativa até mesmo na forma verbal (quando alguém tapa a boca
do sujeito).

4.7. EXCEÇÃO DA VERDADE

Calúnia: Em regra, é admissível. Três exceções (presidente e chefe de estado estrangeiro;


se o fato criminoso imputado constitui crime de ação penal privada; se o fato imputado já está
acobertado pela coisa julgada material).

Difamação: Em regra, não é admissível. Exceção: Ofensa à Funcionário Público em razão


da função.

Injúria? Não se admite e não existem exceções.

E a exceção da notoriedade é possível (art. 523 CPP)? NÃO, por duas razões:

A notoriedade está ligada à honra objetiva, enquanto a injúria ofende a honra subjetiva.

O art. 523 do CPP fala em fato imputado, enquanto a injúria não se trata de imputação de
fato, e sim de qualidade.

4.8. PERDÃO JUDICIAL

115
O perdão judicial, ato unilateral realizado pelo juiz (que dispensa a concordância do
acusado), é previsto no art. 140, §1º, in verbis:

Art. 140, § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:


I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Trata-se de um direito subjetivo do réu. Preenchidos os requisitos, o juiz deve perdoar. É um


poder-dever.

I – Provocação: ‘A’ provoca ‘B’, que responde com uma injúria. Aqui a provocação é
diversa de uma injúria. Exemplo: A dá um tapa e ‘B’ responde com injúria.

Nesse caso, o perdão judicial só beneficia ‘B’.

II – Retorsão imediata: ‘A’ provoca ‘B’, que responde com uma injúria. Aqui a provocação
constitui uma injúria.

Nesse caso, o perdão beneficia os dois sujeitos.

PROVOCAÇÃO (art. 140, §1º, I) RETORSÃO IMEDIATA (art. 140, §1º, II)
Ex.: tapa no rosto injúria. Ex.: xingamento (injúria)  injúria.
Perdão só beneficia o que foi provocado. Perdão beneficia os dois.

4.9. QUALIFICADORA: INJÚRIA REAL (ART. 140, §2º)

Art. 140, § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por


sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.

Trata-se de uma forma qualificada de injúria onde o agente se utiliza de vias de fato ou
violência para ofender a honra subjetiva da vítima.

Frise-se: A violência ou vias de fato não são utilizados como meio de ofender a integridade
física da vítima, mas sim como forma de humilhá-la.

Hungria: Mais do que a integridade física, o agressor quer atingir a alma.

Ex.: Puxão de cabelo, cuspir em alguém, tapa na cara.

Consequência

Detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Percebe-se, no entanto, que as vias de fato ficam absorvidas (não recebem punição
autônoma), vale dizer, somente há concurso de delitos quando a injúria for praticada mediante
violência.

O preceito secundário traz uma previsão de concurso de delitos necessário.

Prevalece na doutrina que se trata de concurso material necessário (art. 69 do CP), haja
vista a previsão de cumulação de penas. Nesse sentido, Mirabete.
116
Rogério Greco: Trata-se na realidade de um concurso formal impróprio (imperfeito)
necessário  Uma conduta, produzindo dois resultados (desígnios autônomos), com soma das
penas (cúmulo material), nos termos do art. 70, “in fine” do CP.

DEFENSORIA: Crítica à soma das penas: Bis in idem. A violência é usada para configurar
a forma qualificada da injúria e também para configurar o delito correspondente à violência.

4.10. QUALIFICADORA: INJÚRIA PRECONCEITO (ART. 140, §3º)

Art. 140, § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a


raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
de deficiência:
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Deixa de ser de menor
potencial ofensivo – pena máxima maior de 2 anos – para ser de médio
potencial ofensivo, entretanto cabe suspensão condicional do processo)

Injúria qualificada (art. 140, §3º CP) “Racismo Racismo (Lei 7.716/89)
impróprio”
O agente atribui qualidades negativas, fazendo O agente segrega a vítima do convício social.
referência a algum tipo de preconceito.

Ex’: Seu albino imundo! Ex’: Você não trabalha na minha escola porque é um
Ex’’: O argentino que chamou o Grafite de albino!
“macaquito”. Ex’’: se tivessem dito para o Madeira: “você não vai jogar
porque você é um negrusho safado”.
Prescritível Imprescritível
Afiançável Inafiançável
ANTES Lei 12.033/09. DEPOIS Lei 12.033/09 Ação pública incondicionada

-Ação penal privada -Ação pública condicionada


à representação

Trata-se da forma qualificada de injúria, onde o agente se utiliza de elementos


preconceituosos para atingir a honra subjetiva da vítima.

Não se confunde com os delitos de RACISMO previstos na Lei 7.716/89, nos quais o
preconceito é exteriorizado através de atos de segregação à vítima.

É possível o perdão judicial na injúria preconceito? NÃO.

Fundamentos:

a) A posição topográfica do perdão judicial permite concluir não se aplicar ao §3º (Se o
legislador quisesse estender o perdão à injúria qualificada teria o colocado como
disposição de encerramento).

b) A injúria preconceito consiste em violação séria à honra da vítima, ferindo uma das
metas fundamentais do Estado Democrático de Direito, qual seja, a dignidade da
pessoa humana, logo incompatível com o perdão judicial.

Exemplo: O sujeito retribui um tapa com uma injúria-preconceito.

117
Informativo 710 STF:

5. DISPOSIÇÕES COMUNS DOS CRIMES CONTRA A HONRA

5.1. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES): TODOS OS CRIMES CONTRA A


HONRA

5.1.1. Previsão legal

A majorante é aplicada a todos os crimes do capítulo.

CP Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um


terço, se qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da
calúnia, da difamação ou da injúria.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria.
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro.

5.1.2. Análise do art. 141 CP

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:

I - Contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro

Lembrando que na calúnia – previsto no dispositivo referente – e na difamação, nos casos


deste inciso, não cabe exceção da verdade

Fundamento da majoração quanto ao Presidente: Ofender o Presidente equivale a ofender


todos os cidadãos.

OBS: No caso de calúnia e difamação, se houver motivação política, tratar-se-á de crime


político, nos termos da Lei de Segurança Nacional.

Fundamento da majoração quanto à autoridade estrangeira: A ofensa ao chefe de governo


estrangeiro pode estremecer relações internacionais das quais o Brasil participa.

II - Contra funcionário público, em razão de suas funções

Lembrando que somente neste caso admite-se exceção da verdade na difamação.

118
Não basta ofender o funcionário; a ofensa deve ser relacionada ao exercício a função
(propter officium).

OBS: Se a ofensa se der na presença do funcionário, pode-se configurar o delito de


desacato, mais grave.

Fundamento: A ofensa atrapalha o andamento da vida funcional da vítima, prejudicando,


consequentemente, a Máquina Administrativa.

OBS: Mirabete entende que o funcionário público para esses fins abrange tanto art. 327,
caput, quanto o art. 327, §1º.

CRIME CONTRA A HONRA DE FUNCIONÁRIO CRIME DE DESACATO (ART. 331)


PÚBLICO, MAJORADO (ART. 141, II)
Servidor ausente. Servidor presente (vendo ou ouvindo).

Pela televisão, telefone etc.: crime contra a honra, o funcionário não está presente.

III - Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia,
da difamação ou da injúria.

Várias pessoas: Prevalece que devem estar presentes pelo menos 03 testemunhas, não
computando autores, coautores, partícipes e pessoas que não conseguem entender de alguma
forma a expressão ofensiva. Em regra, a vítima também não é computada, salvo quando é
testemunha de outro crime contra a honra.

Exemplo: Caso onde o agente ofende ao mesmo tempo 04 pessoas. Três dessas pessoas
são computadas como testemunhas em cada ofensa isoladamente considerada. (Bento de Faria
se contenta com 02).

É imprescindível ainda que o agente tenha conhecimento da presença de várias pessoas.

Meio que facilite a divulgação de calúnia, difamação ou injúria: IMPRENSA, alto-falante,


palanque.

OBS: O crime contra a honra que antes era disciplinado pela Lei de Imprensa agora
configura forma qualificada do CP.

ANTES ADPF 130 DEPOIS ADPF 130


Ofensa por meio da imprensa não sofria esta Aqui se subsumi a ofensa por meio de imprensa (art.
majorante (lei especial) 141, II, segunda parte)

IV - Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto


no caso de injúria.

Motivo da exceção: Evitar bis in idem com a injúria qualificada pelo preconceito.

Lembrando que o dolo do agente deve abranger todas essas circunstâncias pessoais
(responsabilidade penal subjetiva). Em não sabendo das qualidades da vítima, o agente age em
erro de tipo.

119
Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa, aplica-se a pena em dobro.

Trata-se da chamada ofensa mercenária.

Bitencourt: Ambos (mandante e executor) devem responder com a pena majorada.

Greco: Somente o executor deve ter a pena majorada, até porque nada impede que o
mandante haja impelido por algum motivo relevante, o que se tornaria totalmente incompatível
com a torpeza do crime mercenário.

Há doutrina tratando isto como se fosse qualificadora. Está errado. É majorante.

5.2. HIPÓTESES DE EXCLUSÃO DE CRIME: INJÚRIA e DIFAMAÇÃO (art. 142)

5.2.1. Previsão legal

CP Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:


I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.

Esse dispositivo só se aplica à INJÚRIA E DIFAMAÇÃO. A calúnia jamais é beneficiada por


essas hipóteses.

5.2.2. Natureza jurídica do art. 142

1ª C (PREVALECE): Causa especial de exclusão da ilicitude, pois configuram estrito


cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito (Damásio).

2ª C: Causa de exclusão da punibilidade (Noronha, Hungria e Fragoso).

3ª C: Causa de exclusão de elemento subjetivo do tipo - intenção de ofender.

4ª C: Causa de atipicidade, para os adeptos da tipicidade conglobante (conforme o que diz


Damásio).

5.2.3. Análise do art. 142

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:

I - A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;

Trata-se da chamada imunidade judiciária, que abrange as ofensas proferidas em


audiência ou nos autos do processo, levada a efeito pela parte ou por seu procurador.

120
É imprescindível que a ofensa tenha conexão com a causa discutida. Não pode a parte
usar de uma petição ao juízo para chamar a outra parte de corno, por exemplo.

Imunidade do Advogado: O advogado também é imune pelas opiniões e manifestações,


nos termos do art. 133 da CF/88, que é regulamentado pelo Estatuto da Advocacia e da OAB,
como já analisamos anteriormente (imunidade profissional).

A doutrina e jurisprudência divergem quanto à existência de imunidade quanto às ofensas


irrogadas contra magistrado.

Ministério Público tem imunidade?

Greco e Nucci dizem que só tem imunidade quanto atuam como parte; respondendo por
ofensas quando atua como fiscal da lei.

Sanches: Tem imunidade prevista no art. 41, V da Lei 8.625/93 (LONMP).

Juiz tem imunidade?

Greco entende que não, pois aquele que tem o dever de conduzir uma audiência não pode
se deixar influenciar pelo calor das discussões.

Sanches diz que tem imunidade com base no Art. 23 do CP (estrito cumprimento do dever
legal ou exercício regular do direito).

Lembrando que todos os atos, palavras e manifestações que desbordem do razoável


constituem excesso punível. Por isso, afirma-se que essa imunidade é relativa.

II - A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando


inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;

Trata-se da chamada Imunidade literária, artística ou científica.

É uma imunidade relativa, como expressamente prevê a parte final do dispositivo.

Essa excludente se baseia, diretamente, na falta de dolo de ofender do agente, sendo, por
isso, causa de atipicidade.

III - O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou


informação que preste no cumprimento de dever do ofício.

Trata-se da chamada Imunidade funcional.

Hungria e Fragoso: É uma imunidade absoluta, ilimitada, irrestrita. Não é o que prevalece.

Entretanto, prevalece que essa imunidade não agasalha o funcionário quando presente o
excesso.

Parágrafo único - Nos casos dos incisos I (judiciária) e III (funcional),


responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.

Terceiros que dão publicidade às ofensas acobertadas pelas imunidades judiciária e


funcional respondem pelo delito. Diferente é o caso da publicidade da crítica, que, como já vimos,
é fato atípico, logo não é punível.

121
5.3. RETRATAÇÃO: CALÚNIA E DIFAMAÇÃO

Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia
ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-
á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a
ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)

Retratar-se é desdizer-se, retirar o que disse, trazer a verdade novamente à tona.

Trata-se de uma causa de extinção da punibilidade, declarada pelo juiz,


independentemente de aquiescência do querelante.

OBS: A retratação extingue a punibilidade, mas não isenta o querelado de


responsabilidade civil.

A retratação como causa de isenção de pena só é cabível na calúnia e na difamação, não


sendo admissível na injúria.

OBS: A lei de imprensa também abrangia a retratação da injúria.

A retratação só é cabível nos crimes contra a honra processados por ação penal privada (o
dispositivo é claro ao mencionar QUERELADO). Como veremos a seguir, existem casos
excepcionais onde o crime de processa por ação penal pública condicionada.

Momento da retratação

Prevalece que deve ser realizada até a publicação da sentença (decisão de 1º grau). A
retratação em grau de recurso gera no máximo a atenuante do art. 65, III, ‘b’ do CP.

CP Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


...
III - ter o agente:
...
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do
julgamento, reparado o dano;

E na denunciação caluniosa (art. 339 CP) a retratação extingue a punibilidade? Não.


Isso porque aqui não ofendemos somente a honra, mas a administração da justiça que já foi
movida inútil e criminosamente.

A retratação do caluniador se estende aos concorrentes?

Não, pois o artigo fala em QUERELADO é isento de pena. É uma circunstância subjetiva
incomunicável.

Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


calúnia ou da difamação, fica isento de pena.

E no falso testemunho, a retratação se estende aos concorrentes?

122
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
....
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em
que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

Vamos trabalhar com a retratação no caso de calúnia e difamação.

FALSO TESTEMUNHO OU PERÍCIA ART. 342§2º CALÚNIA E DIFAMAÇÃO ART. 143 CP


CP
“O fato deixa de ser punível” “O querelado fica isento de pena”.
A retração é circunstância objetiva comunicável A retratação é circunstância subjetiva incomunicável
aos concorrentes. Perceba: ao lado se falava em aos concorrentes.
querelado, aqui se fala em FATO.
Termo final: até a sentença de primeiro grau que Termo final: até a sentença de primeiro grau que
encerra o processo em que ocorreu o falso. encerra o processo criminal por calúnia ou
difamação.

5.3.1. Lei 13.188/2015

A Lei nº 13.188/2015 (trata do direito de resposta) alterou o Código Penal, acrescentando


um parágrafo logo em seguida ao art. 143:

Art. 143. (...)


Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia
ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-
á, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a
ofensa.

Desse modo, a Lei nº 13.188/2015 acrescenta mais um requisito para que a retratação
tenha efeitos penais: exige-se agora, de forma expressa, que a retratação ocorra, se assim
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

5.4. PEDIDO DE EXPLICAÇÕES: TODOS OS CRIMES CONTRA A HONRA

Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia,


difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em
juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
satisfatórias, responde pela ofensa.

Conceito: Medida preparatória e facultativa para o oferecimento da queixa quando, em


virtude dos termos empregados, não se mostra evidente a intenção de ofender a honra, gerando
dúvidas.

OBS: O pedido de explicações não interrompe ou suspende o prazo decadencial,


tampouco o prazo prescricional.

123
A resposta ao pedido de explicações também é facultativa. A ausência de resposta não
implica em presunção de culpa do suposto ofensor, tampouco em condenação antecipada.

Se a parte ofendida deseja perseguir a pena do ofensor deverá ingressar com a ação
penal, que deverá seguir todo o devido processo, até que o juiz decida se houve ou não a ofensa
à honra.

O juiz do rito das explicações sequer aprecia ou julga as explicações dadas. Somente o
juiz da eventual ação penal poderá valorar as explicações, caso no qual poderá rejeitar a peça
acusatória por inépcia (falta de justa causa) se entender que as explicações foram suficientemente
esclarecedoras no sentido de afastar a tipicidade da conduta.

Rito do pedido de explicações em juízo: Conforme Bitencourt, na ausência de rito


específico, deve-se seguir o rito das notificações e interpelações judiciais previsto nos arts. 726 a
729 do CPC/2015.

O pedido de explicações deve ser formulado no juízo competente para processar a


autoridade detentora de foro especial.

5.5. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede


mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º (injúria real), da
violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no
caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código (presidente da república
e governo estrangeiro), e mediante representação do ofendido, no caso do
inciso II do mesmo artigo (funcionário público), bem como no caso do § 3o
do art. 140 (injúria preconceito) deste Código.

Antes da Lei 12.033/09 Depois da Lei 12.033/09


Regra: Ação privada.
Exceções:
 Injúria real com violência se procede mediante ação privada (se resulta lesão leve, condicionada à
representação).

 Injúria real com vias de fato é ação privada.

 Crime contra a honra do Presidente da República ou chefe estrangeiro (ação pública condicionada
à requisição do Ministro da Justiça, salvo de crime político, caso em que é incondicionada).

 Crime contra a honra de funcionário público, em razão da sua função (ação pública condicionada
à representação).
OBS: Súmula 714: Legitimidade concorrente entre o ofendido e o MP.
Injúria preconceito (ação penal privada) Injúria preconceito (agora é pública condicionada)

STF Súmula 714 É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante


queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido,
para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.

124
OBS: A opção pela representação torna preclusa a queixa-crime (STF HC 84.659-9). Ver
processo penal: legitimidade concorrente. Preclusão lógica e consumativa.

Consequências da escolha pela representação (vantagens do agente):

Queixa Representação
a) Cabe perdão do ofendido. a) Não cabe perdão do ofendido;
b) É possível perempção. b) Não é possível perempção;
c) Cabe renúncia. c) Em regra, não cabe renúncia.

A alteração relativa à ação penal da injúria preconceito retroage? Duas correntes:

1ª C: É norma processual, portanto com aplicação imediata (tempus regit actum).

2ª C (PREVALECE): A alteração é prejudicial ao réu na medida em que aumenta o poder


de punir do Estado (pois retira do acusado três causas extintivas da punibilidade), logo não pode
retroagir. Assim, os fatos anteriores à lei continuam dependendo de queixa.

Ocorre aqui o mesmo que com os crimes sexuais, bem como o delito de sequestro
qualificado pela motivação libidinosa (antigo rapto violento).

5.6. UMA CONDUTA: CALÚNIA, DIFAMAÇÃO e INJÚRIA

João, síndico do prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação
de contas.

Pedro escreveu, então, uma carta, distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia
que João:

 No mês de 09/2014, desviou R$ 10 mil da conta do condomínio em proveito próprio


(calúnia);

 Que, no dia da assembleia ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não
conseguia parar em pé (difamação); e

 Que ele era um gordo, feioso e burro (injúria).

125
João, por intermédio de advogado, ajuizou ação penal privada (queixa-crime) contra Pedro,
imputando-lhe os delitos de calúnia (art. 139), difamação (art. 140) e injúria (art. 141 do CP).

Em sua defesa, Pedro alegou que João, ao imputar-lhe três crimes por conta de um
mesmo fato (uma mesma carta) estaria incorrendo em bis in idem e que a acusação de calúnia,
por ser mais grave, deveria absorver as demais. A tese do querelado (Pedro) está correta?

NÃO. É possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia,
de difamação e de injúria ao agente que divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar
os referidos delitos, sobretudo no caso em que os trechos utilizados para caracterizar o crime de
calúnia forem diversos dos empregados para demonstrar a prática do crime de difamação.

A situação não caracteriza ofensa ao princípio que proíbe o bis in idem, já que os crimes
previstos nos arts. 138, 139 e 140 do CP tutelam bens jurídicos distintos, não se podendo
asseverar, de antemão, que o primeiro absorveria os demais. Ademais, constatado que diferentes
afirmações constantes da missiva atribuída ao réu foram utilizadas para caracterizar os crimes de
calúnia e de difamação, não se pode afirmar que teria havido dupla persecução pelos mesmos
fatos. De mais a mais, ainda que os dizeres também sejam considerados para fins de evidenciar o
cometimento de injúria, o certo é que essa infração penal, por tutelar bem jurídico diverso daquele
protegido na calúnia e na difamação, a princípio, não pode ser por elas absorvido.

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

1. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO

1.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere


privado:
Pena - reclusão, de um a três anos. (é de médio potencial ofensivo, cabe
suspensão condicional do processo).

1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Liberdade de movimento da pessoa (ir, vir e ficar).

A liberdade é um bem disponível ou indisponível? HOJE, prevalece que é


DISPONÍVEL, ou seja, o consentimento do ofendido exclui a ilicitude do crime. Se assim não
fosse, os direitos do BBB seriam agentes do crime de sequestro.

1.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

126
OBS: Se o sujeito ativo for funcionário público, pode ocorrer crime de abuso de autoridade.

1.4. SUJEITO PASSIVO

Prevalece que qualquer pessoa pode ser vítima, incluindo menores de idade, insanos e
deficientes físicos.

OBS: Tem uma minoria doutrinária que diz que a vítima somente pode ser pessoa com
liberdade própria de movimento.

Se a vítima for Presidente da República, do SF, da CD ou do STF, o crime será político,


desde que com motivação política (LSN, art. 28).

1.5. TIPO OBJETIVO

A conduta é privar a liberdade de alguém, sendo o sequestro e o cárcere privado as formas


pelas quais pode ocorrer essa privação. Parte da doutrina faz uma diferenciação entre eles:

Sequestro: Privação da liberdade sem confinamento; sem encerramento em recinto


fechado. Exemplo: Vítima que fica privada da liberdade em sítio, Fazenda, ilha etc.

Cárcere privado: Privação da liberdade com confinamento. Exemplo: Vítima fica privada da
liberdade de locomoção no cômodo de um imóvel.

Interesse prático na diferenciação: Fixação da pena-base, uma vez que o cárcere privado,
em princípio, provoca maior sofrimento à vítima, gerando maior censurabilidade da conduta (art.
59).

Crime de execução livre

- A privação da liberdade pode ser realizada através de violência, grave ameaça, fraude ou
qualquer outro meio apto a produzir o resultado.

- O crime pode ser cometido por ação (detenção) ou omissão (retenção). Exemplo de
sequestro por omissão: médico que se recusa a liberar paciente já curado.

1.6. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de dolo, sem finalidade específica (o sequestro é um crime


subsidiário). Se houver finalidade específica, podemos ter outros crimes:

a) Se a Finalidade for escravizar de fato a vítima  Configura-se o crime de redução à


condição análoga a de escravo.

b) Se a finalidade for econômica  Pode configurar-se o delito de extorsão mediante


sequestro ou extorsão qualificada pela privação da liberdade (sequestro-relâmpago).

c) Se a finalidade for fazer justiça privada  Exercício arbitrário das próprias razões.

d) Se a finalidade for causar na vítima intenso sofrimento físico ou mental  Pode


configurar o crime de tortura.

127
1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se com a efetiva impossibilidade de locomoção da vítima (crime material). É um


crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo.

OBS: O delito de sequestro NÃO EXIGE, para sua consumação, o deslocamento da vítima
de um local para outro.

A consumação do crime depende de um tempo razoável de privação da liberdade?


Duas correntes:

1ª C (PREVALECE): O crime se consuma independentemente do tempo de privação da


liberdade. A variação no tempo de privação pode, eventualmente, interferir na fixação da pena.

2ª C: É indispensável tempo juridicamente relevante da privação, caso contrário haverá


mera tentativa.

1.8. FORMAS QUALIFICADAS (art. 148, §1º e §2º)

1.8.1. Previsão legal

Art. 148, § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:


I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do
agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde
ou hospital;
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da
detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

1.8.2. Análise do art. 148, §1º

§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:

Não mais cabe suspensão condicional do processo.

I – Se Vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou


maior de 60 anos

Ascendente ou descendente: Abrange também o vínculo afetivo, nos termos do art. 227,
VII, § 6º da CF/88.

Cônjuge ou companheiro: O companheiro só foi introduzido com a Lei 11.106/05. Antes da


Lei, não era possível estender a qualificadora ao companheiro, sob pena de analogia in malam
partem.

Vítima maior de 60 anos: Incluída pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). A qualificadora
incide mesmo que a maioridade ocorra somente no decorrer da privação da liberdade.

128
OBS1: Esses predicados da vítima têm que fazer parte do dolo do agente, sob pena de
responsabilidade penal objetiva.

OBS2: O rol é taxativo. Nota-se que não estão abrangidos os parentes colaterais e os
afins.

II - Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou


hospital

A vítima é internada sem necessidade para tal, mas sim com a disfarçada finalidade de
afastá-la do convívio social. É a chamada Internação fraudulenta ou simulada.

III - Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias

É uma prova de que a corrente que exige prazo razoável de privação está errada.

Os dias de privação são contados até o momento em que a vítima efetivamente estiver
livre. Trata-se de prazo material.

IV - Se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos

A idade da vítima deve fazer parte do dolo do agente.

A vítima deve ser criança ou adolescente em algum momento da privação, mesmo que
venha a ser liberada com mais de 18 anos.

V - Se o crime é praticado com fins libidinosos.

Finalidade específica que qualifica o crime. Essa qualificadora foi acrescentada pela Lei
11.106/05. Antes da referida Lei, a conduta analisada configurava o extinto crime de rapto
violento, previsto no art. 219 do CP.

Antes da Lei 11.106/05 Depois da Lei 11.106/05


Privação + Fins libidinosos: Privação + Fins libidinosos:
- Rapto violento (art. 219). -Migrou para o art. 148, §1º, V (princípio da continuidade
normativo-típica).
- Rapto consensual (art. 220). -Supressão da figura criminosa (‘Abolitio criminis’).

1.8.3. Penas

Antes da Lei 11.106/05 Depois da Lei 11.106/05


Rapto violento  Pena 02 a 04 anos. Sequestro qualificado  Pena 02 a 05 anos.

Fato ocorrido na Lei Velha. Processo na Lei Nova. Qual Lei se aplica?

Rogério: Como estamos diante da continuidade normativo-típica, o agente deve ser


condenado com o único tipo penal que abrange o comportamento, mas com a pena antiga (ultra
atividade benéfica). Não pode punir o sujeito com base em tipo penal que não mais existe.

Lembrar a Súmula 711 do STF: Ao sequestro que começou na Lei anterior e continuou na
lei posterior é aplicável esta última, ainda que seja mais maléfica ao agente.

129
1.8.4. Ação penal

Antes da Lei 11.106/05 Depois da Lei 11.106/05


Rapto violento  Ação penal privada. Sequestro qualificado  Ação penal pública
incondicionada.

Fato ocorrido na Lei Velha. Relatório do inquérito ocorrido na Lei Nova. A ação deve
ser intentada por queixa ou denúncia?

A queixa permite: renúncia, perdão, decadência e perempção. A denúncia não permite


nada disso.

Ou seja, se aplicar a Lei nova, quatro causas extintivas da punibilidade estão sendo
subtraídas do réu, vale dizer, o poder de punir estatal é ampliado.

Conclusão: Para os fatos ocorridos na Lei Velha, a ação continua sendo privada, sob pena
de retroatividade maléfica ao acusado.

Isso é o que tem prevalecido (exatamente o que ocorreu com os crimes sexuais e com a
injúria qualificada pelo preconceito).

1.8.5. Análise do art. 148, §2º

§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da


detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Não basta causar sofrimento físico ou moral; o sofrimento deve ser GRAVE e em
decorrência dos maus-tratos ou da natureza da detenção. Se dessas condutas resultar lesão
corporal ou morte, haverá concurso material de delitos.

DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO


DOMICÍLIO

Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra
a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em
suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o
emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente
à violência.
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário
público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades
estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em
suas dependências:

130
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar
prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto
aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

Informativo 549 STJ:

Imagine a seguinte situação adaptada:

Dezenas de manifestantes foram até a Delegacia de Polícia Federal cobrar agilidade na


conclusão de um inquérito policial. Na recepção da Delegacia, o grupo foi informado que o
Delegado somente receberia em seu gabinete para conversar um único representante do
movimento. Os manifestantes não aceitaram e, então, invadiram o gabinete do Delegado para
protestar. Ressalte-se que não houve nenhum ato de ameaça ou violência por parte dos
manifestantes.

Os manifestantes cometeram algum delito? Qual?

Praticaram invasão de domicílio, crime previsto no art. 150 do CP:

Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Mas o gabinete do Delegado pode ser considerado “casa”?

SIM, o gabinete de Delegado de Polícia, embora faça parte de um prédio ou de uma


repartição públicos, pode ser considerada “casa” para fins penais. Isso porque se trata de um
compartimento não aberto ao público em geral, salvo com a autorização do seu titular. Assim,
enquadra-se no inciso III do § 4º do art. 150:

§ 4º - A expressão "casa" compreende:


III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade.

131
Para o STJ, sendo a sala de um servidor público um compartimento com acesso restrito e
dependente de autorização, e, por isso, um local fechado ao público, onde determinado indivíduo
exerce suas atividades laborais, há o necessário enquadramento no conceito de “casa” previsto
no art. 150 do CP.

Se considerássemos de forma diferente, isso significaria a ausência de proteção à


liberdade individual de todos aqueles que trabalham em prédios públicos, já que poderiam ter os
recintos ou gabinetes invadidos por terceiros não autorizados a qualquer momento, o que não se
coaduna com o objetivo do tipo penal em questão.

Se tal situação fosse permitida, o próprio serviço público ficaria inviabilizado, pois qualquer
cidadão que quisesse protestar poderia ingressar no prédio público, inclusive nos espaços
restritos à população, sem que tal conduta caracterizasse ilícito.

No caso concreto, quem será competente para julgar esse delito?

Justiça Federal, por ter sido praticado contra bem e serviço da União (art. 109, IV, da
CF/88).

DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE


CORRESPONDÊNCIA

1. LEI N. 12.737/2012 (“LEI CAROLINA DIECKMANN”)

*Dizer o Direito.

1.1. INTRODUÇÃO

Foi publicada a Lei n. 12.737/2012, chamada pela imprensa de “LEI CAROLINA
DIECKMANN”, por tratar da tipificação do crime de invasão de computador alheio, situação da
qual a atriz foi vítima à época, quando tal conduta não era prevista, de forma específica, como
infração penal.

1.2. SOBRE O QUE TRATA A LEI N. 12.737/2012

Esta Lei altera o Código Penal, trazendo a tipificação criminal do que ela chama de “delitos
informáticos”.

Alterações no Código Penal: a Lei n. 12.737/2012 promoveu as seguintes alterações no


Código Penal:

a) Acrescentou os arts. 154-A e 154-B, inserindo um novo tipo penal denominado de


“Invasão de dispositivo informático”;

132
b) Inseriu o § 1º ao art. 266 prevendo como crime a conduta de interromper “serviço
telemático ou de informação de utilidade pública”;

c) Inseriu o parágrafo único ao art. 298 estabelecendo que configura também o crime de
falsidade de documento particular (art. 298) a conduta de falsificar ou alterar cartão de
crédito ou de débito.

Vejamos cada uma dessas inovações.

2. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO

2.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede


de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança
e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

2.2. BEM JURÍDICO PROTEGIDO

O bem jurídico protegido é a PRIVACIDADE, gênero do qual são espécies a INTIMIDADE


e a VIDA PRIVADA. Desse modo, esse novo tipo penal tutela valores protegidos
CONSTITUCIONALMENTE (art. 5º, X, da CF/88).

2.3. SUJEITO ATIVO

Pode ser qualquer pessoa (crime comum). Obviamente que não será sujeito ativo desse
crime a pessoa que tenha autorização para acessar os dados constantes do dispositivo.

2.4. SUJEITO PASSIVO

É o titular do dispositivo.

Em regra, a vítima é o proprietário do dispositivo informático, seja ele pessoa física ou


jurídica. No entanto, é possível também identificar, em algumas situações, como sujeito passivo, o
indivíduo que, mesmo sem ser o dono do computador, é a pessoa que efetivamente utiliza o
dispositivo para armazenar seus dados ou informações que foram acessados indevidamente.

É o caso, por exemplo, de um computador utilizado por vários membros de uma casa ou
no trabalho, onde cada um tem perfil e senha próprios. Outro exemplo é o da pessoa que mantém
um contrato com uma empresa para armazenagem de dados de seus interesses em servidores
para acesso por meio da internet (“computação em nuvem”, mais conhecida pelo nome em inglês,
qual seja, cloud computing).

2.5. ANÁLISE DAS ELEMENTARES DO TIPO

133
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede
de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança
e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

2.5.1. Invadir

Ingressar, sem autorização, em determinado local. A invasão de que trata o artigo é


“virtual”, ou seja, no sistema ou na memória do dispositivo informático.

2.5.2. Dispositivo informático

Em informática, dispositivo é o equipamento físico (hardware) que pode ser utilizado para
rodar programas (softwares) ou ainda para ser conectado a outros equipamentos, fornecendo uma
funcionalidade. Exemplos: computador, tablet, smartphone, memória externa (HD externo), entre
outros.

2.5.3. Alheio

O dispositivo no qual o agente ingressa deve pertencer a terceiro. É prática comum entre
os hackers o desbloqueio de alguns dispositivos informáticos para que eles possam realizar certas
funcionalidades originalmente não previstas de fábrica. Como exemplo comum tem-se o
desbloqueio do IPhone ou do IPad por meio de um software chamado “Jailbreak”. Caso o hacker
faça o invada o sistema de seu próprio dispositivo informático para realizar esse desbloqueio, não
haverá o crime do art. 154-A porque o dispositivo invadido é próprio (e não alheio).

2.5.4. Conectado ou não à rede de computadores

Apesar do modo mais comum de invasão em dispositivos ocorrer por meio da internet, a
Lei admite a possibilidade de ocorrer o crime mesmo que o dispositivo não esteja conectado à
rede de computadores. É o caso, por exemplo, do indivíduo que, na hora do almoço, aproveita
para acessar, sem autorização, o computador do colega de trabalho, burlando a senha de
segurança.

2.5.5. Mediante violação indevida de mecanismo de segurança

Somente configura o crime se a invasão ocorrer com a violação de mecanismo de


segurança imposto pelo usuário do dispositivo. Retomando o exemplo anterior, não haverá,
portanto, o crime se o indivíduo, na hora do almoço, aproveita para acessar o computador do
colega de trabalho, que não é protegido por senha ou qualquer outro mecanismo de segurança.

Também não haverá crime se alguém encontra o pen drive (não protegido por senha) de
seu colega de trabalho e decide vasculhar os documentos e fotos ali armazenados.

Trata-se de uma falha da Lei porque a privacidade continua sendo violada, mas não
receberá punição penal.

134
Exemplos de mecanismo de segurança: firewall (existente na maioria dos sistemas
operacionais), antivírus, anti-malware, antispyware, senha para acesso, entre outros.

2.5.6. Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo.

Ex.: hacker que ingressa no computador de uma atriz para obter suas fotos lá
armazenadas.

Atenção: se houver autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo, não haverá


crime. Ex.: determinado banco contrata uma empresa especializada em segurança digital para
que faça testes e tente invadir seus servidores.

2.5.7. Ou com o fim de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.

É o caso, por exemplo, do indivíduo que invade o computador e instala programa espião
que revela as senhas digitadas pela pessoa ao acessar sites de bancos.

2.6. ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, que deve ser acrescido de um especial fim de agir (“dolo específico”). Qual é o
ESPECIAL FIM DE AGIR desse tipo penal?

A invasão deve ocorrer com o objetivo de:

a) Obter, adulterar ou destruir dados ou informações do titular do dispositivo; ou

b) Instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.

2.7. CONSUMAÇÃO

Cuida-se de CRIME FORMAL.

Consuma-se com a invasão, não se exigindo a ocorrência do resultado naturalístico. Desse


modo, a obtenção, adulteração ou destruição de dados do titular do dispositivo ou a instalação de
vulnerabilidades não precisam ocorrer para que o crime se consuma. Em regra, para que seja
provada a invasão, será necessária a realização de perícia (art. 158 do CPP). No entanto, é possível
que o delito seja comprovado por outros meios, como a prova testemunhal (art. 167 do CPP).

2.8. INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO (ART. 154-A) X FURTO MEDIANTE


FRAUDE (ART. 155, § 4º, II)

INVASÃO DE DISPOSITIVO FURTO MEDIANTE FRAUDE


INFORMÁTICO

Art. 154-A. INVADIR DISPOSITIVO Art. 155 - SUBTRAIR, para si ou para outrem, coisa
INFORMÁTICO alheio, conectado ou não à rede alheia móvel:
de computadores, mediante violação indevida de
mecanismo de segurança e com O FIM DE Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
OBTER, ADULTERAR OU DESTRUIR DADOS OU

135
INFORMAÇÕES SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA ...
OU TÁCITA DO TITULAR DO DISPOSITIVO OU
INSTALAR VULNERABILIDADES PARA OBTER § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e
VANTAGEM ILÍCITA: multa, se o crime é cometido:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ...


e multa.
II - com abuso de confiança, ou MEDIANTE
... FRAUDE, escalada ou destreza;

§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço


se da invasão resulta prejuízo econômico.

Se o agente invade o computador da vítima, lá instala um malware (programa


malicioso), descobre sua senha e subtrai valores de sua conta bancária, comete qual
delito?

O entendimento consolidado, até então, era o de que se tratava de furto mediante fraude
(art. 155, § 4º, II).

Essa posição deve ser alterada com o novo art. 154-A? A referida conduta pode ser
classificada como invasão de dispositivo informático?

Reputo que NÃO. O art. 154-A prevê como crime invadir computador, mediante violação
indevida de mecanismo de segurança, com o fim de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita. O art. 155, § 4º, por sua vez, pune a conduta de subtrair coisa alheia móvel (dinheiro, p. ex.)
mediante fraude (inclusive por meio VIRTUAL).

Desse modo, parece que a conduta narrada se amolda, de forma mais específica e
completa, no art. 155, § 4º, sendo o delito do art. 154-A o crime meio para a obtenção da
finalidade do agente, que era a subtração. Aplica-se, no caso, o princípio da consunção, punindo o
agente apenas pelo furto, ficando a invasão absorvida. Em suma, essa conduta NÃO DEIXOU de
ser furto.

Vamos, no entanto, imaginar outras situações correlatas:

a) O agente TENTA invadir o computador da vítima com o objetivo de instalar o malware


e obter a senha para realizar o furto, MAS NÃO CONSEGUE: responderá por
tentativa de invasão (art. 154-A) e não por tentativa de furto qualificado (art. 155,
§ 4º, II);

b) O agente INVADE o computador da vítima com o objetivo de instalar o malware e obter


a senha para realizar o furto, porém NÃO INICIA os atos executórios da subtração:
responderá por invasão consumada (art. 154-A) e não por tentativa de furto
qualificado (art. 155, § 4º, II);

c) O agente INVADE o computador da vítima com o objetivo de instalar o malware e obter


a senha para realizar o furto, INICIA O PROCEDIMENTO PARA SUBTRAÇÃO dos
valores, mas NÃO CONSEGUE por circunstâncias alheias à sua vontade: responderá
por tentativa de furto qualificado (art. 155, § 4º, II);

136
d) O agente invade o computador da vítima com o objetivo de instalar o malware e obter a
senha para realizar o furto, conseguindo efetuar a subtração dos valores: responderá
por furto qualificado consumado (art. 155, § 4º, II).

2.9. OBTENÇÃO DE VANTAGEM

Para a consumação do crime do art. 154-A não se exige que o invasor tenha obtido
qualquer vantagem. Basta que tenha havido a INVASÃO. No entanto, se houver prejuízo
econômico por parte da vítima, haverá causa de aumento prevista no § 2º do art. 154-A:

CP 154-A § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão


resulta prejuízo econômico.

Atenção: se a vítima sofreu prejuízo econômico porque o invasor dela SUBTRAIU valores,
não haverá o crime do art. 154-A, com essa causa de aumento do § 2º, mas sim o delito de furto
qualificado. Isso porque, conforme explicado acima, o furto é mais específico que o delito de
invasão.

Quando então seria o caso de aplicar o § 2º?

Nas hipóteses em que da invasão ocasionar prejuízo, desde que não seja um delito mais
específico.

Ex.: incidirá essa causa de aumento se, por conta da invasão, a vítima teve sua máquina
danificada, precisando de consertos.

2.10. TENTATIVA

A tentativa é perfeitamente possível.

Ex.: o agente iniciou o processo de invasão do computador de um terceiro, mas não


conseguiu violar o mecanismo de segurança do dispositivo.

2.11. PENA

A pena é irrisória e representa proteção insuficiente para um bem jurídico tão importante.

Em virtude desse quantum de pena, será muito frequente a ocorrência de prescrição


retroativa pela pena concretamente aplicada.

2.12. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

O art. 154-A do CP é crime de menor potencial ofensivo, sujeito à competência do Juizado


Especial Criminal (art. 61 da Lei n. 9.099/95).

CP. Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à


rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de
segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações

137
sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Lei 9.099. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial


ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
não com multa.

Em regra, nos delitos sujeitos ao Juizado Especial Criminal o instrumento de apuração do


fato utilizado pela autoridade policial é o termo circunstanciado (art. 69 da Lei n. 9.099/95).

Lei 9.099. Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da


ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente
ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições
dos exames periciais necessários.

Entretanto, nos casos do art. 154-A do CP muito provavelmente o termo circunstanciado


não será suficiente para apurar a autoria e materialidade do delito, sendo quase que
imprescindível a instauração de inquérito policial, considerando que, na grande maioria dos casos,
será necessária a realização de busca e apreensão na residência do investigado, perícia e oitiva
de testemunhas etc.

2.13. DELEGACIAS ESPECIALIZADAS EM CRIMES VIRTUAIS

Vale ressaltar que a Lei n. 12.735/2012, publicada na mesma data desta Lei, determinou
que os órgãos da polícia judiciária (Polícia Civil e Polícia Federal) deverão estruturar setores e
equipes especializadas no combate à ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de
comunicação ou sistema informatizado (art. 4º).

Lei n. 12.735/2012. Art. 4o Os órgãos da polícia judiciária estruturarão, nos


termos de regulamento, setores e equipes especializadas no combate à
ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou
sistema informatizado.

Em suma, as polícias deverão criar delegacias ou núcleos especializados em crimes


cibernéticos, como, aliás, já existem em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, entre
outros.

2.14. FIGURA EQUIPARADA

CP Art. 154-A § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece,


distribui, vende ou difunde DISPOSITIVO OU PROGRAMA DE
COMPUTADOR com o intuito de permitir a prática da conduta definida no
caput.

É o caso, por exemplo, do indivíduo que desenvolve um programa do tipo “cavalo de troia”
(trojan horse), ou seja, um malware (software malicioso) que, depois de instalado no computador,
libera uma porta para que seja possível a invasão da máquina.

138
Em alguns cursos de informática, o professor desenvolve softwares espiões para testarem
a segurança da rede e aprimorarem técnicas de contraespionagem. Há também empresas que
elaboram e comercializam tais programas. Obviamente que, em tais situações, não haverá crime
considerando que o objetivo não é o de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular, havendo o intuito acadêmico, docente ou de melhorar a
segurança das redes empresariais, descobrindo as brechas existentes. O fato seria atípico,
portanto, por faltar o elemento subjetivo do injusto.

O § 1º menciona tanto programa de computador (softwares) como também dispositivos


(hardwares) destinados à invasão indevida de outros dispositivos informáticos, como é o caso dos
chamados “chupa cabra”.

Segundo o § 1º, tanto quem produz, como quem oferece, distribui, vende ou divulga o
programa ou dispositivo é punido. Nesse sentido, existem inúmeras páginas na internet que
divulgam softwares espiões e invasores. Deve-se ter cuidado com a divulgação de tais conteúdos
porque essa conduta passa a ser crime pela nova Lei se ficar provado que a finalidade do agente
ao disponibilizar esse programa, era o de permitir que o usuário do software possa invadir
dispositivo informático para “obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”.

2.15. INVASÃO QUE GERA PREJUÍZO ECONÔMICO (CAUSA DE AUMENTO)

CP. Art. 154-A § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da


invasão resulta prejuízo econômico.

Essa causa de aumento, que já foi explicada acima, refere-se apenas ao caput do art. 154-
A, não podendo ser aplicada para o § 3º.

2.16. INVASÃO QUALIFICADA PELO RESULTADO (QUALIFICADORA)

CP. Art. 154-A. § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de


comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais,
informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta
não constitui crime mais grave.

Haverá a qualificadora prevista neste § 3º se, com a invasão, o agente conseguir obter o
conteúdo de:

a) Comunicações eletrônicas privadas (e-mails, SMS, diálogos em programas de troca de


mensagens etc);

b) Segredos comerciais ou industriais;

c) Informações sigilosas (o sigilo que qualifica o crime é aquele assim definido em lei).

Incidirá também a qualificadora no caso de o invasor conseguir obter o controle remoto do


dispositivo invadido.

139
Esse § 3º constitui exemplo de aplicação do princípio da subsidiariedade expressa
(explícita), considerando que o próprio tipo penal prevê que não haverá invasão qualificada se a
conduta do agente constituir um crime mais grave.

2.17. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

CP. Art. 154-A. § 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois


terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a
qualquer título, dos dados ou informações obtidos.

O § 4º traz uma causa de aumento específica para o delito previsto no § 3º.

Assim, o agente responderá pela pena aumentada se, além de obter, DIVULGAR,
COMERCIALIZAR ou TRANSMITIR a outros o conteúdo contido em:

a) Comunicações eletrônicas privadas (e-mails, SMS, diálogos em programas de troca de


mensagens etc);

b) Segredos comerciais ou industriais;

c) Informações sigilosas.

Caso o agente pratique o art. 154-A, §§ 3º e 4º o delito deixa de ser de competência do


Juizado Especial Criminal, considerando que, aplicada a causa de aumento sobre a reprimenda
prevista no § 3º o crime terá pena máxima superior a 2 anos.

2.18. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

CP. Art. 154-A. § 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime


for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de
Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal
ou de Câmara Municipal; ou
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal.

O § 5º traz causas de aumento para os casos em que a invasão de dispositivo informático


ocorrer contra determinadas autoridades.

Entendo que essa causa de aumento incide tanto para o crime cometido no caput do art.
154-A como também para a figura qualificada do § 3º.

2.19. AÇÃO PENAL

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede


mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a
administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União,

140
Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias
de serviços públicos.

REGRA: O crime do art. 154-A, em regra, é de ação penal pública condicionada à


representação. Isso se justifica em razão da intimidade e da vida privada serem bens disponíveis
e também pelo fato de que a vítima tem o direito de avaliar se deseja evitar o processo judicial e
assim se proteger contra os efeitos deletérios que podem advir da divulgação das circunstâncias
que envolvem o fato (strepitus iudicii). A depender do caso concreto, a instauração da
investigação e do processo penal poderão implicar nova ofensa à intimidade e privacidade do
ofendido considerando que outras pessoas (investigadores, Delegados, servidores, Promotor, Juiz
etc.) terão acesso ao conteúdo das informações que a vítima preferia que ficassem em sigilo, tais
como fotos, correspondências, mensagens, entre outros.

Dessa forma, é indispensável que a vítima ofereça representação para que seja iniciada
qualquer investigação sobre o fato (art. 5º, § 4º, do CPP), bem como para que seja proposta a
denúncia por parte do Ministério Público.

Exceções: O crime do art. 154-A será de AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA se for


cometido contra:

a) A administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados,


Distrito Federal ou Municípios;

b) Empresas concessionárias de serviços públicos.

3. INSERÇÃO DO § 1º AO ART. 266 DO CÓDIGO PENAL

3.1. OBSERVAÇÃO

A Lei n. 12.737/2012 inseriu o § 1º ao art. 266 do Código Penal, renumerando o antigo
parágrafo único, que agora passa a ser o § 2º. O caput não foi modificado. Desse modo, a única
inovação está no § 1º, que será agora analisado.

3.2. INTERRUPÇÃO OU PERTURBAÇÃO DE SERVIÇO TELEGRÁFICO OU TELEFÔNICO

3.2.1. Previsão Legal

CP. Art. 266. Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou


telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. (caput sem qualquer
alteração)
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de
informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o
restabelecimento. (inserido pela Lei n. 12.737/2012)
§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de
calamidade pública. (§ 2º era o antigo parágrafo único; seu conteúdo não foi
alterado)

141
3.2.2. Art. 266 Caput

CP. Art. 266. Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou


telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

O art. 266, em seu caput, prevê que é crime interromper (paralisar) ou perturbar
(atrapalhar):

a) Serviço TELEGRÁFICO;

b) Serviço RADIOTELEGRÁFICO ou

c) Serviço TELEFÔNICO.

O caput estabelece, ainda, que, se o serviço já estiver interrompido, será também


considerada crime a conduta de impedir ou dificultar o seu restabelecimento.

3.2.3. Art. 266 § 1º

CP. Art. 266. Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena quem INTERROMPE serviço telemático ou


de informação de utilidade pública, ou IMPEDE OU DIFICULTA-LHE O
RESTABELECIMENTO. (inserido pela Lei n. 12.737/2012)

Os serviços TELEGRÁFICOS e RADIOTELEGRÁFICOS previstos no caput estão em


franco desuso. Atualmente, além do telefone, as formas mais comuns e eficientes de
comunicação são os serviços TELEMÁTICOS, com destaque para a internet.

Dessa feita, o art. 266 encontrava-se desatualizado, considerando que não previa como
crime a interrupção do serviço telemático. O objetivo da alteração foi, portanto, o de trazer essa
nova incriminação.

Com o novo § 1º, pratica o crime do art. 266 do Código Penal quem interromper:

a) Serviço TELEMÁTICO; ou

b) Serviço de INFORMAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA.

Se o serviço telemático ou de informação de utilidade pública já estiver interrompido, será


também considerado crime a conduta de impedir ou dificultar o seu restabelecimento.

Indaga-se: se o agente perturbar (atrapalhar), sem interromper, serviço telemático ou


de informação de utilidade pública, ele pratica crime? Não. Houve falha da Lei n.
12.737/2012 ao não tipificar tal conduta, como é feito no caso do caput, para os serviços
telegráfico, radiotelegráfico ou serviço telefônico.

Vejamos a comparação:

INTERROMPER É crime
Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou

142
TELEFÔNICO;

Serviço TELEMÁTICO ou de INFORMAÇÃO DE


UTILIDADE PÚBLICA;

Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou


É crime
TELEFÔNICO;
PERTURBAR

Serviço TELEMÁTICO ou de INFORMAÇÃO DE


NÃO é crime
UTILIDADE PÚBLICA;

Serviço TELEGRÁFICO, RADIOTELEGRÁFICO ou


TELEFÔNICO;
IMPEDIR ou
DIFICULTAR o É crime
restabelecimento
Serviço TELEMÁTICO ou de INFORMAÇÃO DE
UTILIDADE PÚBLICA;

4. INSERÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO AO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL

A Lei n. 12.737/2012 inseriu o parágrafo único ao art. 298 do Código Penal.

4.1.1. Falsificação de documento particular

Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar


documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

4.1.2. Falsificação de cartão

Art. 298. Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a


documento particular o cartão de crédito ou débito.

A alteração no art. 298, com o acréscimo do parágrafo único, teve como objetivo fazer com
que o cartão de crédito ou débito, para fins penais, seja considerado como “documento particular”.

Se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza SAQUES na conta


bancária do titular, qual crime pratica?

A jurisprudência do STJ ENTENDIA tratar-se de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II).
Confira:

“(...) Esta Corte firmou compreensão segundo a qual a competência


para o processo e julgamento do crime de furto mediante fraude,
consistente na subtração de valores de conta bancária por meio de

143
cartão magnético supostamente clonado, se determina pelo local em
que o correntista detém a conta fraudada. (...)” (AgRg no CC 110.855/DF,
Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira Seção, julgado em 13/06/2012, DJe
22/06/2012)

E qual será o delito se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza
COMPRAS em estabelecimentos comerciais?

Nessa hipótese, o STJ JÁ DECIDIU que haverá o crime de ESTELIONATO:

“(...) A obtenção de vantagem ilícita através da compra em


estabelecimentos comerciais utilizando-se de cartões de crédito clonados
configura, a princípio, o delito de estelionato, o qual se consuma no
momento de realização das operações. (...)” (CC 101.900/RS, Rel.
Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe
06/09/2010)

Com a mudança da Lei será possível reconhecer CONCURSO MATERIAL entre a


falsificação do cartão (art. 298, parágrafo único) e o furto ou estelionato?

Penso que não. Apesar de se tratarem de bens jurídicos diferentes (a falsidade protege a
fé pública, enquanto que o furto e o estelionato o patrimônio), entendo ser o caso de aplicação do
princípio da consunção, por razões de política criminal. Logo, é de se aplicar o raciocínio que
motivou a edição da Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido.

Assim, se o agente faz a clonagem do cartão e, com ele, realiza saques na conta bancária
do titular, pratica apenas furto mediante fraude, ficando, em princípio, absorvida a falsidade.

De igual sorte, se o sujeito faz a clonagem do cartão e, com ele, realiza compras em
estabelecimentos comerciais incorre em estelionato, sendo absorvida a falsidade, se não houver
mais potencialidade lesiva (Súmula 17 do STJ).

Uma última indagação: se o cartão de crédito ou de débito for emitido por uma
empresa pública, como por exemplo, a Caixa Econômica Federal, ele será considerado
DOCUMENTO PÚBLICO?

Não. Quando a CEF emite um cartão de crédito/débito ela está atuando no exercício de uma
atividade privada concernente à exploração de atividade econômica. Logo, não há sentido de se
considerar como documento público. Além disso, o cartão de crédito e débito é equiparado a
documento particular, pelo parágrafo único do art. 298, sem qualquer ressalva quanto à natureza da
instituição financeira que o emitiu.

5. VACATIO LEGIS

A Lei n. 12.737/2012 teve vacatio legis de 120 (cento e vinte) dias. Como foi publicada em
03/12/2012, somente entrou em vigor no dia 02/04/2013.

144
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Aqui estudaremos os seguintes delitos do Título II:

1) Furto;

2) Roubo;

3) Extorsão;

4) Extorsão mediante sequestro;

5) Estelionato;

6) Receptação.

1. FURTO

1.1. TOPOGRAFIA DO CRIME

Art. 155, caput: Furto simples;

§1º: Majorante;

§2º: Privilégio (furto mínimo);

§3º: Cláusula de equiparação;

§§4º e 5º: Qualificadoras.

1.2. PREVISÃO LEGAL

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel (furto
simples):
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o
repouso noturno. (Majorante)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. (Furto privilegiado, “furto
mínimo”)
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico. (Cláusula de equiparação)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
cometido (qualificadoras):
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

145
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior. (Qualificadora)

1.3. BEM JURÍDICO TUTELADO

A doutrina diverge quanto ao bem protegido pelo tipo penal em análise:

1ª C: Só protege a propriedade (Hungria).

2ª C: Protege a propriedade e a posse (Noronha, Nucci, Greco).

3ª C: Protege a propriedade, a posse e a detenção (Mirabete e maioria). Mas se deve


lembrar de que a posse e detenção devem ser legítimas.

Nucci: A detenção não é protegida, porquanto, não integra o patrimônio da vítima.

Ladrão que furta de ladrão (posse ilegítima), que crime comete? Vale dizer, ladrão que
furta ladrão, tem perdão?!

Comete furto, mas a vítima não será o ladrão, e sim proprietária legítima da ‘res furtiva’.
Consequência prática: Não entrará no rol de testemunhas.

1.4. SUJEITO ATIVO

O crime é comum, pode ser praticado por qualquer pessoa, salvo o proprietário ou
possuidor da coisa.

Não existe furto de coisa própria, uma vez que consta do tipo penal a elementar “coisa
alheia”.

Também se pode falar no princípio da alteridade.

Surgem algumas questões:

1.4.1. Comete algum crime o proprietário que subtrai coisa sua na LEGÍTIMA posse de
terceiro?

É o exemplo do devedor que empenhou uma coisa e resolve furtá-la do credor pignoratício.
Prevalece que não se trata do crime de furto, exatamente pela falta da elementar “alheia”. Trata-
se do crime de exercício arbitrário das próprias razões, previsto no art. 346 do CP.

Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

1.4.2. E o credor pignoratício, que tinha posse legítima, ao se apoderar da coisa quando
deveria devolvê-la, comete algum crime?

146
Sim, mas não furto, pois ele era o legítimo possuidor. Nesse caso, trata-se do crime de
apropriação indébita.

1.4.3. Funcionário público que subtrai coisa em poder da Administração pratica qual
crime?

DEPENDE.

1ª hipótese: Se a subtração foi facilitada pela condição de agente público  Art. 312, §1º
(peculato-furto).

Art. 312
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.

2ª hipótese: Se a subtração não foi facilitada pela condição de agente  Art. 155 (furto
comum).

1.4.4. E o proprietário que subtrai coisa comum de condômino, coerdeiro ou sócio, que
crime comete?

Crime de Furto de coisa comum (art. 156). É um crime bipróprio.

Trata-se de Infração de menor potencial ofensivo (JECRIM), que se procede mediante


representação.

Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem,


a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante REPRESENTAÇÃO.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não
excede a quota a que tem direito o agente.

1.5. SUJEITO PASSIVO

Proprietário, possuidor ou detentor da coisa alheia móvel.

O sujeito passivo pode ser tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica.

1.6. TIPO OBJETIVO

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Cabe suspensão
condicional do processo, mas não é IMPO).

1.6.1. Conduta

147
“Subtrair”: Tem o sentido de retirar, sacar a coisa de outrem. Essa subtração pode ser
direta (apreensão manual) ou indireta (valendo-se de interposta pessoa, instrumentos ou animais).

1.6.2. Objeto material

Coisa alheia móvel.

“Coisa”: Trata-se do bem economicamente apreciável. Alguns autores estendem o


conceito aos bens de relevante valor sentimental para a vítima, como cartas de amor, mechas de
cabelo, diários etc. (Hungria), para Nucci este fato é atípico – deve ser resolvido na esfera cível.

Tem jurisprudência que não admite furto de talão de cheques, pois não tem valor
econômico. Tratar-se-ia de meio ou ato preparatório para o crime de estelionato.

O ser humano pode ser objeto material de furto?

Não, pois o ser humano não é coisa. A subtração de pessoa pode configurar outros crimes,
como o sequestro e o cárcere privado.

É possível, no entanto, se falar em furto de PARTES do corpo humano, como cabelos e


dentes (Mirabete).

E o art. 237 do ECA?

Cuidado, aqui se trata de tirar a criança ou adolescente do poder familiar ou pessoa que
detenha sua guarda.

Art. 237. SUBTRAIR criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob


sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em
lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Cadáver pode ser objeto material de furto?

Em regra, NÃO, caracterizando, no caso, o crime de subtração de cadáver (art. 211).

Art. 211 - Destruir, SUBTRAIR ou ocultar cadáver ou parte dele:


Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

EXCEÇÃO: Se o cadáver está destacado para alguma finalidade específica, possuindo


algum valor econômico, pode se falar em delito de furto. É o exemplo do furto do cadáver
adquirido por faculdade de medicina para ser usado nas aulas de anatomia.

“Coisa alheia”: É a coisa que pertence a alguém que não aquele que a subtrai.

Coisa de NINGUÉM pode ser objeto material de furto?

Como não é coisa alheia, não pode ser objeto material de furto.

Coisa ABANDONADA?

Também não é objeto material de furto.

Coisa PERDIDA?

148
É coisa alheia, mas não é objeto material de furto, pois não há subtração.

É objeto material do crime do art. 169, parágrafo único, II do CP (apropriação indébita de


coisa achada).

Art. 169 - Apropriar-se alguém de COISA ALHEIA vinda ao seu poder por
erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
...
II - quem acha COISA ALHEIA PERDIDA e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

É um “crime a prazo”: Durante os primeiros 15 dias do achado o fato é atípico.

Coisa pública de uso comum pode ser objeto material de furto?

Em regra, não pode (coisa de uso comum é bem de todos).

EXCEÇÃO: A coisa comum pode se objeto do furto quando destacada do local de origem
para adquirir significado econômico.

Exemplo1: Subtração de areia da praia não é furto. Mas se o sujeito que subtrai dá um
significado econômico à areia, essa areia pode ser objeto material de furto.

Exemplo2: tirar toneladas de areia com uma retroescavadeira pode configurar crime
ambiental.

E a pessoa que leva os óculos de Estátua?

É crime de dano ao patrimônio público. Exemplo: óculos do Drummond no RJ.

“Coisa móvel”: Para o direito penal, coisa móvel é aquela que pode ser transportada de
um local para outro sem perder sua identidade. Não se confunde com o conceito de coisa móvel
do Direito Civil, que adota algumas ficções jurídicas. Exemplo: materiais provisoriamente
destacados do imóvel para ser novamente empregados, no direito civil por ficção jurídica são
imóveis, no direito penal, não perdem a qualidade de coisa móvel.

Subtrair objetos deixados dentro de uma sepultura:

Duas correntes:

1ª C: Não é furto. Essas coisas não pertencem a ninguém, logo não se trata de furto.
Podem ocorrer dois crimes: art. 210 ou do art. 211 (crimes contra o respeito aos mortos).

Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:


Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

2ª C (PREVALECE): É furto. Não existe dolo de desrespeito aos mortos. O dolo aqui é de
enriquecer, logo se trata de furto. Tem prevalecido essa corrente.

149
1.7. TIPO SUBJETIVO

Além do dolo de subtrair, exige-se a finalidade específica de ter a coisa para SI ou para
OUTREM.

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

É imprescindível a intenção de apoderamento definitivo da coisa (ANIMUS FURANDI).

Subtrair para uso momentâneo é fato atípico, pela ausência do elemento subjetivo do tipo.
É o que a doutrina denomina de furto de uso.

1.8. “FURTO DE USO”

Três são os requisitos apresentados pela jurisprudência para o reconhecimento da figura


atípica do furto de uso:

a) Intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa subtraída.

b) Coisa não consumível (não existe furto de uso de dinheiro, por exemplo);

c) Restituição imediata e integral da coisa ao local onde foi subtraída.

OBS: O CPM prevê a figura típica do furto de uso no art. 241.

Art. 241. Se a coisa é subtraída para o fim de uso momentâneo e, a seguir,


vem a ser imediatamente restituída ou reposta no lugar onde se achava:
Pena - detenção, até seis meses.

Furto de uso de veículo é possível?

Há quem negue essa possibilidade pelo consumo da gasolina, óleo etc. Mas a gasolina é
simplesmente um acessório, que é imprescindível para o uso da coisa. A doutrina moderna não se
apega a esses dados periféricos; só se apega à coisa principal, permitindo o furto de uso de
automóvel, desde que presente os requisitos supramencionados.

1.9. FURTO FAMÉLICO

Trata-se do furto movido pela necessidade de o agente mitigar sua fome. Tal conduta não
é considerada crime, pela ocorrência da excludente do estado de necessidade, desde que:

a) O fato seja praticado para mitigar a fome;

b) O comportamento lesivo seja inevitável;

c) A coisa subtraída tenha aptidão para contornar diretamente a emergência;

d) Os recursos do agente sejam insuficientes ou este tenha impossibilidade de trabalhar.

1.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA DO FURTO

150
1.10.1. Teorias explicativas da consumação do furto

Cinco são as Teorias que explicam o momento da consumação do furto:

1ª C: ‘CONTRECTATIO’: A consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a


coisa alheia, dispensando seu deslocamento. Se tocou, já consumou.

2ª C: ‘APREHENSIO’: A consumação se dá logo após o contato, com o apoderamento da


coisa alheia pelo agente.

3ª C: ‘AMOTIO’: Dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do


agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento ou de
posse mansa e pacífica.

Quando se diz que a coisa passou para o poder do agente, isso significa que houve a
inversão da posse. Por isso, ela é também conhecida como teoria da inversão da posse. Vale
ressaltar que, para esta corrente, o furto se consuma mesmo que o agente não fique com a posse
mansa e pacífica. A coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima (inversão da posse),
mas não é necessário que saia da esfera de vigilância da vítima (não se exige que o agente tenha
posse desvigiada do bem).

4ª C: ‘ABLATIO’: A consumação ocorre quando o agente, depois de apoderar-se da coisa,


consegue deslocá-la de um lugar para outro, longe da esfera de vigilância do proprietário.

5ª C: ‘ILLACTIO’: Para ocorrer a consumação a coisa deve ser levada ao local desejado
pelo agente, e lá mantida a salvo.

STF/STJ: ‘AMOTIO’. Dispensa posse mansa e pacífica, bem como que a coisa saia da
esfera de vigilância da vítima. Exemplo: Empregada doméstica que guarda as joias embaixo do
sofá. Ainda está na esfera de vigilância da vítima, porém ela não mais tem disponibilidade sobre a
coisa.

OBS: Existem vários Tribunais, bem como doutrinadores, que ainda exigem a posse mansa e
pacífica da ‘res furtiva’ – ou seja, ILLACTIO.

Informativo 572 STJ:

Outras expressões similares que você pode encontrar na sua prova:

 A consumação do crime de furto se dá no momento em que a coisa é retirada da


esfera de disponibilidade da vítima e passa para o poder do agente, ainda que por
breve período, sendo prescindível a posse pacífica da res pelo sujeito ativo do delito
(STJ. 6ª Turma. HC 220.084/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
04/12/2014).

 Considera-se consumado o crime de furto no momento em que o agente se torna


possuidor da res furtiva, ainda que haja perseguição policial e não obtenha a posse
151
tranquila do bem, sendo prescindível (dispensável) que o objeto do crime saia da
esfera de vigilância da vítima (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1346113/SP, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 22/4/2014).

 Para a consumação do furto, basta que ocorra a inversão da posse, ainda que a
coisa subtraída venha a ser retomada em momento imediatamente posterior (STF. 1ª
Turma. HC 114329, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1/10/2013).

1.10.2. Tentativa no crime de furto

Perfeitamente possível. Ocorre quando a pessoa é surpreendida no momento em que está


se assenhoreando da coisa.

Agente que TENTA furtar carteira da vítima, porém não há carteira nenhuma no
bolso. Há crime/tentativa?

1C-Hungria defende que é tentativa.

2C-Bitencourt/Mirabete: Se no outro bolso a vítima também não trazia carteira, será crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto material. Caso houvesse coisa a ser furtada em
outro bolso, aí sim estaremos diante de tentativa.

Estabelecimentos comerciais vigiados eletronicamente tornam o crime de furto


impossível?

Informativo 563 STJ:

Tal entendimento foi consagrado na Súmula 567 do STJ, vejamos:

Súmula 567 - Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico


ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial,
por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto.

1.11. MAJORANTE DO FURTO NOTURNO (§1º)

152
Art. 155, § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado
durante o REPOUSO NOTURNO.

Repouso noturno

É o período em que, à noite, pessoas se recolhem para o descanso diário. A razão da


agravante está ligada ao maior perigo ao qual está submetido o bem, em razão da precariedade
de vigilância decorrente do horário.

Esse horário de repouso noturno, varia conforme os costumes da localidade. Aplica-se,


aqui, o costume interpretativo.

Para a maioria da doutrina, a incidência da majorante exige que o crime seja praticado no
local da moradia (onde a pessoa costumeiramente repousa). Ou seja, a subtração de um carro
estacionado na rua, na calada da noite, não geraria a majorante.

Há quem defenda, inclusive, que seja necessário para a configuração da majorante que o
imóvel onde ocorre o furto esteja habitado e com os moradores em repouso noturno
(Bitencourt/Hungria).

Entretanto, não é essa posição que tem prevalecido nas cortes superiores. Tanto o STJ
quanto o STF dispensam a habitação do local onde ocorre o furto, permitindo a incidência da
majorante até mesmo em furtos de estabelecimentos comerciais. Essa também é a posição de
Noronha, que diz ser esse o entendimento apresentado na exposição de motivos do CP.

A majorante do furto noturno se aplica a quais modalidades de furto?

1.12. FURTO PRIVILEGIADO (“FURTO MÍNIMO”)

Art. 155, § 2º - Se o criminoso é PRIMÁRIO, e é de PEQUENO VALOR A


COISA furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção,
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

1.12.1. Requisitos cumulativos: primariedade do agente e pequeno valor da coisa.

153
Primário: É aquele que não é reincidente, ainda que tenha condenações no passado.

Coisa de pequeno valor: Coisa de até 01 Salário-Mínimo (ao tempo do fato). Lesão
mínima.

ATENÇÃO: O furto MÍNIMO não se confunde com o furto INSIGNIFICANTE.

No caso deste último, não estamos diante de lesão mínima, mas sim de lesão ÍNFIMA; no
caso do furto insignificante, não há limite de valor pré-definido para sua configuração; dependerá
da análise das circunstâncias do caso concreto.

Para o STF:

O delito do art. 155 do CP prevê a figura do furto privilegiado ou mínimo no § 2º, com a
seguinte redação:

Art. 155 (...) § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa


furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-
la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

A jurisprudência, em geral, afirma que “pequeno valor”, para os fins do § 2º do art. 155,
ocorre quando a coisa subtraída não ultrapassa a importância de um salário mínimo.

Desse modo, se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, esta conduta poderá
receber dois tipos de valoração pelo juiz:

a) Ser considerada insignificante: resultando na absolvição por atipicidade material.

b) Ser considerada furto privilegiado: continuando a ser crime, mas com os benefícios do §
2º do art. 155 do CP.

Em geral:

Se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, mas não é ínfima, chegando perto do
valor do salário mínimo, a jurisprudência entende que não deve ser aplicado o princípio da
insignificância, mas tão somente o furto privilegiado.

Se o bem subtraído é bem inferior a um salário mínimo, sendo de valor ínfimo, estando
longe do valor do salário mínimo, há de ser aplicado o princípio da insignificância, que é mais
benéfico que o furto privilegiado.

Trata-se de uma diferenciação que, na prática, acaba sendo muito subjetiva, variando de
acordo com o caso concreto. O importante é que eu saiba que, para a jurisprudência, pequeno
valor e valor insignificante não são sinônimos

154
1.12.2. Direito subjetivo do réu

Preenchidos os requisitos, o juiz deve aplicar a causa de diminuição de pena (a minorante


constitui um direito subjetivo do réu).

Essa privilegiadora se aplica ao furto QUALIFICADO (existe a figura do furto


qualificado-privilegiado), também chamado de furto híbrido?

SIM, é possível desde que:

 Estejam preenchidos os requisitos do § 2º (primariedade e pequeno valor da coisa);


e

 A qualificadora seja de natureza objetiva.

Súmula 511-STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º


do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem
presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
qualificadora for de ordem objetiva.

Existem qualificadoras de natureza objetiva e subjetiva.

a) Qualificadoras objetivas (materiais, reais): são aquelas que estão relacionadas com o
fato criminoso, ou seja, com o seu modo de execução, tempo e lugar do crime,
instrumentos utilizados etc.

b) Qualificadoras subjetivas (pessoais): são aquelas que dizem respeito à pessoa do


agente. Ex.: crime praticado com abuso de confiança.

Ex1: se o furto for qualificado por concurso de pessoas (qualificadora de índole objetiva),
será possível o privilégio (STJ. 6ª Turma. REsp 1370395/DF, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 12/11/2013).

Ex2: se o furto for qualificado por abuso de confiança (qualificadora subjetiva), não será
possível o privilégio (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1392678/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 17/12/2013).

O furto privilegiado-qualificado é também chamado de furto híbrido.

Vale mencionar que o entendimento de que é possível furto privilegiado-qualificado é


adotado não apenas pelo STJ como também pelo STF.

1.13. CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO (art. 155, §3º)

Art. 155, § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer


outra que tenha valor econômico.

Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra forma de energia que tenha
valor econômico (energia radioativa, térmica, mecânica e genética).

OBS: É imprescindível o valor ECONÔMICO da energia.

1.13.1. Energia genética

155
Exemplo de energia genética: Sêmen de animais.

1.13.2. Sinal de TV a cabo

Subtração de sinal de televisão a cabo constitui furto de energia?

1ª C: Sinal de TV a cabo não é energia, não se equiparando a coisa móvel. A energia se


consome, se esgota; sinal de televisão é inesgotável, não diminui (Bitencourt). Adotada pela 2ªT
do STF em 2011!

2ª C: Sinal de TV é uma forma de energia, equiparando-se à coisa móvel (Nucci). Foi


adotada pelo STJ.

OBS: Essa mesma discussão se aplica ao furto de pulso telefônico.

1.13.3. Furto de energia elétrica X Estelionato mediante alteração do medidor

FURTO ESTELIONATO
Praticado mediante ligação clandestina. Praticado mediante alteração do medidor de
energia.
Agente não está autorizado a consumir energia. Agente está autorizado (contratualmente) a
consumir energia elétrica, porém adultera o quanto
gastou.
Pena 01 a 04. Pena 01 a 05.
Pode se tornar qualificado.

1.14. FURTO QUALIFICADO (art. 155, §§ 4º)

Art. 155, § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos (lembrando que o


furto comum é 1 a 4, ou seja, duplica – temos aqui médio potencial
ofensivo), e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Conforme o art. 155, §4º, a pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o furto é
cometido:

1.14.1. Inciso I: furto com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

OBS: No passado essa conduta (violência contra a coisa) já configurou o crime de roubo.

A violência deve recair sobre o obstáculo que separa o agente da coisa. Exemplo: Destruir
o vidro do veículo para roubar o som.

156
Se a violência recai sobre a própria coisa a ser subtraída não incide a qualificadora.
Exemplo: Destruir o vidro do veículo para subtraí-lo.

Agente removeu as telhas da casa para ingressar na casa e furtar algo.

Não gera qualificadora, pois não houve destruição ou rompimento. Simples REMOÇÃO de
obstáculo não configura furto qualificado.

Agente desativa alarme de carro para furtar o som.

Se o agente o faz sem violência, a situação se equipara a das telhas.

Agente rasga fundo da bolsa para que caia os objetos e possa furtar.

Capez: a bolsa não é obstáculo para coisa, a bolsa serve apenas para carregar o que está
dentro, um obstáculo seria um cadeado na bolsa.

Ligação direta em automóvel é rompimento de obstáculo?

Temos decisões reconhecendo a ligação direta como qualificadora do inciso I do §4º


(rompimento de obstáculo).

A violência contra o obstáculo deve ocorrer antes, durante ou após a subtração, porém
SEMPRE ANTES DA CONSUMAÇÃO, pois, do contrário, ocorrerá crime de furto (simples ou
qualificado por outra circunstância), em concurso material com o delito de dano.

1.14.2. Inciso II: furto com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

a) Abuso de confiança

O agente viola a confiança INCOMUM nele depositada. Essa confiança pode advir de
relação de amizade, parentesco ou atividade laboral. Frise-se: Não é uma confiança ordinária
nessas relações, mas sim incomum se comparada às demais relações de mesma natureza.

Para incidir a qualificadora os tribunais exigem que a confiança traga facilidade à


execução do delito.

FURTO QUALIFICADO PELO ABUSO DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA


CONFIANÇA
O agente tem mero contato com a coisa, vindo a O agente exerce posse desvigiada da coisa em
subtraí-la. nome de outrem, vindo a torná-la sua.
O dolo é antecedente à posse. O dolo é superveniente à posse.

b) Fraude

FURTO MEDIANTE FRAUDE ESTELIONATO

157
A fraude visa diminuir a vigilância da vítima e A fraude visa fazer com que a vítima,
possibilitar a subtração. ESPONTANEAMENTE, entregue a posse desvigiada da
coisa.
A vontade de alterar a posse é unilateral. A vontade de alterar a posse é bilateral. A vítima
Somente o furtador quer alterar a posse. entrega espontaneamente a coisa.
O agente se utiliza de artifício, ardil ou qualquer outro meio enganoso como forma de
induzir ou manter a vítima em erro, e, assim, ter facilitada a tarefa de subtrair a coisa.

Troca de embalagem:

Que crime comete aquele que no mercado bota uma vodka caríssima em garrafa de água?

Furto mediante fraude, pois a posse do conteúdo da garrafa foi alterada unilateralmente,
através da fraude do agente.

Caixa eletrônico e troca de cartões:

Furto mediante fraude. Agente que, a pretexto de auxiliar a vítima a operar caixa
eletrônico, apossa-se de seu cartão, trocando-o por outro.

Falso test-drive:

O sujeito sai com o carro e não volta. Que crime comete?

Prevalece que é furto mediante fraude, pois o sujeito da concessionária não dá a posse
desvigiada da coisa.

É o mesmo caso da mulher que prova a roupa na loja e some com ela.

Exemplo de estelionato: Chapelaria de balada. O agente dá um número errado do armário


para levar uma bolsa muito mais cara. Aqui a alteração da posse é bilateral, por isso é estelionato.

c) Escalada

É o uso de via ANORMAL para ingressar ou sair do local em que se encontra a coisa
visada.

OBS: A escalada, não necessariamente é uma subida. Exemplo: Acesso por meio de túnel
também configura a escalada, pois é uma via de acesso ANORMAL.

A jurisprudência exige que essa via anormal provoque um esforço incomum para o agente,
demonstrando audácia que conduzem a maior reprovabilidade da conduta.

Exemplo: O simples vencimento de um muro de 1 metro, por exemplo, não configura um


esforço incomum para um agente de estatura mediana. Agora, em se tratando de um anão, pode-
se sustentar que o esforço foi incomum.

Nesse ponto surge a dúvida: É necessária a perícia nesse delito?

1ª C: A perícia é dispensável, pois o crime não deixa vestígio.

2ª C: A perícia é indispensável quando o crime deixa vestígio.

158
3ª C: A perícia é sempre indispensável, pois ainda que o delito não deixe vestígios, deve
atestar o obstáculo para a análise do desforço incomum.

Furto de Fios de cobre de postes

O furto é simples, pois a subida no poste é a via normal para o acesso à coisa.

d) Destreza

Peculiar habilidade, física ou manual, fazendo com que a vítima seja despojada dos seus
bens, sem que perceba. É o famoso caso dos punguistas ou batedores de carteira.

Informativo 554 STJ:

Prisão em flagrante afasta a figura da destreza:

Se o agente que tentava realizar o furto é preso em flagrante próprio, significa que não
poderá incidir a qualificadora da destreza, devendo responder por tentativa de furto simples. Isso
porque se ele foi descoberto tentando subtrair o bem da vítima, conclui-se que ele não tem
habilidade excepcional para furtar. Logo, não há destreza.

1.14.3. Inciso III: furto com emprego de chave falsa;

Chave falsa deve ser entendida como todo o instrumento, com ou sem a forma de chave,
destinado a abrir fechaduras (exemplo: grampo, chave mixa, gazua etc.).

OBS: o STJ, no HC 152.079 decidiu que a utilização de mixa para abrir fechadura de
automóvel configura a qualificadora do inciso III.

Chave verdadeira, obtida fraudulentamente, configura a qualificadora?

Um julgado do TRF4 e Noronha dizem que sim, porém não é o que prevalece. Ora, uma
chave verdadeira jamais será falsa, pouco importando como tenha sido obtida.

Rogério Greco: Qualquer chave, que não seja verdadeira, configura a qualificadora,
inclusive a cópia da chave verdadeira.

Utilização de chave falsa não para abrir o veículo, mas para acionar o motor configura a
qualificadora?

O STJ, até 2007, entendia que não configurava, pois, o emprego da chave deveria se dar
sobre o obstáculo que protegia a ‘res furtiva’ (REsp. 284.385-DF,).

159
Em junho de 2007, mudou o entendimento. Chave falsa para ACIONAR o motor é
suficiente para configurar a qualificadora (REsp. 906.685/RS).

“Ligação direta” configura a qualificadora do emprego da chave falsa?

Prevalece que não.

1.14.4. Inciso IV: furto mediante concurso de duas ou mais pessoas;

Hungria (isolado): A qualificadora depende de número plural de executores, não se


computando partícipes. Se ‘A’ subtrai e ‘B’ auxilia, não há se falar em furto qualificado pelo
concurso.

Doutrina majoritária: A qualificadora depende de número plural de participantes,


computando-se partícipes, concorrentes não identificados e inimputáveis.

Furto simples (pena 01 a 04) Roubo simples (pena: 04 a 10)

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
alheia móvel: outrem, mediante grave ameaça ou violência a
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
multa, se o crime é cometido:
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Concurso de agentes: 02 a 08 (qualificadora). Concurso de agentes: Pena aumentada de 1/3 a ½ -
metade (majorante).
Ou seja, DOBRA a pena. Ou seja, aumenta no máximo de METADE.
Solução: empresta o aumento do roubo para o furto.

Crítica: a pena do roubo já é de 4 a 10 anos, com o aumento fica de 6 a 15 anos. É proporcional sim (o
furto fica com 02 a 08 anos).

Tese de Defensoria: Dada essa desproporcionalidade dos aumentos, há doutrina que


defende a aplicação da majorante do roubo ao furto, numa analogia ‘in bonam partem’.

Para o STJ, no entanto, não há qualquer inconstitucionalidade.

STJ Súmula: 442 É INADMISSÍVEL aplicar, no furto qualificado, pelo


concurso de agentes, a majorante do roubo.

STJ: “A norma penal incriminadora tipifica o quantum do crime de furto qualificado pelo
concurso de agentes (2 a 8 anos), inexistindo razão para que se aplique, por analogia, a previsão
da majorante do roubo em igual condição”.

O juiz não pode realizar essa analogia, pois inexiste lacuna legal. Assim agindo estaria
legislando.

STJ: “Reconhece-se a qualificadora prevista no art. 155, § 4°, inciso IV, ainda que o crime
tenha sido praticado em concurso com menor inimputável, uma vez que a norma incriminadora
tem natureza objetiva e não faz menção à necessidade de se tratarem todos de agentes capazes”

160
STJ: “Não configura bis in idem a condenação por crime de formação de quadrilha e furto
qualificado pelo concurso de agentes, ante a autonomia e independência dos delitos”.

1.15. FURTO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 155 §5º)

Art. 155, § 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a


subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior.

Apesar do silêncio, o DF também está abrangido. A própria CF em algumas passagens


não faz a diferenciação.

Para incidir a qualificadora é INDISPENSÁVEL que o veículo automotor ultrapasse os


limites do Estado ou as fronteiras do país, independentemente da intenção do agente em fazê-lo.
Em não logrando êxito na efetiva transposição de fronteiras, estaremos diante de furto simples
consumado.

Objeto material: automóveis, utilitários, motos, caminhões, lanchas etc.

1.15.1. Existe possibilidade de tentativa do furto qualificado do §5º?

Depende da corrente da consumação do furto adotada.

Corrente que exige a posse mansa e pacífica como requisito da consumação do furto
(illactio): Há possibilidade de tentativa. É o exemplo do furtador que, ato contínuo à subtração, é
perseguido incessantemente e vem a ser preso em outro estado. Damásio.

Entretanto, para os que adotam a teoria da ‘amotio’ (sem exigência de posse mansa e
pacífica para a configuração do delito) não é possível a tentativa. No exemplo acima, responderia
o agente pelo crime consumado.

1.15.2. Situações de prova

‘A’ subtrai um veículo.

‘A’, contrata ‘B’ para transportar o veículo para outro país.

‘B’ transporta o veículo para o exterior.

1ª Situação: ‘B’ induziu ‘A’ a praticar o furto.

‘A’: Pratica furto qualificado do §5º.

‘B’: Pratica furto qualificado do §5º, na condição de partícipe.

2ª Situação: ‘B’ não concorre para o furto, mas sabe que a coisa que transporta é produto
de crime.

‘A’: Pratica furto qualificado do §5º.

‘B’: Pratica receptação (busca vantagem para si ou para outrem - art. 180) ou
favorecimento real (busca vantagem para o autor do crime anterior - art. 349).

161
3ª Situação: ‘B’ não concorre para o furto e ignora a origem do veículo.

‘A’: Pratica furto qualificado do §5º.

‘B’: Em princípio fato atípico, evitando a responsabilidade objetiva.

4ª Situação: ‘A’ e ‘B’ em concurso de pessoas (§4º - 2 a 8 anos) transportando veículo


para outro país (§5º - 3 a 8 anos). O concurso será considerado pelo juiz na fixação da pena-base,
pois quando há duas qualificadoras considera-se a mais grave, que no caso é a da §5º.

OBS: Se o furto já está qualificado pelo §5º, não há se falar nas qualificadoras do §4º, pois
aquela é mais grave em relação a estas.

2. ROUBO

2.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência: (roubo simples próprio, que
pode ser por violência própria ou imprópria)
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa,
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
(Roubo simples impróprio: “roubo por aproximação”)
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade (majorantes):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas (perceber que no FURTO
isto é QUALIFICADORA);
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado
para outro Estado ou para o exterior (perceber que no FURTO isto é
QUALIFICADORA);
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de
sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte
a trinta anos, sem prejuízo da multa. (Roubo com lesão corporal e
latrocínio = roubo qualificado)

2.2. TOPOGRAFIA DO CRIME

Art. 157, caput: Roubo simples próprio (por violência própria ou imprópria);

§1º: Roubo simples impróprio (Roubo por aproximação);

§2º: Majorantes (emprego de arma, concurso de pessoas, transporte de valores, transporte


para outro estado ou exterior e restringir a liberdade da vítima);

§3º: Qualificadoras (lesão grave e latrocínio).

162
2.3. BEM JURÍDICO TUTELADO

O roubo é um crime complexo, caracterizado pelo furto acrescido de circunstâncias


especialmente relevantes previstas pela lei, quais sejam, a violência (própria e imprópria) ou grave
ameaça empreendida contra a pessoa.

Trata-se, assim, de um crime pluriofensivo, ou seja, com mais de um bem jurídico


tutelado.

Precipuamente, protege-se o patrimônio, posse ou detenção da coisa. Mediatamente,


tutelam-se a integridade física, a liberdade, bem como a vida da vítima (no caso do latrocínio).

Rogério Sanches: O roubo é a união do crime de furto com o crime de constrangimento


ilegal.

2.4. SUJEITOS DO CRIME

Sujeito ativo: Qualquer pessoa, salvo o proprietário, possuidor ou detentor da coisa. Se o


proprietário rouba coisa sua em poder de outrem, pratica exercício arbitrário das próprias razões.

Sujeito passivo: É o proprietário, possuidor ou mero detentor da coisa, bem como a pessoa
contra quem se dirige a violência ou grave ameaça.

OBS: A pessoa afetada no patrimônio não necessariamente é a mesma que sofre a


violência ou grave ameaça (ainda que alheia à lesão patrimonial).

Consequência: Nenhum dos sujeitos passivos integra o rol de testemunhas.

2.5. TIPO OBJETIVO

2.5.1. Roubo próprio (art. 157, caput)

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Conduta: Subtrair coisa alheia móvel mediante violência, grave ameaça ou qualquer outro
meio que prive a vítima do poder de agir.

Observações:

-‘Qualquer outro meio’

Uso de psicotrópicos, hipnose etc. Ocorre aqui o que a doutrina denomina de violência
imprópria (que nada tem a ver com o roubo impróprio – aquele que a violência é após/para
garantir a subtração).

-Fins políticos

Apoderar-se de aeronave, embarcação ou veículo de transporte coletivo, com fins políticos,


configura o crime do art. 19 da lei 7.170/83 – Segurança Nacional.

163
LSN Lei 1.170/83 - Art. 19 - Apoderar-se ou exercer o controle de aeronave,
embarcação ou veículo de transporte coletivo, com emprego de violência ou
grave ameaça à tripulação ou a passageiros.
Pena: reclusão, de 2 a 10 anos.

-Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos SEM violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

Para a maioria da doutrina, o roubo próprio admite arrependimento posterior quando


praticado mediante violência imprópria. Exemplo: uso de psicotrópicos.

Para a minoria, violência imprópria não admite arrependimento posterior, pois não deixa de
ser espécie de violência.

Percebe-se que no roubo próprio os meios de execução (violência e grave ameaça) são
condutas antecedentes à subtração da coisa.

2.5.2. Roubo impróprio ou “por aproximação” (art. 157, §1º)

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois¹ de subtraída a coisa,


emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

Conduta: Emprego de violência física ou grave ameaça, APÓS a subtração da coisa, como
forma de assegurar a detenção da coisa ou a impunidade do crime.

Percebe-se que aqui, a conduta criminosa é o oposto do roubo próprio: Primeiro ocorre a
subtração (ato antecedente), depois a violência ou grave ameaça (atos subsequentes).

É, na realidade, um furto que se transforma em roubo.

Exemplo: agente simula estar armado (grave ameaça) após a subtração da coisa.

Como a lei não prevê, entende-se que no roubo impróprio não se admite violência
imprópria, sob pena de analogia in malam partem. Assim, o emprego de violência imprópria APÓS
a subtração da coisa não transforma o furto em roubo.

ATENÇÃO: Para a configuração do roubo impróprio é INDISPENSÁVEL o prévio


apoderamento da coisa. Se a violência ocorre antes ou durante a subtração, estar-se-á diante de
roubo próprio.

Não houve o prévio apoderamento, logo não cabe roubo impróprio.

Como a violência não foi empregada com o fim de subtrair a coisa, mas sim fugir,
estaremos diante de tentativa de furto em concurso com o crime contra a pessoa (lesão corporal,
provavelmente).

¹“Logo depois”: Elemento normativo que significa que a conduta violenta (emprego de
violência ou grave ameaça) deve ser realizada LOGO DEPOIS de o agente ter a posse precária
da coisa, tão precária que o necessita da violência ou grave ameaça para assegurá-la. Se
164
decorrer um intervalo razoável entre a consumação da subtração e a violência, estaremos diante
de concurso de delitos: furto + crime contra a pessoa.

Aplica-se o princípio da insignificância no roubo?

O STF e o STJ entendem inaplicável o princípio da insignificância no delito de roubo, por


se tratar de crime complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o fato de que a
subtração ocorra mediante violência, protegendo-se também a incolumidade pessoal da vítima.

ROUBO PRÓPRIO
ATO ANTECEDENTE ATO SUBSEQUENTE
-Violência física (violência própria) -Subtração
-Grave ameaça
-Qualquer outro meio capaz de impossibilitar
resistência (violência imprópria).

ROUBO IMPRÓPRIO (OU POR APROXIMAÇÃO)


ATO ANTECEDENTE ATO SUBSEQÜENTE
-Subtração -Violência física
-Grave ameaça
OBS: imprescindível o prévio apoderamento. OBS: não prevê violência imprópria. Se tiver, será
furto + violência.

2.6. TIPO SUBJETIVO

2.6.1. Roubo próprio

Dolo de subtrair, com o emprego de violência ou grave ameaça, acrescentado da


finalidade específica de enriquecimento para si, ou para outrem (elemento subjetivo do tipo).

‘Roubo de uso’ configura é crime?

SITUAÇÃO 1:

Ana subtraiu maliciosamente determinada peça de roupa de alto valor de uma amiga, com
a intenção tão só de utilizá-la em uma festa de casamento. Após o evento, Ana, tendo atingido
seu objetivo, devolveu a vestimenta.

Ana responderá pelo crime de furto?

NÃO. Para que se configure o crime de furto, é necessário que o agente tenha o fim de
assenhoreamento definitivo, ou seja, a vontade de não mais devolver o bem, agindo como se
fosse o dono. Em outras palavras, é indispensável que fique demonstrado o animus rem sibi
habendi. No direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa
pessoa possui animus rem sibi habendi.

No exemplo dado, Ana não tinha animus rem sibi habendi. Sua intenção era apenas a de
usar momentaneamente a coisa e restitui-la à real proprietária. Logo, Ana praticou o chamado
165
“furto de uso”, que não se configura como crime de furto (art. 155 do CP), não sendo punido pelo
Direito Penal comum.

Obs.: o furto de uso é crime no Código Penal militar (art. 241).

Quais são os requisitos para que se configure o furto de uso?

Segundo Cleber Masson (Direito Penal esquematizado. Vol. 2, p. 345), o furto de uso
depende dos seguintes requisitos:

a) subtração de coisa alheia móvel infungível;

b) intenção de utilizar momentaneamente a coisa subtraída (requisito subjetivo);

c) restituição da coisa depois do uso momentâneo, imediatamente, ao seu possuidor


originário (requisito objetivo).

SITUAÇÃO 2:

João estava dirigindo seu veículo quando, ao parar no sinal, foi abordado por um homem
armado que, mediante grave ameaça, exigiu que ele saísse do carro. O agente ficou meia hora
andando com o carro e depois o abandonou.

Esse agente responderá pelo crime de roubo?

SIM. Prevalece que o chamado “roubo de uso” é figura típica, sendo punida como roubo
(art. 157 do CP). Entende-se que o “roubo de uso” não pode ser aceito, já que a grave ameaça ou
violência empregada para a realização do ato criminoso não se compatibilizam com a intenção de
restituição, como bem explica

Guilherme de Souza Nucci, citado pelo Ministro em seu voto:

“O agente, para roubar - diferentemente do que ocorre com o furto -, é levado a usar
violência ou grave ameaça contra a pessoa, de forma que a vítima tem imediata ciência da
conduta e de que seu bem foi levado embora. Logo, ainda que possa não existir, por parte do
agente, a intenção de ficar com a coisa definitivamente (ex; quer um carro somente para praticar
um assalto, pretendendo devolvê-lo, por exemplo), consumou-se a infração penal.” (in Manual de
direito penal: parte gral; parte especial. 4.ª ed., São Paulo RT, p. 700).

2.6.2. Roubo impróprio

Dolo de subtrair e de empregar violência física ou grave ameaça à vítima, com a finalidade
especial de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa (elemento subjetivo).

2.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

2.7.1. Roubo próprio

Consuma-se com o apoderamento da coisa mediante violência ou grave ameaça,


dispensando posse mansa e pacífica (teoria da ‘amotio’). Basta a simples retirada do bem da
esfera de disponibilidade da vítima.

Informativo 572 STJ:


166
Admite-se a tentativa.

Lembrando:

“Concrectatio” – contato;

“Aprehensio” – logo após o contato;

“Amotio” – apoderamento tirando da disponibilidade da vítima;

“Ablatio” – deslocamento de um lugar para o outro;

“Illactio” – deslocamento para lugar desejado pelo agente e mantida a salvo.

2.7.2. Roubo impróprio

Consuma-se com o emprego da violência ou grave ameaça para assegurar o sucesso da


empreitada criminosa, dispensando posse mansa e pacífica da coisa.

Tentativa: A doutrina diverge quanto à possibilidade de tentativa.

1ª C: Não se admite, pois ou a violência é empregada e tem-se a consumação, ou não é


empregada e tem-se o crime de furto (Damásio e doutrina clássica).

2ª C: Admite-se a tentativa na hipótese em que o agente, após apoderar-se do bem, tenta


empregar violência ou grave ameaça, mas é contido (Doutrina moderna: Mirabete, Nucci, Greco,
Fragoso, Bitencourt etc).

Roubo privilegiado? STF e STJ não admitem a aplicação do privilégio do furto ao roubo.
Não seria caso de analogia, mas sim de atividade legiferante do magistrado.

2.8. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (MAJORANTES, ART. 157, §2º)

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:


I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas (perceber que aqui majora,
no furto qualifica!);
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado
para outro Estado ou para o exterior (perceber que aqui majora, no furto
qualifica!);
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

167
O §2º prevê cinco causas de aumento de pena (majorantes).

2.8.1. Inciso I: Emprego de arma

A arma precisa ser efetivamente utilizada no crime ou basta que o agente esteja portando
de forma ostensiva a arma?

1ª C: É imprescindível o emprego efetivo da arma no roubo. Não basta o mero porte


(Bitencourt, Defensoria).

2ª C: Basta o porte ostensivo (Luiz Regis Prado e maioria).

A jurisprudência caminha para a segunda corrente.

CONSIDERAÇÕES:

1) O que pode ser considerado “arma”?

Para os fins do art. 157, § 2º, I, podem ser incluídos no conceito de arma:

 A arma de fogo;

 A arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão, canivete;

 E quaisquer outros "artefatos" capazes de causar dano à integridade física do ser


humano ou de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo,
um espeto de churrasco, uma chave de fenda etc.

2) Se o agente emprega no roubo uma “arma” de brinquedo, haverá a referida causa


de aumento?

NÃO. Até 2002, prevalecia que sim. Havia até a Súmula 174 do STJ afirmando isso.
Contudo, essa súmula foi cancelada, de modo que, atualmente, no crime de roubo, a intimidação
feita com arma de brinquedo não autoriza o aumento da pena.

Fundamentos do cancelamento da Súmula

a) A arma de brinquedo, não obstante caracterize a ameaça elementar do roubo, não


gera um maior risco à incolumidade pessoal da vítima, que foi exatamente o que o
legislador buscou impedir com a criação da majorante em análise.

b) Trabalha-se aqui com o Princípio da lesividade e com a Teoria da Imputação objetiva:


A arma de brinquedo não é capaz de criar ou incrementar o risco proibido.

3) É necessário que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que
incida a majorante?

NÃO. O reconhecimento da causa de aumento prevista no art. 157, § 2º, I, do Código


Penal prescinde (dispensa) da apreensão e da realização de perícia na arma, desde que provado
o seu uso no roubo por outros meios de prova.

Se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial lesivo na arma


empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do art. 156
do Código de Processo Penal.

168
4) Se, após o roubo, foi constatado que a arma empregada pelo agente apresentava
defeito, incide mesmo assim a majorante?

Depende:

a) Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja absolutamente
ineficaz, não incide a majorante. Ex.: revólver que não possui mecanismo necessário
para efetuar disparos. Nesse caso, o revólver defeituoso servirá apenas como meio
para causar a grave ameaça à vítima, conforme exige o caput do art. 157, sendo o
crime o de roubo simples;

b) Se o defeito faz com que o instrumento utilizado pelo agente seja relativamente
ineficaz, INCIDE a majorante. Ex.: revólver que algumas vezes trava e não dispara.
Nesse caso, o revólver, mesmo defeituoso, continua tendo potencialidade lesiva, de
sorte que poderá causar danos à integridade física, sendo, portanto, o crime o de roubo
circunstanciado.

5) O Ministério Público que deve provar que a arma utilizada estava em perfeitas
condições de uso?

NÃO. Cabe ao réu, se assim for do seu interesse, demonstrar que a arma é desprovida de
potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma
incapaz de produzir lesão (STJ EREsp 961.863/RS).

6) Se, após o roubo, foi constatado que a arma estava desmuniciada no momento do
crime, incide mesmo assim a majorante?

NÃO. A utilização de arma desmuniciada, como forma de intimidar a vítima do delito de


roubo, caracteriza o emprego de violência, porém, não permite o reconhecimento da majorante de
pena, já que esta está vinculada ao potencial lesivo do instrumento, pericialmente comprovado
como ausente no caso, dada a sua ineficácia para a realização de disparos (STJ HC 190.067/MS).

7) Além do roubo qualificado, o agente responderá também pelo porte ilegal de arma
de fogo (art. 14 ou 16, da Lei n. 10.826/2003)?

Em regra, não. Geralmente, o crime de porte ilegal de arma de fogo é absorvido pelo crime
de roubo circunstanciado. Aplica-se o princípio da consunção, considerando que o porte ilegal de
arma de fogo funciona como crime meio para a prática do roubo (crime fim), sendo por este
absorvido.

“A conduta de portar arma ilegalmente é absorvida pelo crime de roubo,


quando, ao longo da instrução criminal, restar evidenciado o nexo de
dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos
foram praticados em um mesmo contexto fático, incidindo, assim, o princípio
da consunção” (STJ HC 178.561/DF).

No entanto, poderá haver condenação pelo crime de porte em concurso material com o
roubo se ficar provado nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras
oportunidades antes ou depois do crime de roubo e que ele não se utilizou da arma tão somente
para cometer o crime patrimonial.

Ex.: “Tício”, às 13h, mediante emprego de um revólver, praticou roubo contra “Caio”, que
estava na parada de ônibus (art. 157, § 2º, I, CP). No mesmo dia, por volta das 14h 30min, em

169
uma blitz de rotina da polícia (sem que os policiais soubessem do roubo ocorrido), “Tício” foi preso
com os pertences da vítima e com o revólver empregado no assalto. Em um caso semelhante a
esse, a 5ª Turma do STJ reconheceu o concurso material entre o roubo e o delito do art. 14, da
Lei n. 10.826/2003, afastando o princípio da consunção.

Veja trechos da ementa desse julgado mencionado acima:

O princípio da consunção é aplicado para resolver o conflito aparente de


normas penais quando um crime menos grave é meio necessário ou fase de
preparação ou de execução do delito de alcance mais amplo, de tal sorte
que o agente só será responsabilizado pelo último, desde que se constate
uma relação de dependência entre as condutas praticadas (Precedentes
STJ). 2. No caso em apreço, observa-se que o crime de porte ilegal de arma
de fogo ocorreu em circunstância fática distinta ao do crime de roubo
majorado, porquanto os pacientes foram presos em flagrante na posse do
referido instrumento em momento posterior à prática do crime contra o
patrimônio, logo, em se tratando de delitos autônomos, não há que se falar
em aplicação do princípio da consunção. (...) (HC 199.031/RJ, Rel. Ministro
Jorge Mussi, 5ª Turma, julgado em 21/06/2011)

Outro julgado do STF no mesmo sentido:

1. Caso no qual o acusado foi preso portando ilegalmente arma de fogo,


usada também em crime de roubo três dias antes. Condutas autônomas,
com violação de diferentes bens jurídicos em cada uma delas. 2.
Inocorrente o esgotamento do dano social no crime de roubo, ante a
violação posterior da incolumidade /pública pelo porte ilegal de arma de
fogo, não há falar em aplicação do princípio da consunção. (...) (RHC
106067, Relatora Min. Rosa Weber, 1ª Turma, julgado em 26/06/2012).

2.8.2. Inciso II: Concurso de duas ou mais pessoas

Ao contrário do furto, onde o concurso qualifica o delito, no roubo o concurso MAJORA a


pena. No mais, aplica-se aqui tudo o que foi visto lá, inclusive a súmula 442 do STJ.

-Prevalece que os partícipes são computados.

-Prevalece que inimputáveis e agentes não identificados também são computados.

-Súmula 442 do STJ: não se pode aplicar essa fração no furto.

STJ Súmula: 442 É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso


de agentes, a majorante do roubo.

STJ: Se um maior de idade pratica o roubo juntamente com um inimputável, esse roubo
será majorado pelo concurso de pessoas (art. 157, §2º do CP). A participação do menor de idade
pode ser considerada com o objetivo de caracterizar concurso de pessoas para fins de aplicação
da causa de aumento de pena no crime de roubo.

2.8.3. Inciso III: Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância

170
É imprescindível que a vítima esteja prestando serviços para alguém. Ou seja, quando a
vítima está transportando seus próprios valores, não há que se falar em causa de aumento de
pena, pois não haverá serviço de transporte.

Valores: Há doutrina que limita a valores bancários (carro-forte). No entanto, prevalece que
abrange qualquer tipo de valor (exemplo: caminhão transportando carne; bebida; cigarros etc.).

Informativo 548 do STJ:

2.8.4. Inciso IV: Subtração de veículo automotor que vá para o exterior ou outro Estado

Ao contrário do furto, onde essa circunstância qualifica o delito, no roubo trata-se de


MAJORANTE. No mais, aplica-se aqui tudo o que foi visto lá.

2.8.5. Inciso V: Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade

Este era um dos tipos penais no qual poderia ser enquadrada a conduta do “sequestro-
relâmpago” (antes da Lei 11.923/09).

Roubo majorado pela privação da liberdade X Roubo em concurso com sequestro

ROUBO MAJORADO ROUBO + SEQUESTRO


Privação da liberdade da vítima é um meio A privação da liberdade não é necessária.
necessário para o sucesso da detenção da coisa ou
para a impunidade do crime (garantir a fuga).
A privação não é prolongada. Dura o tempo A privação da liberdade é prolongada: dura mais que o
necessário para o sucesso da empreitada. necessário à subtração da coisa.
Ex.: Assalto a casa, coloco todos os moradores no Exemplo: Assaltante rouba carro e deixa o dono no porta-
banheiro, subtraio os pertences e vou embora. malas por várias horas, enquanto faz seus assaltos a
banco pela cidade.

2.8.6. Parágrafo 2º: a pena aumenta-se de um terço até metade

Imagine a seguinte situação hipotética:

João e Pedro ingressaram em uma loja e, com armas de fogo, ameaçaram o vendedor e o
trancaram em uma sala até que conseguissem subtrair o dinheiro existente no local.

O Ministério Público denunciou os agentes pela prática do crime de roubo majorado (art.
157, § 2º, I, II e V):

171
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
(...)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

Sentença:

O juiz julgou procedente a ação penal e condenou os réus.

Durante a dosimetria, na primeira fase de aplicação da pena (circunstâncias judiciais do


art. 59 do CP), o juiz afirmou que as consequências do crime deveriam ser consideradas
desfavoráveis, tendo em vista que a vítima ficou com sua liberdade cerceada durante um tempo.

Na segunda fase de aplicação da pena, o juiz nada considerou, uma vez que não havia
atenuantes ou agravantes.

Na terceira etapa da dosimetria, o magistrado reconheceu que existiam três causas de


aumento de pena (emprego de arma, concurso de pessoas e o fato de a vítima ter ficado com sua
liberdade restringida). Para calcular o quanto a pena seria aumentada em razão das três
majorantes (§ 2º do art. 157) o juiz afirmou que deveria ser utilizada a seguinte tabela idealizada
pela jurisprudência do STJ:

Logo, no caso concreto, como havia três causas de aumento, a pena foi majorada em 5/12.

Indaga-se: a dosimetria feita pelo juiz foi correta? Você consegue apontar algum
equívoco?

Segundo o STF, a dosimetria apresenta dois equívocos:

1º) O fato de a vítima ter tido a sua liberdade restringida foi utilizado duas vezes para piorar
a situação do réu: na primeira fase da aplicação da pena (como circunstância negativa do crime) e
também na terceira etapa da dosimetria (como causa de aumento). Logo, ocorreu bis in idem, isto
é, o réu foi punido duas vezes pelo mesmo fato (privação da liberdade).

2º) Essa tabela mencionada pelo juiz já foi realmente utilizada em precedentes antigos do
STJ, mas atualmente encontra-se completamente superada, sendo rechaçada pela jurisprudência
do STJ e do STF:

(...) Não se justifica a utilização de tabela com as seguintes proporções: 1/3,


3/8, 5/12, 11/24 e 1/2, de acordo com a constatação do número de
majorantes. (...) (HC 214.036/SP, Rel. p/ Acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, Sexta Turma, julgado em 15/03/2012).

172
Qual é, então, o critério que deve ser utilizado pelo juiz para fazer o incremento da
pena na hipótese em que houver pluralidade de causas de aumento no crime de roubo?

Para se proceder ao aumento, é necessário que o magistrado apresente fundamentação


com base nas circunstâncias do caso concreto. Não pode o juiz utilizar como critério apenas o
número de causas de aumento existentes. Isso porque o critério para a elevação da pena em
função das causas de aumento no crime de roubo não é matemático, mas subjetivo (STJ HC
170.860/SP).

Vale ressaltar que o tema já foi até objeto de enunciado:

Súmula 443-STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no


crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo
suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de
majorantes.

O fato de haver mais de uma causa de aumento faz com que o juiz, obrigatoriamente,
tenha que aumentar a pena acima de 1/3?

NÃO. A presença de mais de uma majorante no crime de roubo não é causa obrigatória de
aumento da reprimenda em patamar acima do mínimo previsto, a menos que o magistrado,
considerando as peculiaridades do caso concreto, constate a existência de circunstâncias que
indiquem a necessidade da exasperação, o que não ocorreu na espécie (STJ HC 179.497/SP,
Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 18/09/2012).

2.9. JURISPRUDÊNCIA

2.9.1. Roubo praticado no interior de ônibus

SITUAÇÃO 1:
173
Imagine a seguinte situação: o sujeito entra no ônibus e, com arma em punho, subtrai os
pertences de oito passageiros. Quantos crimes ele terá praticado?

O agente irá responder por oito roubos majorados (art. 157, § 2º, I, do CP) em concurso
formal (art. 70).

Atenção: não se trata, portanto, de crime único. Confira:

(...) É entendimento desta Corte Superior que o roubo perpetrado contra


diversas vítimas, ainda que ocorra num único evento, configura o concurso
formal e não o crime único, ante a pluralidade de bens jurídicos tutelados
ofendidos. (...) (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 389.861/MG, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/06/2014).

Nesse caso, o concurso formal é próprio ou impróprio?

Segundo a jurisprudência majoritária, consiste em concurso formal PRÓPRIO. Veja


recente precedente:

(...) Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas


distintas, no mesmo contexto fático, resta configurado o concurso formal
próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios
distintos. (...) (STJ. 6ª Turma. HC 197.684/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 18/06/2012) (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1189138/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
11/06/2013).

Qual será o percentual de aumento que o juiz irá impor ao condenado:

2/3 (considerando que foram oito roubos).

Segundo o STJ, o critério para o aumento é o número de crimes praticados:

 2 crimes – aumenta 1/6

 3 crimes – aumenta 1/5

 4 crimes – aumenta ¼

 5 crimes – aumenta 1/3

 6 crimes – aumenta 1/2

SITUAÇÃO 2:

Imagine agora o caso um pouco diferente: o sujeito entra no ônibus e, com arma em
punho, subtrai apenas os bens que estavam na posse do cobrador de ônibus: 30 reais e um
aparelho celular, pertencentes ao funcionário, e 70 reais que eram da empresa de transporte
coletivo. Quantos crimes ele terá praticado?

Um único crime (art. 157, § 2º, I, do CP).

Segundo decidiu o STJ, em caso de roubo praticado no interior de ônibus, o fato de a


conduta ter ocasionado violação de patrimônios distintos (o da empresa de transporte coletivo e o

174
do cobrador) não descaracteriza a ocorrência de crime único se todos os bens subtraídos estavam
na posse do cobrador.

No voto, o Ministro relembrou que a jurisprudência do STJ e do STF entende que o roubo
perpetrado com violação de patrimônios de diferentes vítimas, ainda que em um único evento,
configura concurso formal de crimes, e não crime único (vimos isso acima). Todavia, para ele,
esse mesmo entendimento não pode ser aplicado ao caso em que os bens subtraídos, embora
pertençam a pessoas distintas, estavam sob os cuidados de uma única pessoa, que sofreu a
grave ameaça ou violência. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.396.144-DF, Rel. Min. Walter de
Almeida Guilherme (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 23/10/2014 (Info 551).

Cuidado, portanto, para saber a regra geral (situação 1) e esse caso peculiar que pode ser
cobrado em sua prova (situação 2).

2.9.2. Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa, mas subtração de um


patrimônio

Imagine a seguinte situação hipotética:

Maria, rica empresária, estava saindo do banco, acompanhada de seus dois seguranças,
carregando uma mala de dinheiro que havia sacado. João, experiente ladrão, aproximou-se do trio
e, de arma em punho, deu uma coronhada em um dos seguranças, causando lesão leve, e
ameaçou o outro, mandando que ele corresse. Ato contínuo, João subtraiu a mala da empresária
e fugiu do local sem ser incomodado.

Quantos crimes o agente cometeu?

Um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º, I do CP).

No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único


patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no modus operandi (modo de
execução), seja utilizada violência u grave ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção
do resultado pretendido.

“Se o agente utiliza grave ameaça ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente


contra duas ou mais pessoas, mas subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por
um só crime de roubo”. (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª ed., São Paulo: Método,
2014).

175
Por quê?

O roubo é um crime contra o patrimônio. Logo, para o STJ, se a intenção do agente foi
direcionada à subtração de um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que,
para a sua execução, seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa.

E a lesão leve praticada contra o segurança?

Fica absorvida pelo crime mais grave (roubo). Aplica-se o princípio da consunção. Vale
ressaltar, no entanto, que esse fato poderá ser considerado como circunstância judicial negativa
na 1ª fase da dosimetria da pena.

2.10. QUALIFICADORAS (§3º)

Art. 157, § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de


reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a
reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

Ou seja:

- Se da violência resulta lesão grave: Pena de 07 a 15 + multa.

- Se da violência resulta morte (latrocínio): Pena de 20 a 30 + multa.

Observações

Somente o §3º, ‘in fine’ – resultado morte - chama-se latrocínio (crime hediondo).

Os resultados lesão grave e morte podem advir de DOLO ou CULPA. Ou seja, podem
configurar um delito doloso ou preterdoloso. O crime será hediondo mesmo que a morte advenha
de culpa (muitos consideram desproporcional essa conduta).

Os resultados qualificadores devem ser consequência da violência física, não abrangendo


grave ameaça ou violência imprópria (exemplo: uso de narcóticos na bebida da vítima).

Se a vítima morre em função da grave ameaça ou da violência imprópria haverá concurso


de delitos: Roubo simples + Crime contra a pessoa (lesão corporal grave ou homicídio, doloso ou
culposo).

A disposição dos parágrafos faz concluir que a forma qualificada pode incidir tanto no
roubo próprio (caput) quanto no impróprio (§1º)

A violência deve ser empregada:

a) Durante o assalto: Fator tempo.

b) Em razão do assalto: Fator nexo. A violência física que causa o resultado deve ser
empregada com o fim de garantir a subtração da coisa ou a impunidade do delito.

Ausente um dos fatores não há que se falar em latrocínio. Exemplos:

1) Durante o assalto, o agente mata um desafeto que passa pelo local: Falta o fator nexo.
Não é latrocínio. Responde por roubo em concurso com homicídio doloso.

176
2) Duas semanas depois do roubo, o assaltante mata o gerente do banco que o
reconheceu. Falta o fator tempo. Responde pelo roubo + homicídio qualificado pela
conexão consequencial (art. 121, §2, IV - ver acima).

3) Assaltante que mata o comparsa para ficar com o proveito do crime. NÃO
CONFIGURA LATROCÍNIO, pois falta o fator nexo. Responde pelo roubo em concurso
com homicídio qualificado pela torpeza (ganância).

4) Assaltante que mira a vítima e mata o comparsa durante o assalto. SIM, É


LATROCÍNIO. Estamos diante de ‘Aberratio ictus’ (erro na execução), devendo o
agente responder pelo delito levando-se em conta as qualidades da vítima virtual (art.
73 do CP).

Latrocínio não é crime contra a vida. A morte é o meio para se atingir o patrimônio da
vítima. Por isso não vai a júri. Nesse sentido é a

STF SÚMULA 603 “a competência para o processo e julgamento de


latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri”.

CUIDADO: Se a intenção inicial era a morte, e depois o sujeito resolve subtrair os


pertences que estava com o morto, tratar-se-á de homicídio em concurso material com furto.

A forma qualificada do §3º NÃO CONVIVE com as majorantes do §2º, vale dizer, as
causas especiais de aumento de pena só se aplicam ao roubo simples (próprio ou impróprio);
jamais ao roubo seguido de lesão grave ou latrocínio. No máximo, as majorantes podem servir
como circunstâncias judiciais desfavoráveis na fixação da pena-base.

2.11. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

1ª Situação: Morte consumada + Subtração consumada = Latrocínio consumado.

2ª Situação: Morte consumada + subtração tentada = Latrocínio consumado. Súmula 610


do STF.

STF SÚMULA Nº 610 há crime de latrocínio, quando o homicídio se


consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.

Crítica à Súmula (Rogério Greco): Conforme o art. 14, I do CP o crime só se consuma


quanto nele se reúnem todos os seus elementos. O latrocínio é um crime complexo, cujos
elementos são subtração e morte. Não se reunindo um deles, não há que se falar em
consumação. A súmula ignora a definição de crime consumado trazida pelo art. 14, I do CP.

Art. 14 - Diz-se o crime:


I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
legal; ...

3ª Situação: Morte tentada + Subtração tentada = Latrocínio tentado.

4ª Situação: Morte tentada + Subtração consumada = Três correntes:

1ª C: Latrocínio tentado. Doutrina + maioria do STF/STJ.

177
Essa corrente tira o caso do júri e joga para o rol dos crimes hediondos.

2ª C: Roubo qualificado pelo resultado lesão grave (quando ocorrer).

Tira o caso do júri e retira a hediondez do delito.

Conta com decisão do STF (1ª T. HC 94.775, de 04/04/2009, Rel. Min. Marco Aurélio).

3ª C: Tentativa de Homicídio qualificado em concurso com roubo qualificado.

Vai para o júri e é crime hediondo.

Conta com decisão do STF (2ª T. HC 91.585/2008). Nesse HC ficou evidenciado o animus
necandi do agente, daí a configuração do concurso dos delitos de roubo consumado e homicídio
tentado.

SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO


Consumada Consumada Consumado
Tentada Tentada Tentado
Consumada Tentada Tentado
(Lembrar decisão da 2ª T, quando
o agente demonstrar o animus
necandi = concurso tentativa de
homicídio qualificado + roubo
qualificado)
Tentada Consumada Consumado (Súmula 610 STF)
Como se percebe, o que ocorre com a vida da vítima é o que determina a consumação ou não do
latrocínio.

Informativo 521 STJ:

Havendo apenas uma subtração, porém com pluralidade de mortes, quantos crimes
há?

1ª C: Prevalece que sendo o latrocínio crime complexo, a pluralidade de vítimas não


implica na pluralidade de latrocínios. Trata-se de crime único contra o patrimônio, servindo as
várias mortes para agravar a pena (Bitencourt, Mirabete).

2ª C: Haverá continuidade delitiva. As várias mortes configuram pluralidades de crimes.

3ª C: Haverá concurso formal de delitos.


178
Informativo 705 STF:

3. EXTORSÃO

3.1. PREVISÃO LEGAL

Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a
fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: (extorsão simples)
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de
arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. (majorante)
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º
do artigo anterior. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (extorsão qualificada pelo
resultado lesão grave ou morte = pena da lesão no roubo/ latrocínio)
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e
essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a
pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta
lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§
2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009) (extorsão
qualificada – “sequestro relâmpago” = penas da extorsão mediante
sequestro no caso de resultado lesão grave ou morte)

Constrangimento Ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa

Art. 158: meio (art. 146) + vantagem econômica.


179
3.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Dupla objetividade jurídica: patrimônio e liberdade individual da vítima, sem falar também
da sua incolumidade pessoal e da própria vida, que também são protegidas pelo tipo penal.

O ataque à liberdade é o meio. A vantagem econômica é o fim.

É exatamente esse fim especial que diferencia o art. 158 do art. 146 (constrangimento
ilegal).

O que está em negrito é o constrangimento ilegal do art. 146. O que está em sublinhado é
a finalidade específica que diferencia a extorsão (elemento especializante).

3.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

O dono da coisa não pode praticar, a não ser que a coisa esteja em legítima posse de
terceiro.

Rogério: Cuidado quando o sujeito ativo for funcionário público: pode ocorrer o crime de
concussão.

Não parece muito correto, tendo em vista que a concussão não decorre da violência ou
grave ameaça, mas sim da condição pessoal do agente (funcionário público). Inclusive, se o
funcionário público faz a exigência mediante violência ou grave ameaça, pode ocorrer crime de
extorsão em vez de concussão.

3.4. SUJEITO PASSIVO

A vítima é a pessoa ferida no patrimônio, bem como aquela que, alheia ao patrimônio,
sofreu violência ou grave ameaça.

Rogério Sanches e Rogério Greco: Quanto ao sujeito passivo que tem seu patrimônio
afetado, pode-se incluir as pessoas jurídicas.

3.5. TIPO OBJETIVO

A conduta é constranger (obrigar, coagir) alguém a fazer ou deixar de fazer algo, com a
finalidade de obter vantagem econômica indevida, para si ou para outrem.

Esse constrangimento deve ser praticado mediante violência (física) ou grave ameaça. A
violência IMPRÓPRIA não é admitida. Exemplo de grave ameaça: Chantagem.

Roubo X Extorsão

A doutrina apresenta alguns critérios de diferenciação entre roubo e extorsão. Quatro


deles:

ROUBO EXTORSÃO
180
O ladrão subtrai. O extorsionário faz com que se lhe
entregue a vantagem indevida.
O agente busca vantagem imediata. O agente busca vantagem mediata, futura.
A colaboração da vítima é dispensável, embora A colaboração da vítima é indispensável.
possa ocorrer.
O mal prometido à vítima é iminente. O mal prometido é futuro.

Ex.: Arma na cabeça. Passa a carteira! Roubo ou extorsão? Roubo, pois se a vítima não
entrega a carteira o sujeito a subtrairia à força. Ou seja, a colaboração é dispensável e a
vantagem é imediata.

É possível que haja os dois crimes no caso concreto. Ex.: Arma na cabeça. Passa o carro
(roubo); passa o cartão com a senha (extorsão: se não der a senha não há vantagem indevida).
Há concurso material de delitos (STJ).

Defensoria: não concordar com isso. A extorsão fica absorvida porque protege o mesmo
bem jurídico. Existe jurisprudência não admitindo o concurso.

3.6. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido somente a título de dolo (dolo de constranger), acrescido da finalidade


específica de obter vantagem econômica indevida para si ou para outrem.

Note-se que a vantagem econômica tem um sentido mais amplo que a coisa alheia móvel
dos delitos de furto e roubo.

E se a vantagem não for econômica? Não se trata de extorsão. Outro será o crime, como
por exemplo, constrangimento ilegal, no caso de não haver finalidade específica na conduta.

E se a vantagem econômica for devida? Tratar-se-á do delito de Exercício arbitrário das


próprias razões (art. 345 do CP).

Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão,
embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena
correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede
mediante queixa.

OBS: o delito de exercício arbitrário das próprias razões consuma-se ainda que a dívida (por
exemplo) seja somente imaginada pelo agente, desde que ele realmente ache que é devida (se
engana, por exemplo).

E se a vantagem for sexual? Art. 213, estupro.

3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

1ª C: O crime é material, consumando-se com a obtenção da indevida vantagem


econômica.

181
2ª C: O crime é formal, consumando-se com o constrangimento (com a conduta da vítima
no sentido de fazer ou deixar de fazer algo), dispensando a obtenção da indevida vantagem
econômica. A obtenção da vantagem econômica é mero exaurimento. O que o juiz faz com o
exaurimento? Circunstâncias judiciais, pena base.

Nesse sentido, a Súmula 96 do STJ.

STJ Súmula: 96 o crime de extorsão consuma-se independentemente da


obtenção da vantagem indevida.

Consequências:

1) Crime material

a) A prescrição começa a correr a partir da obtenção da vantagem;

b) No momento da obtenção da vantagem, admite-se flagrante.

c) Admite-se a participação até o momento do recebimento da vantagem. O sujeito que


recebe o dinheiro é concorrente no delito.

2) Crime formal

a) A prescrição começa a correr do constrangimento;

b) No momento da obtenção da vantagem, em regra, não se admite flagrante, pois se


está diante de mero exaurimento.

c) Admite-se a participação somente até a realização do efetivo constrangimento. Aquele


que recebe o dinheiro não comete extorsão, podendo ser punido pelo delito
favorecimento real (art. 349 do CP).

Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de


receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Tentativa: Crime formal ou material, a extorsão sempre admite tentativa quando o ‘iter
criminis’ puder ser fracionado (crime plurissubsistente). Exemplo: carta extorsionária interceptada.

3.8. MAJORANTES (art. 158 §1º)

Art. 158
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime É COMETIDO por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.

IMPORTANTE: Diferente do roubo, na extorsão se exige dois ou mais EXECUTORES,


vale dizer, não abrange o partícipe.

No mais, aplica-se tudo o que já foi estudado nas majorantes do roubo.

ROUBO (ART. 157) EXTORSÃO (ART. 158)


182
§2º Majorantes: pena aumenta-se de 1/3 até ½. §1º Majorantes: a pena aumenta-se de 1/3 a ½.
I) Inciso I: Emprego de arma; §1º: Emprego de arma
II) Inciso II: Concurso de 2 ou mais pessoas (abrange §1º: Cometido por duas ou mais pessoas (só abrange
partícipes). executores, não abrange partícipes);
III) Inciso III: Transporte de valores; xxx (fixação da pena-base)
IV)
V) Inciso IV: Transporte de veículos para outro Estado xxx (fixação da pena-base)
ou Exterior;
VI)
VII) Inciso V: Privação da liberdade da vítima. §3º: Qualificadora (sequestro-relâmpago)

3.9. FORMA QUALIFICADA (art. 158 §2º)

Art. 158
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º
do artigo anterior (art. 157§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave,
a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta
morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa).

É o caso quando da violência (um dos ‘modus operandis’ do constrangimento) resulte


lesão grave ou morte. Aplica-se aqui tudo o que foi discutido quanto às qualificadoras do roubo.

Lembrando que a extorsão qualificada pela morte faz parte do rol de crimes hediondos.

157, §3º 158, §2º


Se da violência resulta lesão grave ou morte Se da violência resulta lesão grave ou morte.

O que é extorsão INDIRETA?

Extorsão indireta é o ato de exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da


situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou
contra terceiro.

Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação
de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra
a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

3.10. “SEQUESTRO-RELÂMPAGO” (art. 158, §3º)

Art. 158 (extorsão: “sequestro relâmpago”)


§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e
essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a
pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta
lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§
2o e 3o, (extorsão mediante sequestro com resultado lesão grave e morte)
respectivamente.

Art. 159 (extorsão mediante sequestro)


§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
183
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

Esse parágrafo foi acrescentado pela Lei 11.923/09. Antes da Lei, o tal “sequestro-
relâmpago”, a depender do caso, poderia ser tipificado de três formas diferentes:

 Roubo majorado pela privação da liberdade (art. 157, §2º, V);

 Extorsão (art. 158, caput): Funcionando a privação momentânea da liberdade como


mera circunstância judicial.

 Extorsão mediante sequestro (art. 159): Sendo a privação da liberdade elementar do


delito.

Em qualquer dos casos, em havendo morte como resultado da violência, trata-se de crime
hediondo, sendo que no caso do art. 159 sequer é exigível a morte para configurar a hediondez.

Sucede que ao alterar o CP, acrescentando a extorsão qualificada do §3º do art. 158, que
também prevê o resultado morte, o legislador não acrescentou essa hipótese ao rol taxativo de
crimes hediondos da Lei 8.072/90. Por conta disso, tem prevalecido na doutrina que o sequestro-
relâmpago com resultado morte (art. 158, §3º, in fine) não configura crime hediondo, uma vez que
entendimento contrário implicaria em analogia in malam partem.

Sequestro relâmpago: Antes da Lei 11.923/2009

ROUBO (ART. 157, §2º, V) EXTORSÃO (ART. 158, CAPUT) EXTORSÃO MEDIANTE
SEQUESTRO (ART. 159)
O agente subtrai a coisa. O agente constrange a entregar a Sequestro com privação de curta
vantagem econômica. duração, como meio de extorquir.
Colaboração da vítima é Colaboração indispensável da vítima. Colaboração de terceiro é
dispensável. indispensável para o sucesso da
empreitada.
A privação da liberdade é A restrição da liberdade era mera A privação era elementar do tipo.
majorante (§2º, V  aumenta pena circunstância judicial do art. 59 do CP.
de 1/3 a ½) . (*a lei 11.923/09 transformando isto
em uma consequência mais grave,
inseriu o §3º no art. 158)

OBS: No caso de morte vira OBS: No caso de morte vira hediondo OBS: Sempre hediondo.
hediondo (latrocínio, art. 157, §3º, (art. 158, §2º).
in fine).

Sequestro relâmpago: Depois da Lei 11.923/2009

ROUBO (ART. 157, §2º, V) EXTORSÃO (ART. 158, §3º) EXTORSÃO MEDIANTE
184
SEQUESTRO (ART. 159)
O agente subtrai a coisa. O agente constrange a entregar a Sequestro com privação de curta
vantagem econômica. duração, como meio de extorquir.
Colaboração da vítima é Colaboração indispensável da vítima. Colaboração de terceiro é
dispensável. indispensável para o sucesso da
empreitada (pagamento do
resgate).
A privação da liberdade é A restrição da liberdade agora é A privação era elementar do tipo.
majorante (§2º, V  aumenta pena qualificadora.
de 1/3 a ½) .

OBS: No caso de morte vira OBS: Hediondo? Não alteraram a OBS: Sempre hediondo.
hediondo (latrocínio, art. 157, §3º, LCH, assim, essa forma qualificadora
in fine). não consta lá. Ver abaixo.

Pena: 04 a 10 anos + 1/3 até Pena: 06 a 12 anos. Pena: 08 a 15 anos.


metade.

LCH
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
[...]
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e
§§ lo, 2o e 3o);

Sucede que ao alterar o CP, acrescentando a extorsão qualificada do §3º, que também
prevê o resultado morte, o legislador não acrescentou essa hipótese ao rol taxativo de crimes
hediondos da Lei 8.072/90. Ou seja, em se tratando de extorsão com resultado morte, somente
figura na LCH o §2º do art. 158 do CP. Por conta disso surge a dúvida:

O sequestro relâmpago com resultado morte é crime hediondo?

1ª C: Prevalece que não é hediondo, pois é fato que se subsumi ao art. 158, §3º, que
NÃO CONSTA DO ROL TAXATIVO DA Lei 8.072/90 (Nucci, Bitencourt, Greco, Cleber Masson). O
legislador não acrescentou essa hipótese à Lei de Crimes Hediondos, logo não cabe ao intérprete
fazer analogia in malam partem.

2ª C (Rogério Sanches): O que fez o legislador com a Lei 11.923/09 foi apenas especificar
uma das várias formas de execução do delito de extorsão. Ele não criou novo delito. Sem o §3º já
era possível encaixar o sequestro-relâmpago com resultado morte na Lei dos Crimes hediondos.
Conclusão: Sequestro-relâmpago do §3º do art. 158 com resultado morte é hediondo, tratando-se
de interpretação extensiva, única forma de chegar a real intenção do legislador.

4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO

4.1. PREVISÃO LEGAL

185
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate (extorsão mediante
sequestro simples):
Pena: Reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se
o crime é cometido por bando ou quadrilha. (qualificadora)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: (qualificadora)
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte: (qualificadora)
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida
de um a dois terços. (Minorante)

Perceber o seguinte: tratando-se de penas, o art. 158 (extorsão) remete em caso de


resultado lesão grave ou morte ao art. 157 §3º (roubo com lesão grave/latrocínio), no entanto, o
mesmo art. 158 (extorsão), em caso de cerceamento de liberdade da vítima, sendo esta
necessária para a empreitada (“sequestro relâmpago”.), remete ao art. 159 §2º e §3º (extorsão
mediante sequestro qualificada pela lesão grave ou morte). Não confundir!

4.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Precipuamente o patrimônio, mas também a liberdade de locomoção, a incolumidade


pessoal da vítima e, eventualmente, a vida.

O art. 159 é mais um exemplo de crime complexo, tratando-se, na realidade, de uma forma
especializada de extorsão, qual seja, aquela cujo meio de execução utilizado é a privação da
liberdade de uma pessoa.

Essa privação da liberdade é mesma do delito de sequestro ou cárcere privado, estudado


anteriormente.

A extorsão mediante sequestro é SEMPRE crime hediondo, independentemente de


resultar ou não na morte da vítima. Ao contrário da extorsão, que somente é hediondo se houver
resultado lesão grave ou morte (lembrando a controvérsia quanto ao 158 §3º extorsão sequestro
relâmpago – há quem diga que é hediondo há quem diga que não é, prevalece que não, porque
não há previsão na LCH), contrário também do roubo que somente é hediondo em caso de lesão
grave ou morte (latrocínio).

4.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

4.4. SUJEITO PASSIVO

Não apenas a pessoa privada de locomoção, mas também o sujeito que paga o resgate é
vítima do delito.

186
Tal como no delito de extorsão (art. 158), também pode ser sujeito passivo a Pessoa
Jurídica que paga o resgate e, consequentemente é atingida em seu patrimônio.

Exemplo.: Sequestro do Sílvio Santos. Resgate pago pelo SBT. Nesse caso, a Pessoa
Jurídica do SBT será o sujeito passivo.

PROVA: Sequestro de animal com o fim de obter vantagem indevida como resgate. Quem
crime configura? EXTORSÃO do art. 158 do CP. Animal não é vítima de sequestro. O tipo fala em
‘pessoa’.

4.5. TIPO OBJETIVO

O verbo núcleo (conduta) é sequestrar (privar a liberdade da vítima).

Apesar de o tipo penal não mencionar a figura do cárcere privado (privação com
confinamento), a doutrina entende que o verbo sequestrar foi utilizado em seu sentido amplo,
abrangendo também aquele delito.

É um crime de execução livre, podendo ser praticado comissiva ou omissiva. Ex. de


sequestro omissivo: O sujeito que tem o dever de colocar a vítima em liberdade diz que só o fará
se receber indevida vantagem.

O efetivo sequestro pode ser antecedido de violência, grave ameaça, fraude ou qualquer
outro modo.

A vítima não precisa ser removida de um local para outro para que se configure o delito.
Ex.: Vítima que fica confinada em sua própria casa.

4.6. TIPO SUBJETIVO

Somente é punido a título de DOLO (consciência e vontade de sequestrar), acrescido da


finalidade específica de locupletamento ilícito (desejo de obter para si ou para outrem qualquer
vantagem).

Percebe-se que, diferentemente do art. 158 do CP (extorsão), o tipo do art. 159 não faz
referência à vantagem indevida e econômica. Apesar disso, prevalece na doutrina que esses
elementos estão implícitos no tipo penal.

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com


o intuito de OBTER PARA SI OU PARA OUTREM INDEVIDA VANTAGEM
ECONÔMICA, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
QUALQUER VANTAGEM, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

De acordo com Nelson Hungria, a vantagem buscada no delito do art. 159 deve ser
indevida e econômica (pois o delito pertence ao título dos crimes contra o patrimônio). Se o
sequestro visa obter vantagem devida o crime será o de exercício arbitrário das próprias razões
em concurso formal com o delito de sequestro.

187
Contra: Damásio e Bitencourt, entendendo que o delito do art. 159 se configura com a
exigência de qualquer vantagem (devida ou indevida; econômica ou não).

4.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consumação:

Prevalece (STF) que o crime se consuma com a realização do núcleo do tipo, ou seja, com
a efetiva privação da liberdade. Dispensa-se, assim, a exigência do resgate, bem como a
obtenção de indevida vantagem. Trata-se de crime formal.

Prevalece que não importa o tempo de privação da liberdade para que reste configurado o
crime. A maior ou menor duração do sequestro influirá apenas na fixação da pena.

Tal qual o delito de sequestro e cárcere privado, o art. 158 é exemplo de crime
permanente, cuja consumação se protrai no tempo. Consequências:

a) Súmula 711 do STF - Aplicação da ‘novatio legis in pejus’.

b) Admite flagrante enquanto perdura a privação da liberdade.

c) A prescrição só começa a correr depois de cessada a permanência.

CUIDADO: O crime continua no estágio de consumação enquanto perdura a privação da


liberdade, pouco importando se o pagamento do resgate já foi realizado.

Tentativa: É perfeitamente possível, pois a conduta permite fracionamento do ‘iter criminis’


(crime plurissubsistente). Exemplo: não consegue consumar a privação da liberdade.

4.8. FORMAS QUALIFICADAS (art.159 §§1º, 2º e 3º)

4.8.1. § 1º: Três qualificadoras. Pena - reclusão, 12 a 20 anos.

§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o


sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se
o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

1ª - Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas

É mais uma prova de que não importa o tempo de privação para que se consume o crime.
Frise-se: Se o resgate foi pago em 5 minutos, mas a privação dura 25 horas, incide a
qualificadora.

O que se conta é o tempo de privação e não o tempo para o pagamento do resgate.

2ª - Se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos

Menoridade: O que importa é a menoridade quando se inicia a privação da liberdade,


pouco importando se a vítima atingir os 18 anos no decorrer do sequestro.

Senilidade: Raciocínio inverso. Para configurar a qualificadora basta que a vítima tenha
mais de 60 anos no momento do fim do sequestro (frise-se não pode trocar a expressão “maior de
188
60 anos” por idoso, isso porque se trata de idosos MAIORES de 60 anos, enquanto o Estatuto do
Idoso considera idosos pessoas com idade IGUAL ou MAIOR de 60 anos).

Estatuto do Idoso
Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

OBS: O agente do crime deve ter conhecimento da idade da vítima, sob pena de
responsabilidade penal objetiva. Se não tiver conhecimento, não responderá pela forma
qualificada, pois terá agido em erro de tipo.

3ª - Se o crime é cometido por bando ou quadrilha:

A doutrina diverge quanto a possibilidade de punição também pelo crime do art. 288 do
CP.

1ª C: Há concurso material de delitos (Capez, Greco).

2ª C: Não pode haver concurso, sob pena de bis in idem. PREVALECE.

4.8.2. §§2º e 3º - Cinco observações sobre a extorsão mediante sequestro qualificada


pelo resultado lesão grave ou morte:

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

 Os resultados qualificadores que podem advir tanto de dolo como de culpa.

 Prevalece que o resultado morte ou lesão grave deve recair necessariamente sobre
a vítima do sequestro, uma vez que o tipo menciona “se do fato (sequestro) ocorrer o
resultado qualificador”. A qualificadora não incide, por exemplo, se quem vem a
morrer é o policial que estoura o cativeiro.

Contra: Bitencourt, que entende que a morte de qualquer pessoa envolvida é capaz
de gerar a qualificadora.

 Se o resultado decorrer de caso fortuito ou força maior, não há que se falar em


extorsão qualificada pelo resultado, nos termos do art. 19 do CP.

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o


agente que o houver causado ao menos culposamente.

 O delito do §3º possui a maior pena cominada no Código Penal.

 Ao contrário dos delitos de roubo e extorsão, aqui não se exige que o resultado
qualificador advenha de violência real (“do fato”). Naqueles delitos o artigo se refere
“se da VIOLÊNCIA resulta...” aqui, como dito refere “se do FATO resulta...”.

4.9. DELAÇÃO PREMIADA (art. 158 §4º - minorante)

189
ART. 158, § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o
denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua
pena reduzida de um a dois terços.

Requisitos cumulativos:

1º- Crime cometido em concurso

A delação é possível desde que seja cometido por duas ou mais pessoas. Não mais se
exige o cometimento do crime por meio de associação criminosa.

2º- Um dos concorrentes (coautor ou partícipe) deve denunciar o crime à autoridade

Autoridade em sentido amplo: Abrange polícias, MP e magistratura.

3º- A informação dada pelo concorrente deve facilitar a libertação do sequestrado.

Ou seja, a delação deve ser eficaz.

Exige-se a recuperação do resgate para que incida a delação premiada?

Há doutrina que exige essa condição, porém não prevalece. Não existe na lei essa
condição. Ao assim agir o intérprete sequer está fazendo analogia, mas efetivamente está
legislando.

Redução de pena:

A redução será diretamente proporcional ao auxílio prestado pelo criminoso.

5. ESTELIONATO

5.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento: (estelionato simples)
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode
aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º. (privilégio: ‘furto
mínimo’: se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o
juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.)
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem (subtipos de estelionato):
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa
alheia como própria; (estelionato por disposição de coisa alheia como
própria)
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer
dessas circunstâncias; (estelionato por alienação ou oneração fraudulenta
de coisa própria)
II - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
(estelionato por defraudação de penhor)
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve
entregar a alguém; (estelionato por fraude na entrega de coisa)
190
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro; (estelionato por fraude para
recebimento de indenização ou valor de seguro)
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
ou lhe frustra o pagamento. (estelionato por fraude no pagamento por meio
de cheque).
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento
de entidade de direito público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência. (majorante)
Estelionato contra idoso
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.
(Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015) (majorante)

5.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Patrimônio.

5.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

5.4. SUJEITO PASSIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

Pode ser a pessoa enganada e a pessoa prejudicada economicamente (OBS: nem sempre
coincidem nas mesmas pessoas a fraude e a lesão patrimonial).

Observações

- A vítima é a pessoa que sofre a diminuição do patrimônio, bem como qualquer outra
pessoa iludida pela conduta do agente.

- A vítima enganada deve ser capaz, com capacidade de discernimento. Se for vítima
incapaz, estaremos diante do crime do art. 173 do CP (abuso de incapazes). Ainda, se tratar-se
de vítima sem qualquer capacidade de ser iludida (exemplo: débil mental), estaremos diante de
furto.

CP Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão


ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem,
induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito
jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

A vítima deve ser determinada. Se a vítima for indeterminada, poderá tratar-se de crime
contra a economia popular (Lei 1.521/51) ou crime contra a relação de consumo (CDC).

Exemplos: a) Adulteração de taxímetro (todos os clientes serão vítimas); b) Adulteração de


bomba de gasolina; c) Adulteração de balança.

191
Adulteração de combustível: cuidado. Tem lei especial. Art. 1º, 8176/91.

Lei nº 8.176/91
Art. 1° Constitui crime contra a ordem econômica:
I - adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas
frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais
combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas
estabelecidas na forma da lei;
II - usar gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas,
caldeiras e aquecimento de piscinas, ou para fins automotivos, em
desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei.

Pena: detenção de um a cinco anos.

5.5. TIPO OBJETIVO: ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO ESTELIONATO

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Conduta: Empregar meio fraudulento para conseguir vantagem ilícita, em prejuízo alheio.

A ocorrência do estelionato exige a presença de três elementos:

1-Fraude;

2-Vantagem ilícita (indevida);

3-Prejuízo alheio.

Senão, vejamos:

5.5.1. Fraude

É a conduta realizada pelo agente com o objetivo de induzir ou manter a vítima em erro.

Induzir a vítima em erro: É o agente quem cria na vítima a falsa percepção da realidade.

Manter a vítima em erro: O agente aproveita-se do engano espontâneo da vítima.

Meios de praticar a fraude:

-Artifício (uso de objetos ou aparatos aptos a enganar - falso bilhete premiado; documento
falso; disfarce),

-Ardil (conversa enganosa, lábia) ou qualquer outro meio fraudulento (abrange aqui o
silêncio - estelionato por omissão - muito comum para manter a vítima em erro).

5.5.2. Vantagem ilícita (indevida)

A conduta do agente (emprego da fraude) deve ser dirigida à obtenção de vantagem ilícita,
para si ou para terceiro.

O terceiro beneficiado não precisa ter conhecimento da origem ilícita da vantagem; em não
sabendo que aquilo que recebe é produto de crime, não responderá por nenhum delito.
192
O emprego de fraude para obtenção de vantagem devida (lícita) não configura estelionato,
mas sim exercício arbitrário das próprias razões.

Natureza da vantagem: Duas correntes:

1ª C: pode ser qualquer vantagem, haja vista não ter o legislador especificado a natureza
econômica (como o fez na extorsão, por exemplo). Luiz Régis Prado.

2ª C: PREVALECE. Como o delito se encontra no Título II do CP, que corresponde aos


crimes contra o patrimônio, entende-se que a vantagem deve, necessariamente, ser econômica
(Rogério Greco).

Por isso que o STF já entendeu que a “cola eletrônica” – “o ponto no ouvido” – para
realização de vestibulares, concursos públicos e tal é atípico – infração administrativa.

Cola eletrônica (ponto eletrônico) é estelionato? Há duas correntes no STF

1ª Corrente (minoritária) 2ª Corrente (PREVALECE)


É estelionato, pois há fraude, vantagem econômica Antes da Lei 12.550/2011
indevida (estudos gratuitos/salário) e prejuízo alheio (dos Fato atípico.
concorrentes ou da própria instituição). Não é estelionato, pois não há vantagem econômica.
Também configura falsidade ideológica, pois o agente Não há falsidade ideológica, pois, as respostas ditadas
coloca respostas que representam a ideia de outra são do candidato, ainda que sugeridas por outrem.
pessoa.

ATENÇÃO A LEI 12.550 de 2011. Vejamos:

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si


ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo
sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer
meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas
no caput.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por
funcionário público.

Trata-se de crime contra a fé pública, cujos sujeitos são: ativo – qualquer pessoa, sendo
que na hipótese de ser praticado por funcionário público há aumento de pena (§3º); passivo –
vislumbramos o Estado, a coletividade e, possivelmente uma vítima imediata que pode ser
prejudicada pela divulgação do conteúdo sigiloso do certame.

Atentos aos parâmetros estabelecidos pelo preceito secundário do novo crime (pena
mínima cominada igual a um ano), notamos a possibilidade de suspensão condicional do
processo (art. 89, da Lei 9.099/95).

5.5.3. Prejuízo alheio


193
A conduta o agente, dirigida à obtenção da vantagem ilícita, deve gerar algum prejuízo à
vítima. Esse prejuízo pode se traduzir tanto na perda de patrimônio como no fato de a vítima
deixar de ganhar alguma vantagem patrimonial em decorrência da fraude empregada pelo
estelionatário.

Fraude eletrônica na internet para realizar transferências bancárias configura


estelionato?

NÃO, configura FURTO MEDIANTE FRAUDE, porquanto há subtração (a transferência da


posse da coisa não é voluntária).

Fraude bilateral (ou torpeza bilateral) exclui o crime de estelionato? (Quando a vítima
também age com má-fé)? Duas correntes:

1ª C (PREVALECE): Como a boa-fé da vítima não é elementar do crime, mesmo que esta
aja com ganância, não apaga o crime. Lembrar as pessoas da TV que são severamente
enganadas por golpistas por serem gananciosas.

2ª C: O crime deixa de existir, pois o direito não pode amparar a má-fé da vítima (Hungria e
Greco).

5.6. ESTELIONATO X USO DE DOCUMENTO FALSO

1ª C (STJ): Responde pelos dois crimes em concurso MATERIAL.

Motivos: Os tipos penais protegem bens jurídicos diversos, além de o delito de falso se
consumar anteriormente à consumação do estelionato. Como existem duas condutas produzindo
dois resultados, trata-se de concurso material.

ATENÇÃO: O próprio STJ admite uma exceção a esse entendimento: Súmula 17 


Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Exemplo: Uso de cheque falso. A folha é emitida para aquela situação, não tem mais como ser
usada para outra.

STJ Súmula 17 - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido.

Ou seja, se o falso não se exaure no estelionato, o sujeito responde pelos dois crimes em
concurso material. Exemplo: Uso de CPF ou cartão de crédito falso para obter vantagem ilícita em
prejuízo alheio.

2ª C (STF): Responde pelos dois crimes em concurso FORMAL.

Motivos: Responde pelos dois, pois há bens jurídicos diversos. Concurso formal, pois há
uma única conduta dividida em dois atos produzindo dois resultados. O uso do documento falso é
apenas o meio utilizado para fraudar.

ATENÇÃO: O Supremo também aplica a Súmula 17 do STJ.

3ª C: Se o documento for público, o falso (por ser mais grave) absorve o estelionato
(MINORIA), post factum impunível.

5.7. ESTELIONATO X APROPRIAÇÃO INDÉBITA


194
ESTELIONATO APROPRIAÇÃO INDÉBITA
O dolo é antecedente à obtenção da vantagem. O dolo é subsequente à posse da coisa.

A fraude é a causa da entrega da vantagem pela A fraude, se existir, é para dissimular a posse da
vítima. coisa.
Objeto material: Qualquer vantagem econômica. Objeto material: Coisa alheia móvel.

5.8. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de dolo (consciência e vontade de enganar a vítima), acrescido


da finalidade específica de locupletamento ilícito.

5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O estelionato é um crime material de duplo resultado: Consuma-se com a obtenção da


vantagem + prejuízo alheio.

O emprego da fraude é apenas o ‘modus operandi’ para a busca do fim pretendido.

Em não ocorrendo um dos resultados, estamos diante de tentativa.

Quando o agente, mediante fraude, consegue obter da vítima um título de crédito, o


crime está consumado?

1ªC: considerando que a obrigação assumida pela vítima já é um proveito adquirido pelo
agente, o delito está consumado (crítica: ainda não houve proveito).

2ªC: enquanto o título não é com vertido em valor material, não há efetivo proveito do
agente, podendo ser impedido de realizar a conversão por circunstâncias alheias a sua vontade (o
crime ainda está em na fase de execução). PREVALECE.

5.10. CRIME IMPOSSÍVEL (“CRIME OCO”)

Se o meio utilizado pelo fraudador não tiver NENHUMA aptidão para enganar a vítima
(como no caso de uma nota de 03 reais), estaremos diante de crime impossível por absoluta
ineficácia do meio utilizado.

Entretanto, se a falsificação, embora grosseira a ponto de não configurar o delito de falso,


tiver aptidão para enganar a vítima, aplica-se a Súmula 73 do STJ, configurando-se o estelionato.

A competência, neste caso, será da justiça estadual.

STJ Súmula: 73 A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado


configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da justiça
estadual.

5.11. ESTELIONATO PRIVILEGIADO OU MÍNIMO (art. 171 §1º)

Art. 171 (estelionato)


Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

195
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode
aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

Art. 155 (furto mínimo)


§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

FURTO PRIVILEGIADO OU MÍNIMO ESTELIONATO PRIVILEGIADO OU MÍNIMO


REQUISITOS REQUISITOS
Primariedade do agente; Primariedade do agente;
Pequeno valor (01 salário) da coisa subtraída. Pequeno valor (01 salário) do prejuízo (visto que não
há subtração).

OBS1: As modalidades privilegiadas não afastam a possibilidade da aplicação do


princípio da insignificância, porém este somente existirá quando se tratar de lesão ínfima (e não
pequena) ao bem jurídico.

OBS2: O privilégio também é aplicável às modalidades especiais de estelionato do §2º,


porquanto a estes se aplicam “as mesmas penas do caput”.

Art. 171 § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:


Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa
alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer
dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve
entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
ou lhe frustra o pagamento.

5.12. MODALIDADES ESPECIAIS DE ESTELIONATO (§2º)

Topografia das modalidades especiais de estelionato:

171 “caput”  estelionato propriamente dito (fraude, vantagem indevida, prejuízo alheio).

171§1º  estelionato privilegiado (ou mínimo)

196
171§2º subtipos do estelionato (fraude, vantagem indevida, prejuízo alheio).

Também nesses subtipos de estelionato devem estar presentes os três elementos


estruturais do ‘caput’: Fraude, vantagem ilícita e prejuízo alheio.

Assim, incorre nas mesmas penas do estelionato do ‘caput’ quem:

5.12.1. Estelionato por disposição de coisa alheia como própria

Art. 171, §2º


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa
alheia como própria;

‘Caridade com o chapéu alheio’.

a) Sujeito ativo

Qualquer pessoa, salvo o dono da coisa. Crime comum.

Condômino que vende coisa indivisa responde pelo delito?

Prevalece que sim. (Não confundir com furto de coisa comum, em que ele subtrai a coisa
comum para si ou para outrem)

b) Sujeito passivo

Dupla subjetividade passiva: Adquirente de boa-fé e o real proprietário da coisa.

c) Tipo objetivo

Conduta: Vender, permutar, dar em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia.

É um rol de condutas TAXATIVO. O compromisso de compra e venda, por exemplo, não


está abrangido no §2º. Configurará, no entanto, o delito do ‘caput’.

d) Objeto material

Somente coisa alheia, móvel ou imóvel.

e) Consumação e tentativa

Consuma-se com a obtenção da vantagem + prejuízo da vítima. Crime material de duplo


resultado.

Admite-se a tentativa.

Se o adquirente é cientificado pelo alienante sobre a situação da coisa, não há que se falar
em estelionato, pela falta de fraude.

Se for coisa móvel, é preciso ocorrer a tradição para configurar o delito?

A tradição não é exigida para configurar o delito. Assim como também é dispensável a
alteração da escritura, no caso de disposição de coisa imóvel. Inclusive, neste último caso, se

197
ocorrer a alteração da escritura o agente responderá também pelo delito de falsidade documental
(ignorar direito civil).

O furtador que vende o carro como se fosse dele, responde por estelionato
(disposição de coisa alheia)?

1ªC: Prevalece que o estelionato é um ‘post factum’ impunível do furto. O juiz enfia essa
conduta na fixação da pena.

2ªC: Assis Toledo e minoria: Como são vítimas diferentes, trata-se de concurso material de
delitos.

OBS: Efetivada a alienação, ainda que o agente regularize posteriormente o domínio (ex.:
comprando a coisa do verdadeiro dono), o crime permanecerá. O juiz pode, no máximo,
considerar como arrependimento posterior.

5.12.2. Estelionato por alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

Art. 171, 2º
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer
dessas circunstâncias;

a) Objeto material

Coisa própria, móvel ou imóvel.

Exceção: No caso da promessa de compra e venda quebrada, o objeto material é bem


imóvel, apenas.

b) Sujeito ativo

Proprietário da coisa. Crime próprio.

c) Sujeito passivo

Adquirente de boa-fé.

d) Tipo objetivo

Conduta: Alienar fraudulentamente coisa própria. O crime só existe se o proprietário


silencia quanto à existência das circunstâncias que gravam ou oneram o bem. Percebe-se que o
meio fraudulento aqui utilizado é o silêncio, pouco importando que o gravame do bem esteja
averbado em Registro Público (o que no Direito Civil gera presunção de conhecimento).

Entretanto, se o alienante avisa sobre os gravames, não ocorrerá o crime pela falta de
fraude (elemento constitutivo do tipo). Nesse caso, poderá configurar, no máximo, ilícito civil.

e) Consumação

Crime material de duplo resultado: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita +


prejuízo à vítima.

5.12.3. Estelionato por defraudação de penhor


198
Art. 171, §2º
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

a) Sujeito ativo

O devedor na posse direta da coisa empenhada (Proprietário da coisa) – o credor tem a


posse indireta.

O pressuposto do crime é um contrato de penhor (direito real de garantia).

b) Sujeito passivo

Credor pignoratício.

Percebe-se que é um crime bipróprio.

c) Tipo objetivo

Conduta: Defraudar a garantia.

Meios de execução: alienar a coisa sem consentimento do credor ou por outro modo
defraudar a garantia (ex.: destruir a coisa), também sem o consentimento do credor (interpretação
analógica).

d) Objeto material

Coisa empenhada na posse direta do devedor.

e) Consumação

PREVALECE que o crime é material, consumando-se com a defraudação da garantia,


causando prejuízo ao credor (crime de duplo resultado).

Não se exige aqui a obtenção de vantagem ilícita ao agente (exemplo do caso onde o
devedor destrói a coisa empenhada).

ATENÇÃO

Defraudação de penhor  art. 171, §2º, III do CP.

- Coisa empenhada;

- Direito real de garantia.

Defraudação de penhora constitui crime !? (art. 179, CP?!)

- Coisa penhorada;

- Garantia da execução.

Resposta: Depende.

Se com a frustração da penhora o devedor ficou insolvente: Crime do art. 179 do CP


(fraude à execução);

Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou


danificando bens, ou simulando dívidas:
199
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Se com a frustração da penhora o devedor continua solvente: Mero ilícito civil (depositário
infiel).

5.12.4. Estelionato por fraude na entrega de coisa

Art. 171, 2º
IV - defrauda substância (natureza da coisa. Ex.: substituir diamantes por
vidro), qualidade (atributo da coisa. Ex.: entregar arroz de segunda como se
fosse de primeira) ou quantidade (relacionada a números. Ex.: agente
entrega menos do que está obrigado) de coisa que deve entregar a alguém;

a) Sujeito ativo

Pessoa juridicamente obrigada a entregar a coisa a alguém.

b) Sujeito passivo

Pessoa prejudicada com a defraudação da coisa.

c) Objeto material

Coisa móvel ou imóvel.

d) Tipo objetivo

Conduta: Defraudar (alterar, adulterar, modificar etc.) a coisa a ser entregue.

A defraudação da coisa pode ocorrer em relação à sua substância (natureza da coisa. Ex.:
substituir diamantes por vidro), qualidade (atributo da coisa. Ex.: Entregar arroz de segunda como
se fosse de primeira) ou quantidade (relacionada a peso, dimensão, número. Ex.: agente entrega
menos do que está obrigado).

e) Consumação

O crime consuma-se com a efetiva entrega da coisa defraudada, momento em que ocorre
o prejuízo à vítima. Crime de duplo resultado.

OBS: Esse inciso não se aplica às fraudes no comércio. Quanto às fraudes no comércio,
três tipos incriminadores podem ser aplicados, conforme o caso concreto: art. 175 do CP, CDC,
Lei 8.137/90 (Ordem tributária).

Há quem diga que o art. 175 CP foi revogado. Ou aplica-se o CDC ou a Lei 8.137/90
(delitos contra a ordem tributária e relações de consumo). E agora?

Apesar de a lei tributária ter sido publicada posteriormente, a vigência do CDC é posterior.

5.12.5. Estelionato por fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro

Art. 171, 2º
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;

200
Esse crime pressupõe um contrato de seguro vigente e válido. Se não for vigente ou
válido, trata-se de crime impossível (crime oco) por absoluta impropriedade do objeto material do
delito.

a) Sujeito ativo

É o segurado. Crime próprio. O beneficiário pode, EVENTUALMENTE, concorrer para o


crime.

b) Sujeito passivo

Seguradora. Crime bipróprio.

c) Objeto material

Na primeira parte: Coisa própria do agente.

Na segunda parte: Corpo do agente.

d) Consumação

NÃO é crime material de duplo resultado. Prevalece que é crime formal (consumação
antecipada), consumando-se com o emprego da fraude, independentemente da obtenção de
vantagem pelo agente e prejuízo da seguradora.

É uma forma excepcional de estelionato FORMAL.

Caso o agente destrua deliberadamente seu próprio carro com o fim de receber o seguro e
pleiteie essa indenização, estaremos diante de crime consumado, independentemente de o
pedido indenizatório ser ou não atendido pela seguradora.

A admissibilidade da tentativa não é assunto pacífico. Mirabete, Rogério Greco e Noronha


admitem, pois entendem ser possível o fracionamento de algumas condutas típicas.

*E se quem aplica a fraude é terceiro sem conhecimento do segurado, sabendo que


ele (terceiro) vai ser o beneficiado pelo valor da apólice?!

Neste caso, tipifica o 171 caput.

5.12.6. Estelionato por fraude no pagamento por meio de cheque

Art. 171, §2º


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
ou lhe frustra o pagamento (ex: encerrando a conta ou sustando o cheque).

a) Sujeito ativo

Emitente/Sacador do cheque.

Endossante pode ser autor do crime? Duas correntes:

1ª C: PREVALECE que não se inclui o endossante, pois este não emite o título e não se
admite analogia in malam partem (pode, no entanto, figurar como partícipe ou como autor do
estelionato do caput). Nucci, Damásio, Mirabete, Greco.

201
2ª C: Inclui-se o endossante, pois a lei toma a expressão “emitir” no seu sentido amplo,
abrangendo o endosso. Magalhães Noronha.

b) Sujeito passivo

Tomador/beneficiário do cheque, que pode ser qualquer pessoa.

c) Tipo objetivo

Duas condutas puníveis:

 Emitir cheque sem fundos:

 Frustrar pagamento de cheque: ex.: encerrar conta; sustar o cheque.

Em ambas as condutas, a presença da má-fé do emitente é imprescindível. Nesse sentido:

SÚMULA 246 DO STF “comprovado não ter havido fraude, não se configura
o crime de emissão de cheque sem fundos”.

d) Tipo subjetivo

Somente responde pelo delito aquele que intencionalmente emite cheque sem provisão de
fundos ou intencionalmente frustra seu pagamento, com a finalidade específica de obter vantagem
indevida.

Não se pune a forma culposa (descuido, falta de organização das contas etc.).

Emissão de cheque pré-datado (pós-datado) é crime?

Em regra, não configura crime, mas mero ilícito civil, pois a cártula, aos olhos do direito
penal, deixou de ser ordem de pagamento à vista, revestindo-se de mera garantia de crédito.

CUIDADO: Se a emissão do cheque pós-datado for fraudulenta, vale dizer, com o objetivo
de locupletamento ilícito, estaremos diante do estelionato do art. 171, caput.

Reparação do dano gera qual efeito?

No que tange ao cheque sem fundos, a reparação do dano realizada ANTES do


recebimento da denúncia obsta a ação penal (Súmula 554 do STF a contrário sensu). É causa
supralegal de extinção da punibilidade.

STF SÚMULA Nº 554 - o pagamento de cheque emitido sem provisão de


fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da
ação penal.

e) Consumação

202
O delito consuma-se no momento em que o banco sacado se recusa a realizar o
pagamento, seja por falta de fundos ou pela sustação do título. Não se aplica o art. 70 do CPP
(crime de duplo resultado) e sim as Súmulas 521 do STF e 244 do STJ.

CPP Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que
se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução.

STJ Súmula nº 244 - Compete ao foro do local da recusa processar e julgar


o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.

STF Súmula 521 o foro competente para o processo e julgamento dos


crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem
provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo
sacado.

NÃO CONFUNDIR com a Súmula 48 do STJ, que se refere ao crime de falsificação


documental.

STJ Súmula 48 Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita


processar e julgar crime de estelionato cometido mediante FALSIFICAÇÃO
de cheque.

Observações finais:

Apesar de a súmula só se referir a uma modalidade de estelionato na emissão de cheque,


temos jurisprudência estendendo também para a outra – frustrar pagamento.

Emitir cheque e depois encerrar a conta  Frustrar pagamento (art. 171, §2º, VI). Aplica-se
a súmula 554 do STF (causa de exclusão do crime).

Encerrar a conta e depois emitir cheque  Estelionato do art. 171, caput. Não se aplica a
Súmula 554 do STF, mas sim o art. 16 (arrependimento posterior).

Emissão de cheque sem fundos para pagar dívida de jogo configura estelionato?

Não configura estelionato, pois se trata de dívida não exigível, nos termos do art. 814 do
Código Civil. Entretanto, se o cheque sem fundos serviu como pagamento de uma indevida
vantagem obtida pelo jogador trapaceiro, nesse caso há estelionato, uma vez que essa dívida é
exigível.

5.13. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA (art. 171, §3º)

Art. 171, § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em


detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia
popular, assistência social ou beneficência.

Estelionato contra Banco do Brasil NÃO SOFRE essa majorante. Trata-se de sociedade de
economia mista, pessoa jurídica de Direito Privado.

STF: o privilégio do art. 171§1º (que remete ao furto mínimo) é compatível com esta
majorante.

Uma hipótese de aplicabilidade da majorante é o Estelionato cometido contra autarquia de


previdência social (INSS), nos termos da Súmula 24 do STJ.
203
STJ Súmula: 24 Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como
vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º, do
art. 171 do Código Penal.

Exemplo: Uma pessoa apresenta atestado falso junto ao INSS em janeiro de 2014. Em
fevereiro de 2014, começa a receber mensalmente um benefício previdenciário.

Pergunta-se: Quando se consuma esse crime? Duas correntes:

1ª C: O crime é instantâneo de efeitos permanentes para quem pratica a fraude para


outrem. O crime se consuma com o recebimento da primeira vantagem indevida. Os demais
recebimentos nada mais são do que exaurimento do crime. Para o fraudador-beneficiário é crime
permanente.

2ª C: O crime é permanente, ou seja, a consumação se prolonga durante todo o tempo de


recebimento indevido. A cada benefício a consumação é prolongada.

Repercussão dessa discussão: Prescrição, flagrante, aplicação de “Lex gravior” (Súmula


711 do STF).

Quando o crime é permanente, a prescrição só corre quando cessada a permanência (CP


art. 111). Quando o crime é instantâneo, corre a partir da consumação.

De acordo com o STF, dependerá da pessoa:

Terceiro que implementa a fraude para que pessoa diferente receba o benefício:
crime instantâneo de efeitos permanentes. Para o terceiro a prescrição começa a contar a partir
do 1º pagamento.

Beneficiário (ou beneficiário-fraudador): trata-se de crime permanente. A prescrição só


começa a contar do momento em que cessar o pagamento do benefício.

5.14. ESTELIONTO CONTRA IDOSO

A Lei nº 13.228/2015, alterou o Código Penal para estabelecer causa de aumento de pena
para o caso de estelionato cometido contra idoso.

O art. 171 do CP dispõe sobre o crime de ESTELIONATO:

Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez
contos de réis.

A Lei nº 13.228/2015 acrescenta um parágrafo ao art. 171, com a seguinte redação:

Estelionato contra idoso


§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.

5.14.1. Quem é idoso?

Idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos (art. 1º da Lei nº 10.741/2003).
204
5.14.2. Natureza do § 4º

Consiste em causa de aumento de pena (é aplicada na 3ª fase da dosimetria da pena).

Com esse novo § 4º, fica vedado o sursis processual no caso de estelionato contra idoso

A suspensão condicional do processo é um benefício previsto para a pessoa acusada por


crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano (art. 89 da Lei nº 9.099/95).

Em virtude disso, é cabível suspensão condicional do processo para o acusado por


estelionato simples (art. 171, caput do CP), já que a pena mínima é de 1 ano.

Agora, depois da Lei nº 13.228/2015, quem comete estelionato contra idoso não terá
direito à suspensão condicional do processo. Isso porque a pena mínima para o caso de
estelionato contra idoso passa a ser de 2 anos em razão do § 4º do art. 171.

5.14.3. Causa de aumento tanto para o caput como para o § 2º

A majorante do § 4º é aplicável não apenas para a modalidade fundamental do estelionato


(caput) como também para as figuras equiparadas do § 2º do art. 171.

5.14.4. Dolo

Para que incida essa causa de aumento, é indispensável que o agente saiba que a vítima
é idosa. Se o agente desconhecer essa circunstância, ele responderá por estelionato na
modalidade fundamental (art. 171, caput).

Importante esclarecer que o agente não precisa conhecer formalmente a condição de


idosa da vítima, incidindo a causa de aumento quando isso for evidente. Assim, se o aspecto
físico da vítima indicar claramente que se trata de pessoa idosa, não será admissível que o autor
do delito alegue que não sabia dessa condição.

Cuidado para não confundir com o crime do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003)

Se o agente induz pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração
para fins de administração de bens ou deles dispor livremente, neste caso ele comete o crime do
art. 106 do Estatuto do Idoso (e não o estelionato). Veja:

Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

5.14.5. Vigência

A Lei nº 13.228/2015 não possui vacatio legis e, portanto, já se encontra em vigor.

Vale ressaltar, no entanto, que, como se trata de norma penal incriminadora, o novo § 4º
do art. 171 não se aplica para situações ocorridas antes da sua vigência. Assim, esta causa de
aumento só vale para quem praticar estelionato contra idoso a partir de 29/12/2015.

5.15. ESTELIONATOS PREVISTOS EM LEI ESPECIAL

5.15.1. Lei 7.492/86 (LSFN): Art. 6º.


205
Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor ou repartição pública
competente, relativamente a operação ou situação financeira, sonegando-
lhe informação ou prestando-a falsamente:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Atenção: Pena de 02 a 06 anos. Não admite suspensão condicional do processo.

5.15.2. Lei 11.101/05 (Lei de Falências): Art. 168.

Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,


conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial,
ato fraudulento de que resulte ou possa resultar (crime formal) prejuízo
aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si
ou para outrem.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Atenção01: Pena de 03 a 06 anos.

Atenção02: É crime FORMAL. Não necessita de prejuízo à vítima. Basta a potencialidade


lesiva. Ou seja, nesse ponto é semelhante ao estelionato perante seguro.

5.15.3. Lei nº 12.299/10 (Estatuto do Torcedor): Art. 41-E

Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de
qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela
associado: (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

6. RECEPTAÇÃO

6.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (receptação própria),
ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte
(receptação imprópria): (receptação dolosa simples)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: (receptação
qualificada)
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício
em residência. (cláusula de equiparação)
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção
entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-
se obtida por meio criminoso: (receptação culposa)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas
(IMPO: suspensão condicional do processo e transação penal).
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o
autor do crime de que proveio a coisa. (norma explicativa)
§ 5º - Na hipótese do § 3º (receptação CULPOSA), se o criminoso é
primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. Na receptação DOLOSA aplica-se o disposto no § 2º do art.
206
155. (na receptação culposa pode-se aplicar perdão judicial / na
receptação dolosa  pode-se aplicar a mesma coisa do ‘furto mínimo’,
privilegiadora)
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado,
Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de
economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.
(majorante)

6.2. TOPOGRAFIA DO CRIME

Art. 180, ‘caput’: Receptação dolosa simples.

§1º: Receptação dolosa qualificada.

§2º: Cláusula de equiparação.

§3º: Receptação culposa.

§4º: Norma explicativa.

§5º: Benefícios: Perdão judicial (culposa) e privilégio (dolosa).

§6º: Majorante de pena.

6.3. BEM JURÍDICO TUTELADO

Patrimônio.

Magalhães Noronha ensina que o delito de receptação protege, secundariamente, a


Administração da Justiça, que, sem dúvida, tem sua atuação embaraçada pela ação do
receptador (quanto mais a ‘res furtiva’ se distancia da vítima, mais dificilmente ocorrerá sua
recuperação).

6.4. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, DESDE QUE não tenha concorrido de qualquer modo para o delito
anterior. Se a pessoa é autora, coautora ou partícipe do delito antecedente, responderá somente
por este, sendo considerada a receptação um ‘post factum’ impunível.

Ex1: Um comparsa compra do outro a sua “cota parte” do furto.

Ex2: O partícipe do furto influencia um terceiro de boa-fé a comprar o produto do crime.

Ex3: O mandante do furto compra o produto do crime do executor.

Nesses três casos, o ‘receptador’ responderá apenas por furto.

É possível receptação de coisa própria?

Excepcionalmente pode figurar como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o objeto
esteja na legítima posse de terceiro. Exemplo: Sujeito que compra do furtador o seu próprio
relógio que estava empenhado como garantia de uma dívida.

207
6.5. SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo é proprietário da coisa que foi objeto do crime antecedente.

Secundariamente o Estado (Magalhães Noronha).

6.6. CLASSIFICAÇÃO DO DELITO

O crime de receptação é um crime acessório.

Existem duas espécies de crimes: crime principal e acessório.

Crime principal: É um crime que não depende (ou pressupõe) de outro para a sua
existência.

Crime acessório: Depende (pressupõe) de outro crime para existir.

ATENÇÃO: O delito acessório depende da EXISTÊNCIA MATERIAL do crime


antecedente, mas não da punição deste. Ou seja, a punibilidade da receptação é AUTÔNOMA,
independe da punição ao autor do crime antecedente. Nesse sentido é o §4º do art. 180, in verbis:

Art. 180, § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento


de pena o autor do crime de que proveio a coisa.

6.7. RECEPTAÇÃO SIMPLES PRÓPRIA E IMPRÓPRIA (art. 180, ‘caput’)

O caput do art. 180 prevê duas espécies de receptação dolosa:

6.7.1. Receptação própria

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Receptação própria: É uma relação entre o autor do delito pressuposto e o receptador, que
adquire, recebe, transporta, conduz, ou oculta a coisa produto de crime.

“Ajuste”: É dispensável o ajuste entre o autor do crime antecedente e o receptador.


Exemplo: Indivíduo que se apodera de objeto dispensado pelo ladrão em fuga, sabendo da origem
criminosa da coisa.

A receptação se dá sempre por título injusto? Nem sempre a receptação se dá por


título injusto. Exemplo: o advogado cobra x para defender o ladrão. É pago com coisa que sabe
que é produto de crime a título de honorários.

6.7.2. Receptação imprópria

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
208
Receptação imprópria: Existem três figuras: autor do crime antecedente, intermediário e
terceiro de boa-fé.

Ocorre quando o intermediário, que passa a influir, para que terceiro de boa-fé
receba/adquira a coisa produto de crime. Ou seja, nessa receptação, o criminoso não é aquele
que adquire a coisa, mas sim aquele que incentiva ao terceiro de boa-fé a adquirir a coisa
criminosa.

Se o terceiro não estiver de boa-fé, ele responderá por receptação própria. Nesse caso, o
intermediário será partícipe da receptação própria (induz o terceiro a praticar o crime).

Lembrando: No caso do próprio furtador influir para que terceiro de boa-fé compre a ‘res
furtiva’, não ocorrerá o delito do art. 180, porquanto essa receptação é considerada ‘post factum
impunível’.

OBS: Tanto na receptação PRÓPRIA quanto na IMPRÓPRIA, é indispensável que o


agente tenha conhecimento da origem criminosa da res.

6.7.3. Questões comuns à receptação própria e imprópria

a) Adquirir produto de contravenção penal configura receptação?

NÃO, sob pena de analogia in malam partem.

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de CRIME, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

b) O crime antecedente é necessariamente contra o patrimônio?

NÃO. Exemplo: Adquirir coisa produto de peculato. Nesse caso, o crime antecedente é
contra a Administração Pública.

c) O crime antecedente pode ser outra receptação?

Receptação de receptação: Receptador de quadro roubado vende para outro o quadro,


configura receptação?

SIM, é perfeitamente possível que o crime antecedente seja receptação, desde que não
seja quebrada a má-fé da cadeia.

Hungria: A partir do momento que um intermediário adquire o produto de boa-fé, o próximo


da cadeia não responderá por receptação, mesmo que saiba que lá atrás a coisa tenha sido
produto de crime. Motivo: não há crime anterior.

d) É possível a receptação de produto de ato infracional?

1ª C: NÃO, pois a lei refere-se à coisa produto de CRIME (e não de fato definido como
crime). Menor não pratica crime. Fragoso. Defensoria Pública.

209
2ª C: SIM, pois quando a lei refere-se à coisa produto de crime quer dizer coisa produto de
fato PREVISTO como crime (ato que corresponda a um injusto penal). Menor pratica fato previsto
como crime, chamado ato infracional. Noronha e MAIORIA.

e) É possível receptação de coisa imóvel?

1ª C: Da simples leitura do tipo percebe-se que o legislador não limitou o objeto material
à coisa móvel, sendo possível o crime quando a coisa é imóvel (Fragoso). Ex.: Venda de
apartamento produto de estelionato.

2ª C (STF): NÃO. O significado léxico da palavra receptação indica que a coisa deve ser
capaz de ser deslocada, não abrangendo objeto imóvel (Hungria).

f) O sujeito que compra medalha feita com o ouro de coisa furtada pratica receptação?

SIM, pois não importa seja a coisa genuína, transformada ou alterada, sempre perdurará
sua qualificação como produto de crime.

6.7.4. Tipo subjetivo do art. 180, caput

É punido a título de dolo. A expressão “que sabe” indica que somente o dolo direto é
punido. Ou seja, não tendo certeza da origem ilícita, o agente responde, no máximo, pela
receptação culposa (ver abaixo).
Exige-se, ainda, a finalidade especial (elemento subjetivo) de proveito próprio ou alheio.

RECEPTAÇÃO (ART. 180) FAVORECIMENTO REAL (ART. 349)


O agente recebe ou oculta a coisa em proveito próprio ou O agente recebe ou oculta a coisa em proveito do autor do
de terceiro (diferente do autor do crime antecedente) crime antecedente.

Aliás, é exatamente essa finalidade especial que diferencia a receptação do delito de


Favorecimento Real.

O dolo superveniente não configura o crime. A má-fé tem que ser precedente ou
contemporânea a qualquer das condutas previstas no tipo.

Contra: Nelson Hungria - diz que dolo superveniente configura receptação sim.

6.7.5. Consumação e tentativa

Receptação própria: Consuma-se com a prática de qualquer um dos núcleos do tipo.


CRIME MATERIAL.

Nas modalidades transportar, conduzir e ocultar o crime é permanente.

Admite-se tentativa, como tentar adquirir.

Receptação imprópria: Consuma-se com o ato de influir para que terceiro de boa-fé
adquira a coisa. CRIME FORMAL. O fato de o terceiro efetivamente adquirir, receber ou ocultar a
coisa é mero exaurimento.

210
A maioria da doutrina não admite a tentativa. No entanto, por meio escrito é plenamente
possível a tentativa.

6.8. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA

Art. 180, § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em


depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de
crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa

a) Sujeitos do crime

O sujeito ativo não é qualquer pessoa, mas somente aquele que está no exercício de
atividade comercial ou industrial. O crime é próprio.

Deve haver nexo entre a atividade comercial e a receptação, ou seja, deve estar no
exercício da atividade.

Essa qualificadora abrange o comerciante informal, de fundo de quintal?

Conforme o §2º, equipara-se à atividade comercial qualquer forma de comércio irregular ou


clandestino, inclusive o exercício em residência.

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior,


QUALQUER FORMA de comércio irregular ou clandestino, inclusive o
exercício em residência.

OBS: É imprescindível a habitualidade da atividade, sob pena de não estar caracterizado o


exercício de comércio.

Motivo da punição mais grave: O comerciante/industrial tem mais facilidade de repassar a


coisa criminosa a terceiros de boa-fé.

ATENÇÃO: Não basta o sujeito ser comerciante. É imprescindível que a coisa objeto do
crime seja ligada à atividade por ele exercida.

Ex.: Não responde por receptação qualificada o dono de padaria que compra um relógio
roubado.

Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo.

Esse novo tipo penal surgiu com a nítida intenção de coibir a indústria de desmanche de
veículos furtados ou roubados.

b) Tipo subjetivo

Somente é punido a título de dolo, exigindo-se a finalidade especial de proveito próprio de


terceiro.

O tipo penal usa a expressão “coisa que DEVE SABER ser produto de crime”. Essa
terminologia tem gerado alguma divergência na doutrina.

211
Abrangeria que espécie de dolo?

1ª C (defensoria): Está abrangido somente o DOLO EVENTUAL. O dolo direto se subsumi


ao ‘caput’. Ou seja, o dolo direto é punido menos gravemente que o dolo eventual.

Conclusão dessa corrente: a pena do §1º é inconstitucional, pois fere a proporcionalidade.


Sugestão: aplicar somente a pena do caput e desconsiderar a pena do §1º.

2ª C: Estão abrangidos dolo eventual (explicitamente) e dolo direto (implicitamente).

Conclusão: A pena é proporcional.

POSIÇÃ DO STF – INFORMATIVO 712

Portanto, prevalece a segunda corrente.

6.9. RECEPTAÇÃO CULPOSA

Art. 180, § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua NATUREZA ou pela
DESPROPORÇÃO entre o valor e o preço, ou pela CONDIÇÃO DE QUEM
A OFERECE, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

É uma hipótese excepcional de crime culposo previsto em tipo fechado: o próprio tipo
define a conduta a ser considerada negligente, imprudente ou imperita. É uma exceção, pois
como vimos, a maioria dos crimes culposos (quase todos) são previstos em tipos abertos (Parte
Geral).

Ocorrendo qualquer das circunstâncias do tipo, deveria presumir o agente a origem ilícita
da coisa, motivo pelo qual responderá pelo crime.

Como crime culposo que é, não admite tentativa.

Rogério: pune o dolo eventual em algumas circunstâncias. E a proporcionalidade? O juiz


irá dosar.

Três circunstâncias geram a presunção de coisa obtida por meio criminoso:

a) Natureza

b) Desproporção entre valor e preço.

c) Condição de quem oferece.

212
As condições são alternativas.

Em suma:

6.10. BENEFÍCIOS (§5º - PERDÃO JUDICIAL E PRIVILÉGIO)

Art. 180, § 5º - Na hipótese do § 3º (receptação culposa), se o criminoso é


primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do
art. 155.

Receptação culposa – 180, §3º (PERDÃO JUDICIAL) Receptação dolosa – 180 caput e §1º (PRIVILÉGIO)
O Benefício previsto é o perdão judicial. O benefício previsto é o privilégio do furto.
Requisitos: Requisitos:
a) Primariedade do agente; a) Primariedade do agente;
b) Circunstâncias da fato favoráveis (culpa b) Pequeno valor da coisa.
levíssima).
OBS: Não importa o valor da coisa. OBS: Entende a maioria ser cabível também na
receptação qualificada.
Art. 155, § 2º - Se o criminoso é primário, e é de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

6.11. CAUSA DE AUMENTO DE PENA OU QUALIFICADORA?

Art. 180, § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União,


Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sociedade de economia mista, a pena prevista no CAPUT deste artigo
aplica-se em dobro.

Primeira pergunta importante:

# Qual é a natureza jurídica desse § 6º do art. 180 do CP? Trata-se de causa de


aumento ou de qualificadora?

1ª corrente: causa de aumento de pena. Posição de Luiz Régis Prado e Rogério Sanches.

2ª corrente: qualificadora. Opinião de Mirabete, Nucci, Capez, Greco e Masson.

Explica Cleber Masson:

“(...) o dispositivo contém uma verdadeira qualificadora. A lei é clara: a pena é aplicada em
dobro. Não se fala no aumento da pena até o dobro, mas na sua obrigatória duplicação. Portanto,
a pena da receptação simples – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa – é alterada.

213
Continua a ser de reclusão, mas seus limites mínimo e máximo passam a ser, respectivamente,
de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da multa.”

Segunda pergunta importante:

Essa majorante do § 6º do art. 180 do CP é aplicada a todas as espécies de


receptação?

NÃO. O § 6º menciona expressamente o caput do art. 180 do CP. Logo, esta majorante
somente é aplicada à receptação simples, própria ou imprópria, prevista no art. 180, caput do CP.

Assim, se o agente pratica a receptação prevista no § 1º do art. 180 do CP (receptação


qualificada pelo exercício de atividade comercial ou industrial) ou no § 3º (receptação culposa),
mesmo o bem ou as instalações sendo públicas, não se aplica o § 6º.

Terceira pergunta importante:

Se o bem envolvido na receptação pertencer à Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos – ECT, incide a majorante do § 6º do art. 180 do CP?

SIM. No delito de receptação, os bens pertencentes aos Correios (ECT) recebem o mesmo
tratamento que os da União e, por isso, caso a receptação envolva tais bens, é cabível a
majoração da pena prevista no § 6º do art. 180 do CP

Segundo explicou o Min. Relator, a jurisprudência do STF considera que os Correios


(empresa pública federal) é prestadora de serviços públicos e, por essa razão, equipara-se à
Fazenda Pública e seus bens sujeitam-se às mesmas regras estabelecidas aos bens da União.

Desse modo, apesar de o § 6º do art. 180 não mencionar expressamente a palavra


“empresas públicas”, não haverá interpretação extensiva da norma se ela for aplicada ao crime de
receptação envolvendo bens pertencentes aos Correios.

Obs.: o julgado do STF tratou especificamente, no caso concreto, de um bem pertencente


aos Correios. No entanto, entendo que o mesmo raciocínio pode ser aplicado a qualquer empresa
pública que preste serviços públicos, desde que a coisa objeto da receptação esteja diretamente
ligada à prestação do serviço público.

7. DISPOSIÇÕES GERAIS DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

7.1. IMUNIDADES PATRIMONIAIS ABSOLUTAS - ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (ART. 181)

7.1.1. Previsão legal

Art. 181 - É ISENTO de pena quem comete qualquer dos crimes previstos
neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo,
seja civil ou natural.

Natureza jurídica:

214
1ªC: causa de EXTINÇÃO da punibilidade: o que quer dizer que em algum momento essas
condutas foram passíveis de punição, vindo a ser posteriormente extinta a punibilidade.
PREVALECE

2ªC: causa de EXCLUSÃO da punibilidade: impede o próprio surgimento da punibilidade


do agente.

7.1.2. Crime cometido contra cônjuge;

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

OBS1: Abrange o convivente (analogia in bonam partem), inclusive homossexual.

OBS2: Aplica-se o benefício mesmo no caso de separação de fato.

7.1.3. Crime cometido contra ascendente ou descendente

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo,


seja civil ou natural.

OBS1: Não abrange irmãos (caso de imunidade relativa).

OBS2: Não abrange outros parentes colaterais ou por afinidade.

7.2. IMUNIDADES PATRIMONIAIS RELATIVAS - ESCUSAS RELATIVAS (ART. 182)

7.2.1. Previsão legal

Art. 182 - Somente se procede mediante REPRESENTAÇÃO, se o crime


previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Natureza jurídica:

*Condição específica da ação penal pública.

Essa “escusa” garante a transformação da ação penal pública incondicionada em ação


penal condicionada à representação da vítima.

Bitencourt critica a expressão “imunidade”, pois, a rigor, não existe qualquer imunidade. O
agente responderá igualmente pelo delito.

A doutrina processual penal chama esta ação penal de “AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA”.
Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto fazem variar a modalidade de ação penal a ser
ajuizada. Outro exemplo: Crimes contra a honra, crimes contra a dignidade sexual.

Regra: ação penal privada ou condicionada, que pode virar pública condicionada ou até
mesmo incondicionada, respectivamente.

Hipóteses:

215
7.2.2. Crime cometido contra cônjuge separado judicialmente

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;

OBS1: Se já divorciados, não se aplica o benefício.

OBS2: Se apenas separados de fato, aplica-se a escusa absolutória do art. 181.

OBS3: para a maioria civilista, a EC do divórcio aboliu o estado civil “separado


judicialmente”. Respeita-se o direito adquirido (quem está separado judicialmente continua se
valendo desta imunidade).

7.2.3. Crime cometido contra irmão

II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

7.2.4. Crime cometido contra tio ou sobrinho com quem o agente coabita

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

OBS1: O crime não precisa ser realizado sob o teto da coabitação.

7.3. RESSALVAS ÀS IMUNIDADES

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja
emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.

OBS1: Violência contra a coisa NÃO impede a imunidade.

OBS2: É o único dispositivo que o legislador lembrou o idoso com idade igual a 60 anos.

Coaduna com o Estatuto do Idoso:

EI Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos


assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos.

7.4. POLÊMICA: LEI MARIA DA PENHA

Art. 7º, IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que


configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;

A partir do momento em que a Lei considera a violência patrimonial uma forma de violência
doméstica contra a mulher, estaria revogada a imunidade do CP?

216
Maria Berenice: A Lei Maria da Penha inviabilizou as imunidades dos arts. 181 e 182
quando o crime é praticado contra a mulher no ambiente doméstico e familiar. Ou seja, marido
que furta esposa não está isento de pena. Cléber Masson concorda.

Doutrina majoritária: As escusas absolutórias dos crimes contra o patrimônio cometidos


contra familiares subsistem, não houve disposição legal em sentido contrário (como fez o Estatuto
do Idoso). Qualquer entendimento diverso seria analogia in malam partem.

EI Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 (imunidades absolutas) e
182 (imunidades relativas) do Código Penal.

DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL

Art. 184, caput – ação penal é privada.

Violação de direito autoral


Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Trata-se de norma penal em branco, cujo conteúdo (direito de autor) deve ser
complementado pela lei 9610/98.

Art. 184, §§ 1º e 2ª – ação penal pública incondicionada:

§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito


de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra
intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor,
conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Qualificadora. Reprodução com o intuito de lucro, aqui se amolda a conduta da pessoa que
vende CD/DVD pirata.

§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto


ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País,
adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou
fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista
intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda,
aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

Como essa prática é cada vez mais comum, havendo, inclusive, “feiras” fiscalizadas pelo
Poder Público onde esse comércio ocorre livremente, é possível afirmar que não haveria crime
com base no princípio da adequação social?

NÃO, não é possível afirmar isso. Tanto o STF como o STJ entendem que é típica, formal
e materialmente, a conduta de expor à venda CDs e DVDs falsificados. Em suma, é crime.

O fato de, muitas vezes, haver tolerância das autoridades públicas em relação a tal prática
não significa que a conduta não seja mais tida como típica, ou que haja exclusão de culpabilidade,

217
razão pela qual, pelo menos até que advenha modificação legislativa, incide o tipo penal, mesmo
porque o próprio Estado tutela o direito autoral. Não se pode considerar socialmente tolerável uma
conduta que causa sérios prejuízos à indústria fonográfica brasileira e aos comerciantes
legalmente instituídos, bem como ao Fisco pelo não pagamento de impostos. Nesse sentido: STF
HC 98898, julgado em 20/04/2010.

O tema já foi, inclusive, apreciado pela Terceira Seção do STJ em recurso submetido ao
regime do art. 543-C do CPC, ocasião em que se confirmou que pratica o crime previsto no § 2º
do art. 184 do CP aquele que comercializa fonogramas falsificados ou "pirateados" (REsp
1.193.196-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012).

Trata-se, portanto, de matéria pacífica, razão pela qual foi editada, corretamente, a súmula
502.

SÚMULA 502-STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica,


em relação ao crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal,
a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

O que é o princípio da adequação social?

O princípio da adequação social, desenvolvido por Hanz Welzel, afasta a tipicidade dos
comportamentos que são aceitos e considerados adequados ao convívio social. De acordo com o
referido princípio, os costumes aceitos por toda a sociedade afastam a tipicidade material de
determinados fatos que, embora possam se subsumir a algum tipo penal, não caracterizam crime
justamente por estarem de acordo com a ordem social em um determinado momento histórico
(Min. Jorge Mussi).

A adequação social é um princípio dirigido tanto ao legislador quanto ao intérprete da


norma.

a) Quanto ao legislador, esse princípio serve como norte para que as leis a serem
editadas não punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais
da sociedade.

b) Quanto ao intérprete, esse princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo


penal para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-
se que a interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de
situações que a sociedade não mais recrimina.

Vale ressaltar, no entanto, que o princípio da adequação social não pode ser utilizado pelo
intérprete para “revogar” (ignorar) a existência de tipos penais incriminadores. Ex: a contravenção
do jogo do bicho talvez seja tolerada pela maioria da população, mas nem por isso deixa de ser
infração penal. Isso porque a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (art. 2º da
LINDB).

A pena prevista para esse crime é de 2 a 4 anos. Trata-se de reprimenda desproporcional


para esse tipo de conduta?

NÃO. Segundo o STJ, não há desproporcionalidade da pena prevista, pois o próprio


legislador, atento aos reclamos da sociedade que representa, entendeu merecer tal conduta pena
considerável, especialmente pelos graves e extensos danos que acarreta, estando geralmente
relacionada a outras práticas criminosas, como a sonegação fiscal e a formação de quadrilha (HC
191568/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 07/02/2013).

218
Cláusula de equiparação. Comercializa a obra, ação penal condicionada à representação.

§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra


ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário
realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de
lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do
autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de
quem os represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Qualificadora. Oferece ao público com intuito de lucro.

§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de exceção


ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em
conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para
uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

Art. 186. Procede-se mediante:


I – queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184;
II – ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1 o e 2o
do art. 184;
III – ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em desfavor
de entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público;
IV – ação penal pública condicionada à representação, nos crimes previstos
no § 3o do art. 184.

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Neste título estudaremos os seguintes tópicos do CP:

1) Estupro;

2) Violação sexual mediante fraude;

3) Assédio Sexual;

4) Estupro de vulnerável;

5) Lenocínio contra vulnerável (art. 218);

6) “Corrupção de menores” - satisfação de lascívia mediante presença de criança ou


adolescente (CP, art. 218-A);

7) Ação Penal nos crimes contra a dignidade sexual;

8) Disposições Gerais (majorantes) nos crimes contra a dignidade sexual.

219
1. A LEI 12.015/09: “DIGNIDADE SEXUAL”

ANTES DA LEI 12.015/09 DEPOIS DA LEI 12.015/09


‘Dos crimes contra os costumes’ ‘Dos crimes contra a dignidade sexual’
Costumes: Moralidade sexual pública. A doutrina criticava
essa expressão, por dar a ideia de ser a sociedade mais
atingida que a própria vítima.

2. SUCESSÃO DA LEI PENAL NO TEMPO

a) Abolitio criminis: A lei abolicionista é retroativa.

b) ‘Novatio legis’ incriminadora: A lei incriminadora não retroage.

c) ‘Novatio legis in mellius’: Retroativa.

d) ‘Novatio legis in pejus’: Irretroativa.

e) Princípio da continuidade normativo-típica.

Essas cinco possibilidades estão presentes com a Lei 12.015/09.

3. ESTUPRO (CP, art. 213)

3.1. PREVISÃO LEGAL

ANTES DA LEI 12.015/09 DEPOIS DA LEI 12.015/09


Estupro Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou


Art. 213: Constranger mulher à conjunção carnal, grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
mediante violência ou grave ameaça. permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena: 06 a 10 anos.
Sujeito ativo: Homem.
Sujeito passivo: Mulher.
Ou seja: conjunção carnal + atos libidinosos = atos de
Crime bipróprio.
libidinagem.
Pena: 06 a 10 anos.

Atentado violento ao pudor


Art. 214: Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele pratique
atos libidinosos violentos diversos da conjunção.

Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa.


Crime bicomum.
Pena: 06 a 10 anos.

220
3.2. SUJEITOS DO CRIME

a) Conjunção carnal:

 Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Sexos opostos
 Sujeito passivo: qualquer pessoa.

b) Atos libidinosos:

 Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Não importa o sexo
 Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Crime bicomum (antes era bipróprio). Qualquer um pode constranger qualquer outra
pessoa à conjunção carnal ou a praticar atos libidinosos diversos da conjunção carnal. A vítima
não precisa mais ser ‘honesta’. Até mesmo a prostituta pode ser vítima do estupro.

Lembrando a tese defendida por Hungria, que não haveria estupro praticado pelo marido
contra sua esposa, pois este estaria em exercício regular de direito (excludente de ilicitude). Tese
superada. Quais os fundamentos legais?

1) LMP art. 7º III


Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade,
que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
seus direitos sexuais e reprodutivos;

2) Art. 226, II CP – Disposições Gerais dos Crimes Contra a Dignidade Sexual

Art. 226. A pena é aumentada:


...
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima
ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

3.3. TIPO OBJETIVO (CONDUTA)

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

3.3.1. “Constranger” (núcleo do tipo - forçar, obrigar, coagir).

Meios de execução: violência ou grave ameaça.

Violência: emprego efetivo de força física.


221
Ameaça: deve ser GRAVE.

Quando a ameaça é grave?

1ªC: Analisa-se de acordo com o homem médio.

2ªC: A individualidade da vítima deve ser considerada na análise da gravidade ou não da


ameaça. Prevalece.

3.3.2. “Conjunção carnal”

Pênis/vagina

Vagina/pênis

3.3.3. “Praticar ou permitir com que se pratique outro ato libidinoso”

Sexo oral, anal e outros comportamentos.

É uma expressão bastante porosa.

Essa expressão, “outros atos libidinosos”, abrange o BEIJO LASCIVO?

1ªC) Nelson Hungria: causa desconforto a quem olha.

2ªC) Para limitar a expressão, deve-se entender como atos de natureza sexual que
atentam de forma intolerável e relevante contra a dignidade sexual da vítima.

Parte da doutrina entende que os atos libidinosos mais leves só podem configurar a
contravenção de importunação ofensiva ao pudor, sob pena de ofensa ao princípio da
proporcionalidade (LFG e Bitencourt).

O STJ é inflexível: Quaisquer atos libidinosos, inclusive beijo lascivo e o apalpamento ou


encostamento em partes íntimas configuram o crime de estupro. Nesse sentido, informativo 555 e
533.

222
Exige-se o CONTATO FÍSICO?

1ªC) O contato físico é dispensável. Exemplo: obrigar a vítima a masturbar-se.


PREVALECE.

2ªC) O contato físico entre os sujeitos é indispensável. O exemplo acima seria crime de
constrangimento ilegal.

“Atos de libidinagem”: conjunção carnal, praticar ato libidinoso, permitir que se pratique ato
libidinoso.

3.4. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de DOLO, caracterizado pela consciência e vontade de


constranger a vítima violentamente a praticar atos de libidinagem.

Mirabete entende que o intuito de manter ato de libidinagem seria uma finalidade especial
do tipo (elemento subjetivo). Não prevalece.

Não se pune a modalidade culposa.

3.5. OBJETO JURÍDICO E OBJETO MATERIAL

Bem jurídico: Liberdade sexual da vítima.

Objeto material: A própria vítima.

3.6. CONSUMAÇÃO e TENTATIVA

Consuma-se com a prática dos atos de libidinagem, sendo perfeitamente possível a


tentativa.

3.7. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Art. 226. A pena é aumentada:


I - DE QUARTA PARTE, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas)
ou mais pessoas;

223
II - DE METADE, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da
vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

Ou seja, cai definitivamente por terra a tese de Hungria, segundo a qual o marido não
praticaria crime ao constranger a mulher a manter conjunção carnal.

ATENÇÃO: Essa causa de aumento se aplica também: violação sexual mediante fraude,
assédio sexual, estupro de vulnerável, indução à satisfação de lascívia, favorecimento da
prostituição.

3.8. QUALIFICADORAS: RESULTADOS QUALIFICADORES - ART. 213 §1º (PRIMEIRA


PARTE) E §2º

Art. 213
§ 1º Se da conduta resulta LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE
ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta MORTE:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Estupro qualificado pelo resultado lesão grave ou morte.

Antes da Lei Depois da Lei


Art. 223 do CP. Art. 213 do CP
Caput: Se da VIOLÊNCIA resulta Lesão grave: Pena 08 a §1º: Se da CONDUTA resulta lesão grave: pena 08 a 12
12 anos. anos.
P.ú: Se do FATO resulta morte: Pena 12 a 25 anos. §2º: Se da CONDUTA resulta morte: pena 12 a 30 anos.

Princípio da continuidade normativo-típica.

1ª Diferença

Princípio da continuidade normativo-típica.

2ª Diferença:

Se da violência resulta lesão grave: A doutrina criticava, pois só se referia à violência


física. Não seria estupro qualificado se a lesão grave adviesse da grave ameaça.

Com a nova Lei, tanto a violência física quanto a moral configuram a qualificadora da lesão
grave.

“Lex gravior”.

3ª Diferença:

Se do fato resulta morte: Doutrina criticava. Era algo muito AMPLO, pois poderia gerar a
qualificadora se a vítima morresse ao fugir do sujeito. Poderia gerar responsabilidade penal
objetiva.

Com a nova lei, a morte deve advir da conduta, abrangendo tanto a violência física quanto
a moral.

224
“Lex mitior”.

4ª Diferença:

Pena máxima do resultado morte foi aumentada para 30 anos.

“Lex gravior”.

OBS: A forma qualificada era e continua sendo preterdolosa, ou seja, dolo no estupro e
culpa no resultado qualificador. Se o estuprador quis ou aceitou os resultados qualificadores,
esqueça a qualificadora. O sujeito responderá por concurso de crimes (estupro + homicídio/lesão).

3.9. QUALIFICADORA: ART. 213, §1º SEGUNDA PARTE. VÍTIMA MENOR DE 18 E MAIOR
DE 14 ANOS

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI


Circunstância judicial desfavorável Qualificadora do §1º do art. 213
Pena de 08 a 12 anos.

Art. 213
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

Trata-se de “novatio legis in pejus”. É uma alteração irretroativa.

OBS: Se a vítima for menor de 14 anos  Estupro de vulnerável (art. 217-A).

DEFENSORIA: Se o crime for no dia do aniversário de 14 anos, o estupro é simples (a


vítima não é menor de 14 para configurar estupro de vulnerável, tampouco é maior de 14 para
configurar a qualificadora).

3.10. CONCURSO DE CRIMES

3.10.1. Mesmo contexto fático

1º Caso: o agente, no mesmo contexto fático, obriga violentamente a vítima à conjunção


carnal + atos libidinosos diversos da conjunção carnal.

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI


Estupro + AVP = Concurso material (STF/STJ) 1ªC) O Estupro agora é crime de ação múltipla ou
conteúdo variado.
A prática de mais um núcleo no mesmo contexto
fático implica em crime único (Princípio da
alternatividade).
Os vários núcleos devem ser considerados apenas
na fixação da pena. STF/STJ.

2ªC) Crime plurinuclear de conteúdo cumulativo.


Vicente Greco Filho,

225
De acordo com o STF e o STJ, trata-se de ‘novatio legis in mellius’, logo RETROATIVA
(Nucci e LFG).

3.10.2. Ausência de mesmo contexto fático

2º Caso: ausente o mesmo contexto fático. Haverá concurso de crimes (material, formal ou
continuidade delitiva), dependendo do caso concreto.

4. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE ( “estelionato sexual” - CP, art. 215)

4.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.


Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.

4.2. SUJEITOS DO CRIME

Crime bicomum.

OBS1: lembrando que a conjunção carnal é só para sexos opostos.

OBS2: se o sujeito ativo é uma das pessoas do Art. 226, II (relação de subordinação) 
Majora-se a pena da metade. Se ocorre a situação do art. 226, I (concurso de agentes), aumenta-
se de ¼.

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI


Prevista em dois dispositivos: Reuniram-se ambas as condutas no Art. 215
226
(continuidade normativo-típica).
Posse sexual mediante fraude Violação sexual mediante fraude
Art. 215: Conjunção carnal fraudulenta. Crime
Art. 215. Ter conjunção carnal OU praticar outro
bipróprio.
ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre
Atentado violento ao pudor mediante fraude
manifestação de vontade da vítima:
Art. 216: Atos libidinosos diversos de conjunção
carnal fraudulentos. Crime bicomum. Crime bicomum.

Mirabete denominava esses delitos de


“estelionato sexual”.
OBS: não é hediondo.

CP Art. 226. A pena é aumentada:


I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

OBS2: Não existe a qualificadora da idade da vítima prevista para o art. 213 (vítima menor
de 18 e maior de 14).

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

OBS3: perceber que não há aumento se o agente é DESCENDENTE da vítima.

OBS4: Se a vítima tem menos de 14 anos  Art. 217-A: Estupro de vulnerável.

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

4.3. TIPO OBJETIVO

Pune-se o estelionato sexual, caracterizado quando agente, SEM emprego de violência ou


grave ameaça, pratica atos de libidinagem com a vítima, mediante fraude ou outro meio que
dificulte sua livre manifestação de vontade (esta última parte é novidade trazida pela lei
12.015/09).

Meios de execução: fraude ou outro meio que dificulte sua livre manifestação de vontade.

Exemplos clássicos de estelionato sexual: Irmãos gêmeos; ginecologista; baile de


máscaras.

227
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.

PROBLEMA: Que outro meio seria esse que o novo tipo penal menciona? A doutrina
encontrou dois meios:

1) Embriaguez moderada: Se for completa a pessoa se torna sem resistência,


configurando estupro de vulnerável.

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência.

2) Temor reverencial: Não chega a ser grave ameaça, mas dá sensação de medo na
vítima.

A fraude (ou outro meio) utilizada na execução não pode anular a capacidade de
resistência da vítima, caso em que estará configurado o delito de estupro de vulnerável (art. 217-
A, §1º). Assim, não pratica estelionato sexual, mas estupro de vulnerável, o agente que usa
psicotrópicos para vencer a resistência da vítima e com ela manter a conjunção carnal.

4.4. TIPO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de praticar atos de libidinagem mediante fraude ou


outro meio.

A Lei 12.015/09 trouxe novidade no parágrafo único: Se o estelionatário sexual tiver a


finalidade específica de obter vantagem econômica, aplicar-se-á também a pena de multa.

Art. 215
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.

Exemplo: Falso pai de santo que exige dinheiro e sexo da vítima para sessão de
descarrego.

4.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se com a prática dos atos de libidinagem.

Perfeitamente possível a tentativa.

Virgindade da vítima

228
Antes da Lei, se a vítima da posse sexual mediante fraude fosse virgem, incidia uma
qualificadora. A nova lei aboliu essa norma. Atualmente, a virgindade pode gerar, no máximo,
circunstância judicial desfavorável.

5. ASSÉDIO SEXUAL (CP, art. 216-A)

5.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. (VETADO)
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18
(dezoito) anos.

5.2. CONCEITO

Assédio sexual é a insistência inoportuna de alguém em posição privilegiada, que usa


dessa vantagem para obter favores sexuais de um subalterno. Esse é o conceito dos dicionários.

5.2.1. Assédio sexual X Assédio ambiental X Assédio moral

O assédio ambiental também tem finalidade sexual, porém não exige relação de
hierarquia ou ascendência entre agente e vítima. Não é previsto no Brasil como crime.

O assédio moral, por sua vez, não tem finalidade sexual. Em resumo, é a ridicularização,
humilhação ou robotização da pessoa, realizada no ambiente laboral. Não exige relação de
hierarquia ou ascendência.

5.3. BEM JURÍDICO TUTELADO

Além da liberdade sexual da vítima, tutela-se a liberdade de exercício de trabalho, bem


como o direito de não ser descriminado.

5.4. SUJEITOS

É crime bipróprio.

O sujeito ativo deve ser superior hierárquico ou deve exercer ascendência sobre a vítima.

O sujeito passivo deve ser subordinado ou subalterno.

Não se exige sexo específico de sujeito ativo ou passivo, vale dizer, pode ocorrer assédio
com conotação heterossexual ou homossexual.

5.5. MAJORANTE: VÍTIMA MENOR DE 18 ANOS (ART. 216 §2º)

229
Novidade da Lei: Aumenta-se a pena em ATÉ 1/3.

Antes da Lei 12.015/09, constituía mera circunstância judicial desfavorável.

Ou seja: Novatio legis in pejus.

5.6. MAJORANTES DO ART. 226

Também se aplicam ao assédio sexual as majorantes do art. 226 do CP.

Art. 226. A pena é aumentada:


I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

No caso do inciso II, ficam ressalvados o “preceptor” ou “empregador”, sob pena de bis in
idem. Esses personagens constituem elementares do tipo do assédio sexual.

É possível assédio sexual de professor sobre aluno ou bispo sobre sacerdote?

Primeiro devemos definir o que vem a ser hierarquia e posição de ascendência.

1ª C (Nucci, Greco): Superior hierárquico retrata relação LABORAL no âmbito público


(Direito Público). Ascendência retrata relação LABORAL no âmbito privado.

Conclusão: Professor não pratica assédio contra aluno, pela inexistência de qualquer
relação laboral. A conduta poderia praticar, conforme o caso, constrangimento ilegal ou a
contravenção de importunação ofensiva ou pudor.

2ª C (Luiz Régis Prado): Superior hierárquico retrata relação laboral, não importa se
pública ou privada. Ascendência retrata RELAÇÃO DE DOMÍNIO.

Conclusão: Há assédio sexual, pois, o professor tem relação de domínio sobre o aluno (o
aluno depende da aprovação do professor).

5.7. TIPO OBJETIVO

A conduta é constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento


sexual.

Bitencourt: O constrangimento pode se dar mediante violência ou grave ameaça.


ERRADO.

Se ocorrer conduta violenta, tratar-se-á do delito de estupro (tentado ou consumado).

O máximo que se admite é a ameaça. Em se tratando de GRAVE ameaça, estaremos


diante de estupro (tentativa).

5.8. TIPO SUBJETIVO

Dolo de constranger, com finalidade especial de obter vantagem ou favorecimento sexual.


230
A vantagem sexual deve ser para si ou pode ser para outrem?

Rogério Sanches: Quando a lei quer abranger “para outrem”, o faz de forma expressa. E
nesse caso o faz! Vantagem = Para si. Favorecimento sexual = Para outrem.

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.

Capez também admite que a vantagem seja para outrem, independentemente de este ter
conhecimento. Se souber e concorrer de alguma forma, concurso de pessoas.

5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O assédio é crime habitual?

1ª C: PREVALECE que o crime não é habitual. Consuma-se com o primeiro ato


constrangedor, dispensando-se a obtenção da vantagem sexual visada. Admite tentativa.
Exemplo: Bilhetinho interceptado.

2ª C: O crime é habitual, consumando-se com a reiteração de atos, dispensando a


obtenção da vantagem visada. Não admite tentativa (Rodolfo Pamplona, Capez, Mirabete).

6. ESTUPRO DE VULNERÁVEL (CP, art. 217-A)

6.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.
§ 2º (VETADO)
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Antes da Lei Depois da Lei


ESTUPRO DE VULNERÁVEL ESTUPRO DE VULNERÁVEL

- COM VIOLÊNCIA REAL: art. 213 - Pena 06 a 10 anos. COM OU SEM VIOLÊNCIA REAL, o crime passa a ser o
O fato de a vítima ser vulnerável aumentava a pena de art. 217-A do CP.
metade, em razão do art. 9º da Lei 8.072/90 (Pena 09 a 15) Pena 08 a 15 anos.
apontava esta consequência caso se encaixasse nas
situações do art. 224. Em outras palavras: se houvesse
violência real, não precisava do art. 224; assim, o agente
era denunciado pelo art. 213 + o aumento de metade do
art. 9º da LCH.

231
- SEM VIOLÊNCIA REAL (VIOLÊNCIA PRESUMIDA): art.
213 - Pena 06 a 10 anos. Não incidia a Lei dos Crimes
Hediondos, pois já havia a combinação com art. 224 do CP
para presumir a violência. Não poderia a vulnerabilidade
ser usada para presumir a violência, configurando o
estupro (art. 224 CP), e também para majorar a pena em
metade (art. 9º LCH), pois ocorreria bis in idem. Ver LCH.

Rol de Vulneráveis: Rol de vulneráveis


a) Não maior de 14 anos; a) Menor de 14 anos;
b) Alienado mental; b) Alienado mental;
c) Vítima sem resistência c) Vítima sem resistência.

6.2. ALTERAÇÕES

6.2.1. Abolição do art. 224 do CP (presunção de violência), e consequentemente o art. 9º


da LCH.

CP (revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)


Presunção de violência
Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
a) não é maior de catorze anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

LCH
Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157,
§ 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua
combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação
com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são
acrescidas DE METADE, respeitado o limite superior de trinta anos de
reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224
também do Código Penal.

6.2.2. Idade do primeiro vulnerável.

Antes o sujeito era vulnerável ainda no dia do 14º aniversário. Agora, somente é
vulnerável até o último minuto de 13 anos.

6.2.3. Lex mitior e lex gravior

Em alguns aspectos a nova lei retroage, por ser mais benéfica (exemplo: estupro de
vulnerável com violência real: antes, aplicar-se-ia a pena do CP + a metade prevista na LCH, ou
seja, 06 a 10 anos + metade – 09 a 15 – , hoje se submete a pena do CP, 8 a 15 anos), em outros
é mais maléfica (exemplo: estupro de vulnerável com violência presumida, somente se submetia
a pena do CP: 06 a 10 anos, hoje, é se submete a pena do CP, mas a pena é de 08 a 15),
portanto não retroage.

232
6.2.4. Com a nova lei, Há espaço para a antiga discussão sobre a relatividade da
presunção de violência?

Vejamos: Estupro sem violência real contra pessoa vulnerável:

Antes da Lei Depois da Lei


Art. 224: Presunção de violência. Art. 217-A: Silêncio.
Prevalecia que a presunção era absoluta.
Para a maioria, a Lei 12.015/09 considera crime o ato de
libidinagem contra vulnerável, independentemente de
ocorrer violência real ou grave ameaça.

Para muitos, isso é um retrocesso. Ver Nucci abaixo

Nucci sugere uma diferenciação entre vulnerabilidade absoluta e vulnerabilidade relativa.

LFG diz que a vulnerabilidade é absoluta com vítima criança (até 12 anos incompletos).

No caso de vítima adolescente, a vulnerabilidade é relativa. Pode o agente provar que


apesar de menor de idade a vítima sabia o que estava fazendo.

Para o STJ:

. Na sentença, durante a dosimetria, o juiz pode reduzir a pena-base do réu alegando


que a vítima (menor de 14 anos) já tinha experiência sexual anterior ou argumentando que a
vítima era homossexual?

Claro que NÃO. Em se tratando de crime sexual praticado contra menor de 14 anos, a
experiência sexual anterior e a eventual homossexualidade do ofendido não servem para justificar
a diminuição da pena-base a título de comportamento da vítima. A experiência sexual anterior e a
eventual homossexualidade do ofendido, assim como não desnaturam (descaracterizam) o crime
233
sexual praticado contra menor de 14 anos, não servem também para justificar a diminuição da
pena-base, a título de comportamento da vítima. STJ. 6ª Turma. REsp 897.734-PR, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

6.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Crime comum.

Causa de aumento

Se o sujeito ativo for uma das pessoas do art. 226, II, a pena é aumentada de metade.

Art. 226. A pena é aumentada:


I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

6.4. SUJEITO PASSIVO

Vulnerável. A vítima é própria.

6.5. TIPO OBJETIVO

A conduta é ter conjunção carnal ou praticar ato libidinoso com vulnerável.

Percebe-se que o vulnerável pode ter tanto o comportamento ativo quanto passivo.
Exemplo: Mulher constranger menino a ter com ela conjunção carnal.

É um delito de execução livre, vale dizer, não exige violência, grave ameaça ou fraude.

6.6. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de dolo, devendo o agente ter ciência da condição de vulnerável
da vítima.

Se o agente não sabe da vulnerabilidade? Podem advir diferentes consequências:

Se o agente usou violência ou grave ameaça, porém não sabia que a vítima era vulnerável
 art. 213 (Estupro).

Se empregar fraude  215 (Violação sexual mediante fraude).

Se empregar outro meio, sem saber da vulnerabilidade  Fato atípico (erro de tipo
essencial).

6.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se com a prática dos atos de libidinagem, sendo perfeitamente possível a


tentativa.
234
7. LENOCÍNIO CONTRA VULNERÁVEL (corrupção de menores)

7.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia


de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Antes da Lei Depois da Lei


Lenocínio Lenocínio
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem: Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de um a três anos. Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 § 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
educação, de tratamento ou de guarda: educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos. Pena - reclusão, de dois a cinco anos.

Se a Vítima era menor de 14 anos, aplicava-se a Lenocínio contra vítima menor de 14 anos: art. 218 do CP
presunção de violência (224), de forma a incidir a forma (crime autônomo)  Lenocínio contra vulnerável.
qualificada do art. 227, §2º (lenocínio mediante violência ou Pena 02 a 05. Lex mitior.
grave ameaça).
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
satisfazer a lascívia de outrem: (Redação dada pela Lei nº
Art. 227
12.015, de 2009)
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência,
grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
correspondente à violência.
Ou seja, uma das formas de lenocínio foi para um tipo
CP (revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
próprio. O art. 227 continua vigente para outras vítimas,
Presunção de violência
vulneráveis ou não.
Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: Vide Lei nº
8.072, de 25.7.90
a) não é maior de catorze anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta
circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer
resistência.

7.2. SUJEITOS DO CRIME

O SUJEITO ATIVO é o Intermediário/Mediador que induz alguém (menor de 14 anos, no


caso do art. 218) a satisfazer a lascívia de outrem. Trata-se do chamado lenão, que pode ser
qualquer pessoa. Não se exige condição especial.

No delito de lenocínio temos três personagens:

235
a) Sujeito ativo: Lenão (Mediador).

b) Sujeito passivo: Menor de 14 anos.

c) Destinatário: Quem terá a lascívia satisfeita.

O art. 218 pune apenas o Lenão. Não pune o destinatário, pois o tipo penal exige que a
conduta seja com intenção de satisfazer lascívia alheia e não própria.

7.3. SUJEITO PASSIVO

Menor de 14 anos, tanto de sexo masculino quanto feminino.

A vítima deve ser determinada, sob pena de ocorrência do delito de favorecimento à


prostituição de vulnerável (art. 218-B).

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de


exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 04 (quatro) a 10 (dez) anos.

Há doutrina que não admite o crime quando a vítima for pessoa já corrompida (prostituta).
Diz-se que não seria possível induzir (fazer nascer a ideia) alguém que se entrega
espontaneamente à satisfação da lascívia alheia (Rogério Sanches).

7.4. TIPO OBJETIVO

A conduta é induzir (aliciar, persuadir) menor a satisfazer lascívia (sensualidade,


libidinagem, luxúria) de outrem.

Por satisfação de lascívia tem-se entendido qualquer comportamento de natureza sexual,


podendo abranger os atos de libidinagem (Nucci, Greco, Mirabete).

O destinatário, nesse caso (atos de libidinagem), responderá pelo art. 217-A (estupro de
vulnerável). Trata-se de exceção pluralista à teoria monista (Nucci).

Rogério escreveu diferente: A exceção pluralista não pode ter uma discrepância tão grande
de penas.

Rogério sugere:

a) Se houver atos de libidinagem, o lenão responde pelo estupro de vulnerável na


condição de partícipe. O destinatário responde como autor do estupro de vulnerável.

b) Tratando-se de satisfação de lascívia contemplativa (voyeurismo), quem induz


responde pelo art. 218 (lenocínio de vulnerável). O destinatário pratica fato atípico, em
regra (pode ocorrer algum delito do ECA).

ATENÇÃO: Não se trata de crime habitual.

7.5. TIPO SUBJETIVO


236
É o dolo, consistente na vontade consciente de induzir a vítima a satisfazer a lascívia de
terceiro, sabendo o autor que age em face de menor de 14 anos.

Não se exige finalidade específica.

O parágrafo único PREVIA a finalidade especial econômica, acrescentando pena de multa


ao preceito sancionador (tal como no lenocínio comum - art. 227, §3º). É o chamado lenocínio
mercenário.

Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:


Pena - reclusão, de um a três anos.
...
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

ENTRETANTO, o dispositivo foi vetado.

Razões do veto: “A conduta de induzir menor de catorze anos a satisfazer a lascívia de


outrem, com o fim de obter vantagem econômica já está abrangida pelo tipo penal previsto no art.
218-B, § 1º (favorecimento à prostituição de vulnerável).

7.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se com a prática do ato tendente a satisfazer a lascívia, independentemente do


destinatário se sentir satisfeito. Admite-se a tentativa.

8. “CORRUPÇÃO DE MENORES” (SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE


CRIANÇA OU ADOLESCENTE - CP, art. 218-A)

8.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou


induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de
satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015,
de 2009)

Trata-se de novo tipo penal acrescentado pela Lei 12.015/09. Antigamente tínhamos:

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI


Corrupção de menores Corrupção de menores

Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa Art. 218: REVOGADO (“abolitio criminis”). No art. 218 hoje
maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, com consta o crime estudado acima: lenocínio contra vulnerável:
ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-
lo ou presenciá-lo: Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
Pena - reclusão, de um a quatro anos. satisfazer a lascívia de outrem: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)
Introduzir a vítima, precocemente, nos prazeres da carne Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação
(expressão de Hungria). dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Meios de execução: Pode “corromper” adolescente maior de 14 anos que não é


237
a) Praticar com a vítima atos de libidinagem; mais crime.
b) Induzir a vítima a praticá-los ou;
c) Induzir a vítima a presenciá-los.

Se a vítima já fosse corrompida, fato atípico.


Sujeito passivo: Pessoa menor de 18 e maior de 14. Novo artigo:
Art. 218-A. PRATICAR, na presença de alguém menor de
Se fosse não maior de 14  presunção de violência.
14 (catorze) anos, ou INDUZI-LO A PRESENCIAR,
Porém o fato não subsumiria ao art. 218 (restrito a
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer
adolescentes maiores de 14 anos). Dessa forma:
lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
a) Praticar ato de libidinagem  Autoria de Estupro
com presunção de violência (art. 213 c/c art. 224).
Ou seja, aquilo que era fato atípico por falta de previsão
b) Induzir à prática de atos de libidinagem 
legal foi tipificado (letra c). Integrou-se a lacuna.
Partícipe de Estupro com presunção de violência (art. 213
c/c art. 224).
Os atos de libidinagem contra vítima menor de 14
c) Induzir a vítima a presenciar  Fato atípico.
continuam sendo crime  Estupro de vulnerável.

Olha a falha do legislador:


 Se a vítima induzida a presenciar ato de
libidinagem fosse adolescente maior de 14 
Corrupção de menores.
 Se a vítima induzida a presenciar ato de
libidinagem fosse não maior de 14  Fato atípico.

8.2. SUJEITOS

Ativo: Crime comum.

Passivo: Vulnerável menor de 14 anos.

Incide a causa de aumento do art. 226, II se o autor for alguma daquelas pessoas.

Art. 226. A pena é aumentada:


I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

8.3. TIPO OBJETIVO

Duas condutas:

a) Praticar atos de libidinagem na presença de menor: Ocorre quando a presença do


menor é espontânea e o sujeito se aproveita dessa presença.

b) Induzir menor a presenciar atos de libidinagem: A presença do menor é provocada.

DETALHE: O menor NÃO PODE participar dos atos de libidinagem, sob pena de configurar
Estupro de Vulnerável.

238
8.4. TIPO SUBJETIVO

Dolo, com finalidade especial de satisfazer lascívia própria ou de outrem.

Sem a finalidade de satisfação de lascívia (Exemplo: do casal de amantes que levou a


criança para o motel) não há crime.

8.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Nucci: Consuma-se com a efetiva prática do ato de libidinagem.

Rogério discorda: Na conduta praticar, consuma-se com a prática do ato. Na conduta


induzir, consuma-se com o mero induzimento. A prática seria mero exaurimento.

Erro do Rogério: O tipo penal deve ser analisado em conformidade com o art. 31 do CP,
que exige pelo menos o início da execução do crime induzido para que seja punido o induzidor.

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição


expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo
menos, a ser tentado.

Admite-se a tentativa em ambas as condutas, pois são plurissubsistentes.

9. AÇÃO PENAL NOS CRIMES SEXUAIS (CP, art. 225)

9.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I (dos crimes contra a
dignidade sexual) e II (dos crimes sexuais contra vulnerável) deste Título,
procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
vulnerável.

ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI


REGRA: Ação penal de iniciativa privada. REGRA: Ação penal pública condicionada à representação.
Motivo: O interesse da vítima é maior que o da sociedade.
Ou seja, grave ameaça ou violência presumida.

EXCEÇÕES: EXCEÇÕES:
1) Vítima pobre: Ação pública condicionada. 1) Vítima menor de 18 anos: ação pública
2) Abuso de poder familiar: Ação pública incondicionada.
incondicionada. 2) Vítima vulnerável: ação pública incondicionada.
3) Art. 223 do CP: Qualificadoras (lesão grave ou
morte). Incondicionada.
4) Súmula 608 do STF. Violência real.
Incondicionada.

239
9.2. OBSERVAÇÕES

Aboliu-se a ação penal de iniciativa privada nos crimes sexuais, salvo a subsidiária (que é
uma garantia constitucional).

As quatro exceções até então existentes não mais subsistem.

A alteração que tornou a ação em pública NÃO RETROAGE, pois retira várias hipóteses
de extinção da punibilidade em favor do agente (perempção, perdão, renúncia). Seria uma
retroatividade maléfica, que ampliaria o espectro punitivo para o passado. Ver acima em injúria.

PERGUNTA-SE: E se o crime, quando praticado, era de ação pública incondicionada


(exemplo: Súmula 618) e agora é de ação pública condicionada. Exemplificando: O MP
ofereceu denúncia, veio a nova lei e tornou o crime em ação pública condicionada. O que
deve ser feito?

1ª C: O ofendido deve ser intimado para, querendo, oferecer representação, que nesse
caso funcionará como CONDIÇÃO DE PROSSEGUIBILIDADE. DPE.

2ª C (Rogério): Segue o baile, pois representação é CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE,


vale dizer, condição especial da ação penal. É condição que deve ser verificada no momento do
oferecimento da peça acusatória. Se a peça foi oferecida regularmente, de acordo com as leis
vigentes, já era: ato jurídico perfeito.

Não se pode transformar a representação em condição de prosseguibilidade sem previsão


legal. Quando o legislador quis fazer essa transformação, o fez de forma expressa, como no art.
91 da Lei 9.099/95.

9.3. A NOVA HIPÓTESE DE CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL NOS CRIMES


CONTRA DIGNIDADE SEXUAL DE CRIANÇA E ADOLESCENTE – “LEI JOANNA
MARANHÃO” – LEI 12.650/12.

9.3.1. Análise da parte final do dispositivo

CP Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


começa a correr:
...
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes,
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, SALVO se a esse tempo já houver
sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012)

Pergunta: no caso da parte final do inciso V do art. 111, tendo sido proposta a ação penal
mesmo antes da vítima completar 18 anos, qual é o termo inicial da prescrição?

1ª corrente: é a data da PROPOSITURA da ação penal. É a interpretação que reputo mais


adequada com o espírito protecionista da vítima revelado pelo legislador.

2ª corrente: é a data do RECEBIMENTO da denúncia, com base em uma interpretação


conjugada com o art. 117, I, do CP. É a posição defendida por Rogério Sanches.

240
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

3ª corrente: é a data da CONSUMAÇÃO do delito. Isso porque a parte final do inciso V do


art. 111 nega a exceção, sem estabelecer expressamente um novo marco inicial da prescrição.
Logo, volta-se à regra geral, que é o art. 111, I, do CP. Trata-se da posição que pode ser adotada
por doutrinadores mais “garantistas”, com base em uma interpretação mais benéfica ao réu.

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


começa a correr:
...
I - do dia em que o crime se consumou;

Crítica a esta eventual 3ª corrente - vamos demonstrar a impertinência da interpretação


baseada nesta 3ª corrente com um exemplo hipotético:

“João” e “Maria”, motorista e babá, praticam, na presença de “Ricardo” (04 anos de idade),
conjunção carnal, a fim de satisfazer lascívia própria. Este fato ocorreu em 10/06/2012. “João” e
“Maria” cometeram o delito previsto no art. 218-A do Código Penal. Trata-se de crime contra a
dignidade sexual de criança ou adolescente. Quando começa a correr o prazo prescricional
deste delito?

R: No dia em que a “Ricardo” completar 18 anos (em 10/03/2026). Até lá, o prazo
prescricional está suspenso por força da parte inicial do inciso V do art. 111 do CP.

Prazo prescricional em abstrato do crime do art. 218-A do CP: a pena máxima do crime do
art. 218-A é de 04 anos. Logo, este delito prescreve em 08 anos. No exemplo dado, no dia em que
“Ricardo” completou 18 anos (em 10/03/2026), ele procurou o MP e relatou o ocorrido naquele dia.
O Promotor ajuizou a ação penal. Este crime não estava prescrito e somente prescreverá em
2034.

Agora imaginemos que, quando “Ricardo” completou 14 anos, ou seja, 10 anos após o
fato, ele decidiu contar aos pais o que aconteceu naquele dia 10/06/2012. Os pais de “Ricardo”
procuraram o MP.

Se adotarmos a 3ª corrente, o MP não poderá ajuizar a ação penal porque se o fizer antes
de “Ricardo” completar 18 anos, o prazo prescricional será o da regra geral do inciso I do art. 111,
ou seja, o prazo prescricional terá iniciado na data em que o crime se consumou (10/06/2012).
Como já se passaram mais de 10 anos, o crime estaria prescrito.

Desse modo, chegaríamos à absurda conclusão de que o MP teria que esperar até que a
vítima completasse 18 anos para então ajuizar a ação penal e, assim, o prazo prescricional ser
contado da data do 18º aniversário.

Vale ressaltar que a referida mudança legislativa atendeu a interesses de vitimologia no


sentido de proteger os interesses da vítima. Por essa razão, a interpretação exposta na 3ª
corrente não deve ser adotada.

9.3.2. Analisando a expressão “crimes contra a dignidade sexual de crianças e


adolescentes, previstos no CP ou em leis especiais”

Vejamos mais uma vez a redação do inciso V do art. 111:

241
Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,
começa a correr:
(...)
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes,
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido
proposta a ação penal.

O que é criança e adolescente? Segundo o critério legal do ECA (art. 2º), criança é a
pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.

Crime praticado contra a pessoa em seu 18º aniversário: no dia em que a pessoa
completa 18 anos, ela deixa de ser adolescente e passa a ser adulta. Assim, se a pessoa for
estuprada no dia do seu 18º aniversário, não se aplica este art. 111, V do CP.

Quais são os crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes previstos


no Código Penal?

 Estupro (art. 213, § 1º);

 Violação sexual mediante fraude (art. 215);

 Assédio sexual (art. 216-A, § 1º);

 Estupro de vulnerável (art. 217-A);

 Corrupção de menores (art. 218);

 Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art.


218-A);

 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de


vulnerável (art. 218-B);

 Mediação para servir a lascívia de outrem (art. 227, § 1º);

 Rufianismo (art. 230, § 1º);

 Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (art. 231, § 2º,
I);

 Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual (art. 231-A, § 2º, I).

Existem atualmente crimes contra a dignidade sexual praticados contra crianças e


adolescentes previstos em leis especiais? Sobre este tema, certamente surgirão duas
correntes:

1ª corrente: NÃO. A única lei que fala literalmente em “crimes contra a dignidade sexual” é
o Código Penal. Aplicar esta regra do inciso V do art. 111 do CP a outros crimes sexuais contra
crianças e adolescentes que não tem a rubrica de “crimes contra a dignidade sexual” seria
analogia in malam partem. Corrente DPE.

2ª corrente: SIM. Quando o novel inciso V do art. 111 do CP menciona “crimes contra a
dignidade sexual” ele está se referindo ao bem jurídico protegido, ou seja, trata-se de um gênero
que abrange todas as espécies de “delitos sexuais” envolvendo crianças e adolescentes. A

242
expressão “crimes contra a dignidade sexual” é apenas um eufemismo para “crimes sexuais” ou
uma atualização vernacular para “crimes contra a liberdade sexual”. Assim, esta expressão
utilizada pela Lei (“crimes contra a dignidade sexual”) abrange todas as infrações penais cuja
ofensa ao bem jurídico envolva práticas ligadas à sexualidade. Não se trata de analogia in malam
partem, mas tão somente do exercício da interpretação teleológica e histórica. É a minha posição
sobre o tema. Corrente MP.

Desse modo, a meu sentir, o inciso V do art. 111 do CP é aplicável aos delitos previstos
nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D do Estatuto da Criança e do Adolescente
considerando que se tratam de crimes praticados contra crianças e adolescentes no contexto da
sexualidade. Seria absurdo e excessivo apego ao formalismo dizer que tais delitos não ofendem a
dignidade sexual das crianças e dos adolescentes, enquanto bem jurídico tutelado, pelo simples
fato de o ECA não utilizar esta expressão.

9.3.3. Não confundir com crimes contra a dignidade sexual praticados contra
VULNERÁVEIS

Observação importante: os crimes de que trata o inciso V do art. 111 não se confundem,
necessariamente, com os crimes contra a dignidade sexual praticados contra vulneráveis.

Em outras palavras, “crimes contra a dignidade sexual de CRIANÇAS e ADOLESCENTES”


não é sinônimo de “crimes contra a dignidade sexual praticados contra VULNERÁVEIS”.

Provemos: Existe crime contra a dignidade sexual de vulnerável que não se enquadra no
inciso V do art. 111. Exemplo: estupro de vulnerável praticado contra pessoa de 20 anos com
deficiência mental (art. 217-A, § 1º).

Existe crime contra a dignidade sexual de adolescente que não é crime contra a dignidade
sexual de vulnerável. Ex: estupro praticado contra pessoa de 16 anos sem enfermidade mental e
que, no caso concreto, podia oferecer resistência (art. 213, § 1º).

Conclusão: toda CRIANÇA é vulnerável para fins de crimes contra a dignidade sexual, mas
nem todo ADOLESCENTE será vulnerável sob este aspecto.

O ADOLESCENTE só será considerado vulnerável para fins de crime contra a dignidade


sexual se: for maior que 12 e menor que 14 anos; ou não tiver o necessário discernimento para a
prática do ato por enfermidade ou deficiência mental; ou não podia, no caso concreto, por
qualquer causa, oferecer resistência.

Os crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes são sempre de ação


penal pública incondicionada.

9.3.4. Vigência da Lei n. 12.650/2012

A Lei n. 12.650/2012 entrou em vigor na data de sua publicação (18/05/2012), não


possuindo vacatio legis.

9.3.5. Lei irretroativa

Conforme já explicado, a prescrição é matéria penal, ou seja, de direito material e não de


direito processual. Desse modo, submete-se à regra segundo a qual a nova lei penal não

243
retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL, CF/88). No caso concreto, a Lei n. 12.650/2012,
ao retardar o início da contagem da prescrição, torna mais gravosa a situação para o réu. Logo,
não pode ser aplicada retroativamente aos fatos praticados antes de 18/05/2012, data em que
entrou em vigor.

10. DISPOSIÇÕES GERAIS: MAJORANTES (CP, art. 234-A)

Essas causas de aumento do art. 234-A se aplicam a todos os crimes deste Título VI
(crimes contra a dignidade sexual) da parte especial.

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:


I – (VETADO);
II – (VETADO);
III - DE METADE, se do crime resultar gravidez; e

Tanto da mulher vítima quanto da mulher agente. Ora, o homem vítima de estupro será pai
sem desejar.

A gravidez não precisa ser alcançada pelo dolo, e ainda que interrompida, permanece a
majorante.

IV - de UM SEXTO ATÉ A METADE, se o agente transmite à vitima doença


sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

Antes da Lei, o agente respondia pelo art. 213 + art. 131 (concurso formal). Agora
responde pela forma majorada. A doença deve estar no dolo do agente (direto ou eventual).

ATENÇÃO

O Código Penal Militar continua prevendo estupro e atentado violento ao pudor, sendo que
nenhum deles é hediondo.

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

1. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

1.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de


cometer crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº
12.850, de 2013)
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é
armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Redação
dada pela Lei nº 12.850, de 2013)

244
A Lei n° 12.850/13 modificou o art. 288 do Código Penal em alguns aspectos.

Inicialmente, o nomen iuris passou de quadrilha ou bando para associação criminosa.

Além disso, alterou-se o número mínimo de agentes que devem se associar para
caracterizar o crime, isso para diferenciá-lo da organização criminosa, agora definida e tipificada
nos artigos 1 ° e 2° da Lei n° 12.850/ 13, e que exige o número mínimo de quatro agentes.

Houve, também, mudança no parágrafo único, que antes dobrava a pena do crime quando
sua prática envolvia agentes armados. Atualmente, a associação criminosa terá a pena
aumentada até a metade se os agentes estiverem armados ou se houver a participação de
criança ou adolescente.

1.2. BEM JURÍDICO PROTEGIDO

Paz pública.

1.3. SUJEITOS

Sujeito ativo: crime comum.

Obs.1: o tipo exige no mínimo 03 pessoas, portanto se está diante de um crime


plurissubjetivo ou de concurso necessário de condutas paralelas, pois umas auxiliam as outras.

Obs.2: no número mínimo de 03 agentes, computam-se eventuais inimputáveis ou


indivíduos não identificados.

Sujeito passivo: coletividade.

1.4. TIPO SUBJETIVO

Dolo.

Deve haver o fim especial de cometer crimes.

Obs.: a finalidade de lucro é dispensável.

1.5. CONDUTA

Associação: pressupõe vinculação sólida (estrutura) e durável (tempo).

245
Obs.: uma pessoa pode pertencer a mais de uma quadrilha.

Pluralidade de pessoas: mínimo 3.

Obs.: sendo indiferente a posição ocupada por cada associado na organização, se


conhecem uns aos outros ou não (associação via internet), se há ou não hierarquia; identificando-
se o vínculo associativo estável e permanente, haverá o crime.

Fim de praticar uma série indeterminada de crimes: devem ser CRIMES, mas não
necessariamente da mesma espécie.

OBS.1: não abrange crime culposo nem preterdoloso.

OBS.2: deve ser para uma série INDETERMINADA de crimes. É isso que diferencia do
mero concurso de agentes.

Se a pluralidade de crimes executada pelos agentes ocorre em continuidade delitiva - art.


71 do CP -, como, por exemplo, múltiplos roubos executados nas mesmas circunstâncias de
tempo, local e modo de execução, não fica afastado o reconhecimento da associação criminosa,
ainda que, por ficção jurídica, as várias ações resultem num só crime de roubo, com pena
majorada.

1.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime, em relação aos fundadores, se consuma no momento em que caracterizada a


convergência de vontades entre ao menos 03 pessoas.

É posição pacífica nos Tribunais Superiores (STF e STJ) ser a associação criminosa crime
autônomo, que independe da prática de delitos pelo grupo (aliás, eventuais infrações praticadas
gera, para seus autores – que participaram, direta ou indiretamente da execução -, concurso
material entre o crime praticado e o art. 288 do CP).

Note-se que se trata de crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo. A


retirada de um associado, deixando o grupo com menos de três agentes, cessa a permanência,
mas não interfere na existência do crime, já consumado para todos.

Já em relação aos que posteriormente integram a associação, o crime se consuma no


momento da adesão de cada um.

Tentativa é inadmissível, pois os atos praticados com a finalidade de formar a associação


(anteriores à execução - formação) são meramente preparatórios.

1.7. MAJORANTE

Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é


armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Redação
dada pela Lei nº 12.850, de 2013)

O parágrafo único determina o aumento da pena até a metade se a associação criminosa é


armada ou se houver a participação de criança ou de adolescente.

246
A doutrina diverge acerca quantidade de membros que devem estar armados para que
incida a majorante. Para uns basta que um integrante esteja armado para gerar o aumento; para
outros, exige-se que a maioria dos membros esteja armada.

Por fim, deve ser observado que a Lei n° 12.850/13 modificou o quantum de incidência da
majorante, que antes representava o dobro da pena e atualmente pode aumentá-la até a metade.
Assim, se a pena da anterior quadrilha poderia variar de dois a seis anos, a atual associação
criminosa poderá, pela incidência da causa de aumento no máximo permitido, ter a reprimenda
variável de um ano e seis meses a quatro anos e seis meses. Vê-se, pois, que a nova disciplina é
benéfica em relação à precedente, e, por isso, deve retroagir para favorecer o agente que
cometeu o crime sob a égide da lei anterior.

2. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA

2.1. PREVISÃO LEGAL: ART. 288-A

Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído pela Lei nº 12.720,
de 2012)

Este dispositivo foi inserido pela lei 12.720/12 que também adicionou o §6º ao art. 121 do
CP (homicídio por grupo de extermínio/milícia) e alterou o §7º do art. 129 (majorante em lesão
corporal provocada por grupo de extermínio/milícia).

A nova Lei criou nova forma de associação criminosa, reunião estável e permanente de
pessoas com fim (criminoso) comum.

2.2. NÚCLEO DO TIPO

Elegeu como núcleos: constituir (significa compor a organização, o grupo


criminoso); organizar (é encontrar a melhor maneira de agir); integrar (é fazer
parte); manter ou custear (significa sustentar, pagar o custo, não apenas financeiramente, mas
com o fornecimento de materiais, instrumentos bélicos etc.). Não importa o núcleo praticado,
estamos diante de comportamentos cometidos por associados (fundadores ou não) do grupo
criminoso.

Chama a atenção o fato de o legislador ter enunciado grupos que, na prática, se


confundem, como acontece com o “grupo de extermínio” e “esquadrão”.

2.3. “ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR, MILÍCIA PARTICULAR, GRUPO OU ESQUADRÃO”

Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

247
2.3.1. “Organização paramilitar”

Paramilitares são associações civis, armadas e com estrutura semelhante à militar. Possui
as características de uma força militar, tem a estrutura e organização de uma tropa ou exército,
sem sê-lo.

Não se pode ignorar que o art. 24 da Lei 7.170/83 pune com 2 a 8 anos, constituir, integrar
ou manter organização ilegal de tipo militar, de qualquer forma ou natureza armada ou não, com
ou sem fardamento, com finalidade combativa, sendo imprescindível a MOTIVAÇÃO POLÍTICA do
grupo.

LSN Art. 24 - Constituir, integrar ou manter organização ilegal de tipo militar,


de qualquer forma ou natureza armada ou não, com ou sem fardamento,
com finalidade combativa.
Pena: reclusão, de 2 a 8 anos.

2.3.2. “Grupo”

Quantas pessoas devem, no mínimo, integrar esse “GRUPO”? O texto é totalmente silente.

Com o advento da Lei 12.694/12 (organizações criminosas), já percebemos doutrina


preferindo fundamentar o raciocínio no conceito de “GRUPO” trazido no seu artigo 2.º, que se
contenta com a reunião de três ou mais pessoas.

2.3.3. “Milícia privada”

Por MILÍCIA PRIVADA entende-se grupo de pessoas (civis ou não, repetindo a discussão
acima quanto ao número mínimo) armado, tendo como finalidade (anunciada) devolver a
segurança retirada das comunidades mais carentes, restaurando a paz. Para tanto, mediante
coação, os agentes ocupam determinado espaço territorial. A proteção oferecida nesse espaço
ignora o monopólio estatal de controle social, valendo-se de violência e grave ameaça.

A Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1989, por meio da resolução
44/162, aprovou os princípios e diretrizes para a prevenção, investigação e repressão às
execuções extralegais, arbitrárias e sumárias, anunciando: “Os governos proibirão por lei todas as
execuções extralegais, arbitrárias ou sumárias, e zelarão para que todas essas execuções se
tipifiquem como delitos em seu direito penal, e sejam sancionáveis com penas adequadas que
levem em conta a gravidade de tais delitos. Não poderão ser invocadas, para justificar essas
execuções, circunstâncias excepcionais, como por exemplo, o estado de guerra ou o risco de
guerra, a instabilidade política interna, nem nenhuma outra emergência pública. Essas execuções
não se efetuarão em nenhuma circunstância, nem sequer em situações de conflito interno
armado, abuso ou uso ilegal da força por parte de um funcionário público ou de outra pessoa que
atue em caráter oficial ou de uma pessoa que promova a investigação, ou com o consentimento
ou aquiescência daquela, nem tampouco em situações nas quais a morte ocorra na prisão. Esta
proibição prevalecerá sobre os decretos promulgados pela autoridade executiva”.

2.3.4. “Esquadrão”

Conceito de Válter Kenji Ishida: Esquadrão. No conceito militar refere-se a uma unidade
da cavalaria, do exército blindado etc. O termo se vincula a uma reunião de pessoas
quantitativamente maior que o grupo. O esquadrão pode ser exemplificado na organização
248
criminosa formada no interior dos estabelecimentos penitenciários ou em São Paulo, com o
chamado “esquadrão da morte”.

Rogério Sanches Cunha não conceitua em sua primeira análise sobre o tema.

Rogério Greco também não conceitua esquadrão em sua primeira análise sobre o tema.

Denotem que a doutrina não é uniforme com relação à conceituação dos elementos
trazidos pelo artigo 288-A do Código Penal. Aliás, a dificuldade em conceituar milícia privada é
enorme. Tal dificuldade de conceituação foi até mesmo apontada pelo jurista Rogério Greco.

2.4. FINALIDADE: COMETIMENTO DE CRIMES DO CP

Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização


paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.

Tipificando a nova associação apenas quando tiver como finalidade a prática de crimes
previstos no CP, não se cogita deste delito quando visar a prática de crimes estampados em
legislação extravagante, sob pena de analogia incriminadora.

A constituição de grupo criminoso já é suficiente para caracterizar o crime do art. 288-A do


CP, dispensando a prática de qualquer dos crimes visados pela associação, o qual, ocorrendo,
gera o concurso material de delitos. Assim, grupo de extermínio que promove matanças, responde
pelos crimes dos arts. 288-A e 121, § 6º, ambos do CP, em concurso material, não se cogitando
de bis in idem, pois são delitos autônomos e independentes, protegendo, cada qual, bens jurídicos
próprios.

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de
2012)

2.5. VIGÊNCIA DA LEI

Lei 12.720/12, Art. 5o Esta Lei entra vigor na data de sua publicação.
Brasília, 27 de setembro de 2012; 191o da Independência e 124oda
República.

A nova lei é incriminadora, sendo, portanto, irretroativa. Trata-se de observância do


princípio da anterioridade, corolário do princípio da legalidade (art. 1º do CP).

CP Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

249
1. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297 CP)

1.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se
do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado
de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso,
as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular.
*§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não
possua a qualidade de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social,
declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado
com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração
falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados
no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a
vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

1.2. ART. 297 CAPUT, §§ 1º E 2º: FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO

1.2.1. Previsão legal

Art. 297 - FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento público, ou


ALTERAR documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

1.2.2. Bem jurídico tutelado

Fé pública.

1.2.3. Sujeitos

Sujeito ativo: crime comum.

Obs.:

Art. 297
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se
do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Sujeito passivo:

Primário: é o Estado.

Secundário: particular prejudicado pela falsidade.

250
1.2.4. Conduta

Falsificar ou alterar.

Falsificar no todo  o documento inteiro é falsificado.

Falsificar em parte  novos elementos são adicionados nos espaços em branco.

Alterar  substitui ou rasura dizeres.

1.2.5. Objeto material

Documento público.

“Documento”: é peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém,


podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de relevância jurídica.

Documento formal e materialmente público: emanado de servidor público no exercício de


suas funções, cujo conteúdo diz respeito a questões inerentes ao interesse público.

Documento formalmente público, mas substancialmente privado: aqui o interesse é de


natureza privada, apesar de o documento ser emanado de entes públicos.

Obs.1: documento escrito a lápis não é documento, pois há insegurança na manutenção


do seu conteúdo.

Obs.2: a falsificação deve ser apta a iludir. Falsificação grosseira não configura o crime.

A substituição de fotografia em documento de identidade configura o 297


(falsificação de documento público) ou o 307 (falsa identidade)?

Prevalece que configura o 297.

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter


vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.

É necessária perícia para condenar pelo art. 297?

Em regra, sim, mas no caso de substituição de fotografia a jurisprudência dispensa.

Documentos públicos por equiparação:

Art. 297, § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o


emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por
endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o
testamento particular.

Cuidado:

251
a) Cheque, no período em que pode ser transmitido por endosso, é documento público;
após isso, quando ele só pode ser transmitido por cessão civil, volta a ser particular.

b) As ações de sociedades comerciais podem ser as preferenciais ou não.

c) Os livros mercantis podem ser os obrigatórios ou os facultativos.

d) O testamento deve ser o particular. Não abrange o codicilo.

1.2.6. Tipo subjetivo

Dolo, sem finalidade especial.

1.2.7. Consumação

Com a prática de qualquer das condutas. Dispensa o uso, bastando a potencialidade


lesiva.

E se ocorrer o uso?

Se quem usa é quem falsificou, o art. 297 absorve o art. 304 (post factum impunível).

Se quem usa não participou da falsificação, responde pelo 304 e o falsificador responde
pelo 297.

Tentativa: é admitida.

1.2.8. Competência

Súmula 546 STJ - A competência para processar e julgar o crime de uso de


documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

Regras para definir a competência nos crimes contra a fé-pública

De forma bem completa, Renato Brasileiro (Manual de Processo Penal. Salvador:


Juspodivm, 2015, p. 426- 429) elenca quatro regras para se determinar a competência nos crimes
contra a fé pública:

1) Em se tratando de falsificação, em qualquer uma de suas modalidades, a competência


será determinada pelo ente responsável pela confecção do documento.

2) Em se tratando de crime de uso de documento falso (art. 304 do CP), por terceiro que
não tenha sido responsável pela falsificação do documento, é irrelevante a natureza desse
documento (se federal ou estadual), pois a competência será determinada em virtude da pessoa
física ou jurídica prejudicada pelo uso.

3) Em caso de uso de documento falso pelo próprio autor da falsificação, estará


configurado um só delito (o de falsificação), sendo o uso considerado como mero exaurimento da
falsificação anterior (post factum impunível), com base na aplicação do princípio da consunção.
Assim, a competência será determinada pela natureza do documento (regra 1),
independentemente da pessoa física ou jurídica prejudicada pelo seu uso.
252
4) Em se tratando de crimes de falsificação ou de uso de documento falso cometidos como
meio para a prática de um crime-fim, sendo por este absorvidos, a competência será determinada
pelo sujeito passivo do crime-fim.

1.3. ART. 297, §§3º E 4º: FALSIDADE DE DOCUMENTOS DESTINADOS À PREVIDÊNCIA


SOCIAL

1.3.1. Previsão legal

Art. 297,
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não
possua a qualidade de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social,
declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado
com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração
falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados
no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a
vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

O exemplo mais comum é a declaração de informações falsas na Carteira de


Trabalho, a fim de subtrair a contribuição social mensal.

1.3.2. Falsidade material ou ideológica?

Trata-se de falsidade material ou ideológica? Ideológica. Ver abaixo.

Falsidade material (art. 297 - documento público/298 Falsidade ideológica (art. 299)
CP documento particular)
Recai sobre o aspecto externo do documento. O documento existe, é verdadeiro, porém seu conteúdo
Ex.: Carteira de identidade com foto trocada. intelectual é falso. Ex.: acima
Pode ser praticada na forma de falsificação integral do Pode ser praticada comissiva (inserindo informação falsa)
documento, ou de alteração de documento preexistente. ou omissivamente (deixando de inserir informação
Somente se pratica comissivamente. verdadeira).

O agente não tem legitimidade para criar o documento. O agente tem legitimidade para elaborar o documento.
Exige exame pericial. A prova se dá testemunhalmente. Até porque o exame
pericial comprovaria o que já se sabe: o documento em si,
é verdadeiro.

Assim, embora estejam no art. 297, percebe-se que os parágrafos 3º e 4º são exemplos de
falsidade IDEOLÓGICA.

Abuso de Folha assinada em branco. É falsidade material ou ideológica? Depende se o


agente tinha legitimidade para preencher dados na folha assinada em branco. Se sim, falsidade
ideológica; se não, falsidade material.

253
Documento do concursando alegando que preenche os requisitos do cargo: Se a
informação estiver sujeita à verificação por autoridade pública, não há que se falar em crime de
falsidade ideológica. Ex.: Assinar documento dizendo que preenche todos os requisitos do cargo.
Por que não há crime? Porque não há potencialidade lesiva, uma vez que os requisitos serão
verificados posteriormente pela autoridade.

Abuso de cheque: Depende. Se o cheque está assinado em branco, é falsidade ideológica;


se o cheque é encontrado na rua e o agente falsifica a assinatura, é falsidade material.

CUIDADO: Para fins penais o cheque é equiparado a documento público (art. 297, §2º do
CP).

Os arts. 297 e 298 são exemplos de falsidade material, porém os §§3º e 4º do art. 297
configuram falsidade ideológica.

Aplica-se aqui a Súmula 17 do STJ. Pode ser que o estelionato absorva o falso.

STJ Súmula nº 17 Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido. (Princípio da consunção).

Falsidade ideológica em concurso com crime contra a ordem tributária: O sujeito falsifica
declaração de imposto de renda, a fim de sonegar. Ele é pego na malha fina e acaba pagando o
tributo. Esse pagamento extingue a punibilidade do crime tributário. E quanto ao crime de falso?

Para o STJ, como o crime fiscal absorve o delito de falsidade nessa hipótese (Súmula
17 do STJ), efetuado o pagamento do tributo devido, não haverá justa causa para a ação penal
pelo crime de falsidade.

ATENÇÃO!! Informativo 539 STJ

A competência para julgar esse crime é da Justiça Federal (mudança de entendimento).

2. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR (ART. 298 CP)


254
2.1. ANÁLISE DO CAPUT

Art. 298 - FALSIFICAR, no todo ou em parte, documento particular ou


ALTERAR documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

A diferença do 297 para o 298 é o objeto material, que aqui é particular.

Bem jurídico: fé pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: Estado (vítima primária) e particular prejudicado (vítima secundária).

Conduta: falsificar, no todo ou em parte, ou alterar documento particular.

Objeto material: documento PARTICULAR.

“Documento particular”: seu conceito é extraído por exclusão, ou seja, documento


particular é o que não é público ou equiparado a público.

Obs.: atos público nulos, feitos por oficiais incompetentes, são documentos particulares.

Tipo subjetivo: dolo, sem finalidade especial.

Consumação: ver art. 297.

Documento particular, mas que teve a firma reconhecida em cartório passa a ser
documento público?

Se falsificar os escritos do documento, é o 298 (falsificação de documento particular).

Se falsificar o selo do tabelião, é o 297 (documento público).

2.2. INSERÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO AO ART. 298 DO CÓDIGO PENAL

A Lei n. 12.737/2012 inseriu o parágrafo único ao art. 298 do Código Penal.

2.2.1. Falsificação de cartão

Art. 298. Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a


documento particular o cartão de CRÉDITO ou DÉBITO.

A alteração no art. 298, com o acréscimo do parágrafo único, teve como objetivo fazer com
que o cartão de crédito ou débito, para fins penais, seja considerado como “documento particular”.

Se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza SAQUES na conta


bancária do titular, qual crime pratica?

A jurisprudência do STJ ENTENDIA tratar-se de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II).
Confira:

“(...) Esta Corte firmou compreensão segundo a qual a competência


para o processo e julgamento do crime de furto mediante fraude,
consistente na subtração de valores de conta bancária por meio de
255
cartão magnético supostamente clonado, se determina pelo local em
que o correntista detém a conta fraudada. (...)” (AgRg no CC 110.855/DF,
Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira Seção, julgado em 13/06/2012, DJe
22/06/2012)

E qual será o delito se o agente faz a CLONAGEM do cartão e, com ele, realiza
COMPRAS em estabelecimentos comerciais?

Nessa hipótese, o STJ JÁ DECIDIU que haverá o crime de ESTELIONATO:

“(...) A obtenção de vantagem ilícita através da compra em


estabelecimentos comerciais utilizando-se de cartões de crédito clonados
configura, a princípio, o delito de estelionato, o qual se consuma no
momento de realização das operações. (...)” (CC 101.900/RS, Rel.
Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe
06/09/2010)

Com a mudança da Lei será possível reconhecer CONCURSO MATERIAL entre a


falsificação do cartão (art. 298, parágrafo único) e o furto ou estelionato?

Penso que não. Apesar de se tratarem de bens jurídicos diferentes (a falsidade protege a
fé pública, enquanto que o furto e o estelionato o patrimônio), entendo ser o caso de aplicação do
princípio da consunção, por razões de política criminal. Logo, é de se aplicar o raciocínio que
motivou a edição da Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido.

Assim, se o agente faz a clonagem do cartão e, com ele, realiza saques na conta bancária
do titular, pratica apenas furto mediante fraude, ficando, em princípio, absorvida a falsidade.

De igual sorte, se o sujeito faz a clonagem do cartão e, com ele, realiza compras em
estabelecimentos comerciais incorre em estelionato, sendo absorvida a falsidade, se não houver
mais potencialidade lesiva (Súmula 17 do STJ).

Uma última indagação: se o cartão de crédito ou de débito for emitido por uma empresa
pública, como por exemplo, a Caixa Econômica Federal, ele será considerado DOCUMENTO
PÚBLICO?

Não. Quando a CEF emite um cartão de crédito/débito ela está atuando no exercício de uma
atividade privada concernente à exploração de atividade econômica. Logo, não há sentido de se
considerar como documento público. Além disso, o cartão de crédito e débito é equiparado a
documento particular, pelo parágrafo único do art. 298, sem qualquer ressalva quanto à natureza da
instituição financeira que o emitiu.

3. FALSIDADE IDEOLÓGICA

3.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 299 - Omitir, em documento PÚBLICO ou PARTICULAR, declaração


que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

256
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é PÚBLICO,
e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é PARTICULAR.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de
assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

4. FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO

4.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si


ou a outrem, ou de comprometer
a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio,
o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no
caput.
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por
funcionário público.

4.2. BEM JURÍDICO

O novo tipo penal foi inserido no Título X, que trata dos “crimes contra a fé pública”. Desse
modo, segundo a posição topográfica, o bem jurídico protegido é a fé pública. Apesar disso,
quando o certame for promovido pelo Poder Público, tenho que o bem jurídico protegido será
também a própria Administração Pública.

4.3. SUJEITOS

4.3.1. Sujeito ativo

Qualquer pessoa (crime comum). O conteúdo sigiloso, a que se refere o caput do


dispositivo, não precisa ter sido obtido por pessoa com características especiais.
Vale ressaltar, no entanto, que se o fato é cometido por funcionário público a pena é aumentada
de 1/3 (um terço), conforme previsto no § 3º do art. 311-A do CP:

257
Art. 311, § 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por
funcionário público.

Rememore que se equipara a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública (§ 1º do art. 327 do CP).

4.3.2. Sujeito passivo

A coletividade. Secundariamente, tem-se que também são vítimas:

a) O ente público ou privado que deflagrou o certame (exs: União, Estado, Município, a
entidade privada, como o SEBRAE, SESI, a universidade privada, entre outros);

b) Os demais candidatos prejudicados pela conduta do agente.

4.4. TIPO OBJETIVO

4.4.1. Estudo do caput

Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si


ou a outrem, ou de comprometer
a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: [...]

Utilizar: está empregado no sentido genérico de “fazer uso”.

Divulgar: significa “tornar público ou conhecido”, ainda que apenas para uma única pessoa,
um conteúdo que ostenta o caráter de sigiloso.

Indevidamente: isto é, fora das hipóteses permitidas por lei, edital, contrato ou demais
regras inerentes ao certame.

Com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame:


trata-se de um especial fim de agir (o que a doutrina clássica denomina de dolo específico).

Conteúdo sigiloso: é aquele conhecido por poucos e que não pode ser revelado.
Não há uma lei ou outro ato normativo que defina o que seja sigiloso, não sendo o tipo em
comento uma norma penal em branco.

Desse modo, “conteúdo sigiloso” é um elemento normativo do tipo, ou seja, depende de


um juízo de valor a ser feito pelo magistrado, no caso concreto.

O conteúdo sigiloso de um concurso ou seleção envolve não apenas as perguntas e


repostas das provas a serem aplicadas, podendo abranger toda e qualquer informação que não
seja de conhecimento público e que, se divulgada, tenha potencial para beneficiar alguém ou
comprometer a credibilidade do certame.

Assim, configura o crime em estudo a conduta de divulgar, antes das provas, de forma não
pública, isto é, para uma ou algumas pessoas, a quantidade de questões que serão cobradas por
disciplina, os nomes dos examinadores, a abordagem metodológica que prevalecerá na prova
(doutrina, jurisprudência ou texto de lei), enfim, informações que beneficiem, ainda que em tese,
determinados candidatos, por gerarem tratamento diferenciado.
258
A pedra de toque, portanto, é o resguardo ao princípio da impessoalidade, no seu sentido
de igualdade, ou seja, não se permite que determinados candidatos tenham informações
privilegiadas (não acessíveis a todos indistintamente).

4.4.2. Divulgação antecipada do resultado do concurso para poucas pessoas

Prática não rara na seara dos concursos são as notícias de que o resultado de
determinado concurso foi divulgado anteriormente a algumas poucas pessoas, em especial
servidores do órgão para o qual os cargos se destinam. Normalmente isso ocorre porque a
Instituição organizadora do certame remete ao órgão público contratante o resultado do concurso
para que o Presidente da Comissão o assine e envie ao Diário Oficial para publicação,
procedimento que pode durar alguns dias.

Se o Presidente da Comissão, antes da publicação do resultado no Diário Oficial,


divulga a classificação final do certame e a relação de aprovados para outras pessoas,
comete ele o crime do art. 311-A do CP?

Penso que não. Em primeiro lugar, porque com o encerramento da fase de correção das
provas e a remessa do resultado, pela Instituição organizadora ao órgão contratante, não há mais
sigilo dessa informação. A publicação no Diário Oficial é tão somente uma formalidade destinada
a garantir a ampla publicidade, mas que não tem o condão de fazer com que, antes de sua
efetivação, as informações sejam tidas como sigilosas pelo simples fato de não terem sido
veiculadas na Imprensa Oficial. Ademais, como um segundo aspecto a ser considerado, deve-se
mencionar que faltaria ao agente o elemento subjetivo especial considerando que ele não agiu
com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame.

4.4.3. Não importa o meio pelo qual o agente tenha obtido a informação de conteúdo
sigiloso

Como dito, o crime é comum, de sorte que não se exige que o sujeito ativo seja funcionário
da Instituição organizadora do concurso, da empresa promotora da seleção etc.

4.4.4. Espécies de certame

O tipo penal trata da fraude em quatro espécies de certame, que não se constituem em
meros sinônimos, possuindo, cada um deles, sentido próprio.

1) Concurso público

Consiste no procedimento administrativo utilizado pela Administração Pública para


selecionar, por meio de provas ou de provas e títulos, os servidores, em sentido amplo, que irão
ocupar cargos ou empregos públicos. O conceito de concurso público é restrito, portanto, à
Administração Pública.

2) Avaliação ou exame públicos

Trata-se de um procedimento por intermédio do qual o Poder Público, ou mesmo entidades


privadas, por meio de provas, currículos ou outros instrumentos impessoais de aferição do mérito,
fazem a seleção de pessoas para o desempenho de funções, para que tenham direito de acesso a
cursos de vagas limitadas ou para o gozo de outros benefícios decorrentes do êxito no certame.
259
Aqui se enquadram, por exemplo, i) os processos seletivos públicos para contratação de
profissionais para o SEBRAE; ii) as seleções para ingresso nos colégios militares e nas escolas
técnicas; iii) o exame público de habilitação na função de agente da propriedade industrial do INPI;
iv) o exame público de qualificação de Mestrados e Doutorados; v) seleção de candidatos à
residência médica ou odontológica.

3) Processo seletivo para ingresso no ensino superior

Além do tradicional vestibular, existem outras formas de processo seletivo para ingresso no
ensino superior, como é o caso das avaliações seriadas (que englobam provas em todos os anos
do ensino médio) e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

4) Exame ou processo seletivo previstos em lei

Nesse inciso podem ser incluídos, por exemplo, o exame da ordem (art. 8º, IV, da Lei
8.906/94) ou o processo seletivo simplificado para contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 3º, da Lei 8.745/93).

4.4.5. Concurso previsto na Lei de Licitações

A Lei 8.666/93 prevê uma modalidade de licitação denominada “concurso” por meio do
qual se escolhe, entre quaisquer interessados, o melhor trabalho técnico, científico ou artístico,
mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores (art. 22, § 4º).
Deve-se deixar claro que o “concurso” versado pela Lei 8.666/93 não se confunde com o
“concurso público” para seleção de servidores. Enquanto o aprovado no concurso público tem
como objetivo o provimento em cargo público, no concurso – modalidade de licitação – a
contrapartida é somente um prêmio ou remuneração, e não a investidura da pessoa, ou seja, ela
não será contratada pelo Poder Público.

Caso seja fraudada essa espécie de “concurso”, tratada pela Lei de Licitações, o crime não
será o do art. 311-A do CP, mas sim o do art. 90, da Lei 8.666/93, que é específico em relação ao
do Código Penal e por isso não foi derrogado.

4.5. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL

O tipo do art. 311-A do CP é especial em relação ao delito do art. 325 do CP.

Violação de sigilo funcional


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não
constitui crime mais grave.

4.6. EXTENSÃO PREVISTA NO § 1º DO ART. 311-A

O § 1º do art. 311-a prevê:

260
Art. 311-A, § 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por
qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações
mencionadas no caput.

Tenho como evidente que o sujeito que permite ou facilita o acesso de pessoas não
autorizadas às informações mencionadas no caput, em verdade, divulga ou utiliza, indevidamente,
conteúdo sigiloso do certame.

Desse modo, entendo que a previsão do § 1º é desnecessária considerando que todas as


possíveis situações por ele tratadas já estão suficientemente abarcadas pelo caput do dispositivo.
Apesar de não prever expressamente, parece-me claro que, neste § 1º, também se exige o
especial fim de agir, ou seja, a intenção do agente de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame.

A “COLA ELETRÔNICA” passou a ser incriminada com esse novo dispositivo?

Situação como essa relatada chegou até o Supremo Tribunal Federal no Inquérito Policial
1.145/PB.

Durante o julgamento, surgiram duas teses entre os Ministros: para uns, a “cola eletrônica”
seria estelionato; para outros, essa conduta não atenderia aos requisitos do art. 171 do CP.

Prevaleceu a segunda posição, isto é, entendeu-se que: a) não seria estelionato porque
não haveria obtenção de vantagem patrimonial (econômica); b) também não seria falsidade
ideológica porque as respostas dadas pelos candidatos, por mais que obtidas fraudulentamente,
corresponderiam à realidade. Enfim, o STF entendeu que a conduta descrita nos autos como
“cola eletrônica” era atípica e que não haveria nenhum tipo penal no direito brasileiro
incriminando esse procedimento.

Com a previsão do art. 311-A do CP, não tenho dúvidas de que a “cola eletrônica” passou
a ser criminalizada.

O especialista contratado que faz o vestibular ou o concurso e, antes de terminar o prazo


de duração das provas, transmite, por meio eletrônico, as respostas corretas ao candidato que se
encontra fazendo ainda a prova pratica a conduta de divulgar, indevidamente, com o fim de
beneficiar a outrem, conteúdo sigiloso do certame. Por outro lado, quem recebe os dados utiliza
indevidamente o conteúdo sigiloso com o fim de beneficiar-se, de sorte que é coautor.

Com efeito, antes de terminar o prazo de duração da prova, as respostas que um


candidato deu são sigilosas com relação aos demais candidatos que ainda se encontram fazendo
a prova. Ao divulgá-las, a pessoa pratica os elementos descritivos e normativos do tipo penal do
art. 311-A do CP.

Não há, portanto, mais espaço para a alegação de atipicidade na prática da chamada “cola
eletrônica”. Vale ressaltar, à obviedade, que a Lei 12.550/2011 somente pode ser aplicada aos
fatos ocorridos após 16/12/2011, não podendo ter efeitos retroativos por representar novatio legis
in pejus.

E a “cola tradicional”, também encontra tipificação no art. 311-A do CP?

Sim. É o caso, por exemplo, de um candidato que, durante o período da prova, é flagrado
no banheiro do colégio consultando um livro de doutrina para conseguir responder corretamente
as questões. Na hipótese relatada, o agente estará utilizando informação de conteúdo sigiloso (as

261
questões da prova durante o período de sua realização) para consultar as respostas corretas no
livro (ou na cola que leve pronta para o concurso).

4.7. CRIME DE CONDUTA LIVRE

O delito em comento pode ser praticado por ação ou omissão.

Exemplo no caso de conduta comissiva: funcionário da Instituição organizadora do


concurso “vende” a prova a determinados candidatos antes de sua realização.

Exemplo na hipótese de conduta omissiva: fiscal de sala do concurso, previamente


cooptado pelo candidato meliante, finge não ver que o agente está respondendo a prova com o
uso de um “ponto eletrônico”.

4.8. ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (“dolo específico”), qual seja, a intenção do
agente de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame.
Não há previsão da modalidade culposa.

4.9. CONSUMAÇÃO

Cuida-se de crime material, exigindo, portanto, a produção de resultado naturalístico,


consistente na utilização ou divulgação de conteúdo sigiloso do certame.

A consumação ocorre com a utilização ou divulgação, ainda que parcial do conteúdo


sigiloso. No exemplo da “cola eletrônica”, se o especialista transmitiu uma única resposta da prova
para o candidato está consumado o delito, ainda que a comunicação das demais questões não
tenha sido possível em virtude do fiscal da sala ter percebido o fato e ter retirado a prova e o
aparelho receptor do candidato beneficiado.

Obtenção de vantagem: O tipo não exige que o agente ou terceiro tenha obtido qualquer
vantagem. Tal situação, caso ocorra, poderá ser considerada nas circunstâncias judiciais (art. 59
do CP).

Prejuízo à administração pública ou a outras pessoas: De igual modo, não é


indispensável que tenha havido prejuízo ao Poder Público ou a outras pessoas. No entanto, se da
ação ou omissão resulta dano à administração pública, há a incidência de uma qualificadora
prevista no § 2º fazendo com que a pena passe a ser de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

311-A, § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O dano de que trata esse § 2º não é apenas o dano patrimonial, como poderia parecer em
uma análise rápida. Abrange, portanto, também o dano moral ou, como alguns autores preferem
no caso de pessoas jurídicas, o “dano institucional”. Essa conclusão é construída pelo fato de que
o tipo penal está incluído no Título que trata sobre os crimes contra a “fé pública”, de modo que
tutela a crença da sociedade no valor e legitimidade das Instituições e, no caso específico, dos
certames públicos. Abalar essa convicção geral significa produzir danos não aferíveis

262
economicamente, mas igualmente lesivos, como o desestímulo de que os bons profissionais
realizem novamente o concurso daquele ente público ou organizado por aquela determinada
Instituição.

A ocorrência desse dano, seja patrimonial ou institucional, há de ser devidamente


comprovada não sendo razoável imaginar que toda e qualquer fraude tentada ou mesmo
consumada gere a incidência da qualificadora. No caso, por exemplo, de uma fraude tentada mas
que foi descoberta e não gerou a anulação do concurso ou de nenhuma questão, não há que se
falar em dano à administração pública.

Sublinhe-se ainda o fato de que a qualificadora somente é cabível no caso de dano à


administração pública, de sorte que, se a fraude ocorreu em vestibular de universidade privada,
por exemplo, tendo sido a seleção anulada por conta do crime, mesmo assim não haverá a
incidência do § 2º por se tratar de dano à instituição privada.

4.10. TENTATIVA

Tratando-se de crime material, a tentativa é perfeitamente possível.

Ex: no esquema da “cola eletrônica”, o especialista que respondeu a prova, digitou todas
as respostas no transmissor eletrônico, no entanto, por uma falha no aparelho, a comunicação
com o candidato que ainda estava respondendo a prova não se concretizou. Frise-se, mais uma
vez, que, se houve a comunicação de uma única questão, o crime restou consumado.

Deve-se atentar para o fato de que não são puníveis os atos preparatórios.
Para o fim de ilustrar a diferença entre os atos preparatórios e os executórios, tomemos mais uma
vez um exemplo decorrente da “cola eletrônica”. Se o edital do concurso afirma que o candidato
não pode, APÓS O INÍCIO DAS PROVAS, portar aparelho de comunicação e o agente é flagrado,
pelo fiscal de sala, antes de iniciar o teste, com um “ponto eletrônico”, trata-se de mero ato
preparatório, não sendo punível a tentativa.

Situação diferente ocorreria se esse mesmo candidato fosse surpreendido com o “ponto
eletrônico” após o início da prova, ocasião em que já iniciou a execução do crime, mesmo que
ainda não tenha recebido nenhuma resposta no aparelho de comunicação que portava. Cuida-se
aqui de tentativa (art. 14, II do CP) uma vez que o início de execução do crime não se confunde,
necessariamente, com o início de execução da ação típica.

4.11. COMPETÊNCIA

4.11.1. Regra geral

Em regra, a competência é da justiça estadual. Vale ressaltar, no entanto, que, se o delito


for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, a competência será da Justiça Federal. É o caso, por exemplo,
de fraudes em concurso para cargos ou empregos públicos de órgãos, autarquias, fundações ou
empresas públicas federais.

4.11.2. Competência no caso de concursos públicos organizados pelo CESPE

263
Questão interessante diz respeito aos concursos organizados pelo Centro de Seleção e
Promoção de Eventos da Universidade de Brasília. O CESPE é um órgão desprovido de
personalidade jurídica, integrante da UnB, que, por sua vez, é uma fundação federal. Diante
disso, indaga-se: no caso de fraude em concurso, organizado pelo CESPE, mas para cargo
público de ente estadual (exs: MPE, DPE, Polícia Civil etc.), de quem será a competência
para processar e julgar esse delito?

No caso de demandas cíveis, a jurisprudência do STJ e do TRF da 1ª Região é firme no


sentido de que, se o concurso organizado pelo CESPE, destina-se a preencher cargos em ente
público estadual, a competência é da justiça estadual. O argumento mencionado nos julgados é o
de que tendo o CESPE/UnB sido contratado pelo Poder Público do Estado, compete ao juízo
comum estadual dirimir controvérsias acerca do referido certame.

Vale ressaltar, como já feito, que o crime em tela tem como objeto jurídico a fé pública. No
caso de fraude em concurso organizado pelo CESPE/Unb foi a fé pública da Instituição, sua
confiabilidade e imagem de segurança que foram vilipendiadas pela conduta do agente.

A competência da justiça federal torna-se ainda mais patente se o caso envolver


diretamente servidor público do CESPE, hipótese na qual, penso, não haverá dúvidas quanto à
competência federal.

4.12. PRECEITO SECUNDÁRIO INSUFICIENTE À PROTEÇÃO SATISFATÓRIA DO BEM


JURÍDICO

A pena prevista para o tipo (reclusão, de 1 a 4 anos, e multa) revela-se desproporcional à


intensa gravidade do crime.

O reconhecimento da existência desses inúmeros fatores, aliado à enorme quantidade de


vítimas secundárias desse delito, faz com que se conclua que a reprimenda penal foi insatisfatória
para o trauma social que essa forma de delinquência causa nos envolvidos.

Relembre-se que, pela pena prevista no caput do art. 311-A do CP, é inadmissível a pena
de decretação de prisão preventiva (art. 313, I, do CPP) e será praticamente certa a conversão da
pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (art. 44 do CP), isto é, se o processo tiver
curso normal, visto que é ainda cabível, em tese, a suspensão condicional do processo (art. 89 da
Lei 9.099/95).

Para realçar a insuficiência do preceito secundário, deve-se fazer uma comparação com o
estelionato. No crime de fraude a certames a pena máxima imposta é menor que a prevista para o
delito de estelionato (art. 171, caput, do CP), sendo que, no estelionato, na grande maioria dos
casos, há apenas uma ou poucas vítimas. Aliás, na hipótese de o estelionato abranger mais de
um ofendido, pode-se aplicar o instituto do concurso formal (art. 70 do CP), fazendo com que a
reprimenda seja aumentada.

Como no delito do art. 311-A do CP, o sujeito passivo é a sociedade, mesmo havendo
milhares de candidatos prejudicados com a fraude, não há possibilidade de ser imposta a causa
de aumento do art. 70 do CP considerando que o crime será único.

Impende mencionar, ademais, que o estelionato é uma infração penal que tem como único
bem jurídico atingido o patrimônio, enquanto que, no delito de fraude a certames, temos como

264
bens jurídicos vilipendiados a fé pública, o patrimônio dos demais candidatos e, eventualmente, o
da própria administração pública.

Concluindo, a despeito de abarcar a violação a mais bens jurídicos e a uma pluralidade


maior de vítimas, o crime do art. 311-A do CP (a meu ver, uma forma especial e qualificada de
estelionato) é punido com menor rigor que a infração penal do art. 171 do CP. Como único alento,
tem-se que, quase sempre, a fraude a concursos públicos gera dano à administração pública, de
sorte a atrair a incidência da qualificadora prevista no § 2º do art. 311-A do CP, fazendo com que
a pena passe a ser de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

4.13. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Se o acusado for denunciado pelo art. 311-A, caput ou § 1º, do CP, isto é, sem a incidência
do § 2º, terá direito à suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95).

4.14. INADMISSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Se o acusado estiver indiciado ou for denunciado pela forma simples do delito do art. 311-
A do CP, não caberá a decretação de prisão preventiva, em virtude de a pena máxima ser inferior
a 4 anos (art. 313, I, do CPP).

4.15. PRISÃO EM FLAGRANTE

É possível. No entanto, como a prisão preventiva não é admitida, ao flagranteado deverá


ser concedida liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III, do CPP).

4.16. ACENTUADA PROBABILIDADE DE O CONDENADO RECEBER PENA RESTRITIVA


DE DIREITOS

Em caso de condenação pelo delito do art. 311-A do CP, se a fraude não foi praticada
mediante violência ou grave ameaça à pessoa e se o sentenciado não for reincidente em crime
doloso, é muito grande a probabilidade de a pena privativa a ele aplicada ser substituída por
restritiva de direitos.

4.17. PROIBIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO, AVALIAÇÃO OU EXAME


PÚBLICOS COMO NOVA FORMA DE INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS

A interdição temporária de direitos é prevista no CP como uma das modalidades de pena


restritiva de direitos (art. 43, V).

A Lei 12.550/2011 acrescentou uma nova espécie de pena de interdição temporária de


direitos, inserindo o inciso V ao art. 47 do CP:

Art. 47. (...)


V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

265
Desse modo, caso o candidato que fraudou ou tentou fraudar o certame seja condenado,
se a pena privativa de liberdade for substituída por restritiva de direitos, revela-se recomendável
ao magistrado aplicar a novel sanção do art. 47, V, do CP. Essa proibição de inscrever-se em
concurso, avaliação ou exame públicos durará pelo tempo da pena privativa de liberdade imposta
e que foi convertida.

A inserção desse inciso V ao art. 47 do CP revela que a intenção deliberada do legislador,


ao prever o preceito secundário do delito do art. 311-A do CP, foi justamente a de possibilitar a
aplicação da pena restritiva de direitos para o condenado pelo crime tanto que, já antevendo tal
situação, fez inserir nova espécie de interdição temporária de direitos específica para o caso.

Esse art. 47, V, do CP não tem aplicação restrita à condenação pelo art. 311-A do CP
podendo ser utilizado como sanção restritiva de direitos pelo magistrado em outras hipóteses,
desde que haja relação com a conduta praticada. Seria o caso, por exemplo, de uma condenação
por crime contra a administração pública.

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Título XI do CP: A parte especial é dividida em 11 títulos, divididos conforme o bem jurídico
tutelado.

No caso do título XI, o bem tutelado é a Administração Pública (art. 312 a 359-H).

Existem outros crimes fora do CP em que também se tutela a Administração Pública, como
na Lei de Abuso de autoridade.

É o último título do Código Penal. Não é por acaso. Crimes gravíssimos com penas
insignificantes. Os crimes contra a Administração são considerados de pouca importância pelo
legislador.

Assim é dividido o Título XI:

CAP. I - Dos crimes praticados por funcionários públicos (crimes funcionais). Arts. 312 -
327.

CAP. II - Dos crimes praticados por particulares. Arts. 328 -337-A.

CAP. II-A - Dos crimes praticados contra a Administração Pública estrangeira.

A doutrina critica essa expressão. Esse capítulo tutela, na realidade, a regularidade das
transações comerciais internacionais. Ex.: Corrupção ativa de funcionário público estrangeiro. CAI
NADA EM CONCURSO.

CAP. III - Dos crimes praticados contra a Administração da Justiça. Ex.: Falso Testemunho
etc. Arts. 338 - 359.

266
CAP. IV - Dos crimes contra as finanças públicas. Arts. 359-A - 359-H.

Tratam-se das condutas que antes significavam infração à Lei de Responsabilidade Fiscal.
CAI NADA EM CONCURSO.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO


PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
(CRIMES FUNCIONAIS)

1. INTRODUÇÃO AOS CRIMES FUNCIONAIS

1.1. A IMPORTÂNCIA DOS CRIMES FUNCIONAIS

Apesar da pouca importância dada pelo legislador penal aos crimes contra a
Administração, o CP tem dois dispositivos que aparentemente contrariam essa vertente.

1. Art. 7º, I, ‘c’: Trata de hipótese de extraterritorialidade incondicionada da lei penal


brasileira aos crimes funcionais cometidos no estrangeiro.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


I - os crimes:
...
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

2. Art. 33, §4º: Condição especial para a progressão do regime de cumprimento de pena
 reparação do dano.

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,


semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto,
salvo necessidade de transferência a regime fechado.
...
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a
progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação
do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado,
com os acréscimos legais.

ERRO do legislador: Faltou a ressalva àqueles que não têm condição de reparar o dano.
Compare: no ‘sursi’, na reabilitação, e no livramento condicional, em todos esses institutos o
legislador ressalvou da obrigação de reparar aqueles que não têm condições de fazê-lo.

Ou seja, pela letra fria do dispositivo, quem não tem como reparar o dano jamais poderá
progredir de regime, o que cheira à inconstitucionalidade (seria uma hipótese de regime
integralmente fechado).

Forma de salvar o §4º: Analogia in bonam partem com os demais institutos que ressalvam
a situação do agente que não tem condições de reparar o dano.

267
Todo CRIME FUNCIONAL corresponde a um ATO ÍMPROBO? SIM.

Código Penal Lei de Improbidade


Crimes funcionais: arts. 312 a 326. Atos ímprobos: arts. 9º, 10 e 11.

Em qualquer caso, o crime funcional configurará, pelo menos, uma das espécies de atos
previstos na LIA: enriquecimento ilícito E/OU dano ao erário E/OU violação aos princípios da
Administração Pública.

Todo ATO ÍMPROBO corresponde a CRIME FUNCIONAL? NÃO.

Exemplo disso: O art. 10 da LIA traz atos dolosos e culposos. Quanto aos crimes
funcionais, somente o peculato admite forma culposa.

1.2. SUJEITOS

Ativo: Funcionário Público (em regra).

Passivo: Administração em geral (vítima primária).

Obs.: Podendo com ela concorrer um particular.

2. CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS

2.1. CÓDIGO PENAL ART. 327

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora
de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta,
sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público.

É um dispositivo que expõe a chamada interpretação autêntica/literal/legislativa (o próprio


legislador interpreta a lei). Vejamos:

2.2. FUNCIONÁRIO PÚBLICO TÍPICO OU PROPRIAMENTE DITO (ART. 327, CAPUT)

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.

268
Quem exerce cargo (regime estatutário), emprego (regime celetista) ou função pública
(atividade administrativa em si mesma), ainda que transitoriamente e sem remuneração (ex.:
jurado e mesário).

O Administrador Judicial da falência é funcionário público para fins penais?

Não se pode confundir função pública com ENCARGO PÚBLICO (múnus público). Este é
uma prestação de favor. O administrador não exerce função, mas encargo (Rogério).

Outros exemplos de múnus: inventariante dativo da herança; tutor dativo; curador dativo.

OBS: Fábio Ulhôa Coelho diz que Administrador é funcionário público para fins penais.

E o advogado dativo?

Prevalece (STJ) que o advogado dativo é FUNCIONÁRIO PÚBLICO para fins penais. Três
motivos:

1) Faz às vezes da Defensoria; 2) Existe convênio com o Poder Público para a sua
atuação em favor dos necessitados; 3) Recebe do Poder Público.

Estagiário é funcionário público?

SIM. Exerce função pública.

2.3. FUNCIONÁRIO PÚBLICO ATÍPICO OU POR EQUIPARAÇÃO (ART. 327, §1º)

Art. 327, §1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,


emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.

A parte em sublinhada foi acrescentada em 2000, motivada pelas políticas de


desestatização, ou seja, delegações da execução de serviços públicos aos particulares (que não
se confunde com privatização).

Assim, é funcionário público por equiparação quem exerce Cargo, emprego ou função em:

a) Entidade PARAESTATAL;

b) Empresa prestadora de serviço CONTRATADA;

c) Empresa prestadora de serviço CONVENIADA.

Essas empresas devem estar contratadas ou conveniadas para a execução de atividade


típica da Administração. Se a empresa for contratada para atividade atípica, não se trata de
funcionário público (ex.: os funcionários de um Buffet contratado pelo Lula não são funcionários
públicos).

Exemplo: O Hospital ‘x’ (Ex.: Santa Casa) é entidade particular que presta um serviço
público (saúde), porém sem qualquer vínculo contratual com o Estado (ou seja, seus funcionários
não são públicos para fins penais). Agora, a partir do momento em que o hospital passa a ser
subvencionado pelo poder público (mediante convênio) todos passarão a ser equiparados a
funcionários públicos.

269
Comente o delito de desacato quem ofende honra de funcionário de
CONCESSIONÁRIO de serviço público?

PREVALECE que não. A equiparação do §1º só existe quando o funcionário for AGENTE
de crime, e não sujeito passivo. Nesse sentido: Noronha, Capez, Hungria.

Contra: Mirabete.

2.4. MAJORANTE DE PENA DO §2º DO ART. 327

Art. 327
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta,
sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público.

Frise-se: Essa majorante se aplica a TODOS os crimes funcionais (inclusive o peculato


culposo).

Aumenta-se de 1/3 quando o agente exercer:

 Cargo em comissão;

 Função de direção;

 Função de Assessoramento.

Em:

 ADM direta;

 EP;

 SEM;

 Fundação instituída pelo poder público.

Erro do legislador: Esqueceram das autarquias.

Funcionário da EBCT é funcionário público?

Os funcionários da EBCT são servidores públicos, que não se confundem com os


funcionários das Franquias dos Correios.

Prevalece que os franqueados não são servidores públicos para fins penais.

2.5. CRIMES FUNCIONAIS: PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

Próprio: Faltando a qualidade de servidor do agente, o fato é atípico. Atipicidade absoluta.


Ex.: prevaricação.

270
Impróprio: Faltando a qualidade, o fato deixa de configurar crime funcional, porém é
desclassificado para outro tipo penal. Atipicidade relativa. Ex.: Peculato-apropriação 
apropriação indébita.

2.6. CRIMES QUE SERÃO ESTUDADOS

A partir do ponto ‘3’, estudaremos:

a) Peculato;

b) Concussão;

c) Corrupção passiva;

d) Prevaricação imprópria.

3. PECULATO

3.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: (PECULATO PRÓPRIO:
peculato-apropriação e peculato-desvio)
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário. (PECULATO IMPRÓPRIO:
peculato-furto)
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
(peculato-culposo)
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se PRECEDE à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é POSTERIOR, reduz
de metade a pena imposta. (causa de extinção de punibilidade e causa de
diminuição de pena)
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do
cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (peculato-estelionato)
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
(peculato eletrônico)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou
programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade
competente: (peculato-eletrônico)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para
o administrado.

3.2. POSIÇÃO TOPOGRÁFICA


271
Como vimos, existem seis modalidades de peculato, que ficam assim, em apertada
síntese:

a) Peculato-apropriação: art. 312, caput, 1ª parte.

b) Peculato-desvio: art. 312, caput, 2ª parte.

c) Peculato-furto: art. 312, §1º.

d) Peculato culposo: art. 312, §2º.

e) Peculato-estelionato: art. 313.

f) Peculato eletrônico: arts. 313-A e art. 313-B.

Peculato próprio: É o gênero do qual são espécies o peculato apropriação e peculato


desvio.

Peculato impróprio: Sinônimo de peculato furto.

Causa de extinção de punibilidade/diminuição de pena: art. 312, §3º

3.3. PECULATO PRÓPRIO (art. 312, ‘caput’)

3.3.1. Previsão legal

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Frise-se: É o gênero do qual fazem parte o PECULATO-APROPRIAÇÃO e o PECULATO-


DESVIO.

3.3.2. Objeto jurídico

Tutela-se a moralidade administrativa, bem como o patrimônio público.

3.3.3. Sujeito ativo

Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art. 327.

Crime próprio (como todos os crimes funcionais).

Concurso de agentes

Admite concurso de agentes, inclusive com a participação de particulares.

Se o particular sabe da condição especial funcional do agente, também responderá por


peculato. Do contrário, responderá pelo crime comum (apropriação indébita).

IMPORTANTE: Sempre que se falar em prefeito, antes de ir para o CP (norma geral),


devemos atentar para o DL 201/67 (norma especial). Ver abaixo.
272
Diretor de sindicato que se apropria do dinheiro das contribuições pratica peculato?

Apesar de não ser funcionário público, o art. 552 da CLT equipara essa conduta ao crime
de peculato.

CLT Art. 552 - Os atos que importem em malversação ou dilapidação do


patrimônio das associações ou entidades sindicais ficam equiparados ao
crime de peculato julgado e punido na conformidade da legislação penal.
(Redação dada pelo Decreto-lei nº 925, de 10.10.1969)

ATENÇÃO: A equiparação é de fato; não de pessoa. O diretor sindical continua não sendo
funcionário público.

Teria sido recepcionado esse dispositivo pela CF (que veda qualquer ingerência do poder
público nos sindicatos)?

A maioria da doutrina entende que o art. 552 NÃO FOI RECEPCIONADO, pois retrata ou
autoriza uma ingerência estatal vedada pela CF (Sérgio Pinto Martins e TRF4).

STJ discorda. Suas últimas decisões são no sentido de recepção do dispositivo. Ou seja,
responde por PECULATO o diretor sindical.

3.3.4. Sujeito passivo

Administração em geral, podendo com ela concorrer o particular lesado pela ação do
agente.

3.3.5. Tipo objetivo – “peculato-apropriação”

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Elementos:

“Apropriar-se o funcionário público...”

Apropriar-se é tomar para si, apoderar-se indevidamente de coisa que possuía


legitimamente. Aqui, o agente inverte o título da posse, passando a agir como se dono fosse da
coisa.

“De dinheiro, valor ou qualquer outro bem MÓVEL”

Ou seja, não existe peculato próprio de bem imóvel.

Lembre-se: O conceito penal de Móvel não corresponde ao do Direito Civil (ver acima).

“Público ou particular”

Ou seja, também há o crime quando o servidor se apropria de coisa particular que está em
poder da Administração. Nesse caso, o particular figurará como vítima secundária.

“De que tem a posse”


273
A posse é pressuposto do peculato-apropriação. O agente público deve ter uma liberdade
desvigiada sobre a coisa.

A expressão posse abrange a MERA DETENÇÃO?

1ª C: Não abrange a mera detenção. Quando o legislador quer abranger a detenção, ele o
faz expressamente (ex.: art. 168 do CP - apropriação indébita). Conclusão: Inverter o título da
mera detenção configura peculato-furto.

2ª C: PREVALECE que a expressão posse abrange a mera detenção, tendo o legislador


redigido o artigo sem preocupação técnica. Conclusão: inverter a mera detenção em domínio
configura peculato-apropriação.

“Em razão do cargo”

Ou seja, é imprescindível um nexo funcional. A posse da coisa deve decorrer das


atribuições do servidor.

IMPORTANTE: Não se confunde com a expressão “por ocasião do cargo”, que é um nexo
meramente temporal.

“Para si ou para outrem”

Elemento subjetivo.

3.3.6. Tipo objetivo – “peculato-desvio”

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, OU DESVIÁ-LO, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

A única diferença é o primeiro elemento: Em vez de se apropriar, o funcionário desvia o


dinheiro, valor ou bem móvel.

Desviar é dar destinação diversa daquela prevista em lei.

3.3.7. Tipo subjetivo

O peculato próprio (leia-se: apropriação/desvio) é punido somente na forma dolosa


(vontade consciente de se apropriar ou desviar), acrescido da finalidade especial de destinar a
‘res’ “para si ou para outrem”.

Ou seja, é imprescindível o animus de apoderamento definitivo (tal como no furto, roubo


etc).

Existe peculato de uso?

Exemplo do legista que leva aparelho de última geração para seu consultório.

Temos que diferenciar as coisas consumíveis das inconsumíveis.

a) Apropriação de coisa consumível: configura crime de peculato + ato de improbidade.

274
b) Apropriação de coisa NÃO consumível: fato atípico (peculato de uso) + ato de
improbidade.

Cuidado: mão de obra não é coisa, mas sim serviço. Não existe peculato de mão de obra.

EXCEÇÃO: DL 201/67 (art. 1º, II). No caso de prefeitos, o uso de bens públicos em
proveito próprio sempre constitui crime, não importando se a coisa é consumível ou inconsumível.
Aliás, para prefeito admite-se até peculato de mão de obra.

3.3.8. Consumação e tentativa

Peculato-apropriação: Consuma-se no momento em que o agente inverte o título da posse,


passando a agir como se dono fosse da coisa (alienando, alugando, destruindo etc.). Crime
material.

Peculato-desvio: Consuma-se no momento em que o agente dá à coisa destinação diversa


daquela prevista em lei. Crime material.

Ambas as modalidades admitem tentativa.

3.3.9. Peculato-desvio (art. 312) X Emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art.
315)

CP: Peculato-desvio
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, OU DESVIÁ-LO, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

CP: Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da
estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

ART. 312 ART. 315


A conduta é DESVIAR coisa pública. A conduta é DESVIAR coisa pública. (Aplicação
diversa)
Visa satisfazer interesses particulares. Continua atendendo ao interesse público (ex.:
desvia verba da educação para a saúde).
Pode-se alegar Estado de Necessidade. Ex.:
Calamidades públicas.

3.4. PECULATO IMPRÓPRIO (PECULATO-FURTO, CP, art. 312, §1º)

3.4.1. Previsão legal

Art. 312
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo
a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.

3.4.2. Sujeitos
275
Ativo: Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art.
327.

Passivo: Administração precipuamente. Eventualmente o particular lesado.

Peculato-apropriação/desvio (peculato próprio) Peculato-furto (peculato impróprio)


O agente tem a posse legítima. O agente NÃO tem posse.

A conduta é se apropriar ou desviar a coisa. A conduta é subtrair ou facilitar a subtração da


coisa.
É chamado de impróprio exatamente pelo fato de o
sujeito não se apropriar, mas sim subtrair a coisa.
O dolo de apoderamento é subsequente à posse. O dolo de apoderamento é anterior à posse.

ATENÇÃO: Se o sujeito não se valer da facilidade de funcionário, tratar-se-á de furto


comum. Ver acima.

3.4.3. Tipo subjetivo

Dolo de subtrair ou concorrer para que outrem subtraia, exigindo-se a finalidade especial
de ter a coisa para si ou para outrem (animus de apoderamento definitivo).

Também é cabível o peculato-furto de uso nos bens inconsumíveis.

3.4.4. Consumação e tentativa

Tal como o furto, consuma-se com a retirada da coisa da disponibilidade da Administração,


dispensando posse mansa e pacífica (TEORIA DA “AMOTIO”).

Admite-se perfeitamente a tentativa.

3.5. PECULATO CULPOSO (CP, art. 312, §2º)

3.5.1. Previsão legal

Art. 312
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

OBS1: Trata-se do único crime funcional que admite a forma culposa.

OBS2: Crime de menor potencial ofensivo (IMPO).

3.5.2. Sujeitos do crime

Ativo: Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art.
327.

Passivo: Administração precipuamente. Eventualmente o particular lesado.

276
3.5.3. Tipo objetivo

Conduta: Concorrer culposamente para o crime de outrem.

Ou seja, pune-se, aqui, a negligência do funcionário público.

Qual o crime de outrem? Qualquer crime?

1ª C (PREVALECE): O §2º merece uma interpretação topográfica. Logo, esse ‘crime de


outrem’ só pode ser o do caput ou o do §1º, quais sejam: peculato próprio
(apropriação/desvio) e peculato impróprio (furto), respectivamente.

2ª C: Apesar de o §2º estar no art. 312, a expressão ‘crime’ não é restrita ao ‘caput’ e ao
§1º, logo abrange qualquer crime, inclusive o furto (Rui Stoco, Capez).

3.5.4. Consumação e tentativa

Consuma-se o peculato culposo com a consumação do crime de outrem. Se o crime de


outrem ficar na fase tentada, por nada responderá o agente público, uma vez que não existe
tentativa em crime culposo.

Por que o agente negligente não responde pelo delito do terceiro, na condição de
partícipe? Porque não existe participação sem homogeneidade de elemento subjetivo (ver parte
geral). Não existe participação culposa em crime doloso, tampouco participação dolosa em crime
culposo. Nesses casos, invariavelmente, teremos delitos autônomos.

Admite-se tentativa? Não, pois é crime culposo.

3.6. CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE (§3º) PARA O PECULATO CULPOSO

Art. 312
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se PRECEDE à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é POSTERIOR, reduz
de metade a pena imposta.

É um benefício exclusivo do peculato culposo.

Reparação ANTES da sentença irrecorrível Reparação DEPOIS da sentença irrecorrível


Extingue a punibilidade Diminuição de pena da metade. Aplicada pelo juiz da
execução.

Atenção: O agente tem até o trânsito em julgado para reparar, ou seja, pode fazê-lo até
mesmo em grau recursal.

3.7. PECULATO-ESTELIONATO ou PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM (CP, art.


313)

3.7.1. Previsão legal e conceito

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do


cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
277
Ocorre quando o funcionário, no exercício da função, recebe dinheiro ou qualquer utilidade,
por erro EXCLUSIVO de outrem, fica quieto e se apropria da coisa (passa a agir como se dono
fosse).

Exemplo: Contribuinte paga taxa a funcionário que não tem competência para receber
tributos. Esse funcionário, mesmo ciente do erro do particular, silencia e se apropria do valor
pago.

3.7.2. Sujeitos do crime

Ativo: Funcionário público para fins penais, abrangendo também os equiparados do art.
327.

Passivo: Administração precipuamente. Eventualmente o particular lesado.

3.7.3. Tipo objetivo

Conduta: Apropriar-se de coisa recebida por erro de outrem.

Art. 312 (peculato próprio: Art. 312, §1º (peculato impróprio: Art. 313 (peculato-estelionato)
apropriação / desvio) furto)
Apropriar-se/desviar Subtrair Apropriar-se
Posse anterior Não há posse anterior Posse anterior
Posse legítima (em razão do cargo). Posse ilegítima (fruto de subtração). Posse ilegítima (fruto de erro).

DETALHE: Para configurar o art. 313, o erro deve ser espontâneo. Se o erro foi provocado
pelo servidor, tratar-se-á de ESTELIONATO e não de peculato (o que prova que nem sempre o
crime no exercício da função será funcional).

3.7.4. Tipo subjetivo

Dolo de se apropriar daquilo que sabe ser fruto de erro. Ou seja, quando percebe o erro, o
funcionário não o desfaz, apropriando-se da coisa.

3.7.5. Consumação e tentativa

Consuma-se no momento em que o agente, percebendo o erro, não o desfaz, agindo como
se dono fosse. O crime pode se consumar somente depois de ele ter recebido a coisa.

Admite-se a tentativa. Ex.: Recebendo por erro, para registrar, uma carta com valor, o
funcionário postal, não competente para tal registro, é surpreendido no momento em que está
violando a carta.

3.8. PECULATO ELETRÔNICO (arts. 313-A e 313-B)

3.8.1. Previsão legal e diferenciação

Inserção de dados falsos em sistema de informações

278
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações


Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou
programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade
competente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para
o administrado.

ART. 313-A (INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM ART.313-B (MODIFICAÇÃO NÃO AUTORIZADA EM


SISTEMA DE INFORMAÇÕES) SISTEMA DE INFORMAÇÕES)
Sujeito ativo: Funcionário público autorizado a manejar o Sujeito ativo: Funcionário público, mesmo que não
sistema de informações. autorizado.
Sujeito passivo: Administração em geral, podendo com ela Sujeito passivo: Administração em geral, podendo com ela
concorrer o particular prejudicado. concorrer o particular prejudicado.
Conduta: Inserir ou facilitar a inserção de dados incorretos; Conduta: Modificar ou alterar o sistema de informações.
alterar ou excluir dados corretos.
Elemento normativo: Indevidamente. Elemento normativo: Sem autorização da autoridade
competente.
Objeto material: Dados do sistema. O sistema (software), Objeto material: O sistema ou programa de informática
em si, não é afetado. (software) que armazena os dados.
Tipo subjetivo: Dolo, com finalidade especial de obter Tipo subjetivo: Dolo, sem finalidade especial.
vantagem indevida, para si ou para outrem, ou para causar
dano.
Sem finalidade especial, o fato é atípico.
Consumação e tentativa: Crime formal. Consumação e tentativa: Crime formal.
Consuma-se quando o agente insere dados incorretos ou Consuma-se com a modificação ou alteração do sistema. O
facilita que outrem o faça, ou quando exclui ou altera dados resultado naturalístico dispensável está previsto no
corretos, independentemente da obtenção de vantagem parágrafo único (dano à Administração ou ao particular).
indevida ou da ocorrência do dano.

Admite a tentativa. Admite tentativa.


Equipara-se a uma falsidade ideológica: O documento Equipara-se a uma falsidade material: O próprio documento
(sistema) é verdadeiro, porém a ideia nele contida (dados) é é falso (sistema).
falsa.
Pena: 02 a 12 anos. Pena: 03 meses a 02 anos.
A doutrina critica essa desproporcionalidade.

Que crime comete o funcionário NÃO AUTORIZADO que EXCLUI dados de sistema?

Falsidade ideológica, pois insere ideia falsa (dados) em documento virtual (sistema). Ou
seja, o agente falsifica a ideia de um documento.

José da Silva, funcionário público federal, altera dado verdadeiro, com o fim de receber
vantagem indevida, em sistema informatizado da administração pública. Tipifique o crime. 313-A,

279
que, aliás, absorve o 317§1º (corrupção passiva majorada = quem por exemplo tira uma multa de
trânsito para receber propina).

4. CONCUSSÃO (CP, art. 316)

4.1. PREVISÃO LEGAL E CONCEITO

Art. 316 - EXIGIR, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda


que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, VANTAGEM
INDEVIDA:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

A doutrina costuma dizer que a concussão é uma extorsão qualificada pela condição de
funcionário público.

4.2. SUJEITO ATIVO

4.2.1. Possibilidades

a) Funcionário público no exercício da função;

b) Funcionário público fora da função, mas praticando a conduta em razão dela (ex.:
férias);

c) Particular na iminência de assumir função pública.

Iminência: Quando somente faltam etapas burocráticas para a investidura de particular já


nomeado. Exemplo: Só falta data da posse; só falta diplomação etc.

É uma hipótese excepcional de crime funcional que pode ser praticado por
particular.

O autor do crime de concussão é denominado CONCUSSIONÁRIO.

4.2.2. Princípio da especialidade

a) Se o sujeito ativo for fiscal de rendas, o crime passa a ser o do art. 3º, II da Lei
8.137/90, in verbis:

Lei 8.137/90
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos
no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título
XI, Capítulo I):
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício,
mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou
cobrá-los parcialmente.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

280
Atenção: Trata-se de crime funcional que não é contra a Administração Pública, mas sim
contra a Ordem Tributária.

b) Se o sujeito ativo for militar, o crime passa a ser o do art. 305 do CPM (também
denominado concussão).

CPM Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Trata-se de um crime militar impróprio, de competência da Justiça Militar.

4.3. SUJEITO PASSIVO

Primário: Administração Pública.

Secundário: Particular constrangido pelo funcionário público.

Esse particular pode ser até mesmo outro funcionário.

4.4. TIPO OBJETIVO

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

4.4.1. Conduta

a) Exigir (coagir, impor, obrigar)

Não se confunde com o mero pedido (solicitação), que gera o crime de corrupção ativa.

Capez/Greco: A exigência não pode estar atrelada à violência ou grave ameaça, sob pena
de configurar o delito de extorsão. Não é necessária a promessa de um mal determinado; basta o
temor que a autoridade pública inspira.

Crítica do Rogério: Quanto à violência tudo bem; realmente configura extorsão. Diferente
ocorre no caso de grave ameaça, uma vez que essa faz parte da concussão. A exigência prevista
na concussão tem contornos de grave ameaça; do contrário haveria mero pedido.

b) Para si ou para outrem

O ‘para outrem’ pode reverter até mesmo para a Administração. Exemplo: Delegado
exigindo dinheiro para reformar a Delegacia.

c) Direta ou indiretamente

Direta: Exigência Pessoal.

Indireta: Exigência feita por interposta pessoa (que será coautora).

281
d) Explícita (claramente) ou implicitamente (de forma velada, camuflada)

e) Vantagem indevida

Há quem exija o caráter econômico da vantagem.

PREVALECE, no entanto, que a vantagem pode ser de qualquer natureza, até porque a
concussão não se encontra no capítulo dos crimes contra o patrimônio.

Elemento normativo: A vantagem deve ser indevida. Se for devida, que crime configura?
Depende.

Se for um tributo ou contribuição social, poderá configurar o crime de excesso de exação


do art. 316, §1º do CP

CP Art. 316
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

Qualquer outra vantagem devida  abuso de autoridade.

Abuso da autoridade pública como meio de coação (“metus publicae potestatis”)

A exigência deve se basear no temor que a autoridade causa na vítima. É imprescindível


que o concussionário tenha competência ou atribuição para concretizar a ameaça proferida.

Ex.: Não configura concussão o crime praticado pelo inspetor de polícia que exige dinheiro
para não instaurar inquérito contra a vítima.

Essa conduta configura o crime de extorsão.

Médico atendendo pelo SUS cobra custo adicional

Se o médico exigiu o custo adicional sob pena de não atender o paciente, trata-se de
concussão.

Se o médico apenas solicita a vantagem, pratica corrupção passiva.

Se o médico simular ser devido o custo adicional, tratar-se-á de estelionato.

4.5. TIPO SUBJETIVO

Dolo, acrescido da finalidade especial de proveito próprio ou de terceiro da vantagem


exigida.

4.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É um crime formal, que se consuma com a mera exigência, dispensando a obtenção da


vantagem (exaurimento).

Também se dispensa que a vítima se sinta coagida.

282
Admite-se a tentativa, na forma escrita. Ex.: Carta concessionária interceptada. O crime
passa a ser plurissubsistente.

5. CORRUPÇÃO PASSIVA (CP, art. 317)

5.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 317 - SOLICITAR ou RECEBER, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou ACEITAR PROMESSA de tal
vantagem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de
ofício ou o pratica infringindo dever funcional. (majorante: só pode ocorrer
na corrupção passiva própria)
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,
com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
(corrupção passiva privilegiada)
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

A corrupção é uma exceção pluralista à teoria monista.

No art. 317 (corrupção passiva) pune-se o corrupto. No art. 333 (corrupção ativa) pune-se
o corruptor.

Desproporcionalidade da Lei

A corrupção passiva, onde o agente apenas SOLICITA, a pena máxima é de 12 anos; já na


concussão, onde o agente EXIGE vantagem, a pena máxima é 08 anos.

5.2. SUJEITO ATIVO

a) Funcionário público no exercício da função;

b) Funcionário público fora da função, mas praticando a conduta em razão dela (ex.:
férias);

c) Particular na iminência de assumir função pública.

É o segundo crime que pode ser praticado por particular.

OBS1: Se o sujeito ativo for fiscal de rendas  Art. 3º da Lei dos Crimes Tributários.

Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos
no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título
XI, Capítulo I):
...
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício,
mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou
cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

283
OBS2: Se o sujeito ativo for militar  Art. 308 do CPM. Nesse dispositivo do CPM falta o
núcleo “solicitar”.

Art. 308. Receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda


que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Se o militar SOLICITAR, será crime de corrupção passiva do CP, de competência da


Justiça Comum.

5.3. SUJEITO PASSIVO

Primário: Administração.

Secundário: Particular, desde que não seja o corruptor.

Art. 317 (corrupção passiva) Art. 333 (corrupção ativa)


Solicitar Dar. Fato atípico.
Receber Oferecer
Aceitar promessa Prometer

Por que DAR vantagem não é crime?

Porque nesse caso o particular é a vítima (secundária) do crime. A corrupção ATIVA só


ocorre quando a conduta ilícita parte do particular. No caso dele DAR a vantagem indevida, ele
apenas está cedendo à conduta ilícita do funcionário que solicitou (no caso de corrupção passiva)
ou exigiu (concussão) vantagem indevida.

Percebe-se que a corrupção PASSIVA não pressupõe a corrupção ATIVA, e vice-versa;


são crimes independentes.

O único caso onde a corrupção passiva pressupõe a corrupção ativa é no núcleo


“RECEBER” (só recebe vantagem indevida quem anui com um oferecimento anterior). Comentário
meu: no “aceitar promessa” também pressupõe. Pressupõe uma promessa do particular.

5.4. TIPOS DE CORRUPÇÃO ATIVA

Art. 333 Art. 337-B Art. 343 Código Eleitoral Estatuto do


Torcedor
Corrupção de funcionário Corrupção de Corrupção de Corrupção na Corrupção no
público funcionário público testemunhas eleição resultado de
estrangeiro competição
esportiva
Dar Dar Dar Dar Dar
Oferecer Oferecer Oferecer Oferecer Oferecer
Prometer Prometer Prometer Prometer Prometer

OBS: Existe PL no Congresso para acrescentar o núcleo ‘dar’ ao art. 333 do CP (novatio
legis incriminadora).

284
CP Corrupção ATIVA de funcionário público
Art. 333 - OFERECER ou PROMETER vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o
pratica infringindo dever funcional.

Corrupção ativa em transação comercial internacional


Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem
indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à
transação comercial internacional:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.

Corrupção ativa de testemunhas/peritos etc.


Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação
falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução
ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o
crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta.

CE
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para
outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar
voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja
aceita:
Pena - reclusão até quatro anos e pagamento de cinco a quinze dias-multa.
Estatuto do Torcedor

Corrupção passiva
Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou
promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou
omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva
ou evento a ela associado: (Redação dada pela Lei nº 13.155, de
2015)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

Corrupção ativa
Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o
fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou
evento a ela associado: (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.

Para a existência do crime, deve haver um nexo entre a vantagem solicitada, recebida ou
aceita e a atividade exercida pelo corrupto.

5.5. TIPO OBJETIVO

Conduta: Solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida.

Qualquer das condutas enfoca a mercancia do agente com a função pública. Ele negocia a
função pública.

5.6. CORRUPÇÃO PASSIVA PRÓPRIA E IMPRÓPRIA


285
Corrupção passiva PRÓPRIA: O agente tem por finalidade a realização de ato injusto
(contrário a lei). Ex.: Solicitação de dinheiro para facilitar a fuga de preso.

Corrupção passiva IMPRÓPRIA: O agente tem por finalidade a realização de ato legítimo.
Ex.: Solicitar dinheiro para realização de ato de ofício.

5.7. CORRUPÇÃO ANTECEDENTE E SUBSEQUENTE

ART. 317: CORRUPÇÃO PASSIVA ART. 333: CORRUPÇÃO ATIVA


Corrupção passiva antecedente Corrupção ativa antecedente
1) Funcionário solicita/recebe vantagem 1) Particular oferece a vantagem;
indevida. 2) Para ver realizado o ato.
2) Para realizar o ato. É crime.
É crime.
Corrupção passiva subsequente Corrupção ativa subsequente
1) Funcionário realiza o ato; 1) Primeiro realiza-se o ato;
2) E depois solicita/recebe a vantagem 2) Depois o particular oferece vantagem como
indevida. gratidão.
É crime (recebe “em razão da função”). Fato atípico (para o particular).
O recebimento de vantagem indevida Se o funcionário aceita essa vantagem, incorre na
configura também ato de improbidade corrupção passiva (núcleo receber), salvo nos casos
(enriquecimento ilícito) de pequenos mimos, de valor insignificante, onde há
tolerância social. Fato materialmente atípico.

5.8. TIPO SUBJETIVO

É o dolo, acrescido de finalidade especial (para si ou para outrem).

5.9. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

No verbo solicitar ou aceitar promessa o crime é formal. Consuma-se independentemente


da obtenção da vantagem.

No verbo receber o crime é material, consumando-se com a obtenção da vantagem.

Admite-se a tentativa, na hipótese de carta interceptada.

5.10. MAJORANTE DE PENA (ART. 317, §1º)

Art. 317, § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da


vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

OBS: Esse aumento só incide na corrupção passiva PRÓPRIA (onde o funcionário age
contrariamente à lei ou deveres funcionais).

1º momento 2º momento
O agente solicita, recebe ou aceita a promessa O agente deixa de praticar, retarda ou pratica

286
de vantagem indevida. com violação a dever funcional ato de ofício.

CRIME CONSUMADO MAJORANTE

Ou seja, estamos diante de um “post factum majorante”.

Ex.: Solicitação de dinheiro para não apreender veículo.

No momento em que solicita  Consuma-se o crime.

No momento em que não apreende  Incide a majorante.

OBS: Quando a prática do ato configurar crime autônomo não gera a majorante, para
evitar “bis in idem”. Ex.: Solicitação de dinheiro para excluir multas do sistema, seguida da efetiva
exclusão. Resultado: Concurso material de crimes: art. 317 (corrupção passiva) + art. 313-A
(peculato eletrônico).

5.11. CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA (ART. 317§2º)

Art. 317 § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de


ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência
de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

São os famigerados favores administrativos. Funcionário quebra-galho. “Embargos


auriculares”.

ATENÇÃO: A corrupção passiva privilegiada (art. 317, §2º) não se confunde com a
prevaricação (art. 319).

Art. 317, §2º: CORRUPÇÃO PASSIVA Art. 319: PREVARICAÇÃO


PRIVILEGIADA
O agente cede diante de pedido ou influência de O agente age espontaneamente.
outrem.
Há Interferência externa. Não há interferência externa.
O agente não busca satisfazer interesse ou O agente busca satisfazer interesse ou sentimento
sentimento pessoal. pessoal.

A corrupção privilegiada é um crime material; só se consuma quando o agente


efetivamente pratica, retarda ou omite o ato de ofício.

E quem exerce a influência para que o quebra-galho deixe de praticar ato de ofício
responde por algum crime? NÃO. Fato atípico. Que furo.

6. PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA (art. 319-A)

Esse nome é dado pela doutrina.

6.1. PREVISÃO LEGAL

287
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Lei 11.466/2007 Lei 12.012/2009


Antes Depois
Agente que não vedava a entrada de Crime do art. 319-A do CP Crime do art. 319-A do CP
aparelhos de comunicação na cadeia
 Fato atípico.

Preso surpreendido com aparelho  Falta disciplinar grave (LEP, art. 50, Falta disciplinar grave (LEP, art. 50,
Fato atípico e indiferente III). III).
administrativo.
Quem introduzia o aparelho no Fato atípico. Crime do Art. 349-A. Espécie de
estabelecimento  Fato atípico. favorecimento real.

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de


aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem
autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº
12.012, de 2009).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº
12.012, de 2009).

6.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Primário: Administração em geral.

Secundário: Segurança interna e externa dos presídios.

6.3. SUJEITO ATIVO

Diretor de penitenciária e/ou o agente público.

Qualquer agente público? Somente o agente que tem o dever funcional de vedar a entrada
de aparelhos de comunicação.

Frise-se: O preso não pratica esse crime. Sua conduta constitui falta grave, nos
termos da LEP.

6.4. SUJEITO PASSIVO

O Estado e a sociedade.

6.5. TIPO OBJETIVO

Conduta: Deixar de cumprir o dever de evitar a entrada do aparelho.

Trata-se de crime omissivo puro.

288
Que crime comete o diretor que entrega pessoalmente o aparelho?

Para Nucci, a expressão “acesso ao aparelho” não deve ser interpretada restritivamente,
abrangendo o comportamento do servidor que fizer chegar às mãos do preso o aparelho ou não
retirar dele aparelho já na sua posse.

6.6. OBJETO MATERIAL

Aparelho de intercomunicabilidade.

Aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.

6.7. TIPO SUBJETIVO

Prevaricação PRÓPRIA: Dolo, acrescido da finalidade de satisfazer interesse ou


sentimento pessoal.

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Prevaricação IMPRÓPRIA: Dolo, sem finalidade especial.

Por isso é denominada prevaricação imprópria.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir


seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Não se pune a modalidade culposa. A culpa nesse caso pode configurar no máximo um
ilícito administrativo.

6.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Consuma-se com a mera omissão, mesmo que o preso não tenha acesso ao aparelho
(crime formal).

Trata-se de crime unissubsistente, que não admite tentativa.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

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Neste tópico, reuniremos além do gênero “crimes praticados por particular contra a
administração em geral” (a matéria do CP pertinente), a espécie crimes contra a ordem tributária
(incluindo a 8137/90 e delitos previdenciários).

Os crimes a seguir estudados são os seguintes:

CP:

1) Art. 334 (descaminho)

2) Art. 334-A (contrabando)

3) Art. 168-A (apropriação indébita previdenciária)

4) Art. 297§2º E §3º (falsificação de documento a fazer prova perante a previdência)

5) Art. 337-A (sonegação de contribuição previdenciária).

1. DESCAMINHO (ART. 334 CP)

1.1. PREVISÃO LEGAL

Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Redação anterior:

O delito de contrabando era previsto na primeira parte do art. 334. A redação da conduta
típica do descaminho permaneceu a mesma.

Contrabando ou descaminho
Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em
parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Alterações promovidas pela Lei n. 13.008/2014:

 No art. 334 permaneceu apenas o crime de descaminho.

 O contrabando passou a ser previsto no art. 334-A, que foi inserido pela Lei.

1.2. CONCEITO

Em que consiste o crime de descaminho:

Uma das acepções do verbo “iludir” é “frustrar”. Esse é o sentido utilizado pelo tipo penal.
Assim, iludir o pagamento do imposto significa “frustrar o pagamento do imposto”.

O crime pode ocorrer em duas situações:

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a) Quando a pessoa traz para o Brasil (importa) uma mercadoria permitida, mas, ao fazê-
lo, engana as autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido; ou

b) Quando a pessoa manda para fora do Brasil (exporta) uma mercadoria permitida, mas,
ao fazê-lo, engana as autoridades e com isso não paga (ilude) o imposto devido.

Obs.: quando o tipo fala em imposto ou direito devido pelo “consumo de mercadoria” ele está se
referindo ao Imposto sobre Produtos Industrializados. O IPI também é conhecido, por razões
históricas, como “imposto sobre o consumo”. Um dos fatos geradores do IPI é o desembaraço
aduaneiro de produtos industrializados de procedência estrangeira (art. 46, I, do CTN).

Para que o crime ocorra, é necessário que o agente tenha agido de forma
fraudulenta?

SIM. Existe certa polêmica sobre o assunto, mas a posição majoritária é a de que o agente
deverá ter atuado com fraude para iludir o pagamento do imposto devido. Veja esse trecho de
julgado do STJ que tratou sobre o descaminho:

(...) A fraude pressuposta pelo tipo, ademais, denota artifícios mais amplos
para a frustração da atividade fiscalizadora do Estado do que o crime de
sonegação fiscal, podendo se referir tanto à utilização de documentos
falsificados, quanto, e em maior medida, à utilização de rotas marginais e
estradas clandestinas para sair do raio de visão das barreiras alfandegárias
(...) (STJ. 5ª Turma. REsp 1376031/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
04/02/2014).

Em sentido contrário, entendendo que o delito de descaminho não exige a fraude:


BALTAZAR JR., José Paulo. Crimes Federais. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 399.

1.3. BEM JURÍDICO

O bem jurídico protegido é o interesse do Estado na arrecadação dos tributos.

Quais os impostos que o tipo penal visa proteger?

Imposto de importação, de exportação e imposto sobre produtos industrializados.

1.4. SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.

Para a configuração do descaminho previsto no caput, o agente não precisa ser


comerciante.

a) Coautoria

O delito admite coautoria, como na situação daquele que fornece o dinheiro para que um
terceiro lhe traga as mercadorias do exterior iludindo o pagamento do imposto. Nesse caso,
ambos responderão como autores, sendo o proprietário o autor funcional (BALTAZAR JR., José
Paulo. Crimes Federais. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 395).

b) Participação

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É admitida a participação, como no caso do ‘batedor’, que vai dirigindo outro veículo na
frente do automóvel que transporta as mercadorias para avisar quando há postos de fiscalização.

De igual forma, é considerado partícipe o ‘olheiro’, pessoa encarregada de avisar, por


telefone celular, os lojistas quando a equipe de fiscalização está chegando no local da “feira”.
Nesse sentido: BALTAZAR JR., p. 395.

c) Funcionário público que tem dever de evitar o descaminho

Se o agente é funcionário público e facilita a prática do descaminho, infringindo seu dever


funcional, ele responderá pelo crime do art. 318 do CP e o particular pelo art. 334. Trata-se de
uma exceção pluralista à teoria monista prevista no art. 29 do CP.

1.5. SUJEITO PASSIVO

O Estado (mais especificamente a União, considerando que os impostos devidos nas


operações de importação e exportação são federais).

1.6. ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo (não admite forma culposa).

1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O descaminho é crime tributário material ou formal? Para o ajuizamento da ação penal, é


necessária a constituição definitiva do crédito tributário? Aplica-se a Súmula Vinculante 24 ao
descaminho?

Existe divergência sobre o tema:

Tentativa: é possível.

1.8. EMPREGO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA OU MATERIAL

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Se o agente, para iludir as autoridades, faz declaração ideologicamente falsa (ex: declara
ao auditor fiscal que não está trazendo do exterior nenhuma mercadoria sujeita à tribução), ele
responderá por descaminho em concurso com o crime de falsidade ideológica (art. 299)?

NÃO. O agente responderá apenas pelo crime de descaminho se a declaração falsa foi
feita com o exclusivo fim de iludir o pagamento do tributo.

Aplica-se o princípio da consunção, considerando que a declaração falsa foi apenas o meio
necessário para a prática do descaminho. Logo, nesse contexto, a falsidade fica absorvida pelo
descaminho. STJ. 5ª Turma. RHC 31.321-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
16/5/2013 (Info 523).

A mesma solução acima (princípio da consunção) deverá ser aplicada no caso de uso de
documento materialmente falso.

1.9. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O descaminho é considerado um crime contra a ordem tributária. Logo, deverá ser


aplicado o princípio da insignificância se o montante do imposto que deixou de ser pago era igual
ou inferior a 20 mil reais (posição do STF HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
04/02/2014) ou se abaixo de 10 mil reais (posição do STJ AgRg no REsp 1428637/RS, Rel. Min.
Moura Ribeiro, julgado em 10/06/2014).

1.10. PENA

A pena do crime de descaminho vai de 1 a 4 anos. Como a pena mínima é igual a 1 ano, o
acusado pode ser beneficiado com a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n.
9.099/95).

1.11. COMPETÊNCIA

Competência da Justiça Federal.

Em termos territoriais, a competência será da seção judiciária onde os bens foram


apreendidos, não importando o local por onde entraram no país (no caso de importação) ou de
onde seguiriam para o exterior (na hipótese de exportação). Tal entendimento está cristalizado em
enunciado do STJ:

Súmula 151-STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de


contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do
lugar da apreensão dos bens.

Ex: polícia encontra em Curitiba (PR) carro repleto de notebooks importados sem
pagamento do imposto devido. O condutor confessa que trouxe os computadores do Paraguai por
meio de Foz do Iguaçu (PR). A competência para apurar esse delito será de uma das varas
federais de Curitiba (e não de Foz do Iguaçu).

Veja o que diz Baltazar sobre o tema:

“No rigor dos princípios, a competência seria do local da consumação (CPP, art. 80), que é
aquele do ingresso da mercadoria no território nacional. A Súmula acima transcrita tem, porém,

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fundamento de política judiciária, pois a fixação da competência nos locais de ingresso no
território nacional inviabilizaria algumas varas federais de fronteira e seria altamente
contraproducente, em razão das dificuldades de instrução de feitos com réus moradores em locais
diversos e distantes” (op. cit., p. 415).

1.12. FIGURAS EQUIPARADAS

O § 1º do art. 334 prevê condutas equiparadas a descaminho. Em outras palavras, são


situações nas quais o agente não é punido por ter importado ou exportado mercadoria iludindo o
pagamento de imposto, mas sim por ter praticado uma conduta relacionada com a prática de
descaminho.

As figuras previstas no § 1º do art. 334 do CP são chamadas de “descaminho por


assimilação”.

A redação dos incisos do § 1º do art. 334 permaneceu praticamente a mesma. A única


alteração promovida pela Lei n. 13.008/2014 é que a menção ao crime de contrabando saiu desse
§ 1º do art. 334 e foi para o § 1º do art. 334-A do CP.

§ 1º Incorre na mesma pena quem:


I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;

Segundo o art. 2º, IX, da Lei n. 9.432/97, navegação de cabotagem é aquela “realizada
entre portos ou pontos do território brasileiro, utilizando a via marítima ou esta e as vias
navegáveis interiores”.

Em linguagem mais simples, na navegação de cabotagem os navios e demais


embarcações, utilizando a via marítima ou vias navegáveis interiores, transportam cargas entre
portos localizados dentro do país.

Se o transporte for feito entre dois portos fluviais, não será considerado navegação de
cabotagem, e sim navegação interior.

A navegação de cabotagem é regulamentada em lei e somente pode ser realizada nos


casos ali previstos. A preocupação do legislador foi de que, se ela é feita sem controle, pode gerar
o não pagamento de impostos.

II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;


III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma,
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem;

Esse inciso pune a pessoa que pratica qualquer atividade comercial ou industrial
envolvendo mercadoria de procedência estrangeira, que foi trazida para o Brasil de forma
clandestina (sem que as autoridades soubessem) ou fraudulenta (enganando as autoridades).

Obs1: o inciso pune tanto o agente que foi o responsável pela introdução da mercadoria,
como também o agente que não trouxe a mercadoria, mas que sabe que houve uma importação
clandestina ou fraudulenta.

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Obs2: se a mercadoria introduzida é proibida no Brasil ou, para ser trazida, depende de
registro, análise ou autorização de órgão público competente, nesse caso o crime será o de
contrabando (art. 334-A, § 1º, II) ou algum outro crime mais específico (ex: tráfico de drogas).
Assim, no caso desse inciso III, a mercadoria introduzida deve ser permitida no Brasil.

IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de


atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos
que sabe serem falsos.

Trata-se de uma forma específica de receptação (art. 180 do CP). Se a pessoa aceita
adquirir, receber ou ocultar, no exercício e atividade comercial ou industrial, uma mercadoria de
procedência estrangeira sem os documentos que atestam que ela foi introduzida regularmente ou
com documentos falsos, essa pessoa está fomentando o crime de descaminho.

Este inciso pune a pessoa que pratica atividade comercial ou industrial envolvendo
mercadoria de procedência estrangeira, que foi trazida para o Brasil de forma clandestina (sem
que as autoridades soubessem) ou fraudulenta (enganando as autoridades).

§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,


qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.

Alteração praticada pela Lei 13.008/2014: a redação permaneceu a mesma. A única


mudança é que a menção ao crime de contrabando saiu desse § 1º do art. 334 e foi para o § 1º do
art. 334-A do CP.

§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em


transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

IMPORTANTE. Alteração praticada pela Lei 13.008/2014:

a) Antes: a pena aumentava apenas no caso de transporte aéreo.

b) Agora: a pena é aumentada nos casos de transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

Veja a redação anterior:

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou


descaminho é praticado em transporte aéreo.

2. CONTRABANDO

2.1. PREVISÃO LEGAL

Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Redação anterior:

Não havia o art. 334-A. O delito de contrabando era previsto na primeira parte do art. 334.
A redação da conduta típica permaneceu a mesma.

Alterações praticadas pela Lei 13.008/2014:


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a) O contrabando foi deslocado do art. 334 e passa agora a ser previsto no art. 334-A,
que foi inserido pela Lei.

b) A pena do contrabando foi aumentada. Era de 1 a 4 anos e agora passa a ser de 2 a 5


anos.

2.2. CONCEITO

O crime pode ocorrer em duas situações:

a) Quando a pessoa traz para o Brasil (importa) uma mercadoria proibida; ou

b) Quando a pessoa manda para fora do Brasil (exporta) uma mercadoria proibida.

2.3. BEM JURÍDICO

A moralidade administrativa, a saúde e a segurança pública.

O bem juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido,
alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de produtos
proibidos em território nacional (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 342.598/PR, j. em 05/11/2013).

2.4. SUJEITOS

Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo: Estado.

2.5. ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo (não admite forma culposa).

Crime residual: o contrabando tem natureza genérica ou residual, ou seja, somente será
aplicado quando a importação ou exportação de mercadoria proibida não configurar algum outro
crime mais específico (MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. Vol. 3. 2014, p. 771).

Ex1: se a pessoa importa ou exporta droga (que é uma mercadoria proibida), pratica o
crime do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, e não o delito de contrabando.

Ex2: se a pessoa importa ou exporta arma de fogo proibida, pratica o crime do art. 18 da
Lei n.10.826/2003, e não o delito de contrabando.

2.6. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

É inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem


juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o
interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos em território
nacional (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 342.598/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
05/11/2013). O caso mais comum e que pode cair na sua prova é o de contrabando de cigarros.

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2.7. PENA

A pena do crime de contrabando foi aumentada. Antes era de 1 a 4 anos e agora passa a
ser de 2 a 5 anos. Como a pena mínima é superior a 1 ano, o acusado não pode mais ser
beneficiado com a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95).

Essa alteração foi equivocada. É certo que existem mercadorias que são objeto de
contrabando e podem ser extremamente nocivas. Contudo, na maioria dos casos observa-se a
prática do crime por pessoas simples que cruzam as fronteiras a pé ou de ônibus transportando
cigarros ou gasolina proibida. Não havia sentido para o legislador negar a medida
despenalizadora a esses acusados.

2.8. COMPETÊNCIA

Competência da Justiça Federal.

Obs.: vide ressalva feita abaixo aos incisos IV e V do § 1º do art. 334-A.

2.9. FIGURAS EQUIPARADAS

O § 1º do art. 334-A prevê condutas equiparadas a contrabando. Em outras palavras, são


situações nas quais o agente não é punido por ter importado ou exportado mercadoria proibida,
mas sim por ter praticado uma conduta relacionada com a prática de contrabando.

As figuras previstas no § 1º do art. 334-A do CP são chamadas de “contrabando por


assimilação”.

Esse § 1º foi inserido pela Lei n. 13.008/2014. Algumas situações já eram previstas no § 1º
do art. 334 e foram apenas transpostas para o art. 334-A. Outras, contudo, são novidade.

§ 1º Incorre na mesma pena quem:


I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;

Mesma redação que já era adotada no § 1º do art. 334 antes da Lei n. 13.008/2014.

Exemplo de fato assimilado: o art. 39 do Decreto-Lei n. 288/67, que trata sobre a Zona
Franca de Manaus, prevê que “será considerado contrabando a saída de mercadorias da Zona
Franca sem a autorização legal expedida pelas autoridades competentes.”

II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de


registro, análise ou autorização de órgão público competente;

Existem determinadas mercadorias que, pelo seu potencial de nocividade à saúde, ao


meio ambiente ou a segurança, precisam ser previamente analisadas, autorizadas e registradas
para que possam ser importadas ou exportadas. Ex.: para que cigarros estrangeiros sejam
trazidos para o Brasil, é necessário que eles tenham sido previamente analisados e registrados
pela ANVISA e Receita Federal.

Caso o agente importe ou exporte mercadoria que dependa desse registro e sem que ele
tenha sido obtido, pratica o crime previsto nesse inciso.

ATENÇÃO. A redação do inciso II foi uma novidade da Lei n. 13.008/2014. Isso significa
que essa conduta somente passou a ser crime agora?
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NÃO. Apesar de essa redação não existir antes da Lei n. 13.008/2014, tal conduta já era
punida com base no caput do art. 334. Isso porque a mercadoria que depende de registro, análise
ou autorização, enquanto não cumprir essa formalidade, não pode ser importada ou exportada.
Assim, a mercadoria sem registro, análise ou autorização é uma mercadoria cuja importação ou
exportação é proibida. Logo, mesmo que não houvesse esse inciso II, essa conduta já seria
punida pelo caput do art. 334-A. Em suma, esse inciso II apenas reforça a incriminação.

III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à


exportação;

Existem determinadas mercadorias produzidas no Brasil, mas que só podem ser vendidas
no mercado exterior, ou seja, destinam-se exclusivamente à exportação.

Se o agente traz para o Brasil uma mercadoria nacional que estava no exterior porque se
destina à exportação, ele praticará o crime do inciso III.

ATENÇÃO. A redação do inciso III foi uma novidade da Lei n. 13.008/2014. Isso significa
que essa conduta somente passou a ser crime agora?

NÃO. Apesar de essa redação não existir antes da Lei n. 13.008/2014, tal conduta já era
punida com base no caput do art. 334. Isso porque a mercadoria brasileira destinada à exportação
tem a sua venda proibida no Brasil e não pode ser reinserida no mercado nacional. Logo, mesmo
que não houvesse esse inciso III, essa conduta já seria punida pelo caput do art. 334-A. Em suma,
esse inciso III apenas reforça a incriminação.

IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma,


utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;

Esse inciso pune a pessoa que pratica atividade comercial ou industrial envolvendo
mercadoria proibida.

Repare que o inciso IV não exige que a mercadoria proibida seja de procedência
estrangeira, nem que tenha sido objeto de importação ou exportação.

Desse modo, se a mercadoria proibida for nacional e não se destinar à exportação, a


competência será da Justiça Estadual. Ao contrário, será julgado pela Justiça Federal se a
mercadoria for de procedência estrangeira ou for de origem brasileira, mas destinada à
exportação.

ATENÇÃO. A redação do inciso IV foi uma novidade da Lei n. 13.008/2014. Antes,


contudo, essa conduta já poderia ser punida com base no caput do art. 334 ou por força de outras
leis específicas (ex: Lei de Drogas, Estatuto do Desarmamento etc).

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de


atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.

Trata-se de uma forma específica de receptação (art. 180 do CP).

Repare que o inciso V não exige que a mercadoria proibida seja de procedência
estrangeira, nem que tenha sido objeto de importação ou exportação.

Desse modo, se a mercadoria proibida for nacional e não se destinar à exportação a


competência será da Justiça Estadual. Ao contrário, será julgado pela Justiça Federal se a

298
mercadoria for de procedência estrangeira ou for de origem brasileira, mas destinada à
exportação.

ATENÇÃO. A redação do inciso V foi uma novidade da Lei n. 13.008/2014. Antes, contudo,
essa conduta já poderia ser punida com base no caput do art. 334 ou por força de outras leis
específicas (ex: Lei de Drogas, Estatuto do Desarmamento etc).

§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,


qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

IMPORTANTE. Alteração praticada pela Lei 13.008/2014:

A) Antes: a pena aumentava apenas no caso de transporte aéreo.

B) Agora: a pena é aumentada nos casos de transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

Veja a redação anterior:

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou


descaminho é praticado em transporte aéreo.

2.10. QUADRO-RESUMO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS

2.11. FALHA DA LEI

Como vimos exaustivamente acima, o contrabando agora não mais está previsto no art.
334, mas sim no art. 334-A do CP.

Diante disso, constata-se que houve uma falha do legislador. Isso porque a Lei n.
13.008/2014 deveria ter alterado também o art. 318 do CP, que tem a seguinte redação:

Facilitação de contrabando ou descaminho

Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando


ou descaminho (art. 334):

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Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa

A Lei n. 13.008/2014 deveria ter atualizado a redação para separar o descaminho (art. 334)
do contrabando (art. 334-A).

Apesar disso, entendo que a pessoa que facilitar, com infração de dever funcional, a
prática de contrabando, continua respondendo pelo crime do art. 318 do CP. Isso porque o tipo
penal do art. 318 fala em contrabando, sendo a menção ao art. 334 meramente explicativa. O
crime de contrabando continua existindo, no entanto, agora no art. 334-A do CP. Não houve
abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica

3. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (CP, art. 168-A)

3.1. LEI 9.983/00

Essa lei teve como principal objetivo proteger a previdência social (INSS).

Quando estudados crimes contra a ordem tributária, devemos analisar a lei 8.137/90 (ver
último item deste capítulo) juntamente com dois artigos do CP (168-A e 337-A), que foram
acrescentados ao CP pela Lei 9.983/00.

Além desses delitos, o descaminho (art. 334 do CP - acima) também é considerado um


crime contra a ordem tributária (apesar de estarem no título dos crimes contra a administração).

3.2. PREVISÃO LEGAL

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação
de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

Ocorre quando o empregador deixa de repassar ao INSS as contribuições descontadas da


remuneração de seus funcionários.

ANTES DA LEI 9.983/00 DEPOIS DA LEI 9983/00


Art. 95 “d” da lei 8.212/91 Art. 168-A
2 a 6 anos 2 a 5 anos

300
O art. 168-A foi colocado no CP pela Lei 9.983/00. Entretanto, esse delito já era previsto na
Lei 8.212/91 (art. 95). Houve apenas a migração da Lei especial para o CP.

Teria ocorrido abolitio criminis com a revogação do art. 95 da Lei 8.212? NEGATIVO.
Trata-se, aqui, de aplicação do princípio da continuidade normativo típica. A conduta tipificada
na lei especial simplesmente migrou para o Código Penal.

Estes crimes são punidos, porque a CF/88 previu que o Brasil é um Estado Democrático e
SOCIAL de Direito, ou seja, significa que o Brasil deverá ter um sistema de seguridade firme e
eficaz, através dos arts. 194 e 195 CF/88. Posteriormente, o sistema penal regulamentou a
matéria da seguridade, com o intuito de proteger a Previdência (L.8.212/91 e L. 9983/00).

Críticas da doutrina: O art. 168-A CP deveria estar na legislação penal extravagante e já


que foi posto no CP deveria estar em outro Título – Dos Crimes Contra a Administração da Justiça
e não no Título Dos Crimes contra o Patrimônio.

Questiona-se a constitucionalidade do delito justificando se é mera dívida junto à União,


passível de prisão (prisão por dívida não autorizada pela CF/88).

O STF e o STJ já negaram a inconstitucionalidade não se tratando de prisão por dívida,


por pena privativa de liberdade, mas pela prática de crime contra a Seguridade Social, sob o
fundamento do art. 7º,X CF/88.

Art. 7º CF/88 - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção
dolosa.

3.3. ART. 168-A, CAPUT CP – APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA


PROPRIAMENTE DITA

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

3.3.1. Sujeitos

a) Sujeito Ativo = é o responsável tributário, ou seja, aquele que por lei está obrigado a
passar a contribuição à União recolhida dos contribuintes.

De acordo com o art. 12 da L.8.212/91, incluem como sujeito ativo deste delito, a
Administração Pública Direta, Indireta e Fundacional; logo abrange o Chefe do Poder Executivo
Estadual ou Municipal. Também está incluído neste rol o administrador judicial.

301
b) Sujeito Passivo = é a União.

3.3.2. Natureza do art. 168-A

Art. 168 (Apropriação indébita) Art. 168-A (Apropriação indébita previdenciária)


Crime patrimonial Crime contra a ordem tributária
Conduta: Apropriar-se. Conduta: Deixar de repassar (veja que não exige o
“apropriar-se”, apenas o não repassar)
Crime material Crime formal* (não exige o resultado)
Crime comissivo Crime omissivo próprio
Há finalidade especial (dolo específico) de tornar-se Não há finalidade especial de tornar-se dono da
dono da coisa: animus rem sibi habendi. coisa (STJ EREsp. 331.982). Não há necessidade
do animus rem sibi habendi.
Tipo incongruente/assimétrico (ver acima): é aquele Tipo congruente/simétrico: Há uma perfeita
em que não há uma perfeita adequação entre os adequação entre os elementos objetivos e
elementos objetivos e subjetivos do tipo penal. subjetivos do tipo penal. Caracteriza-se pela
Caracteriza-se pela presença de um especial fim de ausência de um especial fim de agir.
agir.

3.3.3. Consumação e tentativa

Quando é que o crime se consuma?

Resposta: Há divergências:

1ª corrente: Para a maioria, o crime é formal, consumando-se com o não repasse,


dispensando o enriquecimento do agente ou dano efetivo de prejuízo da União.

2ª corrente: Para o STF, o crime é material exigindo a lesão (traz exceção do crime
omissivo puro material).

O crime do art. 168-A não é formal, mas sim omissivo material. Ou seja, é indispensável a
apropriação dos valores, com inversão da posse respectiva.

Relevância desse entendimento: A partir do momento em que o crime contra a ordem


tributária é material, ele depende do exaurimento do processo administrativo para ter configurada
sua tipicidade. Assim, pendente recurso administrativo em que se discute a exigibilidade do
tributo, é inviável tanto a propositura da ação penal quanto a instauração de inquérito policial (SV
24).

Rogério Greco: é crime de mera conduta.

SÚMULA VINCULANTE Nº 24 não se tipifica crime material contra a ordem


tributária, previsto no art. 1º, incisos i a iv, da lei nº 8.137/90, antes do
lançamento definitivo do tributo.

OBS: A apropriação indébita previdenciária, ao contrário da grande maioria dos crimes


contra a ordem tributária, não depende do emprego de fraude ou de falsificação de informações
(STJ REsp. 556.147)

302
Admite-se tentativa?

Resposta:

● se o crime é omissivo puro → é unisubsistente e por isso não admite tentativa;

● se o crime é de conduta mista → admite tentativa (ele pode recolher e antes de obtê-lo
para si, ele é repreendido).

A pessoa que não repassa à Previdência, alegando dificuldades financeiras, levanta a tese
da inexigibilidade da conduta diversa e esta tese está sendo adotada pelos Tribunais, desde que
não seja cometido de forma habitual (durante muito tempo).

Grande parte da doutrina entende que o art. 168-A CP é crime omissivo puro (ou omissão
própria), em razão do “... deixa de repassar à Previdência”. Já para uma corrente minoritária
(LFG), é crime de conduta mista, pois primeiro ele age recolhendo e depois se omite não
repassando.

3.3.4. Tipo subjetivo

É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de deixar de repassar à Previdência


Social os valores de contribuições recolhidas dentro do prazo e forma legal.

Quanto à exigência de finalidade específica (intuito de fraudar a Previdência Social) há


divergência, prevalecendo ser dispensável.

3.3.5. Prazo

Prazo = Diante de norma penal em branco é imprescindível que haja uma lei ou
Convenção em que estabeleça qual a forma e quando deve ocorrer o repasse.

3.4. ART. 168-A, §1º - FORMAS EQUIPARADAS À APROPRIAÇÃO INDÉBITA


PREVIDENCIÁRIA

CP Art. 168-A
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação
de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

303
Na hipótese do §1º, art. 168-A CP, o sujeito ativo por praticar o crime de três modos:

I) o empregado paga, o contribuinte-empresário recolhe a contribuição e não faz o repasse;

II) Muito comum em produção rural, onde o produto agrícola embute no seu valor a
contribuição social e ao seu pago, o empresário-contribuinte não repassa a contribuição social à
Previdência.

Obs.: Tanto no inciso I e II, o contribuinte-empresário pega o dinheiro do contribuinte e não


repassa à Previdência.

III) A Previdência paga os benefícios e o contribuinte-empresário não repassa ao


beneficiário (caminho oposto aos incisos I e II).

3.5. ART. 168-A, §2 – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

CP Art. 168-A
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara,
confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e
presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei
ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

Antes do advento da Lei 9.983/2000, aplicava-se o disposto no art. 34 da Lei 9.249/95, que
extinguia a punibilidade em relação ao agente que efetuasse o pagamento em momento anterior
ao recebimento da denúncia.

Depois da referida Lei, aplicando-se o § 2° do art. 1 68-A, somente ocorria a extinção da


punibilidade se:

a) O agente declara e confessa a dívida (autodenúncia);

b) Efetuando, espontaneamente (sem a intervenção de fatores externos), o pagamento do


tributo devido160;

c) Antes do início da execução fiscal.

Com o aparecimento da Lei 1 0.684/2003 (Lei do PAES), entendeu o STF (HC 8 5.452, rei.
Min. Eros Grau, D]U 03.06.2005) que o pagamento de tributo - inclusive contribuições
previdenciárias - realizado a qualquer tempo, gerava a extinção da punibilidade, nos termos do
seu art. 9°, § 2°.

A política de parcelamento extintivo da punibilidade foi novamente prevista na Lei


11.941/2009, anunciando em seu art. 69: "Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no art.
68 [arts. 1° e 2° da Lei 8.137/90 e arts. 1 68-A e 337-A do CP] quando a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e
contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de
parcelamento".

O STF já decidiu que a Lei n° 12.382/11 convive com o art. 9°, § 2°, da Lei n° 10.684/03.
Julgando habeas corpus em processo que apurava sonegação fiscal, o relator esclareceu que o
impetrante buscava ver declarada extinta a punibilidade, considerado o pagamento integral de
débito tributário constituído. No writ, fez referência ao voto externado no exame da AP 516 ED/DF,
segundo o qual a Lei 1 2.382/11, que trata da extinção da punibilidade dos crimes tributários nas
304
situações de parcelamento do débito tributário, não afetaria o disposto no § 2° do art. 9° da Lei 1
0.684/2003, o qual preveria a extinção da punibilidade em virtude do pagamento do débito a
qualquer tempo. O relator ressalvou entendimento pessoal de que a quitação total do débito, a
permitir que fosse reconhecida causa de extinção, poderia ocorrer, inclusive, posteriormente ao
trânsito em julgado da ação penal. (HC 116.828/SP, rel. Min. Dias Toffoli, DJe 22/08/2013) .

3.6. ART. 168-A §3º - PERDÃO JUDICIAL OU SUBSTITUIÇÃO POR PENA DE MULTA

§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de


multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia (perceber que se for antes o início da ação fiscal, caberá a
extinção da punibilidade prevista no §1º; se for após ação fiscal e antes da
denúncia, este artigo; se for depois de oferecida a denúncia,
arrependimento posterior), o pagamento da contribuição social
previdenciária, inclusive acessórios; ou
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

4. “ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO” (ESTELIONATO MAJORADO) - ART. 171, §3º


(CRIME PATRIMONIAL)

4.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo


alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
[...]
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em
detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia
popular, assistência social ou beneficência.

Apesar de crime patrimonial, na maioria dos casos esse crime terá como vítima o INSS,
nos termos da Súmula 24 do STJ, in verbis:

STJ Súmula: 24 Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como


vítima entidade autárquica da previdência social, a qualificadora do § 3º,
do art. 171 do Código Penal.

4.2. NATUREZA DO CRIME DE ESTELIONATO CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL

O clássico exemplo desse crime envolve o recebimento de algum benefício de maneira


indevida, com base em documentos falsos.

Exemplo: Uma pessoa apresenta atestado falso junto ao INSS em janeiro de 2014. Em
fevereiro de 2014, começar a receber mensalmente um benefício previdenciário.

Pergunta-se: Quando se consuma esse crime? Duas correntes predominam:

305
1ª C: O crime é instantâneo de efeitos permanentes. O crime se consuma com o
recebimento da primeira vantagem indevida. Os demais recebimentos nada mais são do que
exaurimento do crime.

2ª C: O crime é permanente, ou seja, a consumação se prolonga durante todo o tempo de


recebimento indevido. A cada benefício a consumação é prolongada.

Terceiro que implementa a fraude para que pessoa diferente receba o benefício:
crime instantâneo de efeitos permanentes. Para o terceiro a prescrição começa a contar a partir
do 1º pagamento.

Beneficiário: trata-se de crime permanente. A prescrição só começa a contar do momento


em que cessar o pagamento do benefício.

Ainda existem outras duas correntes:

3ª C: Crime continuado. As vantagens obtidas fraudulentamente prescrevem


individualmente.

Não esquecer: A pena a ser usada no cálculo da prescrição retroativa é a pena da


sentença, subtraído o quantum de acréscimo decorrente da continuidade (Súmula 497 do STF).

STF Súmula 497 quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-


se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo
decorrente da continuação.

Em outras palavras: não se inclui o acréscimo do crime continuado para cálculo da


prescrição. Ver Penal Geral. Prescrição e Concurso de crimes.

Muitos Procuradores da República utilizam esta corrente (art. 71).

4ª C: Concurso formal (LFG). Uma única ação, que resulta em várias vantagens
patrimoniais, sendo que cada vantagem é um crime.

306
5. FALSIDADE DE DOCUMENTOS DESTINADOS À PREVIDÊNCIA SOCIAL (CP, art. 297,
§§3º e 4º)

5.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se
do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado
de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso,
as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular.
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não
possua a qualidade de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social,
declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento
relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência
social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos
mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a
remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de
serviços.

307
O exemplo mais comum é a declaração de informações falsas na Carteira de Trabalho, a
fim de subtrair a contribuição social mensal.

5.2. ESPÉCIE DE FALSIDADE

Trata-se de falsidade material ou ideológica? Ideológica.

FALSIDADE MATERIAL (ART. 297/298 CP) FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299)


Recai sobre o aspecto externo do documento. O documento existe, é verdadeiro, porém seu conteúdo
Ex.: Carteira de identidade com foto trocada. intelectual é falso. Ex.: acima
Pode ser praticada na forma de falsificação integral do Pode ser praticada comissiva (inserindo informação falsa)
documento, ou de alteração de documento preexistente. ou omissivamente (deixando de inserir informação
Somente se pratica comissivamente. verdadeira).

O agente não tem legitimidade para criar o documento. O agente tem legitimidade para elaborar o documento.
Exige exame pericial. A prova se dá testemunhalmente. Até porque o exame
pericial comprovaria o que já se sabe: o documento em si,
é verdadeiro.

5.3. FALSIDADE IDEOLÓGICA EM CONCURSO COM CRIME CONTRA A ORDEM


TRIBUTÁRIA

O sujeito falsifica declaração de imposto de renda, a fim de sonegar. Ele é pego na malha
fina e acaba pagando o tributo. Esse pagamento extingue a punibilidade do crime tributário. E
quanto ao crime de falso?

Para o STJ, como o crime fiscal absorve o delito de falsidade nessa hipótese (Súmula 17
do STJ), efetuado o pagamento do tributo devido, não haverá justa causa para a ação penal pelo
crime de falsidade (STJ HC 94.452).

6. SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA (CP, art. 337-A)

6.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer


acessório, mediante as seguintes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)

Ao contrário do 168-A (apropriação indébita previdenciária), tem como emprego da fraude


uma de suas elementares.

I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de


informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado,
empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado que lhe prestem serviços;

308
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da
empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo
empregador ou pelo tomador de serviços;
III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações
pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais
previdenciárias:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Esse delito se assemelha bastante aos crimes tributários da Lei 8.137/90.

O sujeito deixa de registrar o trabalhador para pagar menos contribuições previdenciárias.

Consumação: É crime material.

6.2. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

Dificuldades financeiras

A crise financeira pode funcionar como causa supralegal de exclusão da culpabilidade por
inexigibilidade de conduta diversa somente em hipóteses excepcionais, e desde que haja prova
documental.

6.3. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Perceber que a mesma extinção é prevista para a apropriação indébita previdenciária,


art. 168-A.

Art. 337-A
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e
confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações
devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento,
antes do início da ação fiscal.
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de
multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I – (VETADO)
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

Causa de perdão judicial. Esse inciso atualmente tem seu conteúdo esvaziado, devido ao
princípio da insignificância, isso por que sequer chegaríamos à sentença. A insignificância excluirá
o fato típico, a análise para por aí.

Perceber que esse dispositivo de extinção de punibilidade/perdão judicial é bem parecido


com o do 168-A.

§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento


mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz
poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de
multa.
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas
mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da
previdência social.

309
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA
JUSTIÇA

Aqui estudaremos:

1) Denunciação caluniosa;

2) Comunicação falsa de crime ou contravenção penal;

3) Auto-acusação falsa;

4) Falso testemunho ou falsa perícia;

Senão, vejamos:

1. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

1.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de
anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.

1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Primário: O regular andamento da administração da justiça. Isso por que a administração


da justiça aqui é impulsionada inútil e criminosamente.

Secundário: honra da pessoa ofendida.

Também é chamado pela doutrina de calúnia qualificada. Não confundir com calúnia.

ART. 138 CALÚNIA ART. 339 DENUNCIAÇÃO


CALUNIOSA – “CALÚNIA
QUALIFICADA”
MEIO Ofensa à honra. Ofensa à honra.
FIM Ofensa à honra. Ferir a administração da justiça.
EXEMPLO Digo por aí: “Fulano assaltou o Digo: “Fulano assaltou o banco do
banco do Brasil”. Brasil.” Falar isso para um delegado,
querendo e buscando a instauração
de um procedimento injusto e
criminoso.

310
A denunciação caluniosa é um crime progressivo. Para o agente chegar ao fim
desejado, necessariamente tem que passar por um crime de calúnia.

1.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa. Estamos diante de um crime comum, isso inclui os responsáveis


(autoridades) que presidem os procedimentos previstos no tipo.

Aliás, quando um promotor denuncia alguém sabendo que é inocente, imputando fato que
sabe que não é verdade, dando azo a procedimento inútil e criminoso, chama-se de denúncia
temerária ou abusiva.

Lembrando que o advogado pode ser sujeito ativo. Advogado pode dar causa a
investigação contra alguém que sabe ser inocente. O advogado só tem imunidade profissional na
injúria e na difamação, não tem na calúnia muito menos na denunciação caluniosa.

ANTES 10.028/00 DEPOIS 10.028/00


Dar causa a instauração Dar causa à instauração

1-Investigação policial; 1-Investigação policial;


2-processo judicial; 2-Processo judicial;
3-Investigação administrativa;
4-Inquérito civil;
5-Ação de improbidade;
Doutrina alertava: antes havia razão, quando ela Hoje o panorama mudou. Mesmo nos crimes de
dizia que nos crimes de AÇÃO PRIVADA ou AÇÃO PRIVADA ou CONDICIONADA À
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO somente a REPRESENTAÇÃO, qualquer pessoa pode cometê-
“vítima” ou seu representante legal podiam dar início lo, pois os três últimos procedimentos não
a ação penal. dependem de queixa/representação da “vítima”.
Exemplo: praticar denunciação caluniosa contra Exemplo: não precisa ser a “vítima”, por que a
alguém lhe imputando ameaça. Na ameaça, a investigação administrativa, o inquérito civil e a ação
investigação e o processo dependem de de improbidade não precisam de representação da
representação da vítima, assim somente a “vítima” vítima.
poderia praticar denunciação caluniosa nesse caso.

Antes da lei 10.028/00 era comum a doutrina alertar que nos crimes de ação privada ou
pública condicionada à representação, somente a vítima ou seu representante poderia praticar o
crime do art. 339 do CP, pois a investigação policial e o processo judicial dependiam de sua
manifestação de vontade. Com a nova lei, mesmo nesses crimes, o delito é comum, podendo ser
praticado por qualquer pessoa, pois a investigação administrativa, o inquérito civil e ação de
improbidade não dependem da iniciativa da vítima ou de seu representante.

1.4. SUJEITO PASSIVO

Primário: administração pública, mais precisamente a administração da justiça.

Secundário: pessoa atingida em sua honra objetiva.

O menor de 18 anos pode ser vítima de denunciação caluniosa? Depende:

Ver discussão acima da calúnia.


311
1ªC: o menor pode ser vítima de calúnia. Pode, assim, ser vítima de denunciação
caluniosa. Temos decisões do STJ neste sentido.

2ªC: o menor não pode ser vítima de calúnia. Assim, não pode ser vítima de denunciação
caluniosa.

1.5. CONDUTA

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Crime de execução livre: pode ser praticado por meios diretos, indiretos, por pessoa,
interposta pessoa etc.

“Investigação policial”: dispensa a formalização dessa investigação em inquérito policial,


basta que a notícia criminosa desencadeie atos investigatórios inúteis e criminosos. Não fala em
INQUÉRITO policial e sim investigação, dispensando a formalização.

“Processo judicial”: processo judicial penal. A doutrina diz que ele se forma com o
oferecimento da inicial. Cuidado, o art. 363 do CPP diz que o processo está perfeito com a
citação, embora a doutrina ainda insista que ele se forma com o recebimento da inicial.

“Investigação administrativa”: é imprescindível que esta tenha como objeto um ilícito


administrativo que corresponda a um crime.

“Inquérito civil”: é imprescindível que esta tenha como objeto um ilícito civil/extrapenal
que corresponda a um crime.

“Ação de improbidade”: é imprescindível que esta tenha como objeto um ato ímprobo
que corresponda a um crime.

Assim, perceba: se o ilícito não corresponder a um ilícito penal, é fato atípico. Exemplo:

DAR CAUSA A INSTAURAÇÃO DE....


AÇÃO DE IMPROBIDADE AÇÃO DE IMPROBIDADE
Ato ímprobo corresponde a crime. Ato ímprobo não corresponde a crime.
CP Art. 339. Dar causa à instauração de LIA - Lei nº 8429/92 - Art. 19. Constitui crime a
investigação policial, de processo judicial, representação por ato de improbidade contra
instauração de investigação administrativa, agente público ou terceiro beneficiário, quando o
inquérito civil ou ação de improbidade autor da denúncia o sabe inocente.
administrativa contra alguém, imputando-lhe
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
crime de que o sabe inocente:
Parágrafo único. Além da sanção penal, o
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
denunciante está sujeito a indenizar o
denunciado pelos danos materiais, morais ou à
imagem que houver provocado.

Grande potencial ofensivo. IMPO. Jecrim.

312
Este rol é taxativo. Não poderemos estender, por exemplo, para o caso de dar instauração
criminosa à CPI. Seria analogia in malam partem.

Doutrina diz que não existe o crime de denunciação caluniosa se o crime está com a
punibilidade extinta. Antes da lei 10.028 até poderia ser, todavia, hoje em dia somente se o crime
estiver com a punibilidade extinta em todas as situações previstas no tipo. Exemplo: extinção da
punibilidade pela renúncia da vítima. Isso não impede a investigação administrativa, o inquérito
civil ou a ação de improbidade.

É possível a denunciação caluniosa contra os mortos? Calúnia contra os mortos é


punida, conforme o art. 138§1º. E o art. 339? Não é punível.

CP
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala
ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

O tipo de crime imputado não interfere no crime praticado, que será sempre o art. 339,
todavia, poderá interferir na pena. Senão, vejamos:

1ª HIPÓTESE 2ª HIPÓTESE
O agente dá causa a investigação policial O agente dá causa a investigação policial
imputando a alguém o crime de estupro. O juiz imputando a alguém o crime de furto. O juiz deverá
deverá considerar na fixação da pena, art. 59 CP. considerar na fixação da pena, art. 59 CP.

1.6. TIPO SUBJETIVO

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

A maioria da doutrina, com base nesse final do art. 339, diz que somente é possível o dolo
direto, não seria possível o dolo eventual.

ART. 339
DOLO DIRETO DOLO EVENTUAL
Vontade de dar causa à instauração de Assume o risco de dar causa à instauração de
procedimento oficial imputando a vítima crime de procedimento oficial imputando a vítima crime de
que sabe inocente. que sabe inocente.
Exemplo: falo para um delegado que fulano assaltou Exemplo: falo para um amigo que é delegado, em
o Banco do Brasil, querendo que ele instaure um uma conversa informal, que fulano assaltou o Banco
procedimento. do Brasil, assumindo o risco de que o amigo
delegado não vá se limitar a ouvir e sim instaurar
procedimento policial.

Então, é possível o dolo eventual.

313
Não se admite o dolo superveniente, assim, aquele que de boa-fé, noticia um crime que
pensa praticado por pessoa indicada, não pratica denunciação caluniosa ainda que tempos depois
descubra que a revelação foi equivocada. O dolo tem que estar presente no momento que ele dá
a causa e não posterior.

1.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Quando este crime se consuma? No que diz respeito à investigação policial, dispensa a
formalização do inquérito policial. Nos procedimentos, basta dar causa à instauração dos
procedimentos previstos no tipo.

É possível a tentativa? É possível, no caso da carta escrita interceptada.

OBS: na calúnia a retratação extingue a punibilidade do caluniador, desde que antes da


sentença.

Na denunciação caluniosa a retratação extingue a punibilidade? Não. Isso porque aqui


não ofendemos somente a honra, mas a administração da justiça que já foi movida inútil e
criminosamente.

Hipótese: Y dá causa a instauração de uma investigação policial contra X, imputando-lhe


crime que sabe ser inocente. É instaurado o IP, e durante este, o delegado percebe que o crime
não ocorreu ou que ocorreu e X não é o criminoso. Aqui se pergunta: o MP deve aguardar o fim
da investigação, processo, e demais procedimentos inúteis e criminosamente instaurados para
oferecer denúncia?

1ªC: o MP, para propor a ação penal em razão do crime do art. 339 do CP, deve aguardar
o fim do procedimento criminosamente instaurado, a fim de evitar decisões conflitantes. Hungria.
Prevalece na doutrina.

2ªC: não é pressuposto da instauração de AP pelo crime do art. 339 a conclusão do


procedimento injustamente instaurado. A prova da inocência da pessoa que foi acusada
falsamente não depende do encerramento do procedimento, não bastasse, a AP no art. 339 do
CP é pública incondicionada. STF.

1.8. MAJORANTE: CAUSA DE AUMENTO DE PENA (art. 339 §1º)

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.


§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de
anonimato ou de nome suposto.

Por quê? Porque é mais difícil encontrar o agente caluniador.

1.9. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.


§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.

É a chamada “denunciação caluniosa privilegiada”. Passa a ser uma infração de


MÉDIO potencial ofensivo, permitindo a suspensão condicional do processo.
314
2. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO (ART. 340 CP)

2.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de


crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

2.2. ART. 339 x ART. 340

ART. 339 – DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA ART. 340 – COMUNICAÇÃO FALSA


Agente imputa infração penal inventada a pessoa O agente comunica a infração fantasiosa, sem
certa e determinada. imputar a alguém.
Grande potencial ofensivo: 2 a 8 anos de reclusão E IMPO: detenção de um a 01 a 06 meses OU multa.
multa.

2.3. SUJEITO ATIVO

Crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito.

Obs: sustenta-se, ainda, que na comunicação de crime de ação privada ou pública


condicionada, somente o titular do direito de queixa ou representação, poderá praticar a infração.

2.4. SUJEITO PASSIVO

A administração pública, mais precisamente a administração da justiça.

2.5. CONDUTA

Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de


crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Provocar a ação pelo menos investigativa, não precisa haver a formalização do IP. Se
discute quem é esta autoridade.

Exemplo: comunica a existência de um crime que sei que não existiu à PM. Pratico o crime
em tela? A jurisprudência diz que não, por que a polícia militar não está abrangida pela autoridade
do 340, só estaria abrangida a autoridade capaz de perseguir, apurar o crime. Desta feita, como
se sabe, a função da PM (salvo nos IPM), é preventiva, ostensiva.

Crime de execução livre.

2.6. TIPO SUBJETIVO

315
Discute-se se basta o dolo ou se é imprescindível uma finalidade especial animando o
agente. Temos duas correntes:

1ªC: além da vontade de comunicar falsamente a ocorrência da infração, exige-se


finalidade especial de provocar, inutilmente a ação da autoridade pública. Hungria.

2ªC: pouco importa a finalidade especial que animou o agente, bastando a vontade
consciente de comunicar à autoridade pública a ocorrência de infração fantasiosa. Damásio.
Prevalece.

E se o indivíduo comunica falsamente a ocorrência da infração, para utilizar a


confecção do BOC para acionar o seguro e assim se beneficiar? Pratica o art. 171, V + 340
ou o art. 171 absorve o 340 CP? Duas correntes:

1ªC: se a comunicação falsa for meio para fraudar seguro, o crime patrimonial absorve o
delito contra a administração da justiça. Princípio da consunção. Defensoria.

2ª: se a comunicação falsa visar fraude contra seguro, haverá concurso material de delitos,
tendo em vista que os dois crimes protegem bem jurídicos distintos, sendo inviável a consunção.
Prevalece.

2.7. TENTATIVA E CONSUMAÇÃO

A realização de qualquer ato no sentido de esclarecer a infração fantasiosamente relatada.


É perfeitamente possível a tentativa, por exemplo, na forma escrita.

3. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA (ART. 341 CP)

3.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado


por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

3.2. BEM JURÍDICO TUTELADO

Administração da justiça.

Não confundir. Senão, vejamos:

ART. 339 CP – DENUNCIAÇÃO ART. 340 CP – COMUNICAÇÃO ART. 341 CP – AUTO-


CALUNIOSA FALSA DE CRIME OU ACUSAÇÃO FALSA.
CONTRAVENÇÃO
Agente imputa ao inocente crime Comunica a autoridade crime ou O agente assume a paternidade
ou contravenção penal (neste contravenção penal (sem imputar de crime.
último caso, é a forma a alguém).
privilegiada).
OBS: Não abrange contravenção
penal. Fato atípico.

316
3.3. SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa pode praticar o crime. É um crime comum. Temos inclusive o que a
doutrina chama de auto calúnia.

OBS: não há crime na conduta do coautor ou partícipe que chama para si a


responsabilidade total do delito em que participou. O art. 341 exige que se assuma a paternidade
de um crime que nunca existiu ou crime de outrem.

3.4. SUJEITO PASSIVO

Administração pública, notadamente a administração da justiça.

3.5. CONDUTA

Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado


por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Em resumo, o delito consiste em o agente incriminar-se. Porém, incriminar-se perante a


autoridade. Precisa ser na PRESENÇA da autoridade? Não, o que importa é que chegue ao
conhecimento da autoridade, podendo ser praticado verbalmente ou por escrito.

3.6. TIPO SUBJETIVO

É punido a título de dolo.

Se o crime é cometido por motivo altruísta, o delito se mantém? Haverá o crime, ainda
que tenha o agente se levado por motivo altruísta. Por exemplo: pai assumindo a autoria de crime
cometido pelo filho. Não exclui o delito.

3.7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O crime se consuma no momento em que a autoridade toma conhecimento da


autoacusação falsa, não importando as ulteriores consequências. Chegou ao conhecimento da
autoridade, pronto, o delito está consumado.

Tentativa? Sim. Na modalidade escrita (carta interceptada). Prevalece, embora Hungria


diga que não.

Hipótese: Y comete crime ‘tal’, X assume a autoria. X não só assume a autoria, como
imputa a coautoria a Z. X diz: EU e Z cometemos o crime ‘tal’.

1ªC: 341 (autoacusação) e 339 (denunciação caluniosa) concurso formal imperfeito.


Capez.

2ªC: 341(autoacusação) e 339 (denunciação caluniosa) concurso material. Mirabete.

Não tem muito interesse prático, eis que haverá de qualquer forma a soma das penas.

317
4. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

4.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado
mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

OBS: não esquecer que pode ser perante juízo arbitral. Concurso adora isso.

4.2. OBJETO JURÍDICO TUTELADO

O estado chamou para si o monopólio da distribuição da justiça. O instrumento para dirimir


o conflito de interesses, é o processo. O processo é composto de várias etapas, em especial a
instrução. Na instrução, chamam à atenção as provas testemunhais e periciais. Logo, o crime do
art. 342 quer exatamente cercar a perícia e o testemunho com todas as garantias possíveis.
Fazendo isso, estamos garantindo a instrução, de forma a garantir o devido processo legal para
corretamente dirimir conflitos, de forma a distribuir corretamente a justiça. Desta feita, o objeto
jurídico é resguardar o prestígio da justiça.

4.3. SUJEITO ATIVO

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Estamos diante de um crime de mão própria ou de conduta infungível. Só pode ser


praticado pelos personagens contidos no tipo, nas situações previstas.

A testemunha que não presta compromisso, chamada de informante, pode praticar o


delito?

1ªC: Toda testemunha, compromissada ou não pode ser sujeito ativo do crime do art. 342,
a lei não diferencia, logo não cabe ao intérprete fazê-lo. Não bastasse, a testemunha não
compromissada, pode servir como argumento de condenação ou absolvição. Quem falou que o
juiz não pode utilizar o testemunho de um informante para basear seu julgamento? Noronha.

2ªC: Se a lei não submete a testemunha informante ao compromisso de dizer a verdade,


não podem cometer o ilícito do art. 342. Ora, se a própria lei não colhe delas o compromisso de
dizer a verdade, a lei não pode cobrar. PREVALECE. Pacífico.

A vítima pratica falso testemunho? Não. Pode, eventualmente, ser denunciação


caluniosa.
318
4.4. SUJEITO PASSIVO

Estado/administração, podendo concorrer pessoas prejudicadas com o falso testemunho


e/ou falsa perícia.

4.5. CONCURSO DE PESSOAS

Admite?

Resposta tradicional: tratando-se de crime de mão própria ou conduta infungível só admite


participação. Essa é a resposta tradicional. Não a coautoria.

Observação’: a falsa perícia admite a coautoria, quando o laudo for subscrito por dois
peritos. Na falta de perito oficial, dois não oficiais subscrevem.

Observação’’: para o STF, o advogado que induz testemunha a mentir é coautor de falso
testemunho. O STF trabalha aqui com a teoria do domínio do fato.

4.6. CONDUTA

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Fazer afirmação falsa: o agente distorce a verdade. “Falsidade positiva”.

Negar a verdade: o agente, apesar de saber a verdade, quando indagado, nega.


“Falsidade negativa”.

Calar a verdade: não se pronuncia sobre verdade que conhece. “Reticência”.

Não importa qual modalidade, o agente se desgarra da verdade. Mas, o que é verdade?
Verdade nada mais é do que perfeita correspondência entre a realidade e sua expressão. A falta
de correspondência entre a realidade e sua expressão, pode ocorrer de duas maneiras:

1ª: Erro (engano inconsciente). Acha que está narrando o que aconteceu.

2ª: Má fé (mentira). Sabe que não aconteceu ou tem conhecimento que não domina a
realidade. Aqui ocorre o crime.

É possível falso testemunho de fato verdadeiro? Sim. Exemplo: X não viu o acidente de
trânsito. Y o orienta a narrar o fato exatamente como aconteceu, como se X estivesse lá. Ou seja,

319
o fato verdadeiro narrado pela testemunha não é de seu conhecimento, ela é induzida a narrar
aquilo, passando para o juiz a imagem de que estava presente.

Situação1:

Conhecimento

| Correspondência.

Expressão

| Não há correspondência.

Realidade

Não há crime. Engano inconsciente.

Situação2:

Conhecimento

| Não há correspondência.

Expressão

| Há correspondência.

Realidade

Há crime. Mentira. Não corresponde ao que a testemunha sabe.

A falsidade não se extrai do depoimento da testemunha e a realidade, mas sim do


contraste do depoimento e a ciência da testemunha.

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial
(penal ou cível, contencioso ou voluntário), ou administrativo (abrange
inquérito civil e sindicância? Discute-se isso, há projeto no Senado),
inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

4.7. TIPO SUBJETIVO

O crime é punido a título de dolo, como visto acima, o engano não é punido.

4.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Trata-se de delito formal, consumando-se no momento que a testemunha, tradutor ou


intérprete, termina seu depoimento, lavrando a sua assinatura. No caso da falsa perícia
(testemunho, tradução, contagem ou interpretação por escrito), consuma-se no instante da
entrega do laudo à autoridade competente.

4.9. CONCURSO DE CRIMES

320
Uma testemunha mente no processo penal e no processo civil utiliza o mesmo depoimento
falso. Não desnatura a unidade do crime, que continua único. O juiz deverá considerar na
dosimetria da pena.

4.10. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A testemunha estava mentindo e acaba a energia elétrica no fórum (Hungria).


Testemunhas que depõem por escrito, carta é interceptada: tentativa.

OBS: Não se pensa arrependimento eficaz em delito formal e de mera conduta.

O juízo não precisa ser enganado pelo falso testemunho/perícia, basta a potencialidade
lesiva. Não precisamos do efetivo erro.

4.11. FALSO TESTEMUNHO NA CARTA PRECATÓRIA

JUIZO DEPRECANTE (SP) JUIZO DEPRECADO (BH)


Julga Colhe a prova.
A testemunha falta com a verdade.
Quem julga o falso testemunho?

A resposta é dada com o art. 70 do CPP. O crime se consumou em BH. Ou seja, juízo
deprecado.

CPP
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar
fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido
praticado, no Brasil, o último ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território
nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou
quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada
nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela
prevenção.

4.12. CAUSA DE AUMENTO (ART. 342§1º CP)

CP
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado
mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.

Abrange o falso testemunho ou falsa perícia praticados em inquérito policial.

4.13. RETRATAÇÃO (ART. 342§2º)


321
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
....
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em
que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

Vamos trabalhar com a retratação no caso de calúnia e difamação.

FALSO TESTEMUNHO OU PERÍCIA ART. 342§2º CALÚNIA E DIFAMAÇÃO ART. 143 CP


CP
“O fato deixa de ser punível” “O querelado fica isento de pena”.
A retração é circunstância objetiva comunicável aos A retratação é circunstância subjetiva incomunicável
concorrentes. Perceba: ao lado se falava em aos concorrentes.
querelado, aqui se fala em FATO.
Termo final: até a sentença de primeiro grau que Termo final: até a sentença de primeiro grau que
encerra o processo em que ocorreu o falso. encerra o processo criminal por calúnia ou
difamação.

OBS: em processo de competência do júri, é possível a retratação extintiva da punibilidade


mesmo após a decisão de pronúncia, desde que anterior à sentença de mérito.

Para se processar alguém por falso testemunho ou falsa perícia, devo aguardar o processo
em que ocorreu o falso?

1ªC: a ação penal, pelo crime de falso testemunho deve aguardar o encerramento do
processo em que ocorreu o falso, evitando-se conflito de decisões. Aliás, até o encerramento o
agente pode se retratar.

2ªC: a ação penal, pelo crime de falso testemunho ou falsa perícia não deve aguardar o fim
do processo em que ocorreu o falso, pois a ação penal é pública incondicionada e a eventual
retratação, é causa extintiva de punibilidade, resolutiva, e não condição suspensiva.

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