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A República Comunista Cristã Dos Guaranis - C. Lugon PDF
A República Comunista Cristã Dos Guaranis - C. Lugon PDF
Mas não, não foi só isso. O cristianismo de fato se difundiu por aqui.
Uma perspectiva cultural revela a complexidade da catequização
indígena – e da vida como um todo. As tramas culturais é que dão
sentido aos processos de colonização, resistência e sedução.
Dados geopolíticos
“Em face desses milhares de crianças e dos oito mil, quinze mil ou
vinte mil habitantes das cidades guaranis, compreende-se que as
maiores ‘cidades’ espanholas do Prata sentissem certo mal-estar.
Organização política
Não existia pena de morte. […] Alguns criminosos eram por vezes
transferidos para reduções longínquas. (p. 94)
Sociabilidades
Por sua parte, os coloniais também não tinham jamais cedido.” (p.
258)
Montesquieu.*
Voltaire.**
Buffon.
Soberanos nesse vasto país, tornam felizes, ao que se assevera, os
povos que lhes obedecem e que eles lograram dominar sem o
emprego da violência.
O jogo deu certo. Aquilo que outrora teria sido a mais inconcebível
de todas as coisas, acontecia agora: os chefes guaranis deixaram-se
embair e manifestaram sua confiança nos espanhóis, de quem
sempre haviam desconfiado quase tanto quanto dos portugueses, e
que, de resto, os tinham vendido pelo tratado de 1750. Esquecendo
o espírito de inquebrantável independência de seu povo, os
corregedores aceitaram o bastão de comandante espanhol, tão
desdenhosamente rejeitado pelos antigos caciques. Mais do isso:
escreveram uma carta ao rei de Espanha, Carlos III, onde não se
contentavam em agradecer calorosamente a Sua Majestade os
projetos estabelecidos para o seu povo; em substância, os
corregedores felicitavam-se de poder sair em breve do estado inferior
em que tinham vegetado sob a direção dos jesuítas, exprimindo a
esperança de verem seus filhos exercerem o ministério sacerdotal
em sua pátria, preencherem as funções cívicas e serem até
chamados à Corte de Madri.” (p. 300-1, grifo meu)
“O Dr. Rengger encontrou certo dia três jovens guaranis da tribo dos
caiaguás. Um deles levava um rosário pendente do pescoço e disse-
lhe ser cristão. O chefe da tribo, também designado por ‘padre’,
encontrava-se ocasionalmente pelas cercanias. Recebeu o visitante,
oferecendo-lhe inicialmente uma cruz e perguntando: ‘És pessoa de
paz?’ A minha resposta afirmativa, conta Rengger, ‘foi acompanhada
do presente de um colar de vidro. Deu pouca atenção a essa espécie
de liberalidade e pôs-se a caminhar conosco, fazendo um grande
discurso, mas sem me olhar, salvo, uma vez por outra, uma mirada
pelo canto do olho. Parava algumas vezes, sem dúvida para dar ao
meu intérprete o tempo de traduzir suas palavras, cujo sentido pode
resumir-se da seguinte maneira: – Vós sois brancos, Deus vos
concedeu todo o poder, todas as riquezas da terra, até no próprio
país que nos pertencia. Tendes belas casas, gado de que vos
alimentais e escravos que vos servem. Nós, índios, pelo contrário,
somos pobres, sem roupas, sem casas, forçados a percorrer as
florestas para não morrer de fome e reduzidos a viver nelas,
enquanto ocupais o belo país que era o nosso. É muito natural,
portanto, que repartais as vossas riquezas conosco e nos deis
presentes, para reparar essa grande injustiça: pois valemos tanto
quanto vós.'” (p. 330)
Conclusões