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ENSINO DE HISTÓRIA:
ESTUDOS DE GÊNERO
Reitor:
Prof. Dr. Marcelo Augusto Santos Turine - UFMS
Vice-Reitora:
Profa. Dra. Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Esporte:
Prof. Dr. Marcelo Fernandes.
Direção da Faculdade de Ciências Humanas:
2 Profa. Dra. Vivina Dias Sol Queiroz
Coordenação do Curso de História:
Prof. Dr. Cleverson Rodrigues
Rede:
www.revistasobreontes.site
Coordenação
Everton Crema e Dulceli T. Estacheski
DE MANAUS NA DÉCADA DE 1980 por Vanessa Cristina da Silva Sampaio .............................. 481
A ESCOLA CONSERVADORA EM BORDIEU: DESAFIOS AO ENFRENTAMENTO DOS PARADIGMAS
HETERONORMATIVOS POR MEIO DA EDUCAÇÃO EM GÊNERO por Victor Hugo de Almeida
França e Pablo Afonso Silva ...................................................................................................... 486
DA MULHER PARA A MULHER: A CONDUTA DA RAINHA DO LAR NA DÉCADA DE 50 ATRAVÉS DA
REVISTA O CRUZEIRO por Vitória Duarte Wingert e Jander Fernandes Martins ...................... 493
POR UMA HISTÓRIA DA BELEZA E DO CORPO: O USO DO INSTAGRAM NAS AULAS DE HISTÓRIA
por Vitória Diniz de Souza ......................................................................................................... 501
ENSINO DE HISTÓRIA: ESTUDOS DE GÊNERO
Dulceli de L. Tonet Estacheski e Jaqueline Ap. M. Zarbato
Referências biográficas
Referências bibliográficas
SCOTT, Joan. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu. (3)
1994. 11- 84.
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A REVOLUÇÃO CUBANA: REPRESENTAÇÕES GENERIFICADAS
EM UM LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA
Andréa Mazurok Schactae
O texto publicado em 1959, por Ernesto Che Guevara, pode ser lido como
fundante do mito da Revolução dos Guerrilheiros, sendo a guerrilha e os
guerrilheiros os sujeitos da vitória. O movimento urbano é esquecido, nesse
texto, bem como a participação das mulheres na guerrilha. No outro texto,
ele segue com essa construção discursiva, pois ao colocar o Estado, o
Partido e os homens de vanguarda – os guerrilheiros –, como encarregados
de educar o povo para o socialismo [GUEVARA, 1965], sendo assim, ele
define quem foram os sujeitos que construíram e legitimam a Revolução
Cubana.
Voltando o olhar para o livro didático como construtor de sentido, cabe uma
análise dos sentidos que estão sendo apresentados nos livros didáticos,
sobre a Revolução Cubana. Conforme destacam Itamar Oliveira e Margarida
Oliveira [2014],
Referências
Dra. Andréa Mazurok Schactae, professora de História do Instituto Federal
do Paraná (IFPR); professora do Mestrado Profissional em História, na
UEPG; Coordenadora do Grupo de Estudos Cultura, Identidades e Gênero,
no IFPR; Coordenadora do NEABI, Campus IFPR Telêmaco Borba. Contato:
andrea.schactae@ifpr.edu.br
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CULTURA E PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO CONTEXTO URBANO
EM CAMPO GRANDE/MS/BRASIL E EM MAR DEL
PLATA/ARGENTINA: PROPOSIÇÕES PARA ANÁLISE DAS
COLEÇÕES FEMININAS EM MUSEUS
Jaqueline Ap. M. Zarbato
“os patrimônios culturais são estratégias por meio das quais grupos sociais
e indivíduos narram sua memória e sua identidade, buscando para elas um
lugar público de reconhecimento, na medida mesmo em que as
transformam em ‘patrimônio’. Transformar objetos, estruturas
arquitetônicas e estruturas urbanístísticas em patrimônio cultural significa
atribuir-lhes uma função de ‘representação’, que funda a memória e a
identidade. (...) Os patrimônios são, assim, instrumentos de constituição de
subjetividades individuais e coletivas, um recurso à disposição de grupos
sociais e seus representantes em sua luta por reconhecimento social e
político no espaço público.”
Nos anos 1950, a UNESCO passou a ser o órgão que retomou a orientação e
regulação internacional destinada à preservação dos bens patrimoniais
históricos culturais. Entre as propostas da UNESCO está o planejamento
urbano como principal ferramenta de preservação, e também
encaminhamentos sobre as normas e cartas patrimoniais. Funari e
Pelegrini(2009,p. 10) destacam que a noção de patrimônio (patrimonium)
se referia, aos antigos romanos, a tudo que pertencia ao pai, paters ou
paters família, pai de família.
“A paisagem não é mais esse bonito fundo sobre o qual se destacam belos
objetos escultóricos chamados de arquitetura, mas o lugar no qual pode
instalar-se uma nova relação entre os não-humanos e os humanos: um
fórum cósmico onde devemos reescrever toda a herança recebida; a
democracia estendida às coisas, em novo pacto.” (ÁBALOS, 2004, p. 2).
Referências
Jaqueline Ap. M. Zarbato, doutora em História. Docente no curso de
História/UFMS. Docente no Profhistória/UFMT e PPGE/CPTL. Coordenadora
23
do Grupo de Pesquisa Ensino de História, Mulheres e patrimônio( GEMUP).
Por exemplo, quando está prestes a partir para uma missão no front, Diana
se depara com soldados britânicos feridos retornando do conflito no
continente: homens feridos e aterrorizados com o que testemunharam.
Veteranos que perderam braços e pernas em conflitos reais foram utilizados
como figurantes nessa cena, a fim de reforçar a tensão e a atmosfera da
cena (BUCKLAND, 2017). Essa composição traduz em imagens a percepção
de que a guerra em andamento é um conflito sem esperanças, sem heróis e
de proporções inimagináveis. Deste modo, o filme simultaneamente
introduz Diana e o espectador a este mundo no qual a guerra não é um
tópico glorioso, mas o auge da desolação e do terror.
Considerações
Em meio ao núcleo temático do filme, uma questão se sobressai: há lugar
para uma amazona no Mundo dos Homens?
Referências
Maristela Carneiro é professora da UFMT, junto ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea - ECCO. Doutora em
História pela UFG.
Vilson André Moreira Gonçalves é professor da SEDUC/MT e digital
influencer, administrador da página História da Arte com o Tio Virso
(@hadevirso). Doutor em Comunicação e Linguagens pela UTP.
Introdução
A violência sexual nem sempre despertou os mesmos sentimentos, valores
e respostas jurídicas (VIGARELLO, 1998). Como outras formas de violência, 31
ela é indissociável do contexto que a produziu, recebendo diferentes
sentidos e tratamentos ao longo do tempo e espaço. Inclusive a vergonha
derivada da agressão variou dependendo da identidade da vítima e da
imagem que dela se tinha. Tais mudanças nas definições, imagens,
tratamentos e limites da tolerância da violência sexual denotam, portanto, a
historicidade e a força de suas representações na vida social.
Para finalizar...
Após a Segunda Guerra Mundial, os livros didáticos, especialmente dos
países envolvidos nesse conflito, se tornaram alvo de vigilância e controle
por parte de instituições internacionais, como a Unesco, pelo receio de que
visões estereotipadas de grupos e populações pudessem instigar novamente
uma guerra entre nações (BITTENCOURT, 2011, p. 489). Hoje, as memórias
de estupros de guerra devem suscitar também preocupações e avaliações.
Trata-se de memórias domesticadas por histórias capazes de despertar
sentimentos misóginos e desejos de dominação sexual das mulheres como
forma de guerra, governo, resolução de conflitos e demonstração de poder
e masculinidades viris; constituindo-se em potentes referenciais políticos
onde o principal inimigo e oponente passa a ser o corpo das mulheres,
especialmente de mulheres racializadas.
Referências
Dra. Susane Rodrigues de Oliveira é historiadora e professora associada do
Departamento de História da Universidade de Brasília, atuando na área de
Teoria e Metodologia do Ensino de História. Este trabalho é resultado da
pesquisa de pós-doutorado realizada na Unicamp (2018) e no Instituto de
Investigaciones Feministas da Universidad Complutense de Madrid (2018-
2019).
Uma versão mais ampla deste texto foi publicada na Revista Tempo e
Argumento (Udesc). Cf.
http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/21751803112820194
66.
Durante esse período, a tortura passou a ser a linguagem usada pelo Estado
para se comunicar com a oposição. Todo o tipo de violência poderia ser
usada contra os que não se subordinassem às determinações autoritárias
dos que ali representavam o governo. Para as militantes femininas, as
torturas eram acompanhadas de abusos psicológicos e violência sexual. “O
corpo da mulher, sempre objeto de curiosidade, tornou-se presa do desejo
maligno do torturador e ficou à deriva em suas mãos.” [ARANTES, 2010, p.
33].
Referências
Alethéia Paula Lapas Prado, Professora de História para os anos finais do
ensino fundamental, na Rede Pública Estadual de Mato Grosso. É mestre em
Ensino de História pelo Programa Prof. História – UFMT.
Exposto isso, o presente artigo irá contar com análises a respeito das
práticas e representações culturais associadas a esta modalidade. Sendo
assim, o conceito aqui proposto sobre a palavra cosplay, pode ser entendido
como uma amostra de afinidade e identificação por uma personagem
favorita ou admirada em determinadas narrativas, levando a uma
reprodução e performance inspirada nestas personagens.
Dessa forma, podemos fazer uma alusão com a concepção sobre transe,
possessão e consequentemente o êxtase religioso, o qual Lewis [1977]
aborda. Ele expõe em sua obra: “êxtase religioso: um estudo antropológico
da possessão por espírito e do xamanismo” como o transe se configura,
dado que ele emprega um sentido médico a palavra como: “estado de
dissociação, caracterizado pela falta de movimento voluntário, e,
frequentemente, por automatismo de ato e pensamento, representados
pelos estados hipnótico e mediúnico” [LEWIS, 1977, p.41], isto é, significa a
ausência temporária ou completa da alma do indivíduo, representando até
mesmo uma possessão.
Como Lewis [1977] ressalta em sua obra, os estados de transe podem ser
induzidos por diversas formas de estímulos. Portanto, ao pensarmos no
indivíduo em um estado de transe, ele estaria obtendo uma condição limiar
entre os dois planos. A pessoa, ou melhor, o cosplayer, por trás da
personagem precisa ser apagada, para assim dar espaço somente à
personagem [CÉ, 2014].
Dessa forma, o cosplayer empresta seu próprio corpo e, sendo uma das
grandes responsáveis, a empatia ao se identificar com o personagem de
determinada narrativa [SOARES, 2013]. Contudo, o êxtase em se fantasiar
pode variar, mas a sensação de diversão e idealização de uma vida livre das
normas é um fator que prevalece majoritariamente, pois esses cosplayers: “
Eram jovens/as que encontravam, nessa prática mutável e flutuante, uma
maneira de se transformarem em algo que não conseguem ser ou atuar em
suas experiências cotidianas e adquirir um reconhecimento pelas
habilidades construídas para esse fim. ” [ALMEIDA, 2017, p.179].
Posto isto, podemos dizer que de acordo com regras encontradas nas mais
diversas sociedades, os gestos e comportamentos são o que demarca uma
identidade de gênero. Vale ressaltar que não existe uma maneira certa de
comportamento, mas sim padrões impostos [CÉ, 2014]. Logo, os adeptos
da prática crossplay ao assumirem uma performance de gênero subversiva
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em um primeiro momento pode ser um choque, mas o mesmo é
considerado “menos nocivo” quando relacionado a um palco e/ou
espetáculo.
Referências
Alexia Henning: graduanda de Licenciatura em História pela Universidade
Estadual de Maringá. Membro do Laboratório de Estudos em Religiões e
Religiosidades (LERR/UEM) sob orientação da professora doutora Vanda
Fortuna Serafim. E-mail: alexiahenning330@gmail.com.
Vanda Fortuna Serafim é professora e doutora Adjunta na Universidade
Estadual de Maringá, atua nos cursos de graduação em História (presencial
e EAD) e Pedagogia (EAD); é docente do Programa de Pós-graduação em
História (PPH-UEM). Atua como pesquisadora/docente do Núcleo de
Pesquisa em História Religiosa e das Religiões (CNPQ), no Grupo de
Trabalho em História das Religiões e das Religiosidades (ANPUH) e no
Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades (UEM). E-mail:
vandaserafim@gmail.com.
ALMEIDA, Nadja Rinelle Oliveira de. "Óh! Fui eu que fiz!": a saga de jovens
cosplayers e seus fazeres educativos. 2017. Tese (Pós-Graduação em
Educação) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.
BARBOZA, Renata Andreoni; SILVA, Rogério Ramalho da. Subcultura
Cosplay: a Extensão do Self em um Grupo de Consumo. Revista Brasileira
de Marketing - REmark , São Paulo, v. 12, n. 2, p. 180-202, jan. 2013.
CÉ, Otavia Alves. Silenciamento ou subversão? Representação do papel
social da mulher no discurso performático das crossplayers de mangá.
2014. Tese (Pós-Graduação em Letras) - Universidade católica de Pelotas,
Pelotas, 2014.
CORTINHAS, Rosangela. Figurino: um objeto sensível na produção do
personagem. 2010. 7 - 75 p. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) -
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2010.
ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
FURUKAWA, Carolina. "Cosplay": Identidades na hipermodernidade. 2008. 8
- 121 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
56
GOFFMAN, Erving. A Representação do Eu na Vida Cotidiana. 10. ed. [S. l.]:
Editora Vozes, 2002.
JUNIOR, Leconte de Lisle Coelho. Cosplayers no Brasil: O Surgimento de
Uma Nova Identidade Social na Cultura de Massas. 2008. Tese (Doutor em
Psicologia) - Universidade Federal do Espírito Santo, [S. l.], 2008.
LEWIS, Ioan M. Êxtase Religioso: um estudo antropológico da possessão
por espírito e do xamanismo. SP, Perspectiva, 1977
LE BRETON, David. Desaparecer de si: Uma tentação contemporânea. [S.
l.]: Editora Vozes, 2018.
MARLET, Ramon Queiroz. Transportation em narrativas transmídia: estudo
sobre os efeitos cognitivos e sociais da exposição dos fãs a um universo
ficcional multiplataforma contemporâneo. 2016. Dissertação (Pós-
Graduação em ciências da comunicação) - Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2016.
NACIFLL, Maria Cristina Volpi. O vestuário como princípio de leitura do
mundo. Rio de Janeiro: [s.n.], 2007. 1 - 10 p.
NOLETO, Rafael da Silva & ALVES, Yara de Cássia. 2015. "Liminaridade e
communitas - Victor Turner". In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo:
Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia.
NUNES, Monica Rebecca Ferrari. A cena cosplay: vinculações e produções
de subjetividade. FAMECOS, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 430-445,
maio/agosto. 2013.
OLIVEIRA, Vitória Barros de. ‘#ATTACK ON TITAN:” Engajamento
transmidiático em comunidades de fãs no Tumblr. 2018. Dissertação
(Programa de Pós-graduação em Comunicação Social) - UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MINAS GERAIS, Belo Horizonte, 2018.
PAES, A. C. L. Transe e Cosmogonia: Uma análise do Grande Casamento
em As Brumas de Avalon (1982). In: V. Simpósio do GT História das
Religiões e Religiosidade Regional Sul – ANPUH. Passo Fundo, Rio Grande
do Sul, 2017.
SERAFIM, V. F. O significado da indumentária para os orixás. In: SIMILI, I.
G.; VASQUES, R. S. (Orgs). Indumentária e moda: caminhos investigativos.
Maringá: EDUEM, 2013, p. 71-84.
SILVA, Cláudia Neves da; LANZA, Fabio. O sagrado no cotidiano ocidental:
corpo místico e êxtase religioso. Londrina: UEL, 2009.
SILVA, Wagner Alexandre. Comunicação, consumo e colecionismo:
produção de memórias e práticas identitárias do fã-colecionador de estátuas
e dioramas bishoujo. 2015. Dissertação (Mestre em Comunicação e Práticas
de Consumo) - Escola superior de propaganda e marketing? ESPM/SP
programa de mestrado em comunicação e práticas de consumo, Curitiba,
2015.
SOARES, Gabriel Theodoro. Cosplay: imagem, corpo, jogo. 2013.
Dissertação (Pós-Graduação comunicação e semiótica) - Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.
TURNER, Victor W. O processo ritual: Estrutura e Antiestrutura. Petrópolis:
Vozes Ltda, 1974. 5 - 248 p.
57
A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E O ISOLAMENTO SOCIAL DAS
MULHERES: REFLETINDO SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR NO BRASIL
Aluizia do Nascimento Freire e Claudia Regina Nichnig
Cito um trecho de Margarete Rago que afirma: “no Brasil isso se deu a
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reprodução de uma sociedade patriarcal, na qual o homem era considerado
o sujeito capaz e habilitado a atuar publicamente, enquanto a mulher ficava
restrita ao lar e a educação dos filhos”. A constatação de que essa situação
ainda se reproduz de maneira parcial na atualidade e de que, devido a
terem sido historicamente excluídas, tanto legalmente quanto socialmente
da vida pública, elas são excluídas de participar de atividades ainda
inerentes ao sexo masculino (RAGO, 2004, p.32).
Referências
Aluizia Freire do Nascimento é professora de História da Rede Municipal de
Ensino do Rio Grande do Norte, é graduada em história, mestra em Serviço
Social, pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte),
doutoranda em História pela UFGD (Universidade Federal da Grande
62
Dourados).
Claudia Regina Nichnig é professora visitante do Programa de Pós-
Graduação em História, da Universidade Federal da Grande Dourados –
UFGD. É pós-doutora em História, pela Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC e em Antropologia Social pela École des hautes études en
sciences sociales – EHSS, em Toulouse/França. É doutora pelo programa
Interdisciplinar em Ciência Humanas da UFSC, na área de Estudos de
Gênero.
Os temas voltados para educação das relações raciais devem integrar todo
o currículo escolar. Dito de outra forma, as temáticas devem ser inseridas
em todas as disciplinas e durante todo o ano letivo e não de maneira
folclórica e festiva. É preciso problematizar essas questões constantemente
a fim de provocar uma reflexão-ação, desenvolvendo nos discentes postura
crítica e respeitosa frente as diferenças. Para SILVA [2007] a educação das
relações étnico-raciais tem como objetivo:
(...) Eu já sofri racismo na minha própria casa, alguns dos meus parentes
que faziam isso comigo. Eu ficava ouvindo várias vezes eles dizendo:
Gorda, feia, cabeça de cupim, preta, etc. Diziam que preto rouba, que eu
não tomava banho porque era preta. Mas eu já superei tudo isso, não me
importo com o que dizem sobre mim. Mas quando eu li a história dela me
emocionei, porque, cara! Ela é foi muito corajosa e maravilhosa. Na minha
casa eu chorei. Ela é magnífica. E o incrível é que foi graças a Firmina que
hoje nós negras fazemos o que no passado nenhuma negra fazia. (Relato
do diário de trabalho da aluna F do 8º ano do Ensino Fundamental II,
2019).
Quando nos voltamos para a história das mulheres negras o silêncio é ainda
mais taciturno. A mulher negra escravizada era considerada não mulher,
era uma mercadoria que dava lucro, seja através do trabalho pesado, seja
no seu valor de procriação. Se para as mulheres brancas restava o espaço
do lar, para as mulheres negras, nada restava, ela era o outro do outro, ou
seja, era duplamente inferiorizada. Para as mulheres negras não restou o
“encanto” de viver a maternidade. Elas trabalhavam nos campos, grávidas
e, quando tinham seus filhos, continuavam trabalhando de sol a sol, com
seus filhos amarrados pelas costas.
Segundo DAVIS (2016), as mulheres negras não podiam ser mães e dona
de casa, elas trabalhavam tanto quanto os seus companheiros, e em
relação a elas, eles não tinham privilégios:
Tendo à frente Bertha Lutz, a FBPF será o ponto de partida para a criação
de várias outras associações de mulheres em todo o Brasil, caracterizando-
se como a primeira entidade de mulheres a nível nacional. Torna-se assim,
a principal responsável pela luta sufragista no Brasil, uma luta que se
travou quase que exclusivamente a nível parlamentar. Apesar de toda a
influência das sufragistas norte-americanas, jamais adotou o “terrorismo
feminista” como tática para chamar atenção às lutas das mulheres.
[COSTA; SARDENBERG, 2008, p.37].
Referências
Ana Paula Lima Cunha é mestranda do Programa de Pós Graduação em
Relações Étnico- Raciais (PPGER) – UFSB. Especialista em Educação em
Gênero e Direitos Humanos (UFBA). Graduada em História (UNEB).
Professora efetiva de História do município de Eunápolis – Ba. E-mail:
anaclio2010@gmail.com.
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FEMINISMO E SUAS VERTENTES: A IMPORTÂNCIA DE
ENTENDER AS PECULIARIDADES DO FEMINISMO NEGRO
Ana Beatriz Siqueira Bittencourt e Juliana Otero Nogueira
Referências
Ana Beatriz Siqueira Bittencourt e Juliana Otero Nogueira são mestrandas
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do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal
Fluminense, tendo ambas concluído a graduação na mesma instituição. Este
artigo é, portanto, fruto de questionamentos coletivos acerca dos debates
de gênero e suas aplicações no cotidiano e em sala de aula.
A Orientação Sexual como tema transversal proposto pelos PCN’s deve ser
entendida como um processo de intervenção pedagógica, cujo objetivo é
transmitir informações, problematizar questões e ampliar o leque de
conhecimento e opções referentes à sexualidade, incluindo posturas,
ideologias, crenças e tabus, propiciando debates e discussões a ela
relacionada, para que o próprio aluno escolha seu caminho de forma
consciente.
A escola é, sem dúvida, uma das instituições que mais reflete as regras
sociais, cuja atuação e funcionamento têm papel decisivo na construção do
sujeito. A escola é um local reconhecido pelo grupo social como
transmissora de informações, habilidades e valores culturais, socialmente
compartilhados.
Considerações
Através deste projeto foi possível perceber o universo dos conflitos
presentes nas escolas e nos ambientes familiares desde o início do século
perpassando os meios midiáticos. Podemos observar que os estudiosos de
sexo/sexualidade e educação/orientação sexual são unânimes em afirmar
que a sexualidade poderá ser extremamente gratificante se a criança e o
adolescente tiver uma orientação bem direcionada que os levem a escolher
bem seus parceiros e souber tomar decisões e atitudes no momento certo,
para não ser surpreendido por problemas como gravidez indesejada ou por
Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Um trabalho de orientação sexual sério possibilita a explicação dos medos e
a abordagem de diferentes mitos e preconceitos culturais de forma segura.
Segundo Moser (2002, p. 25) a primeira grande lição que os pais devem dar
a seus filhos, é revelarem uma vida sexual equilibrada, de respeito mútuo,
de ajuda e de renuncia. Esta é a grande lição de vida, ou seja, os pais e os
mestres precisam ajudar as crianças e os adolescentes a se libertarem, a
serem eles mesmos.
84
O educador deverá conhecer a si próprio, sua própria sexualidade, para que
possa de modo aberto desenvolver um trabalho onde tenha condições de
falar de sexualidade com clareza, sem reticências e sem receios,
antecipando informações que possam chegar deturpadas e sejam causa de
danos irreversíveis na vida dessas pessoas.
Referências
Professora da educação básica no Maranhão e professora bolsista do Parfor
História (Programa de formação de professores da educação básica) pela
Universidade Federal do Maranhão. Possui graduação em História e
Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (2007). Especialista em
Psicopedagogia pela Faculdade Internacional de Curitiba e Psicologia da
Educação pela Universidade Estadual do Maranhão Mestrado em Historia
Profissional pela Universidade Estadual do Maranhão e Doutoranda em
Educação pela Universidade Estadual do Ceará.
E-mail:napaularenaldo@gmail.com
Graduanda do Curso História Parfor (Programa de formação de professores
da educação básica)da Universidade Federal do Maranhão e Professora da
Unidade Escola Básica Emília de Araújo Melo em 2018-2019.
O texto aborda a história da criação de dois símbolos que têm relação com
86 a história da mulher e dos movimentos feministas. O Primeiro é a adoção da
cor lilás como símbolo do movimento feminista, em âmbito internacional, e
o segundo é a boneca Aboymi, como referência às mulheres negras no
Brasil. Realiza-se a descrição da origem histórica dos símbolos e dos seus
possíveis usos no ensino de história, com crianças, nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. O estudo analisa as produções pedagógicas
resultantes do trabalho realizado com graduandos do curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Alagoas, na disciplina Saberes e Metodologias do
Ensino de História II – SMEH II (2017-2019) e no projeto de extensão
“Raízes Negras do Brasil e de Alagoas: por uma História recontada nas
escolas” (2018-2019).
Os símbolos em questão
Nas atividades pedagógicas desenvolvidas no campo da educação, formal e
não formal, a cor lilás tem sido utilizada como símbolo da causa feminista:
da luta das mulheres por dignidade e igualdade nas relações sociais,
equidade nas condições de trabalho, direitos civis e liberdade sexual.
Segundo a pesquisadora Ana Isabel Álvarez González [2010], a cor lilá foi,
inicialmente, adotada como a cor oficial do movimento feminista em âmbito
internacional para recordar um incêndio ocorrido, em 1911, numa fábrica de
produção de roupas femininas em Nova York, quando em torno de 146
pessoas formam mortas. O mito trata de uma fábrica que teria sido
incendiada, de propósito pelo proprietário, em represaria à recursa das
trabalhadoras de desenvolverem suas funções em condições indignas de
trabalho. Assim, o empresário teria fechado as portas e ateado fogo na
fábrica, devido a um movimento grevista.
“No outono de 1910, o serviço de controle sanitário de Nova York (New York
Joint Board of Sanitary Control) investigou as condições de 1.243 oficinas
têxteis da cidade Dessa, 99% foram declaradas inadequadas em matéria de
segurança; 14 não possuíam saídas de incêndios; em 101 foram detectadas
escadas defeituosas; 491 tinham apenas uma saída; em 23, as portas
permaneciam fechadas com chaves durante o dia; 58 estavam
insuficientemente iluminadas; em 78, os acessos às saídas de incêndio
estavam bloqueados e as portas de 1,172 (94%) abriam para dentro”
[Gonzalez, 2010, p. 35].
Embora a cor lilás não esteja relacionada ao fenômeno histórico citado, ela
é o símbolo que agrega o conjunto dos movimentos e práticas feministas
surgidos a partir das lutas das mulheres por direitos. Assim, usualmente,
aparece na exposição dos trabalhos das feiras de ciências e nas imagens e
produções expostas nas escolas no dia Internacional da Mulher, ou em
eventos que tratam sobre gênero e violência contra a mulher.
Considerações
Os materiais (jogos) e as atividades pedagógicas (oficinas de produção de
Abaoymi) produzidos na disciplina SMEH II e no projeto de extensão “Raízes
Negras”, mesmo lembrando da situação de desqualificação da mulher na
história e os processos de silenciamento da mulher negra como mãe,
esposa e filha, mostram que esta condição não é natural e que a luta e a
resistência das mulheres foram e são os meios necessários para o
reconhecimento da mulher como sujeito histórico produtor de cultura e de
resistências, que interferem na transformação das práticas culturais,
econômicas e políticas constituídas por elas, com elas, para elas e entre
elas.
Referências
Andréa Giordanna Araujo da Silva é professora da disciplina Saberes e
Metodologias do Ensino de História do Curso de Pedagogia e Programa de
Pós-Graduação em História da UFAL, pesquisadora do “Grupo de Estudos
Ensino, História e Docência” e Líder do Grupo de Pesquisa “História da
Educação, Cultura e Literatura”
[https://cedu.ufal.br/grupopesquisa/gephecl/].
ADORNO, Theodor; HORKEIMER, Max. Dialética do esclarecimento.
Tradução Guido de Almeida, Rio de Janeiro: Zahar, 1988.
BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
GELEDÉS. Bonecas Abayomi: símbolo de resistência, tradição e poder
feminino. 22 mar. 2015. Disponível em:
https://www.geledes.org.br/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-
tradicao-e-poder-feminino/.
93
Acesso em: 06 nov. 2019.
GOMES, Edlaine et al. A boneca Abayomi: entre retalhos, saberes e
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GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. As origens e a comemoração do dia
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<http://radioagencianacional.ebc.com.br/cultura/audio/2016-09/abayomis-
amuleto-que-diminuia-dor-de-criancas-nos-navios-negreiros>. Acesso em:
6 nov. 2019.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019
______. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento: Justificando,
2017.
SILVA; Anielle; DAMASCENO, Emanoela Damasceno. Relatório de
Experiência Pedagógica. Maceió: UFAL/SMEH II, 2019.
Tendo a história das mulheres como parâmetro, para uma análise profunda
dos livros didáticos, para falar dos sujeitos históricos, falar da história das
mulheres que participaram dos processos e acontecimentos histórico,
necessária é uma análise epistemológica, pois, pensar a epistemologia nos
95
faz avaliar como o campo dos conceitos é responsável por produzir os
conhecimentos, e entre eles, o conhecimento histórico.
A luta pela representação das mulheres e das demais minorias políticas nos
livros didáticos é complicada, pois, por mais que exista o latente conflito
entre estabelecer a historiografia nos parâmetros do materialismo histórico,
ainda há dificuldades em abordar estes conteúdos, conforme sinaliza
BITTENCOURT:
Pontuando mais uma vez a presença das mulheres nos livros didáticos do
Sesi, passemos a segunda série do ensino médio, onde o enfoque é dado as
mulheres operárias, uma abordagem muito breve e superficial, e que foca
especialmente nas condições precárias e insalubres que as mulheres
estavam expostas, porém, uma questão interessante trazida pelo material é
98
a ascensão dos movimentos sociais de luta pelo direito das mulheres, que
impulsionaram as trabalhadoras têxtis a irem as ruas, especialmente nas
greves de 1917, que desembocaram na famosa revolução russa.
Algumas considerações
Como fora apontado ao longo deste ensaio, o protagonismo das mulheres
ainda é superficial nos livros didáticos, em especial nos livros da escola Sesi
aqui analisados, a ausência de um debate latente sobre as questões de
gênero e a relação entre homens e mulheres falta no material, assim como,
uma maior expansão do protagonismo feminino, para além das mulheres
brancas e operárias.
REFERÊNCIAS
Andresa Fernanda da Silva, graduanda do curso de Licenciatura em História,
pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
(UFMS/CPTL), e-mail: andresa.fernanda1606@gmail.com
Pablo Afonso Silva, graduando do curso de Licenciatura em História, pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
(UFMS/CPTL), integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação de
Professores (GForP-UFMS/CPTL), e-mail: pabloafonsosilva@hotmail.com
“[...] Para a mulher que decide voltar a estudar, são várias as dificuldades
enfrentadas entre a matrícula e a permanência nas aulas, ou seja, contar
com o apoio do marido, parentes, filhos, patroas ou com a violência física e
psicológica; luta solitária pela sobrevivência deixar de ser obediente ao
marido e brigar pelo seu direito de estudar; assumir, no contexto
profissional, a opção pelo estudo e enxergar que o marido não tem o direito
de impedir que ela prossiga seus estudos. Sentar nos bancos escolares
representa o nascimento de uma nova vida, valorizada e reconhecida, por
ser alguém que adquiriu conhecimentos no contexto escolar.” [CAMARGO,
2014, p. 131]
Mas essa é uma questão que vai além do debate sobre educação, perpassa
também pela esfera do gênero, mais especificamente a desigualdade entre
os gêneros. Nas palavras da historiadora Joan Scott “O gênero se torna,
aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais” – a criação
inteiramente social das idéias sobre os papéis próprios aos homens e às
mulheres.” [SCOTT, 1989, p.07]. Ou seja, gênero é caracterizado pela
construção de atitudes e comportamentos em sociedade.
Isto é, a necessidade de cuidar dos filhos e da casa requer muito tempo das
mulheres que muitas vezes são encarregadas desses serviços sozinhas.
Então muitas vezes se veem sem opção e obviamente sem tempo para o
retorno a escola. O retorno às escolas revela muitas coisas. Resistências,
identidades, lutas por igualdades entre outros. “A volta à escola como
passageiros da noite e do dia em itinerários pelo direito a um justo viver é
uma firmação de coragem.” [ARROYO, 2017, p. 242]
Isso reflete de certo modo no perfil social das mulheres que estão
matriculadas nas turmas de EJA. Haja vista que muitas delas em sua
juventude não tiveram oportunidades de concluir seus estudos.
Referências
Jakson dos Santos Ribeiro – Professor Adjunto I, Doutor em História Social
da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (2018). Mestre em História
Social pela Universidade Federal do Maranhão (2014). Especialista em
História do Maranhão pelo IESF (Instituto de Ensino Superior Franciscano)
(2011). Graduado no Curso de Licenciatura Plena em História da
Universidade Estadual do Maranhão (Centro de Estudos Superiores de
Caxias-MA) (2011). Coordenador do Laboratório de Teatro do Centro de
Estudos Superiores de Caxias – CESC – Campus/UEMA.
Antonia Stephanie Silva Moreira é graduanda em Licenciatura Plena em
História, pelo Centro de Estudos Superiores de Caxias, da Universidade
Estadual do Maranhão – CESC/UEMA.
Neste breve texto, fazendo uso, ainda que nas entrelinhas das
107
pesquisadoras citadas, busco apresentar algumas possibilidades de ensino
de história através de trajetórias e/ou estudos de caso de mulheres numa
abordagem regional e local, permitindo sua aplicabilidade em sala. A origem
deste trabalho parte da inquietação de contrapor algo que durante muito
tempo foi denominada “história nacional”, a qual privilegiava alguns locais e
regiões como centro dos acontecidos históricos. Com isso, a história de
determinados espaços e pessoas acabou sendo subtraída não apenas da
historiografia, mas da, ainda, principal ferramenta de ensino no Brasil, o
livro didático.
“O vago conceito de região, pela imprecisão dos seus limites espaciais, não
desvenda um sistema de relações explícitas ou implícitas como os de classe
social ou capitalismo. Uma região define-se do mesmo modo que uma
localidade, em relação aos seus componentes de tempo, espaço, etnia,
cultura, atividade econômica e, por isto, os elementos históricos da sua
caracterização não correspondem aos de outro recorte regional” (Neves,
2008, p. 28).
Para quem busca fazer uma análise sobre a história das mulheres no
período ditatorial, em 2019, Cavalcanti Junior lançou a obra “Três mulheres
e uma história de luta pela democracia e pela liberdade”, analisando a
trajetória de mulheres nordestinas em diferentes períodos durante a
ditadura. Como sugestão, é possível que o/a docente busque analisar como
se deu o referido período em sua cidade e/ou região e como foi à ação das
mulheres. Outra possibilidade é fazer um levantamento de quantas
mulheres da cidade/região atuam politicamente na cidade seja em ONG’s,
como prefeita, vereadora. movimentos sociais etc. Com isso é possível
refletir sobre o importante papel dessas mulheres em diferentes frentes de
luta e as visões que carregam perante a sociedade.
Outra possibilidade se daria a partir das mulheres que mais convivem e/ou
gostam e tentarem escrever suas biografias. Com isso, teriam não apenas
uma proximidade maior com a pesquisa de campo, como também
observariam as pesquisadas como inseridas numa sociedade e parte de uma
história em construção daquele espaço estudado.
Referências
Mestre Ary Albuquerque Cavalcanti Junior. Doutorando em História pela
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) é Docente do curso de
História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/CPCX.
Passados alguns dias, um grupo de cinco meninas que fazia parte do grupo
de leitura e literatura foram desafiadas pela professora a pensar em algo
que tinham em comum. Enquanto cada uma pensava na roupa, nas
viagens, na cor do batom, nos namorados, Aimee chorava silenciosa. Com o
desenrolar da cena, as meninas começaram a discutir em voz alta sobre o
que era prioridade na vida de cada uma delas. Foi nesse instante, por não
mais suportar a dor do silêncio em que se aprisionou, enquanto as amigas
discutiam futilidades, que Aimee gritou. Todas a olharam e notaram seu
choro. A adolescente olhava para sua calça jeans e lembrava do assédio
sofrido e alegou que não conseguia mais entrar no ônibus para ir à escola.
Referências
Azemar dos Santos Soares Júnior é professor do Departamento de Práticas
Educacionais e Currículo (DPEC/UFRN) e dos Programas de Pós-Graduação
em Educação (PPGEd/UFRN) e História (PPGH/UFCG). Graduado em História
(UEPB) e Doutor em Educação (UFPB)
Guilherme Lima de Arruda é professor de Educação Básica no município de
Esperança (PB). Atualmente é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação
em História (PPGH/UFCG).
Considerações Finais
122
Esta pesquisa embasou-se em documentos históricos do curso disponíveis
em acervo institucional e particular, bem como em registros estatísticos na
página da Unespar/Prograd, acerca do ingresso e permanência de
estudantes neste curso (UNESPAR, 2018; 2019). Olhamos para o passado,
mas vislumbrando perspectivas de profissionalização para a mulher por
meio da educação.
Referências
Beatriz Fernanda Almeida da Silva é acadêmica do 4º ano de Pedagogia da
UNESPAR, campus Paranavaí. Membro do Grupo de Estudos História e
Memória da formação de Professores. E-mail biiaallmeida2227@gmail.com.
Dra. Márcia Marlene Stentzler é docente no Curso de Pedagogia da
UNESPAR, campus Paranavaí (PR). Docente do Programa de Pós-Graduação
"PPIFOR" da Unespar. E-mail mmstentzler@gmail.com
Aos olhos dos outros, a mulher tinha tudo o que poderia desejar: um
marido ocupando um cargo importante no governo, dois filhos bem-
sucedidos e uma casa grande, confortável e moderna. Entretanto, a mulher
relatou não haver comunicação de verdade na família. "Quando estamos só
nós, tudo o que se ouve são os ruídos da existência animal: comer, beber e
ir ao banheiro". [XINRAN, 2003, p.136]
Xinran não pôde comentar sobre este relato durante seu programa de rádio.
Ao pedir permissão às autoridades para transmitir a história, estes
recusaram, alegando que seria prejudicial à imagem dos dirigentes do
Partido.
O primeiro relato escolhido para esta pesquisa, A menina que tinha uma
mosca como animal de estimação (p.21–49), evidencia o machismo e a
opressão sofridos por uma adolescente durante a década de 1970. Seu pai,
além dos abusos sexuais, também a agredia psicologicamente. Em uma das
passagens do livro, em seu diário, Hongxue escreveu que: "se eu contasse
para alguém, seria criticada em público e teria que desfilar pelas ruas com
palha na cabeça, porque eu já era o que chamavam de "um sapato usado"
[p.25]. A partir deste trecho, pode-se analisar o controle da mulher por
128
parte da figura masculina. A mulher, enquanto um ser carregado de
"feminilidade", deve manter sua "pureza" até o casamento. No caso de
Hongxue, a humilhação se daria ao fato de que não arranjaria um bom
casamento caso sua "impureza" viesse à tona. Deste modo, havia um
controle psicológico por parte de seu pai, que usava destas questões
culturais como forma de domínio.
Não houve, a partir deste relato, qualquer desconfiança por parte dos
vizinhos em relação ao que acontecia dentro do dormitório. O pai, por ser
homem e, consequentemente, exercer sua autoridade, não foi vítima de
contestação. A página 27 traz à tona uma parte da carta de Hongxue, onde
ela relata ter contado a verdade a sua mãe.
"Eu não aguentava mais e contei a verdade à minha mãe. Vi que ela ficou
terrivelmente perturbada. Mas, poucas horas depois, a minha "sensata"
mãe me disse: ‘Pela segurança da família toda, você vai ter que suportar
isso. Caso contrário, o que é que nós todos vamos fazer?’” Diário de
Hongxue [XINRAN, 2003, p.27]
"[...] O novo governo se viu diante do problema de decidir o que fazer com
as primeiras esposas de seus líderes. Muitas delas, casadas com homens
que agora ocupavam altos cargos, foram para Pequim com os filhos, na
esperança de encontrar o marido. [...] Os funcionários tinham constituído
nova família com as novas esposas: que esposa e que filhos seriam
repudiados, e quais seriam conservados? Não havia lei alguma em que
basear uma decisão". [XINRAN, 2003, p.145–146]
Considerações finais
Usar a literatura como fonte histórica nos permite trabalhar com o conceito
de verossimilhança. Os relatos recontados por Xinran servem como
representação de uma China real, e trazem à tona a realidade vivida por
uma sociedade que se encontra em constante transformação. No que diz
respeito às mulheres, percebe-se que a teoria é diferente da prática. Mesmo
uma política significativa como a de Mao, que visava a igualdade de gênero,
não fora o suficiente pra culminar com o milenarismo dos costumes
chineses. A partir desta pesquisa, considera-se um equívoco pensar a China
como igualitária. As políticas inclusivas de Mao alcançaram relativo sucesso,
principalmente nas áreas urbanas, mas não transformaram, nem de longe,
a China num país igualitário.
Referências
Bettina Pinheiro Martins é bacharel em História pela Universidade Federal de
Pelotas e mestranda em História pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.
BUENO, André. A mulher na China. Cem textos de História Chinesa,
Chinologia: 2009. Disponível em:
<http://chinologia.blogspot.com.br/2009/08/mulher-na-china.html>.
____________. Para uma história da Mulher na China. Sinografia: 2008.
Disponível em: <http://sinografia.blogspot.com.br/2008/04/para-uma-
historiada-mulher-na-china.html>.
FISAC BADELL, Taciana: El outro sexo del dragón. Mujeres, literatura y
sociedad en China. 1. ed. Madrid: Narcea Ediciones, 1996.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. China: passado e presente. 1. ed. Porto
Alegre: Artes & Ofícios, 2013.
SHU, Chang-sheng. A História da China Popular no Século XX. 1. ed. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2012. v. 1. 204 p.
TORRÃO FILHO, A. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino
se cruzam. Cadernos Pagu (UNICAMP), Campinas, v. 24, n.jul./dez., p.
127–152, 2005.
TREVISAN, Cláudia. China: o renascimento do Império. São Paulo: Editora
Planeta do Brasil, 2006.
XINRAN, As boas mulheres da China: vozes ocultas. São Paulo: Companhia
131
das Letras, 2003, 283 p.
ESCRITA DE SI, GÊNERO E LOUCURA NA OBRA ‘HOSPÍCIO É
DEUS’ DE MAURA LOPES CANÇADO
Bruna Alves Lopes e Geane Caroline Wiltemburg
Maura Lopes Cançado foi uma escritora brasileira conhecida pelas obras
Hospício é Deus – Diário I e Sofredor do Ver. Nascida em 1930, em uma
tradicional e influente família da oligarquia rural mineira, teve sua vida
132 permeada por internamentos em instituições manicomiais. Seu primeiro
internamento ocorreu em 1949, voluntariamente, devido a crises
depressivas. Na década de 50 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde
conviveu com a elite intelectual e artística da cidade. Trabalhou nos
periódicos Jornal do Brasil e Correio da Manhã (veículos responsáveis pela
publicação de grande parte de sua obra literária composta, principalmente,
de contos e crônicas). No primeiro, publicava na coluna “Suplemento
Dominical” ao lado de nomes como Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar e
Carlos Heitor Cony. Seus contos, que foram escritos simultaneamente às
suas internações e tentativas de readaptação, renderam-lhe aclamação e
premiações. Alguns deles formam a coletânea intitulada “O sofredor do
ver”, publicada em 1968.
Podemos dizer que Maura aproveitou dois momentos para tornar pública a
história de Auda: no conto “Introdução a Alda”, publicado no livro o
Sofredor do Ver e no seu diário tornado público. Na perspectiva de Maura
há uma clara distinção entre as mulheres retratadas nos seus escritos,
distinção essa expressa inclusive na grafia do nome. A primeira,
apresentada no conto, era a “louca” cuja imagem era aquela descrita pela
instituição. O desconhecimento da mulher por detrás da paciente é
observado inclusive no desconhecimento em relação a grafia correta de seu
nome (Com a letra u e não l como acreditou a autora). A repercussão do
conto deu visibilidade a Auda e possibilitou alterações nas atitudes das
pessoas em relação a ela. Maura observou que o texto possibilitou que a
“Alda” retornasse a ser “Auda”, ou seja, um ser humano, antes de ser
alguém com uma patologia. Sobre o impacto exercido pelo uso da escrita
afirmou: “Para mim, só o amor e a compreensão farão o milagre de
descobrir Audas, desarmadas e autênticas.”
Referências
Bruna Alves Lopes é Licenciada em História, mestre e doutora em Ciências
Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Geane Caroline Wiltemburg é Bacharel em Turismo, Licenciada em História
e mestranda em História na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Quando pensarmos de que formas e em que espaços, nos dias atuais, tem-
se discutido e problematizado sobre gênero e sexualidade se faz importante
discorrer sobre discursos políticos no Brasil. É do vereador Pimentel Filho
(PSD), da cidade de Campina Grande – PB, o projeto de lei que proíbe
qualquer conteúdo, do que seria chamado de “ideologia de gênero”, de ser
discutido em escolas públicas e privadas. Sancionada em 2018, pelo então
prefeito Romero Rodrigues (PSDB); o qual anunciou em vídeo o apoio ao
projeto da Câmara dos Vereadores justificando manter boas relações com a
mesma e valores religiosos, a lei nº6.950 esclarecia que:
“Dona Jurema: meu filho, esse banheiro é das mulheres, dos homens é ali.
Natacha: Dona Jurema, se entro lá agora não sei nem se saio viva.
Dona Jurema: vai reclamar com a direção, não sou obrigada a dividir
banheiro com travesti.
Natacha: respeita, Dona Jurema, que eu não tô faltando com respeito.
Dona Jurema: me respeita você, Robson.
Natacha: quantas vezes vou ter que repetir, meu nome é Natacha.
Dona Jurema: pra mim continua Robson” (Segunda chamada. Direção: João
Gomez e Ricardo Spencer. Rede Globo, 2019)..
Conforme Agustín Escola e Milena Lacerda esses espaços físicos são meios
de perpetuação de concepções retrógradas e violências contra o que seria
“anormal”. Assim, temos o exemplo de Natasha com a escola (como é o
caso de outra situação, ainda no primeiro episódio). Na cela, ela se coloca
diante dos banheiros masculino e feminino e os observa e adentra ao
feminino causando estranhamento entre as mulheres presentes. Por mais
que haja o processo de modernização da estrutura escolar ela estaciona em
alguns aspectos que exclui homens e mulheres trans, como é o caso dos
banheiros.
Considerações finais
Apesar de se haver discussões acerca de gênero e sexualidade nas escolas
se faz necessário uma atuação de todo o ambiente escolar para que haja a
obtenção de resultados positivos, como por exemplo, a luta contra a
LGBTfobia. Contudo, existe toda a carga social, sobretudo por parte do
Estado, que atual na contramão de propostas que busquem implementar
discussões do tipo nas escolas, nos explica os psicólogos da educação:
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como
programa. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de
Janeiro: Edições gerais, 2006.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense
universitária, 2012.
NOGUEIRA, Leonardo; HILÁRIO, Erivan; PAZ, Thaís Terezinha; MARRO,
Kátia (Org.). Hasteemos a bandeira colorida: diversidade sexual e de
gênero no Brasil. São Paulo: Expressão popular, 2018.
OLIVEIRA, Bruno Silva de; CORDÃO; Michelly Pereira de Sousa. O feminino
em Vikings: reflexões sobre as personagens na cultura escandinava
medieval. In. Aprendendo História: mídia. União da Vitória: Edições
especiais sobre ontens, 2019.
PÊSSOA, Lilian Correia; PEREIRA, Rodnei; TOLEDO, Rodrigo. Ensinar gênero
e sexualidade na escola: desafios para a formação de professores. Revista
de estudos aplicados em educação, v. 2, n. 3. jan./jun. 2017.
Disponível em: <g1.globo.com/google/amp/pb/paraiba/noticia/sancionada-
lei-que-proibe-ideologia-de-genero-nas-escolas-de-campina-grande.ghtml>
Acesso em 26 de março de 2020.
Disponível em: <politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/caso-
crivella-x-bienal-do-livro-censura-ou-protecao-ao-menor/?amp> Acesso em
26 de março de 2020.
SEGUNDA CHAMADA. Direção de João Gomez e Ricardo Spencer. Rede
Globo, 2019 (ainda em produção).
HISTÓRIA DAS MULHERES E ENSINO DE HISTÓRIA EM
CONTEXTO DE EMERGÊNCIA DA BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR
Carolina Giovannetti
Silva afirma também, nesse sentido, que o “currículo não pode ser visto
simplesmente como um espaço de transmissão de conhecimentos. O
currículo está centralmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos
tornamos, naquilo que nos tornaremos. O currículo produz, o currículo nos
produz” [2001, p. 27]. Desta forma, o currículo constitui os sujeitos e
também é constituído por eles, informando o tipo de sujeito e de sociedade
que se pretende formar.
Referências
Carolina Giovannetti é historiadora e professora de história da rede pública
de Minas Gerais; mestranda em Educação – FaE/UFMG, na linha de
pesquisa Currículos, Culturas e Diferenças
A trama do filme gira em torno da vida de duas irmãs que são princesas,
Elsa e Anna. Ambas possuem um amor imenso uma pela outra, mas devido
à um acidente provocado pelos poderes mágicos (produz gelo com as mãos)
de Elsa na infância, são separadas pelos pais, pois como ela não ainda não
tem domínio do seu próprio poder, poderia acabar machucando alguém.
Logo após a morte deles em uma viagem no alto mar, Elsa, como filha mais
velha deveria então assumir o reinado de Arendell. Neste dia tão esperado
da coroação, os portões do castelo finalmente se abrem e Anna acaba
saindo pela primeira vez do castelo, encontra um príncipe chamado Hans e
resolve querer se casar com o mesmo.
Elsa tenta fugir de Hans antes que a matasse, ele anuncia que na verdade
Anna já havia sido morta por culpa da mesma matá-la, a tempestade de
neve para e Anna consegue finalmente encontrar Kristoff, mas no mesmo
instante enxerga Hans com uma espada pronto para matar Elsa que está no
chão chorando, e então resolve colocar-se na frente da espada para salvar a
irmã ao invés de salvar sua própria vida e, imediatamente vira uma estátua
de gelo. Elsa aos prantos abraça a irmã petrificada e Anna descongela e
volta à vida, sendo este então o ato de amor verdadeiro. Assim, através do
amor entre irmãs. Por fim Elsa consegue finalmente dominar os seus
poderes, retira o inverno de Arendell, e se torna rainha.
Quando Elsa diz a Anna que a mesma não se pode casar com alguém que
acaba de conhecer, se difere de imediato dos outros filmes de princesas,
pois, era normal que o casamento acontecesse logo após o encontro do
príncipe e a princesa, até porque as mulheres que não casavam, eram
duramente criticadas pela sociedade, já que deveriam ser uma boa esposa e
encontrar seu ápice na maternidade. Assim, Frozen quebra com esse
paradigma que o final feliz da princesa era ao lado de homem, pois, o filme
termina sem casamento algum e ainda sim tem um final feliz.
Referências
Clarice Luz, acadêmica do 4º ano de História da Unespar – Campus União
da Vitória.
Flávia Schena Rotta, acadêmica do 4º ano de História da Unespar – Campus
União da Vitória.
Dessa maneira, fazer uso de biografias femininas, sendo elas, obras escritas
ou até mesmo filmes, é uma possibilidade de ensino que pode ser
trabalhada através de múltiplo viés. É de entendimento que a história de
vida de um indivíduo se encontra inserida em um contexto, e esse contexto
pode ser o de qualquer época. Em todos os períodos históricos, sem
dúvidas, as mulheres estiveram presente; mesmo que em massa, não
tenham participado ativamente desses fatos, alguns nome se destacaram,
como também, há outras que infelizmente ainda não tiveram as suas
trajetórias resgatadas:
Essa afirmação é algo que acontece, muitas vezes, por causa das próprias
mulheres. Elas mesmas acabavam destruindo os seus registros, em sua
maioria por acreditarem que não havia importância em seus atos: “Existe
até um pudor feminino que se estende à memória. Uma desvalorização das
mulheres por si mesmas. Um silêncio consubstancial à noção de honra”
[PERROT, 2019, p. 17]. Desse modo, analisar os acontecimentos tomando
como base uma trajetória individual, a trajetória de uma mulher, é um meio
que permite desenvolver um estudo através de ângulos diferentes, reforça a
importância do ocorrido e do ativismo feminino na história.
“Os filmes não são registros de uma história tal qual aconteceu ou vai
acontecer, mas representações que merecem ser entendidas e percebidas
não como diversão apenas, mas como um produto cultural capaz de
comunicar emoções e sentimentos e transmitir informações.”
[BITTENCOURT, 2008, p. 353]
Embora o Filme “Olga”, não mostre necessariamente os embates políticos.
Pois, tem como foco principal o romance de Luiz Calos Prestes e Olga
Benário. O filme acaba deixando a desejar em relação aos aspectos políticos
que rodearam a vida da revolucionária. Olga era alemã e de origem judaica,
desde muito cedo, durante a sua adolescência começou a se interessar pela
política de esquerda, dando inicio a seu ativismo político. Diante de suas
ações, pelo Partido Comunista Alemão, que foram realizadas em Berlim,
161
Olga precisou fugir para Moscou e lá recebeu treinamento militar para que
assim pudesse executar missões estabelecidas pela Internacional
Comunista. Olga fez parte do grupo de revolucionários estrangeiros
escolhidos para acompanhar Luiz Calos Prestes no seu retorno para o Brasil,
“Prestes, a partir da atuação da coluna, tornara-se um verdadeiro mito
nacional, chamado desde então de “O Cavaleiro da Esperança”” [VIANNA,
2007, p. 75]. Ela foi encarregada de garantir a segurança de Prestes
durante todo o trajeto. Depois de uma longa viagem, eles chegam ao Brasil
em 1935 e permanecem na clandestinidade. Ademais, é assim que a
história de Olga se relaciona com a história do Brasil. Durante esse período,
Getúlio Vargas era quem estava no poder e Prestes era visto como um de
seus maiores inimigos. Algo marcante nessa trajetória, como também algo
decisivo foi o levante de 1935:
“Na noite de 5 de março Prestes e Olga foram presos. Levados para o DOPS
e lá separados, foi a última vez que se viram. Em setembro de 1936 o
governo brasileiro entregou Olga Benário e Elise Berger à Alemanha nazista,
onde foram assassinadas num campo de concentração. Olga estava grávida
de sete meses da filha de Prestes.” [VIANNA, 2007, p. 100]
Referências
Daiane da Silva Vicente é graduanda do curso de Licenciatura em História
na Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns.
A tecnologia vem ocupando cada vez mais espaço na vida das pessoas,
principalmente pelas formas de comunicação multimídia, conforme apontam
Soares e Câmara [2016]. As redes sociais acompanham o crescimento da 163
internet, que além de promoverem comunicação entre internautas
independentemente da posição geográfica, possibilitam que informações
variadas sejam compartilhadas com o público que acessa, como vídeos,
fotos, memes e notícias.
Para bell hooks [2019] “uma revolução feminista sozinha não criará esse
mundo; precisamos acabar com o racismo, o elitismo, o imperialismo.”
[2019, p. 15]. Baseada nessas ideias que me motivei a trabalhar com o
tema “Movimentos Sociais” durante a aplicação do Estágio Supervisionado.
Seguindo essa linha de raciocínio, além do Movimento Feminista, inclui em
meu plano de aula o Feminismo Negro, e o Movimento Negro. O recorte
desse artigo priorizará apenas os dois primeiros temas citados. A discussão
completa desse trabalho englobando o tema Movimento Negro pode ser lida
na integra através da Revista Sobre Ontens - Volume Especial TFES 2019.
Aplicação
Decidi iniciar minhas aulas inspirada pelo conceito de Aula-Oficina [BARCA,
2004], em que os(as) alunos(as) são interpretados como fundamentais no
processo de ensino, assim, é preciso “interpretar o mundo conceitual dos
alunos, não para de imediato o classificar em certo/errado,
completo/incompleto, mas para que esta compreensão ajude a modificar
positivamente a conceitualização dos alunos.” [BARCA, 2004, p. 132].
Em cada uma das turmas selecionei alguns minutos da minha primeira aula
como estagiária para a aplicação de um questionário com algumas
perguntas [figura 1] referentes aos conteúdos que iríamos estudar nas
aulas seguintes. É significativo atentar-se sobre os conhecimentos prévios
dos(as) estudantes, já que possibilita ao “professor tomar a decisão sobre o
que lhe parece mais necessário para a aprendizagem. Num processo que se
configura como uma avaliação diagnóstica e processual.” [FERNANDES,
2008, p. 5].
165
Feminismo
Iniciei a aula com enfoque do papel das mulheres brasileiras na sociedade
durante os séculos passados, em que ocupava prioritariamente o espaço
privado, vivenciando uma sociedade patriarcal, em meio ao machismo e ao
decorrer da fala e das contribuições dos(as) alunos(as), que aconteciam de
forma frequentemente, fui especificando tais termos. Dado o contexto dessa
sociedade, busquei questiona-los(as) por meio das respostas dos
próprios(as) alunos(as) sobre as concepções negativas que obtinham sobre
o feminismo e que apontaram no primeiro trabalho.
Utilizei o quadro negro para indicar o tema da aula, e nesse momento pós
debate acrescentei a letra “S” ao termo, tornando-se feminismos. Ao
utilizarmos o plural, passamos a observar o movimento não mais como uma
unidade, mas como múltiplo. Esse “S” ajuda a compreender
especificidades. O feminismo brasileiro não reivindica as mesmas pautas
que o movimento que acontece nos outros locais do mundo, temos culturas
e necessidades diferentes. Por meio dessa alternativa, busquei explicar que
os vídeos citados na aula sobre mulheres em algum lugar do mundo
manifestando-se peladas na rua se encaixam nesse contexto. Não podemos
homogeneizar, precisamos analisar o contexto onde as manifestantes estão
166
inseridas e o que reivindicam.
Feminismo Negro
“Mulheres individuais que lutam pela liberdade em todo o mundo já
batalharam sozinhas contra o patriarcado e a dominação masculina. Uma
vez que as primeiras pessoas no planeta Terra não eram brancas, é
improvável que as brancas tenham sido as primeiras mulheres a se
rebelarem contra a dominação masculina. Em culturas ocidentais patriarcais
capitalistas de supremacia branca, o pensamento neocolonial determina o
tom de várias práticas culturais. Esse pensamento sempre se concentra em
quem conquistou um território, quem tem propriedade, quem tem o direito
de governar.” [HOOKS, 2019, p. 75]
O pensamento de bell hooks reflete a própria ciência histórica e nosso papel
como educadores(as) nesse processo para descolonizar o conhecimento.
Devemos nos atentar à inclusão de uma História que não contemple
somente uma versão branca e europeia.
Considerações finais
170
Os resultados obtidos com a aplicação do estágio supervisionado nos
afirmam que apesar do backlash influenciar o pensamento de alguns(mas)
estudantes por meio da mídia e da internet, tive a possibilidade de
desmistificá-lo através de metodologias que se pautam na consideração de
que os(as) alunos(as) são portadores(as) de conhecimentos, uma vez que
estão inseridos em sociedade e vivem experiências que podem ser utilizadas
pelo(a) professor(a) a favor do ensino eficaz. Garantindo que ressignifiquem
e agreguem conhecimentos a partir dos temas e conceitos já dominados.
Ao contestar os conhecimentos negativos e generalizados sobre os
Movimentos Sociais por meio da inserção de diferentes metodologias que
incluíram a vivência dos alunos, oportunizei aguçar o senso crítico para que
no dia-a-dia ao se depararem com a propagação do backlash, utilizem o
conhecimento adquirido em sala de aula e o uso adequado da internet como
alternativas favoráveis de averiguação para que não caiam nas amarras de
ignorância dos backlashs.
Referências
Elaine Cristina Florz, graduada em licenciatura em História pela UNESPAR,
campus de União da Vitória.
Sendo a música uma possível fonte histórica, levar esse debate crítico para
a sala de aula, terá a função de aguçar a curiosidade dos alunos a analisar
cotidianamente seus hábitos e gostos musicais, incentivando o exame
cuidadoso das letras - levando em consideração que nas aulas de História
partimos de problematizações do presente para assim encontrarmos sentido
no estudo do passado e que também através da compreensão do passado
possibilitamos a mudança de concepções na atualidade. Coloco aqui como
sugestão para tal trabalho o público do Ensino Médio, visto que eles terão
maior participação, formulação de críticas, debates, sugestões e de trocas
de experiências entre si e com o (a) professor (a).
Aqui podemos perceber claramente que o “eu” que narra a canção, no caso
um homem, pormenoriza um cenário pós-discussão com a mulher, que
poderia ser sua namorada, noiva, esposa, amante ou companheira
sexual/amorosa. O conflito que segundo ele teria marcado a separação dos
dois conta com cacos de vidro e flores no chão, o que configura que em
algum momento houve sérias alterações de humor de alguma das partes ou
de ambos. Essas alterações de humor consequentemente trouxeram
agitamento físico e psicológico, já que na frase seguinte deste trecho ele
relata ter alterado a voz com a mulher, diante disto, podemos concluir que
a parte mais exaltada da discussão foi a masculina. Esse homem confirma
sua parcela de culpa e por certo admite talvez total culpa, já que afirma que
se tivesse tido atitude diferente ainda poderia estar com ela.
A cena relatada na música poderia ter tido um fim trágico caso algum dos
dois não saísse do lugar. Assustadoramente, o caso da canção não é uma
crítica social, é uma narrativa que embala milhares de pessoas em seu
cotidiano, majoritariamente mulheres - como já destacamos - e que sequer
se dão conta de que estão prestigiando, financiando e replicando um
discurso de violência contra seu próprio gênero.
Aqui percebemos que o sujeito não desistiu de ter a mulher de volta, de tal
forma que ficou ligando incansavelmente para ela, demonstrando um perfil
obsessivo, um tanto psicótico, além de violento. Ela, em contrapartida,
demonstra resistência em atender, atestando não querer mais contato.
Entretanto, esse amor que ele demonstra sentir não foi empecilho para que
se relacionasse intimamente com outras pessoas. Esse sofrimento pelo
rompimento da relação buscou consolo em outras bocas, como ele afirma.
Nesse momento podemos perceber que ele se relaciona com outras
mulheres baseado em uma relação de objetificação do corpo feminino, não
demonstrando nenhum cuidado ou empatia pela mulher com quem ele
estava. Coloco aqui mulher, porque predominantemente as canções
retratam o padrão heteronormativo em suas letras, o que é reflexo direto
de uma sociedade ainda sexista, machista e LGBTfóbica. Além do seu
descuidado total com seu próximo, no caso as mulheres com quem ele se
relaciona, este homem apresenta um perfil bastante difundido nas músicas
sertanejas, o do homem consumidor de álcool.
Continuando:
“Terça-feira na balada
Não é desapego, é depressão
Essa legenda não me engana, não
E por trás de toda essa risada
Que eu sei que é forçada, tem um coração
Que não me esquece, não
De repente, suas amigas você até engana
Diz que ama ser sozinha, mas não dura uma semana
Pro teu corpo me chamar”
A alegria da mulher não é verdadeira, ele entende que ela não consegue se
desapegar sem entrar em depressão, e confirma que o coração dela não
consegue esquecê-lo. Ele determina que em uma semana ela sentirá falta
dele e provavelmente irá procurá-lo. Vemos aqui atitudes novamente
obsessivas e também psicóticas. Ele diz que ela irá procurá-lo, quando na
verdade, quem está contando os dias, escancaradamente é ele.
Esse homem relega a mulher o lugar de animal. Mas não é qualquer animal,
é a vaca (feminino do boi). “O gado”, que em seu sentido literal, o animal,
tem um tipo de tratamento específico no nosso sistema econômico
capitalista. O segmento bovino é pastoreado, nesse sentido, comandado por
alguém, que normalmente é uma figura masculina. Além disso, é visto
único e exclusivamente como fonte de dinheiro, riqueza e prazer. Por que
prazer? Prazer, porque é criado para o consumo, seja da carne ou do leite,
no caso da vaca. A lógica que quero expor é que esse homem além de
definir essa mulher como um animal, tirando assim dela toda humanidade,
racionalidade e sentimentalismo, também coloca a ele esse mesmo papel, o
de insensibilidade, irracionalidade e desumanidade, porque a vê como um
ser desprovido sobre quem ele exerce total poder.
E o termo carne não perde aqui a ideia de consumo, porque ele resume sua
relação com a mulher estritamente a cama, local de conjunção carnal entre
os dois. Dito isto, podemos claramente nos lembrar de situações em que
amigas, parentes, ou até mesmo nós mesmas, nos sentimos como “um
pedaço de carne” consumida pelos homens. Eis aqui não só a objetificação
da mulher, como também a sua animalização. Na música, o homem retira
por completo toda a humanidade feminina. Enquanto ela não o tira do
coração, ele a transporta para o campo exclusivo do prazer carnal.
Contribuindo aqui para reforçar outro discurso, o de que a mulher é
sensível, está umbilicalmente presa ao campo dos sentimentos, enquanto o
homem, em sua racionalidade natural, consegue separar o sentimento, do
prazer. Na Idade Média, segundo Le Goff e Troung o sexo deveria ser
moderado, contudo proclamava um padrão divulgado até hoje: “na cama, a
mulher deve ser passiva, o homem, ativo” (2015, p. 41).
Devido os limites de escrita que devo respeitar, deixo aqui esse convite a
analisar criticamente as músicas atuais, que continuam a reproduzir
discursos de outrora, apresentando as mulheres com padrões desumanos e
desqualificados. No mínimo encontrei dezenas de músicas que reproduzem
tais pensamentos, que de acordo com o grau de análise pode acabar
178
condenando álbuns musicais inteiros. Abordei o gênero musical sertanejo
por conta da popularidade e das letras “mais tranquilas” para serem
trabalhadas em sala de aula com adolescentes, contudo, encontrei esses
estereótipos em todos os gêneros musicais, entoados tanto por homens,
quanto por mulheres.
Referências
Emili Sabrina Ribeiro Silva, graduanda em História pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
Referências
Fabrício Romani Gomes é Mestre em História pela UNISINOS; acadêmico do
curso de especialização em educação do IFRS – Campus Farroupilha;
licenciado em História pela UCS; professor da educação básica na rede
estadual e do munício de Farroupilha/RS.
185
BREVES REFLEXÕES ACERCA DA CULTURA ESCOLAR, GÊNERO E
HISTÓRIA DAS MULHERES
Fernanda Loch
A cultura escolar pode ser entendida como a cultura que é veiculada pela
escola, a cultura que é produzida pela escola e também a cultura
organizacional da escola. (BARROSO, 2013 p. 182). Nessa cultura escolar,
estão colocados todos esses aspectos que envolvem o ambiente
educacional, de maneira explícita, formativa e oficial, e também coisas que
“não são faladas”, ou seja, o que podemos encaixar no “currículo oculto” da
escola. Entendemos o currículo oculto da seguinte forma:
Por último, mas não menos importante, o desconhecimento sobre o que são
Estudos de Gênero, ou até mesmo sobre o que são identidade de gênero e
orientação sexual, somado à incompreensão do que é cultura escolar ou
190
currículo oculto, leva a algumas instâncias da sociedade a criarem
mecanismos de barragem para esse tipo de discussão pública, justificando
que esse tema nada mais seria do que “ideologia de gênero”, que seria um
movimento para acabar com a organização familiar e que confronta com a
“ordem” estabelecida e “tradicional” da sociedade. Porém a difusão da
“ideologia de gênero” só acaba reforçando ainda mais o quão necessário é
esse debate. E de acordo com a nossas entrevistas, se até os profissionais
da educação querem e sentem a necessidade de debater sobre gênero na
escola, quais são os reais impedimentos para que isso aconteça?
Referências
Fernanda Loch é mestranda no Programa de Pós-graduação em História da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Também integrante do
Laboratório de Estudos de gênero, diversidade, infância e subjetividades da
mesma universidade. (Lagedis).
Sob tal ótica, o envolvimento de Tia Eva (Eva Maria de Jesus) com a criação
de uma identidade negra na região de Campo Grande (até então Campos de
Vacaria) foi negligenciado para dar palco a história de uma elite dirigente. A
192
vinda da ex escrava Eva Maria de Jesus para a região é de suma
importância e desencadeou o processo de formação da comunidade
Quilombola Tia Eva. Com isso, é relevante ressaltar que o espaço
quilombola demonstra a ancestralidade, e preservação de costumes
culturais e da oralidade local.
Foi, a partir de ver esses maltratos sofridos pelos escravos que Tia Eva fez
um pedido e promessa a São Benedito, como aponta Carlos Plínio dos
Santos através da narrativa histórica de Seu Waldemar:
“A tia Eva foi muito devota de São Benedito. Por causa da escravidão ela fez
um pedido para São Benedito, por isso ela veio pra cá [Campo Grande]. Ela
fez um pedido a São Benedito assim. Um dia eles tinham apanhado lá, ela
viu as pessoas apanhando, ela fez um pedido [que] se São Benedito
ajudasse que ela saísse de lá para vim pra cá pro Mato Grosso, ela ia
arrumar um lugar para criar só as pessoas da cor dela, mas que não iriam
mais ser escravos. Iam viver independentes, fazer sua casa, fazer farinha,
lavar roupa, fazer óleo de mamona, um local para passar toda a vida. Ela
193
falou isso para São Benedito. E ela tinha o dom de benzer, com as graças
de São Benedito. Assim que começou o negócio de benzer os outros.”
[Plínio,2012]
Outrossim, Tia Eva era muito religiosa e agarrava-se a sua devoção a São
Benedito, fez uma promessa então de construir uma igreja em homenagem
ao Santo Preto para que lhe concedesse a cura de sua perna. Um de seus
primeiros feitos foi erguer a igreja que havia prometido, primeiramente em
pau a pique e depois reformada na alvenaria. Iniciou, também as festas de
São Benedito que até hoje são realizadas na comunidade, o que demonstra
a importância da oralidade e da preservação dos costumes para os
membros da comunidade.
Como exposto previamente, Tia Eva era uma mulher de múltiplas facetas,
atuou em diversas atividades em Campo Grande, contribuindo com a
sociedade local, como aponta Myleide Machado:
Silenciamento social
Durante longo tempo histórico, história de negros vem sendo silenciada,
como resquícios das mazelas deixadas peça escravidão e abolição inacabada
e a situação só se agrava ao entrarmos na seara da negligência das
narrativas de mulheres negras. Essa marginalização, é pautada por Léila
Gonzales e Carlos Hasembalg no livro “Lugar de Negro”, no qual apontam
existir uma hierarquia incontestável: homem branco, mulher branca,
homem negro, mulher negra. Com isso, apesar de Tia Eva se constituir
como um dos pilares da história campo grandense pouco aparece nas
produções e discussões locais.
Na época da chegada (cerca de 1905), Tia Eva e seu grupo já foram alvo de
estranhamento, os caracterizaram como “mudanceiros”, para Barros
(1999;23) o termo carregava sentido pejorativo e marcava a divisão entre
vizinhos desejáveis e indesejáveis. Outrossim, esses moradores antigos se
intitulavam detentores do poder e conhecimento sobre essa sociedade,
relegando aos recém-chegados o papel de forasteiros. Como apresenta
Carlos Plínio dos Santos através da narrativa histórica de Seu Waldemar:
“Lá tinha uns crioulos roceiros, quando tia Eva chegou, falavam que eles
também foram escravos, mas era daqui mesmo. Os brancos moravam tudo
perto do centro. As coisas antigamente eram assim, crioulos de um lado e
brancos do outro, né. Antigamente tinha essas coisas, os brancos era tudo
criador de gado, rico. [...]. Ali tudo se chamava Olho D’água, mas depois
mudaram para Cascudo [...]. Mas lá tinha muito crioulo, era cheio de
crioulada, naquele tempo era tipo o cativeiro, a crioulada gostava muito de
andar de pé no chão, quando muito, algum tinha a alpargata. Então,
andando de pé no chão, a sola do pé engrossa tudo, aí então ficou essa
história de Cascudo pra lá e Cascudo pra cá.” [Plinio dos Santos, 2012, 165]
(fonte: imagem 01 jornal Campo Grande News, 2018. Imagem 02: foto
arquivo pessoal)
Referências
Francisca Kessione Mendonça Bezerra, graduanda do curso de História –
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande/MS –
kessy715@gmail.com
Jaqueline Zarbato é professora doutora do curso de História da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul
BARROS, Abílio L. de. 1999. “Crônicas de uma vila centenária”. In: Campo
Grande: 100 anos de construção. Campo Grande/MS: Matriz Editora.
197
CARVALHO, Aline Vieira; FUNARI, Pedro Paulo. Memória e Patrimônio:
diversidade e identidades. Revista Memória em Rede. UFPEL, 2010.
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento,
consciência e a política do empoderamento. Tradução Jamille Pinheiro Dias.
1º edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
GONZALES, Lelia; HALSENBALG, Carlos. Lugar de negro (Coleção 2 pontos).
Rio de Janeiro: Editora Marco Zero, 1982.
MACHADO, Myleide Meneses de Oliveira. Comunidade Tia Eva: Bairro de
Negros e herança de fé. UFGD, 2019.
PLÍNIO DOS SANTOS, Carlos Alexandre Barbosa. Fiéis descendentes: redes
– irmandades na pós-abolição entre as comunidades negras rurais sul-
mato-grossenses. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014.
PLÍNIO DOS SANTOS, Carlos Alexandre Barbosa. Eva Maria de Jesus (tia
Eva) Memórias de uma comunidade negra. In: Anuário Antropológico, 2012,
p. 155-181. Disponível em: https://journals.openedition.org/aa/317
QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Mato Grosso/Mato Grosso do Sul: divisionismo e
identidades (um breve ensaio). Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 10, n. 2, p. 149-
184, 2006.
SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital. Mulheres negras do Brasil.
Redeh Rede de Desenvolvimento Humano, 2006.
EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: UM DEBATE A PARTIR
DOS ESTUDOS DE GÊNERO
Georgiane Garabely Heil Vázquez
Notas Preliminares
Ana Maria Colling e Losandro Tedeschi (2015) ao refletirem sobre entre o
198 ensino de história e as questões de gênero na historiografia brasileira
mapeiam como, em diferentes tempos e sociedades, as mulheres e
populações LGBTs foram deixadas à margem do olhar de historiadores. Ao
dialogar com os textos de Joan Scott (1990), Colling e Tedeschi (2015)
traçam conceitos gerais ao que compreendem como Estudos de Gênero:
Contudo, o caminho que já parecia trilhado sofreu forte revés. Começaram 199
a surgir uma série de ataques aos Estudos de Gênero e em especial seu
debate nas escolas e universidades. Problematizar essa questão é
apresentar uma possibilidade de estratégia para burlar o isolamento das
pesquisas universitárias e comunicar-se efetivamente com a sociedade em
geral é o objetivo central desse texto.
Toda essa situação de ameaças levou ao então Reitor da UFBA, João Carlos
Salles, divulgar uma monção de repúdio contra tais ataques ao corpo
docente e discente da instituição. Além disso, os docentes foram orientados
a prestar queixa judicial referente às ameaças. Toda a comunidade científica
brasileira vinculada ao campo das humanidades assistia atônita aos
acontecimentos da UFBA. E foram tais acontecimentos que motivaram-me a
escrever sobre estudos de gênero para um portal/ site de internet em busca
de ampla divulgação. Assim, problematiza-se neste texto a experiência de
história pública não exatamente por opção teórica ou metodológica, mas
como uma forma de divulgação de conhecimento científico (num primeiro
momento), motivada por ataques ao campo de estudos e pesquisas em
gênero.
200
Esses ataques acabaram tirando as pesquisas de gênero desenvolvidas no
interior das Universidades e as levando para o espaço público, onde o
debate é muito mais heterogêneo e, até por isso, mais complexo. No
mesmo ano de 2017, Toni Reis e Edla Eggert (2017) publicaram um artigo
na Revista Educação e Sociedade, debatendo sobre o boicote e ataques que
os estudos de gênero vinham sofrendo no campo educacional, em especial,
analisam o Plano Nacional e Planos Estaduais e Municipais de Educação,
verificando o acalorado debate contra a inclusão do termo gênero em
diferentes Planos Educacionais. Esse artigo ja denunciava que o campo de
pesquisa em gênero estava sob ameaça.
Pelos números fornecidos por Bruno Leal Pastor de Carvalho (2016) pode-se
afirmar que o projeto de divulgação do conhecimento histórico acertou em
suas escolhas. Segundo Carvalho o Café História recebe, em média de 3 a 5
mil acessos únicos por dia. Possui visitantes não apenas do Brasil, mas
também de outros países da América Latina como Argentina, Paraguai,
México, Colômbia e Chile. Além disso, foi possível verificar acesso de países
como Angola, Espanha, Portugal, Estados Unidos, entre outros. Sabendo do
sucesso que Café História representava na comunidade de historiadoras/es
optei por iniciar um diálogo com o editor, professor Bruno Leal Pastor
Carvalho, e publicar um texto de divulgação de conhecimento histórico
sobre gênero, um texto que articulasse em alguma medida os campos de
História Pública e de gênero.
Considerações Finais
O texto foi publicado em 27 de novembro de 2017, ou seja, seis dias após a
vinculação pela imprensa dos acontecimentos na UFBA.
Também foi possível mapear as cidades que mais acessaram o texto, sendo
elas, por ordem: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e
Brasília. Além disso, o texto também foi republicado por diversos outros
sites, com a condição de manter a citação original do Café História,
chegando até mesmo a ser traduzido para o espanhol.
Referências
Geordiane Garabely Heil Vázques é doutora em História pela UFPR e
professora do curso de História da UEPG.
Doenças físicas
A mulher seria controlada e dominada pelo útero e seus instintos mais
perversos, uma vez que, as teorias engendradas no furor uterino,
juntamente com a proliferação de imagens sobre sua natureza perversa, já
estavam possuindo comprovação científica. Ademais, seus desejos e
prazeres sexuais seriam foco de atenção nos tratados médicos. O útero
como protagonista da infâmia das desreguladas, as direcionariam no
caminho da ninfomania, aparentemente, ocorrendo com menor frequência
que a histeria, mas acompanhada dela como um de seus sintomas (Ibidem,
2004).
208
Fonte: https://publicdomainreview.org/collection/remmelin-s-anatomical-
flap-book-1667
Doenças mentais
A revolução burguesa do século XVIII apregoaria a igualdade, mas que
jamais se concretizaria. No entanto, alicercearia uma nova ordem social,
dentro de um ideário onde passaria a controlar o cotidiano dos indivíduos,
seus gestos e pensamentos. A sociedade burguesa irá se munir de
instrumentos de coerção, aliada ao fenômeno da medicalização na
medicina, transferirá seu pensamento “preventivo” sobre o que poderia vir
a ser ou contrair, em relação aos corpos, para o imaginário social, que
incorporará um senso de higienização e moral, cerceando, quiçá eliminando,
a partir de então, toda a autonomia da mulher (VIGARELLO, 2008).
Foi, pois, uma cultura masculina que procurou construir uma leitura do
comportamento da mulher, seja interpretando-a no que diz respeito ao seu
corpo e seu psicológico, seja concebendo modelos morais de conduta, as
medidas coercitivas sobre seu corpo as levariam a se enquadrar numa
condição de espécie fraca e de mente desequilibrada, de modo que a
sociedade alimentaria uma hostilidade em relação a tudo o que a mulher e
seu corpo estivesse envolvido. O sangue menstrual, por sua vez, foi
relacionado a uma gama de estigmas, o corpo da mulher passou a ser
encarado como “um animal voraz e feroz” (ibidem, 2019, p. 149) e devido a
esse corpo, ao mesmo tempo frágil e inquieto, seria mais propenso a
desenvolver transtornos mentais (ibidem, 2004, p. 333).
Conclusão
O aparelho genital da mulher, tinha, então, forte domínio sobre o estado
mental das mulheres, seu corpo é um teatro de expressões e
manifestações, numa linguagem onde poderia denunciar as suas
fragilidades. As mulheres teriam de enfrentar dúvidas sobre seu próprio
corpo e, infelizmente, admitir que era uma doente, diante de uma
sociedade que a forçaria a se sujeitar.
Referências
Gessica de Brito Bueno é graduada em Artes Visuais e graduanda do curso
de História na Universidade Estadual de Maringá, bolsista PIC.
ABREU, Jean Luiz Neves Abreu. Nos domínios do corpo: o saber médico
luso-brasileiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Editora FIORUZ, 2011.
BARREIROS. Bruno Paulo Fernandes. Concepções do Corpo no Portugal do
Século XVIII: Sensibilidade, Higiene e Saúde Pública. 2014. Disponível em:
https://run.unl.pt/bitstream/10362/14924/1/Barreiros_2014.pdf.
BOLLAS, Christopher. Hysteria. Tradução de Monica seincman. –São Paulo:
Escuta, 2000.
COELHO, Ronaldo Simões. O Erário Mineral divertido e curioso: a arte de
curar. In: FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Erário Mineral de Luís Gomes
Ferreira. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Fundação João Pinheiro, Centro de
Estudos Históricos e Culturais; Oswaldo Cruz, 2002.
DEL PRIORE, Mary. Ao sul do corpo: condições femininas, maternidades e
mentalidades no Brasil colônia. Brasília, Rio de Janeiro: EdUnB, José
Olímpio, 1993..
DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. (Org) Carla Bassanesi.
7. ed. –São Paulo: Contexto, 2004.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Sertões do Rio das Velhas e das Gerais:
vida social numa frente de povoamento -1710-1733. In: FURTADO, Júnia
Ferreira (org.). Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira. Belo Horizonte; Rio
de Janeiro: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e
Culturais; Oswaldo Cruz, 2002.
Algumas vezes com a grande influência que Solano Lopez estabelecia, era
chamado como colocado por Doratioto a “Guerra de Lopez”, que governava
de forma ditatorial, exercia controle sobre tudo e todos, obviamente,
inclusive sobre a impressa, domínio exclusivo estatal. Toda e qualquer 213
decisão final partia do governante, que cometeu brutalidades durante sua
vida, sem escrúpulos torturou e matou pessoas, inclusive seus próprios
irmãos, trazendo um peso de mortalidades em suas costas enorme.
A mulher e a guerra
A Guerra do Paraguai chegou ao seu fim, como a grande guerra que
aconteceu na América Latina, e a maior no mundo entre a Guerra da
Secessão e a Primeira Guerra Mundial. Mas apesar da sua tamanha
importância, a historiografia somente nos últimos tempos que obteve maior
desenvolvimento em produção de escritos sobre os sujeitos ditos
marginalizados. Antes se apresentava de certo modo vaga, com o passar do
tempo vem se solidificando e progredindo, ainda mais quando tratamos da
mulher.
214
Em vários momentos históricos os papeis desempenho pelas mulheres são
deixados de lado, assim como em diversos momentos na Guerra do
Paraguai. Como não assumiu cargos relacionados a uma figura de poder,
não significa que não foi efetiva na História. Esteve o tempo todo dando
estrutura para que ocorresse. O fato de não desenvolver papeis ligados a
liderança ou de frente no poderio armado, não diminui o peso do papel que
desempenhou, como agente histórica.
216
Ao lado da descrição textual sobre a mulher na Guerra do Paraguai, o livro
didático, apresenta uma imagem, conforme pode ser vista abaixo na figura
1. Dessa forma, fazendo um paralelo com o contexto que se estabeleceu
nos parágrafos sobre a representação da mulher na guerra. Demonstrando
a mulher no campo de batalha, vestida a caráter segurando e honrando a
bandeira do Paraguai, quebrando o estigma que persegue a mulher, como
um ser sensível, incapaz de lutar. Apresentando Joana F. Leal de Souza,
que se voluntariou para a Guerra do Paraguai.
217
A única menção que o livro faz referente às mulheres, se trata dessa quase
imperceptível passagem, “A maioria dos sobreviventes eram idosos,
mulheres e crianças”. Hora alguma o livro destaca a participação feminina,
218
mas sim ofusca ainda mais. Já é construída a visão para os indivíduos, das
mulheres como apenas sendo um adorno na Guerra, acaba por se
concretizar e solidificar ainda mais.
Considerações Finais
O material didático, muitas vezes é o único meio que alguns alunos entram
em contato durante sua vivência, logo tem efetiva importância para o
processo de ensino-aprendizagem. Está ao cargo do professor, não utilizar o
livro como única fonte de conhecimento para conduzir a aula. Além do fato
que cabe ao docente desconstruir todos os estereótipos presentes no livro,
mostrando que a História se expande muito além das barreiras de gênero. A
Historiografia abre caminhos, e ainda os mesmos, podem ser desbravados
dentro de sala de aula, despertando o pensar e o senso críticos dos alunos.
Com a Primeira Guerra Mundial, contudo, aos poucos esse cenário foi
modificado. Não havia outra opção senão a tomada dos lugares dos homens
por parte das mulheres, mesmo que depois os mesmos retornassem,
durante a ocorrência da Grande Guerra. Assim, uma organização feminina
começou a surgir e culminou em reivindicações de fato, a partir do
momento em que conjuntamente se conscientizaram acerca do que queriam
conquistar, como a liberdade, tão passageira, que experimentaram nas
greves e, principalmente, nos lavadouros. Os espaços públicos vão sendo
apoderados pelas mulheres que vão construindo o que hoje é conhecido
como as três ondas feministas, buscando os seus direitos públicos, políticos
e trabalhistas, tal qual questões de saúde e de gênero.
Referências
Isabela Nogueira da Silva Grossi é graduada em licenciatura em História
pelo Centro de Teologia e Humanidades da Universidade Católica de
Petrópolis.
Referências
Itamara Cris Marchi Cordeiro é especialista em História pela FAFIUV e
professora de História no Colégio Cosmos de Porto União/SC.
Dito isto, tem-se o século XIX como ponto de partida da investigação por
três deliberadas razões: a) pelo estabelecimento da imprensa régia em
1808; b) pelos movimentos iniciais de implementação da instrução pública
feminina em 1827; c) por ser o século em que o primeiro conjunto de
mulheres passa a publicar no país. Cabe assinalar que a produção letrada
feminina oitocentista é bastante variada e se dá por meio de diversos
gêneros literários e históricos. Contudo, essa produção é marcada pela
irregularidade, pouco ou quase nenhum acolhimento destas mulheres
autoras nos círculos intelectuais de suas épocas e o recebimento de críticas
marcadas pela condescendência ou indiferença – o que pode ser
compreendido pela junção sexo da autoria e preconceito com a escrita
feminina. O campo intelectual oitocentista é, portanto, bastante árido para
as mulheres escritoras (FAEDRICH, 2018).
No entanto, de uma produção que contava com mais de vinte peças, hoje
só temos conhecimento de três que foram recuperadas pelos esforços da
pesquisadora Valéria Andrade Souto Maior (2014). São elas: Cancros
Sociais, Um dia na opulência e a Ressurreição do primo Basílio. De acordo
com esta pesquisadora os originais de Maria Ribeiro foram destruídos por
um incêndio ocorrido em 1893 no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro
– local os seus impressos e manuscritos inéditos estavam guardados.
Dentre eles encontrava-se o drama histórico “Dom Sancho em Silves”. Uma
peça certamente épica e, a julgar pela aposta no gênero histórico, deveria
portar um tom diverso das peças usuais da autora. Pelo título infere-se que
estava ambientada em Portugal entre os séculos XII-XIII, tematizando a
saga do rei expansionista D. Sancho I (1185-1211); uma narrativa que
muito provavelmente demandou por parte da autora uma cuidadosa
pesquisa histórica do período. Efetivamente, é mais um texto histórico de
autoria feminina que existiu, que foi lido, registrado, que obteve
repercussão pública, mas que não conseguiu sobreviver ao infortúnio de um
incêndio.
Considerações Finais
Se os escritos destacados nesse curto artigo tivessem sobrevivido a uma
sociedade patriarcal que subalterniza a produção intelectual de mulheres,
teríamos certamente um outro panorama da escritura histórica feminina,
com muito mais elementos para pensar a participação das mulheres na
construção do conhecimento histórico nos oitocentos. Possuiríamos, com
efeito, mais subsídios para afirmar que a história no século XIX não foi um
ofício conjugado apenas no masculino através de homens de letras alojados
em academias ilustradas. Lançando mão de formas “não-oficiais” de narrar
o passado, seja por meio do drama histórico ou da produção de biografias,
nossas historiadoras amadoras traziam consigo marcadores de gênero e da
diferença sexual que as fazia produzir à margem de uma sociedade
patriarcal e racista que negava às mulheres os direitos mais básicos de
cidadania, como o voto e educação secundária.
Dito isto e, pensando em questões contemporâneas ligadas ao ensino, nos
indagamos: quais rebatimentos a ausência da produção histórica feminina
possui na própria história que ensinamos, considerando ser esta uma
narrativa que ainda é monopolizada por homens autores, sobretudo no que
diz respeito ao mercado editorial de livros didáticos em que tanto a
representação feminina quanto a autoria dos livros são questões ainda
236
lacunares e problemáticas?
Referências
Jeane Carla Oliveira de Melo é doutoranda em História pela UFMG e
professora de História do IFMA.
Nessa carta, Jerônimo tratou Eustóquia com muita afeição e com vocábulos
de grande estima, realizou uma série de recomendações e um jogo de
citações bíblicas dos livros do Antigo e Novo Testamento, como uma
manifestação de sua autoridade perante a temática da pureza corporal
humana.
*
Examinemos a carta 24, dirigida novamente à Marcela, sobre a vida de sua
irmã Asela, escrita no outono do ano 384, dois dias após compor a carta 23.
Assim, Asela que fazia parte do ao renomado romano gens Caeonii e parte
de sua família aderiu às experiências cristãs no decorrer do quarto século
E.C.
Acreditamos que Jerônimo produziu essa missiva para mostrar mais uma 241
vez o exemplo de uma virgem para as demais mulheres cristãs. Isto é, essa
carta se adequa como uma representação do gênero feminino em seu
tempo, contudo, particularmente, acreditamos que eram somente as
mulheres pertencentes aos grupos mais poderosos do Império Romano na
Antiguidade Tardia.
Por último, concordamos com Michelle Perrot [2003: 21] que atestou que, 243
no campo das representações religiosas, os monoteísmos do Ocidente
adotaram uma visão bem negativa a respeito da figura feminina. A mulher
foi vista como causadora do mal existente no mundo – figura de Eva –,
como aquela que deve ficar em silêncio – relatos de Paulo. Ou seja, as
mulheres foram associadas ao pecado do qual os homens deveriam se
defender e, com isso, submetendo-as ao silêncio.
244
Assim posto, a renúncia sexual feminina permitiu que as mulheres ricas,
mediante o exercício da virgindade e a viuvez consagrada, criassem uma
rede de patronato e evergetismo sobre a nova fórmula da caridade cristã,
que consistia em uma das mais importantes bases econômicas da
comunidade eclesial e um atrativo para o proselitismo das manifestações
cristãs [Teja, 1999: 224]. Portanto, rompendo com a ordem androcêntrica e
patriarcal imposta a gênero feminino no Mundo Romano na Antiguidade
Tardia.
Nesse sentido, de acordo com que diz Paulo Freire, o professor tradicional é
visto como uma figura imponente e inquestionável, que se traduzia por um
ensino unilateral e decorativo, o aluno nesse modelo seria uma espécie de
receptáculo que assimilaria todo o conteúdo, forma que o autor considerada
ineficaz, haja vista que para ele o processo de ensino não é dado de forma
pronta, mas uma construção, ainda segundo o autor “ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção.” [Freire, 1996, p.12]
Assim, a escolha dos jornais e dos aspectos que para serem analisados em
sala de aula devem antes passar pelo crivo bibliográfico e teórico do
professor, afim de apreender sobre o contexto e os jogos de interesses que
podem conter na linguagem, símbolos e signos presentes nas páginas dos
jornais.
Uma vez realizada essa discussão de cunho teórico de eixos como o desafio
do ensino, jornal como fonte e a sobre a construção de um modelo
masculino atrelado ao ideal de uma nação saudável e moderna presente no
Período Republicano, se faz relevante compartilhar a proposta de ensino a
qual foi pensada desde o início da pesquisa. Bueno [2008] aborda que as
propagandas de medicamentos não eram divulgadas de forma desconexas
da realidade, antes estabeleciam uma ligação evidente com a conjectura
social, isto é, o assunto do momento.
Nesse óptica, uma primeira ideia de trabalho na sala de aula seria levar os 251
alunos a partir das propagandas de medicamento previamente selecionadas
a identificarem o motivo e circunstâncias delas estarem sendo divulgadas,
trabalhando com a curiosidade do aluno, levando o a querer entender o
contexto, não é claro cobrando um vigor acadêmico, mas estimulando sua
participação no processo de ensino aprendizagem.
252
Em suma, foi apresentado alguns exemplos de ideias que ainda estão
desenvolvidas, considero um trabalho inovador e talvez isso seja um
problema, entretanto considero ser uma proposta que pode ser passível ser
colocada em pratica em sala de aula, vale ressaltar que é uma proposta que
considero ainda em fase de gestação, isto é, considero em aberta para fazer
ajustes e modificações em um futuro não tão distante.
Referências
João Marcelo Dutra Araújo é graduando em Licenciatura Plena em História,
pelo Centro de Estudos Superiores de Caxias, da Universidade Estadual do
Maranhão –CESC/UEMA. Bolsista PIBIC/FAPEMA – Fundação de Amparo à
Pesquisa do Maranhão – FAPEMA. Membro do Grupo de Estudos de Gêneros
do Maranhão- GRUGEM/UEMA
Jakson dos Santos Ribeiro - Professor Adjunto I, Doutor em História Social
da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (2018). Mestre em História
Social pela Universidade Federal do Maranhão (2014). Especialista em
História do Maranhão pelo IESF (Instituto de Ensino Superior Franciscano)
(2011). Graduado no Curso de Licenciatura Plena em História da
Universidade Estadual do Maranhão (Centro de Estudos Superiores de
Caxias-MA) (2011). Coordenador do Grupo de Estudos de Gêneros do
Maranhão- GRUGEM/UEMA Coordenador do Laboratório de Teatro do Centro
de Estudos Superiores de Caxias – CESC – Campus /UEMA.
ALVES, Francisco das Neves. O ensino da história por meio dos jornais
antigos: as imagens acerca dos atores político-partidários à época imperial.
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um modelo de masculinidade urbana em Florianópolis (1889-1930). Tese
(Doutorado em História) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
MATOS, Maria Izilda Santos de. Cabelo, barba e bigode: masculinidades,
corpos e subjetividades Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 17, n.02
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UNESP, 2003, pg. 107-128.
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saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
GRUPOS SOCIAIS FEMININOS NO CONTEXTO FEUDAL: O
TRATADO DO AMOR CORTÊS (C. 1186) NO ENSINO DE
HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Luciano José Vianna e Juliana Caroline de Souza Araújo
O contexto no qual essa obra foi composta foi marcado pelo feudalismo.
Assim, as práticas e os comportamentos presentes nela são reflexos do
contexto feudal, uma vez que o Tratado do Amor Cortês se caracteriza
como um tratado normativo. Para Raúl Cesar Gouveia Fernandes, os
pesquisadores devem observar os dados históricos considerando o contexto
no qual os mesmos foram compostos. Isso configura uma interação com
princípios culturais e sociais da época, que permite uma investigação de
qualidade. (FERNANDES, 1999, p. 9) Assim, compreendemos que pela
influência da relação feudal de vassalagem “a mulher é equiparada a uma
suserana; [...] o amante mostra submissão total à mulher, exprime o
desejo de ser aceito como seu vassalo e oferece-lhe incansavelmente os
seus serviços.” (BURIDANT, 2000, p. 39).
André Capelão foi um clérigo secular. Havia uma diferenciação básica entre
o clérigo secular e o clérigo regular, uma vez que o primeiro é encontrado
nas cortes feudais e o último nos monastérios, seguindo alguma regra de
vida. Essa constatação mostra que Capelão estava muito próximo à
realidade das mulheres nobres, por isso existe um detalhamento
comportamental considerável sobre elas no Tratado do Amor Cortês.
Entretanto, devemos destacar que, embora o espaço e o tempo de escrita
de Capelão estejam voltados para um contexto nobre, percebemos em sua
obra aspectos destacados para as mulheres que pertenciam a outros grupos
sociais no contexto do feudalismo.
258
5. As mulheres cortesãs. O último grupo social feminino que encontramos
na obra de André Capelão são as cortesãs. Existe uma diferenciação entre a
cortesã e a prostituta no Tratado do Amor Cortês, uma vez que a primeira é
encontrada nas cortes feudais, e a última em lupanares e nas ruas. De
acordo com Capelão, é necessário evitar a prática do amor das cortesãs,
pois este é revestido pela indecência e conduz o homem nobre ao pecado.
Como ocorre com as mulheres prostitutas mencionadas anteriormente, na
perspectiva de Capelão, os deleites do corpo em troca de presentes e
dinheiro são considerados comportamentos nefastos. O fragmento seguinte
mostra essa ideia: “Aliás, mesmo ocorrendo que uma mulher dessas se
apaixone, não resta dúvida de que seu amor é funesto para os homens:
todos os que tenham bom senso reprovam o comércio íntimo das cortesãs,
e quem as frequenta perde a boa reputação” (CAPELÃO, 2000, p. 208).
O Tratado do Amor Cortês é uma fonte que apresenta uma visão de mundo
sobre as práticas e os comportamentos do Amor Cortês, o qual não estava
acessível a todos os grupos sociais da época, apenas à nobreza. A fonte em
si, utilizada em sala de aula, serve para demonstrar a lógica
comportamental da sociedade feudal. Porém, como um documento como o
Tratado do Amor Cortês pode ser utilizado nas aulas sobre o feudalismo na
Educação Básica? Como a obra de Capelão pode ser utilizada para abordar a
situação social feminina no contexto feudal? A seguir apresentamos
algumas reflexões iniciais sobre como este documento pode ser utilizado no
processo de Ensino de História, as quais, obviamente, não se esgotam neste
trabalho:
1) Em primeiro lugar, utilizar um documento como este em um contexto
escolar serve para destacar a presença feminina no contexto feudal, período
geralmente conhecido a partir da ótica e ação masculinas – com ênfase no
aspecto bélico e nas relações sociais de vassalagem e de senhorio –
desmistificando, assim, a ideia de um Medievo masculino; 2) Ademais, tal
fonte também pode ser utilizada para demonstrar uma diversidade social
em termos femininos, o que auxilia o discente a compreender a existência 259
de diversos grupos sociais no contexto, o que muitas vezes pode não estar
presente em termos de materiais didáticos, como o livro didático; 3) Por
fim, o Tratado serve para se aproximar à lógica comportamental da
sociedade feudal, a partir da visão de Capelão, na qual os grupos
apresentados na narrativa tinham suas funções naquela sociedade. E dentro
desta lógica comportamental encontramos grupos femininos que estavam
presentes naquela sociedade.
Considerações finais
No decorrer da década de 1970, os estudos sobre a História das Mulheres
no Medievo trouxeram inúmeras possibilidades de abordagens e de fontes,
as quais foram importantes para o conhecimento das experiências históricas
medievais femininas. O Tratado do Amor Cortês consiste em uma
composição cultural na qual constam experiências de seu autor, André
Capelão, voltadas para o mundo feminino no feudalismo, ou seja, os grupos
sociais que eram formados por mulheres no contexto feudal. Assim, a
memória social do grupo feminino está cristalizada no Tratado do Amor
Cortês, incluindo aqueles grupos que não eram o objetivo do autor.
O Tratado do Amor Cortês nos permite romper não somente com a ideia de
um Medievo exclusivamente masculino, mas também com a ideia de
representação única da mulher no período medieval em termos sociais,
assim como nos tem permitido compreender a situação das diferenças
sociais – e os motivos destas diferenças – no contexto do feudalismo. Desse
modo, é importante ressaltar que os grupos sociais femininos estão
presentes na obra em espaços sociais distintos e, consequentemente,
possuem uma abordagem diferenciada por André Capelão. Por isso, é
preciso ter uma atenção específica para cada grupo, e isso deve ser
refletido e levado em consideração pelo professor em um contexto de
ensino de História.
Referências
Luciano José Vianna é Professor Adjunto de História Medieval da
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Professor permanente do
Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco/campus
Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a la Mediterrània pela Universitat
Autònoma de Barcelona (UAB). Membro do Institut d’Estudis Medievals
(UAB-IEM). Coordenador do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Medievalística (UPE/campus Petrolina).
Juliana Caroline de Souza Araújo é graduanda do Curso de História da
260
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina e integrante do Spatio Serti
– Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina).
Atualmente realiza seu projeto de Iniciação Científica como bolsista da
Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
(FACEPE) sob a orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna, cujo título é “A
representação da mulher no Tratado do Amor Cortês: práticas,
comportamentos e condição feminina no século XII.”
Fontes
Tratado do Amor Cortês. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Bibliografia
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pasado. Una historia de la escritura y el pensamiento histórico (AURELL,
Jaume; BALMACEDA, Catalina; BURKE, Peter; SOZA, Felipe). Madrid:
Ediciones Akal, 2013, p. 95-142.
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MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em:
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BURIDANT, Claude. Introdução. In: CAPELÃO, André. Tratado do Amor
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Lisboa: DIFEL, 1988.
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GEARY, Patrick. Memória. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude
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KLAPISCH-ZUBER, C. A mulher e família. In: LE GOFF, J. O homem
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VIANNA, Luciano J. Regras e comportamentos sociais no Tratado do Amor
Cortês de André Capelão (s. XII). Ponta de Lança. Revista Eletrônica de
História, Memória e Cultura, vol. 12, p. 204-219, 2018.
261
A IMPORTÂNCIA DO TEMA GÊNERO NAS AULAS DE HISTÓRIA
E HUMANIDADES: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS REDAÇÕES
NOTA MIL DO ENEM/2015
Juliana Dias Lima e Victor Romero de Lima
Devido ao exposto, vale relembrar o nome de uma antropóloga que não foi
mencionada nas redações, no entanto é de grande prestígio para o tema.
Margaret Mead, em 1935, contribuiu para a ruptura da ideia de que o
comportamento dos homens e das mulheres era determinado por fatores
biológicos em seu ensaio intitulado “Sexo e Temperamento”. Comparando
diversas sociedades, Mead conclui que as chamadas qualidades masculinas
e femininas não são baseadas em diferenças sexuais fundamentais e
determinantes, mas reflete condicionamentos culturais de diferentes
sociedades. Apenas o sexo é biológico [Mead, 1969].
Redação 3: “O ensino veta todo e qualquer tipo de instrução a respeito do
feminismo e da igualdade de gênero e contribui com a perpetuação da
ignorância e do consequente preconceito” [INEP, 2016, p. 53].
Considerações finais
Por meio da análise das cinco redações nota 1000 podemos perceber como
a argumentação antidiscriminatória, bem como o uso de conteúdos das
diferentes áreas de Humanidades, é valorizada pelo ENEM. Esse fato
reafirma a necessidade da defesa de um currículo de História e de Humanas
na Educação Básica que contribua para uma educação lastreada nos direitos
humanos e na democracia [Abreu, 2015].
268
Não é possível contribuir para a formação de cidadãos participativos em um
regime não democrático visto que durante a história, principalmente
durante o século XX, regimes totalitários contribuíram para a formação
cívica, porém, também fascista e nazista da população. Logo, uma
educação em direitos humanos focada na participação cívica da população
deve ser também em um regime que se perpetue a democracia [Benevides,
2003].
Nesse sentido, expressões vistas nas redações nota 1000 como “pré-
determinações sociais”, “sociedade patriarcal”, “determinismo biológico” e
até mesmo a frase “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, devem estar
presentes em sala de aula. O propósito é fortalecer a educação em direitos
humanos, situar o aluno e familiarizá-lo com fatos recorrentes socialmente,
dentre eles a necessidade de se combater a violência contra a mulher. As
aulas podem servir como estimulante para que os estudantes busquem
soluções para diversas problemáticas sociais, e não para que compactuem
com culturas discriminatórias e violentas.
Referências
Juliana Dias Lima é graduanda em Licenciatura no curso de Ciências Sociais
na UERJ e estagiária do projeto PIBIC "A Sociologia no ENEM e a visão dos
licenciandos em Ciências Sociais na UERJ".
E-mail: juuliana_dl@hotmail.com
Victor Romero de Lima é graduando em Licenciatira no curso de Ciências
Sociais na UERJ e estagiário do projeto PIBIC "A Sociologia no ENEM e a
visão dos licenciandos em Ciências Sociais na UERJ". E-mail:
victor.romero.lima@gmail.com
Reuniões sociais sempre foram uma boa direção a ser adotada como
estratégia de comercial. “No início do século XX, as atividades comerciais
concentraram a atenção nas elites de Medellín; uma parte importante de
sua atividade foi a importação de bens de consumo, dando lugar ao
crescimento comercial da atividade financeira” [Rodríguez J, s.f.]. Atividade
onde o homem de elite representa uma figura de autoridade e crescimento
econômico, um homem glamouroso, bem vestido, com detalhes sutis e
atenções.
Conclusões
A publicidade é um meio que indiscutivelmente conta e narra a mentalidade
de uma sociedade, mas não apenas isso, também elabora e ensina como ler
a própria sociedade, seus valores, suas representações, sua identidade.
Talvez possa até ser considerado um dos atores mais poderosos que
influenciam o processo de produção cultural das sociedades
contemporâneas, conforme expresso por Vanni Codeluppi [Codeluppi, 2007,
p. 152] A publicidade captura os significados existentes na imaginação
coletiva e os adapta aos produtos que anuncia, concedendo certos valores
simbólicos que são reproduzidos na sociedade.
Referências
Kelly Johanna Cadavid Sánchez, é tecnóloga em design industrial.
Atualmente é aluna de décimo semestre em Engenharia de Design
Industrial no Instituto Tecnológico Metropolitano - ITM em Medellín -
Colômbia. É membro do grupo de estudos em Cultura Material da mesma
universidade. Faz parte do grupo de talentos excepcionais ITM. Em 2019,
foi jovem -pesquisadora da mesma instituição na área de inovação social.
Maria Isabel Giraldo Vásquez é designer industrial, especialista em design
de embalagens, e mestre em história. Atualmente, trabalha como
professora e pesquisadora no departamento de design do Instituto
Tecnológico Metropolitano de Medellín - Colômbia. Faz parte do grupo de
278
pesquisa Artes e Humanidades e coordena o grupo de estudos em Cultura
Material da mesma instituição. Seu trabalho acadêmico abrange temas
sobre patrimônio, cultura material, educação e história.
Outro ponto analisado a partir das entrevistas foi o resgate buscado por
uma delas por uma técnica familiar que se perdeu: “Tem uma história que
eu gosto de lembrar e lamentar. É, a minha mãe, ela tinha um problema de
visão. Perdeu a visão no dia que eu nasci e ela sabia fazer um trabalho que
chama nhanduti que é do Paraguai e é um negócio raro, hoje em dia você
quase não vê. A minha vó esqueceu e a minha mãe que sabia fazer, mas
ela não pode me passar. Isso é uma coisa que eu lamento, chama nhanduti,
até um dia se você souber alguém que faça eu tenho muito interesse de
fazer” [LOPEZ, Janete. 2019]. Neste trecho da entrevista de Janete
conseguimos entender o que significou para ela a perda de tal saber.
Michael Pollak trabalha com o conceito de que a memória deve ser tida
como um fenômeno social e coletivo que perpassa o sujeito como indivíduo.
Levando em consideração a declaração de Janete após a análise meticulosa
dos dados relacionados às técnicas artesanais que são desenvolvidas em
nosso Estado fornecido pela Fundação de Cultura, conseguimos estabelecer
a perda de tal saber como algo coletivo, visto que de um número de mais
de 1000 artesãos registrados somente uma ainda possui tal técnica como
sua. Importante salientar ainda a ideia exposta pela artesã de que não era
qualquer tipo de ponto. Por diversas vezes a mesma afirma que existem
alguns tipos de bordado nhanduti, mas os pontos e técnicas desenvolvidos
pela sua avó eram dela e por mais que existam pessoas que consigam
reproduzir tal bordado, este nunca terá a mesma identidade daqueles que
foram feitos pelas mulheres de sua família.
Referências
Lislley Raquel Damazio é graduanda em História da Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul, Bolsita PIBIC.
Jaqueline Ap. M. Zarbato é professora da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul, Cidade Universitária, Campo Grande.
ALBERTI, Verena. História Oral: a Experiência do CPDOC, Rio de Janeiro,
Centro de pesquisa e documentação de história contemporânea do Brasil,
1989.
BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. BARCA, I. (Org.)
Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação
Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de
284
Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino
Fundamental: História. Brasília, 1998.
FERNANDES, VILARINO E GOMES, História Oral: Outras possibilidades para
o ensino de história. In: PADRÓS, Enrique Serra. (org), VI Jornada de
Ensino de História e Educação, Porto Alegre, 2002.
FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma
concepção ampla de patrimônio cultural. In: Memória e Patrimônio: Ensaios
Contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
HORTA, Maria de Lourdes Parreira; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO,
Adriane Queiroz. Guia de educação patrimonial. Brasília: Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
MEIHY, Jose Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral, Loyola, São Paulo,
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SOARES, André Luis Ramos (Org.). Educação patrimonial: relatos e
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HISTÓRIA DO CASAMENTO NA PRINCESA DO SERTÃO:
ANALISANDO AS NOTAS DE CASAMENTO NOS JORNAIS
CAXIENSES
Marciele Sousa da Silva e Jakson dos Santos Ribeiro
Introdução
O desenvolvimento da História Cultural vem reforçando o avanço na
abordagem das questões femininas ao longo do processo histórico, porém,
esses estudos tiveram força com o auxílio das outras ciências humanas,
com perspectiva interdisciplinar que permitiu entender a mulher dentro dos
seus vários aspectos, ou seja, em suas práticas, no imaginário social, nas
representações constituídas em relação a ela.
Assim, a pesquisa histórica tem passado por uma ampliação, em que passa
a apresentar uma grande variedade de objetos, novas fontes, metodologias
e abordagens. Tem-se procurado dar voz aos grupos, antes negligenciados,
como: crianças, doentes, operários, mulheres e tantos outros, que podem
ser considerados como “excluídos da história”. Neste processo de ampliação
e renovação os estudos sobre as mulheres e as relações de gênero
emergem com novos objetos e categorias de análise.
286
Por esse viés, Geneviève Fraisse e Michelle Perrot (1991), discorrem que
três movimentos contribuíram para a emergência das mulheres na história:
a crise dos grandes paradigmas, entre eles o positivismo e o marxismo,
visto que suas concepções não davam brechas à inserção da mulher; a
abertura da História que começa a refletir sobre grupos deixados de lado
anteriormente (mulheres, negros, operários), como na Nova História; e a
demanda social advinda dos movimentos feministas.
Casamentos:
Dia 8: Canuto Martinho Carneiro e Pedrolina Maria de Almeida.
Dia 9: Fabio da Costa Sousa e Barbara de Jesus e Silva.
(JORNAL DO COMERCIO, Caxias, 15 de Maio de 1915).
O Casamento
‘Casar sem amor é profanar o mais respeitável de todos os sentimentos;
casar sem amor é um suicidio moral. Os desgraçados que contrahem este
laço por frio calculo nunca terão lua de mel. O matrimônio teve por base o
affecto mutuo de dous coracoes. Os seres estreitados por este suave laço
reduzem os pesares da vida á metade e centuplicam as felicidades’.
Guerra JUNQUEIRO. (O PAIZ, Caxias, 07 de Setembro de 1905).
“A MULHER”
Para uma mulher ter merecimento real precisa aprender: A coser; a
cosinhar; a ser amável; a ser obediente; a ter livros uteis, a levantar-se
cedo; a fugir da ociosidade; a guardar um segredo; a evitar bisbilhotices; a
ser graciosa e alegre; a dominar seu gênio; a ser a alegria da casa; a cuidar
bem dos filhos; a convencer pela meiguice; a não falar antes do tempo; a
ser a poesia e a flor do lar; a não ser demasiada ciumenta; a não andar
sempre pelas lojas; a tratar de tornar-se agradável; a ter uma grande
bondade de coração (O PAIZ, Caxias, 27 de Março de 1904).
Considerações finais
Do início da colonização brasileira até meados do século XX, a mulher devia
obediência, primeiro ao pai e depois ao marido a quem seria entregue
preparada para assumir seu papel de esposa, recatada e submissa. A
preocupação com o casamento sobressaia à preocupação com a educação
formal para a mulher, e elas poderiam até serem educadas, mas, para o lar.
Referências
Marciele Sousa da Silva, Especialista em História do Brasil pelo IESF
(Instituto de Ensino Superior Franciscano), Graduada no Curso de
Licenciatura Plena em História, pelo Centro de Estudos Superiores de Caxias
da Universidade Estadual do Maranhão – CESC/UEMA. Graduanda do curso
de Pedagogia EPT pelo Instituto Federal do Maranhão – IFMA/UAB,
participante do grupo de Estudos de Gênero do Maranhão – GRUGEM/UEMA.
Jakson dos Santos Ribeiro Adjunto I, Doutor em História Social da Amazônia
pela Universidade Federal do Pará (2018), Mestre em História Social pela
Universidade Federal do Maranhão (2014). Especialista em História do
Maranhão pelo IESF (Instituto Superior Franciscano) (2011). Graduado no 291
Curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do
Maranhão (Centro de Estudos Superiores de Caxias-MA) (2011).
Coordenador do Grupo de Estudos de Gênero do Maranhão –
GRUGEM/UEMA. Coordenador do Laboratório do Teatro do Centro de
Estudos Superiores de Caxias – CESC/UEMA.
Fontes Hemerográficas
O PAIZ, Caxias, 27 de Março de 1904.
O PAIZ, Caxias, 07 de Setembro de 1905.
O PAIZ, Caxias, 19 de Julho de 1905.
JORNAL DO COMÉRCIO, Caxias, 14 Abril de 1915.
JORNAL DO COMERCIO, Caxias, 15 de Maio de 1915.
O JEITO CAPRICHO DE SER: MUDANÇAS DO PARADIGMA
FEMININO ATRAVÉS DA REVISTA JUVENIL
Marcos de Araújo Oliveira
Introdução
As revistas femininas durante muito tempo se constituíram como principal
292 produto da difusão de padrões e comportamentos de feminilidade,
instruindo mulheres das mais diversas maneiras a como agirem, pensarem
e a tornaram-se “belas e inteligentes”. Ainda que em muitos casos, o
conteúdo dessas revistas atendessem as necessidades do patriarcado para
a manutenção de um comportamento feminino que não quebrasse o
sistema de dominação masculina, incentivando uma “pureza” e “ternura”
feminina, nota-se que estas revistas também representaram uma mudança
no modo dessas mulheres conectarem-se com assuntos da sua realidade e
de terem um veículo de comunicação com o qual pudessem se identificar.
A Revista Capricho é uma das mais importantes nesse segmento; ela surge
em 1952 e se consolida ao longo dos anos através da produção de conteúdo
para o público adolescente, lida por jovens entre 12 e 19 anos. A Capricho
foi essencial para a construção de padrões sobre o “ser jovem” no Brasil,
criando ídolos adolescentes e convenções de comportamentos próprios ao
público “Teen”. Durante muito tempo foi comum ver em suas manchetes,
matérias ligadas a namoro, beleza, moda e questões comuns da
adolescência, muitas vezes com modelos que estampavam as capas dentro
das esferas hegemônicos de beleza tidas como padrão (louro, branco,
magro, etc).
Dessa forma, Luca (2008) defende que a utilização da imprensa não deve
se limitar a extrair um ou outro texto isolados, por mais representativos que
sejam, mas procurar elaborar uma análise circunstanciada do seu lugar de
inserção e tecer uma abordagem que faz dos impressos, a um só tempo,
fonte e objeto de pesquisa historiográfica, rigorosamente inseridos em uma
crítica competente.
Entre as várias reformulações que vão acontecendo nos anos 80, a Capricho
deixa de ser “a revista da gatinha”, mas continua aumentando o seu
alcance para um público feminino ainda maior, atingindo até mesmo jovens 295
da classe C. Na década de 90, a Capricho consolidou-se como uma das
maiores revistas para adolescentes no Brasil, levando em suas páginas os
mais diversos temas como sexualidade, beleza, saúde, família, futuro
profissional, etc.
Considerações Finais
Por muito tempo a impressa feminina sofreu muitos preconceitos,
entretanto com a reformulação da historiografia em buscar novas fontes
que revelem aspectos relevantes para o estudo das transformações
históricas, sociais, culturais e de gênero, as revistas femininas ganham
destaque em discursos históricos, pois são testemunhos relevantes dessas
transformações.
Cabe destacar que, nas suas versões impressas ou digitais, a Capricho cria
o seu próprio padrão de abordar assuntos do “ser adolescente” ou de
evidenciar ídolos tens. O estudo da difusão desses padrões, normas
comportamentais e discursos de famosos expostos na revista tem muito a
nos revelar dos valores e ideais da juventude, do passado ou da própria
contemporaneidade.
Referências
Marcos de Araújo Oliveira é graduado em Licenciatura em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio de periódicos. In:
PINKSY, Carla Bassanesi (org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto,
2008. 301
FERREIRA, Laize Minelli. Capricho, senhora do tempo: cronotopo e
autopoiese. 2016. 95 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Comunicação)
– Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2016.
GUIMARÃES, P. P. Falta de Capricho: uma análise sobre o discurso da
revista teen. 2017. 80 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Publicidade e Propaganda) - Faculdade de Comunicação, Universidade de
Brasília, Brasília, 2017.
GREGORI, Juciane de. Feminismos e resistência: trajetória histórica da luta
política para conquista de direitos. Caderno Espaço Feminino - Uberlândia-
MG - v. 30, n. 2 – Jul./Dez. 2017.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas.
Pro-Posições. Unicamp. v. 19 (2), 2008, p. 17-23.
DEL PRIORE, Mary. As mulheres e os livros: vidas que se contam ... In:
FIÚZA, Regina Pamplona (org). A Mulher na Literatura: criadora e criatura.
Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2010. p.155-180.
SANTOS, Aline Mayara Brito. O ideal de beleza: pedagogias culturais de
gênero na revista Capricho. 2016. 44 p. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá,
2016.
Porém, como explica José Rivair Macedo [1992, p.10]: “na idade Média,
como em outros períodos, a sociedade definiu os papéis e os lugares 303
reservados aos sexos”; entretanto, sabe-se que a sociedade medieval era
guiada por valores morais cristãos e pelo ideal de guerra, o que produzia
uma elevação do homem em detrimento da mulher. Portanto, ainda que
houvesse mulheres que conseguiam de certa forma ultrapassar as barreiras
impostas ao seu sexo, a submissão feminina era quase que padrão nesta
sociedade – claro que com exceções, visto no exemplo de rainhas como
Elizabeth Woodville (1437-1492), soberana que se destacou em meio a
“Guerra das Rosas”:
De acordo com Chartier [1990] desta forma, pode pensar-se uma história
cultural do social que toma por objeto a compreensão das formas e dos
motivos, ou seja, das representações do mundo social; estas, na revisão
dos atores sociais, traduzem as suas posições e interesses objetivamente
confrontados, e que, paralelamente, descrevem a sociedade tal como
pensam que ela é, ou como gostariam que fosse:
Côrrea [2013] explica que essa guerra consistiu numa série de lutas pelo
trono da Inglaterra, disputado entre as famílias rivais: Yorks (representada
pela rosa branca) e Lancasters (representada pela rosa vermelha) levando
a:
“Isso significa dizer que não vemos a questão da representação como algo
que ameace o conhecimento histórico ou que constitua uma negação do
mesmo. A dimensão da representação é uma possibilidade que deve ser
levada em consideração e não excluída apresentando como desculpas os
inúmeros problemas que traz consigo. Não estamos sugerindo que de um
lado está a representação e de outro o real formando uma dicotomia que
obrigue o leitor a escolher, ou ficar com a representação ou com o real.
Assim sendo, talvez possamos pensar a representação como uma dimensão
do real [...] Desta forma, a representação e o real são interdependentes,
um não existe sem o outro”. [SANTOS, 2011, p. 43]
Santos [2011] argumenta que as diferenças entre história e literatura
podem ser sintetizadas no fato de que o historiador representa
acontecimentos que não dependem de sua consciência para que possam
existir, ou seja, eles habitam na memória de quem os presenciou e podem
servir como testemunhas; já o literato tem a licença discursiva para
inventar situações e personagens sem a obrigação de ter referência no
308
mundo empírico. Conforme Santos explica [2011] ainda que independente
de historiadores falarem dela ou apresentarem suas perspectivas, existiu
uma cidade chamada Roma que foi capital do que ficou famoso como Antigo
Império Romano; entretanto, não há Terra média sem Tolkien ou Nárnia
sem Lewis.
Considerações Finais
Os romances históricos com base em um contexto histórico relacionado ao
Medievo, tem entre suas características a complexidade em abordar
temáticas ou eventos referentes a Idade Média que são permitidos pela
licença poética do seu escritor. Sendo assim, as tramas narradas por
romancistas como Plaidy e Gregory, ainda que ambientadas no cenário
medieval e com personagens históricas, expressam as próprias concepções
das suas autoras.
Referências
Marcos de Araújo Oliveira é graduado em Licenciatura em História na
Universidade de Pernambuco – UPE (Campus Petrolina).
CHARTIER, Roger. Introdução. In:______, A História Cultural: Entre
Práticas e Representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990. p. 13-28.
CÔRREA, Wesley. Razões e causas da crise política inglesa no tardo
medievo e a Guerra das Rosas: limites de sua interpretação. In: XVII
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. 2013. Natal. Anais... Natal: ANPUH,
2013. 11 p.
HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: História, Teoria, Ficção. 309
Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991. 331 p.
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Introdução. In: DUBY, Georges; PERROT,
Michelle (Orgs). História das mulheres no ocidente: A idade média. Porto:
Afrontamento, 1992. p. 9-23.
MACEDO, José Rivair. A mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 1992.
SANTOS, Dominique Vieira Coelho dos. Acerca do Conceito de
Representação. Revista de Teoria da História. Ano 3, n. 6, dez, 2011. p. 28.
SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da
História. São Paulo: Unesp, 1992. p. 63-95.
TAPIOCA NETO, R. D. A condição da mulher na Inglaterra do século XVI: O
discurso feminista em The Secret Diary of Anne Boleyn (1997). Monografia
de conclusão de curso (História) – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Ilhéus, 2013. 62 p.
Fontes Literárias
GREGORY, Philippa. A Senhora das Águas: A Guerra dos Primos – Livro I.
Rio de Janeiro: Record, 2014. 532 p.
GREGORY, Philippa. A Rainha Branca: A Guerra dos Primos – Livro II. Rio de
Janeiro: Record, 2012. 434 p.
GREGORY, Philippa. A Rainha Vermelha: A Guerra dos Primos – Livro III.
Rio de Janeiro: Record, 2013. 364 p.
GREGORY, Philippa. A Filha do Fazedor de Reis: A Guerra dos Primos – Livro
IV. Rio de Janeiro: Record, 2015. 476 p.
GREGORY, Philippa. A Princesa Branca: A Guerra dos Primos – Livro V. Rio
de Janeiro: Record, 2018. 560 p.
PLAIDY, Jean (Eleanor Alice Burford Hibbert). O Sol em Esplendor. Rio de
Janeiro: Record, 2000. 432 p.
AS REVISTAS DE MODA COMO FONTE HISTÓRICA: ESTUDANDO
A MODA MASCULINA NA PRIMEIRA REPÚBLICA NA PRINCESA
DO SERTÃO
Marta Gleiciane R. Pinheiro e Jakson dos Santos Ribeiro
310 O presente texto aborda o uso das revistas de moda em sala de aula, como
fonte histórica. Focando dentro dessa dimensão a questões das
perspectivas de masculinidades durante a Primeira República, na cidade de
Caxias/MA. No estudo das masculinidades elegantes na Princesa do Sertão,
explicitando o progresso que se deu o estudo sobre a moda, ajudando na
contextualização do assunto, auxiliando no processo de ensino-
aprendizagem e na dinamização da aula.
As roupas, tal como as demais fontes históricas, nos contam histórias, nos
revelam costumes, práticas e histórias de vida, possibilitando-nos de chegar
não só a conhecer uma época estabelecida como também a desvendar as
práticas culturais de um determinado grupo social, de modo específico dos
homens republicanos, no entanto ter a roupa fisicamente é um trabalho
árduo, restando-nos as fotografias e desenhos das mesmas nas Revistas de
Moda, visto que esses periódicos são fontes e consequentemente passam a
ser uma espécie de documento, uma vez que documento é tudo aquilo que
registra e apresenta informações ao pesquisador sobre o objeto estudado
seja qual for o estado físico em que se encontra, tal concepção foi
estabelecida com o surgimento da Escola dos Annalles, a proposta da
supracitada era trazer para a História novas abordagens, alargando o
campo objetal de estudo para os pesquisadores, da mesma forma que suas
fontes.
Explorando as revistas
A escolha das revistas trabalhadas no texto se deu pela sua popularidade no
período da Primeira Republica e por apresentarem conteúdo de moda para o
312
público masculino.
Nesse período a região se encontrava com outra revista que continha certa
influência sobre os homens, a Revista Maranhense, o folhetim não era
exatamente uma revista de moda assim como a Elegante, no entanto, ela
exaltava os grandes homens, prestava-lhes homenagens de aniversário,
quando passavam por alguma cidade do Maranhão, quando ocorria a posse
de algum cargo importante e quando faleciam, durante a análise quase não
se encontrou anúncios de roupas ou algo similar, percebemos apenas uns
poucos anúncios sobre algumas alfaiatarias.
“Da mesma maneira que a moda não pode ser separada da estetização da
pessoa, a publicidade funciona como cosmético da comunicação. Da mesma
maneira que a moda, a publicidade se dirige principalmente ao olho, é
promessa de beleza, sedução das aparências, ambiência idealizada antes de
ser informação. Toma lugar no processo de estetização e de decoração
generalizada da vida cotidiana, paralelamente ao design industrial, à
renovação dos bairros antigos. Por toda parte se expandem a maquiagem
do real, o valor acrescentando estilo de moda”. [ LIPOVETSKY 1989, p.
189].
Algumas abordagens
Através das revistas de moda o professor pode trabalhar o gênero por meio
da moda, pois segundo Schpun:
Por tanto, a partir desse trecho identifica-se atribuições cruciais para por
em prática, o papel do professor será incentivar o senso critico dos alunos,
alem disso, aproximá-los a fontes os incentiva um estudo sobre a
importância das mesmas.
Considerações finais
A História positivista tida como tradicional e oficial é posta em “xeque” a
partir do advento da Escola dos Annales ampliando as possibilidades e
abordagens em relação as fontes e a escrita Histórica, assim como os
agentes históricos.
Referências
Marta Gleiciane Rodrigues Pinheiro é graduanda em Licenciatura Plena em
História, pelo Centro de Estudos Superiores de Caxias, da Universidade
Estadual do Maranhão-CESC/UEMA. Membro do Grupo de Estudos de
Gêneros do Maranhão- GRUGEM/UEMA e Grupo de Teatro do Centro de
Estudos Superiores de Caxias – CESC – Campus /UEMA.
Jakson dos Santos Ribeiro - Professor Adjunto I, Doutor em História Social
da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (2018). Mestre em História
Social pela Universidade Federal do Maranhão (2014). Especialista em
História do Maranhão pelo IESF (Instituto de Ensino Superior Franciscano)
(2011). Graduado no Curso de Licenciatura Plena em História da
Universidade Estadual do Maranhão (Centro de Estudos Superiores de
Caxias-MA) (2011). Coordenador do Grupo de Estudos de Gêneros do
Maranhão- GRUGEM/UEMA Coordenador do Laboratório de Teatro do Centro
de Estudos Superiores de Caxias – CESC – Campus /UEMA.
Não eram todas as mulheres que olhavam para o trabalho com essas
preocupações, pois muitas não tinham escolha a não ser trabalhar na rua.
As mulheres das classes mais pobres tinham um benefício, uma certa dose
de liberdade, para circular e ir aonde precisassem sem a autorização dos
seus maridos - que muitas vezes não tinham, sendo mães solteiras - eram
pobres mas desfrutavam de uma certa liberdade financeira também pois
não dependiam do marido ou do pai, exclusivamente para ganhar dinheiro e
sustentar a família. Ainda assim essas mulheres estavam sujeitas a essas
normas imposta por uma alta sociedade, as quais estavam impedidas de
seguir pois o trabalho não era adequado para a mulher, era algo indigno,
muitas dessas mulheres que tinham que trabalhar não eram nem
consideradas mulheres, já que o trabalho consumia a sua beleza dando um
aspecto doentio à sua aparência [MAGALDI, 1992, p. 69]. Por sua vez as
mulheres pertencentes a essa alta sociedade, tinham uma estabilidade
financeira, que dependia do marido ou do pai, portanto não era totalmente
garantida, e não tinham liberdade, já que esta lhes era completamente
restringida tornando-as totalmente dependentes dos seus pais ou maridos.
“- Mas por que motivo não impediu o senhor essas despesas que eu fazia?
- Queria a paz doméstica.
- Não! – clamou ela -; o senhor queria ter por sua parte uma vida livre e
independente; vendo que eu me entregava a essas despesas imaginou
comprar a minha tolerância com a sua tolerância. Eis o único motivo, a sua
vida não será igual a minha; mas é pior... Se eu fazia despesas em casa o
senhor as fazia na rua... É inútil negar, porque eu sei de tudo; conheço de
nome, as rivais que sucessivamente o senhor me deu, e nunca lhe disse
uma única palavra, nem agora lho censuro, porque seria inútil e tarde”
[ASSIS, 2017, p. 196].
Uma boa esposa cuida bem de sua casa e é econômica, gastando apenas o
necessário para cuidar da casa, em todo caso é dever do marido fiscalizar
como a sua esposa está regendo a casa, se faz as atividades corretamente
e, acima de tudo, se trata o dinheiro com parcimônia, portanto o marido
também tem responsabilidades para o bom andamento do casamento, se
Vasconcelos ficar pobre ele vai descumprir com a principal dessas
responsabilidades que é a de sustentar a sua família e dar-lhe prestígio
social com a sua posição, já que a perderia com a pobreza. Assim o conto
constrói as imagens de Augusta e de Vasconcelos para zombar da alta
sociedade fluminense, pois Vasconcelos é o típico homem rico que vive
apenas da sua fortuna herdada, sem nenhum preparo para geri-la,
gastando-a de maneira imprudente, deita-se de madrugada e levanta-se
depois da uma da tarde. Enquanto que Augusta no desespero da
manutenção das aparências tem inveja da juventude da própria filha.
Referências
Milena Calikoski, acadêmica do 4° ano de História da Unespar – Campus
União da Vitória.
A violência é exercida contra os judeus que são vistos como inimigos para
os soldados da SS, os laboratórios de morte, que viriam a ser os campos de
concentração, seguiam uma “organização mortal”, onde era uma morte
peculiar, uma morte segmentada, em que primeiro ocorria a morte jurídica,
sucedida pela morte moral e por fim a física.
“A irritadiça Frida caiu na besteira de contar para Frau Fleschner que estava
com dor de dente. Prontamente, ela foi levada a um dentista, que lhe
arrancou dez dos seus dentes! Depois de um dia, eles a colocaram de volta
aos campos, cuspindo sangue. Ela só tinha 21 anos”[ Beer, cap. 05]
É visível que histórias assim como de Frida são inteiramente ignoradas pela
sociedade que continua a praticar barbaridades contra as mulheres como
afirma SAIDEL á Beatriz Montesanti (2016) “os atos praticados pelos
nazistas – e a negação deles - é precursor de diversas tragédias de
violência sexual contra as mulheres nos últimos 30 anos”. Também se deve
levar em consideração que houve um campo de concentração
especificamente para as mulheres, chamado Campo de Concentração de
Ravensbrük, onde as mesmas eram diariamente estupradas e assassinadas
pelos nazistas (já que pelo decreto de Nuremberg, assinado por Hitler em
1935, afirmava a proibição de qualquer relação sexual de arianos com
judeus). Em 1938 os nazistas deram início a construção do campo de
concentração de Ravensbrück, eles viram a necessidade visando a captura
de várias mulheres durante a Segunda Grande Guerra, Rocelle Saidel diz
que foi utilizado o trabalho escravo de pessoas que estavam no campo de
Sachsenhausen. [Saidel, introdução].
“Havia a “sala do gelo em Ravensbrück, onde pelo menor delito a gente era
obrigada a ficar descalça horas a fio em cima do gelo. Para um castigo
severo, muitas prisioneiras eram despidas e jogadas na sala de gelo. Não
admira que tantas ficaram permanentemente doentes em decorrência dos
campos” [Saidel, cap. 02].
Das mulheres que chegassem a engravidar, como se não bastasse tudo que
estavam vivendo, ainda eram obrigadas a abortar ou eram enviadas
novamente para suas respectivas regiões sem nenhum aparato.
Referências
Milena Silvério Ferreira é acadêmica do 4ºano do curso de História da
Universidade Estadual do Paraná – Campus União da Vitória.
BEER, Edith Hans. A mulher do oficial nazista. Rio De Janeiro: Ed. Harper
Collins. 2017.
MÜHLEN, Bruna Krimburg Von & STREY, Marlene Neves. As Mulheres e o
Holocausto: dando visibilidade ao invisível. Revista Digital de Estudos
Judaicos da UFMG. Belo Horizonte, v. 9, n. 17, nov. 2015.
MILGRAM, Avraham. & ROZETT, Robert. O Holocausto: as perguntas mais
frequentes. Jerusalem. 2010. 327
SAIDEL, Rochelle G. As judias do Campo de Concentração de Ravensbrück.
São Paulo: Ed. Universidade Estadual de São Paulo. 2010.
DANDO VOZ ÀS ESQUECIDAS: POR QUE AS MULHERES QUE
FIZERAM HISTÓRIA NAS CIÊNCIAS NÃO APARECEM EM SALA
DE AULA?
Nathália Moro e Anelisa Mota Gregoleti
Guiadas por tais reflexões, nossa intenção aqui é pensar acerca dessas
personagens, apontando para a necessidade de renovação, tanto dos
materiais utilizados em sala de aula quanto dos próprios docentes que,
muitas vezes, ainda são pautados pela historiografia tradicional que valoriza
apenas os grandes feitos e os grandes homens. Partiremos de uma revisão
bibliográfica que nos permite identificar em que momento as mulheres
começaram a ganhar voz na historiografia, observando sempre quais foram
as lutas e reinvindicações necessárias para que isso acontecesse. Depois,
refletiremos sobre a realidade atual do ensino básico acerca desta temática,
problematizando a importância de resgatar a História das mais diversas
mulheres a fim de construirmos uma educação mais igualitária e não
sexista em nosso país.
“[...] deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens como das
mulheres, e que não deveríamos tratar somente do sexo sujeitado, assim
como um historiador de classe não pode fixar seu olhar apenas sobre os
camponeses. Nosso objetivo é compreender a importância dos sexos, isto é,
dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir o
leque de papéis e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e
períodos, é encontrar qual era o seu sentido e como eles funcionavam para
manter a ordem social ou para mudá-la" (DAVIS, 1976, p. 90).
Dessa forma, o fato como a História surge e as necessidades que ela visava
atender, nos explica muito sobre a forma como os conteúdos continuam
sendo lecionados até hoje em sala de aula. Ensinar sobre mulheres
anteriores ou contemporâneas a nós, mostra-se de extrema necessidade e
urgência para o ensino básico, pois ao identificarmos estas personagens e
inseri-las nos conteúdos históricos, estamos resgatando vozes esquecidas
durante muito tempo e contribuindo para a construção de uma educação
menos sexista. Dentre as obras que podem nos auxiliar nessa atividade,
destacamos o livro História das Mulheres no Brasil (2004) escrito pela
historiadora Mary Del Priore e que narra a trajetória das mulheres no país a
partir da colonização; e a obra Extraordinárias – Mulheres que
Revolucionaram o Brasil (2018) de Aryane Cararo e Duda Porto de Souza,
cujo objetivo é apresentar 40 biografias de personalidades brasileiras.
Conclusão
A partir de uma revisão bibliográfica ficou claro que a luta pela inserção das
mulheres na História é um movimento que já vem ocorrendo com força
desde a década de 1970. Se pensarmos a nível da História da humanidade,
tais conquistas são extremamente recentes e, até mesmo por isso, ainda
encontramos dificuldades em implantá-las nas salas de aula do ensino
332
básico. Conhecer quem foram as mulheres que fizeram História nas mais
diversas áreas da Ciência é essencial tanto para a representatividade
feminina, pois é importante que meninas também saibam que podem ser
cientistas como muitas outras antepassadas ou contemporâneas a elas,
quanto para uma constituição educacional igualitária, na qual homens e
mulheres reconheçam a importância da igualdade entre os gêneros.
Referências
Me. Anelisa Mota Gregoleti é doutoranda no Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e bolsista CAPES.
Nathália Moro é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Estadual de Maringá (UEM) e bolsista CAPES.
Dr. Christian Fausto Moraes dos Santos (orientador) é professor pós-doutor
em História das Ciências, professor da Graduação e Pós-Graduação do
Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM),
bolsista produtividade do CNPq e orientador do Laboratório de História,
Ciências e Ambiente (LHC – UEM).
‘Grandes perguntas nos fazemos: A que ponto chegamos? Por que e como
chegamos? Que realidade é esta? O quê nos espera? As explicações
técnicas estão dadas, ou pelo menos são elaboradas. Mas as respostas para
a compreensão destas realidades só são possíveis se presarmos
historicamente a relação entre homem e o meio ambiente, se nos
debruçarmos sobre história ambiental buscando compreender as
imbricações entre a natureza a cultura’ [Funes,2013, p.204]
De acordo com Brulon [2015], Jean Blanc em 1972 definiu ecomuseu como
um museu específico do meio ambiente que funcionava como um elemento
do conhecimento. Por conseguinte, o autor destaca a ´´definição
336
evolutiva´´ proposta por Jean Blanc em 1973. A definição abordava o
ecomuseu como um museu ecológico, em meados de 1978 já se definia o
ecomuseu como uma estrutura nova experimentada e concretizada nos
parques naturais. Por fim, a última versão, define o ecomuseu como
laboratório, conservatório e escola que prioriza as diversidades.
Referências
Dra. Jaqueline Aparecida Martins Zarbato é professora de história na UFMS,
e coordenadora do grupo de estudos de ensino, mulheres e patrimônio
[GEMUP]
Discente Nelson Barros da Silva Junior é voluntario pelo projeto de Iniciação
Científica [PIVIC] no âmbito de Educação Patrimonial, Memória, Identidade
Regional e História Ambiental.
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário de Souza; SANTOS, Myriam Sepúlveda.
Museus, colecções e património: narrativas polifónicas. Rio de Janeiro:
Garamond Universitária, 2007. [Museu, memória e cidadania].
BARROS, José D’ Assunção. O campo da História: especialidades e
abordagens. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2004.
BITTENCOURT, C. Didática e ensino e História. São Paulo: Martins Fontes,
2004. 339
BRASIL, IPHAN, 2000.
BRULON, Bruno. A invenção do ecomuseu: O caso do Écomusée du Creusot
Montceau-les-Mines e a prática da museologia experimental. Mana, v. 21, n.
2, p. 267-295, 2015.
BURKE, Peter [org.].A Escrita da História – Novas Perspectivas. São
Paulo,UNESP, 1992.
FUNES, Eurípedes. História Ambiental–possibilidades de novos
olhares. Migrações e Natureza. São Leopoldo: Oikos, p. 203-221, 2013.
LEWIS, G. O papel dos museus e o código de ética profissional. In: BOYLAN,
P. J. Como gerir um museu: Manual prático. Paris: ICOM, 2004.
LOUREIRO, Carlos Frederico B.; COSSÍO, Mauricio F. Blanco. Um olhar
sobre a educação ambiental nas escolas: considerações iniciais sobre os
resultados do projeto “O que fazem as escolas que dizem que fazem
educação ambiental?”. Conceitos e práticas em educação ambiental na
escola, p. 57, 2007.
LUCCHESE, N. R., & Alves, G. L. [2013]. A educação ambiental nas escolas
estaduais de ensino médio em Campo Grande, MS. Revista HISTEDBR On-
Line, 13[51], 303-322.
PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos
avançados, v. 24, n. 68, p. 81-101, 2010.
SCHEINER, Tereza Cristina. Repensando o Museu Integral: do conceito às
práticas. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 7,
n. 1, p. 15-30, 2012.
UNESCO.Convenção do património mundial, cultural e natural, 1972.
Disponível em:
http://portal.unesco.org/la/conventions_by_country.asp?language=E&typec
onv=1&contr=pt. Acessoem 06jun. 2010
CORPO, FEMINISMO, QUEER E OUTRAS TEORIAS
Nila Michele Bastos Santos e Luana Martins Pereira
Ainda por essa visão é possível entender o papel do corpo nas propagandas
publicitárias, segundo Iara Beleli em “Corpo e identidade na propaganda”:
342
‘(...) A propaganda distingue categorias de pessoas e orienta modos de ser
e viver, centrando sua eficácia na atenção que ela desperta no consumidor.
Persuadir, independentemente do target, é seduzir, e a erotização passa
pelo corpo da mulher e pelo desejo do homem, informando um modo de
organização social no qual as relações entre mulheres e produtos são as
mesmas estabelecidas entre homens e mulheres, que parecem tomar o
lugar do produto’. (BELELI, 2007, p.211 e 212)
Metodologias
O estudo em questão se constitui em uma pesquisa exploratória,
bibliográfica de caráter qualitativo. Ela faz parte das ações do laboratório de
gênero (LEGIP) e foi dividido em duas etapas: a teórico-metodológica e a
prática.
Resultados e considerações
A partir das análises dos referenciais teóricos pesquisados na primeira etapa
do estudo, paralelamente, produzíamos desenhos e cards em consonância
com as temáticas apresentadas pela literatura específica escolhida, pois
acreditamos que as artes são um dos mecanismos mais promissores na luta
e no combate ao racismo, ao preconceito de gênero e outras
discriminações. Logo, ao nos valer da estética marginal e revolucionária dos
cards, pudemos fazer com que as teorias por nós estudadas, tenham tanto
um fácil entendimento, quanto uma rápida disseminação. Nosso público
344
alvo foi a Educação Básica, preferencialmente os alunos do ensino
fundamental, mas também procuramos alcançar aqueles que nunca tiveram
acesso, ou não sabem a respeito dessas discussões e de suas importâncias.
345
Do artigo “Gênero, uma categoria útil para análise histórica” de Joan Scott
foi escolhida a citação: “Do que se trata o gênero? é uma construção social
baseada nas diferenças percebidas entre os sexos” e inspirou o card “Do
que se trata o Gênero?”
346
A partir das diversas leituras voltadas para a teoria QUEER, uma sequência
de 5 cards, formou um pequeno guia explicativo sobre o significado da sigla
“LGBTQIA+” com as suas respectivas bandeiras, o primeiro card apresenta
o guia e consta a seguinte informação: “Sempre tratamos de discussões
relacionadas a comunidade LGBTQIA+, mas, do que se trata a sigla?”
348
Figura 12. Card “Seja uma mulher que levanta outras mulheres”.
351
Referências
Ma. Nila Michele Bastos Santos é Historiadora, Psicopedagoga, Especialista
em Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade
Federal do Maranhão. Professora EBTT de História do Instituto Federal do
Maranhão IFMA - Campus Pedreiras. Coordenadora do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas do IFMA campus Pedreiras e Coordenadora do
LEGIP. Contato: nila.santos@ifma.edu.br
Luana Martins Pereira, Técnica em Eletromecânica na forma integrada ao
ensino médio pelo Instituto Federal do Maranhão - Campus Pedreiras
(2019). Membro do LEGIP, Bolsista I.C. Júnior FAPEMA (2019). Atualmente
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí.
354
Entendendo o gênero
Definir gênero não é uma tarefa simples, pois abrange uma rede bastante
ampla de significados. Gramaticalmente, a palavra está ligada a dicotomia
feminino/masculino, embora em alguns idiomas apresente o gênero neutro.
Na biologia, representa uma unidade taxonômica, para a classificação dos
seres vivos. Todavia, quando levado em conta o contexto histórico, cultural
e social, representa, entre outros, as construções sociais atribuídas aos
indivíduos sobre o seu corpo sexuado, portanto, não se trata apenas da
diferença entre os sexos, mas em relações associadas às relações de poder,
à organização familiar, ao contexto político, como também na organização e
na história de uma nação, de uma sociedade.
Corpo e gêneros
Mesmo compreendendo que ao tratarmos de gênero concentramo-nos no
social, a discussão sobre corpo não fica de fora das análises, afinal, grande
parte das desigualdades de gênero, em especial contra as mulheres, levam
em consideração seus corpos. Segundo Elizabeth Grosz (2000, p.67): “A
sexualidade feminina e os poderes de reprodução das mulheres são as
características (culturais) definidoras das mulheres e, ao mesmo tempo,
essas mesmas funções tornam a mulher vulnerável, necessitando de
proteção ou de tratamento especial, conforme foi variadamente prescrito
pelo patriarcado.” Dessa forma, segundo o patriarcalismo, as mulheres, por 355
suas características corporais, não são suficientemente capazes de assumir
papéis semelhantes aos atribuídos aos Homens, e assim são justificadas as
restrições aos papéis sociais e econômicos das mulheres. Do mesmo modo,
os indivíduos do sexo masculino, “devem” assumir uma postura de
dominação e proteção, e consequentemente controle, dos demais
indivíduos.
356
Violência
A origem do termo violência vem do latim violentia e significa o ato de
violar alguém ou auto violar-se. “Além disso, o termo parece indicar algo
fora do estado natural, algo ligado à força, ao ímpeto, ao comportamento
deliberado que produz danos físicos tais como: ferimentos, tortura, morte
ou danos psíquicos, que produz humilhações, ameaças, ofensas” (PAVIANI.
2016). Todavia, é preciso levar em consideração as conjunturas históricas e
culturais dos grupos sociais, de modo que o conceito de violência ganha
amplos significados e teorias. Hannah Arendt, por exemplo, define violência
como “meio ou instrumento de coacção que constituem recursos ao serviço
exclusivo e soberano de uma dada autoridade (ou entidade), no exercício de
uma dada forma de poder.” (ARENDT. 1970) Sendo que existem situações
que propiciam os atos violentos, em especial àqueles em que há a “perda
de autoridade” ou situações em que existe a ameaça de transformação na
estrutura daquela relação de poder.
Violências de Gêneros
O termo Violência de Gênero surgiu em meados dos anos de 1990 e tratava
da violência contra as mulheres baseadas no gênero, isto é, visibilizar que 357
esse tipo de violência é decorrente das condições desiguais entre homens e
mulheres. Contudo, violência de gêneros, em suas várias facetas,
compreende toda conduta ou ato, baseado no gênero, que cause danos
físicos, psicológicos, morais, éticos, seja no âmbito intrafamiliar ou em
ambientes públicos. É uma das manifestações de poder presente
historicamente na estrutura patriarcal, que utiliza a violência como
instrumento dominação e exploração para garantir a permanência da
estrutura.
358
As formas de agressão são complexas, perversas e apresentam-se de
diversas formas como ameaças, humilhações, insultos, chantagens,
limitações, além de patrimonial, que é quando há o controle e privação de
bens ou dano a algum objeto de valor daquela vítima; há ainda violências
do tipo moral, quando há acusações, exposição, desvalorização da vítima; e
também sexual (estupros, abusos sexuais, impedir o uso de métodos
contraceptivos, etc.), podem se manifestar antes, durante e fora de
relacionamentos com a vítima.
Considerações finais
Segundo art. 2º da Lei Maria da Penha/2006 “Toda mulher, independente
de classe, raça, etnia..., goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver
sem violência...”, no entanto, dados registram alta nos casos de violência
contra mulher, principalmente mulheres negras. O Mapa da Violência 2015:
Homicídio de Mulheres no Brasil, elaborado pela Faculdade Latino-
Americana de Ciências Sociais (Flacso) mostra que a taxa de assassinatos
de mulheres negras aumentou 54% em dez anos, enquanto que, no mesmo
período, o número de homicídios de mulheres brancas diminuiu 9,8%. Isso
comprova que as violências de gênero também devem ter um recorte racial,
afinal, a violência contra as mulheres negras está relacionado ao peso
histórico da escravidão, na qual a mulher não estava de acordo com o mito
da “fragilidade” atribuída ao feminino, portanto, é necessária uma atenção
diferenciada para que sejam considerados esses e outros aspectos que
constroem esse tipo de violência.
Referências
Ma. Nila Michele Bastos Santos é Historiadora, Psicopedagoga, Especialista
em Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade
Federal do Maranhão. Professora EBTT de História do Instituto Federal do
Maranhão IFMA - Campus Pedreiras. Coordenadora do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas do IFMA campus Pedreiras e Coordenadora do
LEGIP. Contato: nila.santos@ifma.edu.br
Manuel Oliveira da Costa Neto, Estudante do Curso Técnico em Petróleo e
Gás Integrado ao Ensino Médio no Instituto Federal do Maranhão – IFMA
Campus Pedreiras. Membro do LEGIP (Laboratório de Estudos de Gênero do
Ifma campus Pedreiras), Bolsista I.C. Júnior da FAPEMA.
Introdução
Historicamente a família brasileira se construiu seguindo o exemplo
patriarcal dos portugueses, esse modelo subjugava todos os membros à
vontade do chefe da família, que não se constituía apenas de esposa e
filhos, mas de todos aqueles que dependiam ou permitiam-se dominar pelo
chefe da linhagem. Os papeis sociais foram separados de forma desigual
colocando para o homem o caráter de provedor e dominador, enquanto
relegava à mulher a submissão e incapacidade de gerir-se sozinha. Essa
desigualdade imposta se desdobrou em diversas violências de gênero, não
apenas atingindo a Mulher, mas todos aqueles que divergiam do padrão
patriarcal, tais relações devem ser compreendidas não apenas no binômio
de masculino/feminino; Homem/mulher, mas sim em uma perspectiva de
relações de poder nas quais um grupo subjuga outro de acordo com sua
necessidade. Nesse sentindo a sociedade acaba formando um discurso
normatizador que segrega todo aquele que vai de encontra a norma
estabelecida.
Fonte: http://www.deepask.com/goes?page=pedreiras/MA-Assassinatos-
de-mulheres:-Veja-o-numero-e-a-taxa-de-homicidios-da-populacao-
feminina-do-seu-municipio
Criado em maio de 2018 pela professora Mestra Nila Michele Bastos Santos,
o Laboratório contou inicialmente com apenas quatro discentes: Felipe
Alves, Luana Martins Pereira - ambos do curso Técnico em Eletromecânica
na Forma Integrada ao Ensino Médio -, Vitoria Regina Guimarães dos
Santos e Manuel Oliveira Da Costa Neto – estes do curso Técnico em
Petróleo e Gás na Forma Integrada ao Ensino Médio. Em agosto do mesmo
ano o projeto foi aprovado no EDITAL FAPEMA Nº 004/2018 – GERAÇÃO
CIÊNCIA e contemplado com financiamento para bolsas de Professor Jovem
Cientista e Estudantes de Iniciação Científica Júnior, além de fomento para
extensão.
Metodologias aplicadas
Por se tratar de um Laboratório de estudos e representar um espaço de
debates e contestações não há como estipular uma única linha de
conhecimento ou metodologia, o mais apropriado seria falar em
epistemologias e metodologias, no plural, uma vez que não há uma só
forma de produção do conhecimento, mas sim várias, a partir de diferentes
teorias. O que priorizamos, no entanto, é que toda produção realizada no
laboratório seja para a busca da equidade e alteridade entre os indivíduos
sociais, de modo que teorias que contradigam esses ideais são analisadas
com fim de contextualizações históricas ou a serem questionadas e
refutadas, mas jamais seguidas.
Considerações finais
Aos poucos o LEGIP vem se consolidando como uma importante voz na
comunidade escolar, na cidade em que se localiza e em suas adjacências.
Espera-se com isso contribuir para a desconstrução de padrões
estereotipados e preconceituosos sobre gênero e sexualidade culturalmente
construídos e que ainda são reproduzidos nas escolas brasileiras. Para tanto
busca-se divulgar os resultados de nossos estudos e pesquisas tanto em
artigos apresentados em eventos acadêmicos, quanto em textos simples e
didáticos voltados para educação básica, de modo que cada vez mais
adolescentes sintam-se capazes de construir sua identidade de forma livre e
desoprimida, aceitando suas especificidades.
Acredita-se que o LEGIP possa demonstrar que é nas relações de poder que
as desigualdades são criadas, sendo frutos de uma construção social e não
natural. Desse modo confia-se que ao exaltar as multiplicidades e
diversidade, sejamos capazes de aceitar as diferenças e combater os
preconceitos.
Referências
Ma. Nila Michele Bastos Santos é Historiadora, Psicopedagoga, Especialista
em Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade
Federal do Maranhão. Professora EBTT de História do Instituto Federal do
Maranhão IFMA - Campus Pedreiras. Coordenadora do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas do IFMA campus Pedreiras e Coordenadora do
LEGIP. Contato: nila.santos@ifma.edu.br
Metodologia
O estudo se estabeleceu em uma pesquisa exploratória e documental, de
carater qualitativo com técnicas da pesquisa bibliográfica.
Como dito na Introdução houve uma análise documental dos textos tanto
verbais, quanto os textos não verbais das Revistas Atrevida das edições de
1995 até os anos 2000, foram analizadas as capas, as fotos nas colunas de
moda, os editoriais e até às receitas que estão presentes nas Revista. Esta
documentação encontra-se no acervo do NEABI do campus Pedreiras, foram
essenciaias para identificar quais discursos são reforçados e classificar quais
corpos são exaltados, além é claro de indentificar quais são invisibilizados.
Todas as revistas foram lidas, mas somente dez foram escolhidas para
370
analises em relação a revisão de conteúdo, e estas foram escolhidas
aleatoriamente.
Análise da documentação
De modo geral, a revista por ter como público-alvo meninas adolescentes e
adaptar a sua linguagem para algo que seria próxima da realidade delas, se
utilizando de expressões, gírias, e também criando táticas para se
aproximar da leitora, como respondendo perguntas em quadros como Sabe
tudo sobre sexo ou Sabe tudo sobre tudo, tem a finalidade de se tornar um
meio mais convincente para a leitora, construindo uma ideia de que a
revista seria a “melhor amiga” da leitora, mas essa relação se torna passível
de crítica levando em consideração que a revista sempre carrega um apelo
comercial, e também por reproduzir diversos discursos esteriotipados, que
apesar de refletir a época, normalizava deteminados preconceitos. Márcia
Tiburi afirma em seu livro sobre o porquê de esses discursos serem tão
normalizados para as meninas da época: ‘Talvez seja realmente difícil
compreender a dominação masculina, porque estamos mergulhados nela. A
própria ideia de compreensão é controlada pelo sistema patriarcal’ (TIBURI;
2018, p.70)
Sobre o padrão das modelos que eram escolhidas para fazer parte das
fotos, quase nenhuma possuía um corpo que fosse diferente de branco e
magro, a não ser quando a revista estava retratando uma temática
específica, como na edição de janeiro de 1997 na qual a revista trouxe uma
reportagem sobre moda denominada “O vestido certo para o seu tipo de
corpo”, neste número ela trouxe dicas as meninas consideradas “cheinhas”,
em que aparecia uma menina não magra em comparação às outras
modelos da mesma manchete, contudo, esta ainda aceitável, ou seja, não
muito “cheinha”, aliás a revista usa esta palavra como forma de amenizar a
palavra gorda, passando uma ideia de que essa seria ofensiva, ou seja, que
ser gorda não é algo normal.
Revisão da literatura
Em sua tese de mestrado “Ser adolescente: construções identitárias em
revista” Helaine Dias de Araújo Oliveira traz a história de como o
adolescente se tornou um público lucrativo e como a linguagem se adequou
a esse público, ela mostra quais são as características dessa linguagem
analisando revistas brasileiras voltadas a meninas adolescentes, na qual a
linguagem toda tem uma finalidade extremamente comercial, um exemplo é
a revista vender uma ideia de ser melhor amiga da leitora para assim se
tornar mais persuasiva, características estas que foram observadas também
nas revista deste estudo, além do mais também é observado que quando
analisado sob este ponto os discursos problemáticos acabam ganhando
mais força já que a linguagem das revistas é muito persuasiva, essa tese
serviu então de base para o presente estudo, principalmente em relação a
374
linguagem.
Foi analisada também às ideias de Joan Scott que em sua obra “Gênero:
uma categoria útil para análise histórica” traz a história dos estudos de
gênero da época e o que seria “gênero”, sempre fazendo uma análise de
como gênero está relacionado às relações de poder e como às mulheres
acabavam sempre sendo inferiorizadas em relação aos homens, observa-se
este conceito no trecho:
‘Minha definição de gênero tem duas partes e várias sub-partes. Elas são
ligadas entre si, mas deveriam ser analiticamente distintas. O núcleo
essencial da definição baseia-se na conexão integral entre duas
proposições: o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais
baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma
primeira de significar às relações de poder’ (SCOTT, 1989, p. 21)
Aliás a teórica ainda analisa como as mulheres negras são oprimidas devido
ao racismo e ao machismo, até pelos próprios movimentos que deveriam
lutar por elas, no texto é feito uma crítica extensa ao movimento feminista,
mas ela também critica o movimento negro, pois mesmo eles sendo
excluídos por uma condição ainda podem oprimir, sendo a mulher negra a
última nesta escada social, como no trecho Ensinando a Transgredir ela
explica:
As mulheres brancas e os homens negros têm as duas condições. Podem
agir como opressores ou ser oprimidos. Os homens negros podem ser
vitimados pelo racismo, mas o sexismo lhes permite atuar como
exploradores e opressores das mulheres. As mulheres brancas podem ser
vitimizadas pelo sexismo, mas o racismo lhes permite atuar como
exploradoras e opressoras de pessoas negras. Ambos os grupos têm
liderado os movimentos de libertação que favorecem seus interesses e 375
apoiam a contínua opressão de outros grupos. O sexismo masculino negro
prejudicou a luta para erradicar o racismo, assim como o racismo feminino
branco prejudica a luta feminista. (HOOKS, 1994, p. 207 e 208)
Referências
Hiza Júlia Ruben Corrêa Leal é Bolsista PIBIC ENSINO MÉDIO 2019/2020 -
EDITAL PRPGI N° 04/2019 Aluno do ensino médio integrado ao Curso de
Eletromecânica do IFMA- Campus Pedreiras.
Email: hiza.julia@acad.ifma.edu.br
Nila Michele Bastos Santos é Historiadora, Psicopedagoga, Especialista em
Formação de Professores. Mestra em História Social pela Universidade
Federal do Maranhão. Professora EBTT de História do Instituto Federal do
Maranhão IFMA - Campus Pedreiras. Coordenadora do Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas do IFMA campus Pedreiras e Coordenadora do
LEGIP. Contato: nila.santos@ifma.edu.br
HOOKS, Bell. “Ensinando a Transgredir”. WMF, 1994, pp. 193 210 GROSZ,
Elizabeth. “Corpos Reconfigurados”. Pagu (14), 2000, pp. 45-86
OLIVEIRA, Helaine Dias de Araújo. Ser Adolescente: construções identitárias
em revista. Orientador: Dr. José Luiz Aidar Prado. 2010. 115 f. Dissertação
(Mestrado em Comunicação e Semiótica) - Pontifícia Universidade Católica
De São Paulo, São Paulo, 2010.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? 1°ed. São
Paulo.Companhia das Letras. 2018
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. In: Gender
and the Politics of History. New York: Columbia University Press, 1989.
Tradução: Cristine Ruffino Dabat e Maria Betânia Ávila. SOS CORPO.
3.ed. Recife, 1996. Disponível em:
http://www.observem.com/upload/935db796164ce35091c80e10df659a66.p
df
SOUZA, Márcia Rebeca Rocha de; OLIVEIRA, Jeane Freitas de;
NASCIMENTO, Enilda Rosendo do; CARVALHO, Evanilda Souza de Santana;
Droga de Corpo! Imagens e Representações do corpo feminino em revistas
brasileiras. Rev Gaúcha Enferm. 2013;34(2):62-69.
SANTOS, Silvana Mara de Morais dos; OLIVEIRA, Leidiane. Igualdade nas
relações de gênero na sociedade do capital: limites, contradições e avanços.
Rev. Katál. Florianópolis v. 13 n. 1 p. 11-19 jan./jun. 2010. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rk/v13n1/02.pdf
TIBURI, Márcia Angelita. Feminismo, para todas, todes e todos. 7°ed. Rio
de Janeiro. Rosa dos Tempos. 2018
LEVANTAMENTO QUANTITATIVO DE MULHERES
PARTICIPANDO DO PLEITO ELEITORAL E MULHERES ELEITAS:
SOMBRIO/SC (1988-2016)
Paola Vieira da Silveira
A historiadora Marla Luiza de Andrade Amorim [2015] relata que após esse
período, em 1985 criou-se o conselho nacional dos Direitos da Mulher e com
a promulgação da constituição de 1988 as mulheres participaram com
assiduidade dos debates e da Constituição cidadã. Neste sentido, Lolatto
[2016] aponta que em 1995 foi realizada em Pequim a VI Conferência
Mundial sobre a Mulher, dela resultou uma plataforma de ação onde uma
das medidas visava ações para garantir o acesso das mulheres a estruturas
de poder. Todavia, a participação feminina na política ainda é
desproporcional em relação aos homens, a autora evidencia tal fato:
Considerações Finais
Com a análise das tabelas, é possível perceber que nos primeiros anos a
diferença na quantidade de candidatos entre homens e mulheres era mais
expressiva, e com o passar do tempo a disputa eleitoral foi gradativamente
ficando mais equilibrada entre os gêneros, a lei de cotas foi o principal fator
para isso. Contudo este equilíbrio baseia-se apenas na quantidade de
candidatos, e não traduz a paridade de gênero na disputa eleitoral, bem
como entre os eleitos, evidenciando assim, que mesmo com a lei que
determina o espaço de candidaturas femininas, o desinteresse dos partidos,
que em sua maioria tem suas executivas formadas por homens de classe
média, em promover a participação efetiva da mulher na corrida eleitoral, e
mantendo assim apenas o percentual mínimo para registrar e aprovar suas
candidaturas. Isso expressa como a política partidária é um ambiente
masculinizado, machista, onde para se inserirem, as mulheres têm que
participar de acordo com as regras já impostas além de serem vistas
apenas como peças de composição numérica.
Referências
Paola Viera da Silveira é historiadora e professora, mestra em ciências
ambientais, atua como pesquisadora associada do laboratório de
arqueologia da UNESC e como professora na rede estadual de ensino de
Santa Catarina.
“Em outras reflexões, o termo sexo foi questionado por remeter ao biológico
e a palavra gênero passou a ser utilizada para enfatizar os aspectos
culturais relacionados às diferenças sexuais. Gênero remete à cultura,
aponta para a construção social das diferenças sociais, diz respeito às
classificações sociais de masculino e feminino” (PINSKY, 2009, p. 162).
O gênero visa, pois, sublinhar o caráter social, cultural e histórico das
identidades masculinas e femininas, refutando a oposição binária entre
homens e mulheres e redimensionando suas possibilidades de atuação
enquanto sujeitos sociais. Conforme Scott (1995), este conceito seria uma
forma primeira de significar as relações de poder e implicaria em quatro
aspectos que influenciam a questão da construção identitária, a saber: 1)
símbolos culturais que evocam representações múltiplas; 2) conceitos 385
normativos (doutrinas); 3) políticas, instituições e organizações sociais; 4)
identidade subjetiva. Estes aspectos influenciam a construção da identidade
visto que promovem representações e estabelecem padrões de conduta
femininos e masculinos.
Referências
Patrícia Rocha Carvalho é atualmente Pós-Graduanda em História,
Sociedade e Cultura pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). Possui licenciatura em História pela Universidade de Santo Amaro
(UNISA) e em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Atua
profissionalmente como Professora de Educação Básica da Rede Estadual de
Ensino de São Paulo, lecionando as disciplinas de História e Filosofia.
Além disso, são escritos muitas vezes por pessoas públicas ou profissionais
da saúde, como por exemplos psicólogos e psicanalista, que recortam
trechos de diferentes teóricos a respeito de inúmeros temas numa tentativa
de fundamentar suas concepções, resultando numa mescla horrível
denominada “ideologia de gênero” uma falácia encontrada facilmente em
sites. Associada a está temática de gênero, está à sexualidade, que possui
diversas formas de interpretações na nossa sociedade, como por exemplo, a
mercantilização dos corpos que faz com que determinadas partes sejam
banalizadas.
De acordo com a autora, essa vigilância faz com que determinadas partes
do corpo sejam vistos como normais e outras sejam demonizados por esta
cultura social que vivenciamos. Por pertencermos a uma sociedade
patriarcal, conservadora e fundamentada nos dogmas católicos ainda nos
tempos de hoje, gênero e sexualidade entre outros assuntos, são temas que
sofrem discriminações ao serem abordados nas instituições escolares.
Referências
Mestre Darcylene Pereira Domingues, pelo Programa de Pós-Graduação em
História na Universidade Federal do Rio Grande.
Rafaela L. Oliveira, graduanda do curso de História Licenciatura na
Universidade Federal do Rio Grande.
Joan Scott, em seu texto História das Mulheres, faz uma contextualização a
respeito do tema, tratando do início de sua consolidação a partir da década
de 60 do século XX. Sua origem esteve intrinsecamente ligada à política,
por meio do movimento feminista, o qual buscava uma história que
colocasse as mulheres como agentes ativas da sociedade (1992, p. 64). A
história das mulheres confronta uma narrativa tida como “verdadeira”, onde
inclui um ser deixado a parte que precisa ser resgatado e lembrado.
(SCOTT, 1992, p. 77) Um ponto importantíssimo a se destacar é que a
história das mulheres não se centrou em vitimizar a mesma, mas em
produzir documentação onde mostra-se a distinção da mulher e comprova-
se a sua capacidade de se fazer história (SCOTT, 1992, p. 83).
Outro autor que trabalhou o aspecto da memória em suas obras foi Jan
Assman. Em seu texto Collective Memory and Cultural Indentity, Assmann
398
aborda o conceito de memória cultural, cujo principal aspecto se refere à
preservação da identidade de um determinado grupo e atua como
necessário à formação desta identidade (1995, p. 130). A formação dessa
memória cultural não depende apenas da escrita, mas está alicerçada em
diferentes objetos e formas de transmissão. Portanto, o conhecimento
ligado à memória cultural possui os aspectos de formador da educação e
fornecedor de regras de conduta (1995, p. 132). São estas características
que encontramos na obra de Pizan, a qual analisamos a seguir.
O livro A cidade das damas (1405) foi produzido diante das diversas obras
literárias de cunho misógino que despertaram em sua autora, Christine de
Pizan, vários questionamentos acerca do pensamento construído sobre a
mulher. A autora nos apresenta outro posicionamento acerca do papel das
mulheres na sociedade, e busca com isso defendê-lo propondo a construção
de uma cidade imaginária levantada com argumentos desconstrutivos em
relação ao pensamento misógino.
“Mas, ensinai-me, ainda, por favor, se Deus, que lhes concedeu tantas
graças que honram o sexo feminino, não quis honrá-lo, privilegiando
algumas delas com virtudes, grande inteligência e saber. Desejo muito
saber se seriam possíveis tais habilidades, pois os homens afirmam que as
mulheres são dotadas de fraca capacidade intelectual” (PIZAN, 2012, p.
126).
Percebemos por meio desses exemplos que a educação militar era existente
também no meio feminino, e não se concretizava apenas pela força, mas
estava intrinsecamente ligada ao comportamento, as virtudes, a forma de
se portar frentes aos diversos acontecimentos. Pizan resgata, então, tais
personagens do passado para utiliza-las em seu contexto.
O contexto intelectual
Em diversos momentos de sua obra, Pizan destaca o protagonismo de
personagens femininas em relação ao âmbito intelectual. Por exemplo, a
Imperatriz Nicole, personagem resgatada por Pizan, foi uma mulher
especialista nas Letras e nas Ciências que reinou nas terras dos antigos
faraós, e jamais foi visto homem de saber comparável. Ela governava com
prudência e sabedoria, promulgou ela mesma as justas leis que
governavam o seu povo (PIZAN, 2012, p. 93). Essa mulher mostrou grande
domínio do direito em seu governo.
E continua:
401
“Sem dúvida, é por elas não experimentarem coisas diferentes, limitando-se
às suas ocupações domésticas, ficando em casa, e não há nada mais
estimulante para um ser dotado de inteligência do que uma experiência rica
e variada.” (PIZAN, 2012, p. 127).
Considerações finais
Ao se voltar para o passado, Pizan resgata a memória de diversas mulheres
mostrando-nos a forte presença feminina em diversas áreas consideradas,
em seu contexto, de presença masculina: nas letras, no direito, na filosofia,
poesia, retórica, pintura, magia, jardinagem, agricultura, entre outras.
Resgatando as ideias de Assmann e Geary que vimos no começo deste
trabalho, a recuperação do passado alimenta a explicação do presente, e é
por meio dessas histórias do passado que Christine dá sustentação a sua
proposta educacional, recorrendo ao que já aconteceu para contradizer uma
402
posição tomada pelos intelectuais da época, que não condizia com a
realidade.
Referências
Luciano José Vianna é Professor Adjunto de História Medieval da
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina. Professor permanente do
Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco/campus
Petrolina. Doutor em Cultures en contacte a la Mediterrània pela Universitat
Autònoma de Barcelona (UAB). Membro do Institut d’Estudis Medievals
(UAB-IEM). Coordenador do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em
Medievalística (UPE/campus Petrolina).
Raiely Godoi Melo é graduanda do Curso de História da Universidade de
Pernambuco/campus Petrolina e integrante do Spatio Serti – Grupo de
Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/campus Petrolina). Atualmente
realiza seu projeto de Iniciação Científica como bolsista do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sob a
orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna, cujo título é “Reflexões sobre a
educação feminina no Medievo: uma análise da obra A cidade das damas
(1405) de Christine de Pizan (1363-1430)”.
Fonte
PIZAN, Christine. A cidade das damas. Trad. Luciana Eleonora de Freitas
Calado Deplagne. Florianópolis: Editora Mulheres, 2012.
Bibliografia
ASSMANN, Jan. Collective Memory and Cultural Identity. New German
Critique, No. 65, p. 125-133, 1995.
COSTA, Marcos Roberto Nunes; COSTA, Rafael Ferreira. Mulheres
intelectuais na Idade Média: entre a medicina, a história, a poesia, a
dramaturgia, a filosofia, a teologia e a mística. Porto Alegre: Editora Fi,
2019. 403
FONSECA, Pedro C. L. Fontes literárias da difamação e da defesa da mulher
na Idade Média: Referências obrigatórias. Série Estudos Medievais 2: Fonte.
pp. 168-188, 2009.
GEARY, Patrick. Memória. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean Claude
(eds.). Dicionário temático do Ocidente Medieval. Vol. II. São Paulo:
EDUSC, 2002, p. 167–181.
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Introdução. In: História das Mulheres. A
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Edições Afrontamento, 1992, p. 9-23.
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Masculino/feminino. In: LE GOFF, Jacques e
SCHMITT, Jean Claude (eds.). Dicionário temático do Ocidente Medieval.
Vol. II. São Paulo: EDUSC, 2002, p. 137-150.
SCOTT, Joan. História das mulheres. In: A escrita da História. Novas
perspectivas. Peter Buker (Org). São Paulo. Editora Unesp, 1992, p. 63–95.
SPIEGEL, Gabrielle M. History, Historicism and the Social Logic of the Text.
Speculum, 65/1, pp. 59-86.
O AVESSO DO ORDINÁRIO: TRATANDO SOBRE GÊNERO EM
SALA DE AULA A PARTIR DO ESTUDO SOBRE A CONDIÇÃO DA
MULHER NO BRASIL COLONIAL
Raimundo Nonato Santos de Sousa
Sobre isso, a historiadora Mary Del Priore (2008) nos diz que o discurso
médico do período colonial no Brasil propagandeava que a loucura e a
ninfomania, entre as mulheres, poderiam ser resultados do mau uso da
406
madre (leia-se genitália). É por isso que, como se argumentava na época, a
reprodução era necessária para se evitar a sufocação da madre, o que
envolveria a ação de vapores que sairiam do útero e iriam para as partes
superiores do corpo feminino (DEL PRIORE, 2008). Ainda de acordo com Del
Priore (2008), acreditava-se, inclusive, que o próprio útero poderia ir para a
garganta, o que provocaria o sufocamento e a morte da mulher (DEL
PRIORE, 2008). Esses eram argumentos que objetivavam convencer as
mulheres de que sua principal função era de gerar filhos; o que serve de
indicativo do apoio dado pela Igreja Católica ao projeto colonizador do
Brasil.
Ainda que não tenha conseguido obter êxito, a Igreja Católica realizou o
controle sobre as mulheres, como foi sublinhado anteriormente. Mas, como
se disse, muitas dessas mulheres subverteram essas imposições. O que
comprova isso são as constantes práticas de adultério, que eram realizadas
muitas vezes para suprir a solidão sentida por essas mulheres ou então
para experenciar o prazer sexual que os maridos geralmente não
proporcionavam a elas (VAINFAS, 1988).
408
Como consequência, nos conventos muitas mulheres davam vazão aos seus
desejos mais profundos - até então reprimidos -, passando a ter
envolvimentos com padres, visitantes e inclusive com as demais internas
(ALGRANTI, 1993). Além disso, conforme Algranti (1993), o convento foi a
primeira instituição a ser governada por mulheres; indicando com isso que
nesse espaço as mulheres conseguiam ocupar um lugar de comando,
delegação que a sociedade se recusava a lhes dar formalmente.
Como nos diz Vainfas (2008), Heitor Furtado Mendonça, durante sua
visitação, descobriu vinte e nove casos de mulheres praticantes do pecado
nefando, ou seja, a sodomia. Dessas vinte e nove, somente sete
responderam a processo, sendo que no final apenas três mulheres foram
castigadas pelos delitos cometidos; e dentre estas últimas, estava Felipa de
Sousa, que foi a única punida rigorosamente (VAINFAS, 2008).
Considerações finais
Portanto, longe de serem personagens inertes, estritamente passíveis e
obedientes, as mulheres no Brasil Colonial assumiam uma postura de
enfrentamento ao processo de adestramento, ao qual a sociedade do
período tentava lhes conformar. Elas faziam isso de modos variados, mas
com o mesmo objetivo: o de assegurar sua liberdade e sua autonomia
enquanto indivíduos dotados de vontades e desejos próprios. Certamente, a
iniciativa de fomentar a discussão sobre esse tema se torna necessária,
porque vivemos em uma sociedade que ainda carrega traços coloniais na
maneira como enxerga as mulheres. De modo que, tratar sobre esse tema
em sala de aula é uma maneira de, a um só tempo, discutir gênero em sala
de aula e mostrar para os alunos que as mulheres não podem ser reduzidas
a meros papéis de coadjuvantes na história. Afinal, elas não só tem história,
como também escrevem a sua própria história.
Referências
Raimundo Nonato Santos de Sousa – É acadêmico do oitavo período do
curso de História na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, campus
Caxias. Atualmente, atua como pesquisador-bolsista PIBIC/UEMA e
pesquisador-colaborador UNIVERSAL/FAPEMA.
O Ano de 2015
Com os Projetos intitulados “Direitos Humanos, vulnerabilidade e
interseccionalidade: Propostas de reflexão práticas à estudantes do Ensino
Médio” e “Expressão de Gênero da infância à juventude e Faces da
Homofobia” com o 9º ano, perpassou os objetivos de conscientizar toda
comunidade escolar a pensar as questões de preconceitos e discriminações
relacionadas ao sexo, raça, gênero, entre outras.
Cartaz 01
413
Cartaz 02
Cartaz 03
414
Cartaz 04
Cartaz 05
415
Cartaz 06
Cartazes do acervo próprio do autor.
Com isso, pretendeu fazê-los voltarem seus olhares para outras formas de
preconceito e discriminação, além das citadas anteriormente, tais como:
racismo, capacitismo, xenofobia, preconceitos de classe, de religião,
gordofobia, entre outros.
Azul para meninos, rosa para meninas; carrinhos para eles, bonecas para
elas. Desta forma, as diversas instituições sociais, como as escolas, as
igrejas, a família e a mídia, vão transformando crianças em meninos e
meninas, alinhando o gênero ao sexo biológico com o qual as pessoas
nascem. Crescemos aprendendo pelo cinema, pela literatura e pela
televisão que as mulheres só são felizes se casarem, se tiverem filhos/as e
que devem ficar apenas em casa. Já os homens têm que garantir o sustento
da família e circular pelos espaços públicos. Eles têm de ser mais
agressivos, enquanto que elas devem ser mais compassivas.
O Ensino Fundamental – Anos Finais, através das turmas dos nonos anos
(91 e 92), iniciaram as reflexões sobre as relações de gênero e entraram no
projeto no ano de 2015. As reflexões desenvolvidas pelos(as) alunos(as),
buscaram compreender a diversidade de experiências, culturas, formas
associativas e dinâmicas, que aos quais, para além desses sujeitos, uma
humanização crítica e respeitosa possa florescer nas terras de Águas
Mornas, no coração de jovens impulsionados pelo sentimento de mudança e
transformação de seu meio social.
O Ano de 2016
O projeto realizado em 2016, agora sem vinculação direta com o “Projeto
Papo Sério” – NIGS/UFSC, pois o mesmo recebeu cortes financeiros, deu a
oportunidade para a Escola de Educação Básica Coronel Antônio Lehmkuhl
andar com os seus próprios pés.
Referências
Mestrando em Ensino de História – UFSC, 2019-2020. Pós-graduado em
Fundamentos e Organização Curricular – UNISUL, 2018-2019. Especialista
em Gestão Pública pela Faculdade Municipal de Palhoça – FMP, 2016.
Graduado em História (Licenciatura) pelo Centro Universitário Leonardo da
Vinci – UNIASSELVI, 2014. Atualmente é professor da rede estadual de
ensino – Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina. E-mail:
rofefe23@gmail.com
426
Nesse sentido, como compreender a pequena quantidade de mulheres nas
engenharias, principalmente as que têm subáreas de especialização
teoricamente relacionadas ou que requerem maior força física? Como
exemplo especialidades dentro da engenharia Mecânica e engenharia de
Minas. Por que tão grande desproporção de gênero na distribuição de bolsas
de Produtividade em Pesquisa, nas lideranças de Grupos de Pesquisa, na
autoria principal de artigos científicos, na ministração de conferências e
palestras? Por que tão reduzida quantidade de mulheres Diretoras de
Centro ou Institutos, Pró-Reitoras, Reitoras?
Referências
Dra. Rosilene Dias Montenegro é professora de História do Brasil, e
coordenadora do Projeto Memória da Ciência e Tecnologia, na Universidade
Federal de Campina Grande.
CORRÊA, Mariza. Cara, cor, corpo. Cadernos Pagu. No. 54. 2018, pp. 01-13.
COSSI, Rafael Kalaf. Pensando a positivação da feminilidade: Luce Irigaray
e a psicanálise. Disponível em: <https://psibr.com.br/colunas/sexualidade-
e-genero/daniela-smid/pensando-a-positivacao-da-feminilidade-luce-
irigaray-e-a-psicanalise>. Acesso em 10 Set. 2019.
IRIGARAY, Luce. A questão do outro. Labrys, estudos feministas. No. 1-2,
Jul/Dez. 2002. Disponível em:
<http://www.historiacultural.mpbnet.com.br/feminismo/irigaray1.pdf>.
Acesso em: 10 Set. 2019.
KELLER, Evelyn Fox. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? No. 27.
Jul/Dez, 2006, pp. 13-34.
LIMA, Betina S; COSTA, Maria Conceição da. Gênero, ciências e tecnologias:
caminhos percorridos e novos desafios. Cadernos Pagu. No. 48, 2016, pp.1-
39
LOPES, Maria Margaret. Sobre convenções em torno de argumentos de
autoridade. Cadernos Pagu. No. 27. Jul/Dez, 2006, pp. 35-61.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. 1989, pp.5-
35.
IBGE. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil.
(2018). Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf
Acesso em: 4 Abr. 2020.
Jornal da USP. Desequilíbrio de gênero afeta mulheres cientistas no Brasil.
Disponível em:
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/desequilibrio-de-genero-
afeta-mulheres-cientistas-no-brasil/. Acesso em: 4 Abr. 2020.
430
AS POSSIBILIDADES DE TRABALHAR A MUSEOLOGIA DE
GÊNERO NO MUSEU JOSÉ ANTÔNIO PEREIRA EM CAMPO
GRANDE – MATO GROSSO DO SUL
Silvia Ayabe
A estátua
Em frente à casa de pau a pique, está a estátua de Antônio Luiz, Anna 433
Luzia, e Carlinda Contar. Respectivamente filho, nora e neta de José
Antônio Pereira. É uma estátua com muitas histórias contraditórias, diversos
sites, notícias e teses a tratam como sendo do próprio descobridor de
Campo Grande. Feita pelo artista plástico José Carlos da Silva, conhecido
como “Índio”, foi entregue ao museu na década de 80. Relatos de sua
esposa – dados a revista Vozes das Artes Plásticas, contam que o artista
acordava antes das quatro da madrugada para “bater pedra”. Moradores do
bairro Coophasul, em Campo Grande, tiveram sua casa visitada por artistas,
aprendizes, e compradores de todos os tipos.
434
Essa sociedade patriarcal do século XIX pouco permitia uma ascensão social
para a mulher, que muitas vezes via na subida financeira do marido sua
única possibilidade de percorrer melhor posição na sociedade. Portanto, o
casamento e o lar eram os locais de atuação dessa personagem, que
passava da tutela do pai à do marido. Sendo importante lembrar aqui da
mulher negra, presa fácil do sistema escravista nacional era vítima de
violência e sadismo.
Isso faz com que o estudo museológico sobre as mulheres nos permita
ressaltar que o conceito de gênero ultrapassa o determinismo biológico,
pois, não é possível traçar um único perfil para a mulher latino-americana.
438
É extremamente necessário estar atento as diferenças ao considerar a
trajetória de cada retrato, assim, a Educação Patrimonial pautada pela
perspectiva da decolonialidade nos permite trazer novas discussões que
questionem como tem sido o processo de dominação saber-poder sobre as
memórias da fundação da cidade.
A casa no século XIX permite elucidar toda uma visão social da vida
cotidiana daquela época, ela nos possibilita entender melhor a interligação
entre o espaço doméstico e a mulher. Considerando aqui que uma família
que possuía condições financeiras de fazer uma viagem entre Minas Gerais
e Mato Grosso do Sul é aquela pertencente à classe mais alta, podemos
afirmar que a figura feminina estava diretamente ligada ao trabalho com a
casa, pois, possuía uma vida mais reclusa. Dessa forma, essa mulher
exerceu maior influência na disposição espacial das residências. O nosso
objetivo aqui é apontar de que forma esse espaço museológico pode ser
mais bem pensado, fundamentado na importância do saber feminino na
constituição da sociedade.
Referências
Silvia Ayabe é aluna do Curso de História da UFMS, voluntária de Iniciação
Científica CNPq – PIVIC 2018/20, Pesquisadora no Grupo de Pesquisa
Ensino de História. Mulheres e Patrimônio. E-mail: silvia.ayabe@gmail.com.
Nunca ouvi contos de fadas da minha mãe, as histórias que ela contava
eram uma espécie de folclore da roça, onde tinha muitos lobisomens,
442 meninas d’água e assombrações. As histórias que eu ouvia falavam dos
camponeses, das peregrinações de João de Maria, das noites temidas da
quaresma. Fui ouvir sobre contos de fadas na escola, com a professora do
primário, com ela aprendi que existem princesas e bruxas, príncipes e
ogros, e de cara, logo percebi que nesse universo fantasioso que o conto de
fadas nos apresenta eu era a bruxa, a menina que vivia enclausurada na
biblioteca porque não era como as princesas, aquela que não dançava na
festa junina porque não tinha jeito, nem par (príncipe). Desde cedo aprendi
então, que os contos de fadas eram cruéis, pois nos mostravam paradigmas
que deveríamos seguir, e nos colocavam à margem quando não éramos
como seus personagens principais, tendíamos ao mesmo fim dos vilões,
éramos a prole destes.
Pese a isso, o lugar social do aluno, segundo ano do Ensino Médio, onde
grande parte era evangélicos neopentecostais, um universo de oitenta
adolescentes, uma multiplicidade única de desejos, sonhos e preconceitos
raizadas pela família e os grupos dos quais faziam parte. Esse é o pano de
fundo desse texto, que tem como objetivo apresentar minha experiência
pedagógica do ano de 2019, referente às discussões e produções realizadas
no conteúdo sobre questões de gênero, na cidade de Ponta Grossa, Paraná.
Há tempos que nos orgulham como professor, há histórias que precisam ser
contadas e recontadas, contos pós-modernos que na atualidade podem
começar por: era uma vez, uma bruxa que se tornou professora e gostava
de ensinar crianças a pensar...
Referências
Doutora em História, pela Universidade Estadual de Maringá. Professora da
Educação Básica. E-mail: cathain_celta@hotmail.com
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo, v.I, II. Tradução Sérgio Milliet. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
Darnton, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história
cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
LEÃO, Andreza Marques de Castro. Estudo analítico-descritivo do curso de
pedagogia da UNESP-Araraquara quanto à inserção das temáticas de
sexualidade e orientação sexual na formação de seus alunos. 2009. Tese
(Doutorado em Educação Escolar) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara, 2009. Disponível
em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/101587 Acesso em: 10
março 2020.
MILHOMEM, Maria Santana F. dos S. Gênero e sexualidade na escola:
experiências vividas na rede municipal de Palmas, Tocantins. Caderno
Espaço Feminino, v. 28, n. 1, p. 36-50, 2015. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/neguem/article/view/30848. Acesso em:
10 março 2020.
RABELO, Amanda Oliveira. Contribuições dos estudos de género às
investigações que enfocam a masculinidade. Ex æquo., n. 21, p. 161-76,
2010. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0874-
55602010000100012&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 março 2020.
448
SANTIDADE E VIRGINDADE NAS CARTAS DE SANTO
AGOSTINHO DESTINADA ÀS MULHERES: UMA QUESTÃO DE
GÊNERO PARA O SÉCULO XXI
Thaís Correa da Silva
Sobre gênero, a autora Joan Scott nos diz que: "As pesquisadoras
feministas assinalaram muito cedo que o estudo das mulheres acrescentaria
não só novos temas como também iria impor uma reavaliação crítica das
premissas e critérios do trabalho científico existente." [SCOTT, p.3, 1991].
A primeira carta a ser analisada será a 263. Tem como título-tema: “Carta
de consolación”. Foi escrita por volta de 420 d.C., tendo como destinatária
Sápida. Como sugere o tema, trata-se de uma carta de consolação. Santo
Agostinho escreve a Sápida de modo a tentar consolá-la devido ao
falecimento de seu irmão. Há não só referências às palavras santidade e
virgindade como também existem a relação entre elas. Logo no início,
Santo Agostinho a denomina como uma santa filha. “Agustín saluda en el
Señor a Sápida, señora piadosísima y santa hija”.[Agostinho de Hipona,
Epístola 263]. Outra referência é observada ao se falar de seu falecido
irmão, segue-se: “[...] para tu hermano, santo ministro del
Señor”.[Agostinho de Hipona, Epístola 263]. Aqui, a designação de santo foi
utilizada levando-se em conta o fato de que Timeteo fazia parte do clero.
Em outro trecho, Santo Agostinho a designa como “Santa irmã”. [Agostinho
de Hipona, Epístola 263].
A segunda carta é a de número 130. Foi escrita por Santo Agostinho após
411 d.C. Esta carta possuiu como título-tema: “La oración”. O tema
principal tem como foco conselhos (relacionados à oração) dirigido a uma
viúva. Nesta correspondência, é possível observar diversas referências, não
só sobre santidade, mais também sobre a virgindade. Porém, me
concentrarei em apresentar as menções que possuem relações. No trecho:
“Y no sólo tú, sino tu religiosísima nuera con tu ejemplo y las demás santas
viudas y vírgenes que se hallan bajo vuestra protección”. [Agostinho de
Hipona, Epístola 130]. Aqui podemos observar claramente a relação entre
santidade e virgindade [não só as virgens são consideradas sa ntas, mas as
viúvas também]. Ou seja, assim como na carta anterior, vê-se que para
Santo Agostinho a virgindade – no caso das mulheres- está ligada á
santidade. Entretanto, como dito anteriormente, esta carta tem como 451
objetivo auxiliar uma viúva a como proceder após o falecimento de seu
marido. É importante destacar a presença das palavras santo e santa, que
aparecem tanto para homens como para mulheres. No caso da santidade
alcançada graças à permanência da virgindade, deve-se tomar cuidado. A
remetente da carta, Proba, é viúva, o que significa que ela foi casada
anteriormente, e, muito possivelmente teve relações sexuais com seu
marido, ou seja, ela não é mais virgem. Entretanto, mesmo assim, Santo
Agostinho continua definindo-a como santa, a questão é, por quê? A
resposta pode ser retirada do trecho a seguir: “De todas estas
preocupaciones está libre la virginidad integral”. [Agostinho de Hipona,
Epístola 130]. Pode-se concluir, com base nessa passagem, que diferente
das virgens, que geralmente se preocupam com questões como:
matrimônio, filhos e o futuro destes, assim como sua própria virgindade,
Proba está livre desses questionamentos devido sua atual situação, o que
possibilita que suas atenções se voltem as orações. Ou seja, mesmo já
tendo sido casada, a santidade de Proba não é afetada, devido a sua viuvez,
que lhe proporcionou uma vida sem questionamentos “mundanos”, e uma
vida voltada para a oração, o que lhe dá, na visão de Santo Agostinho, a
classificação de pessoa santa.
A próxima epístola, 188, data entre os fins de 417 e inicio de 418 d.C.,
dirigida a Juliana. Esta, juntamente com as duas cartas a seguir, são as que
mais possuem referências entre virgindade e santidade. O titulo-tema é:
“Precaución ante un escrito de Pelagio a Demetríade” [Agostinho de Hipona,
Epístola 188]. O assunto que é discorrido durante toda correspondência se
remete o fato da filha de Juliana ter escolhido permanecer virgem, ou seja,
decidiu não se casar, em favor de uma vida voltada para a religião,
dedicada em suas orações. Como dito anteriormente, nesta carta existe
bastantes menções a santidade e a virgindade. Utilizarei dois trechos para
prosseguir em meus comentários. Leia-se, a seguir:
“He recibido con gran alborozo en el Señor a los santos hermanos Romano
y Ágil, otra carta vuestra [...]”. [Agostinho de Hipona, Epístola 31].
Por fim, é válido destacar que as treze cartas restantes [as já citadas 131 e
31, assim como a 32; 99; 124; 126; 127; 210; 262; 264; 265; 266 e 267]
possuem algumas referências à santidade. Em sua maioria, destinadas à santa
escritura, ou, como na carta dirigida a Theresia, a santos irmãos, como pode
ser observado a seguir: “Quizá vuestra santidade” [Agostinho de Hipona,
Epístola 124]; “[...] gozar perpetuamente con los santos [...]”. (Agostinho de
Hipona, Epístola 267); “[...] un acuerdo más santo [...]”. [Agostinho de
Hipona, Epístola 262].
Referências:
Thaís Correa Da Silva é graduanda em História [licenciatura] na Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
Agostinho de Hipona, Epístolas (31; 92; 99; 124; 126; 127; 130; 131;
150; 188; 208; 210; 262; 263; 244; 265; 266 e 267). 455
Disponíveis para consulta em:
http://www.augustinus.it/spagnolo/lettere/index2.htm
456 O uso das imagens no ensino de História não é uma proposta inovadora. Ao
folhear o livro didático encontramos durante as narrativas fotografias,
quadros e mapas que estabelecem algum tipo de relação com o que está
sendo abordado. Entretanto, apesar do fasto conteúdo iconográfico disposto
nos materiais, não se tem realmente um devido cuidado ao colocado ali, do
mesmo modo que não há por parte do professor e do aluno uma
contextualização daquele elemento. O que aquela imagem significa? Qual é
a sua história e o que ela nos conta a respeito do período no qual foi feita?
São questionamentos que deveriam ser feitos e respondidos em sala, nos
quais os educadores estariam estimulando não só o aprendizado dos
educandos, como também exercitando a capacidade de ler imagens além do
texto.
Desde seu surgimento em meados do século XIX, até os dias atuais, aos
quadrinhos configuram-se em um meio de comunicação que, ao unir texto e
imagem, detém um grande poder de transmitir ideias e visões de mundo
não só da época que buscam retratar como principalmente da época que
foram produzidas. Segundo André Luiz Sigueira [2012], é errôneo e até um
tanto quanto inocente reduzir as HQs um mero produto da indústria de
comunicação que tem por objetivo divertir, como um passatempo. Seu
conteúdo comporta uma linguagem codificada, jogos de palavras, imagens
e cosmovisões de uma época, que quer queiram quer não exprimem
ideologias próprias de um determinado período.
Desta forma, entendendo os Quadrinhos como um documento que exprime
ideias, valores e um retrato histórico social que ao unir a imagem ao texto
torna mais fácil a assimilação e a compreensão de um determinado fato ou
tempo histórico, o presente artigo tem por objetivo discutir a viabilidade da
utilização das Histórias em Quadrinhos [HQs] como fontes para o ensino de
História na sala de aula, apresentando ao fim duas produções que podem 457
ser empregadas tanto no ensino da História nacional quanto da História
Geral.
O trabalho com quadrinhos vem para promover uma quebra nessa tradição
cuspe-giz da sala de aula pode ser muito eficiente. Para Will Eisner [1989],
a Nona Arte, pois se constitui num veículo de expressão criativa, uma
forma que junta o artístico e o literário, de forma que dispõe as imagens,
figuras e palavras para contar uma história ou dramatizar uma ideia. Sendo
assim um conteúdo relevante no processo de aprendizagem.
Com o aumento das baixas e o conflito devorando cada vez mais seus
companheiros, a tenente Anna Kharkova rapidamente passa de uma
adolescente ingênua a uma veterana de combate endurecida. O inimigo
nazista já é ruim o suficiente, mas o poder aterrorizante da polícia secreta
de seu país torna a morte na batalha quase preferível. Gravemente ferida e
exilada de seu próprio povo, Anna começa uma odisseia que a levará dos
campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial para os terríveis campos
de castigo soviéticos - e no topo do mundo, bem acima do Oceano Ártico, a
protagonista continua sua missão, na esperança de encerrar a Guerra e
levar a vitória ao seu país.
Trinta e duas de seus membros morreram na guerra. Seus voos ocorriam 459
em Polikarpov U-2 de madeira e lona , um projeto de 1928 destinado ao
uso como avião de treinamento e para o pó de colheita , que também tinha
um especial U-2LNB versão para o tipo de missões de ataque noite assédio
transportados pelo 588, e até hoje continua a ser o mais produzido biplano
na história da aviação. Os aviões podiam levar apenas duas bombas de
cada vez, então oito ou mais missões por noite eram necessárias.
Levar um material para ser usado em sala de aula exige do docente muito
cuidado. Quando se trata de elementos visuais como os quadrinhos, a
prudência deve ser redobrada, visto que existem muitas produções que tem
uma recomendação de certa faixa etária por conterem imagens de lutas,
sangue e morte.Com o material escolhido, verificamos que este se
apresenta para a partir de 16 anos, sendo então apropriado apenas para o
ensino no 3º ano do ensino médio, no qual os alunos tem entre 16 a 20
anos/ou +.
Verificado a aplicabilidade etária da obra, iremos nos empenhar em uma
análise da HQ como um recurso didático na sala de aula. Sabendo de tudo
exposto no primeiro capítulo, compreendemos que a utilização das
diferentes linguagens para o ensino de História vem contribuindo para uma
maior dinâmica em sala de aula, de modo que no cotidiano o professor tem
a possibilidade de diversificar a prática do ensino e ofertar ao educando
uma melhor compreensão da mensagem histórica do evento.
Hunt [2006] nos diz que os documentos não são simples reflexos
transparentes do passado, mas sim ações simbólicas com significados
diferentes conforme os autores e suas estratégias os moldam. Assim, a
partir da Nova História Cultura, surge um interesse pela simbologia em
história, de forma que as relações sociais nos campos de produção e
interação cultural serão investigadas sob um olhar mais subjetivo. Na
supracitada HQ escolhida para o estudo de caso no presente capítulo, a
simbologia das imagens são uma constância, de modo que os educandos
são envolvidos tanto pela narrativa quando pela simbologia que elas
trazem. O passado é compreendido por uma nova ótica, ao desenvolver nos
leitores o envolvimento emocional.
Considerações finais
As recentes pesquisas na área do ensino têm demonstrado a importância de
se inserir outros tipos de linguagens nas salas de aula. As Histórias em
Quadrinhos, por sua vez são um tipo de linguagem diferençada por unirem
texto e imagem. Não obstante, é através de suas narrativas ficcionais ou
não que esse tipo de literatura remonta a tatos e épocas vividos,
explorando a imaginação por meio da leitura do texto e a interpretação das
imagens.
Tendo em vista o que foi exposto acima, podemos concluir que as Histórias
em Quadrinhos se constituem em uma fonte histórica rica, passiveis de
diversas leituras e aplicações, tanto para a pesquisa quando para o ensino.
Assim sendo, podemos afirmar que ao levar para a sala de aula um material
didático imagético, estaremos proporcionando aos alunos uma nova forma
de ver a História. Não obstante, essa prática dos saberes através de fontes
audiovisuais além de oferecer novas formas de estudar um fato ou período
histórico, poderá despertar no aluno um maior interesse na aprendizagem,
o fazendo perceber que a História não está presente somente nos livros
didáticos, ela está em tudo que é produzido pelo homem. Deste modo, ao
levar os quadrinhos para dentro da sala de aula, estaremos apresentando
uma dentre as várias infinitas produções humanas que contam a história de
um determinado tempo e acima de tudo a do tempo histórico que a
produziu, abrindo assim os horizontes sobre o que história e como
interpretá-las nas suas mais diversas manifestações cotidianas.
Referências
Thaís da Silva Tenorio, professora de História, mestra pelo Programa de
Pós-Graduação em História (PPGH/UFRN) Integrante do grupo de estudos
Teoria da História, Historiografia e História dos Espaços
Katty Cristina Lima Sá, professora de história, mestranda em História
Comparada pela UFRJ Bolsista Capes Integrante do Grupo de Estudos do
Tempo Presente (GET/UFS).
Como aponta Michele Perrot “As mulheres deixam poucos vestígios diretos,
escritos e materiais. Seu acesso à escrita foi tardio. Suas produções
domésticas são rapidamente consumidas, ou mais facilmente dispersas. São
elas mesmas que destroem, apagam esses vestígios porque os julgam sem
interesse. Esse silenciamento se dá em diferentes fontes históricas e, ainda
mais sobre a história das mulheres negras no Brasil [PERROT. p.17, 2017]
Somente nos anos 1990, tem-se a preocupação em dialogar sobre o gênero
interseccional. Djamila Ribeiro [2018] destaca que a romantização da
miscigenação no Brasil, contribui para a banalização da violência sexual.
Além disso, com a reestruturação do Ensino Médio, que a partir da BNCC irá
pontuar temas a serem abordados no Ensino de História, refletimos sobre a
importância de trabalhar em sala de aula com a História das mulheres
negras, partindo de situações problema em que vivem os/as estudantes e
pontuar as discussões em aulas oficinas. As aulas oficinas seguem a
concepção teórico-metodológica de Isabel Barca, que define o conceito
aula-oficina, são pautadas a partir de competências a serem desenvolvidas
nos alunos, elas encontram-se nas principais propostas curriculares para o
ensino básico e secundário de História. “I- É possível que as crianças
466
compreendam a História de uma forma genuína, com algum grau de
elaboração, se as tarefas e contextos concretos das situações em que forem
apresentados tiverem significado para elas. II – Os conceitos históricos são
compreendidos gradualmente, a partir da relação com os conceitos de
senso comum que o sujeito experiência. O contexto cultural e as mídias são
fontes de conhecimento que devem ser levadas em conta, como ponto de
partida para a aprendizagem histórica. III – Quando o aluno procura
explicações para uma situação do passado à luz da sua própria experiência
revela já um esforço de compreensão histórica. Este nível de pensamento
poderá ser mais elaborado do que aquele que assenta em frases
estereotipadas, desprovidas de sentido humano. IV – O desenvolvimento do
raciocínio histórico processa-se com oscilações e não de uma forma
invariante. Tanto as crianças, como adolescentes e adultos poderão pensar
de uma forma simplista, em determinadas situações, e de uma forma mais
elaborada noutras. V – Interpretar o passado não significa apenas
compreender uma versão acabada da História que é reproduzida no manual
ou pelo professor. A interpretação do “contraditório’, isto é, da convergência
de mensagens, é um princípio que integra o conhecimento histórico
genuíno.” [BARCA, p.139, 2004]
O que entendemos por “homem” e “mulher” são frutos de uma construção 469
social que varia de acordo com a cultura e o tempo histórico. Chamamos de
gênero os comportamentos, maneiras de vestir e de se relacionar impostos
ao masculino e ao feminino, que variam conforme a lógica cultural de cada
sociedade [BEAUVOIR, 1980]. Como vivemos em uma sociedade machista,
patriarcal e sexista, a mulher é uma das pessoas que mais sofre com a
violência de gênero. A violência acontece através da agressão verbal, moral
e física como assédio, humilhações e exploração sexual e em casos mais
cruéis chega ao feminicídio.
Considerações finais
A pesquisa mostra que os relatos de experiência citados pelos próprios
jovens e o material utilizado nas aulas de Sociologia e História expressam a
violência contra a mulher no Brasil nos últimos anos mostrados nos livros
didáticos, na mídia, internet e redes sociais e manifestam o preconceito, a
discriminação e a violência contra a mulher e traços do feminicído em nossa
sociedade.
Referências
Vanderlene de Farias Lima é graduada em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual Vale do Acaraú– UVA, Especialista em Educação e
Direitos Humanos pela Universidade Federal do Ceará -UFC e atualmente
cursa o Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional-
ProfSocio/UVA. É professora da Rede Estadual de Ensino do Ceará.
João Paulo de Oliveira Farias é graduado em História pela Universidade
Estadual Vale do Acaraú– UVA, Especialista em Educação, Pobreza e
Desigualdade Social pela Universidade Federal do Ceará -UFC e atualmente
cursa o Mestrado Profissional em Ensino de História- ProfHistória- na
Universidade Regional do Cariri-URCA. É professor da Rede Estadual de
Ensino do Ceará.
476
No capítulo VIII do livro, Forel apresenta a discussão sobre a patologia
sexual, indicando aos leitores, logo no primeiro parágrafo, a obra de Von
Krafft-Ebbing, Psychopathia sexual, como uma referência para uma
discussão mais abrangente sobre a temática, pois deixa claro que não
pretende estender ou aprofundar o debate sobre perversões do desejo
sexual [Forel, 1929]. Mas destaco que esse capítulo da obra de Forel traz
alguns pontos interessantes para analisar sua perspectiva a respeito das
patologias sexuais, enquanto reflexo das discussões médicas e científicas
sobre essas questões em fins do século XIX e início do XX.
Para falar dessas perversões, o autor utilizou-se das subdivisões feitas por
Krafft-Ebing: I. desejo sexual perverso, II. inversão sexual ou amor
homossexual, III. desejo sexual tendo por objeto crianças e IV. desejo
sexual tendo por objeto animais.
O desejo sexual perverso quase sempre tem por objeto o sexo oposto, e é
apresentado por Forel em três categorias. A primeira delas é a algolagnia,
ou seja, o prazer obtido pela dor. Ela pode se manifestar de forma ativa, no
caso do sadismo [infligindo dor a outrem] e de forma passiva, no caso do
masoquismo [excitação pela humilhação, submissão ou dor infligida ao
próprio indivíduo]. O segundo desejo perverso é o fetichismo, descrito pelo 477
médico como “sensações voluptuosas provocadas pelo contato ou pela
simples imagem de certas partes do corpo ou do vestuário da mulher”
[1929, p. 235]. Forel ressalta que o fetichista não é aquele que excita com
partes do corpo ou situações que normalmente inspiram o desejo sexual,
como os seios, os órgão sexuais, o rosto, o cheiro ou a nudez, mas sim, um
ser patológico que tem seu desejo conectado essencialmente a certos
objetos como lenços, luvas, botinhas, ou características de cabelo, mãos,
pés, ou até mesmo certas deformidades físicas. O terceiro e último desejo
sexual perverso nesta subdivisão, é o exibicionismo cujo desejo sexual
consiste em se masturbar na presença de outras pessoas do sexo contrário.
Forel cita nesta categoria também os voyeurs, pessoas que se excitam
observando o ato sexual de outros. [1929]
Destaco que essas falas são importantes para revelar algumas construções
de gênero do período, ou seja, toda uma gama de elementos simbólicos que
descrevem ou determinam o lugar, os comportamentos, os modos e os
papeis esperados das mulheres, e dos homens na sociedade.
Além disso, Forel aponta outra característica tida como “própria da mulher”
no caso da inversão feminina, que é o sentimento de simpatia, carícias e
envolvimento emocional. Ele explica que nos homens, qualquer carícia
sensual pode se caracterizar como suspeita de inversão; o homem “normal”
não sente desejo de beijar ou acariciar outro homem, muito menos de ter
relações sexuais com ele, pois sabe separar nitidamente a simpatia da
sensação ou estímulo sexual. Já na mulher “normal”, os sentimentos de
simpatia exaltada de uma “invertida” podem facilmente provocar o desejo
de beijar, acariciar, abraçar, dando a essas mulheres um certo prazer
sensual. Ou seja, a exaltação física relaciona-se diretamente ao sentimento
de simpatia, não podendo ser separados [Forel, 1929]. Para ele, portanto, a
mulher tem uma “tendência” devido ao seu gênero, de ceder e se entregar
mais facilmente aos desejos e paixões, do que os homens.
O desejo sexual tendo por objeto crianças é uma questão, segundo Forel,
muito debatida no período. Discutia-se essencialmente, se tal “desejo
sexual” pode ser caracterizado enquanto perversão, uma vez que muitos
casos em que os abusos e atentados cometidos contra crianças eram efeitos
da demência senil ou do abuso da inocência para satisfação do desejo
sexual “normal”, isto é, aqueles que abusavam de crianças, também eram
capazes de manter relações sexuais com mulheres. [Forel, 1929].
Por fim, Forel discute o desejo sexual tendo animais por objeto. Ele destaca
que o desejo sexual humano exclusivamente por animais não é algo
frequente, e defende que a cópula entre humanos e animais geralmente se
justifica pela falta de oportunidade de uma satisfação sexual normal,
afetando tanto homens, quanto mulheres [1929]. Desde que tal perversão
não resulte em “crueldade ou tortura”, especialmente aos animais menores,
Forel considera tal patologia como “uma das mais inocentes” [1929, p.
252]. Ele explica que foi a imaginação humana que estigmatizou tal ato do
ponto de vista moral, considerando-o crime. Mas para ele, desde que
praticada com animais maiores, tal perversão não causa prejuízo nem ao
animal, nem a terceiros.
Essas foram algumas das perversões sexuais descritas por Forel em sua
obra “A questão sexual” [1929]. Ele esclarece que existem inúmeras outras
perversões, mas optei por apresentar e descrever essas como principais.
Considerações finais
Em fins do século XIX e início do XX, a medicina preocupou-se em
medicalizar e orientar a sexualidade das pessoas com a desculpa da
manutenção da higiene e da moral dos indivíduos e das famílias.
Referências
Vanessa Cristina Chucailo é doutoranda em História pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro [Unirio] e bolsista CAPES.
Essa pauta foi amplamente discutida e denunciada tanto pelo Sindicato dos
Metalúrgicos do Amazonas, que representava a categoria de trabalhadores
do Distrito Industrial de Manaus, como pela grande imprensa manauara.
Segundo dados do próprio sindicato, 50% da categoria era formada por
mulheres. Em denúncia ao Jornal A Crítica, revelou-se que as indústrias
adotavam medidas que levavam as mulheres a optar pelo aborto,
considerando o elevado número de demissões de mulheres grávidas a partir
de 1985. Além disso, os próprios médicos das empresas indicavam o
aborto. Neste sentido, a distribuição de anticoncepcionais as operárias
dentro da fábrica é um indicio que a ordem era que não houvessem
gestantes no quadro de empregados. [A Crítica, fev/1986 p.10].
Um exemplo desse controle foi o Projeto Pathfinder. Teoricamente,
implantado com o objetivo de estimular e apoiar soluções inovadoras no
campo populacional e de estratégias de planejamento familiar, mas na
prática foi de esterilizar as operárias do Distrito Industrial de Manaus, em
um prazo de 12 meses a contar de julho de 1985, inicialmente atingindo
2.400 famílias. “O projeto pretendia desenvolver as seguintes ações:
doação de 60% de anticoncepcionais orais, 20% de aplicação de DIU, 10% 483
de laqueaduras e 10% de outros métodos” [A Crítica, maio /1986 p.11].
Com isso, a empresa se tornou um espaço de discriminação e manipulação
dos corpos femininos, evitando que as operárias ficassem grávidas. O
principal objetivo de implementação deste projeto no setor industrial era
“eliminar atrasos, faltas e licenças que prejudicassem a produção, assim
como, conter o aumento excessivo do exército de reserva” [Ribeiro, 1987,
p.289].
484
A questão se mostrava um tanto polêmica. O que para uns era considerado
um programa de planejamento familiar, para outros seria a esterilização em
massa de mulheres contra a sua vontade. De acordo com um artigo
publicado pela socióloga, Sandra Jouan, a questão do planejamento familiar
suscitava muitas dúvidas. Para o Centro da Mulher Brasileira – setor
Amazonas, o planejamento familiar deveria ser uma opção livre e
consciente da mulher e do casal em relação ao número de filhos, assim
como a melhor maneira para preveni-los. A partir do posicionamento do
Governo do Amazonas, o Centro da Mulher se colocava contra a qualquer
forma sutil imposta à população feminina quanto a sua composição familiar.
No caso da mulher trabalhadora, os riscos eram dobrados: “a eminência de
serem demitida e de terem o filho ainda no ventre, contaminado dadas as
péssimas condições de trabalho das empresas” [Jornal do Comércio,
out/1985 p.02].
Além do Amazonas, o projeto foi implantado nos estados de São Paulo, Rio
de Janeiro, Fortaleza, Recife, Curitiba e Brasília. No entanto, após alguns
testes foi comprovado pelo Ministério da Saúde que uma série de
irregularidades vinham sendo cometidas em relação as pesquisas iniciadas
em mulheres de todo o país desde 1985. O risco a saúde da mulher ficou
eminente. [Jornal do Comércio, jan/1986 p.06]. Devido a ameaça a vida
dessas mulheres, a Secretaria Municipal de Saúde – SEMSA descartou no
primeiro semestre de 1986, a implantação total do projeto por parte das
empresas do Distrito Industrial de Manaus. De acordo com o secretário da
pasta, Fernando Ferreira, o projeto foi rejeitado devido a pressões de
diversas entidades da sociedade civil. Podemos dar destaque para o papel
do Comitê da Mulher Trabalhadora no empenho em denunciar e cobrar um
posicionamento das instituições ligadas à saúde quanto a fiscalização deste
projeto. [Jornal do Comércio, jun/1986 p.08].
Além do trabalho de fiscalização, o Comitê da Mulher Trabalhadora
desenvolveu um trabalho base com o objetivo de conscientizar as operarias
do Distrito Industrial quanto ao perigo de utilização de métodos
contraceptivos fornecidos pelas empresas sem a devida procedência. A
pressão exercida por diversas entidades ligadas à defesa do direito
mulheres no Amazonas contribuiu para alertar a sociedade civil quanto aos
perigos oferecidos pelo Projeto Pathfinder na região, sem considerar as 485
características locais e sem consultar as mais interessadas nesse processo,
as trabalhadoras. A arbitrariedade das empresas esbarrou na resistência
feminina construída paulatinamente dentro do movimento operário do
Distrito Industrial de Manaus desde o início da década de 1980. A recusa
dessa esterilização em massa foi apenas o princípio desta luta.
Referência
Vanessa Cristina da Silva Sampaio é mestranda no Programa de Pós-
graduação em História da Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
CAPES.
Outras fontes
Jornal A Crítica, Manaus.
Jornal do Comércio, Manaus.
Relatório das atividades da Pathfinder Fund - Sistema de Informações do
Arquivo Nacional – SIAN
A ESCOLA CONSERVADORA EM BORDIEU: DESAFIOS AO
ENFRENTAMENTO DOS PARADIGMAS HETERONORMATIVOS
POR MEIO DA EDUCAÇÃO EM GÊNERO
Victor Hugo de Almeida França e Pablo Afonso Silva
Assim como Daniela Finco (2003) aborda em seu texto “Relações de Gênero
nas Brincadeiras de Meninos e Meninas na Educação Infantil”, a escola é
uma das primeiras ferramentas de imposição de formas de comportamento
diferenciadas pela construção física. Segundo a mesma, a experiência com
alunos de 4 a 6 anos revela o não reconhecimento das relações de poder na
divisão de gênero quando, naturalmente, escolhem com o que brincar e
com quem se relacionar nessas brincadeiras, evidenciando que “gênero é,
portanto, um conceito eminentemente relacional e político” (MADUREIRA,
2007, p. 66).
Por esta análise, não seria possível instituir um sistema que estrutura as
relações na sociedade sem a abordagem da sexualidade. “O gênero
biológico é apresentado como uma das dicotomias fundamentais da
natureza e replicado na ordem social pelas classificações mais básicas à
vida de uma criança” (OLIVEIRA; DINIZ, 2014, p.3).
A Escola conservadora
Ao se falar em escola conservadora é preciso deixar claro que, o presente
estudo não refere-se a escola denominada conservadora como uma
instituição exclusiva de vertentes políticas de direita ou esquerda, mas
como uma instituição que prioriza determinados conceitos e ideias perante
a uma sociedade extremamente diversa. Sendo assim, torna-se
imprescindível não usufruir dos estudos do sociólogo francês Pierre
Bourdieu.
Segundo Bourdieu:
Considerações finais
Conclui-se que, o gênero como uma categoria de análise (SCOTT, 1995) é
de extrema importância na compreensão dos sistemas que hierarquizam as 491
identidades de gênero na sociedade e esta, por sua vez, se faz necessária
na análise dos processos de marginalização e invisibilização das identidades
homossexuais.
Referências
Victor Hugo de Almeida França, graduando do curso de Licenciatura em
História, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três
Lagoas (UFMS/CPTL), e-mail: vhugo012@hotmail.com
Pablo Afonso Silva, graduando do curso de Licenciatura em História, pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas
(UFMS/CPTL), integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação de
Professores (GForP-UFMS/CPTL), e-mail: pabloafonsosilva@hotmail.com
“Achei minha rival muito engraçadinha, mas custava a admitir que fosse a
mulher talhada para meu antigo fã, pois o conhecia de perto para saber
suas preferências. Enfim cheguei a evidência de que não estava enganada
quando soube que haviam desfeito o noivado. E pouco tempo depois eis que
ele me procura para saber se ainda o amava. E dizer que era eu, e não a
outra, a mulher talhada para sua vida, ora, Eu ainda o amava, e quanto!
Estamos casados há dois anos e espero meu primeiro bebê. Estou pedindo a
Deus que seja um garotinho para continuar o nome do meu adorado
Gilberto.” (O CRUZEIRO, 12 de janeiro, 1952)
“Boa formação moral: apesar das ideias modernas a moça que sempre se
soube se fazer respeitar tem aos olhos de seu marido um valor todo
especial.
Conhecimento da questão sexual em boas fontes: Fui educada, sem minha
mãe e o recato natural que nos separa de um pai levou-me a satisfazer
minha curiosidade (desperta pelo que considero más conversas) em livros
científicos vários e em conversas com pessoas que eu considerava de bom
senso. Assim sendo, não tive choques, nem surpresas nas primeiras
experiências conjugais.
Tempo suficiente de noivado: Por diversos motivos meu casamento foi
adiado e tivemos noivos, pouco mais de dois anos. Esse espaço de tempo
permitiu-me um conhecimento bastante profundo sobre o homem que seria
meu marido e da família dele, o que é um ponto importantíssimo.
496
Sorte: Em último lugar, para não me alongar demasiado, há muita coisa,
que escapa a qualquer cálculo de pretensão, está enfim, completamente
fora das mãos da gente. A isso chamam de estrela, destino ou sorte.
Também pode ter influenciado o fato de eu ter me casado já com 23 anos”.
(O CRUZEIRO, 26 de janeiro de 1952)
A grande problemática em torno desta sessão é que ela não leva em conta,
que cada indivíduo, vive e expressa sua sexualidade de diferentes maneiras.
Grande parte do problema está na heterossexualidade normativa, pois esta
é opressora: “na medida em que busca criar uma estabilidade entre sexo,
gênero e desejo” (MARIANO, 2005, p. 487). A pureza sexual, representada
pela virgindade, além do recato era algo fundamental nesta sociedade,
distinguindo socialmente a moça de família da leviana. A jovem decente era
que: “conserva sua inocência sexual e não se deixava levar por intimidades
físicas com os rapazes [...] mantendo-se virgens até o matrimonio
enquanto aos rapazes era permitido ter experiências sexuais”. (PINSKY,
1997, p.610)
“Nada de divórcio, o Brasil não está preparado para a visita deste ditador,
ouçamos antes a voz do coração, a exemplo do Mestre que disse: perdoai
nossas dividas, como perdoamos os nossos devedores” (O cruzeiro, 27 de
fevereiro de 1952).
Uma fala que nos chamou muita atenção foi a coluna escrita assinada por
Maria Teresa, responsável pela sessão Da mulher para a mulher, que se
intitulava: Nível Intelectual, nela lemos o seguinte:
Esta não é a primeira, nem a última vez que Maria Teresa se posiciona
quanto a essência feminina. Na edição de 16 de Fevereiro de 1952, ela
498
escreve:
“Liderança feminina
Há pessoas que não fazem uma ideia perfeita da posição da mulher no seio
da família. Umas revoltam-se, acham que a mulher casada perde a
personalidade. Outras, vão além, acham que se transformam numa
verdadeira escrava do marido. Surgem então novas opiniões, mais erradas
ainda, de que ela deveria mandar e o marido obedecer. A mulher casada e
feliz assume dentro da família uma posição que lhe foi ditada pela própria
natureza feminina, na sua essência. Querer contrariar as leis naturais é
entrar em choque com a própria condição humana, é criar situações
insustentáveis.”
Aqui explicitamente temos o uso dos termos, ditada pela própria natureza,
essência, leis naturais, condição humana, demonstram como erroneamente
o fator biológico tenta explicar os papeis sociais. Compreendendo a cultura
como um campo de disputa onde se vive e se representa a masculinidade e
a feminilidade, estas visões universalistas, como as apresentadas por Maria
Teresa se tornam demasiadamente simplistas: “Para manter as hierarquias
entre o masculino e o feminino, as possíveis ameaças a “mulher culta” [...]
certo nível cultural é necessário para que saiba conversar e agradar os
rapazes” (PINSKY, 2017, p.625-627)
Considerações finais
Através desta pesquisa, buscamos refletir sobre a imposição de uma
determinada conduta para o gênero feminino na década de 50, influenciada
pelos meios de comunicação, tais como a revista O Cruzeiro. Tendo em
vista analises aqui realizadas, com base na categoria de gênero e história
das mulheres, conseguimos constatar em primeiro lugar que a unidade
mulher é excludente e normatizadora “como se todas as mulheres o fossem
de modo idêntico” (LOURO, 1995, p.115).
Referências
M.a. Vitória Duarte Wingert: Mestra em Processos e Manifestações
Culturais- Universidade Feevale. Especialista em Mídias na Educação (IFsul
Pelotas) Licenciada em História - Universidade Feevale. Professora na Rede
Municipal de Campo Bom. E-mail: vitoriawingert@hotmail.com
Me. Jander Fernandes Martins. Mestre em Processos e Manifestações
Culturais- Universidade Feevale. Doutorando em Processos e Manifestações
Culturais. Pedagogo – UFSM. Professor na Rede Municipal de Campo Bom.
E-mail: martinsjander@yahoo.com.br
Periódicos consultados:
O Cruzeiro, 12 de janeiro, 1952
O Cruzeiro, 16 de janeiro, 1952
O Cruzeiro, 26 de janeiro, 1952
POR UMA HISTÓRIA DA BELEZA E DO CORPO: O USO DO
INSTAGRAM NAS AULAS DE HISTÓRIA
Vitória Diniz de Souza
Como fazer?
Inicialmente, é importante conhecer as condições físicas da escola na qual
ocorrerá a aula, pois, nem todos os estabelecimentos tem acesso a internet,
além disso, é preciso se certificar se na escola existe o equipamento
necessário para a execução da proposta. Se estiver tudo certo em relação a
infraestrutura, o passo a seguir é o da pesquisa. Antes de qualquer aula o
professor precisa planejar como ocorrerá os momentos de aprendizagem,
qual material será utilizado, qual o conteúdo da aula, tudo isso com
antecedência. Nesse caso, escolhi o período Entre Guerras, momento crucial
para a disseminação da cultura do cinema que se expandiu pelo mundo.
Quero discutir com os alunos como os padrões de beleza mudaram ao longo
do tempo, por isso, a escolha das fotografias como fonte. Assim, aproveito
a popularidade das redes sociais para promover uma aula interessante,
refletindo sobre como elas moldam os padrões de beleza na atualidade.
A experiência:
Foram selecionadas três fotos no total para a análise. Inicialmente, antes de
tudo, é importante fazer uma breve introdução ao conteúdo da aula. Se é
sobre a história do cinema, é importante apresentar uma breve
contextualização sobre essa indústria, seu surgimento, processo de
popularização e como ela vem “ditando a moda” há muitas décadas.
Gradualmente, traga para a discussão a importância dessa indústria na
elaboração de padrões de beleza, como é o caso dos “sex symbols” que
permeiam o imaginário popular. É sempre necessário estabelecer uma
ponte com a atualidade, por isso, questione os alunos sobre os filmes que
assistem, quem são os padrões de beleza atuais e assim criar conexões
504
entre o passado e o presente.
Fonte: https://www.instagram.com/p/B197nqunhxU/
Enquanto isso, William Powell, considerado um galã da época, aparece de
terno e gravata, vestimenta tradicional masculina, bigode pouco volumoso,
sem barba, cabelo alinhado, com algum tipo de produto para cabelos que
deixava os fios para trás, representando bem o padrão de beleza masculino
desse período. Algo interessante que não contém na imagem, é a diferença
de idade entre eles, nesse caso, Myrna tinha 29 anos, enquanto William
tinha 42 anos nessa fotografia. Era muito comum casais com grandes 505
diferenças de idade nos filmes, além disso, a vida útil de um ator homem
era muito maior que de uma atriz. Os homens encerravam suas carreiras
com mais de sessenta anos sendo considerados ainda galãs, enquanto as
mulheres terminavam com no máximo quarenta anos, sendo
posteriormente chamada para papéis pequenos.
Por que não trazer essas questões para a discussão com os alunos e assim
contribuir para que possam refletir criticamente sobre as desigualdades de
gênero na indústria cinematográfica enfrentadas hoje pelas mulheres,
LGBTQs, negros e várias etnias.
A seguir, as fotografias são compostas por duas estrelas muito populares no
cinema na década de 1950. Por meio delas é possível analisar as mudanças
nos padrões de beleza que exploravam uma postura mais sexy e despojada
de suas estrelas. Abaixo, escolhi uma imagem do ator americano James
Dean, conhecido pelo filme Juventude Transviada de 1955.
506
Fonte: https://www.instagram.com/p/B3BGN61nuFV/
Fonte: https://www.instagram.com/p/BzLxvzpHxvJ/
Na imagem acima, percebemos que os pelos nas axilas das mulheres não
eram vistos como um problema, mas como uma característica. A “caça aos
pelos” nas mulheres é um padrão de beleza relativamente recente. Dessa
maneira, era recorrente as imagens da Sophia Loren mostrando suas axilas,
se tornando uma marca da atriz. Segundo Caroline Gomes Rocha [2019]
Hollywood buscava, à época, uma nova estrela feminina para a década, que
atraísse o grande público masculino para o cinema. Sendo a Sophia Loren
uma das que mais engajavam os homens a irem às salas de cinema. Isso
demonstra como o corpo feminino é objetificado, aspecto que marcou a
história do cinema hollywoodiano, onde mulheres apenas apareciam como
alvo do olhar masculino e interesse romântico do protagonista. A figura da
“femme fatale”, por exemplo, surgiu ainda nos anos 1920, no entanto, foi
sendo reelaborada ao longo das décadas, configurando uma das imagens
mais recorrentes no cinema americano. Por isso, é importante pensar sobre
como a corpo feminino e masculino foram representados ao longo do
tempo, até mesmo, as definições binárias acerca do corpo foram produzidas
para criar essa aparência de naturalidade que reproduz preconceitos.
Referências
Prof. Vitória Diniz de Souza, graduada em História (UEPB) e mestranda em
Educação (UFRN).