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Bollywood, enfim, entra em cartaz no Brasil

Produções indianas estreiam no circuito comercial nacional, importadas por distribuidora


baseada na Bahia que aposta na semelhança com novelas da Rede Globo para emplacar
aqui a 2ª indústria mais lucrativa do cinema mundial

Vestidos de kurta, uma espécie de túnica usada na Índia, dois novos empresários do cinema
nacional, o baiano André Ricardo Nascimento e o indiano Dinesh Sinha, realizaram na última
terça-feira, em São Paulo, um tradicional ritual hindu. No recém-fundado Centro Cultural Indiano,
nos Jardins, eles acenderam uma lanterna de vidro e metal para “abrir os caminhos” do
investimento que iniciam: eles são donos da Bollywood Filmes, uma distribuidora criada para
trazer ao Brasil longas como Fanaa (2006), que três dias depois entraria em cartaz em 25 salas
do país. Longas que, como indica o nome da distribuidora, são produzidos por Bollywood, hoje a
maior indústria cinematográfica da Índia e a segunda mais lucrativa do mundo.

Criada em Bombaim, antigo nome de Mumbai – daí o B colado a Hollywood, nome emprestado da
indústria americana –, Bollywood está fazendo 100 anos. Além da efeméride, que tem por base o
lançamento do filme Raja Harishchandra, em 1912, os sócios apostam no enorme sucesso
alcançado pela novela Caminhos das Índias, de Gloria Perez, transmitida pela Globo em 2009. “O
cinema é a novela da Índia”, diz Nascimento, gerente nacional da distribuidora, em referência à
popularidade que as duas indústrias têm em seus países. A estrutura narrativa do folhetim
também se aproxima da forma de contar história dos filmes indianos, conhecidos principalmente
pela mistura de gêneros (todo longa tem comédia, ação e drama, muito drama), pelas várias
cenas de dança (quem viu a trama de Gloria Perez já sabe do apreço dos indianos pela
musicalidade) e pelas atuações exageradas de seus atores (que mesmo assim são ídolos
extremamente populares).

Fanaa, longa de 2006 que marca a chegada de Bollywood ao circuito comercial brasileiro, é
exemplo dessa proximidade. O filme narra o drama de uma mulher cega (Kajol, uma das atrizes
mais conhecidas entre os indianos) que se apaixona por um misterioso revolucionário (Aamir
Khan, chamado de “o Tom Hanks da Índia”). A trajetória do casal é pontuada por momentos de
riso, emoção e tensão. Segundo os empresários, o título foi escolhido pelo potencial de atingir
mercados estrangeiros. Antes de chegar ao Brasil, ele arrecadou cerca de 22 milhões de dólares
no mundo, 7 milhões deles fora da Índia, marca considerada incrível para o cinema bollywoodiano,
uma fábrica que produz 1.100 filmes por ano e, só no país natal, vende anualmente algo como 3
bilhões de ingressos.

Empreendedores – Embora vejam semelhanças entre Brasil e Índia, os sócios reconhecem que
estão entrando em um mercado difícil, em que Hollywood domina, e, por isso, optaram por
editar Fanaa para torná-lo mais palatável ao gosto nacional. Assim como a maioria dos filmes de
Bollywood, o longa tem vários números musicais, que poderiam ser considerados cansativos
pelos brasileiros. “Deixamos só as duas músicas que fazem parte de cenas essenciais do filme,
mas quem sabe no próximo lançamento os brasileiros estejam abertos a mais canções”, diz
Nascimento. A língua original em que o filme é falado, o hindi, também foi mantida. “Assim, as
pessoas poderão reconhecer expressões presentes na novela da Globo, como ‘are baba’”, aposta.

A história dos dois sócios, ambos de 30 e poucos anos, é curiosa. Há alguns anos, o brasileiro foi
fazer um MBA em relações internacionais em Londres e conheceu o indiano, que é médico, mas
já atuou em seriados de TV na Índia e tem entre os tios produtores de cinema. O faro
empreendedor dos dois fez o resto. “O Brasil está crescendo rapidamente e adquirindo interesse
por outras culturas”, afirma Sinha. Como se vê, a intenção da Bollywood Filmes não é ter como
espectadores apenas os indianos que vivem no Brasil – até porque essa comunidade não é
grande por aqui, onde vivem cerca de 10.000 pessoas, entre nativos e descendentes.

O próximo lançamento da distribuidora ainda não tem data, mas os sócios garantem que o
investimento no Brasil é de longo prazo. “Já temos uma lista de filmes que desejamos exibir aqui”,
diz Sinha, sem revelar títulos. Os longas devem ser todos importados da poderosa produtora Yash
Raj, a maior da Índia, com quem a empresa firmou parceria. A dupla diz que foi bancada por
investidores indianos, mas não revela nomes nem cifras dos investimentos feitos.

Investimentos que, aliás, podem levar os sócios para além da distribuição de filmes. Nascimento e
Sinha também esperam usufruir de um acordo de coprodução, assinado entre Brasil e Índia em
novembro, para entrar na produção de longas. “Existem muitas produtoras indianas querendo
filmar no Brasil”, adianta Nascimento.

Rixa – Embora Bollywood seja a indústria de cinema mais conhecida da Índia, vale lembrar que
não é a única. “Eles produzem cerca de 20% dos filmes. É um cinema mais glamoroso, mais
musical, mas quem gosta de cinema mesmo não aprecia muito os filmes bollywoodianos”, diz o
indiano Ananda Jyothi, curador da mostra Bhava: Universo do Cinema Indiano, em cartaz no
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília.

Segundo Jyothi, cada região da Índia produz filmes com características próprias. Mas, é verdade,
nenhum com o apelo comercial de Bollywood, um cinema cheio de peculiaridades – uma delas é
basear os títulos na numerologia, caso do longa Singh Is Kinng, que ganhou um “n” adicional na
palavra “king” (“rei”, em inglês) para dar sorte. E não é que funciona?

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