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FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE Ano 126 • Nº 2.157 • Dezembro 2008


ISSN 1413 - 1749

R$ 5,00
reformador dezembro 2008 - a.qxp 2/11/aaaa 14:50 Page 3

Expediente Sumário
4 Editorial
A Ciência e o fato
11 Entrevista: Waldeck Atademo
Integração e divulgação em Pernambuco
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva 17 Presença de Chico Xavier
O Divino Servidor – Neio Lúcio
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 126 / Dezembro, 2008 / N o 2.157
Jesus veio – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da
34 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Movimento esperantista – Affonso Soares
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA 38 Conselho Espírita Internacional
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO Reunião da Coordenadoria do CEI para a América do
NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA Sul, em Lima
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE 42 Seara Espírita
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO
5 Ante a Justiça Divina – Juvanir Borges de Souza
REFORMADOR: Registro de publicação
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí- 8 9 de Outubro de 1861 – Vianna de Carvalho
cia Federal do Ministério da Justiça), 10 Auto-de-fé em Barcelona – Ação dos Espíritos –
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
Um Espírito
Direção e Redação:
Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 14 A Física Quântica e as questões 34 e 34a de O Livro
70830-030 • Brasília (DF)
Tel.: (61) 2101-6150
dos Espíritos (Capa) – Alexandre Fontes da Fonseca
FAX: (61) 3322-0523 18 Os laços afetivos da adoção – Carlos Abranches
Departamento Editorial e Gráfico:
Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040 20 À minha mãe (mãe adotiva) – Therezinha Radetic
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298
22 Sonambulismo, dupla vista e êxtase – Christiano Torchi
E-mail: redacao.reformador@febrasil.org.br 25 Em dia com o Espiritismo – Histórias de Natal –
Home page: http://www.febnet.org.br Marta Antunes Moura
E-mail: feb@febrasil.org.br
28 A mediunidade na literatura clássica (Roma) –
PARA O BRASIL Humberto Schubert Coelho
Assinatura anual R$ 39,00
Número avulso R$ 5,00
31 Cristianismo Redivivo – A lição do arado –
PARA O EXTERIOR Haroldo Dutra Dias
Assinatura anual US$ 35,00 33 O fator ético – Hidemberg Alves da Frota
Assinatura de Reformador: 36 Refletir nas páginas de nossas vidas –
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
E-mail: Leonardo Machado
assinaturas.reformador@febrasil.org.br
37 Caridade da luz – Auta de Souza
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA 40 Mensagem à Mulher Espírita – Amalia Domingo Soler
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
41 A FEB na maior Feira de Livros do mundo
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Editorial
A Ciência
e o fato
H
á milhões de anos, diariamente, ocorre um fato por todos constatado: o
nascer do Sol. Vencendo as trevas da noite, o Sol aparece, iluminando
a Terra e trazendo o dia.
Diante desse fato, uma pessoa pode resolver analisá-lo objetivamente, observan-
do os seus detalhes: a hora em que os primeiros raios surgem; quanto tempo leva
para o Sol aparecer em sua plenitude; qual a variação do horário em que o mesmo
ocorre nos sucessivos dias; e outros dados relacionados com o seu desenvolvimen-
to. Vemos, aí, o objeto da investigação científica.
Outra pessoa resolve analisar as conseqüências desse fato no comportamento das
plantas, dos pássaros, dos animais e dos seres humanos, refletindo e deduzindo a
respeito das mudanças dele decorrentes. Temos, aí, a postura filosófica.
Uma outra pessoa, ainda, tocada pela beleza do momento, e compreendendo
a grandiosidade do seu Criador, resolve elevar a esse Ser uma prece de gratidão e de
reconhecimento, externando-lhe profundo amor. Constatamos, aí, um comporta-
mento religioso.
O fato é o mesmo, mas analisado, abordado e tratado sob vários aspectos.
Da mesma forma ocorre com a Doutrina Espírita. Revelada pelos Espíritos supe-
riores, de maneira lógica e racional, demonstra aos homens fatos com os quais sem-
pre convivemos, que comumente passam despercebidos, mas que o progresso do
conhecimento humano gradativamente vem confirmando: o ser humano como
Espírito imortal encarnado em um corpo material; a existência do mundo espiri-
tual; a comunicação entre os homens e os Espíritos; a reencarnação; a evolução
moral e intelectual do Espírito; o Evangelho de Jesus como manifestação da Lei de
Deus.
Allan Kardec esclarece: O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens,
por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas
relações com o mundo corpóreo.1
Trazendo conceitos novos e mais aprofundados sobre o homem e tudo que o
cerca, o Espiritismo revela a existência de fatos que tocam todas as áreas do conhe-
cimento, atividades e comportamento humanos, os quais podem e devem ser livre-
mente estudados, analisados e praticados em todos os aspectos fundamentais da
vida: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social.
1
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 5, Ed. FEB.

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Ante a
Justiça Divina J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

D
iante das múltiplas ques- bítrio, incidem automaticamen- importância distinguir o que
tões filosóficas e religio- te as divinas leis do Criador de constitui o bem e o que é o mal.
sas com as quais sempre tudo o que existe no Universo. Os Espíritos reveladores fo-
se defrontaram as criaturas que Hoje já compreendemos, gra- ram objetivos e práticos ao defi-
têm vivido neste mundo, torna- ças à Terceira Revelação, que a nirem o bem e o mal, na questão
-se compreensível que tenha ha- Justiça Divina funciona de con- 630 de O Livro dos Espíritos:
vido tantas hipóteses, erros in- formidade com as demais leis
terpretativos e variadas crenças, do Criador, numa harmonia “O bem é tudo o que é con-
que vêm desde os tempos pri- que nem sempre é percebida forme à lei de Deus; o mal,
mitivos e imemoriais até os dias pelos homens habitantes deste tudo o que lhe é contrário.
atuais. mundo e pelos Espíritos de esfe- Assim, fazer o bem é proceder
Em um mundo atrasado, des- ras inferiores. de acordo com a lei de Deus.
tinado a provas e expiações, ao Certo é que cada criatura é Fazer o mal é infringi-la”.
lado de novas experiências e vi- responsável por seus atos, já
vências, é natural que a divina que é dotada de vontade e de Essa resposta sintética impli-
lei do progresso incida sobre to- liberdade e a lei da reencarna- ca na crença e na certeza inaba-
das as criaturas, sejam elas sim- ção funciona com a finalidade lável da existência de Deus, a In-
ples e ignorantes, ou as que já de regular o resgate dos débi- teligência Suprema do Universo,
alcançaram melhores estágios. tos contraídos pela desobediên- conforme ensinaram os Espíri-
Em decorrência dessa realida- cia às leis divinas e, ao mesmo tos superiores, na primeira ques-
de, torna-se possível, neste e em tempo, proporcionar o progres- tão da obra básica da Doutrina
outros mundos, a convivência de so individual e coletivo dos Es- Espírita.
criaturas interessadas na aquisi- píritos. Para distinguir entre o que
ção de novos conhecimentos e Toda essa complexidade cons- constitui o bem e o que é o mal,
no aperfeiçoamento dos senti- titui os desafios da vida e exige o homem dispõe da própria in-
mentos, ao lado de outras, indi- de cada criatura esforço e traba- teligência, que lhe foi concedida
ferentes e rebeldes. lho, seja no sentido do bem, seja pelo Criador, a qual pode ser de-
Sobre todas elas, dotadas de no do mal. senvolvida por si mesma, atra-
inteligência, vontade e livre-ar- Por isso, torna-se de extrema vés de estudos e observações.

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Aplica-se também, nesse ca- dos atingirão a perfeição, feitas as Verifica-se, pelos ensinos dos
so, o ensinamento de Jesus sobre correções necessárias. Espíritos superiores, a profunda
o relacionamento com nossos se- Boas ou más, justas e injustas, diferença entre a Justiça Divina
melhantes: “[...] vede o que que- todas as ações e opções são jul- e as leis e costumes humanos,
ríeis que vos fizessem ou não gadas por leis perfeitas que cons- estes variáveis no tempo e no es-
vos fizessem. Tudo se resume nis- tituem a Justiça Divina, infalível paço, mas em geral imperfeitos.
so. Não vos enganareis”. (Op. cit., e automaticamente aplicável a to- O estudo da Doutrina Conso-
questão 632.) das as criaturas. ladora liberta-nos de muitos en-
Muitos indagam por que Deus Os maus respondem sempre ganos, fortalecendo e ensinando
permitiu a existência do mal, se por suas ações. Os bons colhem aspectos importantes da religião
poderia ter criado a Humanida- os frutos de seus méritos. Mas natural e da responsabilidade
de toda voltada para o bem. todos estão destinados à felici- perante nós mesmos, justifican-
Essa é uma pretensão injusti- dade futura, uma vez que se en- do o ensino de Jesus:
ficável, de quem quer colocar-se contrem quites perante as leis,
acima da inteligência e do poder no decorrer da eternidade da “Conhecereis a verdade, e a
supremos. vida. verdade vos libertará”. (João,
Basta que atentemos sobre o li- A sabedoria das leis divinas es- 8:32.)
vre-arbítrio com o qual foi criado tabelece, também, que as pena- l
o Espírito, juntamente com a lidades e as provas se extin-
vontade própria e outras qualifi- guem, ou se reduzem, Os Espíritos que ha-
cações, para percebermos a sabe- desde que o devedor se bitam a Terra, apesar
doria do Criador, que deixou às modifique, se arre- de imperfeitos, já pas-
criaturas o mérito ou a culpa pela penda e se dedi- saram por outras inferio-
escolha do caminho que preferiu, que ao traba- ridades, uma vez que fomos
sendo certo que to- lho do bem. todos criados simples e igno-
rantes.
A posição de cada alma está
na dependência da utilização de
seu livre-arbítrio, que cada uma
possui desde sua criação.
A sabedoria de Deus deixou a
cada criatura a liberdade e a res-
ponsabilidade por seus pensa-
mentos e ações.
De outro lado, a lei do pro-
gresso, conjugada com o livre-
-arbítrio, permite a correção e a
modificação dos erros e enga-
nos, possibilitando uma melhor
condição do estágio em que se
encontra cada ser.
Todos temos a vontade como
o dom capaz de modificar o que
somos, para melhor ou pior,

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conforme a escolha do próprio paramos com situações e coisas alguma virtude, tornando-se
caminho. deprimentes, que são suprimi- boa para alguém.
Espíritos encarnados em mun- das de alguma forma, também O essencial é que haja um iní-
dos materiais, como a Terra, ou na variada área do pensamento, cio no reconhecimento do bem,
desencarnados, que se encon- em que estagia a humanidade quebrando assim o desinteresse
tram em planos inferiores, que terrestre, a Justiça Divina atua pelo próximo.
se atrasam por persistirem na visando extinguir as condições É sempre útil lembrar que to-
revolta por ignorância ou opção inferiores. do mal que fizermos aos outros
pela maldade, sempre desper- A justiça e o progresso são atinge também a nós mesmos.
tam um dia, reconhecendo seus aliados, visando a mesma finali- São reflexos que envolvem
enganos. dade: o bem de todos. nossa própria consciência.
O arrependimento surge-lhes Não é por outro motivo que,
então como decorrência natural
do que ocorre em seu íntimo,
iniciando-se uma nova fase de
Todo depois da morte, até que se redi-
ma, o criminoso percebe a pre-
sença de suas vítimas e as circuns-
vida em que se sentem libertos
de uma prisão construída por mal que tâncias do crime, como foi infor-
mado a Allan Kardec, em uma re-
eles mesmos. velação dos Espíritos instrutores.
Mas a luta se torna necessária
no recomeço, sustentada pela fizermos Torna-se útil esclarecer que
nós, Espíritos encarnados na
experiência e pelo conhecimen- Terra, e também os desencarna-
to negativos.
Desse modo, a luz ou a som-
aos outros dos que a ela estão ligados, te-
mos débitos de vidas passadas
bra, a bondade ou a maldade, o que necessitamos liquidar, de
bem ou o mal, são opções que
dependem de nós mesmos, ge-
atinge acordo com a Justiça Divina.
Essa lei, de amplíssima abran-
rando as naturais conseqüências.
Diante desses ensinamentos
claros e lógicos da Doutrina Es-
também gência e nem sempre de fácil en-
tendimento para nós, seus trans-
gressores, por vezes se apresenta
pírita, ruem automaticamente
as crenças injustificáveis nos an- a nós como o hospital, em que cura-
mos desequilíbrios, ou como a
jos, arcanjos, serafins, querubins, escola, onde vamos reaprender
criados perfeitos como privile-
giados, bem como nos demô-
mesmos o que esquecemos, ou como o tra-
balho duro e cansativo, ou como
nios, eternamente dedicados ao outras formas a funcionar co-
mal, e também as musas, har- De conformidade com os con- mo medicação obrigatória para ve-
pias, ninfas e parcas, fruto da ceitos comuns, não há na Terra lhos males que praticamos nesta
imaginação humana e da mito- ninguém que se possa conside- ou em anteriores encarnações.
logia, mas não do Deus justo rar bom e perfeito. Compreendamos uns aos ou-
e perfeito, que não criou seres Entretanto, isso não impede tros e nos compadeçamos, pois
privilegiados ou excepcionais, que qualquer pessoa, reconheci- assim estaremos nos redimindo
sendo a lei do mérito aplicável a da como indiferente às dificul- de nossas falhas, obedecendo à
todos. dades alheias, não possa iniciar- sublime Lei de Justiça e apren-
Assim como na Natureza de- -se imediatamente na prática de dendo a amar.

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9 de Outubro de 1861
O
outono chegara com ven- o fogo, um agente da alfândega Ao chegarem à Alfândega fo-
tos frios que sopravam em representando o proprietário das ram inspecionadas, sendo cobra-
várias direções. obras condenadas pelo bispo”. das as taxas legais ao seu destina-
A imensa esplanada da cida- A multidão estupefata acompa- tário. Quando se esperava que
dela de Barcelona destacava-se no nhou a ação macabra da inquisi- fossem liberadas, aguardando-se
casario catalão com a sua imensa ção decadente e, quando se afas- o consentimento do bispo de Bar-
fortaleza, no elegante bairro de La tou o cortejo fúnebre encarregado celona Dom Antonio Palau y Ter-
Ribera, em forma pentagonal, ro- da execução, as pessoas atiraram- mens, que se encontrava fora da
deada de fossos com pontes leva- -se sobre as últimas chamas, em cidade, ocorreu o inesperado.
diças e a área destinada à execu- tentativa de resgatar alguns peda- Ao serem-lhe apresentados al-
ção dos criminosos condenados à ços do papel, de modo a tomarem guns exemplares, de imediato, sem
vergonhosa pena capital. conhecimento do seu conteúdo. uma leitura sensata e honesta, o
A soberba religiosa desfilava em Um aquarelista hábil imortali-
estranha procissão que fora au- zou a cena imoral numa tela que
torizada pelo bispo Dom Anto- enviou ao insigne Codificador do
nio Palau y Termens, para a pú- Espiritismo, acompanhada por al-
blica e medieval condenação ao guma cinza e páginas não quei-
Espiritismo, através do ridículo madas, que o mestre lionês
auto-de-fé... guardou com infinito carinho.
Eram dez e meia da manhã, Aqueles livros haviam sido
quando um padre com as vestes solicitados por Maurice La-
sacerdotais, trazendo a cruz numa châtre, o nobre escritor e edi-
das mãos e a tocha na outra, apro- tor francês, que se encontrava
ximou-a dos 300 livros e opúscu- exilado naquela cidade, em face
los que falavam sobre a Doutrina de uma condenação imposta pela
Espírita, que se encontravam em- intolerância do imperador Napo-
pilhados, para que ardessem, ante leão III, em decorrência da publi-
a impossibilidade de queimar-se cação do seu Dicionário Universal
os seus autores. Ilustrado.
A sinistra procissão, além do sa- Grande admirador de Allan
cerdote, compunha-se “de um no- Kardec, mandara pedir as obras
tário que se encarregava de redigir espíritas do mestre, bem como
a ata do auto-de-fé, um escrevente, de outros autores, a fim de divul-
auxiliar do notário, um empregado gá-las na Catalunha, região nobre
superior da administração da al- e culta da Espanha, ainda mergu-
fândega, três moços (serventes) da lhada nas trevas da dominação Maurice Lachâtre
alfândega, encarregados de manter religiosa.

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soberbo príncipe da Igreja Cató-


lica logo declarou que eram imo-
rais e contrárias à fé católica, con-
denando-as às labaredas.
Inutilmente o destinatário pro-
curou os meios legais para impedir
o crime, não conseguindo êxito.
Por sua vez, Allan Kardec cons-
tatou que o ato inglório levantava
grave questão de direito internacio-
nal, considerando que tudo fora
realizado dentro das exigências le-
gais, sendo, porém, aconselhado
pelos Espíritos a que nada fizesse,
porquanto o ato ignominioso iria
realizar uma propaganda favorável
ao Espiritismo como não se con-
seguiria de outra forma.
Aquele seria um dos últimos
autos-de-fé na Espanha, que des-
pertava lentamente para a liber-
dade de pensamento e de ação, se-
guindo a um anterior na cidade de
La Coruña, onde foram queimadas
numerosas obras outras, causan-
do revolta nas pessoas sensatas.
Barcelona era, então, a capital da Auto-de-fé em Barcelona: livros espíritas queimados em praça pública
Catalunha, culta e liberal, onde as
idéias se renovavam e o progresso floresceu de maneira incomum, Como são inexoráveis as Divi-
desenvolvia-se em clima de entu- graças aos missionários espirituais nas Leis, menos de um ano após
siasmo, causando surpresa a deci- que ali se encontravam na indu- o hediondo crime, desencarnou
são infeliz do intolerante religioso. mentária carnal, quais José Maria Dom Palau, que logo depois se co-
Realmente, o ato hediondo re- Fernández Colavida, mais tarde municou na Sociedade Parisiense
sultou em grande propaganda pa- denominado o Kardec espanhol, de Estudos Espíritas, aquiescendo
ra o Espiritismo, porque os jor- que traduziu, posteriormente, as em responder às questões que se lhe
nais de Barcelona, Madri e Paris obras da Codificação ao castelha- desejassem formular, concluindo,
não apenas comentaram a ocor- no, Amalia Domingo Soler, Ma- emocionado, por dizer: Orai por
rência infame, mas também apre- nuel González Soriano, José Amigó mim; orai, porque é agradável a Deus
sentaram considerações, demons- y Pellicer, Antonio Torres-Solanot y a oração que a Ele dirige o perse-
trando que já não mais se viviam Casas, Miguel Vives y Vives e ou- guido a bem do perseguidor. O que
os dias terríveis da Idade Média e tros investigadores e médiuns ad- foi bispo e que agora mais não é do
da dominação clerical. miráveis que desdobraram a men- que um penitente.
O futuro demonstrou que, na sagem, ampliando-a por toda a Es- A triste cidadela, onde tantos cri-
mesma Barcelona, o Espiritismo panha em incessante divulgação. mes tiveram lugar, especialmente

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os que se davam na terrível Torre Transcorridos cento e quarenta Os testemunhos atuais são di-
de Santa Clara, onde eram assas- e sete anos desde aquele dia inol- ferentes, não mais decorrentes
sinados vilmente os condenados, vidável, o Espiritismo triunfa so- de perseguições externas, embo-
graças aos anseios de liberdade bre o mal e conduz milhões de vi- ra ainda remanesçam em mui-
dos catalães, asfixiados ou massa- das no rumo da Verdade. tos segmentos religiosos e cien-
crados por Filipe V, que também 9 de outubro de 1861! Auto-de- tíficos a intolerância e a presun-
não pôde fugir à morte, teve os -fé em Barcelona! ção, mas nas atividades do Mo-
seus dias contados, quando o povo Nunca mais ocorrerá. vimento, no imo dos corações,
solicitou ao governo, em 1869, que Que os espíritas compreendam em amor e fidelidade a Jesus e a
fosse destruída e transformada que o perigo já não vem de fora, que Kardec, o Seu embaixador irre-
em jardins, lugares aprazíveis, um as perseguições e crimes não ocor- tocável.
imenso parque, hoje glorioso, que rerão como naqueles tormentosos
em nada faz recordar os dias tor- dias, mas que estejam vigilantes Vianna de Carvalho
mentosos que ficaram no passado. nas suas fileiras, a fim de que o es-
A intolerância de qualquer na- calracho não medre junto à erva (Página psicografada pelo médium Dival-
tureza é sempre manifestação de boa, de modo que, ao ser arranca- do Pereira Franco, na manhã de 9 de ou-
primitivismo e atraso moral das do, não venha a danificar a se- tubro de 2008, no Centro Espírita Cami-
criaturas humanas. menteira de luz!... nho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
O Espiritismo, apesar de todos
os desafios e dificuldades, vem de-
sempenhando o seu grandioso Auto-de-fé em Barcelona
papel na construção da sociedade
feliz e nobre do futuro, fincando
Ação dos Espíritos
as bases da era do amor nos cora-
ções e nas mentes, avançando
com a Ciência e a Tecnologia nos
F azia-se mister alguma coisa que chocasse com violência certos
Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se com essa
grande doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz
rumos do porvir ditoso para a inutilmente na Terra e nós que inspiramos o auto-de-fé em Barcelona,
Humanidade. bem sabíamos que, procedendo assim, forçávamos um grande passo
Jamais se calarão os Espíritos, para frente. Esse fato brutal, inaudito nos tempos atuais, se consumou
conforme aconteceu nas pági- tendo por fim chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham in-
nas tristes e dolorosas da Histó- diferentes diante da agitação profunda que abalava as cidades e os cen-
ria, quando foram assassinados tros espíritas. Eles deixavam que falassem e fizessem o que bem enten-
os médiuns que lhes ofereciam a dessem; mas, obstinavam-se em passar por surdos e respondiam com
instrumentalidade para a mensa- o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo. De
bom ou mau grado, hoje falam dele; uns, comprovando o histórico do
gem de amor imortal.
fato de Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica
Ninguém pode deter a marcha
que dará volta ao mundo, de grande proveito para o Espiritismo. Essa
do progresso que é infinito.
a razão por que a retaguarda da Inquisição fez hoje o seu último auto-
Calam-se pessoas, mas nunca
-de-fé. É que assim o quisemos.
se matam idéias, que somente po-
dem ser combatidas com outras Um Espírito
mais profundas e melhores, jamais
Fonte: KARDEC, Allan. Obras póstumas. 40. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda
com o preconceito, a perseguição,
parte, “A minha primeira iniciação no Espiritismo”, p. 335-336.
impondo o silêncio pela morte (Comunicação dada espontaneamente na Sociedade de Paris, em 19 de outubro de 1861.)
dos idealistas.

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Entrevista WA L D E C K ATA D E M O

Integração e
divulgação em
Pernambuco
Em entrevista, o presidente da Federação Espírita Pernambucana,
Waldeck Atademo, comenta a ampliação do trabalho federativo
e de divulgação através dos eventos “Integração dos Centros
Espíritas de Pernambuco” e “Mostra Espírita”

Reformador: Como se desenvol- Pernambuco tem se mostrado tradicionais com as instituições


ve o Movimento Espírita no Esta- em ritmo crescente, a partir da da área metropolitana, e duas
do de Pernambuco? conscientização que sempre cul- vezes no ano instala o CFE nas
Waldeck: O trabalho de expan- tivamos, que foi a de ampliar a demais regiões: Matas Sul e Nor-
são do Movimento Espírita em ação federativa junto aos cen- te, Agrestes Norte e Centro-Me-
tros espíritas, assistindo, igual- ridional, e Sertão, colhendo re-
mente, a grupos nascentes. Por sultados muito satisfatórios. De-
conta disso, em 2007, desdobra- pois desse trabalho, surgiram
mos as ações de nosso Conselho duas instituições no Sertão, nas
de Adesos (Conselho Federativo cidades de Trindade e Triunfo, e
Estadual), não mantendo ape- uma na cidade de Catende, si-
nas as seis reuniões bimestrais, tuada na Mata Sul, e a filiação de
realizadas nos meses ímpares um Centro Espírita na cidade
(janeiro, março, maio, julho, se- de Igarassu, na Mata Norte.
tembro e novembro), nas quais
havia a participação de repre- Reformador: O Espiritismo se
sentantes de três ou quatro ci- espalha por todas as regiões do
dades do interior do Estado. A Estado?
partir de janeiro de 2007, Waldeck: Apesar da imensa difi-
a FEP tem, em sua culdade por conta da cultura re-
sede, as reuniões ligiosa secular, temos constatado

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que o Espiritismo vai che-


gando ao entendimento da
massa popular; e graças à
realização de eventos como,
por exemplo, o INTECEPE –
Integração dos Centros Espí-
ritas de Pernambuco – e a
Mostra Espírita, os quais se
estenderam a todas as cinco re-
giões geográficas de Pernambu-
co, além da vasta distribuição de
material de divulgação.

Reformador: Há alguns eventos


tradicionais promovidos pela
FEP?
Waldeck: Anualmente realizamos
o INTECEPE, que acontece pri-
meiramente na sede da FEP, em
Recife, e posteriormente nas de- Cartazes do INTECEPE e da
mais regiões do Estado, em cida- Mostra Espírita 2008
des que se oferecem para sediar
o evento, o qual é desenvolvido anualmente, no mês de setembro, tispício do seu edifício-sede, me-
nos mesmos moldes das reuniões a Mostra Espírita acontece no recidamente denominado Allan
da Comissão Regional Nordeste, maior auditório do Estado, que Kardec. A prática da caridade mo-
com a participação dos vários comporta cerca de duas mil e tre- ral, espiritual e material atende
setores da Casa Espírita (DIJ, zentas pessoas, no Teatro Guara- a todos, indistintamente, haja
ESDE, SAPSE, Mediunidade, As- rapes do Centro de Convenções vista que a FEP tem uma dupla
sistência Espiritual e Divulgação de Pernambuco, em Olinda, pos- finalidade e oportunidade de
Social Espírita), enquanto que sibilitando, nesse local, a presença ação, sendo Casa Espírita e Enti-
os dirigentes de casas espíritas e de público não espírita. A Mostra dade Federativa, que representa
seus assessores tratam de assun- Espírita é realizada igualmente o Movimento Espírita pernam-
tos específicos. Nesses encontros nas cinco regiões do Estado, em bucano. Atualmente, temos em
são distribuídos os diversos ma- uma única apresentação (sába- desenvolvimento oito projetos, a
teriais recebidos da Federação dos à noite), em cidades preesta- saber: Novos Horizontes – o
Espírita Brasileira e prestadas belecidas. projeto envolve os voluntários
as informações necessárias para dos diversos setores da FEP, dis-
os dirigentes das casas espíritas, Reformador: Quais são os prin- postos a atuar como educadores
oriundas das análises feitas pelos cipais projetos em andamento, para os assistidos pelo SAPSE,
membros do Conselho Federati- sob a coordenação da FEP? com o repasse do conhecimento
vo Nacional. Outro evento tradi- Waldeck: A FEP toma como di- espírita; Grupos de convivência
cional em Pernambuco é a Mos- retriz principal na realização de do Idoso – envolve os voluntá-
tra Espírita, que já se encontra na suas atividades o lema “Deus, Cris- rios dos diversos setores da FEP,
XVII edição. Também realizada to e Caridade” afixado no fron- que têm aptidão para trabalha-

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rem com pessoas idosas, visando poderá requerer apoio do tercei- Reformador: E o andamento da
a melhor qualidade de vida para ro setor. A FEP tem como meta implantação do “Plano de Traba-
os assistidos pelo SAPSE; Mater- dar cumprimento a tudo isso, lho para o Movimento Espírita
nidade Responsável – o projeto principalmente ampliar a divul- Brasileiro”?
envolve os voluntários dos di- gação da Doutrina Espírita, a Waldeck: A FEP fez o lança-
versos setores da FEP, dispos- partir da evangelização da crian- mento do “Plano” com a partici-
tos a atuar como educadores das ça, do jovem e do adulto. Nesse pação de equipe da Secretaria-
gestantes assistidas pelo SAPSE, particular, a FEP mantém o Ci- -Geral do Conselho Federativo
orientando-as para as responsa- clo Básico destinado às pessoas Nacional, durante a realização
bilidades espirituais, materiais e que chegam pela primeira vez à do INTECEPE, perante os diri-
sociais que a maternidade re- Casa Espírita, além dos diver- gentes e diretores das diversas
quer; Evangelizando o pequeno sos ciclos de evangelização in- instituições espíritas da área
cidadão – envolve os voluntários fanto-juvenil. Também se preo- metropolitana da cidade do Re-
dos diversos setores da FEP, dis- cupa com a ampla divulgação cife, em janeiro deste ano. Nos
postos a atuar como educado- dos postulados espíritas por demais segmentos das casas es-
res das crianças assistidas pelo meio da mídia compatível com píritas (DIJ, ESDE, SAPSE, Me-
SAPSE, por meio da evangeliza- o Espiritismo, a fim de que o mes- diunidade, Assistência Espiri-
ção à luz da Doutrina Espírita; mo se torne conhecido e con- tual e Divulgação Social Espíri-
Renovação pelo trabalho – en- corra para uma nova era para a ta), o INTECEPE foi o instru-
volve os voluntários dos diversos Humanidade. mento de divulgação nas demais
setores da FEP, freqüentadores e regiões do Estado, tendo como
entidades mantenedoras de cur- Reformador: Como ocorreram tema central o “Plano de Traba-
sos profissionalizantes, dispos- as comemorações dos Sesquicen- lho para o Movimento Espírita
tos a atuar como promotores do tenários da Revista Espírita e Brasileiro”.
cidadão desempregado, para que do primeiro Centro Espírita do
tenha condição de acesso ao Mundo? Reformador: Mensagem ao lei-
mercado de trabalho; Capacita- Waldeck: A FEP expediu cor- tor de Reformador:
ção do trabalhador voluntário respondência para todas as ins- Waldeck: Desejamos a todos os
do SAPSE – realizado por meio tituições espíritas do Estado, leitores dessa conceituada revis-
de ação conjunta da coordena- concitando-as a realizarem ses- ta que permaneçam fiéis ao es-
ção do SAPSE e da diretoria da sões comemorativas a respeito tudo da Doutrina Espírita, a fim
FEP, com a finalidade de capaci- do assunto. Em 1o de janeiro foi de não nos descuidarmos da for-
tar o voluntário para o trabalho realizada no auditório da FEP mação do lastro doutrinário que
beneficente, com o estímulo à uma sessão comemorativa pelos possibilitará nossa libertação do
educação dos sentimentos; Doa- 150 anos da Revista Espírita, e, erro, da ignorância e da supers-
ção com amor – envolve os vo- durante meses, promovida a co- tição. “Conhecereis a verdade, e
luntários dos diversos setores da mercialização promocional da a verdade vos libertará” – Jesus.
FEP, freqüentadores, empresas coleção editada pela FEB, com Divulguemos Reformador pelo
públicas e privadas, além da par- tradução de Evandro Noleto critério usado no trato dos as-
ceria com entidades de ensino, Bezerra. No dia 1o de abril, a suntos e pela seriedade de seus
visando a prática da caridade e FEP realizou uma sessão come- objetivos, fazendo-a credora do
da solidariedade; O SAPSE junto morativa pelos 150 anos da So- respeito e aceitação, ao longo de
à Sociedade Organizada e Ór- ciedade Parisiense de Estudos Es- seus 125 anos. Confiemos em
gãos Públicos – em elaboração; píritas. Deus, vivamos com Jesus!

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A Física Quântica e as
questões 34 e 34a de
O Livro dos Espíritos
ALEXANDRE FONTES DA FONSECA

D
esde a publicação da pri- desenvolvimento das ciências, fico atual, e que apenas houve
meira edição de O Livro conforme a recomendação mes- engano na interpretação dos
dos Espíritos1 (LE), a Ciên- ma de Kardec de que “cami- conceitos científicos. Transcre-
cia progrediu de modo signifi- nhando de par com o progresso, o veremos as duas questões a
cativo, beneficiando a Humani- Espiritismo jamais será ultra- seguir:
dade de diversas formas. Os passado, porque, se novas desco-
fundamentos básicos do Espiri- bertas lhe demonstrassem estar 34. As moléculas têm
tismo, entretanto, permanece- em erro acerca de um ponto forma determinada?
ram inalterados e atuais, não qualquer, ele se modificaria nesse
tendo sofrido em nada frente às ponto.[...]”.3
novas descobertas da Ciência. Alguns companheiros, ainda
As razões dessa firmeza científi- que muito bem-intencionados
ca da Doutrina Espírita já foram na busca pela verdade, acredi-
explicadas há mais de 10 anos tam que a resposta dada pelos
no artigo “O Paradigma Espí- Espíritos à questão 34 contém
rita”, publicado em Reformador, um erro científico que, confor-
de 1994, pelo Prof. Silvio S. Chi- me a recomendação de Kardec,
beni.2 Em poucas palavras, a so- deveria ser corrigido. Cumprin-
lidez do Espiritismo decorre do do um dever de esclarecimento,
fato de que seus princípios fun- buscamos na própria Ciência,
damentais se encontram próxi- especificamente na Física Quân-
mos do nível fenomênico, isto é, tica, a chave para o entendi-
próximos dos fenômenos e fatos mento das questões 34 e
investigados por Allan Kardec. 34a, mostrando ao leitor
Isso não nos exime do estudo que elas estão corretas
constante e da análise das obras do ponto de vista do
básicas do Espiritismo diante do conhecimento cientí-

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“Certamente as moléculas têm lamento e estudos teóricos so- algo fácil de definir para um ob-
uma forma, mas que não po- bre a geometria molecular co- jeto macroscópico por causa da
deis apreciar.” mo bases para concluir-se que facilidade em delinearmos sua
34a. Essa forma é constante ou as moléculas têm formas deter- superfície. No caso de uma mo-
variável? minadas, contrariando a resposta lécula, o que delimita a sua su-
“Constante para as moléculas dos Espíritos. O equívoco desta perfície? Suponhamos que a for-
elementares primitivas, mas conclusão está justamente na in- ma de uma molécula seja defi-
variável para as moléculas se- terpretação dos resultados des- nida pela região do espaço ocu-
cundárias, que não são mais ses experimentos e dessas previ- pada pelos elétrons dos átomos
que aglomerações das primei- sões teóricas. dessa molécula, a chamada nu-
ras. Porque, o que chamais O microscópio de tunelamen- vem eletrônica. A teoria quânti-
4
molécula ainda está longe da to é um aparelho desenvolvido ca prevê em qual região do es-
molécula elementar.” para estudar-se a superfície de paço é mais provável se encon-
materiais em escala atômica. Ele trar tais elétrons. Tal região po-
O suposto erro da resposta à se baseia no fenômeno conheci- deria ser tomada, então, como
questão 34 decorreria de os Es- do como tunelamento quântico, sendo a forma mais provável da
píritos dizerem que não pode- no qual elétrons da ponta do mi- molécula, mas nunca a forma
mos apreciar a forma das molé- croscópio atravessam o vácuo absoluta da mesma.
culas. Segundo alguns compa- entre a ponta e a superfície do Quando a Ciência diz, por
nheiros, a Física e a Química já material, em decorrência da pro- exemplo, que o benzeno tem a
desenvolveram métodos experi- babilidade quântica de tal traves- forma de um hexágono, ou que
mentais para a visuali- sia ocorrer, e não por ter energia moléculas formadas por dois
zação de molécu- suficiente para isso. Assim, atra- átomos são lineares, não está
las e mesmo de vés da medição da corrente elé- determinando com precisão a
átomos indivi- trica que flui através da ponta do forma absoluta dessas molécu-
duais. Citam-se microscópio, um programa de las. Essas são, apenas, algumas
os resultados de computador constrói, com base das propriedades e simetrias es-
experimentos com na teoria quântica, uma imagem truturais dessas moléculas. Por
os chamados mi- artificial do que seria a densida- exemplo, no caso do benzeno,
croscópios de tune- de de elétrons dos átomos da su- existe um fenômeno conhecido
perfície da amostra, na medida como ressonância5 entre duas for-
em que a ponta se move so- mas possíveis para a estrutura
bre ela. Portanto, a ima- eletrônica dessa molécula, pois
gem que se vê não é uma não se pode determinar a priori
imagem real dos átomos, onde alguns dos seus elétrons
mas sim um modelo cria- se localizam. Isso é um exemplo
do pela Ciência para a com- de indeterminação na forma do
preensão dos fenômenos físicos benzeno.
em escala atômica. Com base nisso, analisemos
A questão da forma das molé- agora a questão 34 do LE. Kardec
culas necessita uma análise pergunta se as moléculas têm for-
cuidadosa. O conceito de for- ma determinada, isto é, bem de-
ma está ligado à aparência, finida. Os Espíritos dizem que as
feição, configuração, o que é moléculas têm uma forma, mas

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publicadas nos boletins do Gru-


Imagem retirada do site http://en.wikipedia.org/wiki/Scanning_tunneling_microscope

po de Estudos Avançados Espí-


ritas (GEAE) de números 483 a
500.
Cabe aqui um comentário fi-
nal. Não é sem razão que alguns
companheiros acreditaram que
a resposta à questão 34 do LE
estava errada. Se atualmente é
difícil explicar numa linguagem
acessível os conceitos sobre a es-
trutura da matéria, decorrentes
da teoria quântica, somos força-
dos a reconhecer (e admirar) a sa-
bedoria dos Espíritos com a res-
posta dada à questão 34, pois,
Close do microscópio de tunelamento
com bastante simplicidade, ela
adianta em mais de 50 anos o
que não podemos apreciá-la. Ter átomos têm formas variadas. que somente poderia ser com-
uma forma que não se pode Tanto a teoria quântica quanto preendido após o desenvolvi-
apreciar ou medir com precisão os experimentos realizados com mento da teoria quântica.
é equivalente a dizer que as mo- moléculas diferentes e de tama-
léculas não possuem uma forma nhos diversos confirmam a exis- Referências:
1
bem definida. Essa resposta está, tência de várias conformações KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tra-
portanto, em pleno acordo com (formas espaciais) para molécu- dução de Evandro Noleto Bezerra. Edi-
o que a teoria quântica prevê pa- las formadas por muitos átomos, ção Comemorativa do Sesquicentenário.
ra a forma das moléculas. Somos enquanto que pequenas molécu- Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questões 34
incapazes de apreciar de modo las tendem a possuir poucas con- e 34a.
2
preciso a forma das moléculas figurações de equilíbrio. Os Es- CHIBENI, Silvio S. “O Paradigma Espíri-
por causa da natureza probabi- píritos também disseram que o ta”. In: Reformador, junho de 1994, p. 20
lística da teoria quântica. Em fa- que chamamos molécula ainda (176).
3
ce do “princípio da incerteza de está longe da molécula elemen- KARDEC, Allan. A gênese, 52. ed. 1ª
Heisenberg”, jamais teremos to- tar, o que é confirmado pela Fí- reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
tal certeza sobre a posição dos sica de Partículas. Cap. I, item 55.
4
elétrons de uma molécula e, con- Por essa razão, as respostas da- Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/
seqüentemente, da sua forma. das pelos Espíritos às questões 34 Scanning_tunneling_microscope
5
Kardec, para elucidar ainda e 34a estão corretas e de acordo Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/
mais a questão, propõe a per- com o conhecimento científico Benzene
6
gunta 34a sobre a variação na atual. O leitor que tiver interesse FONSECA, A. F. “Curso Ciência e Espiri-
forma das moléculas. Daí os Es- em outras análises sobre as rela- tismo”, Boletim do GEAE – Grupo de Estu-
píritos dizem que as moléculas ções entre conceitos da Física, dos Avançados Espíritas. n. 483 a 500, de
elementares possuem forma cons- da Ciência e o Espiritismo, pode 2004/2005. Os boletins estão disponíveis
tante, e que as moléculas forma- encontrá-las no conjunto de au- em:http://www.geae.inf.br/pt/bole-
das por aglomerações maiores de las sobre “Ciência e Espiritismo”6 tins/colecao.php

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Presença de Chico Xavier

O Divino
Servidor
Q
uando Jesus nasceu, uma estrela mais bri- Entretanto, o maior embaixador do Céu para a
lhante que as outras luzia, a pleno céu, indi- Terra foi igualmente criança.
cando a manjedoura. Viveu num lar humilde e pobre, tanto quanto
A princípio, pouca gente lhe conhecia a missão ocorre a milhões de meninos, mas não passou a in-
sublime. fância despreocupadamente. Possuiu companheiros
Em verdade, porém, assumindo a forma duma carinhosos e brincou junto deles. No entanto, era
criança, vinha Ele, da parte de Deus, nosso Pai Celes- visto diariamente a trabalhar numa carpintaria mo-
tial, a fim de santificar os homens e iluminar os ca- desta. Vivia com disciplina. Tinha deveres para com
minhos do mundo. o serrote, o martelo e os livros. Por representar o Su-
O Supremo Senhor que no-lo enviou é o Dono de premo Poder, na Terra, não se movia à vontade, sem
Todas as Coisas. Milhões de mundos estão governa- ocupações definidas. Nunca se sentiu superior aos
dos por suas mãos. Seu poder tudo abrange, desde o pequenos que o cercavam e jamais se dedicou à
Sol distante até o verme que se arrasta sob nossos pés; humilhação dos semelhantes.
e Jesus, emissário dele na Terra, modificou o mundo Eis por que o jovem mantido à solta, sem obriga-
inteiro. Ensinando e amando, aproximou as criaturas ções de servir, atender e respeitar, permanece em
entre si, espalhou as sementes da compaixão frater- grande perigo.
nal, dando ensejo à fundação de hospitais e escolas, Filho de pais ricos ou pobres, o menino desocupa-
templos e instituições, consagrados à elevação da do é invariavelmente um vagabundo. E o vagabundo
Humanidade. Influenciou, com seus exemplos e li- aspira ao título de malfeitor, em todas as circunstân-
ções, nos grandes impérios, obrigando príncipes e cias. Ainda que não possua orientadores esclarecidos
administradores, egoístas e maus, a modificarem pro- no ambiente em que respira, o jovem deve procurar
gramas de governo. Depois de sua vinda, as prisões o trabalho edificante, em que possa ser útil ao bem
infernais, a escravidão do homem pelo homem, a geral, pois se o próprio Jesus, que não precisava de
sentença de morte indiscriminada a quantos não qualquer amparo humano, exemplificou o serviço ao
pensassem de acordo com os mais poderosos, deram próximo, desde os anos mais tenros, que não deve-
lugar à bondade salvadora, ao respeito pela dignida- mos fazer a fim de aproveitar o tempo que nos é con-
de humana e pela redenção da vida, pouco a pouco. cedido na Terra?
Além dessas gigantescas obras, nos domínios da
experiência material, Jesus, convertendo-se em Mes-
tre Divino das almas, fez ainda muito mais. Pelo Espírito Neio Lúcio
Provou ao homem a possibilidade de construir o
Reino da Paz, dentro do próprio coração, abrindo Fonte: XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do Natal.
a estrada celeste à felicidade de cada um de nós. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 23.

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Os laços
afetivos
da adoção
C A R LO S A B R A N C H E S

S
omos seres essencialmen- Assistente social e psicóloga
l
te afetivos. Estamos liga- clínica, Joanna se dedica há mais
dos a tudo e a todos que Tive contato com o pensamen- de 40 anos a investigar os mean-
nos despertam desejo de vínculo. to da psicóloga polonesa Joanna dros do psiquismo pré e perina-
O que caracteriza o ser huma- Wilheim, radicada no Brasil des- tal. Com quase 80 anos, prosse-
no é esse movimento interior de de a infância, quando veio para o gue sendo uma pesquisadora in-
investir energia psíquica sobre coi- cansável desse tema, além de
sas e seres aos quais se vincula. manter seu trabalho diário como
Uma nova encarnação se psicóloga, em São Paulo.
confirma pela união de O texto que me chamou a aten-
duas células germinati- ção consta do livro Psicologia
vas, cada qual com uma Pré-Natal.1 Nele, Joanna apre-
carga de investimento senta os pressupostos fun-
amoroso, motor e mo- damentais de seu trabalho.
tivo de suas aproxima- Um dos capítulos tem
ções na fantástica tra- o título “Vínculos afeti-
jetória de confirmação vos e o bebê adotado”.
da vida. O argumento funda-
Em vista disso, quando o mental defendido pela
bebê nasce, já traz consigo autora é o seguinte: ima-
uma bagagem estrutural de afe- gine um bebê que aca-
tos. Anterior a isso, o Espírito bou de nascer, que saiu de
que conduz esse processo tam- dentro do corpo de sua mãe,
bém já é depositário de valiosas a qual o albergou durante todo o
expectativas, plenas de afeição e período inicial de sua existência,
de carga amorosa dos que se de- país com os pais, fugidos da per- e, de repente, se vê privado da
dicam ao sucesso de mais um seguição nazista, durante a Se- possibilidade de retornar ao con-
projeto reencarnatório. gunda Guerra Mundial. tato com ela.

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Wilheim ressalta o marcante perceber o que ocorre consigo e tado. Ela pede que imaginemos a
painel de emoções que agita a frá- que ficará registrado indelevel- situação de um ser que passou no-
gil intimidade do pequenino ser mente em seu inconsciente, com ve meses de sua experiência intra-
que, ao nascer, é separado de sua força bastante para interferir de -uterina recebendo mensagens
mãe para ser dado em adoção. maneira marcante em seu destino. negativas de sua mãe: “eu não vou
poder ficar com você”, “vou me li-
l l
vrar de você logo que você nascer”.
Os espíritas costumamos con- Somos seres necessitados de Ao agir assim, a mãe biológica evita
siderar a adoção com os olhos da continuidade. É nela que se revela vincular-se ao bebê que traz dentro
fraternidade e do desprendimento. a coerência das escolhas, o resulta- de si, numa manobra psicológica
Inúmeros autores espirituais re- do das opções de vida. Assim tam- defensiva para se proteger de sofrer.
forçam essas perspectivas.2 bém ocorre com o bebê. É no espí- E quais seriam as condições
Entre articulistas, destaco a rito da continuidade que ele esta- ideais de adoção? Para a psicóloga,
opinião de Richard Simonetti, ao belece sua identidade, e as condi- seria fundamental que os pais ado-
afirmar que “[...] o filho adotivo ções necessárias para isto lhe são tivos estivessem presentes no nas-
constitui sempre um treino dos dadas pelo contato com os pais. cimento do bebê, para lhe assegu-
mais nobres no campo da frater- Segundo Joanna, a dor que a rar uma continuidade de ser. Para
nidade. [...] talvez raros serviços ruptura deste contato produz na ela, o ideal seria que, logo depois
na Terra sejam tão compensado- alma do bebê é muito grande. de nascer, o bebê, após sentir o
res em termos de Vida Eterna”.3 “Uma dor que ele sente sem en- cheiro do corpo de sua mãe bioló-
Hermínio Corrêa de Miranda4 tender o que sente, porque lhe fal- gica, possa ser colocado em conta-
apresenta opinião muito parti- tam as ‘ferramentas’ para ele po- to com o corpo de sua mãe adoti-
cular e carinhosa sobre o assunto, der ‘se pensar’. Este imenso sofri- va. Ela diz ainda que “se esse pe-
destacando que “se você percebeu mento da alma irá se expressar queno ser puder levar consigo
por aquela criança o suave calorzi- através de sintomas. Será à lingua- uma peça de roupa com o cheiro
nho do amor, tome-a nos braços e gem do corpo que a alma sofrida de sua mãe biológica, eventualmen-
deixe que o amor o inspire. Se não irá recorrer”. (Op. cit., p. 203.) te uma gravação da voz dela, expli-
lhe parece aconselhável levá-la pa- A psicóloga não se revela contra cando porque precisa deixá-lo aos
ra sua casa, mesmo assim dê-lhe a adoção, mas assevera a impor- cuidados de outra mulher, estariam
seu amor, materialize esse amor tância de que esse processo seja criadas as condições que se aproxi-
em ajuda concreta, não excessiva, feito de forma a preservar a inte- mariam das ideais”. (Op. cit., p. 111.)
não sufocante e não possessiva, gridade da criatura em foco.5 É
l
mas sob forma de apoio, para que por isso que ela destaca a impor-
ela possa viver onde está, mino- tância de os pais adotivos falarem Observando a dramática situa-
rando dificuldades, sem remover a verdade ao filho adotado sempre ção em que inúmeros recém-nas-
de seu caminho os obstáculos de que possível, “desde os primeiros cidos abandonados têm sido en-
que ela precisa para se fortalecer, momentos da convivência”. contrados, quando não são víti-
ao aprender a superá-los”. A condição ideal de uma adoção mas de aborto (o noticiário co-
O que me chamou a atenção no bem-sucedida, de acordo com a te- menta vários casos de bebês joga-
pensamento de Joanna Wilheim é rapeuta, ocorre quando se preser- dos em rios, em latas de lixo ou
o ponto de vista pelo qual ela ana- va o sentimento de acolhida, sem terrenos baldios), percebe-se que
lisa a questão – o da criança ado- que os pais se esqueçam de que o estamos ainda muito distantes das
tada, de suas emoções, de sua ain- pequeno ser que passa aos seus cui- condições ideais sugeridas pela
da desconhecida capacidade de dados foi, em primeiro lugar, rejei- nobre psicóloga.

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3
Artigo publicado em Brasil Espírita,
1972, sob o título “Filhos adotivos”, p. 2.
4
MIRANDA, Hermínio C. Nossos filhos são
espíritos. Rio de Janeiro: Lachâtre, 1993.
p. 54.
5
Joanna é enfática no que se refere à prá-
tica das barrigas de aluguel. Ela conside-
ra essa decisão contrária à saúde emocio-
nal do bebê. Afirma que “não devemos
esquecer nunca que a primeira relação –
Mesmo assim, é nosso dever a pré-natal com a mãe biológica – é uma
destacar os aspectos elevados da relação de paixão. É ela que estabelece
decisão de adotar uma criança, dade de Francisco os sulcos sobre os quais todas as demais
independentemente da melhor si- C. Xavier, Emmanuel relata paixões da vida serão buscadas e irão se
tuação para que isso ocorra. a experiência do jovem Silano, neto ado- moldar”. A psicóloga acredita que o ser
Sabemos que, por trás de uma tivo de Cneio Lucius, em Cinqüenta anos humano vai passar a vida buscando reen-
opção desse teor, inúmeros me- depois, (Ed. FEB). contrar essa paixão perdida.
canismos da realidade espiritual
estão sendo operados para pro-
mover alterações significativas
nos quadros cármicos das pes-
À minha mãe
(mãe adotiva)
soas envolvidas.
Adotar é, antes de mais nada, Therezinha Radetic
um ato de amor e de desprendi-
mento. Tenhamos nós a sensibili- Quando te vejo mãe, aqui deitada
dade apurada o suficiente para neste leito, cercada de carinho,
que, se decidirmos realizar esse penso não sabes quanto foste amada,
gesto, o façamos com a grandeza quanto de amor plantaste no caminho!
do sentimento de amor paternal,
depositando no ser que entra em Não sei se lembras quando, na alvorada
nosso lar todo o desejo de resgatar da vida, me encontraste em desalinho.
em nós a dignidade de sermos pais Meu destino cruzou em tua estrada
fiéis e amorosamente dedicados a e foi teu coração meu doce ninho!
nossos filhos do coração.
Hoje contemplo a tua cabeleira
Referência: toda de neve, branca, bem ralinha
1
WILHEIM, Joanna. O que é psicologia e afago-a com ternura toda inteira.
pré-natal. São Paulo: Ed. Casa do Psicó-
logo, 1997. E vejo em cada fio retratado
2
Leia-se, por exemplo, o caso de Marita, em cor suave e terna, matizado,
em Sexo e destino (psicografado por o teu vulto imponente de rainha!
Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, pelo
Fonte: RADETIC, Therezinha. Catedrais. Rio de Janeiro: J. P. Jornalismo e Promo-
Espírito André Luiz). Primeira Parte, ca-
ções. p. 41.
pítulo 7, (Ed. FEB). Ainda pela mediuni-

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Esf lorando o Evangelho


Pelo Espírito Emmanuel

Jesus veio
“Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma
de servo, fazendo-se semelhante aos homens.”
– PAULO. (FILIPENSES, 2:7.)

M
uitos discípulos falam de extremas dificuldades por estabelecer boas
obras nos serviços de confraternização evangélica, alegando o estado
infeliz de ignorância em que se compraz imensa percentagem de criatu-
ras da Terra.
Entretanto, tais reclamações não são justas.
Para executar sua divina missão de amor, Jesus não contou com a colaboração
imediata de Espíritos aperfeiçoados e compreensivos e, sim, “aniquilou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”.
Não podíamos ir ter com o Salvador, em sua posição sublime; todavia, o Mestre
veio até nós, apagando temporariamente a sua auréola de luz, de maneira a benefi-
ciar-nos sem traços de sensacionalismo.
O exemplo de Jesus, nesse particular, representa lição demasiado profunda.
Ninguém alegue conquistas intelectuais ou sentimentais como razão para desen-
tendimento com os irmãos da Terra.
Homem algum dos que passaram pelo orbe alcançou as culminâncias do Cristo.
No entanto, vemo-lo à mesa dos pecadores, dirigindo-se fraternalmente a meretri-
zes, ministrando seu derradeiro testemunho entre ladrões.
Se teu próximo não pode alçar-se ao plano espiritual em que te encontras, podes
ir ao encontro dele, para o bom serviço da fraternidade e da iluminação, sem apa-
ratos que lhe ofendam a inferioridade.
Recorda a demonstração do Mestre Divino.
Para vir a nós, aniquilou a si próprio, ingressando no mundo como filho sem
berço e ausentando-se do trabalho glorioso, como servo crucificado.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Edição especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
Cap. 8.

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Sonambulismo,
dupla vista e êxtase
C H R I S T I A N O TO RC H I

O
sonambulismo, a dupla O sonâmbulo age sob a influên- entre seus olhos e o papel. Ele
vista e o êxtase1 consti- cia de sua própria alma e exprime o não se interrompeu, continuou a
tuem gradações da facul- seu próprio pensamento. Enquanto redação, e, terminada esta, dei-
dade de desdobramento da alma estiver em transe, o sonâmbulo tem tou-se, como de hábito, sem sus-
ou Espírito, que possibilitam, idéias, em geral, mais precisas do peitar da prova a que fora sub-
com o auxílio do perispírito,2 o que no estado normal, seus conhe- metido [...]. “Quando ele termi-
intercâmbio entre os planos físi- cimentos são mais amplos, porque nava uma página, lia-a alto, de
co e espiritual, duas faces de uma tem livre a alma, o que lhe permite o princípio a fim (se se pode cha-
só existência. afloramento mais ostensivo de sua mar leitura a esta ação sem o
O sonambulismo é um estado bagagem psíquica, acumulada du- concurso dos olhos). Se lhe de-
de independência da alma, mais rante as encarnações, e que, de ordi- sagradava alguma coisa, ele a
completo do que o sonho, que per- nário, permanece abafada pelo cor- retocava e fazia as correções, em
mite ao Espírito maior amplitude po físico. Eventualmente, o sonâm- cima, com muita exatidão.
ainda de suas faculdades. A palavra bulo também pode se comunicar [...] é a visão sem os olhos. [...]
sonambulismo origina-se do latim com Espíritos.4 Neste caso específi- isso nos provará que há nele
somnus = sono + ambulare = mar- co, temos no sonambulismo uma uma força que seguramente o
char, passear.3 No sonambulismo, variedade da faculdade mediúnica. dirige, que age fora dos senti-
o indivíduo, embora dormindo, le- O Espírito age como sonâmbu- dos, numa palavra, que a alma
vanta-se, caminha, movimenta-se lo quando, preocupado com uma vela quando o corpo dorme.5
e pratica atos próprios de sua vida coisa ou outra, necessita fazer al-
habitual com relativa segurança e go, cuja prática exige a utilização Apesar dessa desenvoltura com
perfeição, procedendo como se es- do corpo físico. Gabriel Delanne que o sonâmbulo age, existem ris-
tivesse acordado. Entretanto, ao (1857-1926), notável pesquisador cos para ele, que podem ser preve-
despertar, geralmente, o sonâmbu- das ciências psíquicas, narra o se- nidos, sobretudo se for criança:
lo não se lembra do que fez, en- guinte fato: evitar camas altas, instalar grades
quanto se encontrava nesse estado. nas janelas, retirar do alcance ob-
O sonambulismo pode ser na- [...] um jovem padre que se le- jetos cortantes ou pontiagudos
tural ou magnético. Não há dife- vantava todas as noites, ia à es- que possam ferir.
rença entre ambos, a não ser pela crivaninha, compunha sermões Durante o transe, o sonâmbulo
forma como se dão: um acontece e tornava a deitar. Alguns de seus pode sofrer interferência de Espí-
espontaneamente; o outro é provo- amigos [...] uma noite em que ritos obsessores, por meio de téc-
cado, artificialmente, por meio de ele escrevia, como de costume, nicas hipnóticas, que influenciam
indução hipnótica ou magnética. interpuseram um grosso cartão no comando da atividade mecâni-

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ca do seu corpo físico. Por isso, re- cio. Nos mundos mais elevados, a caindo no lugar que o seu leito
comenda-se também às pessoas dupla vista é faculdade permanen- havia ocupado.”8
sonâmbulas, sejam adultos, sejam te, para a maioria dos habitantes,
crianças, a oração antes do sono, cujo estado normal pode se com- A segunda vista acontece, com
com vistas a obterem a proteção dos parar ao dos sonâmbulos lúcidos. mais freqüência, de forma espon-
bons Espíritos. A prática do bem, A bibliografia espírita é farta tânea do que por efeito da vonta-
a vivência harmônica em família, à de exemplos de casos de dupla de, porém, é suscetível de desen-
luz dos ensinos do Cristo, o Evan- vista, como os relatados por Kar- volver-se pelo exercício ou diante
gelho no lar, também constituem dec em A Gênese: Entrada de Je- de certas circunstâncias que põem
excelente terapêutica preventiva. sus em Jerusalém; Beijo de Judas; em perigo as pessoas, como no ca-
Seria realmente perigoso à saúde e Vocação de Pedro, André, Tiago, so de crises, calamidades e gran-
do sonâmbulo despertá-lo duran- João e Mateus.7 Outro exemplo
te o transe? Não há nenhuma evi- clássico é o relatado pelo astrôno-
dência científica dessa afirmativa, mo e escritor espírita francês, Ca-
que encontramos no rol do imagi- mille Flammarion (1842-1925):
nário popular. O mesmo cuidado
que temos ao acordar o não-so- “O professor Boehm, que ensi-
nâmbulo devemos ter para desper- nava matemáticas em Marburg,
tar o sonâmbulo, mormente se este estando uma noite com amigos,
estiver em movimento. Quase todas
as pessoas, ao serem interrompi-
das, bruscamente, em seu sono,
têm como reação, num primeiro
momento, o susto ou a desorienta-
ção. Se porventura nos depararmos
com uma pessoa em transe sonam- teve de repente a convicção de
búlico, é recomendável direcioná- que devia regressar à sua casa
-la, cuidadosamente, ao leito, sem ne- [...] Chegado à sua morada [...]
cessidade de despertá-la, a não ser sentia-se obrigado a mudar o
que seja estritamente necessário. seu leito de lugar. Por mais ab-
A dupla vista ou segunda vista surda que lhe parecesse esta im-
ocorre quando o Espírito se des- posição mental, entendeu que a
dobra, sem que o corpo esteja devia cumprir, chamou a criada
adormecido. Nesse estado, a pes- e com auxílio dela colocou a ca-
soa vê, ouve e sente além dos limi- ma do outro lado do quarto.
tes dos sentidos humanos, poden- Feito isto, ficou satisfeito e vol-
do, até mesmo, ter pressentimen- tou para junto de seus amigos e
tos. Durante a ocorrência do fe- acabar o serão. Despediu-se de-
nômeno, o indivíduo, embora cons- les às dez horas, voltou para ca-
ciente, apresenta um estado físico sa, deitou-se e adormeceu. Foi
alterado, com o olhar vago, como despertado, durante a noite,
se olhasse sem ver.6 por grande fragor e verificou
A faculdade, na dupla vista, é que grossa viga tinha desabado,
permanente, mas não o seu exercí- arrastando uma parte do teto e

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des emoções. É a Providência Di- os sons que o ouvido escutava. mitos e superstições e levantando
vina sempre a nos oferecer meios “Pouco a pouco as vozes se o véu das leis naturais que enco-
de nos proteger e de nos fazer su- afastaram, a visão desapareceu, brem fatos até então tidos por mi-
perar as dificuldades do caminho. a nuvem se desvaneceu e Pergo- lagrosos ou sobrenaturais.
O êxtase é a emancipação da al- lesi viu, ao abrir os olhos, escri-
ma no grau máximo, sem, toda- to por sua mão, no mármore do Referências:
1
via, poder ultrapassar certos limi- templo, esse canto de sublime KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.
a
tes, que ela não poderia transpor simplicidade, que o devia imor- ed. 1 reimpressão. Rio de Janeiro: FEB,
sem quebrar totalmente os laços talizar, o Stabat Mater, que des- 2008. Questões 425-455.
a
que a prendem ao corpo. Confor- de esse dia todo o mundo cris- 2______. A gênese. 52. ed. 1 reimpressão.
me a evolução do extático, cuja tão repete e admira. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XIV, itens
lucidez é ainda mais acentuada, “O artista ergueu-se, saiu do 22-28.
3
ele pode vislumbrar faixas espiri- templo, calmo, feliz e não mais SANTOS, Dr. José Roberto Pereira dos.
tuais superiores, em que lhe é da- inquieto e agitado. Mas nesse dia Entrevista publicada no Jornal Folha Espí-
do haurir de uma paz e de um uma nova inspiração se apode- rita, de março de 2005.
bem-estar inexprimíveis.9 rou dessa alma de artista [...].”10 4
KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.
Kardec traz um exemplo de êx- ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIV,
tase, que sucedeu com o famoso Esse aspecto sublime do fenô- itens 172-174.
5
compositor italiano de música meno, porém, não isenta o extáti- DELANNE, Gabriel. O espiritismo perante a
religiosa, Pergolesi, cujo fato foi re- co dos dissabores da perturbação, ciência. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
latado pelo Sr. Ernest Le Nordez: por influência de entidades infe- Segunda Parte, cap. II. p. 93-94.
6
riores, se se deixar levar pela invigi- KARDEC, Allan. Obras póstumas. 40. ed.
“Na sexta-feira santa Pergolesi lância. Essa é uma das razões pelas Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira Parte,
acompanhou a multidão. Apro- quais se deve julgar com muito Manifestações do Espírito, § Emancipa-
ximando-se do templo, parecia- critério revelações espirituais que ção da alma, item 28.
7 a
-lhe que uma calma, há muito venham por meio do extático ou ______. A gênese. 52. ed. 1 reimpres-
desconhecida para ele, se fazia de qualquer outro médium. são. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XV,
em sua alma e, quando trans- Enfim, o sonambulismo, o êx- itens 5-9.
8
pôs o portal, sentiu-se como tase e a dupla vista constituem FLAMMARION, Camille. A morte e seu
que envolto por uma nuvem ao variedades de fenômenos que re- mistério. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
mesmo tempo espessa e lumi- pousam sobre uma mesma causa Vol. I, cap. VIII, p. 231. Apud Estudo sis-
nosa. Logo nada mais viu [...] e – a faculdade de desdobramento tematizado da doutrina espírita, Programa
ouviu como um concerto lon- do Espírito, que se produz graças Complementar, Tomo único. Rio de Janei-
gínquo de vozes melodiosas, às propriedades e às irradiações ro: FEB, 2008. Módulo VII, Rot. 3, Subsí-
que insensivelmente dele se do fluido perispirítico. dio 3. Dupla Vista.
9
aproximava. [...] Como vimos pela descrição dos KARDEC. Allan. Obras póstumas. 40. ed.
“Mas, enquanto sua alma, arre- exemplos, a natureza espiritual do Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira Parte,
batada no êxtase, bebia a longos ser humano é ainda pouco estu- Manifestações do Espírito, § Emancipa-
sorvos as harmonias simples e dada e, conseqüentemente, bastan- ção da alma, itens 29-31.
10
celestes desse concerto angélico, te desconhecida. Pesquisadores da ______. Revista espírita: jornal de estu-
sua mão, como que movida por área psicológica têm encontrado dos psicológicos. Tradução de Evandro No-
força misteriosa, agitava-se no no exame desses fatos a prova ir- leto Bezerra. Ano XII. Fevereiro de 1869.
a
espaço e parecia traçar, mau refutável da existência e da inde- 2. ed. 1 reimpressão, Rio de Janeiro: FEB,
grado seu, notas que traduziam pendência da alma, derrubando 2007. “Visão de Pergolesi”.

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Em dia com o Espiritismo

Histórias
de Natal
M A RTA A N T U N E S M O U R A

A
Literatura transmite co- ratura mundial existem histó- der da fé; “O Suave Milagre”, do
nhecimentos e tradições rias que atendem a todas as pre- lusitano Eça de Queiroz (1845-
culturais de um povo ferências e níveis culturais. -1900), que assinala o imenso
por meio de textos, escritos em Algumas são pungentes, que amor de Jesus, retratado em to-
verso e em prosa, elaborados de enlevam e emocionam profun- cante acontecimento ocorrido
acordo com os três gêneros lite- damente. Entre estas destacamos: na antiga Palestina; “Jesus”, do
rários conhecidos: o lírico, que “Um Conto de Natal” (A Christ- escritor brasileiro Humberto
sabe desnudar emoções e idéias mas Carol), do inglês Charles de Campos (1886-1934), que de-
existentes na intimidade do ser; Dickens (1812-1870), que enfa- monstra a capacidade de renún-
o épico, no qual aparece a figura tiza a solidariedade; “Conto de cia de Jesus, percebida desde a sua
de um narrador que conta uma Natal” (Conte Du Noël), do es-
história, na forma de romance, critor francês Guy de Maupassant
conto, crônica, novela, fábula, (1850-1893), que descreve uma
ensaio; o dramático, que expõe influência obsessiva e a cura
conflitos existenciais. A Litera- subseqüente, decorrente do po-
tura pode ser ficcional ou não-
-ficcional, desenvolvendo temas
de interesse restrito e os que são
preferidos pela maioria das
pessoas, também chamados
universais. O Natal, sem dú-
vida, enquadra-se nesta
última categoria.
Raríssimos escritores
não escreveram sobre o
Natal. Nos acervos da lite-

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infância; “O Pároco”, de Coelho de 1967 (a última edição é a quin- pedes Barsanulfo (1 mensagem),
Neto (1864-1934), outro escritor ta, de 2002), deve ser lida e reli- Francisca Clotilde (1 mensagem),
brasileiro, que relata o apareci- da. Trata-se de um repertório de Francisco de Monte Alverne (1
mento de um fantasma, devota- mensagens lindas, tocantes, ze- mensagem), Humberto de Cam-
do padre que retorna anualmen- losamente escritas segundo o es- pos ou Irmão X (13 mensagens),
te à sua paróquia para celebrar tilo e as possibilidades literárias Irene S. Pinto (2 mensagens), Jé-
a missa de Natal e abençoar a de cada autor espiritual, com a sus Gonçalves (2 mensagens),
comunidade à qual serviu por finalidade de homenagear, reve- João de Carvalho (1 mensagem),
anos a fio. renciar e agradecer a Jesus, nos- João de Deus (3 mensagens),
Há outras histórias mais mo- so Mestre e Senhor. Leôncio Correia (1 mensagem),
destas, revestidas de delicada sim- O livro, na verdade, é um acha- Maria Dolores (2 mensagens),
plicidade, mas escritas por mes- do: simples e sublime; modes- Marta (1 mensagem), Meimei (5
tres, são muito requisitadas pelos to e profundo. Por isto não deve mensagens), Neio Lúcio (2 men-
leitores. Citamos dois exemplos ficar na prateleira, acumulando sagens), Olavo Bilac (1 mensa-
apenas: “O Presente dos Magos”, poeira, mas ser amplamente di- gem) e Rodrigues de Abreu (1
belo conto natalino redigido pelo vulgado, presenteado a amigos e mensagem).
escritor Wiliam S. Porter (1862- parentes, incentivando a sua lei- Os escritos de Emmanuel,
-1910), considerado o “Maupas- tura e o seu estudo. A obra pos- plenos de sabedoria e respeito,
sant americano”, que põe em rele- sui 80 capítulos distribuídos em destacam alguns atributos divi-
vo a grandeza do sacrifício em fa- 219 páginas, nas quais encontra- nos de Jesus que o credenciam
vor das pessoas amadas. “A Carta mos um prefácio de Emmanuel como Guia e Modelo da Huma-
de Saint Claus”, de Mark Twain, e 87 mensagens mediúnicas trans- nidade: a humildade, a generosi-
pseudônimo do escritor e pensa- mitidas por 26 Espíritos. Com dade, o exemplo, a benevolência,
dor estadunidense Samuel Lan- certeza, muitos desses ditados en- o trabalho, a luz, a justiça, o sa-
ghorne Clemens (1835-1910), contram-se esparsos em outros crifício, os prodígios espirituais,
dirigida a Susie, filha do autor. A livros, mas, mesmo assim, a An- a verdade, a fé, a alegria, os cui-
carta evidencia afeto e cuidados tologia não perde seu encanto e dados, a dedicação, o amor... Co-
paternos, transmitidos com bom beleza. locados à disposição da Huma-
humor e gentileza. Os autores espirituais, citados nidade sofredora e perdida, a fim
Se o tema Natal fascina e esti- na ordem alfabética que se se- de que ela encontre o caminho
mula a criatividade dos escrito- gue, enriquecem o tema Natal de definitivo da felicidade.
res, percebe-se também o desejo forma diversificada, pelo núme- Humberto de Campos ou Irmão
comum em demonstrar que a ro de mensagens e pelo tipo de X, o artesão da palavra, delineia
essência da bondade, da frater- enfoques: Amaral Ornellas (3 características da sublime perso-
nidade e da caridade, sintetiza- mensagens), António Corrêa D’Oli- nalidade do Amigo Maior, a quem
da na figura do Cristo, faz par- veira (1 mensagem), Aparecida se curva em ardorosa gratidão.
te da natureza espiritual do ho- (1 mensagem), André Luiz (3 Casimiro Cunha, simples e
mem, por mais distante que este mensagens), Arlindo Costa (1 men- gentil, saúda o Mestre inesque-
se encontre desta realidade. sagem),Auta de Souza (1 mensagem), cível, endereçando-lhe pedido
De acordo com tais critérios, Bezerra de Menezes (1 mensagem), de perdão pelos erros e desva-
a obra Antologia Mediúnica do Cármen Cinira (4 mensagens), rios da Humanidade, tutelada
Natal, psicografia de Francisco Casimiro Cunha (8 mensagens), do seu amor fraternal.
Cândido Xavier, publicada pela Cornélio Pires (2 mensagens), Em- Meimei, doce Meimei, com
Federação Espírita Brasileira des- manuel (25 mensagens), Eurí- bondade, recorda o poder da gen-

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tileza e a necessidade de ampa- Autores anônimos, ou pouco ções eternas, que pelo menos
rar os que sofrem, em nome de conhecidos, como Aparecida, uma vez no ano lhe prestemos
Jesus. Arlindo Costa, António Corrêa homenagem verdadeira e, de co-
Os poemas de Amaral Ornel- D’ Oliveira, Francisco de Monte ração aberto, saibamos agra-
las, João de Deus, Olavo Bilac, Alverne, João de Carvalho, Mar- decer-lhe as inúmeras bênçãos
Cornélio Pires, Jésus Gonçalves e ta e Rodrigues de Abreu, marca- que Ele cumula sobre nossa
Leôncio Correia, expressos na ram presença, deixando regis- existência.
perfeição dos sonetos ou na mo- trados agradecimentos, louvo- É importante não deixar pas-
déstia das trovas e rimas, refle- res e súplicas sinceros. sar despercebida essa data, rea-
tem apreço e amor ao Cristo, Antologia Mediúnica do Natal, lizando algo de bom e de útil
sentimentos que parecem flutuar recebida pela abençoada me- em benefício do próximo, bus-
ao ritmo suave da métrica cando ilustração, se pre-
que embala as produções. ciso for, nos exemplos
André Luiz, com sua fornecidos pelos Espíri-
linguagem formal-lógi- tos que escreveram a An-
ca, e Neio Lúcio, com as tologia Mediúnica do Na-
suas encantadoras fábu- tal. A propósito, Emma-
las, revelam, cada um, o nuel esclarece:
poder criativo que pos-
suem para exaltar o espí- É por isso que todos nós,
rito do Natal. ano a ano, somos induzidos,
O pensamento de Be- sem distinção de credo e ra-
zerra de Menezes e o de ça, a cultivar o poder da fra-
Eurípedes Barsanulfo es- ternidade, uns diante dos
tão escritos em poucas fra- outros, pelo menos um dia
ses, mas revelam irrestri- – o Dia de Natal –, transfor-
ta fidelidade a Jesus e, mando o mundo, por algu-
como gotas de luz e ver- mas horas, em Reino de
dade, mostram o Cristo Amor, prelibando as alegrias
como Governador da Ter- do Bem Eterno que nos go-
ra e anjo tutelar da Hu- vernará de futuro, a repetir
manidade. com as vozes milenárias dos
As conhecidas poeti- anjos:
sas Cármen Cinira, Ma- Antologia Mediúnica do Natal traz um repertório – Glória a Deus nas alturas,
ria Dolores, Irene S. Pin- de lindas mensagens sobre o Natal paz na Terra, boa vontade pa-
to, Auta de Souza e Fran- ra com os Homens!...1, 2
cisca Clotilde cantam, e encan- diunidade de Chico Xavier, é um
tam, pois os seus versos se acham tributo de Amor ao Cristo,
impregnados de sentimentos Orientador Maior a quem deve- Referências:
puros e emoções superiores. Em mos tudo de bom que somos e 1XAVIER, Francisco Cândido. Antologia
cada poema, um apelo irresistí- possuímos. Ainda que a nossa mediúnica do natal. Por Espíritos di-
vel: servir ao Cristo pelas tri- imperfeição espiritual não nos versos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,
lhas da caridade e do amor ao permita seguir-lhe os passos, 2002. Cap. 80, p. 219.
próximo. nem pôr em prática as suas li- 2Lucas, 2:14.

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A mediunidade na
literatura clássica
(Roma)
H U M B E RTO S C H U B E RT C O E L H O

C
omo bem se sabe, toda a corpo, e que a morte aniquila beleceram ritos para os mor-
cultura latina é uma ex- todo o ser, por outro lado, há tos, os quais certamente não
pressão ampliada e adap- que se valorizar a autoridade seriam feitos com o pensamen-
tada da grega. De modo que so- dos antigos, aqueles que esta- to de que os mortos estão to-
mente pelas características mais talmente desinteressados des-
cotidianas e técnicas da vida se tas observâncias [...] ou ain-
diferenciam a alta cultura da da segundo aquela doutrina;
Grécia clássica e da Roma anti- que segundo alguns foi pro-
ga. No mais, a educação do pa- nunciada pelo oráculo de Apo-
trício romano é o estudo dos lo ao mais sábio dos homens,
clássicos, preferencialmente nos e que dizia não uma coisa ho-
originais em grego. je e outra amanhã, como fa-
Não assusta que a sua litera- zem muitos, mas repetia sem-
tura seja quase que uma cópia pre a mesma coisa, sustentan-
daquela, onde o panteão de do que as almas dos homens
deuses, a mitologia, a filosofia são divinas, e que saem do
implícita e os temas tendem a se corpo, que o retorno aos céus
repetir. é acessível a elas, e que este
Assim é que Cícero expressa retorno é direto e fácil na pro-
crenças gregas, assumidamente porção de sua integridade e
adquiridas em contato com esta excelência.1
tradição:

Pois que estou longe de con- 1


CICERO, Marcus Tullius. Ethical writings
cordar com aqueles que tardia- Busto de Cícero, of Cicero: De Amicitia (Da Amizade).
mente promulgam a opinião Museu Capitolini, Roma Traduzido por Andrew Peaboy. Boston:
de que a alma perece com o Little Brown, 1887.

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É interessante o caráter práti- pressionante do suicídio de Dido, Então, a onipotente Juno, com-
co que distingue o povo latino rainha de Cartago, ao ser aban- padecida da sua prolongada
da maneira de pensar grega, es- donada por Enéias. Ainda no dor e da penosa morte, envia-
tritamente teórica, pois ne- templo da pátria, durante a de- -lhe Íris, do alto do Olimpo,
nhum filósofo grego diria serem cisão de matar-se, “crê ouvir a para libertar aquela alma em
as tradições comprovantes do voz e os gritos de chamamento luta com os laços do corpo. Pois,
interesse dos Espíritos em nos- do seu marido [...]”.2 como sucumbia a uma morte
sas vidas. À mentalidade grega Instantes antes do suicídio, não prescrita pelo destino nem
agrada a teoria, a abstração, e o Enéias vê em sonho a imagem merecida, mas perecia, infeliz,
grego argumentará sempre que de um deus “desconhecido”, que antes do tempo e presa a um
a alma aprecia o rito fúnebre lhe diz: súbito furor [...].4
porque há para isso uma razão,
e a explicará segundo a natureza [...] não vês os perigos que te Temos aí uma página verda-
da alma, à qual apraz a amizade, cercam no porvir? Ela, decidi- deiramente espírita, relatando a
a lembrança. da a morrer, revolve em seu aventura primitiva daquilo que
Cícero, sendo pragmático, ar- coração enganos e crime cruel, se observa nas páginas de André
gumenta conforme os fatos. 1) Fa- e flutua numa vária agitação
zem-se ritos aos antepassados, de furores. Porque não foges 4
Op. cit. p. 86.
logo alguém que instituiu esses depressa, enquanto ainda po-
ritos sabia serem capazes de agra- des [...].3
dar aos Espíritos. 2) Há doutri-
nas que falam da divindade hu- Atento a uma mensagem
mana e da relação entre pureza tão clara e direta, Enéias não
moral e libertação da alma. O fi- receia em lançar-se ao mar
lósofo latino procede por obser- com seus marujos rumo
vação de fatos e relatos. à Itália, enquanto Dido,
Em termos semelhantes se ex- recebendo os informes
pressa Virgílio, embora não fa- do ocorrido, perfura-se
ça, à maneira do filósofo, um com a espada da famí-
elenco de argumentos. Como lia. Entretanto não con-
era comum às tradições do pas- segue morrer, porque
sado, incluindo naturalmente a literalmente está pre-
Bíblia, a literatura clássica con- sa ao corpo, e agoniza
funde criatividade e tradição, terrivelmente:
lenda e memória histórica da
fundação dos povos e destino 2
VIRGÍLIO. Eneida. 7. ed. São Paulo:
das nações.
CULTRIX, 2001. p. 81.
A Eneida, sem dúvida a obra 3
Idem, ibidem. p. 83.
maior da cultura romana, é um
relato fictício que guarda pro-
fundas intuições históricas e es- Busto de Virgílio,
pirituais sob suas metáforas. datado de 1514, no
Tratando somente das segundas, Palazzo Ducale, em
Mantova, Itália.
encontramos uma descrição im-
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des verdades. Os Es-


Imagem retirada do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dido

píritos que não se de-


sembaraçaram do mal
são aqueles que o
acumulam por longo
tempo em si mesmos,
revelando a lei do mé-
rito e indicando que
há justiça e conheci-
mento de causa no
processo de separa-
ção das almas conde-
nadas. E o mais im-
pressionante: após os
sofrimentos expiató-
rios de suas faltas, a
alma se vê purifica-
da, e é reconduzida
ao corpo.
Estes dois exem-
plos, de Cícero e Virgí-
Dido e Enéias, de Pierre-Narcisse Guérin, Museu do Louvre lio, são suficientes pa-
ra ilustrar o quão vi-
Luiz ou Manoel Philomeno de lou no fundo deles mesmos, vos estavam ainda os conheci-
Miranda. A boa Íris tem o papel necessariamente cresce [...] mentos de Orfeu, Pitágoras, Pla-
de autêntica mensageira da luz, Por isso são castigados com tão e outros sábios gregos, que a
atuando em favor de uma tran- penas e sofrem [...] a seguir cultura romana então absorvia
sição menos terrível de Dido, somos enviados para o amplo avidamente.
que por sua vez não consegue li- Elísio [...] Finalmente, de- Nos anos que se sucederam,
bertar-se do corpo. pois que um longo dia, vol- os homens mais sábios do mun-
Mais tarde Enéias tem de des- vido o círculo dos tempos, do romano já estavam envolvi-
cer ao Tártaro, nas mesmas con- apagou a mancha profunda e dos com o Cristianismo nascen-
dições em que Ulisses havia fei- purificou a origem celeste, te, tanto que não há obras ex-
to na Odisséia de Homero. En- faísca do sopro primitivo [...] pressivas da literatura pagã
quanto o herói de Ítaca encon- o deus os chama [...] para as após o ano 60 d.C. aproxima-
trava aí a sua mãe, Enéias vê o bordas do rio Letes, a fim de damente.
pai, Anquises, no mundo das que esqueçam o passado [...] Os melhores elementos da-
sombras. Anquises fala a Enéias: e comecem a querer voltar pa- quela cultura, entretanto, foram
ra corpos. 5 absorvidos e transmitidos à rica
[...] logo que o dia supremo tradição cultural dos dois sécu-
da vida deixou o corpo, os in- Esta página riquíssima apon- los posteriores, cumprindo as-
felizes não estão de todo de- ta discretamente para várias gran- sim a sua missão de educar as
sembaraçados do mal e o mal populações latinas para o cultivo
5
que longo tempo se acumu- Op. cit. p. 127. da virtude e da sabedoria.

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Cristianismo Redivivo

A lição
do arado
“O ato de seguir a Jesus não é definido como a sensação de uma luz
interior, ou a percepção de uma consciência intelectual, mas é comparado
com a execução de uma tarefa criativa, consumidora e ativa, como a de
colocar a mão no arado e dirigir uma junta de bois.” 1

HAROLD O DUTRA DIAS

N
arra o Evangelho de Lu- pedido de permissão para par- Arar a terra na Palestina do
cas a pitoresca história tir. A autoridade dos genitores, primeiro século envolvia um con-
do impetuoso candidato sobretudo a do pai, era supre- junto complexo de providências.
a discípulo, cuja lealdade estava ma, motivo pelo qual a pessoa Joaquim Jeremias salientou algu-
divida entre a obediência aos que partia precisava pedir per- mas delas:
padrões culturais da sua época e missão a quem ficava.
o suave jugo do Cristo: Quando alguém iniciava um [...] O arado palestino, muito
novo empreendimento, costu- leve, é guiado com uma só mão.
Disse também outro: Senhor, mava visitar seu pai na aldeia Esta mão, geralmente a esquer-
eu te seguirei, mas permita- a fim de lhe pedir a bênção e a da, precisa ao mesmo tempo
-me despedir-me dos que es- permissão para o cometimento, conservar o arado na posição
tão em minha casa. ainda quando se tratasse de um vertical, regular a sua profundi-
Jesus, porém, lhe disse: Nin- homem independente. dade mediante pressão, e levan-
guém que põe sua mão no arado No caso em exame, o candida- tá-lo por sobre pedras e rochas
e olha para trás é apto para o to condicionava sua adesão ao que estejam em seu caminho. O
Reino de Deus. (Lucas, 9:61-62.) Cristo à aprovação dos pais, ou arador usa a outra mão para
seja, buscava conciliar a exi- guiar o boi teimoso com um
Muitos intérpretes salientam gência social da sua época com a aguilhão com cerca de um me-
que o “despedir-se” da família, convocação espiritual do Mestre. tro de comprimento, provido de
no mundo oriental, implicava o Em resposta à sua súplica, Je- uma ponta de ferro. Ao mesmo
sus estabelece um programa ár- tempo ele precisa ficar olhando
1 duo, mostrando que a tarefa de continuamente entre as pernas
BAILEY, Kenneth E. Through peasant
eyes. Michigan: Eerdmans Publishing segui-lo exige concentração, de- traseiras do animal, para não
Company, 1983. Cap. 2, p. 32. dicação e abnegação. perder o sulco de vista. Esta for-

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reformador Dezembro 2008 - b.qxp 2/11/aaaa 14:53 Page 32

ma primitiva de arado requer dos por canteiros, eram abertos os sulcos eram feitos de forma
destreza, atenção, e concentra- para propiciar a drenagem; só a permitir a drenagem. Uma
ção. Se o arador olhar para os na terceira aração, antes da se- terceira aração preparava o so-
lados, um novo sulco é aberto meadura, os sulcos eram feitos lo, e uma quarta cobria a se-
fora da linha. Desta forma, consecutivamente, sem cantei- mente depois do plantio. Ob-
quem quiser seguir a Jesus pre- ros entre eles. O trabalho final viamente qualquer pessoa que
cisa estar resolvido a quebrar era o de cobrir a semente... esse desejasse desincumbir-se de
os laços com o passado, e fixar os implemento era maior e mais uma responsabilidade destas
olhos apenas no Reino vindouro pesado do que o moderno ara- precisava dar atenção irrestrita
de Deus [...].2 do árabe, que em geral se parece ao que estava fazendo [...].4
com ele [...].3
Não bastasse a dificuldade de Refletindo acerca da lição do
manejo do arado, o processo Kenneth Bailey, após ter vivido arado, é forçoso concluir que o
de aragem do campo desdobrava- 47 anos em comunidades agríco- arador distraído poderá bater
-se em múltiplas atividades, tor- las do Oriente Médio, pesqui- com o arado em uma rocha, que-
nando a tarefa muito mais exigente sando os aspectos culturais e lite- brar sua ponta de madeira, can-
do que se imagina à primeira vista: rários que estão por trás dos tex- sar inutilmente a parelha de ani-
tos do Novo Testamento, afirma: mais, cortar, sem rumo, o campo
[...] A aração era cuidadosa e não arado, ou destruir o traba-
minuciosa; logo que se quebra- [...] É claro que a aração era lho já realizado. Em suma, o ara-
va o restolho depois da colheita, uma operação muito exata, dor deve equilibrar o serviço fei-
abriam-se sulcos com margens iniciando-se com a abertura to, o que está por fazer, e aquele
largas entre eles, para facilitar a de estrias para a absorção da que está sendo realizado, já que
absorção das chuvas. Ao arar, água. Em um estágio posterior, qualquer distração tornará sua
depois das primeiras chuvas,
3
sulcos mais próximos, dividi- APPELEBAUM. The jewish people in the 4
first century, apud BAILEY, Kenneth E. BAILEY, Kenneth E. Through peasant
Through peasant eyes. Combined eyes. Combined Edition. Michigan:
2
JEREMIAS, Joaquim. As parábolas de Edition. Michigan: Eerdmans Pu- Eerdmans Publishing Company, 1983.
Jesus. 9. ed. São Paulo: Editora Paulus, blishing Company, 1983. Cap. 2, Cap. 2, p. 30.
2004. Parte III, cap. VI, p. 196. p. 30.

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reformador Dezembro 2008 - b.qxp 2/11/aaaa 14:53 Page 33

ação não apenas improdutiva,

O fator ético
mas também destruidora.
No tocante ao símbolo do
arado, é valioso o ensino de
Emmanuel:

O arado é aparelho de todos H I D E M B E R G A LV E S DA F R O TA


os tempos. É pesado, demanda

S
esforço de colaboração entre o e legislação penal severa conhecimento em escala plane-
homem e a máquina, provoca e sistema penitenciário tária.
suor e cuidado e, sobretudo, populoso fossem sinôni- Ocorre que o cerne das ma-
fere a terra para que produza. mos de paz social, o Brasil e os zelas sociais radica no fator éti-
Constrói o berço das semen- Estados Unidos seriam a Suécia. co. Há gerações que ressaltam
teiras e, à sua passagem, o ter- Condicionada à transferência os grandes líderes espirituais
reno cede para que a chuva, o de responsabilidade, a sociedade da Humanidade: a sociedade só
Sol e os adubos sejam conve- brasileira, de tempos em tem- será reformada quando o ser
nientemente aproveitados. pos, pressiona o Poder Legisla- humano conhecer e reformar a
É necessário, pois, que o discí- tivo por leis penais mais duras, si mesmo.
pulo sincero tome lições com como se o sistema penitenciá- É sempre possível alterar e
o Divino Cultivador, abraçan- rio fosse espécie de buraco ne- burilar normas jurídicas e polí-
do-se ao arado da responsabi- gro, no qual os apenados se iso- ticas públicas.
lidade, na luta edificante, sem lam, por completo, do universo No entanto, os pontos nevrál-
dele retirar as mãos, de modo social para nunca mais a ele re- gicos passam despercebidos do
a evitar prejuízos graves à “ter- tornarem. discurso de formadores de opi-
ra de si mesmo”. Em verdade, muitas vezes, or- nião: a urgência e a relevância
.................................................... ganizações criminosas se agasa- de o indivíduo priorizar sua
Um arado promete serviço, lham no relativo porto seguro evolução; compreender a fundo
disciplina, aflição e cansaço; no do cárcere, bunker de onde me- suas virtudes, deficiências e
entanto, não se deve esquecer lhor podem intervir no seio da excessos; sobrepujar, com eficá-
que, depois dele, chegam se- coletividade. cia, os aspectos negativos de sua
meaduras e colheitas, pães no Os elevados índices de vio- personalidade; dedicar-se à rea-
prato e celeiros guarnecidos.5 lência, criminalidade e corrup- lização íntima, pelo despertar
ção espelham a sombra da so- em si de valores, hábitos e voca-
O servidor do Cristo conhece ciedade, que ela tenta combater ções dignificantes, fruto da per-
o cansaço, jamais o desânimo. de forma paliativa, por meio de severança, na atuação nas esferas
Conhece o peso e a rotina do excessivos diplomas legislativos pública e privada; em diminuir
arado, mas aprende no trabalho e muito protesto. o abismo entre a prédica e a prá-
de cada dia que a disciplina não O fundo de pano da distopia tica dos ensinamentos da ética
é um cárcere, é a chave da porta, em que vivemos tem a ver com do Evangelho, consubstanciada
como dizia Chico Xavier. a reconhecida e histórica neces- nas “Leis Morais” de O Livro dos
sidade de maior distribuição de Espíritos.
5
XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso.
renda, desenvolvimento socio- Criticar o criticável, porém,
Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de econômico auto-sustentável e indignar-se mais consigo pró-
Janeiro: FEB, 2007. Cap. 3. democratização do acesso ao prio.

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reformador Dezembro 2008 - b.qxp 2/11/aaaa 14:53 Page 34

A FEB e o Esperanto

Movimento
esperantista
A F F O N S O S OA R E S

Espíritas nos Congressos Anuais


de Esperanto1
Sob o patrocínio e organização da Societo
Lorenz (editora_lorenz@uol.com.br), realizou-
-se, entre 12 e 26 de julho deste ano, fecundo
programa espírita no 93o Congresso Universal
de Esperanto, em Rotterdam, Holanda, e no 43o
Congresso Brasileiro de Esperanto, em Forta-
leza, Ceará.

Em Rotterdam, o Dr. João da Silva Santos dis-


correu sobre o tema “Amor ao Próximo” e Ismael
de Miranda e Silva fez uma exposição a respeito À esquerda, o Prof. Dr. Probal Dasgupta e, à direita, o
das atividades da Federação Espírita Brasileira, presidente da Sociedade Lorenz, Robson Mattos
com a distribuição aos participantes de exempla-
res do livro La Genezo (A Gênese, em esperanto). Além nako Lorenz-2008, contando, em suas reuniões, com
desses itens, a Societo tomou parte, com um estande, a honrosa presença do Prof. Dr. Probal Dasgupta,
na Monda Foiro (Feira Mundial), e lançou o seu Alma- presidente da Associação Universal de Esperanto.

1
Notícia colhida no periódico Komunikoj, no 131, de jul./ago./set. Em Fortaleza, a Societo brindou os congressistas
2008, da Sociedade Editora F. V. Lorenz. com dois momentos de edificação: Paulo Sérgio Viana,

Aspecto parcial do
público em Rotterdam

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vice-presidente da Liga Brasileira de Esperanto,


abordou, na própria sede do Congresso, o tema “Mi-
nha consciência está anestesiada?”, e José Passini,
presidente da Liga, fez uma alocução, no Centro Es-
pírita Francisco de Assis, sobre o tríplice ideal Evan-
gelho–Espiritismo–Esperanto.

Espiritismo na Estônia2
Nosso co-idealista Augusto Kilk, presidente do
Spirita Centro AMO (Centro Espírita AMOR), na Es-
tônia, teve lançada a sua tradução, com base na ver-
são em esperanto, do opúsculo O Espiritismo na sua
Página de abertura do site da Universidade Federal
expressão mais simples, de Allan Kardec.
do Ceará, em esperanto
Kilk se dedica, presentemente, a verter para a
língua estoniana a obra Nia Hejmo (Nosso Lar, em Esperanto é usado para facilitar o
esperanto), com o que possibilita a concretização acesso à cultura islâmica4
dos objetivos do Conselho Espírita Internacional
(CEI) de estender as luzes do Espiritismo nas di- Foi criada a Associação Islâmico-esperantista para
versas línguas nacionais. o Diálogo Intercultural. O objetivo da entidade é
congregar muçulmanos que acreditem na necessida-
de de integração com outras culturas e religiões. O
Esperanto na Universidade Federal esperanto atuará como língua-ponte. De acordo com
do Ceará3 o presidente da instituição, Said Ahmad, a comuni-
dade esperantista terá a oportunidade de conhecer o
Está na Internet o portal do Curso de Esperanto mundo árabe. Informações saidnabi@mail.ru
da Universidade Federal do Ceará. No site encontra-
-se também a Interlingvistika Revuo, uma revista so- Nova edição da Bíblia em esperanto
bre Lingüística, escrita na língua internacional neu- chega ao mercado5
tra. Entre os redatores estão os professores Leite Jú-
nior, Adelson Sobrinho e Alber Uchoa. O endereço Chegou às livrarias a mais nova edição da Bíblia em
do portal é www.esperanto.ufc.br O Curso de Espe- esperanto. A publicação é da Editora Kava-Pech, da
ranto da Universidade Federal do Ceará é um proje- República Tcheca, sob a coordenação de uma comissão
to de extensão do Departamento de Literatura. A ca- ecumênica, liderada pela União Católico-esperantista
da semestre abrem-se inscrições para os níveis ele- Internacional e pela Liga Internacional Cristã-esperan-
mentar e básico, além de outras atividades ligadas à tista. O Antigo Testamento foi integralmente tradu-
língua criada por Lázaro Zamenhof. Informações zido por Lázaro Luiz Zamenhof, enquanto uma banca
e matrículas pelo telefone (85) 3366-7617. de catedráticos encarregou-se de verter o Novo Testa-
mento para a língua internacional. A Bíblia em espe-
2 ranto pode ser encomendada pelo site www.uea.org
Idem, ibidem.
3
Notícia colhida na rubrica Noticiário Esperantista (semana de 12
a 18/10/2008), de responsabilidade de Fabiano Henrique, publi- 4
Idem, ibidem. (Semana de 21 a 27/9/2008.)
cada na lista de discussão da Cooperativa Cultural dos Esperan-
5
tistas (kke-diskutlisto@yahoogrupos.com.br). Idem,ibidem. (Semana de 28/9 a 4/10/2008.)

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Refletir nas páginas


de nossas vidas
“Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna.” 1

L E O N A R D O M AC H A D O

D
entre todas as modalida- Quando, porém, observamos Como seja, o fato é que os dias
des de se fazer arte, ine- a recomendação do Mestre Jesus são páginas que escrevemos no li-
gavelmente viver é a mais – “Eu vim para que elas [as ove- vro de nossa existência. Assim, to-
bela e a mais fascinante. De fato, lhas, que somos nós] tenham dos somos escritores, muito embo-
as inúmeras situações a que so- vida e a tenham com abundân- ra diferentes, já que também somos
mos levados a passar, as mil so- cia”2 – somos levados, de uma ou o personagem principal de nossas
luções que encontramos para de outra maneira, a fazer uma re- tramas. Neste sentido, é prudente
driblar as dificuldades, bem co- flexão sobre que tipo de vida es- aprendermos com os literatos de
mo para saber caminhar nas fa- tamos levando, qual obra de arte ordem convencional para poder-
cilidades, tornam-nos verdadei- estamos a desenvolver em nossos mos criar epopéias que se tornem
ros artistas da vida. dias. Será que temos conseguido um verdadeiro best seller.
construir uma vida de abundan- Em um processo de criação li-
1 te alegria espiritual? terária, para se escrever bem, é
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.
ed. 1a reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, preciso reler, constantemente,
2
2008. Questão 919a. João, 10:10. o que se cria. Desta forma, con-

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segue-se rever erros em frases e eis a exortação de Paulo de Tar- que quem muito faz sem refletir,
rearrumar o enredo, podendo-se, so: “Examinai-vos a vós mesmos cai mais facilmente em erros.
mesmo, reescrever aquilo que se se estais na fé; provai-vos a vós Não penses, ainda, que o teu li-
julgue necessário. mesmos”.6 vro não é lido ou é ignorado. Sem
De igual modo, no livro de “Examine cada qual as suas perceberes, possuis leitores diários
nossa vida, indispensável é a re- obras”.7 assíduos, quer estejam sequiosos
leitura diária das ações de nos- Jovem, nas páginas que escre- de aprendizado, quer estejam à
sos dias, que são as palavras que ves em tua mocidade, não te es- procura da crítica. Mas, em geral,
colocamos no papel dos nossos queças desta imprescindível au- com as nossas atitudes, todos so-
destinos. Diferentemente do es- to-reflexão. O mundo pode até mos lidos rotineiramente.
critor convencional, não temos a dizer “quem muito pensa, pouco Assim, se desejamos estar me-
oportunidade de apagar as sen- faz”, mas se esquece o mundo de lhores amanhã, escrevendo des-
tenças erradas que escrevemos, fechos de vida felizes, “justo é
pois a caneta que utilizamos dei- que se gastem alguns minutos
6
xa a sua tinta grafada nos arqui- 2 Epístola de Paulo aos Coríntios, 13:5. para conquistar uma felicidade
7
vos da consciência. Entretanto, Epístola de Paulo aos Gálatas, 6:4. eterna”.
se não podemos modificar o ru-
mo da flecha depois que a atira-

Caridade da luz
mos, temos a oportunidade de
limpar as feridas que ela causou
pelo caminho.
Refletindo, portanto, constan- Santa – a moeda amiga ao tornar-se carinho
temente, nas páginas de nossas Em todo lar sem pão que a penúria flagela,
vidas, conseguiremos escrever li- Enaltecida sempre – a roupa mais singela
vros luminosos que poderão aju- Que protege a nudez ao vento e ao desalinho!...
dar a outros indivíduos, também
escritores, no rumo de suas reen- Glorificado seja – o pouso que tutela
carnações, cumprindo, assim, a O enfermo relegado às pedras do caminho,
recomendação do Rabi da Gali- Preciosa – a afeição para quem vai sozinho,
léia: “Brilhe diante dos homens Trancando-se na dor em que se desmantela!...
a vossa luz”.4
Não foi sem razão, pois, que Nobreza em toda ação que represente amparo
Santo Agostinho, tecendo comen- Do auxílio de um vintém ao apoio mais raro,
tários a Allan Kardec, em torno do Que a simpatia expresse e a bondade presida!...
autoconhecimento, informou-
-lhe que, ao fim do dia, interro- Brilhe em tudo, porém, com mais força e grandeza
gava a própria consciência na A palavra do Bem que apure a Natureza,
busca de saber o que havia feito Iluminando o Amor e libertando a Vida!...
de certo e de errado.5 Sobre isso,
Auta de Souza
4
Mateus, 5:16.
5 Fonte: XAVIER, Francisco C. Auta de Souza. 9. ed. Araras (SP): IDE,
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.
2001. p. 69.
1a reimpressão. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2008. Questão 919a.

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Conselho Espírita Internacional

Reunião da Coordenadoria
do CEI para a América
do Sul, em Lima
A 3a Reunião da Coorde-
nadoria do Conselho Espíri-
ta Internacional para a Amé-
rica do Sul desenvolveu-se
em Lima (Peru) nos dias 10,
11 e 12 de outubro, na sede
do Clube Social Miraflores.
A Reunião foi dirigida
pelo coordenador do CEI
para a América do Sul, Fa-
bio Villarraga (Colômbia), e
contou com a atuação do se-
cretário-geral do CEI, Nestor
João Masotti, e do membro
da Comissão Executiva do
CEI Antonio Cesar Perri de
Participantes da Mesa diretora (esq./dir.): Edwin Bravo Marroquin, Antonio Cesar
Carvalho. Como convidado,
Perri de Carvalho, Nestor João Masotti, Fabio Villarraga e Monsser Rezkalah Mejía
participou o coordenador
do CEI para a América Central e Aulestia), Paraguai (Gloria Avalos bre edições de livros pelo CEI
Caribe, Edwin Bravo Marroquin de Ynsfrán), Peru (Monsser Rez- (EDCEI), programação da TVCEI,
(Guatemala). kalah Mejía), Uruguai (Eduardo transmissões de rádio pela Web, e
Compareceram representantes Dos Santos), Venezuela (José Vas- preparativos de eventos, como o 6o
de Entidades Federativas Nacio- quez). As Entidades representati- Congresso Espírita Mundial (Va-
nais de dez países do Continente: vas e a direção do CEI apresenta- lencia – Espanha, 2010).
Argentina (Félix José Renaud), ram relatórios das ações no perío- Com vistas ao apoio ao Movi-
Bolívia (Eduardo Nanni), Brasil do 2007-2008. Foram definidas mento Espírita dos países que in-
(Altivo Ferreira), Chile (Odette propostas de atuação e formas de tegram o CEI, foi constituída uma
Lettelier Azócar), Colômbia (Jorge difusão do Espiritismo no Conti- comissão internacional com o ob-
Francisco Léon), Equador (Freddy nente e prestadas informações so- jetivo de elaborar um projeto vol-

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Representantes e assessores dos países (esq./dir.):


Chile, Colômbia, Brasil, Bolívia e Uruguai

tado à preparação de programas trabalho institucional vinculado à Nos mesmos dias, ao final da
de estudo e de trabalho destina- Secretaria-Geral do CEI e coorde- tarde e à noite, a Federação Espí-
dos aos centros e grupos espíri- nado por comissão específica. rita do Peru promoveu o 2o En-
tas, visando o desenvolvimento Ao final da Reunião, Divaldo contro Espírita Peruano, no Audi-
adequado das suas atividades, seu Pereira Franco fez uma exposição tório do Teatro Miraflores, tendo
aprimoramento e sua multiplica- e recebeu mensagem psicofônica como tema central “Doutrina Es-
ção, programas estes que lhes se- de Amalia Domingo Soler. pírita: Iluminação da Consciência
rão oferecidos a título de sugestão Durante essa reunião, o CEI fez para uma Vida Melhor”. Na abertu-
e subsídio para suas realizações. o lançamento das Edições Especiais ra, ocorreram apresentação musi-
Este projeto deverá possibilitar a Comemorativas do Sesquicente- cal de crianças com trajes típicos
organização e a realização de cur- nário da Revista Espírita (fundada das regiões do Peru, em homena-
sos de capacitação de trabalhado- por Allan Kardec), em espanhol e gem aos países visitantes, e pales-
res para as atividades doutrinárias português (numa edição única). tra de Nestor João Masotti. Atua-
e administrativas dos centros e O CEI também lançou Edição Co- ram também, como expositores:
grupos espíritas de todos os países. memorativa em inglês, durante o do Brasil – Antonio Cesar Perri de
Os programas deverão ser simples, 2o Congresso Médico-Espírita dos Carvalho, Ney Prieto Peres e Dival-
adequados à realidade onde serão Estados Unidos (Fort Lauderdale, do Pereira Franco, o qual desen-
implantados, com base nos três as- Flórida), e, brevemente, lançará volveu um seminário; Colômbia
pectos da Doutrina Espírita e nas em francês. Esta revista é publica- – Jorge Francisco Léon, Jorge Ber-
diretrizes traçadas coletivamente da atualmente pelo CEI em parce- rio Bustillo e Fabio Villarraga;
pelo CEI, e considerando uma vi- ria com a União Espírita Francesa Peru – Ricardo Morandi; Equa-
são integrada e dinâmica dos cen- e Francofônica (UEFF). Informa- dor – Simoni Privato Goidanich.
tros e grupos espíritas como base ções: revistaespirita@edicei.com; Houve participações do cantor
do Movimento Espírita. Será um www.thespiritistmagazine.com Nando Cordel.

Representantes e assessores dos países (dir./esq.):


Equador, Paraguai, Peru, Argentina e Venezuela

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Mensagem à
Mulher Espírita
Queridas irmãs da alma, queri- À mulher espírita cabe a mis- do-nos para a luta de redenção
dos irmãos do coração: são maternal de divulgar a Dou- àqueles que nos dedicamos ao
trina como se a Humanidade nas- bem, mirando para o porvir.
Que permaneça conosco a ad- cesse em suas entranhas e ela ti- Que Deus nos propicie a paz, a
mirável luz de Jesus Cristo. vesse que conduzir todos os seres alegria permanente e o labor dig-
humanos ao aprisco de Jesus Cris- nificante, são os votos de vossa ir-

O
venerando apóstolo Dou- to, o bom Pastor. mãzinha do ramo de violetas,
tor Bezerra de Menezes me À mulher espírita cabe a honra
confiou a tarefa de encer- de dignificar a mulher que se fez Amalia Domingo Soler
rar este Encontro, em nome dos objeto sexual e se esqueceu da ma-
Espíritos-espíritas da América, ho- ternidade triunfante para se deixar (Mensagem psicofônica, em espanhol, rece-
menageando desta maneira a mu- consumir com o aborto trágico e bida pelo médium Divaldo Pereira Franco
a
lher espírita. funesto, com os desvarios do sexo no encerramento da 3 Reunião Ordinária
Recordo-me dos dias lumino- desequilibrado, buscando negociar da Coordenadoria do Conselho Espírita In-
sos em Gracia e Barcelona, dos a vida pelo momento da ilusão… ternacional para a América do Sul, dia 11
momentos de júbilos com Cola- A vós como a todos os seres hu- de outubro de 2008, realizada em Lima,
vida e Solanot, com Miguel Vives manos conscientes da verdade Peru. Tradução para o português de Ca-
y Vives cantando o Evangelho de cumpre lutar pelo estabelecimen- mila Carlone Gaspar.)
Luz, sob a sabedoria e interpreta- to da grande transição regenerati-
ção do Espiritismo. va, facultando ao ser que pensa
Desde aquela época, desde as pri- seu encontro com Deus.
sões barcelonesas, aonde eu ia levar Não mais trevas de indolência,
a Doutrina libertadora, até este mo- não mais perseguições da intole-
mento grandioso de divulgação in- rância religiosa, mas sim, a músi-
ternacional, houve um crescimento ca sublime da fraternidade envol-
ponderável a respeito da Verdade. vendo os povos em uma só famí-
Espíritas! Exultai, cantai a gló- lia sob a proteção paternal do
ria da imortalidade, recordando- Senhor da Vida.
-nos do pensamento de Jesus Cris- Amados, agradecemos com
to a respeito do amor. lágrimas de justa emoção estes
É necessário que não nos esque- dois dias de iluminação e de
çamos do apoio que Allan Kardec hosanas brindados pelos
teve de sua devotada esposa Amé- Guias Espirituais em nome
lie-Gabrielle Boudet, a doce Gaby. do Mestre Jesus, fortalecen-

40 478 Reformador • Dezembro 2008


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A FEB na maior Feira


de Livros do mundo
A Feira do Livro de Frankfurt é, convidado –, a edição 2008 da Fei- títulos que estão sendo editados
sem dúvida, o maior evento edi- ra foi um sucesso, que superou as em outros idiomas, assim como
torial do mundo. estatísticas do ano anterior. diversas obras do seu catálogo
A cada ano, todos os que traba- No caso da FEB, que vem reali- com mais de 500 títulos.
lham no mercado de livro se reú- zando amplo trabalho de divulga- Obras como O Livro dos Espíri-
nem, quase como um encontro tos e Nosso Lar, em alemão, des-
obrigatório, naquela cidade da Ale- pertaram o interesse do público,
manha, o qual determina as novi- que se manifestou ávido por con-
dades e as tendências que serão vis- tar com mais obras traduzidas pa-
tas nas livrarias nos próximos anos. ra este idioma.
Esta Feira é o principal ponto de Como em outras oportunida-
convergência para os autores di- des, a FEB preparou uma intensa
vulgarem suas obras, visto permi- ação de divulgação com catálo-
tir que sejam ambos conhecidos gos em inglês, espanhol e portu-
no mundo todo. guês, além de outros materiais
Considerando esse potencial de promocionais. As atividades de
divulgação, a Federação Espírita divulgação incluíram contatos
Brasileira (FEB) esteve presente, com diferentes áreas do setor
pela terceira vez consecutiva, na editorial, visando maior difusão
Feira do Livro de Frankfurt, reali- dos livros espíritas.
zada no período de 15 a 19 de ou- As obras de Allan Kardec, Chi-
tubro de 2008. co Xavier e Yvonne A. Pereira, en-
Integrada com outras editoras, tre outros autores, foram expostas
a FEB participou dentro do estan- em nosso estande, que foi visitado
de do Brasil, organizado pela Câ- por editores e público em geral.
mara Brasileira do Livro (CBL), Levar os livros espíritas para o
em parceria com a Agência Brasi- mundo é uma tarefa que requer
leira de Promoção de Exportações tempo e dedicação, e inclui a par-
e Investimentos (ApexBrasil), Sin- ticipação em feiras nacionais e in-
Estande da FEB na Feira do
dicato Nacional dos Editores de ternacionais, assim como parce-
Livro de Frankfurt
Livros (SNEL), Fundação Biblio- rias em diferentes países.
teca Nacional, e teve o apoio dos ção dos livros espíritas em dife- Considerando que ainda existe
Ministérios da Cultura e das Rela- rentes línguas, em parceria com o muito por fazer, pudemos segura-
ções Exteriores. Conselho Espírita Internacional mente nos despedir como é de há-
Com mais de trezentos mil vi- (CEI), o resultado foi muito posi- bito em Frankfurt: “Até o próxi-
sitantes – a Turquia como país tivo, pois permitiu apresentar os mo ano!”.

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Seara Espírita

Bahia: Congresso Espírita “Tirando a história espiritual no consultório”. O


O XIII Congresso Espírita da Bahia foi realizado, nos evento foi direcionado a médicos, estudantes de Me-
dias 7, 8 e 9 de novembro, no Centro de Convenções dicina e profissionais da área de saúde. Informações:
da Bahia, em Salvador. Contou com diversos pales- www.amesaopaulo.com
trantes, entre os quais Divaldo Pereira Franco, Jason
de Camargo, César Soares dos Reis, Dalva Silva S. Paulo (SP): Sustentabilidade da Casa
Souza e Suely Caldas Schubert. Espírita
“Pelos Caminhos do Amor” foi o tema central do A União das Sociedades Espíritas-Distrital Lapa pro-
Congresso. Dentro do programa do evento ocorreu moveu em São Paulo, no dia 22 de novembro, o 2o
o Fórum Baiano da Juventude, para os jovens entre Minicongresso “Sustentabilidade da Casa Espírita”.
15 e 24 anos, com o tema central “O saber espírita O objetivo geral foi atender à demanda por informa-
e a educação juvenil”, e teve como objetivo analisar o ções específicas sobre o funcionamento do Centro
estágio de desenvolvimento da atuação espírita na Espírita, particularmente aquelas que podem con-
educação juvenil, indicando estratégias e organizan- tribuir para a sua sustentabilidade. Informações:
do planos de aperfeiçoamento no âmbito do Movi- www.uselapa.com.br
mento Federativo. Os temas foram desenvolvidos por
meio de exposições dialogadas com convidados, la- Rádio Rio de Janeiro: Audiência AM
boratórios temáticos e questionário baseado nos as- Em 2008, a Rádio Rio de Janeiro chegou a atingir
suntos expostos. Informações: o segundo lugar em audiência no segmento AM,
www.feeb.com.br aos domingos, entre 13h e 14h. De acordo com
dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Opi-
Amazonas: Congresso Espírita nião, Pesquisa e Estatística (IBOPE), a Rádio al-
Ocorreu no período de 21 a 23 de novembro, no cançou o terceiro lugar, de segunda a sexta-feira,
auditório da Reitoria da Universidade do Estado do em 10 das 24 horas do dia. Estas últimas informa-
Amazonas, o 3o Congresso Espírita do Estado, com o ções referem-se ao trimestre julho/agosto/setembro
tema “O Espiritismo e os Desafios do Homem Mo- de 2008, e revelam ainda que a terceira posição
derno”. Participaram os expositores Alberto Almei- também foi obtida em diversos horários do sába-
da, Cosme Massi, Marcel Mariano e Sandra Borba do e do domingo, dias nos quais cerca de 90% dos
Pereira, que abordaram temas como “Conflitos exis- programas da Emissora da Fraternidade são espí-
tenciais do homem moderno nas agressões ambien- ritas. Contato com a Rádio:
tais”, “Educação dos sentimentos e desenvolvimento www.radioriodejaneiro.am.br
das virtudes”, “Encontro consigo mesmo, com a saú-
de e com a paz”. Informações: Niterói (RJ): Homenagem a Allan Kardec
fea@feamazonas.org.br A Câmara Municipal de Niterói realizou, no dia 31
de outubro passado, às 18 horas, uma Sessão Solene
AME-SP: Medicina e Espiritualidade em homenagem a Allan Kardec, quando foram tam-
A Associação Médico-Espírita de São Paulo promo- bém comemorados os 150 anos da Revista Espírita e
veu, em 29 de novembro, o seminário “Medicina & os 140 anos de A Gênese. O orador da solenida-
Espiritualidade na Prática Clínica”. Como obter a de foi o confrade Hélio Ribeiro Loureiro, diretor de
história espiritual do paciente na prática foi a ênfase educação espírita do Instituto Espírita Bezerra
dada aos temas “Medicina e Espiritualidade: Porquê, de Menezes (IEBM), uma das entidades homenagea-
como, quando e o quê?”, “Casos clínicos A, B e C” e das no evento.

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