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Alfredo Wagner Berno de Almeida

TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES ESPECÍFICAS NA


AMAZÔNIA: entre a “proteção” e o “protecionismo”

DOSSIÊ
Alfredo Wagner Berno de Almeida*

Assiste-se, atualmente, à implementação de políticas de “reorganização de espaços e territóri-


os”, o que não constitui um produto mecânico da expansão gradual das trocas, mas sim o efeito
de uma ação de Estado deliberadamente protecionista, voltada para a reestruturação de merca-
dos, disciplinando a comercialização da terra e dos recursos florestais e do subsolo. Este artigo
demonstra como os povos e as comunidades tradicionais são pressionados pelas medidas de
proteção das agencias multilaterais e pelas políticas protecionistas urdidas pelo Estado.
PALAVRAS-CHAVE: território, territorialidade específica, desenvolvimento sustentável, Amazônia,
agroestratégia.

INTRODUÇÃO ecológico-econômico” e com os programas de


“proteção da natureza” preconizados pelas agên-
A reconceituação de território, consoante cias multilaterais, que caracterizaram a quadra
as interpretações sociológicas sobre as transfor- neoliberal das últimas décadas do século XX.
mações sociais na primeira década do século XXI, Esse elemento contrastante, que assinala uma
tem sido marcada por novos critérios de classifi- ruptura no âmbito dos critérios adotados pelo
cação, que aparentam empreender uma volta ao planejamento oficial, é que constituiria uma “no-
passado, refletindo uma conhecida e dúbia com- vidade”, sobre cujas implicações pretendemos
binação entre fatores ambientais e econômicos. aqui refletir.

CADERNO CRH, Salvador, v. 25, n. 64, p. 63-71, Jan./Abr. 2012


Incorporados pelas ações governamentais mais Assiste-se, atualmente, à implementação
recentes, tais critérios reeditam a prevalência do de políticas de “reorganização de espaços e ter-
quadro natural, privilegiam biomas e ecossistemas ritórios” que não são um produto mecânico da
como delimitadores de “regiões”, flexibilizam expansão gradual das trocas, mas sim o efeito
normas jurídicas que asseguram os direitos de uma ação de Estado deliberadamente prote-
territoriais de povos e comunidades tradicionais cionista, voltada para a reestruturação de mer-
e objetivam atender às demandas progressivas cados, disciplinando a comercialização da terra
de um crescimento econômico baseado princi- e dos recursos florestais e do subsolo. A distin-
palmente em commodities minerais e agrícolas. ção entre “proteção”, que deriva de mecanismos
Não obstante, tais reedições mostram-se em de uma ação ambiental conservacionista perpe-
descontinuidade com as medidas de “zoneamento trada por agências multilaterais, e “protecionis-
mo”, que consiste, como veremos adiante, numa
*
Antropólogo. Professor da Universidade do Estado do Ama- ação de Estado inspirada principalmente no po-
zonas-UEA. Pesquisador do CNPq. tencial de crescimento econômico, torna-se ele-
Av. Djalma Batista, 3578. Flores. Cep: 69050-010. Manaus
– Amazonas – Brasil. alfredow@leopoldina.com.br mentar para uma compreensão mais detida das

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transformações em jogo. A denominada “prote- rocrático argumentam que, com as sucessivas


ção da natureza” e o conjunto de medidas pre- crises econômicas, a questão ambiental passou a
conizadas pela Organização Mundial do Comér- ser ligada diretamente à do “desenvolvimento
cio (OMC) estariam passando por um processo sustentável”, tornando-se uma agenda do Esta-
de “dessemantização” que leva essa mencionada do, e não apenas de grandes empresas
“proteção” a assumir sentidos opostos àqueles transnacionais e de agências multilaterais. Con-
ulteriormente adotados pelas agências multila- sideram que, para tanto, faz-se imprescindível
terais. Ainda que não se percebam alterações delimitar os recursos naturais estratégicos, re-
profundas na retórica “protecionista” e que os formar os códigos florestal, mineral e comercial
instrumentos chamados de “proteção” não te- e disciplinar a aquisição de terras por estrangei-
nham sido radicalmente modificados, observa- ros. Em virtude disso é que estamos constatan-
se que políticas “protecionistas”, em termos mer- do a tramitação simultânea de propostas no
cantis, deixam entreaberta a possibilidade de uso legislativo de alterações de quase todos os códi-
intensivo e imediato dos recursos naturais em gos que regem as relações produtivas e comerci-
prol de políticas de crescimento econômico, ais. Verifica-se, nesse contexto, uma retomada
traduzidas pelas grandes obras como hidrelétri- de medidas de defesa da “natureza” e dos deno-
cas, rodovias, portos e congêneres. Essas políti- minados “interesses nacionais”, num momento
cas de crescimento têm sido apontadas como so- em que as exportações para os países europeus e
lução para a “pobreza extrema”, produzindo uma para os Estados Unidos mostram-se declinantes.
territorialização consoante o potencial de uso Esse “protecionismo da natureza” implica, pri-
mercantil dos recursos naturais, combinada com meiramente, a identificação dos recursos natu-
ações que objetivam flexibilizar os limites das rais estratégicos e subordiná-los à implantação
unidades de conservação e manter o “combate ao de grandes obras de infraestrutura e à expansão
desmatamento”. Essa mercantilização, que passa dos produtos para o mercado de commodities,
a abranger inclusive a floresta em pé, torna-se consideradas essenciais ao “desenvolvimento
um fator de destaque nos novos significados que sustentável”, o qual passa a ser reinterpretado
a noção de “proteger” assume. Alguns analistas como coadunado com “interesses nacionais” e
classificam essas medidas como “protecionistas” articulado de maneira disciplinada, sem passar
ou de defesa necessária, face às ofensivas mer- necessariamente por entidades multilaterais, com
cantis de outros países. É nesse sentido que são a ação de determinados fundos de investimen-
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implementadas: em função de uma perspectiva tos e conglomerados transnacionais.


radicalista denominada “desenvolvimentista”. Uma primeira indagação que se coloca é
As instâncias político-administrativas in- se estaríamos diante do fim dos acordos comer-
corporam, assim, o próprio termo “território” para ciais1 firmados no âmbito de agências multilate-
designar não apenas aparatos burocráticos, mas rais como a OMC, ou mesmo se essa agência
também programas, planos e projetos. “Territóri- estaria perdendo seu poder de arbitrar. Nesse
os da Cidadania”, “Secretaria de Ordenamento contexto, é possível começar a ler “nacional”
Territorial”, “cadastro territorial” e quejandos tor- como enfraquecimento do “multilateral” ou, se
nam-se termos e expressões usuais no léxico des- tanto, como bilateral, isto é, novas modalidades
ses aparatos burocráticos. Os sentidos práticos de 1
Chade (2011) sublinha que: “Desde 1990, mais de 400 acor-
território transcendem, contudo, ao significado dos comerciais foram fechados entre regiões e países. Só o
México e o Chile chegaram a fechar tratados com mais de
estrito de políticas fundiárias, ambientais ou mi- 30 países diferentes. No começo dos anos 90, países como
o Brasil e a Índia abriram unilateralmente seus mercados,
nerais. Eles se apoiam em medidas protecionis- convencidos de que precisavam importar para modernizar
tas, também chamadas de “medidas de defesa suas indústrias. A Rodada de Doha, lançada em 2001, para
formatar o novo mundo comercial, foi definitivamente
comercial”. Os agentes do aparato político-bu- engavetada neste final de semana.” (2011, p. B7).

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de contratos comerciais passam a regular políti- seus membros a possibilidade de escolha, sem
cas específicas de nação para nação. Um indica- excluir estratégias inspiradas no “protecionismo”.
dor para se refletir sobre esse eventual enfra- As variações nos significados de território tor-
quecimento concerne ao pronunciamento do di- nam-se tributárias dessas posições diferenciadas.
rigente da OMC, Pascal Lamy, logo após a oitava Pode-se dizer que os sentidos de território
Conferência Ministerial da OMC, entre 15 e 17 remetem, em primeiro lugar, a um “biologismo”
de dezembro de 2011, em Genebra, assinalando extremado, que caracteriza o ambientalismo
uma tendência das políticas econômicas de dife- empresarial dos grandes fundos de investimen-
rentes países de erigirem obstáculos à livre cir- tos, seja como o Forest Footprint Disclosure3 (FFD),
culação de mercadorias, reeditando medidas pro- selecionando e monitorando “regiões” de terras
tecionistas de suas indústrias, numa quadra de aráveis e de solos apropriados às grandes planta-
desemprego e estagnação que afeta notadamente ções, seja como o Cool Earth, elegendo as flores-
a comunidade europeia e os Estados Unidos tas, o patrimônio genético e a biodiversidade
(Chade, 2011, p.B7). como ativos ambientais, através de uma combi-
A proposta do Brasil na Rio + 20, anunci- nação entre propriedade privada de grandes
ada em 15 de fevereiro de 2012, pelo seu negoci- empresas (laboratórios de biotecnologia, indús-
ador-chefe, André Aranha Corrêa do Lago, asse- trias farmacêuticas e de cosméticos) e recursos
vera que a Rio+20 é uma conferência da ONU abertos às comunidades locais,4 classificadas como
sobre “desenvolvimento sustentável”, para repen- 3
O projeto do FFD foi iniciado em 2008, com suporte da
sar esse desenvolvimento e determinar o objeti- Global Canopy Foundation. Antes dos fundos de investi-
mentos definirem onde irão aplicar seus recursos, eles
vo comum dos países para as próximas décadas. querem informações sobre o grau de exposição das gran-
des empresas com respeito a, pelo menos, cinco tipos de
Trata-se de uma posição que visa a fortalecer a commodities – soja, óleo de palma, madeira, artigos deri-
vados da pecuária e biocombustíveis –, tanto no processo
ONU e, mais diretamente, o Programa das Na- produtivo, quanto na cadeia de “suprimentos”. Setenta
dos maiores fundos de investimento, que administram,
ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), juntos, cerca de US$ 7 trilhões, contam com um “guia”
contrária, portanto, à criação de uma agência que monitora os maiores conglomerados transnacionais,
conhecido como FFD. Os índices de desmatamento de tais
ambiental mundial, como propõem os países projetos tornam-se passíveis de ser estimados e inibidos.
Para outras informações consultar: Forest Footprint
europeus “encabeçados pela França”.2 Cotejan- Disclosure. Annual Review. 2011.
do-se essa posição com aquela de Pascal Lamy, 4
O Cool Earth consiste num fundo de investimentos que
articula a ação de bancos com a sensibilização de peque-
verifica-se que se está diante de diferentes mo- nos investidores com consciência ambiental aguda, em
países europeus e nos Estados Unidos. Mais de 20 mil
dalidades de agências multilaterais, cujas atri-

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pessoas fizeram doações a esse fundo durante a primeira
buições encontram-se agora sob o efeito do sen- semana de campanha do seu site, em junho de 2007, que
promete comprar e proteger florestas na Amazônia. Essa
so prático de estratégias “particularizantes”, que iniciativa conta com o apoio de várias personalidades e
entidades ambientais britânicas. O projeto propõe que os
objetivam fortalecer umas agências, enfraquecen- doadores ou pequenos investidores, patrocinem a conser-
vação da floresta ou de meio acre de terra (equivalente a
do outras, e vice-versa. Os acordos regulados pela dois mil metros quadrados de mata) com apenas 3,5 li-
OMC funcionariam sob o signo da “proteção”, bras. Através desse dispositivo de aplicação financeira,
forma-se um público difuso de ambientalistas de todos os
penalizando medidas protecionistas, enquanto a matizes, que se tornam virtuais proprietários da floresta,
dispondo suas libras para fortalecer fundos de investi-
ONU, através de seus programas, facultaria aos mentos que controlam ativos florestais significativos. Tra-
ta-se de recursos a fundo perdido, transferidos a grandes
conglomerados, e fundos que administram recursos mo-
2
Segundo o negociador-chefe do Brasil: “Quando se tem netários que seriam idealmente aplicados em comunida-
uma conferência das Nações Unidas, todos os países do des tradicionais e teriam seu retorno efetivo com créditos
mundo têm que concordar em qual vai ser a agenda. Não é de carbono respectivos. Essa fórmula parece estar aproxi-
uma decisão nem das Nações Unidas, nem do país anfi- mando os adversários de ontem e constituindo as bases
trião. É uma decisão de todos. Neste caso, a decisão foi de de um “ambientalismo empresarial” sofisticado, que mo-
que a Rio+20 deveria se concentrar em dois temas: a eco- biliza pequenos ambientalistas e grandes bancos e conglo-
nomia verde no contexto do desenvolvimento sustentável merados, diminuindo, ao mesmo tempo, a distância entre
e da erradicação da pobreza e a governança internacional ONGs ambientalistas e grandes empresas.
do desenvolvimento sustentável, ou seja, de que maneira O banqueiro britânico John Eliasch, vinculado ao Cool
vamos estruturar o debate internacional em torno dessa Earth, afirma ter adquirido, em fins de 2006, as terras da
questão.” Consulte-se a entrevista com o embaixador Corrêa Gethal Madeireira nos municípios de Manicoré e
do Lago (2012) . Itacoatiara, Estado do Amazonas, cujo total de hectares

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guardiãs da natureza. Apoiam-se também nas tradicionais, redefinindo os direitos dos “traba-
autorizações de pesquisa e licenças de exploração lhadores migrantes6” e estigmatizando identida-
dos denominados “minerais estratégicos”, estabe- des étnicas. Os novos limites estabelecidos aba-
lecendo uma tensão entre os detentores dos di- lam as normas jurídicas, como no caso do Decre-
reitos de exploração do subsolo e os chamados to 4887, de novembro de 2003, relativo à titulação
“superficiários”. Os sentidos práticos se baseiam, das terras das comunidades quilombolas, e frag-
enfim, numa noção de crescimento econômico mentam as territorialidades específicas (terras in-
mais voltada para expansão das commodities e dígenas, terras de quilombos, babaçuais livres,
uma “reestruturação formal” do mercado de ter- faxinais, fundos de pasto, comunidades ribeiri-
ras e seu potencial de “regionalização” ou nhas), ou seja, as terras tradicionalmente ocupa-
agilização de títulos, dirimindo conflitos das e controladas de modo efetivo pelas suas res-
fundiários localizados e dispondo, para as tran- pectivas comunidades ou pelas formas
sações de compra e venda, apenas imóveis regu- organizativas que lhes correspondem (associações,
larizados. Certamente, as inovações tecnológicas cooperativas, sindicatos, articulações e movimen-
fazem parte dessas políticas, como sói acontecer tos). Debilitam, além disso, os fatores identitários,
com as plantações de cana-de-açúcar, que, além propiciando condições para a atomização dos
do etanol e do açúcar, estão voltadas agora para agentes sociais. Em decorrência disso, fragilizam
fabricar óleos para as indústrias química, as identidades coletivas objetivadas em movi-
petroquímica, de cosméticos, alimentos e mentos sociais, suas condições de representação
biopolímeros. Tais inovações implicam a ampli- e os próprios atos de delegação, tal como sucede
ação das áreas de cultivo, mas o que rege a ex- com a Coordenação Indígena da Amazônia Bra-
pansão, de maneira efetiva, seriam as flutuações sileira (COIAB), a Articulação dos Povos e Orga-
dos preços de mercado das commodities como nizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e
açúcar, soja, óleos vegetais, de palma e de Espírito Santo (APOINME), o Conselho Nacio-
palmiste, madeira, carne in natura, milho e nal dos Seringueiros (CNS), o Movimento Inte-
biocombustíveis. restadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
Mesmo reconhecendo os acirrados deba- (MIQCB), a Articulação Puxirão dos Faxinalenses
tes e as dubiedades em torno das decisões relati- (APF), a Central de Fundos de Pasto e a Coorde-
vas a esses critérios, que objetivam estabelecer nação Nacional de Articulação das Comunida-
novas “fronteiras”, pode-se afirmar que, ao pro- des Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
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piciar condições de expansão5 da produção de Para uma síntese dessas transformações


commodities, estariam forçando a flexibilização em curso, pode-se recorrer, inicialmente, à aná-
dos direitos territoriais de povos e comunidades lise mais abrangente de Bensaid, explicitada nos
seguintes termos:7
ainda não é conhecido. As estimativas giram, entretanto,
em torno de 160 mil hectares. O propósito da empresa
adquirente é manter as comunidades locais zelando pelos A nova fase de acumulação do capital globalizado,
recursos florestais. Em outras palavras: os bens imóveis
adquiridos são privados, mas não são mantidos como re- na verdade, implica uma reorganização dos es-
cursos absolutamente fechados. A empresa adquirente paços e territórios, um deslocamento de frontei-
“concede” às comunidades locais – que tradicionalmente ras e a construção de novas muralhas de segu-
ocupam aquelas terras, nelas morando habitualmente, cul- rança (contra os palestinos ou na fronteira me-
tivando e extraindo produtos florestais – a sua permanên-
cia, mantendo aí suas práticas de uso comum dos recur- xicana), mais do que sua abolição em beneficio
sos naturais. O propósito maior seriam os créditos de car- de um mercado único “sem fronteiras (2008, p.4;
bono (Almeida, 2009, p.27-29). grifos nossos).
5
Há de se discutir a tão alardeada “capacidade produtiva”
desses empreendimentos. Cabe registrar, a propósito, que à
expansão do mercado de commodities agrícolas e minero-
metalúrgicas corresponde uma precariedade nas relações
de trabalho. Consoante entidades especializadas (OMCT, 6
CPT), há milhares de registros de pessoas sob condição Consulte-se Sprandel (2007).
7
análoga ao trabalho escravo, atualmente no Brasil. Bensaid (2008).

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A Amazônia consiste num lócus privilegi- repassadas, sem licitação, áreas com até 1.500
ado para se observarem, empiricamente, tais trans- hectares aos que detinham a posse dessas áreas
formações. Aí não se veem muralhas nem foram antes de primeiro de dezembro de 2004.9
erguidos “guetos”, mas se sente, com todo vigor, a ii) A redução de áreas protegidas ou unidades
força das pressões de políticas que articulam a de conservação,10 conforme a Medida Provisó-
ação governamental, objetivando uma “organiza- ria 558, editada em 18 de janeiro de 2012.
ção hierarquizada dos territórios”. Essa ação tem Para implementar esses dispositivos e respon-
sido rápida, com objetivos de curtíssimo prazo, der a demandas crescentes e de curto prazo, o
que exigem prontos resultados (hidrelétricas, aparato burocrático tem procurado agilizar, de
gasodutos, minerodutos, hidrovias, rodovias, por- modo articulado, os mecanismos de ação
tos, aeroportos, linhas de transmissão de ener- fundiária e aqueles da ação ambiental. A
gia), cujos efeitos referem-se a acidulados debates reformulação das bases do conhecimento téc-
jurídicos e à intensificação de conflitos sociais. A nico-administrativo tem sido colocada pelos
própria delimitação de Amazônia Legal está colo- dirigentes dos órgãos governamentais como
cada em questão a partir de inúmeros anteproje- condição fundamental para acelerar os
tos de lei que pretendem excluir parte do licenciamentos. As medidas de cadastro com
Maranhão ou do Tocantins ou do Mato Grosso.8 técnicas de georreferenciamento, a adoção de
De igual modo, encontram-se sujeitas a “redivisões” softwares para aprimorar o planejamento e o
político-administrativas unidades da Federação avanço na qualidade dos estudos ambientais
que a integram, como o Pará e o Maranhão. estariam criando, desse modo, condições para
O ritmo célere da ação governamental, ar- 9 Entre junho de 2010 e maio de 2011, o Programa Terra
ticulado com os interesses privados que promo- Legal cadastrou 87.992 posses, correspondentes a 10,3
milhões de hectares, conforme avaliação, realizada pelo
vem a expansão das commodities, baliza, entre- IMAZON, do segundo ano do mencionado programa,
intitulada: “A regularização fundiária avançou na Amazô-
tanto, as pressões políticas em todo o país. Elas se nia? Os dois anos do Programa Terra Legal”. Belém, se-
manifestam através de um mercado de terras re- tembro de 2011.
Dez dias após ter sido sancionada, a Lei 11.952 de 2009
lativamente reestruturado, privilegiando pelo foi objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI-
4269), proposta pela Procuradoria Geral da República e
menos três ordens de iniciativas. A primeira de- encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para a
PGR, a referida Lei institui privilégios injustificáveis em
las está atrelada a medidas do poder executivo; a favor de grileiros que, no passado, apropriaram-se ilicita-
segunda ocorre no âmbito dos debates no mente de vastas extensões de terras públicas. A
Procuradora Dra. Deborah Duprat, que encaminhou a pro-
legislativo, que delimita as normas; e a terceira posta ao STF, chama a atenção para os parágrafos 4º e 5º

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do artigo 15 da referida Lei, por violação da igualdade e
encontra-se referida a dispositivos jurídicos e ad- desvio do poder legislativo. Ela explica que os dispositi-
vos determinam que, para as áreas regularizadas de até
ministrativos. Eis algumas dessas manifestações: quatro módulos fiscais, o prazo de inalienabilidade fixado
i) A privatização das terras públicas sob o eufe- pelo legislador é de dez anos, enquanto as áreas que te-
nham entre quatro e quinze módulos fiscais, o prazo é de
mismo de “regularização fundiária”. Compre- três anos “... tem-se uma flagrante discriminação, que be-
neficia os que menos precisam, e ainda favorece a especu-
ende o Programa Terra Legal, instituído a partir lação imobiliária na Amazônia à custa do patrimônio pú-
blico”, destaca a Procuradora.
da implementação da Lei 11.952, de julho de 10
A Procuradoria Geral da República questionou, no dia 09
2009, que visa a titular 67 milhões de hectares de fevereiro de 2012, a constitucionalidade da Medida
Provisória 558, que reduz unidades de conservação na
na Amazônia. Essa medida regulariza a ocupa- Amazônia e permite a construção de hidrelétricas na bacia
do Tapajós. O MPF considera que as unidades de conser-
ção de terras da União, permitindo que sejam vação são essenciais para a preservação do bioma amazô-
nico. Argumenta também que quaisquer alterações devem
8
Um dos anteprojetos é de autoria do deputado federal ser realizadas a partir de discussões no Congresso Nacio-
Oswaldo Reis (PMDB-TO), que alega que o Tocantins não nal, sem que seja preciso editar uma MP. Sublinhe-se que,
teria área suficiente para produzir porque está enquadra- um dia após a edição da MP, a Eletronorte enviou ao IBAMA
do na Amazônia Legal. O outro é do falecido senador Jonas minuta do Termo de Referência prevendo a construção da
Pinheiro (DEM) e já foi aprovado em algumas comissões usina de São Luís do Tapajós; cinco dias depois, em 24
do Senado. Segundo dados do IBGE, o Mato Grosso tem de janeiro, o IBAMA aprovou o plano de trabalho para
quase metade do território em área de bioma da Amazô- diagnóstico ambiental da empresa. Verifica-se um tempo
nia, o que é contestado pela Federação da Agricultura e emergencial para licenciar a usina e proceder às demais
Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato). medidas de implantação de grandes projetos.

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o deferimento dos pedidos de licença, ou seja, do-os no mesmo plano de entraves em que clas-
para que o cronograma das obras de sificam os direitos étnicos, os laços de paren-
infraestrutura previstas não seja alterado. tesco nos casos das terras de herança sem for-
iii) As tentativas de incorporação de novas ex- malidade de partilha e as práticas costumeiras
tensões aos circuitos mercantis ocorrem atra- de uso comum dos recursos naturais. Reduzir
vés das alterações propostas pelos interesses a reserva legal14 dos imóveis rurais e lutar con-
“ruralistas” para a reforma do Código Flores- tra a inalienabilidade das terras tradicionalmen-
11 12
tal e para a redução da faixa de fronteira e te ocupadas (terras indígenas, de comunida-
pelas empresas mineradoras para a reforma do des quilombolas, de comunidades de fundos
13
Código de Mineração. No caso do Código Flo- de pasto, de comunidades de faxinais, de
restal, as associações e sindicatos patronais ru- quebradeiras de coco babaçu, de ribeirinhos e
rais elegeram a “questão ambiental” como tema de trabalhadores extrativistas), consideradas
para suas mobilizações em 2010 e 2011. Ao pelos economistas formalistas um freio à ca-
fazê-lo, passaram a considerar os fatores pacidade produtiva, consistem em bandeiras
ambientais como obstáculo à ampliação da ca- de luta dos chamados “ruralistas”.
pacidade produtiva dos imóveis rurais e às tran- iv) A flexibilização dos direitos territoriais de po-
sações de compra e venda de terras, dispon- vos e comunidades tradicionais tem ocorrido
11
No que tange ao Código Florestal, os debates mostram-se
através de: procrastinação da titulação definiti-
acirrados desde 2009, com o Projeto de Lei nº 5.367, de va de terras de quilombos, condicionantes an-
autoria do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), então co-
ordenador da Frente Parlamentar de Agricultura, que visa- tepostos à titulação de terras de comunidades
va a transformar o Código Florestal em Código Ambiental,
mais coadunado com os interesses imediatos dos quilombolas15 e ausência de medidas quanto à
agronegócios. Os cientistas políticos têm sublinhado que “desintrusão” e à redução de terras indígenas.
se está diante de uma nova configuração da coalizão de
interesses dos agronegócios. As agroestratégias ressaltam Na situação de Brejo dos Crioulos os
uma “imprevista aproximação” entre os interesses dos
agronegócios e forças políticas que sempre se perfilaram à condicionantes explicitados no texto do Decreto
“esquerda” defendendo a reforma agrária ampla e irrestrita:
“Do mundo agrário, por sua vez, são claros os novos si- dos demais povos de comunidades tradicionais, permi-
nais de mudanças a que o processo político não poderá tindo a intrusão de seus territórios por empresas
ser diferente. Desde as discussões sobre a reforma do Có- mineradoras e reduzindo seus direitos àqueles dos
digo Florestal, tendo como referência a questão nacional, “superficiários”. Antes mesmo de sua aprovação, já temos
testemunha-se uma imprevista aproximação entre os violações desses direitos, perpetradas pelo poder executi-
agronegócios e setores da esquerda, no caso representa- vo, ao sancionar decreto, como aquele datado de 29 de
dos por um parlamentar do PCdoB, Aldo Rebêlo, que se setembro de 2011, que titula a terra da comunidade
tem traduzido em apoio de certos círculos do capitalismo quilombola de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais. Vide
agrário brasileiro a sua reeleição.” (Vianna, 2010, p.A2). nota de rodapé n.16, que complementa esta.
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Em 2006 o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) apresentou 14
A reserva legal, tal como disposto no Código Florestal,
a PEC 49, reduzindo a faixa de fronteira de 150 km para consiste numa área preservada que deve ocupar 80% de
50 km. No final de 2007, a Comissão de Constituição e cada imóvel rural no bioma amazônico, 35% no cerrado e
Justiça do Senado aprovou a redução da faixa de fronteira 20% no restante do país. Os interesses “ruralistas” pressi-
entre Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Os princi- onam a redução dessas áreas, bem como sobre as áreas de
pais interessados seriam empresas transnacionais de ce- preservação permanente dos imóveis rurais, no intuito de
lulose, que operam no Rio Grande do Sul, na proximida- dispô-las à produção, ou seja, aos circuitos de mercado.
de da fronteira com a Argentina e o Uruguai. Existe ainda 15
O exemplo mais completo desses condicionantes refere-
uma disposição firmada na PEC que permite a estrangei- se ao Decreto de 29 de setembro de 2011, assinado pela
ros a compra de terras na Amazônia. A Advocacia Geral Presidenta da República, que declara de interesse social
da União (AGU), no decorrer de 2011, emitiu parecer de- para fins de desapropriação os imóveis rurais abrangidos
finindo as condições para a aquisição de terras por estran- pelo Território de Quilombos Brejo dos Crioulos, situado
geiros. Complementa a proposta do Senador Zambiasi a nos municípios de São João da Ponte, Varzelândia e
PEC 235/2008, do deputado federal Mendes Ribeiro Filho Verdelândia, Estado de Minas Gerais, cujo artigo 4º res-
(PMDB-RS). Elder Ogliari sintetiza a posição do Ministé- salta o seguinte: “Este Decreto não interfere nas atividades
rio da Defesa a respeito dessas PECs: “A área de Defesa de exploração e produção de petróleo e gás natural em
admite flexibilizar a lei sobre a faixa de fronteira, mas en- blocos já citados, bem como nas atividades minerárias nas
tende que os 150 km devem ser mantidos. A tese foi trans- fases de pesquisa, extração e beneficiamento mineral, as-
mitida pelo Coronel Gustavo de Souza Abreu, represen- segurando-se à comunidade quilombola: 1- a preservação
tante da Secretaria Executiva de Política Estratégica e As- de seus valores históricos e culturais; II- os direitos pre-
suntos Internacionais do Ministério da Defesa, no Semi- vistos em lei ao superficiário; e iii) a salubridade, segu-
nário sobre Mudanças na Extensão das Faixas de Frontei- rança e integridade física em face da atividade minerária,
ra, ontem em Porto Alegre.” (Ogliari, 2008, p. A10). nos termos da lei.”
13
Há inúmeras propostas ao novo Código de Mineração que Os direitos territoriais da comunidade quilombola limi-
tramitam no Congresso Nacional. Elas convergem para tam-se ao solo, são transformados em “direitos de
flexibilizar os direitos de terras indígenas, de quilombos e superficiários”, menosprezando-se os direitos étnicos.

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Alfredo Wagner Berno de Almeida

de 29 de setembro de 2011 convertem os direitos suas implicações. Está em pauta uma classifica-
das comunidades remanescentes de quilombos em ção mais rígida de espaços geográficos eleitos ofi-
direitos de “superficiários”, do mesmo modo que cialmente para garantir a implementação da po-
restringem seu território ao solo, juridicamente se- lítica ambiental, quando confrontada com po-
parado do subsolo, o qual estaria disponível à ex- vos e comunidades tradicionais. Os efeitos des-
ploração de empresas petrolíferas e de mineração. sas medidas correlatas à reestruturação do mer-
O resultado mais perceptível desse conjun- cado de terras ainda estão por serem estimados,
to de iniciativas diz respeito ao aumento das ex- mas pode-se adiantar que os processos de con-
tensões de terras passíveis de transações de com- solidação das territorialidades específicas estão
pra e venda ou a disponibilização de terras públi- sendo afetados de maneira profunda, sobretudo
cas aos grandes empreendimentos, removendo os no que se refere às delimitações das terras tradi-
obstáculos jurídico-formais que impediam sua li- cionalmente ocupadas. As decisões dos agentes
vre comercialização. Em outras palavras, a ação sociais referidos a essas terras concernem à emer-
oficial objetiva ampliar o estoque de terras gência de novas formas organizativas16 mais au-
comercializáveis e reestruturar o mercado de ter- tônomas e abrangentes, que se apoiem em mo-
ras através da incorporação das terras “liberadas” bilizações coadunadas com realidades localiza-
seja pelas alterações no Código Florestal, seja na das, que sublinhem as limitações governamen-
redefinição da faixa de fronteira, seja pelos tais na aplicação das normas jurídicas e busquem
condicionantes dispostos no texto de novos decre- instrumentos políticos capazes neutralizar os ris-
tos de titulação de quilombos, ou seja, pela rápida cos de uma tutela e de assegurar direitos
titulação de terras públicas distribuídas no ritmo territoriais que têm sido usurpados. Os referi-
célere do aquecimento do mercado de terras. dos riscos são significativos, pois a tutela jurídi-
Os diferentes limites colocados aos direi- ca é caracterizada por uma ambiguidade que tanto
tos territoriais de povos e comunidades tradicio- pode expressar uma “proteção” exercida em re-
nais podem ser assim resumidos: mineração em lação a quem se considera mais frágil, quanto
terras indígenas, identidades coletivas uma submissão imposta pelos centros oficiais de
ilegitimadas, golpes sucessivos contra a Conven- poder, que passariam a ter o encargo político e
ção 169, engessamento do Decreto 6.040, de 7 de jurídico de velar pelo “tutelado” ou de representá-
fevereiro de 2007, Ação de Inconstitucionalidade lo. Aqui se tem um plano social de tensões entre
do Decreto 4887, de novembro de 2003 ou tutela e ação mediadora, que sempre recoloca a

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glaciação do Art.68 do ADCT. Complementar- questão da representatividade nas mobilizações
mente, pode-se mencionar a incapacidade go- políticas e nas mesas de negociação.17
vernamental de regularização fundiária das uni-
16
dades de conservação, sobretudo das Reservas A emergência destas modalidades organizativas será objeto
de um texto específico. Importa acrescentar, contudo, que o
Extrativistas, e ainda as dificuldades operacionais Conselho Nacional dos Seringueiros, em setembro de 2010,
definiu em assembleia uma nova designação que incluísse
de dirimir as sobreposições: seja de unidades de todos os extrativistas. Os povos indígenas se mobilizaram
conservação e terras indígenas e também de ter- no final de 2011 e início de 2012 para a criação de uma
nova entidade de representação, a Articulação dos Povos
ras de quilombos, seja de áreas reservadas para Indígenas do Brasil. A CONAQ realizou seu encontro naci-
onal, em agosto de 2011, enfatizando a necessidade de uma
uso militar e terras tradicionalmente ocupadas transformação de “organização de militantes” para uma “en-
tidade de massas”. Reforçar a representatividade e ampliá-
por comunidades quilombolas e ribeirinhas. la parece ser um ponto de aproximação entre movimentos
O discurso burocrático dos órgãos gover- sociais que correm o risco de ficarem tutelados aos efeitos
políticos das medidas “protecionistas”.
namentais e das agências ambientalistas incor- 17
Esta tensão concorreu para uma fragilização quase absolu-
ta na ação mediadora atual do GTA (Grupo de Trabalho
pora o termo “re-categorização” de unidades de Amazônico), que foi criado em 1991-1992, com apoio das
conservação, chamando a atenção para as novas agências multilaterais, com o propósito de representar a
sociedade civil organizada da Amazônia e que chegou a
distinções espaciais, a partir das sobreposições e ter mais de 600 entidades filiadas.

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TERRITÓRIOS E TERRITORIALIDADES ESPECÍFICAS ...

Em resumo, pode-se afirmar que os povos e REFERÊNCIAS


comunidades tradicionais encontram-se premidos
entre a inocuidade das políticas de “proteção” – ALMEIDA, A. W. B. de (Org.) Conflitos sociais no complexo
Madeira. Manaus: UEA, 2009. p.27-29.
que não lograram êxito na regularização fundiária BENSAID, Daniel. Os irredutíveis. Teoremas da resistência
das RESEX, na desintrusão das terras indígenas, para o tempo presente. Trad. Wanda Caldeira Brant. São
Paulo: Boitempo, 2008.
na titulação das terras de quilombos, no pleno reco-
CHADE, J. Conferência da OMC anuncia fim da era dos
nhecimento das demais terras tradicionalmente ocu- acordos. O Estado de São Paulo, São Paulo, 19 dez. 2011. p.
B7, 19.
padas (faxinais, fundos de pasto, babaçuais livres,
CORRÊA DO LAGO. Não se pode ter dois padrões de con-
comunidades ribeirinhas) e em dirimir os conflitos sumo, para país rico e pobre. Revista Valor, p. A13, 16 fev.
2012. Entrevista realizada por Daniela Chiaretti.
em situações classificadas como de sobreposição –
OGLIARI, Elder. Defesa é contra a redução da faixa de fron-
e a ofensiva sobre seus recursos básicos teira. In: SEMINÁRIO SOBRE MUDANÇAS NA EXTEN-
desencadeada pelas medidas “protecionistas”. SÃO DAS FAIXAS DE FRONTEIRA. Porto Alegre, 2008.
SPRANDEL, M. A. (Org.) Direito dos trabalhadores
migrantes. Manaus: UEA, 2007.
VIANNA, Luiz Werneck. O calendário e a coluna. Revista
(Recebido para publicação em 30 de novembro de 2011) Valor, p.A2, 04 out. 2010.
(Aceito em 17 de fevereiro de 2012)
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Alfredo Wagner Berno de Almeida

TERRITORIES AND SPECIFIC TERRITOIRES ET TERRITORIALIALITÉS


TERRITORIALITIES IN THE AMAZON: SPÉCIFIQUES EN AMAZONIE: entre
between “protection” and “protectionism” “protection” et “protectionisme”

Alfredo Wagner Berno de Almeida Alfredo Wagner Berno de Almeida

We are currently witnessing the imple- On peut voir actuellement la mise en


mentation of “a spatial and territorial reorga- oeuvre de politiques de “réorganisation des espa-
nization”, though not as a natural result of gradual ces et des territoires” qui sont le résultat non pas
increase in exchanges, but as the effect of the State’s d’un produit mécanique d’expansion progressive
deliberately protectionist action to pursue market des échanges, mais l’effet d’une action délibérée
restructuring and the disciplined commercialization du protectionnisme de l’État visant la
of lands and forest and underground resources. restructuration des marchés qui réglementent
This article shows how the peoples and the l’achat et la vente des terres, des ressources
traditional communities are constrained by the forestières et du sous-sol. Cet article montre
protective measures of multilateral agencies and comment et combien les populations et les
the protectionist policies forged by the State. communautés traditionnelles vivent sous
pression à cause des mesures de protection des
agences multilatérales et des politiques
protectionnistes élaborées par l’État.

KEY-WORDS: territory, territoriality, sustainable MOTS-CLÉS: territoire, territorialité spécifique,


development, the Amazon region, agricultural développement durable, Amazonie, agro-
strategy. stratégies.

CADERNO CRH, Salvador, v. 25, n. 64, p. 63-71, Jan./Abr. 2012

Alfredo Wagner Berno de Almeida - Antropólogo. Doutor em Antropologia Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Professor da Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Pesquisador do
Centro de Estudos do Trópico Úmido-CESTU e Pesquisador do CNPq. Foi Professor Visitante na Uni-
versidade Federal do Maranhão e na Universidade Federal do Amazonas. Tem atuado principalmente
nos seguintes temas: povos tradicionais, etnicidade, conflitos, movimentos sociais, processos de
territorialização e cartografia social, Amazônia. Publicações recentes: Etnicidade e urbanidade: a Aldeia Bei-
ja-Flor. Novos Cadernos NAEA, v. 14, p. 131-146, 2011 (co-autor); Darwin e Marx: diálogos nos trópicos para uma
interpretação do Brasil. Somanlu (UFAM), Manaus, v. 5, n. 2, p. 9-27, 2006; Quilombolas, Quebradeiras de Coco
Babaçu, Indígenas, Ciganos, Faxinaleses e Ribeirinhos: movimentos sociais e a nova tradição. Revista Proposta (Rio de
Janeiro), Rio de Janeiro, v. 29, n. 107/108, p. 25-38, 2006.

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