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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca compreender e analisar as consequências do


abandono afetivo, no decorrer da vida adulta do sujeito que sofreu o requerido
desamparo abandono afetivo pelos cuidadores primordiais ou somente por um
deles.
Diante do fenômeno de impacto social, do “abandono afetivo”, é de suma
importância a preocupação dessa causalidade que pode afetar o ser humano com
consequências como: o sofrimento psicológico, dificuldades de aprendizagem, auto
estima baixa, vulnerabilidade, auto realização, socialização, antissociabilidade,
instabilidade, agressão, irritabilidade e possessividade. Tornando relevante esta
pesquisa, que pretende contribuir para mudanças de estratégias que ajudarão em
novos conhecimentos como o direito do cidadão e o dever da sociedade em sua
totalidade. para um aprofundamento do tema e para mudanças de estratégias
psicossociais que ajudarão em novos conhecimentos para psicólogos/as e demais
profissionais da saúde bem como sustentar a garantia de direitos destes cidadãos e
enfatizando o dever da sociedade em refletir sobre suas práticas; já que, atualmente,
pelas peculiaridades de nossa sociedade e destes sujeitos que sofrem de abandono
afetivo, tentem a ser a sua marginalização.
Como o próprio nome indica, o abandono afetivo se define pela negligência
de suportes afetivos, necessários ao desenvolvimento infantil por partes dos
cuidadores ou na omissão de um deles. Ressalta-se três tipos de abandono: o
material, intelectual e afetivo. Enfatizando que o abandono afetivo da função
materna ou da função paterna, ou seja, de seus primeiros cuidadores, pode gerar
prejuízos na formação da personalidade do sujeito. O amor não é uma obrigação,
mas os cuidados para com a criança desde o nascimento e na fase da infância e
juventude é uma incumbência dos cuidadores, um direito da criança assim que
nasce. Importante assinalar ainda que o ECA entende que não é só um dever dos
cuidadores próximos, mas também da sociedade como um todo. (ECA, 2017).
Alicerçada pela Psicanálise, em especial em Winnicott, o desamparo ou a
negligência afetiva apresenta, em geral, os seguintes sintomas: sofrimento
psicológico, dificuldades de aprendizagem, auto estima baixa, vulnerabilidade afetiva
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e social, auto realização, socialização, antissociabilidade. A conscientização dessas


consequências do abandono, e da negligencia dos pais, precisam ser refletidos em
cada indivíduo, perante sua conduta, pois toda ação haverá uma reação no futuro,
podendo neste caso ser uma reação caótica, tanto para quem sofre o abandono
quanto para a sociedade em geral.
Ressaltando três tipos de abandono: o material, intelectual e afetivo.
Enfatizando que o abandono afetivo materno ou paterno pode gerar prejuízos na
formação da personalidade do sujeito. O amor não é uma obrigação, mas os
cuidados para com o filho desde o nascimento, nas fases da infância e juventude
uma incumbência, um direito do cidadão assim que nasce.(ECA,2017)
A importância desta pesquisa se deve ao fato de milhões de crianças ainda
hoje, sofrerem o abandono afetivo no Brasil e em vários outros países, que segundo
os dados colhidos o IBGE (2015) no ano de 2000, eram 20 % o número de crianças
sem registro do pai, até ano de 2015, segundo dados colhidos o brasil ganhou
mais de 1 milhão de famílias composta só pela mãe”. Ressaltando que a figura do
pai, como aquele que mais abandona, materialmente e intelectualmente e
afetivamente. Os motivos do abandono materno geralmente são a pobreza ou as
drogas. Tornando assim uma grande preocupação ainda na hoje no Brasil e em
vários países no mundo, com as repercussões geradas no decorrer da vida adulta
do sujeito. (IBGE, 2015)
A história do Brasil informa muito pouco sobre o abandono das crianças.
Temos os primeiros registros destas práticas a partir do século XVIII, momento
histórico no qual as mães solteiras sofriam discriminação e preconceito social, além
de viverem (ampla parte delas) em grande situação de miséria, fato pelo qual
abandonavam seus filhos. Tornando-se com o tempo uma grande preocupação
governamental, nascendo na Europa medieval, mas com início no país da Itália,
várias instituições chamadas, “Roda dos Expostos”, e posteriormente em outros
países até chegar no Brasil. Como forma de amenizar as mortes dos bebês
rejeitados pelos pais, que deixavam as crianças nas portas de igrejas, ruas entre
outras localidades de risco. Estas crianças não tinham chances de chegar a vida
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adulta, vinham a óbito muito cedo devido ao ambiente que eram expostas.
(MARCÍLIO, 1998)
Num contexto mais explícito, foi possível analisar duas realidades distintas, sendo
que aconteceu uma extinção do abandono infantil na Europa, porém na América
latina,o abandono se expandiu drasticamente desde o período colonial até os dias
atuais.(MARCÍLIO,1998)
Diante das atuais intempéries do mundo contemporâneo, é que o autor
estudioso dos vínculos humanos Sérgio Sinay (2012), discute uma nova proposta de
abandono afetivo, remetendo a “orfandade”, onde explica que a sociedade está
sendo construída de “filhos órfãos”, que moram com o pais, porém são criados sem
limites e sem amor. Esses “filhos órfãos” configuram um outro tipo de abandono
afetivo apontado como um outro risco social. Já que esta nova sociedade de jovens
que tem tudo o que deseja, menos atenção e carinho desses cuidadores, que
trocam o sentimento de amor e segurança, por objetos midiáticos. Para o autor
(SINAY, 2012), o efeito social dessa nova “categoria de abandono” está criando
crianças e jovens que não respeitam os pactos sociais e, por vezes, não
desenvolvendo a capacidade de empatia em relação ao próximo. (SINAY,2012)
A sociedade está criando filhos que não respeitam leis e não tem amor ao
próximo. Matam sem sentir remorso, consomem drogas, mentem e, por muitas
vezes, usam de violência para conseguir o que desejam. Pois não aprenderam a
aceitar a palavra “não”, dos próprios pais ausentes em sua criação. (SINAY, 2012)
De acordo com o autor SINAY(2012), a sociedade de hoje em dia se
entorpece com bens de consumo ,fármacos, exercícios pseudoespirituais e de todo
tipo de paliativos estéticos para esquivar-se do envelhecimento, pois buscam
deliberadamente um corpo adolescente, concorrendo com seus filhos. (SINAY,
2012)
Os poderes governamental e legislativo tiveram que realizar uma intervenção
e uma mudança da lei que lembrasse a sociedade o seus deveres como genitores
responsáveis pela criação e proteção dos seus filhos. A partir destes estudos que
relacionam o abandono afetivo com um descaso dos cuidadores, foi inserida uma
nova lei que lutasse pelos direitos da criança e do adolescente, preocupada com a
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formação de sua personalidade do sujeito na vida adulta. Foi aprovado o projeto de


lei nº 3.212-A, de 2015, alterando a lei do Estatuto da criança e do Adolescente
(ECA), nº 8.089, 13 de julho de 1990, definindo:

o “abandono afetivo” como ilícito civil, ressaltando que os pais


são os responsáveis por zelar pelos direitos, dar assistência
afetiva, acompanhamento da formação psicológica, moral,
material e social da pessoa em desenvolvimento (ECA, 2017)

Desta forma, esta monografia de conclusão de curso, buscou articular duas


áreas do conhecimento: a Psicologia (sobretudo, a Psicanálise) com a esfera do
Direito. Para tanto, realizou uma pesquisa bibliográfica que abordasse o tema do
“abandono” de crianças e jovens em termos históricos bem como em seus efeitos
subjetivos, afunilando a pesquisa para os aspectos afetivos relacionados ao
abandono afetivo). Além desse material teórico, realizou-se estudos de casos Klein
(1882-1903), Winnicott (1896-1971) e Bowlby (1907-1990) entrevistando quatro
sujeitos (2 homens e 2 mulheres) que supostamente sofreram “abandono afetivo”,
aplicando também o TESTE BFP para fazer inferências sobre o perfil psicológico
que o desamparo em termos afetivos pode produzir na constituição subjetiva dessas
pessoas.
Em todas as teorias psicanalíticas seus pesquisadores defendem que para
um indivíduo ter sucesso no aprendizado escolar, profissional, social e amoroso com
um parceiro, ele precisa de uma figura materna que de segurança e apoio para a
formação de sua personalidade, ou pode ser gerado vários tipos de
desajustamentos no comportamento da pessoa que sofre o abandono afetivo.
As primeiras análises foram realizadas com Anna Freud (1895-1982), com
crianças traumatizadas, que vivenciaram o abandono dos pais. Desde então, vários
psicanalistas como: Bowlby (2004), Winnicott,(2005), Klein (1945), ressaltam em
seus estudos, que o abandono traz várias consequências na infância, que
corroboram o ser humanos que não tem vínculos afetivos. Sendo o primeiro
sentimento que nasce, é a rejeição somatizando a outros como, incapacidade, raiva,
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possessividade e antissociabilidade. Tornando o sujeito vulnerável com baixa


autoestima, pois é uma das coisas que mais afeta a segurança. Particularmente
quando ocorre na infância, já que é nesta fase que aprendemos a gostar de nós
mesmos e nos valorizar. Tornando-se um modo de defesa do ser humano, que ao
invés de se sentir amado e seguro, aprende que tudo pode ser uma ameaça para
ele. E assim, se o que o sujeito encontra são só um mundo de ameaças a sua vida,
ele pode se tornar também uma ameaça para a sociedade, como forma de se
defender.( BOWLBY,2005)
Portanto, esta pesquisa de trabalho tem como objetivo constatar as
consequências do abandono na vida adulta do ser humano, tentando compreender
como afeta individualmente o sujeito. Na idade adulta é difícil perceber que todo
distúrbio emocional de angústia e depressão, está ligado as experiências individuais
do ambiente que esta foi exposta no passado. Porém não deixa de ser verdade a
ligação da relação entre os métodos psicológicos e as perturbações da
personalidade que são sinalizadas em fases mais futuras da vida. (BOWLBY, 2004,
p.5)
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2 OBJETIVO
2.1 Objetivo Geral
Identificar as implicações do abandono afetivo na infância e suas consequências para a
vida adulta.
2.2 Objetivos Específicos
- Definir abandono afetivo e compreender as suas consequências.
- Identificar e analisar as consequências do abandono afetivo para formação da
personalidade do sujeito.
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3 REFERENCIAL TEÓRICO
O abandono afetivo se caracteriza na omissão de cuidados na criação de um
menor incapaz, sendo criança ou adolescente, no que se refere ao seu
desenvolvimento no seu percurso de vida, como na educação intelectual, material e
afetiva. Pois a criança ou adolescente, precisa da companhia, assistência moral,
psíquica e social. Sendo este o papel que os pais devem ao filho quando menor de
idade. Cabe ressaltar que o abandono materno ou paterno pode gerar vários prejuízos
somáticos na formação de sua personalidade, sendo o amor não obrigatório mais o
cuidado, uma incumbência, um direito da criança e do adolescente incapaz. Existem
três tipos de abandono: o material, intelectual e afetivo. (ECA, 2017)
- O abandono material acontece quando um dos genitores deixa de prover subsistência
sem causa justa (deixa a criança passar por falta de alimentação, vestuário, lazer,
assistência médica e odontológica, entre outras).
- O abandono intelectual ocorre quando um ou ambos os pais deixam de garantir a
educação primária, não se preocupando como futuro e os constrangimentos da criança
não aprender a ler e escrever, entre outras circunstancias como valor familiar e cultural,
que ajudam no processo de desenvolvimento para a formação de uma personalidade
saudável. Sendo um papel dos pais o ajustamento as normas da sociedade.
- O abandono afetivo consiste pela indiferença afetiva de um ou ambos os pais. Ou
seja, aquela mãe ou pai que após o filho nascer, entrega a algum membro da família
para cuidar, ou conhecido, rejeita carinho e atenção, não participa de reuniões de
escola, eventos de aniversário, estão contribuindo para uma sociedade vulnerável e
problemática. (ECA, 2017)
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Conforme o autor Sinay (2012), salienta, existem pais que moram com os filhos,
porém não zelam por este, o tratam como um adulto ou como se não existissem. Tendo
a criança que se virar para se alimentar, entre outros cuidados básicos, sofrendo até
violências domésticas da parte dos pais ou cuidadores. Renunciando o tratamento de
pais amorosos, por pais que preferem dar um objeto ao filho, como um brinquedo do
que ter que dar atenção, não se envolvendo nos estudos escolares, lazer,
conhecendo os amigos de seus filhos e ajudando no conflitos diários existenciais que
se manifestam nesta idade. E esta conduta negligente, não deixa de ser abandono
afetivo.( SINAY,2012)
Ele discute o contexto de “orfandade’, no seu livro a “Sociedade dos Filhos
Órfãos”, onde argumenta vários tipos de orfandade onde os órfãos são uma epidemia,
um fenômeno de massas, numa transformação de pessoas sem futuro, onde a maioria
tem pai e mãe, convivendo com eles. Possuem todas as necessidades básicas como;
alimentação e abrigo, e educação escolar, porém não deixam de serem órfãos
funcionais. Outra forma de abandono afetivo na orfandade, porém com outras
gravidades, que ressaltam pais que imitam os filhos por não colocar limites
comportamentais e que dão tudo que desejam, criando jovens rebeldes. (SINAY,2012)
É até invejados por outros indivíduos por terem bens materiais, menos o afeto.
Só que a gravidade está nos limites, que saem do contexto pais e filhos, para o uso
descontrolado de drogas, álcool, sexo desprotegido, agressões por preconceitos homo
fóbicos, racistas, medo da responsabilidade, e de se tomar decisões. E o preço deste
tipo de abandono que coloca em risco a sociedade, que de alguma maneira direta ou
indireta vão responder por tais atos, já que estes filhos órfãos são criados, pela mídia,
TV e produtores de tecnologias que banalizam suas mentes, imitando figuras violentas
de jogos de games, de filmes de terror e de crimes, porque não tem mais a figura dos
pais para se espelharem. (SINAY, 2012)
Que segundo Sinay (2012) as consequências são estarrecedoras:
“Violência infantil e adolescente, obesidade, infantil epidêmica, toxicomania
e alcoolismo em idades cada vez mais baixas, notáveis índices de
ignorância de crianças e adolescentes a respeito de questões elementares
para saber em que ambiente vivem e como este foi criado”. (SINAY, 2012,
p.13).
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Os filhos que são abandonados pelos pais, não amadurecem nem


psiquicamente e nem espiritualmente relata o autor, onde provocam tragédias
diversas, como por exemplo, atropelar pessoas em carros luxuosos e não socorrer e
fugir do local. Como também chegam a vida adulta e continuam vivendo nos lares
dos pais, se tornando agressivos, brigam em bares e manifestam preconceitos
diversos como agredir pessoas nas ruas. São os que atropelam e não socorrem,
com ações sempre irresponsáveis. (SINAY, 2012, p. 14).
Segundo o autor Sinay (2012) falando sobre a ausência dos pais:
“Trata - se de uma ausência que já parece militante. Uma ausência
persistente, repetitiva. Uma ausência que priva os filhos de viver a
sequência de experiências que conduzem a uma evolução harmônica rumo
a maturidade, numa ausência que desorienta, desordena, priva de
ferramentas para a construção de usam vida com propósitos, significado e
sentido. Uma ausência que se protege em dezenas de desculpas (o tempo,
o trabalho, “o que vi na terapia” a necessidade do meu próprio crescimento
e meu próprio espaço”, o medo de ser autoritário.” (SINAY, 2012,p.14)

Os filhos que são abandonados pelos pais e a sociedade não evoluem nos
aspectos psíquicos, vivem num mundo de fantasia e tragédias tanto particular, como
privada. Negam-se em ser adultos, não avança em maturidade de acordo a idade,
vivem como adolescentes e ao gerando filhos que imitam seus atos. Os filhos órfãos
esquecidos e rejeitados se tornam agressivos, ansiosos e temerosos, não confiam em
ninguém. A sociedade que produz filhos órfãos, é uma orfandade que desinteressa por
sua origem, com consequência o desenvolvimento da personalidade, destruindo assim
o potencial da capacidade cognitiva do ser humano.

O ser humano tem necessidade de orientação, acompanhamento, ordem


referência e limites, pois a presença dos pais ativos na vida do filho transfere a
coragem para a criança expor sua opinião sem medo de errar. (SINAY, 2012) .Sinay
(2012) argumenta que se uma pessoa não quer ter trabalho e responsabilidades, então
não tenha filhos. As pessoas querem filhos, porém não sabem manter autoridade,
construir valores e administrar suas vidas, onde querem mais exibir o filho como troféu
e depois coloca a criança num canto como coloca o troféu, quando cansa de exibi-lo.
Uma criança deveria vir ao mundo como com o propósito de continuação genealógica,
passando valores culturais e de laços afetivos, e não de um objetivo fútil e mesquinho
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para ser depois colocada de lado como algo que não serve mais, e onde o sujeito não
sabe o que fazer com este objeto que não quer mais. Podemos dizer que o abandono
afetivo é isso, um produto que foi inutilizado pelos sujeitos arrogantes, imaturos e
irresponsáveis.

Segundo Sinay (2012);

“Um filho não merece ser trazido a vida para remendar a crise de um casal
que não soube resolver de uma maneira madura seus conflitos, seu
esvaziamento e sua deterioração”. ( SINAY,2012, p. 17)
A orfandade que o autor, relata é entendida como crueldade, pois se não se
nega amor, alimento, orientação e valores morais a um filho. Quando os pais de uma
criança morrem não significa que a família não possa acolher e cumprir os deveres dos
pais, porém a família não é obrigada acolher. Principalmente se estes parentes fazem
por obrigação e não por amor, a criança vai sentir esta rejeição e vai piorar
psicologicamente. Assim, criança que é jogada de lado, que come o que quiser,
decidindo o que fazem sem orientação de um adulto que seja uma figura representativa
do pai ou mãe, pode ser influenciada por más amizades, que levam a riscos diversos
como sexo precoce e drogas, entre outras coisas. ( SINAY, 2012, p.22)

3. 1 Abandono afetivo e a Psicanálise

A questão do abandono afetivo e suas consequências na infância, na


formação do caráter e personalidade do ser humano, estão em destaque entre
várias áreas do conhecimento cientifico, dentre um deles o campo da “Psicanálise”,
que já havia analisado e estudado, desde a época de Sigmund Freud (1856-1939) e
sua filha Anna Freud (1895-1982). Durante a segunda guerra mundial, as crianças
sofreram muitos conflitos, traumas e sofrimento como consequências dessa guerra,
o resultado da delinquência infantil que foi um marco em 1939 a 1945. E a sequela
catastrófica, são os adultos com vários problemas de desvio de caráter e
personalidade, como; indivíduos antissociais, agressivos, ansiosos, depressivos,
dependentes químicos e carentes de afeto.( WINNICOTT,2005)
Conforme Anna Freud, (1895-1982), citado por Bowlby (2005, p.3) durante,
suas observações com crianças pequenas descreveu as necessidades de cuidados
desde o nascimento, por uma figura que transmita segurança. Notou que as crianças
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durante a guerra após se afastarem de suas mães, ou ficarão órfãs, criaram um


sentimento de possessividade pelas novas cuidadoras ou enfermeiras. O sentimento
da criança de desespero e angústia, medo e raiva, com o desejo de obter o afeto
que lhes foi tirado, eram notados na agressividade em que a criança demonstrava
para o cuidador. Enfatizando que sempre que uma criança ou adolescente se separa
por breves ou longos períodos da figura da mãe, esta pode desenvolver distúrbios
emocionais, que estão associados as suas experiências do passado, com o mundo
externo. A existência de uma possível relação entre o sofrimento psicológico com as
perturbações de personalidade vem à tona na fase adulta. ( apud BOWLBY,2004)
Melanie Klein (1882- 1903), passando por Donalds Woods Winnicott (1896-
1971) e Jonh Bowlby (1907-1990) defendem que rejeição e abandono na infância
pode transformar o sujeito em possessivo e desequilibrado, a ponto de não saber
lidar com nenhum tipo de separações ou percas na vida adulta, não aceitando o
rompimento de uma relação com o parceiro, partindo para agressões físicas,
perseguição e até morte, devido a frustração na perca da figura amada. (BOWLBY,
2004)
A psicanálise sempre se preocupou com o estado emocional, como também
explorou sistematicamente desde o início o funcionamento da criança, até a fase
adulta. Cabe ressaltar que Freud (1920), não havia formulações exatas para
comprovar cientificamente que a vida mental desde o nascimento é essencial para
saúde mental do sujeito. Muitos artigos publicados relatou que a criança que sofre
na infância se transforma no neurótico adulto. ( apud BOWLBY,2004)
As experiências que a criança viveu no passado desempenham um papel
essencial em seu desenvolvimento, sendo importante que desde o nascimento a
criança tem necessidade de cuidados sempre pelo mesmo cuidador. As pesquisas
realizadas anteriormente por Freud (1920), até nos dias atuais baseia-se suas
recomendações de que certas situações e acontecimentos podem afetar
decisivamente o desenvolvimento da criança por toda vida. Ressaltando que a
felicidade e estabilidade na infância, até o final do estágio da adolescência, podem
causar desajustamentos no convívio social dependendo do ambiente que a criança
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foi exposta, resulta-se em uma ruptura na formação da personalidade do indivíduo. (


apud BOWLBY, 1982)
Conforme Bowlby( 2005), argumenta que a falta de cuidados da figura da mãe
ou ruptura das relações entre ambos, pode criar várias formas de neuroses e
desordens de caráter, enfatizando que o atendimento com sujeitos perturbados, tem
que ser investigados, partindo da perturbação atual, podendo ser observado episódios
patogênicos e patológicos.( BOWLBY, 2005,p.14)

Que segundo Bowlby (2005):

“ O motivo que nos levou a pensar assim foi o de que as reações e os


processos observados pareciam os mesmos que atuavam sobre indivíduos
de mais idade, ainda perturbados por separações que os haviam afetados
na infância. Entre tais reações os processos estão de um lado, a tendência
de impor exigências sobre outras pessoas, revelando ansiedade e raiva
quando tais exigências deixam de ser atendidas ,condição comumente
manifestada em indivíduos considerados neuróticos; e , de outro lado, um
bloqueio na capacidade de estabelecer relações profundas como o que se
apresenta em personalidades psicóticas ou carentes de afeto”. ( BOWLBY,
2004,p.15)

As observações de estudos empíricos de todos os psicanalistas, apontaram o


comportamento do afastamento da criança pela mãe, por curtos, ou longos períodos
ou perdas concludentes, vários tipos de angústia e depressão aguda ou crônica,
como também dificuldades de vários graus, não compreendendo o estabelecimento
da importância de se manter vínculos afetivos para a sociedade.( BOWLBY, 2004)
A segunda guerra mundial tornou-se uma fábrica de órfãos, um caos na
separação de milhares de crianças de seus pais, que foram evacuadas dos seus
lares, sofrendo vários tipos de privações, grandes estresses e violências,
desequilibrando todas as chances de uma estrutura mental psíquica saudável,
comprometendo suas capacidades cognitivas e seu o potencial. O psicanalista e
pediatra Winnicott (2004) relatou a situação que corroborou as crianças durante a
guerra. Ele foi nomeado o psiquiatra do projeto de evacuação governamental, na
Inglaterra, sendo obrigado a presenciar as cenas de violência e devassidão contra
as crianças na época. ( WINNICOTT,2004)
Que segundo Winnicott:
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A experiência de evacuação teve um efeito profundo em Winnicott, pois teve de


enfrentar, de um modo concentrado, a confusão gerada pela desintegração maciça da vida
familiar, teve de vivenciar o efeito da separação e perda- e da destruição e morte. As
reações sob forma de comportamentos bizarros e delinquentes tiveram de ser controladas,
circunscritas e gradualmente compreendidas por Winnicott, trabalhando com uma equipe
local. As crianças com que ele trabalhou tinham chegado ao fim da linha; não tinham mais
para onde ir, e como mantê-las tornou se a principal preocupação de todos os que tentavam
ajudá-las ( WINNICOTT, 2004, p.11)

Estas crianças após tantos transtornos, abandono e na tentativa de


sobrevivência, tornaram-se crianças difíceis de lidar, pois a pessoa que sofre o
abandono afetivo pode não conseguir sentir controle adequado, as ações e
sentimentos de ansiedade aguda com relação ás outras pessoas e tudo que o cerca.
E a personalidade vai procurar a saída fácil em ações perigosas como a agressão e
punição, vendo o ataque como a melhor defesa. ( WINNICOTT, 2004)
A psicanalista Melanie Klein (1882, 1960), relata que as tendências
criminosas em crianças normais no seu livro (AMOR CULPA E REPARAÇÃO),
descoberta feita por Freud (1920), que podemos encontrar no adulto todos os
estágios de seu desenvolvimento infantil inicial, encontrando no inconsciente todas
as fantasias e tendências reprimidas, sabendo que, o mecanismo de repressão é
comandado principalmente pelo juízo – o superego, sendo que as repressões mais
profundas são as apontadas contra as tendências antissociais ( KLEIN, 1945,p. 199)
Segundo Klein 1945:
“A psicanálise provou que o complexo de Édipo é o fator mais importante de todo o
desenvolvimento da personalidade, tanto nas pessoas normais quanto naquelas que se
tornarão neuróticas. O trabalho psicanalítico também demonstra cada vez mais que toda
formação de caráter também deriva do desenvolvimento do complexo de Édipo, e que todas
as dificuldades de caráter, desde as ligeiramente neuróticas até criminosas, são
determinadas por ele. Nessa área, a de estudo dos criminosos foram dados apenas os
primeiros passos, mas é um avanço que promete grandes progressos”. (KLEIN, 1945, p.
200).

A busca das investigações realizadas por Winnicott (2004) e Klein (1945) foi
estipular, se as tendências criminosas se formarão na personalidade, caso o sujeito
sofra o abandono afetivo na sua infância. Diante de buscar respostas, Klein (1950)
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mostrava-se determinada a explorar o inconsciente infantil, argumentando a falta de


produção da fantasia e criatividade por falta de incentivo dos pais, ressaltando a
importância da participação na vida ativa da criança, que está em formação da sua
personalidade, sendo essencial o apoio dos pais, para motivação do ego, com
fortalecimento das capacidades cognitivas, gerando potenciais na formação do
sujeito. (KLEIN, 1945)
Os indivíduos sem uma estrutura de apoio podem se tornar, ansiosos,
inseguros, agressivos, voltando a repetir o que vivenciaram com os filhos no futuro.
Estes indivíduos não conseguem permanecer em família, pois não formaram vínculo
afetivo durante a sua infância, por isso não conseguem estabelecer vinculo futuros
seja com o par amoroso ou com seus próprios filhos gerados, desta união instável. (
KLEIN, 1945)
A importância da figura da mãe representa tanto o mundo interno quanto
externo declara a autora e psicanalista infantil Klein (1945), existe desde a gestação,
onde a criança sente todas as emoções, inclusive a rejeição, que traz ao sujeito um
sentimento de não pertencimento, como a falta das fantasias para o crescimento
mental saudável, gerando as possibilidades decorrentes das psicoses, paranoias e
neuroses na formação da personalidade (KLEIN, 1945).
Há indivíduos que passam pelo abandono e privação do afeto, refletem
traumas geradores de adultos com comportamentos bizarros, pervertidos e
violentos, dai se dá a importância de reconhecer as necessidades e particularidades
de cada criança, sendo essencial para a construção de um adulto que desempenhe
suas faculdades mentais da forma que a sociedade espera do sujeito saudável no
decorrer do seu desenvolvimento. (WINNICOTT, 1945).
Para John Bowlby (1907-1990), psiquiatra e psicanalista inglês, a importância
do apego na infância, é um processo de interação com o meio em que vive, sendo
que se o indivíduo que é encorajado, tem seu potencial desenvolvido, e sua
capacidade de aprender gera a segurança que precisa para superar dificuldades e
obstáculos durante a vida toda, sendo este o segredo de uma carreira bem
sucedida, e ter confiança e segurança em si mesmo. De acordo Bowlby (2004), a
criança que tem convicção de que uma pessoa estará acessível quando precisar
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terá assim menos medo intenso ou crônico do que outro sujeito por alguma razão
não tem a mesma persuasão. (BOWLBY, 2004)
Atualmente, após essa compreensão de que crianças e adultos são mais
realizantes quando seguros em saber que existem pessoas que possam confiar e
socorrê-los, caso carecem, ao contrário das pessoas que são desprezadas e
rejeitadas.
Que segundo Bowlby (2004):
“ Paradoxalmente, a pessoa realmente autoconfiante, quando vista sob esta
luz ,mostra que de maneira alguma é tão independente quanto os
estereótipos culturais supõem. Elemento essencial é a capacidade de
apoiar-se confiantemente em outros quando a ocasião o exija e saber em
quem confiar. Uma pessoa saudavelmente autoconfiante é, assim capaz de
mudar de papel quando a situação se altera; ora está proporcionando a
base segura a partir da qual o companheiro que lhe proporcionará essa
base”. ( BOWLBY,2004, p.432)

Assim a incapacidade do sujeito de manifestar ânsia de desejo ao apoio de uma


pessoa pode ser expressado em agressão e outros sentimentos de angústia e
desespero. Portanto, todos os autores citados apontam a importância crucial na
formação da personalidade do indivíduo, a questão da participação dos pais ou uma
figura que represente os genitores, na formação de laços afetivos para não só ensinar
este sujeito a ter limites, como passar segurança e sentimentos de amor, atenção e
afeto, pois é o que dá sustentação ao indivíduo na construção da sua personalidade.

3.2 A História do Brasil No Contexto do Abandono Infanto-juvenil


A história do Brasil relata poucos fatos relacionados as crianças
abandonadas, porém o abandono existe desde o século dezoito, sendo o motivo da
maioria dessas mulheres a miséria, a falta de condições econômicas para criá-los,
como também as mães solteiras eram mal vistas, e não tinham condições de criar
seus filhos, abandonando estes nas ruas. Pois a sociedade não aceitava uma mãe
solteira criando seus filhos na época, pois os valores morais e éticos prevaleciam,
com a discriminação e o preconceito. Mesmo atualmente ainda existe heranças do
passado e muitas mulheres ainda sofrem com o preconceito e quem acaba por
pagar caro são os filhos. As indústrias chegaram, e estas crianças mesmo morando
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na casa dos pais viviam nas ruas devido à ausência destes, que trabalhavam por 12
horas por dia. (MARCÍLIO, 1998)
A primeira instituição brasileira criada no Brasil, para as crianças que eram
rejeitadas, foi “A Roda dos Expostos” (1726-1950), iniciada na Europa medieval, no
país da Itália, para que as mães não jogassem os seus filhos em qualquer local que
pudesse matar as crianças como bosques, lixos, portas de igreja entre outros
lugares. A Roda dos Expostos se multiplicou no período imperial e se manteve até a
República, sendo extinta na década de 1950. Ela foi a única a dar assistência a dar
assistência à criança abandonada, porém não havia um sistema de acolhimento
para estas crianças serem levadas para a instituição. A primeira cidade a ter a roda
dos expostos foi Salvador em (1726), depois Rio de Janeiro (1738) e Recife ( 1789)
e São Paulo ( 1824).
Que segundo MARCÍLIO (1937):
“A roda dos expostos como assistência caritativa, era, pois missionária. A
primeira preocupação do sistema para com a criança nela deixada era de
providenciar o batismo, salvando a alma da criança: a menos que trouxesse
consigo um escritinho- fato muito corrente- que informava á rodeira de que o
bebê já estava batizado. Mas se o responsável da instituição tivessem
qualquer dúvida sobre a validade desse batismos, batizavam de novo, sub
conditionem, como se mandavam as melhores lei leis do Direito Canônico.”
(MARCÍLIO, 1998, p. 52)

O abandono afetivo do menor incapaz é mais antigo que o Brasil, as crianças


não recebiam nenhuma educação ou afeto, o município não assumia sua
responsabilidade para com os abandonados, alegando sempre a falta de dinheiro e
recursos, argumentando que era muito complicado cuidar das crianças que viviam
entre o descaso e a omissão da sociedade. (MARCÍLIO, 1998)
Muitas crianças trabalhavam para complementar a renda da família nas
fábricas em condições precárias e ainda hoje milhões de crianças ainda vendem
doces e outros produtos para ajudar na renda familiar, nos sinais de transito,
deixando os estudos de lado, sem garantias e chances de um futuro na vida adulta.
(MARCÍLIO, 1998)
22

As crianças abandonadas na sua totalidade devido ao ambiente que eram


expostas não chegavam a idade adulta, a maioria dos rejeitados pelos pais não
tiveram chances de serem assistido por Instituições Especializadas.
Em 1920 o governo brasileiro começou a criar estratégias para tentar resolver
a questão do abandono, onde construíram orfanatos, cursos profissionalizantes e
escolas para menores infratores chamadas escolas correcionais. Somente em 1927
foram criadas as primeiras leis que regulamentavam as políticas governamentais a
favor do menor incapaz. Somente em 1990 o governo brasileiro criou o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), que regulamentou em prol da criança e do
adolescente os seus direitos e deveres. Infelizmente existem milhões de crianças
que vivem em situação de risco no Brasil, ressaltando como o sistema ainda é falho.
(MARCÍLIO, 1998)
A Constituição Brasileira em meados de 1988 evoluiu para assegurar o direito
do infanto-juvenil, assegurando sua integridade um dever não só da família como
também do estado. O direito da criança e do adolescente é representado pelo
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA), sendo um conjunto de
normas vigentes que tem como objetivo a finalidade de resguardar a integralidade
perante a sociedade, em situação de risco social ou pessoal, todos os direitos
privados e públicos que a lei nº 8.069/90 ECA, normatizou e reconheceu como
direito do cidadão assim que nasce. ( ECA,2017)
Prates (2011) comenta que:
“ É apenas no século XX que a criança e o adolescente começam a
ganhar espaço no sistema legislativo, ou seja, quando iniciam as preocupações
com a tutela dos interesses desses menores. Tanto é que, no ano de 1924, foi
adotada pela Assembleia da Liga das Nações, Declaração de Genebra dos
Direitos das Crianças, a qual, embora não tenha sido o suficiente para o
verdadeiro reconhecimento internacional dos direitos das crianças, não deixou de
ser um “pontapé” inicial para que isso ocorresse.” (PRATES. 2011,p.11)

Segundo a ECA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) no artigo,


4º é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
23

saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à


cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária
(ECA, 2017).
A Câmara dos deputados, com o projeto de LEI N.º 3.212-A, de 2015, (Do
Senado Federal) PLS nº 700/2007, Ofício nº 1.468/2015 – SF. Altera a Lei nº 8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para caracterizar o
abandono afetivo como ilícito civil; tendo parecer da Comissão, de Seguridade
Social e Família, pela aprovação (relator: DEP. ALAN RICK).
Que segundo a Câmara dos Deputados:

“Encontra-se no âmbito desta Comissão de Seguridade Social e Família o Projeto


de Lei no 3.212, de 2015, que trata de modificar a Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), mormente para caracterizar o
abandono afetivo como ilícito civil. Nesse sentido, é inicialmente proposto no
âmbito da proposição em epígrafe, o acréscimo de dois parágrafos ao art. 4o da
referida lei para dispor que “Compete aos pais, além de zelar pelos direitos de que
trata o art. 3º prestar aos filhos assistência afetiva, seja por convívio, seja por
visitação periódica, que permita o acompanhamento da formação psicológica,
moral e social da pessoa em desenvolvimento” e, em seguida, esclarecer que se
compreenderá, por assistência afetiva, a orientação quanto às principais escolhas
e oportunidades profissionais, educacionais e culturais, a solidariedade e o apoio
nos momentos de intenso sofrimento ou dificuldade e a presença física
espontaneamente solicitada pela criança ou adolescente e possível de ser
atendida” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2017).

Portanto assegurar direito do cidadão preocupando com sua saúde mental e


integridade física é uma preocupação mundial e governamental, pois se torna um
problema de saúde pública, que precisa ser sempre revisado e discutido no meios
dos estudiosos e profissionais da saúde e da lei, mas também um compromisso e
responsabilidade da sociedade em sua totalidade.

4 METODOLOGIA

Trata-se se um uma pesquisa de campo de cunho qualitativo descritiva,


exploratória. Onde foram usadas como instrumentos ás técnicas de coletas de
24

dados, utilizando como procedimentos entrevistas semiestruturadas e a realização


do teste (BFP); Bateria Fatorial da Personalidade. Para isso foi utilizada a
bibliografia de vários autores da psicanálise como, Bowlby ( 2004 ), Winnicott (
2005), klein (1945),com o intuito de correlacionar suas teorias as entrevistas e o
teste BFP. Buscando também no passado a história das crianças que foram
abandonadas e rejeitadas e suas consequências. Fez-se o uso das normas da
jurisdição Brasileira, atualizadas, com base nos direitos da criança e do adolescente
(ECA), como também discutições atuais sobre o fenômeno social do abandono
afetivo, ressaltando a questão da “Orfandade”, pelo autor Sinay(1998).
O abandono afetivo é uma realidade social que envolve todos os aspectos
relativos ao homem em seus múltiplos relacionamentos com outros homens e
instituições sociais. Sendo que a pesquisa exploratória tem como objetivo principal
esclarecer e modificar, conceitos e ideias, como a questão que abrange o “abandono
afetivo” e suas consequências na vida adulta. ( GIL,2012,p.27)
Espera-se que a pesquisa contribua para a análise do impacto do abandono
afetivo sob novo olhar, a partir da importância das teorias de vários autores da
psicanálise. Conforme o autor Gil (2007), a pesquisa exploratória, tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando mais explicito ou a
construir hipóteses. Sendo classificadas como: pesquisa bibliográfica ou estudo de
caso. (GIL, 2012, p.35)
A pesquisa descritiva exige várias informações, pois pretende descrever os
fatos e fenômenos de determinada realidade sobre as consequências impactantes
do abandono afetivo, no passado e no presente. ( TRIVINOS,1987,p.112)
Tornou se uma pesquisa descritiva por estudar as características de um grupo
e o impacto que proporciona uma nova realidade do problema, utilizando técnicas
padronizadas de coleta de dados. ( GIL,2012,p.28)
De acordo com Gil (2012) após a coleta de dados, a fase seguinte da
pesquisa é a de análise e interpretação. Estes dois processos, apesar de
conceitualmente distintos, aparecem sempre estreitamente relacionados, pois a
análise tem como o objetivo organizar e sumariar os dados para que se possibilitem
o fornecimento de respostas ao problemas proposto para investigação, pois a
25

interpretação tem como objetivo a procura de sentido mais amplos das respostas.(
GIL,2012)
Instrumentos:
O método utilizado trata-se de uma pesquisa de campo de cunho qualitativo e
descritivo, realizando o estudo de caso, entrevista semiestruturada, levantamento
bibliográfico, com aplicação do teste de Bateria Fatorial da Personalidade “BFP” ,
com o objetivo de investigar os possíveis traumas e conflitos internos da saúde
mental da pessoa que sofreu o abandono afetivo.
Procedimento de coleta de dados:
O primeiro procedimento foi iniciado um questionário semiestruturado para
exploração da história de vida do indivíduo, realizando reflexões sobre seu passado,
para realizar um questionário semiestruturado com a proposta de averiguar e
analisar as implicações que o abandono afetivo causou na vida do sujeito, para que
assim possa-se realizar o teste “BFP” com a proposta de refinar mais a investigação
sobre a personalidade da pessoa.
Procedimento de análise de dados:
O Método de pesquisa utilizado tem o foco qualitativo, a fim de compreender
e explorar as consequências do abandono afetivo das dos fenômenos existências,
que abrangem milhões de pessoas em todo mundo, desestruturando a formação da
sua personalidade que sofre devido a traumas ocorridos na infância ou
adolescência, causada pelo abandono e privação afetiva, da parte dos dois
genitores, ou um deles. Realizando um levantamento bibliográfico de vários autores,
da área da Psicanálise como; John Bowlby, (1907-1990) Melanie, klein (1882-1960),
autores, como; Donalds Woods Winnicott (1896-1971), Sergio Sinay (1945), para
comparar suas experiências, análises e teorias, como alguns artigos atuais que
relatam as leis e as consequências do abandono afetivo. O trabalho é uma
construção teórica, aprofundando a investigação nas entrevistas de estudo de caso
quatro pessoas que passaram pela experiência ocorrida do abandono afetivo, como
exemplo das teorias dos autores e os fatos que procedem ou não dessas duas
pessoas entrevistadas, como análise de estudo e de averiguação de tudo que foi
pesquisado neste trabalho. Realizando a aplicação do “Teste de Bateria Fatorial da”
26

Personalidade “BFP”, com a finalidade de compreender e investigar as áreas que


estão em conflito interior, destes entrevistados, revelando sentimentos da pessoa,
como também em uma projeção do indivíduo, e no que ele se transformou na
questão da sua formação de personalidade na vida adulta.

5 RESULTADO E DISCUSSÃO

De acordo com a proposta deste trabalho a fim de levantar o perfil psicológico de


sujeitos que sofreram abandono afetivo na infância, foram entrevistados dois
homens e duas mulheres conforme tabela de caracterização abaixo.

1 - TABELA CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

NOME IDADE SEXO ESCOLARIDADE PROFISSÃO

MA 62 Feminino 7º SÉRIE Do lar

LE 76 Masculino 2º serie Aposentado


fundamenta

ELI 57 Masculino Nível técnico Projetista de


máquinas

BR 32 Feminino Ensino médio Cabeleireira

Fonte: Dados da Pesquisa


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Primeiro entrevistado - ( MA )

MA. 62 anos, casada, profissão do lar, mora com a neta e seu novo marido
que tem transtornos mentais. Ela inicia a conversa relatando que ao nascer vivia
com o pai e mãe e os irmãos na roça. Vem de uma família muito pobre, porém relata
que o pão nunca faltou na mesa deles. Não lembra a quantidade de irmãos que teve
ao todo, já que com seis anos de idade a mãe faleceu, e ela foi separada dos
irmãos.
As lembranças que ficaram na sua mente foram as surras que o pai dava na
mãe na hora de dormir todos os dias. Ela ouvia os gritos da mãe e muito barulho.
Ela lembra por cima, que era cinco irmãos, dois meninos e três meninas e ela a mais
nova. Porém salienta que a mãe ao morrer estava grávida. O que marcou a sua
infância apesar dos gritos que ouvia todos os dias era o pomar no seu quintal,
carregado de frutas de maças, limão, goiaba, e o pé de jacarandá, que gostava de
balançar e brincar com os irmãos. Acordava todos os dias e ia tomar seu leite em
baixo das árvores com seus irmãos.
Ela gostava de estar junto da família, mesmo com o desgosto de ver a mãe
apanhando do pai todos os dias. Cabe ressaltar que mesmo o pai batendo na mãe
ela tinha bons sentimentos por ele e amava a mãe e os irmãos.
Quando a mãe faleceu jogaram um pano em cima do seu corpo e nunca mais a viu.
Este lençol velho em cima do corpo da sua mãe assombra seus sonhos até hoje. A
pergunta que ficou foi: - porque não deixaram ela se despedir, dar um beijo ou
abraço? A vontade era de correr e abraçar a mãe, não entendia o que era morrer,
não explicaram.
Seu pai somente reuniu os filhos botou na carroça e levou para casa da irmã.
Porém esta irmã só ficou com ela porque não conseguia ter condições financeiras de
ficar com todos eles. Cada um foi para um lar de um parente ou conhecido da família
diferente. Ela então foi colocada numa escola, onde foi levada pela tia na primeira
semana de aula, e depois que aprendeu o caminho realizava o trajeto escolar
sozinha.
O seu pai casou novamente com outra mulher mais não levou nenhum dos
filhos do primeiro casamento para morar com ele. E quando ela e alguns dos seus
28

irmãos iam visitar o pai ele era muito frio, mal conversava ou sorria. Não
demonstrava estar feliz com a presença deles. Já os filhos da atual mulher que nem
eram filhos dele, tinha atenção e carinhoso. Esta situação a deixava muito irritada e
magoada.
Quando completou 15 anos notou que a tia queria ficar livre dela, casando ela
com algum parente. Ela queria estudar e sonhava com outras coisas de menina da
sua idade, inclusive ainda brincava de bonecas. Foi apresentada a um primo
distante, e ao vê-lo sentiu nojo.
A situação piorou quando este primo decidiu que ela era dele, queria casar
com ela e neste mesmo dia já foi resolvido o casamento, sem perguntar se queria ou
não. E aos 15 anos teve que se casar sem pestanejar, tendo que largar os estudos
na 7º série. Ela conta que só casou porque a tia forçou. E ele disse: “Ou casa ou te
mato”! Então casou por medo dele e não por amor.
Ao perder a virgindade se sentiu suja e com raiva, foi mais um estupro, a
empurrou para coma da cama como um animal. O marido batia nela quase todos os
dias e ela tinha que ser submissa a ele. E esta situação se estendeu até seu
falecimento, se sentindo livre pela primeira vez. Liberdade após tanto sofrimento.
Com este homem teve dois filhos uma moça que atualmente está casada e
que tem um filho de três anos, um moço que tem 25 anos e que vive sendo preso
por tráfico de drogas, e é usuário de drogas, ele tem uma filha de oito anos que ela
cuida, e adotou de forma legal. Já que tanto o filho não tem condições quanto a
namorada que é usuária e garota de programa. Ela diz que a neta é a salvação da
vida dela, uma luz no fim do túnel. E que ela fará o possível para dar tudo para a
criança.
O problema é que conheceu outro homem que amigou, porém infelizmente
ele é esquizofrênico, e só notou depois de algum tempo quando levou ele para fazer
passar por um psiquiatra que identificou o transtorno.
Ela relata que está cansada, e muito frustrada com a vida que teve, pois seus
sonhos foram arrancados e ela só queria voltar ao tempo dos seis anos para ficar
com a mãe e os irmãos que nem sabe mais onde estão e vivem.
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Ela deseja conseguir dar a neta condições melhor de vida, diz que Deus teve
misericórdia lhe dando um presente que é esta criança.
Ela ainda chora as noites, e tem pesadelos com os estupros do marido na
adolescência, como cabe salientar o desamparo do pai e abandono ao falecimento
da mãe. Ela diz que ele foi um homem covarde, mais perdoa ele. No dia que ele
faleceu pediu perdão ante de morrer e isso fez ela se sentir mal. Porém um
sentimento de alivio, porque soube que ele reconheceu que havia abandonado eles
e agiu mal em separá-los.
Resultado BFP- ( MA)
- Neuroticismo, muito alto; vulnerabilidade muito alta; passividade alta; depressão,
muito alta.
- Extroversão média; porém altivez alta; interação social baixa;
- Socialização muito baixa: amabilidade; baixa, confiança muito baixa.
- Realização baixa; competência baixa.
- Abertura muito baixa; abertura das ideias muito baixa; liberalismo muito baixo;
busca por novidade baixa.
De acordo com coma história de vida de MA, com a apuração do resultado do
“BFP”, mostra o contexto do seu passado perturbado pelo abandono do pai, após a
morte da mãe, tendo que morar na casa da tia e sendo separada dos irmãos de
forma agressiva. Confirmando o motivo da escala fatorial de “neuroticismo” alto em
todas os escores como vulnerabilidade; escores muito altos tendem a apresentar
baixa autoestima, se tornou submissa as situações que lhe foram impostas desde o
falecimento da mãe, desencadeando medo de ser abandonada, se tornou
dependente e insegura, não conseguiu educar e impor limites os filhos, correndo o
risco repetir o mesmo comportamento com a neta , pois acha que só deve agradar
e não educar, distinguindo o que é certo e errado. Tornou-se uma pessoa fechada e
sem amigos, não confia nas pessoas.
Assim que o marido faleceu não conseguiu viver sozinha e amigou em
seguida mesmo sem gostar dele, demostrando atitudes de impulsividade, tomando
decisões precipitadas sem pensar apresenta frustrações quando tem que realizar
tarefas simples, não tem expectativas positivas em questão do futuro dos filhos acha
30

que eles nunca vão ser ninguém como ela. Sente muita solidão, pois mesmo
amigada fala que se arrepende de ter conhecido o segundo marido, pois continua
sentindo vazio. Não confia nas pessoas, acha que todos são pessoas de má-fé, já
que no seu mundo só teve experiências que propiciaram a sua crença fortalecendo
tal pensamento negativo. Não procurou ter uma profissão ou voltar a a estudar e os
filhos também não, seu comportamento é inflexível e rígido não se abre para coisas
novas, vive em seu mundo e não nunca sai de casa.

Segundo entrevistado – ( LE )

O segundo entrevistado senhor LE, 78 anos, aposentado, divorciado, mora


sozinho atualmente, antes era casado e morava com sua esposa e filhos. Ele me
relatou que não conheceu nem a mãe e nem o pai, foi criado pelo mundo. Morou
com várias famílias, sendo que a última família que lhe deu abrigo até o final da
fase da adolescência, eram donos de supermercado. Ele trabalhava na roça desde
os dez anos, onde a família rica o tratava como se fosse parte da família, mas o
sentimento que eles tinham era de pena dele. Dava comida, roupas, emprego e
nunca o trataram mal. Depois de mais adulto ele foi morar com o casal de
comerciantes e seus outros filhos e estava feliz por estar ali, trabalhando no
supermercado da família. Tinham muita confiança em seu trabalho e nele como
pessoa, e isso para ele era importante, porém sentia um vazio enorme que os fez se
tornar alcoólatra. Cabe ressaltar que sempre trabalhou para comer e dormir no local
onde ele era abrigado, nunca recebeu um salário até completar vinte anos de idade,
se sentiu um escravo dessa família apesar de tratá-lo bem.

Nunca quis pensar em saber dos pais, do motivo que sumiço e o aconteceu de fato
com eles. Porém uma família o registrou mesmo não sendo pais biológicos, o
fizeram de alguma forma um cidadão de bem ele conta. Eu sofri porque sabia que
não era de verdade minha família e estava ali porque trabalhava para eles em troca
de pouso e comida.
Ele relata que o problema é que ele cresceu sem limites, sem saber o que
queria da vida, brigava nos bares e nas ruas e nunca teve objetivos de construir um
31

lar ou família. Gostava é de tomar uma pinga, e chegava na sua casa todos dos dias
bêbado, até a mulher não aguentar mais ele e o tacar para fora de casa.
Porém os filhos sempre o visitam, mais a solidão é grande então sai para rua
e fica num café o dia todo e a noite sai para dançar, assim não fica sozinho.
No passado cada dia saia com uma mulher diferente, e iludia todas elas. Uma das
moças engravidou e a família que deu casa para ele o obrigou a casar com a moça.
Ele não gostava dela, disse que só sentia atração e mais nada.
Porém como foi obrigado a casar teve três filhos, com a moça, porém tinha muitas
namoradas espalhadas pela cidade.
Não quis estudar, só foi até a segunda série porque a família disse que tinha
que aprender pelo menos a escrever seu nome e fazer contas de somar, achava
uma porcaria tudo aquilo.
Dizia que para fazer amor não precisava de estudos, e não tinha nenhuma paciência
para tal formação acadêmica, ou seja, lá o que for o nome da engenhoca e conta
rindo muito.
As filhas e o filho estudaram e fizeram faculdade, e isso para ele tanto faz, se
realmente é o que fizeram eles felizes ele dia que está bom declara ele.
Ele relata que ama dançar e que desde jovem vai a tudo que é festa, assim esquece
as tristezas da vida e a solidão. Teve um AVC a três anos atrás, e isso dificulta para
andar e mexer as mãos, e a namorar, porque está com problema de ereção e queria
muito uma namorada. Ele relata que família são as pessoas que conhece por ai,
que não teve pai nem mãe e não morreu e os filhos também que se virem na vida.
Diz que está feliz por estar vivo, e que vai continuar buscando energia para dançar e
namorar.
Resultado BFP – ( LE )
- Neuroticismo muito alto; vulnerabilidade muito alta; instabilidade muito alta,
passividade muito alta.
- Extroversão: nível de comunicação baixa, dinamismo assertividade alto, interações
sociais altos.
- Socialização muito baixa: pró-sociabilidade baixo; confiança muito baixa,
- Realização: ponderação muito baixa; empenho, alto.
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- Abertura baixa: abertura de ideias muito baixa; liberalismo baixo, busca de


novidades alta.
O entrevistado apresenta na escala fatorial o predomínio muito alto dentro do
escore de neuroticismo, em todos os escores; vulnerabilidade, no sentido de medo
de se envolver com as pessoas e sofrer, então prefere fugir em ter compromissos
sérios, devido a não ter tido uma família não consegue estar presente na vida dos
seus filhos e manter uma relação estável. Tem dificuldades de expressar seus
sentimentos e medo de rejeição, motivo da instabilidade e de esquiva das
responsabilidades como pai e marido. Então preferiu terminar sua vida sem uma
parceira, desistindo assim, de um novo relacionamento. Tem amizades com muitas
pessoas, porém amigos que realmente fazem parte da sua vida ele não tem, pois
não confia nas pessoas como mostra o resultado de seu escore de confiabilidade.
A depressão iniciou cedo motivo de buscar alivio no alcoolismo. Envolveu-se
com muitas mulheres mesmo estando casado. Não confia nas pessoas, pois acha
que todos querem tirar vantagens ou enganá-lo, já que trabalhou como escravo a
seu ver, em troca de comida. E por ser órfão tinha aceitar ou passava fome.
Havia dentro dele um sentimento de viver de obrigação, e da pena das
pessoas Se tornou um homem inflexível e tradicionalista, nunca muda suas ideias e
suas atitudes. Age impulsivamente, se envolvendo em brigas como forma de
descontar suas frustrações. Não saber lidar com a raiva, e nunca teve uma meta de
vida. Para, Freud, “Thanatos”, a pulsão de morte, é retraída pelo indivíduo, para que
se obtenha prazer ao viver em sociedade, porém quando o indivíduo não é bem
sucedido socialmente (me refiro a todos os gêneros sociais; social, econômico,
familiar, etc.), ele tende a ser tomado pela pulsão de morte. (FREUD, 1921)

Terceiro entrevistado – ( ELI )


O terceiro entrevistado ELI tem 57 anos, solteiro, se formou em escola técnica
e sua profissão é projetista de máquinas industriais automotivas, foi criado por uma
mãe e ajudou criar dois irmãos mais novos. O pai era muito irresponsável e
mulherengo, então eles passaram muitas dificuldades. Ele teve que começar cedo a
trabalhar, tinha apenas treze anos de idade, onde durante toda sua vida cuidou
33

dos irmãos, e atualmente da mãe que é idosa. Não casou, não teve filhos e diz não
sentir nenhuma falta de amizades ou uma pessoa para relações amorosas.
Durante a infância lembrava-se dos choros da mãe e do descaso do pai com
eles. Lembra que não tinham brinquedos, nem roupas e mal tinham material escolar.
Passava muito perrengue, e foi aí, que inventava brinquedos para brincar com os
irmãos menores. A mãe trabalhava em fábricas o dia todo ou lavava roupa para fora,
chegando em casa cansada. E ele quem cuidava da comida, dos afazeres
domésticos e contava histórias para os irmãos não chorarem. Ele relata ter sido mãe
e pai dos irmãos mais novos.
Durante a infância dele ouvia a mãe chorar porque o pai não queria levar leite
e remédios, para eles quando ficavam enfermos, e isso era uma situação que o
deixava apavorado.
O pai aparecia em casa de vez enquanto, já que tinha outra mulher além da
sua mãe, e mantinha relação com as duas. Ele amadureceu muito cedo para ser um
homem na adolescência. E por ter que amadurecer muito cedo não namorou, não
teve amigos e não pode fazer a faculdade de designer de desenhos
automobilísticos, que tanto sonhou.
Assim que iniciou a escola na primeira série, lembra que fez xixi nas calças na
frente dos amigos por vergonha de pedir para ir ao banheiro. Não conseguiu fazer
amigos, porque esta cena do xixi inevitavelmente repetiu até os 14 anos de idade.
Ele diz que foi um marco, porque o apelidarão de “Zé Mijão”.
A raiva era grande, que para se vingar de todos os colegas e professores se
tornou exigente e se negava ter notas baixas. Aliás, cabe salientar que só tirava nota
máxima, era uma questão de dignidade e de mostrar sua capacidade, e de mostrar a
todos que era pobre, porém não era burro. Sentia vergonha de ser pobre e ir com
roupas apertadas e furadas para a escola, pois era motivo de risos e zombaria todos
os dias. Ele queria a todo custo ganhar uma medalha, que por direito deveria ter
recebido por ter notas altas, só que não entendia porque não ganhava. Até entender
que o pagamento de sua escola estava sempre atrasado, sendo este era o motivo
de não receber nunca uma medalha. Desenvolvendo sentimentos de um ódio
enorme, e frustrações que ele diz que abriram enormes feridas. Aprendeu a engolir o
34

choro, a secar as lágrimas e passar por cima, pois eles iriam pagar um dia ele
falava.
Então caiu a ficha que para tudo na vida bastava se tiver dinheiro, só o
dinheiro comprava a felicidade e o respeito das pessoas. Lembra que em todos os
natais era muito choro dele, da mãe e dos irmãos, porque não havia presentes e
comida farta. Ao invés disso dormiam cedo para não ver o natal passar, cada um
tomava o seu leite e um pedaço de pão e dormiam sonhando que algum dia algo iria
acontecer. Ele conta que o que mais marcou na fase da adolescência em 1974, foi
às portas fechadas na cara ao procurar emprego nas fábricas e padarias, ele queria
muito ajudar a mãe a criar os seus irmãos mais novos. Olhavam e dizia, você está
muito magro para trabalhar e não tem força nos braços.
E para completar o pai ajudava na humilhação. Aos 15 anos o pai quando
aparecia dizia que se ele ou um dos irmãos arrumasse alguma namorada ele ia
bater até matar, pois pobre não arruma namorada, tinham que ter vergonha da casa
feia e miserável que moravam. Ele falava brutalmente que eles não eram nada e não
iam ser nada na vida. Isso criou dentro dele uma forte pulsão de sobrevivência, de
ter que provar para si próprio seu valor e sua competência e capacidade, não se
importando com os outros, em ter amigos ou uma namorada.
Já que para ele nunca teria alguém, como também não era suficientemente
bom para ter alguém. Só perdeu a virgindade porque pagou uma prostituta aos vinte
dois anos de idade, e viu que as mulheres não são perfeitas, e que tudo só circula
se o dinheiro entra. E que só teria alguém se fosse dentro dos padrões venusianos
que ele buscava por mais que tentasse as visões dele fazendo xixi nas calças até a
adolescência foi tão marcante que se isolou de todos, principalmente das mulheres.
Então estudando conseguiu realizar um curso técnico de projetista de
desenhos de máquinas industriais, porém não era a faculdade que ele planejava. E
aos vinte e dois anos conseguiu juntar dinheiro suficiente para comprar um
apartamento para a mãe. Ele relata que chegava a ficar dias sem comer e sem sair
do seu escritório, até estar com os seus projetos detalhadamente perfeitos. Ele não
tolera nada fora do lugar, nada bagunçado, ou sem terminar, que busca sempre a
perfeição, para realizar qualquer coisa na sua vida ele precisa realizar um ritual
35

antes nos mínimos detalhes para ter certeza que vai dar certo. Tipo caso vai viajar
ele tem que planejar meses antes como, ver o tempo, calcular a trajetória que vai
percorrer o valor do que vai gastar a roupa que vai usar, e ter certeza que tudo está
em perfeita ordem quando sair e voltar.
Ele diz que sua forma de corrigir o passado, mostrando ao mundo que é o
melhor, principalmente para as pessoas que o humilharam e duvidaram de sua
capacidade intelectual.
Ele relata que trabalha até não conseguir parar de pé, não consegue pensar
em nada que não fosse trabalhar e guardar dinheiro, e terminar seus projetos com
perfeição como tudo na natureza.
Ele conta que ao construir seu primeiro motor de um carro antigo que comprou aos
vinte anos se sentiu pronto para construir outra vida e concertá-la, ser reconhecido.
E abriu um escritório dentro do seu apartamento que mora com sua mãe e até hoje
só sai de lá para ir fazer compras, supermercado e levar a mãe ao médico. Conversa
somente o indispensável com seus dois irmãos. E para as empresas que presta o
serviço não gosta de perder seu tempo, com conversas fiadas. E só aceitou a
entrevista para mostra que ele é perfeito no que faz e no que busca, e sempre vai
ser.
Resultado BFP- ( ELI )
- Neuroticismo muito baixo: instabilidade muito baixa, passividade baixa, depressão
muito baixa.
- Extroversão; nível de comunicação alto, interações social muito baixo.
- Socialização: alto; pró-sociabilidade alto; confiança baixo.
- Realização muito alta; competência muito alta; ponderação muito alta; empenho
muito alto.
- Abertura baixo: abertura das ideias muito alta; liberalismo muito alto; busca por
novidades baixas.
Ao contrário de todos os outros entrevistados, ELI têm pontos de escores
inversos dos outros demais. Mostra-se estável, e certo grau de frieza para resolver
questões cotidianas. É manipulador e controlador, gosta que tudo saia da forma
desejada, não gosta de alteras regras a não ser que sejam lógicas, sente-se única
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pessoa a concertar tudo. Reprime seus desejos naturais em troca do trabalho, sendo
o prazer e a felicidade para ele devem ser para quem merece. O mundo não tem
meio termo, ou é certo ou errado. Ele controla a si mesmo a ponto de se sacrificar
sendo puritano, já que foi devido às causas externas de acontecimentos em sua vida
que o transformou na busca de se tornar excessivamente exigente.
Evita criar vínculos emocionais mantém distante da família e das amizades,
que só usa para satisfazer suas necessidades. Não tem problemas em acatar
ordens. Ele vê o dinheiro como uma autodefesa de suas fragilidades do passado,
que atualmente não apresenta. Para ele nada importa a sua meta é chegar ao fim do
objeto desejado seja como for e da forma que precisar. Criou uma defesa contra o
sentimento de rejeição, contra as dificuldades, e o estresse que vivenciou com o
passar dos anos, que o tornou imune a sentir qualquer coisa. Nunca toma decisões
de forma impulsiva e que apresentam alta tolerância a frustrações. Indivíduos com
esse perfil apresentam forte motivação intrínseca para realizar seus planos, sem
precisar de estímulos ou auxílio externo para iniciar e levá-los adiante.
Ele minimiza as dificuldades negativas ao ponto de não existir nada que o
afete em sua integralidade. É sempre muito calculista na questão de resolver
problemas. Nunca sai de casa ou se diverte a não ser por trabalho ou levar a mãe
ao médico. Odeia ter que realizar algo sem ter planejado antes. Procura evita
qualquer comportamento de risco ou que desestabilize o mundo que criou para si
próprio.
Tornou-se exigente excessivamente consigo e com os outros não tolera erros,
a sua ambição de ser reconhecido se sobressalta com o intuito da medalha que não
recebeu na infância devido a falta de pagamento da mensalidade escolar. Gosta de
superar desafios que para os outros são difíceis, se mantém sempre no controle de
tudo não se sente pressionado faz tudo dentro dos seus planos e do seu tempo
determinado por ele próprio. Para ele planejar os mínimos detalhas é regra básica,
já que não aceita quebrar sua rotina, se mostra um homem conservador e
autoritário, defende seus ideias e seus valores.
Nas fases de infância até a adolescência sofreu de “enurese”, não conseguia
controlar a vontade de urinar em locais inadequados mesmo na presença dos
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colegas e isso o afetou profundamente. Esta enurese está vinculada as causas de


questões emocionais, devido ao contexto de brigas e agressões contra a mãe e o
medo do pai. Voltando a um estado de regressão, da adolescência para a fase
infantil. Gosta de impressionar as pessoas com sua inteligência e perspicácia, porém
não gosta de chamar a atenção. Não confia em ninguém que não seja ele próprio,
tem a crença que as pessoas só o procuram porque precisam de algo.
Prefere sua própria companhia, a dos outros. É ambicioso e gosta de juntar
bens, por isso se dedica ao trabalho, não vê problemas em realizar várias tarefas ao
mesmo tempo, acha divertido e desafiador, não é nada flexível e nada o convence
ao contrário do que acredita. Ele para amenizar seu sofrimento resolveu ser o
melhor em tudo como forma de garantir sua dignidade e integridade.

Quarto entrevistado – ( BR )
Entrevista BR. solteira, 32 anos, mora atualmente sozinha, profissão auxiliar
de salão de cabeleireiro e garota de programa. Relatou que nasceu de uma mãe
solteira, com vinte anos de idade, empregada doméstica, e de um pai nome que se
negou a reconhecer sua paternidade, porém nada sabe a seu respeito. Disse que
não era filha dele e foi embora, depois de uma grande surra na sua mãe que estava
grávida de três meses.
Não chegou a conhecer o pai durante a vida toda e pelo fato narrado da
própria mãe não quis ir atrás para conhecer ele, sente ódio e muita angustia de
saber que não foi bem vinda ao nascer.
Sua mãe amigou com um homem que a registrou, com um ano de idade e a
reconheceu como filha, porém este não era muito diferente do pai que a abandonou,
ele espancava a mãe constantemente ela também. A lembrança das surras ainda
está no seu corpo, como algo que nunca saiu da sua memória. A surra consistia em
um cabo de vassoura nas pernas e costas ou murros e tapas na cara
constantemente. Ela lembra aos sete anos que ele chegava todo o dia bêbado, e
que um dia jantando ele jogou o prato dela na cara dela com a comida quente. Ela
estava com tanta fome que comeu como um cachorro neste dia no chão em meio
aos cacos de vidro.
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Teve um único irmão mais novo com 27 anos, sem convívio afetivo, e mora
com sua mãe. Ela lembra que na infância o que mais marcou foi passar fome e
apanhar da mãe e do padrasto constantemente. Não tinha nenhuma boneca, não
tinha roupas nem sapatos novos era tudo usado ou roupas de adultos. A mãe nunca
a levou para escola após a primeira série tinha que se virar se quisesse ir ia se não
era a rua sua casa, não conheceu o amor, não conheceu o que é ter uma família.
Ela conta que passaram fome, muitos conflitos entre ambas, quando
engravidou, pois a mãe virou evangélica e queria a todo custo que esta fosse para
igreja e dizia: - “Você vai sair para comer ou ser comida”?
A mãe nunca deu instrução de nada da vida sexual e nunca a motivou a
estudar e ser alguém, para a mãe ela sempre era um cocô que saiu dela por acaso.
Ela nunca recebeu palavras de amor em momento algum, e isso é como uma ferida
aberta, que jamais vai cicatrizar. Sua vida sexual aos 13 anos e foi onde conheceu
uma mulher que a colocou no mundo da prostituição, que ainda atualmente é sua
profissão.
BR engravidou com 14 anos de idade, de sua filha que atualmente está com
18 anos. A sua filha viveu com a avó materna até os 16 anos, e agora mora com o
namorado que é traficante. Ela morou com o namorado por algum tempo, quando a
filha nasceu porém não ficou juntos. Ele era muito jovem e ela também, e estavam
com mais uma criança no mundo sem futuro e sem chances na vida, se sentia
perdida.
Ela relata que não teve infância, que na fase da adolescência não teve ilusões
igual aos outros adolescentes tem, como namorar, passear, e ter pais que a
amassem e nem chances de sonhar. Somente de chorar e passar fome ou ser
espancada, e ter que fazer sexo com pessoas que nunca viu na vida. Foi nesta fase
que começou a beber e a se drogar.
Conseguiu chegar a se formar num supletivo porque tinha um sonho de
melhorar de vida, porém não gostava de estudar e não via futuro nos estudos. Só
concluiu os estudos porque arrumou um emprego de promotora, e este precisava ter
o ensino médio completo. Então fez supletivo, estava tentando mudar de vida,
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porém diz que fracassou, o dinheiro era pouco e não dava para nada, como
prostituta ganhava mais.
Seu sonho sempre foi abrir um salão de cabeleireiro e trabalhar por conta, e
largar do mundo da prostituição, mais acabou em frustração, o cheiro da tinta e as
repetidas vezes que tinha que fazer escova no cabelo começou a dar problemas de
saúde como tendinite. Então preferiu a vida da prostituição.
Sofreu abusos, na rua de todo tipo na adolescência, a mãe a trancava para
rua após a gravidez precoce e negava de dar comida a ela. A filha aos seis anos
levava bolinho de arroz escondido na garagem da casa para a sua avó não ver.
Sofreu espancamentos na rua de homens, e até respondeu um processo de
estelionato sem ter culpa, pois alega que um cliente dela usou seus documentos e a
ameaçou.
Atualmente sonha em ter a filha por perto, porém a filha acha que ela arrumou
emprego e não está mais na vida da prostituição. Sente vergonha da filha e prefere
a filha longe para ela não saber a verdade. Porém cabe ressaltar que BR ao beber
um litro de vodca ou uísque, fica doidona e dança e canta bêbada e faz vídeos, e
sem querer manda para filha que fica muito magoada.

Ela de tanto sofrer, relata que hoje é alcoólatra com mais álcool no
corpo do que sangue, não consegue sentir paz aonde vai, e que se tornou uma
máquina de sexo para sobreviver e não passar fome. Ela fala: “Já que nunca vou ser
amada, e todos os homens me usam para chifrar suas mulheres numa rapidinha de
meia hora pagando cento e cinquenta reais, não vejo porque acreditar em amor ou
algo real. Homens são sujos, não quero um marido ou namorado quero só dinheiro
para ter um teto e não passar fome”.
Resultado BFP- ( BR)
- Neuroticismo muito alto; instabilidade muito alta; passividade muito alta;
depressão muito alta.
- Extroversão; Interação social ressalta-se muito alto.
- Sociabilização; amabilidade alta; pró-sociabilidade alta; confiança muito baixa.
- Realização baixa: a ponderação baixa; desempenho baixo.
- Abertura: abertura das ideias se apresenta muito baixo; liberalismo alto.
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A entrevistada apresenta dentro da escala fatorial de neuroticismo muita alta,


instabilidade emocional e descontrole sobre sua mente e seu corpo, pessoas com
esse perfil apresentam grandes oscilações de humor sem um motivo aparente e têm
dificuldade para controlar seus sentimentos negativos, além de apresentar baixa
tolerância à frustração, se tornou alcoólatra. Tornou-se muito vulnerável aos
problemas cotidianos as frustrações do passado, devido ao abandono e rejeição do
pai e da mãe.
Apresenta alto nível de passividade tendo grande dificuldade para iniciar
tarefas, mesmo que simples. Portando por falta de uma profissão e a dificuldade em
se especializar num curso, ou aprender uma atividade para trabalhar, procurou uma
saída fácil vendendo seu corpo, trabalhando como garota de programa. A depressão
que apresenta escores altos nessa faceta tende a relatar expectativas negativas em
relação ao seu futuro, acha difícil mudar de profissão já que como prostituta ganha
mais. E coloca obstáculos para que não estabeleça metas e planos para o futuro em
outra profissão.
Ela alivia sua tensão sobre as frustrações e o desamparo da mãe e do pai no
vicio do álcool, uso da cocaína, e o sexo excessivo e desprotegido. O uso
continuado de drogas e álcool foi à maneira que conseguiu se mascarar para
vender seu corpo, na busca dos abusos sexuais desde a adolescência, e o
abandono afetivo dos pais. Apresenta oscilações de humor, devido a sua compulsão
por sexo exagerado e drogas, com comportamentos vulneráveis de risco. Não
dorme, sente euforia, palpitações, irritabilidade, ora muita desesperança e solidão e
chora muito. Para ela as pessoas só querem seu corpo e nada mais, é uma troca,
portanto não deve confiar em nada.
Já chegou a ir pressa por vender drogas e estelionato. Indivíduos com altos
escores nessa escala de interação social tendem a ser gregários e esforçam-se para
manter contato com seus conhecidos. Relatam preferir atividades em grupo e se
envolvem rapidamente com as pessoas, no caso dela ao vender seu corpo ela acha
que é um meio de se esquivar da solidão e da depressão. Cabe ressaltar que apesar
de sua conduta, sente preocupação para com a única filha e sente orgulho dela,
desejando que ela seja melhor do que ela se tornou. Porém não consegue manter
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um laço afetivo com ela, sonha em morar coma filha mais ao mesmo tempo relata
ser impossível devido a vida que leva ao mesmo tempo em que apresenta um
escore de amabilidade, não tem ponderação sobre suas ações.
Tabela 2: Resultados da Bateria Fatorial de Personalidade -BFP

NOMES NEUROTICISMO EXTROVERSÃO SOCIABILIZAÇÃO REALIZAÇÃO ABERTURA

MA Muito alto Médio Baixo Baixo Muito


baixo

LE Muito alto Médio Muito baixo Médio Baixo

ELI Muito baixo Médio Médio Muito alto Baixo

BR Muito alto Médio Médio Baixo Médio

Fonte: Dados da Pesquisa

BFP- BATERIA FATORIAL DA PERSONALIDADE

Foi aplicado o teste de personalidade “BFP”, para uma melhor compreensão


da personalidade do sujeito que sofreu o abandono afetivo, num estudo de caso com
a participação de quatro indivíduos a partir da idade de 33 anos até 76 anos de
idade, com o objetivo de identificar as consequências do abandono afetivo na fase
adulta. Onde dos quatro participantes tiveram em comum o nível de neuroticiscismo
alto, somente um participante apresentou o nível muito baixo, mesmo assim sendo
fora do padrão normal, outro fator foi a pró-sociabilidade onde uma pessoa
apresentou alto e dois nível muito baixo, e por último nível a realização tendo os três
sujeitos apresentando nível muito baixo e somente um apresentando nível muito
alto. Portanto em comum os quatro participantes mostraram fora da média, os
fatores de personalidade de “neuroticismo”, “pró-sociabilidade” e “realização”.
Após o resultado dos entrevistados, nesta pesquisa de campo, junto ao Teste de
Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), conclui-se que os indivíduos que sofreram
abandono afetivo na infância, apresentaram em comum, o fator muito alto em
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“neuroticismo”. Sendo que dois deles são alcoólatras, que devido as frustrações, e
os traumas da infância, procuraram refúgio e o alivio momentâneo, no prazer
ilusório do alcoolismo. Três participantes demonstram em comum depressão muito
alta, correspondendo as pensamentos negativos, e ansiosos, auto estima baixa, com
sentimento de incapacidade, enquanto que somente um deles o escore de
neuroticismo inverso, depressão ausente, não mostrando nenhum tipo de abalo
emocional.
Que segundo o BFP (2010); “indivíduos com baixos índices de escores de
neuroticismo são geralmente calmos, relaxados, estáveis, e menos agitados. Porém
baixos escores não significam necessariamente que o indivíduo tenha boa saúde
mental, pois podem ter comportamentos inapropriados”. Por exemplo, este sujeito
não tem amigos, não sente falta de ter uma companheira (o), não sai de casa nem
para trabalhar, trabalha muitas horas por dia, dentro do seu quarto, somente sai de
casa para o que acha realmente necessário. Cabe ressaltar que nenhum conseguiu
se realizar profissionalmente como gostaria, realizando uma graduação, a não ser
um entrevistado que chegou ao nível técnico. Nenhum conseguiu ter êxito com um
parceiro amoroso.
Diante dos resultados obtidos com os entrevistados, foi possível realizar a
ligação das consequências dos fatos evidenciados com as teorias dos autores
citados no decorrer da pesquisa realizada.
Conforme Bowlby (2005) argumenta que sem os cuidados da mãe a criança,
pode criar vários tipos de neuroses e desajustamentos em sua personalidade, sendo
que a importância do apego na infância é um processo de interação com o meio em
que vive, onde o potencial é desenvolvido se sua capacidade de aprendizado gerar
segurança que necessita para superação dos obstáculos no decorrer da sua vida
adulta. O autor Winnicott (2004) defende que toda criança que sofre abandono e
rejeição terá traumas, se tornando uma criança difícil de lidar, pois não terá controle
adequado sobre suas ações, sentimentos com relação a outras pessoas, procurando
assim a saída fácil em ações perigosas. Sendo capaz de ter comportamentos
bizarros, violentos e pervertidos na vida adulta. E a autora Klein (1945) salienta que
as repressões mais intensas, podem se transformar em tendências antissociais,
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sendo que as pessoas sem uma base de apoio podem assim se tornar ansiosos,
inseguros e agressivos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
44

O sofrimento psicológico apresentado nesta pesquisa traz não só eventuais


problemas de transtornos mentais, como também a repetição familiar dentro do seu
contexto ambiental com as novas gerações que vão surgindo, como também futuro
problemas para a sociedade atual. Já que a sociedade é a que educa e maltrata
este sujeito que nasce sem pai e sem mãe. Tirando o direito a educação, a
alimentação e afeto. Muitas adolescentes que vão presos são rejeitados também
pela sociedade é lhes nega a chance de oportunidades. Se o adolescente vai preso
ele não presta então porque dar trabalho e abrigo? Muitos adolescentes iniciaram no
mundo do tráfico, roubo, e latrocínio seguido de morte como forma de sobrevivência
para ter o que comer. Ou seja voltamos a estaca zero, tornando-se animal irracional,
que precisa matar para sobreviver. É normal que não tendo abrigo um ser humano
ou animal vai buscar em comum um abrigo para se proteger, e se tornará uma
pessoa que vive na defesa, porque espera se atacado o tempo todo como um
animal.

A importância dos genitores propiciarem, segurança, carinho e apoio à


criança desde o primeiro momento de vida, demonstram resultados na formação da
personalidade do indivíduo no contexto de se viabilizar adultos mentalmente
saudáveis, seguros, realizados, otimistas, que estão aptos a resolver problemas
cotidianos e enfrentar obstáculos, e ambientes estressores. Pois cabe ressaltar, que
devido a frustração em ter sido desamparado e rejeitado pelos próprios genitores
que lhe puseram no mundo, passa a ser uma carga intensa, impossível de ser
carregada. As consequências que um trauma acarreta, vão resultar da força da
violência do trauma e da competência do sujeito para elaborar psicologicamente a
situação processada.
Conforme apresenta o autor Bowlby (2005), as neuroses são causadas
devido aos traumas geradores de conflito interno, entre o desejo da pessoa e as
repressões elaboradas pelo ambiente externo em que esta foi exposta. Portando a
pesquisa feita com quatro participantes, que sofreu o abandono afetivo na infância,
que realizaram o teste de bateria fatorial de personalidade PFP, apontou que a
maioria deles apresentou um escore muito alto do fator “Neuroticismo” e nas
entrevistas ficaram evidenciadas histórias de vida bastante problemáticas com
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repercussão negativa em suas vidas adultas. Ficando evidenciado que o abandono


afetivo pode ser um fator desencadeador de sujeitos neuróticos.
Assim outras pesquisas poderiam ser realizadas com uma amostra maior de
sujeitos a fim de confirmar os dados evidenciados nesta pesquisa. Podendo ser
uma pesquisa de cunho quantitativo, com objetivo de abranger resultados
soberanos, para validar, no sentido de que seja realmente o que ocorre na
população, na lógica de "representatividade da população", representando um
índice decrescente da confiabilidade de um resultado. Quanto mais análises sejam
feitas com mais elementos, mais os resultados atingirão "por acaso" o nível de
significância estabelecido.
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REFERÊNCIAS

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Fontes. 2005.

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Ed, Atlas.2012

NUNES, Carlos Henrique. Bateria Fatorial da Personalidade - BFP. 1º, ed. editora,
Casa do Psicólogo. 2010

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: Uma interpretação filosófica do pensamento


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MARCÍLIA, Maria Luiza. História Social da criança Abandonada. 1º ed., editoração


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47

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na Área de Concentração: Direitos Humanos e Sociedade. Paranaíba. 2011.
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Pesquisa Qualitativa em Educação.1º ed. São Paulo. Ed. Atlas S. A-1987

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