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Saude Suplementar 2020 PDF
Saude Suplementar 2020 PDF
http://www.ans.gov.br
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Rio de Janeiro RJ
2004
Página 2
em branco
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Agência Nacional de Saúde Suplementar
S é r i e B . T e x t o s b á s i c o s de s a ú d e
REGULAÇÃO SAÚDE; V.3, TOMO 1
R i o d e J a n e i r o RJ
2004
© 2004. Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.
Ficha Catalográfica
v.3, t.1, il. color. (Série B. Textos Básicos de Saúde MS) (Regulação e Saúde; v.3)
ISBN 85-334-0763-7
NLM WA 525
Novembro de 2003.
Os Organizadores:
Januario Montone
Antônio Joaquim Werneck de Castro
Evolução e Desafios
da Regulação do Setor
de Saúde Suplementar
Januar i o Mont one 1
1 . HI S T ÓR I C O E E V O L U Ç Ã O D O M O D E L O
A L e i 9 . 6 5 6 / 9 8 O d e b a t e n a C âm a r a d o s D e p u t a d o s
Recepcionada pela Constituição de 1988, a atividade privada na área da saúde foi condi-
cionada à regulamentação4 específica, mas esta apenas começou a materializar-se em meados
dos anos 90. Enquanto a construção do marco legal do SUS surgiu já em 1990, foi apenas em
1997 que o Congresso, através da Câmara dos Deputados, aprovou uma primeira versão da Lei
de Regulamentação dos Planos de Saúde.
O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados ao final de 1997 mostrou
claramente as dificuldades dessa regulamentação a posteriori, que teria que agir sobre uma
atividade que já atingia mais de 30 milhões de brasileiros, profundamente descontentes com
os serviços recebidos, através de centenas de empresas dos mais diversos tipos e sobre a qual
pouco se sabia de fato.
O embate culminou com a renúncia da Comissão Especial, formada na Câmara para
tentar unificar as dezenas de projetos sobre o assunto, uma vez que o projeto do deputado
Pinheiro Landim, relator da comissão, foi considerado inaceitável. Para evitar que o governo
editasse uma medida provisória, as lideranças parlamentares constituíram uma nova comissão
que se encarregou de elaborar um projeto alternativo, finalmente aprovado em outubro de 1997.
Seu foco principal estava em uma forte regulação da atividade econômica, inclusive
das garantias contratuais, adotando instrumentos mais flexíveis e indutores na regula-
ção da assistência.
Na dimensão econômico-financeira da regulação, definia as condições de ingresso, de
operação e de saída do setor e exigia a constituição de reservas e garantias. Pretendia dar segu-
rança ao consumidor, garantindo o cumprimento dos contratos e a capacidade econômico-
financeira das operadoras para cumpri-los, além de assegurar a transparência e a competi-
tividade no setor.
Na dimensão da assistência à saúde, optava-se pela indução. Estabelecia-se o Plano
Referência, que não admitia qualquer tipo de exclusão ou de exceção de cobertura. Era claro e
específico: exigia a cobertura de todas as doenças listadas na CID Classificação Internacional
|4| Regulamentação é o conjunto de preceitos (normas, resoluções) que complementam ou explicitam uma
lei, facilitanddo sua execução ou cumprimento. (Fonte: Procuradoria Geral da ANS/PROGE)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
naquele momento. Caso o Senado promovesse alterações na Lei, o projeto teria que ser no-
vamente remetido à Câmara, o que prolongaria a discussão e adiaria sua aprovação.
Em resumo:
1. a Lei 9.656/98 foi promulgada conforme texto aprovado na Câmara, no dia 3 de
junho de 1998;
2. em 5 de junho, foi editada a Medida Provisória 1.665 alterando a Lei, exatamente
como havia sido negociada no Senado. O marco legal da regulação passou a ser,
portanto, o conjunto formado pela Lei 9.656/98 e pela MP 1.665/98, reeditada quase
que mensalmente até agosto de 2001 (por força da legislação vigente), tomando
atualmente a numeração MP 2.177- 44, de 24 de agosto de 2001.
O marco regulatório aprovado em junho de 1998 entrou em vigor, efetivamente,
em janeiro de 1999. Durante este intervalo, foram editadas pelo CONSU várias resoluções
necessárias para viabilizar as exigências da legislação.
A existência e o funcionamento do setor de saúde suplementar, ressalte-se, sem controle há
pelo menos 30 anos, exigiu a regulamentação de diversos dispositivos legais. Tudo, ou quase tudo,
carecia de definição, principalmente na dimensão da assistência à saúde, absolutamente inédita.
Uma análise das mudanças mesmo que superficial, evidencia o desafio da regulamen-
tação (Figura 2). Das empresas que antes se organizavam livremente para atuar no setor, sub-
metendo-se unicamente à legislação do seu tipo societário, foi exigido o cumprimento de medidas
específicas, desde o registro de funcionamento, até a constituição de garantia financeira. A re-
gulamentação determinou a sujeição das operadoras a processos de intervenção e de liquidação.
Após a regulamentação, foi limitada a liberdade de definição do produto a ser oferecido,
do público a quem oferecer, das condições de operação e de preço: o produto obrigatório está
definido por lei e são proibidas a seleção de risco e a exclusão indiscriminada de usuários pela
não-renovação ou rompimento do contrato.
Era necessário que todas essas exigências legais fossem materializadas em resoluções das
esferas competentes, sob pena de transformar a legislação em uma carta de intenções. Além disso,
o marco legal (Lei 9.656/98 e MP 1.665/98) foi fortemente questionado no Judiciário em pelo
menos três pontos fundamentais: 1. sua retroatividade, mesmo que bastante limitada, aos con-
tratos anteriores à Lei; 2. o ressarcimento ao SUS; 3. sua abrangência sobre as seguradoras.
Destes, apenas a questão das seguradoras foi completamente equacionada, com a edição
de MP específica, convertida na Lei 10.185/01 que determinou a equivalência, para todos os fins
da regulação pela ANS, das seguradoras a todas as outras operadoras de planos de saúde. Ainda
estão aguardando julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) as Ações Diretas de Incons-
titucionalidade (ADINs), referentes aos outros dois pontos*.
Aos contratos antigos, o grande ponto crítico da legislação, foram garantidos alguns dos
direitos da nova regulamentação: a) proibição de limites de consultas e suspensão de internação,
inclusive em UTI; b) proibição de rompimento unilateral para os contratos individuais; c)
controle dos reajustes para os contratos individuais. Em adição, os usuários de planos antigos
passaram a se beneficiar do maior controle sobre as operadoras.
Também foi estabelecido um prazo para a migração de todos os contratos antigos para
as novas regras: dezembro de 1999. A resistência do mercado à fixação dos preços dos planos
novos e o questionamento da retroatividade inviabilizaram a cobrança do cumprimento desse
* Nota do revisor - Este texto foi enviado ao Fórum de Saúde Suplementar em junho de 2003. Em agosto
deste ano, o STF, em decisão liminar, declarou inconstitucional a retroatividade da Lei 9.656/98. Quanto ao
ressarcimento ao SUS, a mesma decisão do STF o considerou amparado na Constituição de 1988.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #
F i g u r a 3 U N I F I C A Ç Ã O DA R E G U L A M E N TA Ç Ã O E C R I A Ç Ã O DA A N S
A ANS foi criada para regular uma atividade privada: a) já existente; b) extremamente
complexa; c) em um setor essencial, que é a saúde; d) que nunca havia sido objeto de regulação
do Estado.
Igualmente crítica foi, e é, a questão dos recursos humanos. A ANS não sucede nenhum
órgão já existente e aí difere, inclusive, da ANVISA, que foi constituída a partir da antiga Secretaria
de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Não há quadros formados no Estado para a
tarefa de regulação do setor de saúde suplementar, o que faz da ANS a maior prejudicada com
a suspensão da contratação do seu quadro de pessoal em função da ADIN impetrada no
Supremo Tribunal Federal (STF) contra o modelo de contratação especificado na Lei 9.986/00
que previa o regime de emprego público na gestão dos recursos humanos.
A liminar concedida pelo STF suspendeu o quadro de carreiras das agências e impede
que a ANS constitua seu quadro de pessoal. Mesmo a contratação de trabalhadores temporários,
prevista em lei, teve sua implantação prejudicada no caso da ANS porque: 1. a lei eleitoral impediu
a sua realização em 2000; 2. foi objeto, como em todas as agências, de inúmeros processos de
entidades sindicais de servidores, contrários à contratação temporária (Tabela 1).
Comissão 35 3 1 0 39
Requisitados/comissão 65 1 4 3 73
Req. cedidos s/remuneração 1 2 0 12 15
Em exercício 0 0 0 48 48
Efetivos Procuradores Federais 7 1 0 0 8
Temporários nível superior 188 26 10 33 257
Temporários nível médio 26 1 1 3 31
Consultores 156 6 5 0 167
Total 478 40 21 99 638
2. EVOLUÇÃO DA REGULAÇÃO
A regulação do setor de saúde suplementar compõe um sistema, mas sua evolução pode
ser melhor analisada em seis dimensões capazes de expressar as ações normativas e fiscalizadoras
para garantir o cumprimento da legislação:
2.1. Cobertura assistencial e condições de acesso;
2.2. Condições de ingresso, operação e saída do setor;
2.3. Regulação de preço;
2.4. Fiscalização e efetividade da regulação;
2.5. Comunicação e informação;
2.6. Ressarcimento ao SUS.
Plano de Referência
Registro de Produtos
Rol de Procedimentos Médicos
Rol de Procedimentos Odontológicos
Urgência e Emergência
Coordenador de Informações Médicas
Regulamentação do acesso nos casos de Doença e Lesão Preexistente:
- CPT Cobertura Parcial Temporária
- Agravo
- Rol de Procedimentos de Alta Complexidade
- Declaração de Saúde
O grupo mais vulnerável, sem dúvida, é o formado por 25,7% de usuários de planos
individuais antigos, onde as exclusões de cobertura são maiores (Gráfico 2 e Tabela 2).
Notas:
- Importante ressaltar que os planos individuais anteriores à Lei representam 40% do total de planos anteriores à
Lei e que os posteriores à Lei representam 29% do total destes planos.
- Projeção de dados para planos anteriores à Lei 9.656/98.
Fonte: DIDES / ANS Fevereiro/2003.
Nota: Foram considerados beneficiários em planos contratados após a Lei 9.656/98 (Planos Novos).
Fonte: DIDES/ANS Fevereiro/2003.
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Registram-se as maiores taxas de cobertura em seis estados: toda a Região Sudeste (São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo) e em dois estados da Região Sul Paraná e
Santa Catarina (Figura 4).
Cobertura (%):
N o de Beneficiários / população
até 9,9%
de 10,0% à 14,9%
de 15% à 29,9%
a partir de 30,0%
A ANS foi responsável por toda a regulamentação das condições de ingresso, funcio-
namento e saída de operação do setor de saúde suplementar. Embora houvesse paradigmas
nacionais e internacionais, foi especificamente construída para o setor, em razão do enorme desa-
fio de estabelecer os mecanismos de transição para uma atividade já existente e sem prévia
regulamentação, considerado o seu impacto sobre o setor.
Nesse aspecto da regulação, as normas não diferenciam as empresas que já operavam
antes da regulamentação das que foram constituídas posteriormente. A Lei atinge o conjunto de
empresas e delegou ao órgão regulador (ANS) a fixação dos mecanismos de transição.
Um exemplo é a publicação de balanços exigida pela legislação e que obrigou a ANS a
estabelecer um Plano de Contas Padrão, sem o qual não seria possível comparar, com transpa-
rência, a situação econômico-financeira das operadoras, independente da sua forma de organização.
Pontos de destaque na regulamentação da ANS:
REGISTRO DE OPERADORAS
No início do processo houve uma grande quantidade de registros, mas, desde 2002, a
solicitação de novos registros de operadoras se estabilizou (Gráfico 4).
R$ mil
Operadoras Provisão Estimada Ano 1 Provisão
Ano 6 15% Constituída
221 com mais de
20.000 beneficiários 547.498 82.124 198.863
Fonte: DIOPE/ANS.
R E G U L A M E N TA Ç Ã O DA S S E G U R A D O R A S E S P E C I A L I Z A DA S EM SAÚDE
A Lei 10.185/01 determinou que as sociedades seguradoras que comercializam seguros-
saúde constituam estatuto social específico, vedando sua atuação em quaisquer outros ramos
de atividade ou modalidades. Subordina-as às normas e à fiscalização da ANS terminativamente,
permanecendo as mesmas sujeitas às normas sobre aplicação dos ativos garantidores das
provisões técnicas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.
TRANSFERÊNCIA DE CARTEIRA
Resolução da ANS prevê que poderá ocorrer operação voluntária de transferência de
carteira entre operadoras, mantendo-se integralmente as condições dos contratos vigentes,
inclusive quanto à data de aniversário do reajuste da contraprestação pecuniária e vedado o
estabelecimento de carência adicional.
No caso da identificação pela ANS de risco para a continuidade da assistência à saúde
por uma operadora ou na vigência de Regime de Direção Fiscal e/ou Direção Técnica, poderá ser
determinada a alienação compulsória da carteira. Da mesma forma que na transferência
voluntária, a alienação compulsória da carteira deverá manter as condições do contrato sem
restrições de direitos ou prejuízos para os beneficiários.
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
CANCELAMENTO DE REGISTRO
O cancelamento de registro provisório ocorre por determinação da ANS, geralmente a
partir das ações de fiscalização indireta, ou por solicitação da operadora. Para solicitar o cance-
lamento, a operadora tem que demonstrar que não está comercializando planos, que não tem
beneficiários e que não possui débitos com prestadores.
Essa regulamentação é aplicável apenas aos planos novos. Para os usuários de planos
antigos prevalecem as cláusulas contratuais, exceto para usuários com mais de 60 anos de idade
e mais de dez anos de plano, para os quais é garantida a diluição, em dez anos, da variação de
preço por faixa etária constante do contrato.
Quanto aos reajustes anuais e às revisões para reequilíbrio econômico-financeiro
(revisões técnicas), o tratamento é diferenciado para contratos coletivos e individuais, mas não
entre contratos antigos ou novos.
Os reajustes e revisões para reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos coletivos
são livremente negociados pelas partes e apenas monitorados ou acompanhados pela ANS
(Figura 5). Essa menor interferência se deve à maior capacidade de negociação dos contratantes
(empresas e entidades), fruto do grande volume de beneficiários cobertos e da impossibili-
dade de exigência de carência.
Planos Individuais
antigos e novos
Planos Coletivos
O reajuste é monitorado
Deve ser comunicado à ANS até Deve ser comunicado à ANS com
30 dias após sua aplicação. antecedência mínima de 15 dias
da data de aplicação.
Os reajustes dos planos individuais e familiares são controlados pela ANS, que fixa, em
conjunto com os Ministérios da Saúde e da Fazenda, a política anual a ser adotada o percentual
máximo permitido para posterior aprovação caso a caso, até o limite estabelecido. Desde o
ano 2000, foram fixados tetos máximos para os reajustes, calculados pela média ponderada
dos reajustes coletivos livremente negociados e informados à ANS.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
A intervenção da Agência garante aos usuários dos planos individuais a vantagem obtida
pelos contratantes de planos coletivos. O índice máximo acumulado nesses quatro anos, 32,79%,
está abaixo dos principais índices de inflação IGP-M acumulado de 65,50%, no mesmo período
(Gráfico 5).
ANS
IGP-M/FGV
ICV/DIEESE
Para os planos antigos, a Agência admite a revisão técnica, pois são produtos formatados
antes da regulamentação, em um modelo diferente do atual e sobre o qual as operadoras não
têm qualquer capacidade de gerenciamento, até porque seu rompimento unilateral é proibido.
Os preços dos planos antigos foram calculados com base no contexto do setor antes da
Lei 9.656/98: preço de venda livre, reajustes anuais automáticos e indexados (em geral pelo
IGP-M), cláusulas de reequilíbrio econômico-financeiro com aplicação automática a critério
da operadora, periodicidade anual dos contratos e possibilidade de não-renovação e de rom-
pimento a qualquer tempo (Figura 6).
A Lei 9.656/98 não garantiu aos planos antigos a cobertura assistencial integral
dos planos novos, mas os impactou nas condições gerais do contrato: os reajustes anuais e as
revisões técnicas são controlados pela ANS, os contratos passaram a ser renovados automa-
ticamente e seu rompimento por parte da operadora foi proibido (Figura 7).
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
No caso desses contratos, o desequilíbrio não pode ser caracterizado como risco do
empreendedor e deve ser admitido pela regulação. O processo de revisão técnica, no entanto, só
é aceito para planos com índice de utilização acima da média do mercado e da média da
totalidade da carteira de planos antigos da própria operadora, limitando-se à recomposição do
equilíbrio das despesas médico-assistenciais.
A revisão técnica não leva, necessariamente, a uma revisão da mensalidade. A operadora
pode oferecer medidas de reequilíbrio e, a critério do usuário, pode ser adotada uma das seguin-
tes: 1. revisão da mensalidade no índice autorizado pela ANS; 2. introdução de mecanismo
de co-participação, com revisão da mensalidade em índice inferior ao da primeira opção; e
3. alteração da rede assistencial sem qualquer revisão do valor das mensalidades.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !
A fiscalização é uma ação central da ANS e se desenvolve sob duas formas: a fiscali-
zação direta e a fiscalização indireta.
A fiscalização direta é exercida pela apuração de denúncias e representações (Programa
Cidadania Ativa) e por diligências nas operadoras preventivas e programadas (Programa Olho
Vivo). Sendo a ANS uma das únicas instituições a publicar as multas em primeira instância no
Diário Oficial da União, para maior transparência e orientação dos consumidores, a fiscalização
direta tem grande visibilidade e seu resultado é, por vezes, utilizado para avaliar a efetividade da
regulamentação. É uma avaliação equivocada, pois a ação do órgão regulador nesta esfera está
condicionada aos ritos de formação de processo para posterior cobrança judicial e ao cum-
primento de extensa legislação, externa à regulamentação do setor.
A aplicação das multas contra a operadora infratora busca inibir sua repetição, mas, não
sendo uma instância do Poder Judiciário, a ANS não tem instrumentos para garantir a repara-
ção do dano individual. Essa reparação deve ser buscada na esfera judicial. Significa que uma
denúncia à ANS de recusa de atendimento por parte de um usuário vai gerar, após o devido
processo, multa pecuniária e a reincidência caracterizará uma insubmissão que permite a
intervenção da Agência. Em casos extremos, pode a ANS optar pela liquidação extrajudicial da
operadora. A reparação do dano individual ao usuário denunciante, no entanto, só pode ser
buscada e obtida no Poder Judiciário.
A fiscalização indireta é exercida através do acompanhamento e do monitoramento
das operadoras, com base nos dados fornecidos aos sistemas de informações periódicas
assistenciais, econômico-financeiras e cadastrais e no cruzamento sistemático das informações
disponíveis, inclusive a incidência de reclamações e as multas aplicadas.
Os instrumentos de ação da fiscalização indireta e dos atos dela decorrentes estão na
esfera da regulamentação do setor e, em geral, produzem impacto protetor sobre todos os
usuários da operadora.
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
PLANOS DE RECUPERAÇÃO
A ANS pode exigir que a operadora apresente um Plano de Recuperação capaz de
reequilibrar sua operação no caso da análise do desempenho econômico-financeiro indicar
essa necessidade de ajuste. Os planos são submetidos à Agência para análise, aprovação e
acompanhamento. Entre outras medidas de saneamento administrativo e financeiro, pode haver
necessidade de um aporte de capital por parte dos controladores da operadora.
Os dados da Tabela 5 revelam que os Planos de Recuperação em andamento já implicaram
um aporte de R$177 milhões, estando ainda previsto o aporte de cerca de R$ 62 milhões.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !!
Ta b e l a 5 P L A N O S D E R E C U P E R A Ç Ã O
A P ROVA D O S P E L A A N S
1 - Apresentados 57 93 96
1.1 - Aprovados e/ou cumpridos (1) 3 34 40
1.2 - Revogados - 3 7
1.3 - Reprovados (2) - 6 13
1.4 - Em análise 54 50 36
2 - Não-entregues e cancelados 1 12 15
3 - Em elaboração pelas operadoras 44 3 3
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL
A Direção Fiscal ou Técnica da operadora pode ser determinada quando a ANS constata
irregularidades graves, como a não-aprovação ou descumprimento de plano de recuperação. A
partir da sua instalação, a administração da operadora passa a ser acompanhada e controlada
por representante designado pela Agência. Na Direção Fiscal, também os bens dos controladores
ficam indisponíveis. Esta forma de interferência pode levar, ainda, ao cancelamento de registro
da operadora (nos casos em que não há usuários ou débitos com prestadores).
A intervenção é encerrada quando a operadora demonstra condições de recuperação.
Nos casos em que a incapacidade de recuperação da operadora fica evidenciada, é decretada sua
liquidação extrajudicial, que pode ser transformada em falência por solicitação da ANS.
!" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 6 O P E R A D O R A S E M R E G I M E E S PE C I A L
AT É S E T E M B RO / 2 0 0 3
Regimes Especiais
Até 30/9/2003
Regime Operadoras
Direção Fiscal 96
Direção Técnica 8
Liquidação Extrajudicial 19
Falências Decretadas 5
Regimes Encerrados 59
Nota: O conceito utilizado refere-se à quantidade de operadoras para as quais foram aprovados regimes
especiais.
Fonte: DIOPE/ANS.
Alienação Compulsória
Unimed/SP
União Assistência Saúde
Weingaertner Comércio e Administração Ltda.
Uniodonto Norte de Minas
Asmédica Serviços Médicos Assistenciais S/C Ltda.
Odonto-Saúde Assistência Odontológica Ltda.
Leilão*
SMB
CODEB/Belém
2 . 4 . 2 I n s t r u me n t o s e I n d i c a d o r e s da F i s c a l i z a ç ã o Di r e t a
F I S C A L I Z A Ç Ã O R E AT I VA P R O G R A M A C I D A D A N I A A T I VA
O programa consiste na apuração de denúncias, a maioria recebida pelo Disque ANS
e de representações das Diretorias da Agência, relativas ao descumprimento de regulamen-
tação específica: não fornecimento de cadastro de beneficiários, não encaminhamento das in-
formações assistenciais (SIP) ou contábeis (DIOPS), entre outras.
Os processos são analisados em primeira instância pela Diretoria de Fiscalização, que
pode decidir pela aplicação de multa pecuniária. As decisões são publicadas no Diário Oficial
da União, podendo as operadoras recorrer em segunda e última instância administrativa à
Diretoria Colegiada, responsável pelas decisões. Os recursos são apreciados pela Diretoria de
Fiscalização que os encaminha à Diretoria Colegiada, com sugestão de manutenção ou revisão
da sua própria decisão.
O julgamento pela Diretoria Colegiada é precedido de avaliação da Procuradoria Jurídica
da Agência e de análise do diretor designado como relator do recurso. Na hipótese de o relatório
ser pelo não-provimento do recurso, o processo vai à decisão do colegiado através de Circuito
Deliberativo, em que cada diretor analisa e registra no próprio processo o seu voto. Caso
contrário o Diretor Relator opta pelo provimento do recurso o processo vai à decisão do
colegiado em reunião da Diretoria Colegiada.
Até
Resultados dez/2000 2001 2002 2003 Total
Diligências 5.389 8.139 11.205 4.060 28.793
Processos 5.581 4.314 4.533 3.081 17.509
Autuações 3.275 2.029 2.612 691 8.607
Processos com penalidade 446 182 1.568 575 2.771
Fonte: DIFIS/ANS.
!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
F I S C A L I Z A Ç Ã O P R O G R A M A DA P R O G R A M A O L H O V I VO
As operadoras submetidas às ações de fiscalização programada são selecionadas com
base na análise de indicadores específicos que levam em consideração o número de usuários, a
área de atuação e o índice de reclamações, entre outros.
As eventuais infrações à legislação geram autuações e Termos de Compromisso de Ajuste
de Conduta. No Gráfico 6, constata-se que o maior número de infrações por tipo de plano refere-
se aos individuais, com 84%.
Fonte: DIFIS/ANS.
Ta b e l a 9 M E TA S D O P RO G R A M A O L H O V I VO PA R A 2 0 0 3 :
FISCALIZAR 300 OPERADORAS
Modalidade Operadoras %
Autogestão 17 5,67
Cooperativa Médica 105 35,00
Medicina de Grupo 166 55,33
Seguradora 6 2,00
Outras (*) 6 2,00
Total 300 100,00
2001
2002
2003
2001
2002
2003
Í NDICE DE R ECLAMAÇÕES
O índice relaciona as reclamações ao Disque ANS com indícios de irregularidade com o
número de usuários da operadora. Atualizado mensalmente e disponível no sítio da Agência, é
um indicador da qualidade de atendimento das operadoras apresentado em três grupos, para
melhor orientação dos consumidores: operadoras com até 10 mil clientes, com mais de 10 mil e
até 50 mil e aquelas com mais de 50 mil clientes.
Pesquisas têm sido utilizadas pela ANS para identificação do grau de conhecimento do
usuário de planos privados de assistência à saúde sobre os seus direitos e a satisfação quanto
à assistência recebida (Tabela 10). As pesquisas são exigências do Contrato de Gestão.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 1 0 G R AU D E S AT I S FA Ç Ã O D O C O N S U M I D O R
COM SEU PLANO DE SAÚDE
TOTAL
2001 2002
Base 4004 2700
% %
Muito satisfeito 19 22
Satisfeito 65 62
Nem satisfeito, nem insatisfeito 10 8
Insatisfeito 5 5
Muito insatisfeito 1 1
Não sabe/Não respondeu 1 1
Muito satisfeito/satisfeito 84 84
Ta b e l a 1 1 G R AU D E C O N H E C I M E N TO D O S U S U Á R I O S
SOBRE SEUS DIREITOS BÁSICOS
2001 2002
Já Precisou e Já Precisou e
conhecia foi negado conhecia foi negado
Base 4004 4004 2700 2700
Nota: A partir de uma listagem de 15 principais direitos apresentados aos entrevistados, selecionaram-se os mais
apontados.
Fonte: Pesquisa ANS/2002.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "
Ta b e l a 1 2 Í N D I C E E M P E RC E N T UA L
DE CONHECIMENTO SOBRE A ANS
TOTAL
2001 2002
Base 4004 2700
Conhecimento da ANS 12 5p.p 17
Conhecimento espontâneo 2 2
Conhecimento estimulado pelo nome 8 13
Conhecimento estimulado por descrição 3 3
Nunca ouviu falar 86 81
Não sabe/não respondeu 2 2
Fonte: Pesquisa ANS/2002.
A legislação estabelece que devem ser ressarcidos pela operadora, em valores iguais ou
superiores àqueles pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos feitos pelo SUS
a usuários de planos privados de assistência à saúde procedimentos com cobertura prevista
nos respectivos contratos.
Nos contratos novos, as exclusões ao ressarcimento estão limitadas ao período de carên-
cia, à cobertura parcial temporária, à área de abrangência do contrato e à segmentação (ambu-
latorial ou hospitalar). Nos contratos antigos, as exclusões ao ressarcimento abrangem as pró-
prias exclusões de cobertura dos contratos anteriores à Lei 9.656/98 que ainda estão em vigor.
O ressarcimento é cobrado com base na TUNEP Tabela Única Nacional de Equivalên-
cia de Procedimentos, com valores, em média, uma vez e meia superiores à Tabela SUS. Destes
valores, o Fundo Nacional de Saúde é reembolsado no montante pago pelo SUS e o prestador de
serviço do SUS recebe a diferença entre a TUNEP e a Tabela SUS.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
G r á f i c o 1 0 D I S T R I B U I Ç Ã O D O S VA LO R E S C O B R A D O S
E PAG O S R E L AT I VO S AO R E S S A RC I M E N TO AO S U S
Repassados ao SUS*
Prestadores Universitários
Prestadores Privados
Prestadores Públicos
Fonte: DIDES/ANS.
Ta b e l a 1 3 I M PAC TO DA R E C U S A D E R E S S A RC I M E N TO AO S U S
Maio/2003 R$ mil
Nota: a Inscrição no CADIN antecede à Divida Ativa e seus valores (R$ 8.840 mil) estão somados à esta tabela.
(*) as ABIs suspensas não foram efetivamente cobradas por concessão de liminar judicial.
Fonte: DIDES/ANS.
3. DESAFIOS DA REGULAÇÃO
Desafios estratégicos
melhorado. Nos contratos antigos, o problema é sistêmico, pois prevalece o estabelecido nos
contratos, sendo a regulamentação pela Lei 9.656/98 de pouca efetividade na garantia dos direitos
desses beneficiários. Na prática, isso é real até para as cláusulas abusivas, pois só o Judiciário
pode declará-las como tal no caso concreto.
Desafios conjunturais
1. INTRODUÇÃO
|1| Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz MS, Professor Universidade Federal Fluminense.
|2| Médico, Especialista em Planejamento de Saúde, Coordenador do Escritório Técnico da Agência Nacional
de Saúde Suplementar para o Fórum de Saúde Suplementar.
# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
T a b e l a 1 E S T RU T U R A D O M E RC A D O D E P L A N O S D E A S S I S T Ê N C I A
À SAÚDE NÚMERO DE EMPRESAS E PROPORÇÃO DE CLIENTES
Fonte: Agência Nacional de Saúde Suplementar Cadastro de Beneficiários, RJ, Abril de 2003.
Esses dados demonstram que, sob o critério do número de clientes, que serve como
uma proxy da descrição do poder de mercado das empresas, o segmento de planos de assistência à
saúde é altamente competitivo (contestável) como decorrência do ambiente institucional que
favoreceu a sua formação pulverizada, embora apresente uma tendência à concentração de contra-
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #
tos nas empresas com mais de 100 mil beneficiários. Em razão dessa elevada constestabilidade, os
segmentos empresariais menos competitivos criaram barreiras jurídicas formais e informais para
reforçar o seu poder de mercado, como práticas de unimilitância, detectadas nas cooperativas mé-
dicas (DUARTE, 2003) ou a construção institucional de clientelas cativas, como no segmento de
operadoras tipo de autogestão de empresas públicas e privadas.
Ou, em razão dos custos nulos de transação para entrada e saída do mercado, o segmento foi
tomado por um grande número de empresas com baixos parâmetros de conduta corporativa em re-
lação às garantias contratuais com clientes, principalmente com contratos individuais e prestadores.
Mesmo assim, a incorporação de tecnologia para exames de apoio diagnóstico pelos
prestadores vinculados direta ou indiretamente às empresas de planos de assistência à saúde tem
sido bastante acelerada, como mostram as pesquisas de Assistência Médico-Sanitária de 1999 e
2002 (IBGE, 1999; 2002). A Tabela 2 evidencia que o segmento detém uma elevada diferenciação
na oferta de exames de apoio diagnóstico se comparada a oferta do Sistema Único de Saúde,
especialmente nos equipamentos de maior complexidade e na oferta de serviços na Região Sudeste.
Cinco fatores estruturais têm contribuído para a expansão das empresas de planos de
assistência à saúde em todos os estratos de renda:
A pesquisa IBGE/PNAD estimou para 1998 como sendo de 38,7 milhões, um quarto da
população brasileira à época, o número de pessoas com planos de saúde. A configuração da
oferta do setor público por meio do Sistema Único de Saúde dez anos antes em 1988 , que
propunha acesso universal e atenção integral gratuita, coincidiu, paradoxalmente, com um
cenário de expansão do mercado de planos de assistência à saúde.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #!
Faveret e Oliveira afirmaram que o crescimento dos planos de saúde está relacio-
nado ao processo de universalização excludente: a expansão da universalização pelo SUS
foi acompanhada de mecanismos de racionamento (queda na qualidade dos serviços, filas
etc.) que expulsaram do sistema público os segmentos de classe média (FAVERET e OLIVEIRA,
1990). A classe transitou para o subsistema privado por meio dos esquemas de finan-
ciamento dos planos e seguros de saúde, com forte apoio dos empregadores públicos e
privados (BAHIA, 1999).
Essa tese é válida para algumas regiões do país e para dimensões específicas da demanda
por atenção à saúde. O crescimento dos planos de assistência à saúde deu-se de modo desigual
e combinado entre as Regiões Metropolitanas brasileiras.
No Maranhão, por exemplo, apenas 6% da população tem algum tipo de cobertura de
planos e seguros de saúde, enquanto em São Paulo esse percentual chega a 39%. Quatro estados
(São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) concentram 65% de todos os
beneficiários no país (IBGE/PNAD, 1999).
Os dados sobre a distribuição territorial da população com planos de saúde dispo-
nibilizados pela ANS 2003 indicam que os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Ge-
rais concentram 68,5% da população com planos de saúde (ANS, 2003).
O segmento de planos e seguros de saúde tem como clientela principal a população
inserida do mercado formal de trabalho, ou seja, com vínculo de emprego. A PNAD evidenciou
que 70% dos titulares de planos de assistência à saúde acessam aos serviços de saúde mediante
a intermediação de empresas empregadoras, enquanto apenas 30% do total de segurados
estabelecem vínculo pela compra direta individual (IBGE/PNAD, 1999).
Ainda assim, pode-se afirmar que o acesso a planos de saúde está associado à renda das
famílias. A Tabela 3 mostra que a distribuição proporcional de indivíduos com planos de saúde
cresce, de fato, em relação direta com o crescimento da renda (IBGE/PNAD, 1999).
#" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Chama atenção pela Tabela 3 que 42% das pessoas no estrato de renda entre 10 e
20 salários mínimos não tem plano de saúde. No estrato de renda acima de 20 salários
mínimos essa proporção cai para 24%. Esse dado parece demonstrar que o fato das des-
pesas de saúde poderem ser abatidas integralmente do imposto de renda é um incen-
tivo ao desembolso direto da população de alta renda. Para esses segmentos, parece exis-
tir uma relativa autonomização do consumo de atenção à saúde dos esquemas de inter-
mediação dos planos e seguro de saúde.
As Pesquisas de Orçamento Público do IBGE de 1986 e 1997 demonstraram, ainda
assim, que o expressivo crescimento das despesas familiares com planos de saúde verifi-
cou-se fundamentalmente nas famílias nos estratos mais baixos de renda, como demons-
tra a Tabela 4.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 ##
T a b e l a 4 P E RC E N T UA L DA S D E S P E S A S M É D I A S C O R R E N T E S
COM PLANOS DE SAÚDE (SEGURO-SAÚDE E ASSOCIAÇÃO DE
A S S I S T Ê N C I A ) N O S E S T R ATO S D E R E N DA NA S P E S Q U I S A S
D E O R Ç A M E N TO FA M I L I A R D E 1 9 8 7 E 1 9 9 6
ASSISTÊNCIA À SAÚDE
3. REGULAÇÃO E CONSUMIDORES
decisão sobre a utilidade do ato médico. Por isso é crucial o papel regulatório do governo na
autorização da prática médica e da introdução de novos medicamentos.
A segunda falha diz respeito ao efeito limitativo da informação imperfeita e da restrição
de oferta sobre a competição no setor saúde. Os médicos e hospitais detêm controle sobre
informações e sobre a oferta de serviços que, em muitos casos, impedem a efetividade da
competição para diminuir preços e premiar qualidade de condutas.
Já a atividade de seguro na saúde configura práticas de mercado com falhas significativas
por três fatores:
Detalhamos um pouco mais essa terceira falha de mercado. O problema dos indivíduos
segurados que sobreutilizam serviços de saúde é definido como problema de risco moral. O
indivíduo segurado teria baixo incentivo para controlar a demanda por serviços ou cuidar da
saúde porque os custos de uma utilização adicional seriam marginais para eles, já que estão
cobertos pela seguradora, principalmente quando as coberturas são generosas. As seguradoras
procuram limitar essa conduta por meio de co-pagamento e franquias.
Para as empresas, a relação com os clientes torna-se adicionalmente problemática pela
propensão dos indivíduos de maior risco a buscar mais a proteção de despesas inesperadas com
atenção à saúde pela compra de um contrato de seguro-saúde. Isso é chamado de seleção negativa
(adverse selection). Esse conceito procura exprimir a situação em que uma composição da car-
teira de uma seguradora difere significativamente da população como um todo, por apresen-
tar uma população de maior risco (ou probabilidade) de utilização de serviços de saúde (ver
ANDRADE & LISBOA, 2001).
#& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
4. REGULAÇÃO E EMPRESAS
O desafio normativo para a ANS refere-se, sobretudo, à clara avaliação dos efeitos
gerados pelo regime regulatório sobre a estrutura das empresas ao definir regras importantes
para seleção de risco e para as firmas permanecerem e entrarem no mercado.
Qual o efeito sobre a estrutura de mercado das resoluções sobre solvência e provi-
são de garantias financeiras junto a terceiros? Qual o impacto das exigências de profissiona-
lização da gestão, de plano de conta padrão, de sistema de informação sobre produto e de plano
de referência sobre as empresas de menor porte?
Os estudos sobre as relações entre regime regulatório em mercados setoriais sugerem
algumas cautelas sobre a capacidade imediata de resposta das empresas a exigências formais.
A regulação administrativa influencia substancialmente as condições de concorrência no
mercado regulado pela indução indireta ou direta de mudanças nos custos operacionais das
empresas (MAJONE, 1996).
A regulação afeta:
a economia de escala e escopo das empresas operadoras pelo efeito seletivo das fortes
barreiras institucionais à permanência, entrada e saída;
restringe a sobrevivência das empresas mais débeis quando aumenta as demandas
sobre a qualidade da firma e limita a diferenciação de produto;
aumenta os custos de transação pelo crescimento de despesas operacionais para
manter a posição no mercado.
A questão central para o futuro do setor é saber o quanto a regulação das operadoras de
planos de assistência à saúde, por força das novas exigências para permanência e entrada na
indústria, levará a concentração do mercado (por aquisições, fusões e falências), fortalecendo a
posição das empresas de maior porte, abrangência nacional e com estratégias de inserção re-
gional. Essas empresas sobreviventes podem ser aquelas com mais de 100 mil clientes, ou seja,
apenas 3% das empresas? Isso é desejável? O futuro do regime regulatório dependerá também
de variáveis microeconômicas, como, por exemplo, a qualidade das carteiras das empresas que
podem sair da indústria. Certamente as carteiras de contratos coletivos serão bastante atraentes.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 $
O mesmo não pode ser afirmado para as carteiras individuais. As estratégias de aversão a risco
tem levado as empresas a baixar a oferta dos contratos individuais, após a Lei 9.656/98.
Uma outra questão é saber se a concentração das empresas no mercado pode trazer
resultados benéficos para os consumidores pela possível associação entre empresas de maior
porte e eficiência econômica. Os estudos trabalham com a hipótese da existência de uma
correlação positiva entre mercados mais concentrados e eficiência (e qualidade da firma)
(BAUMOL & BLINDER, 1997).
A equação E (Y) = =1 + =C resume essa hipótese , onde Y= é a estimativa de eficiência (ou
qualidade organizacional); =C = porte da empresa
A concentração das empresas no mercado pode resultar na saída das pequenas ope-
radoras gerando uma redução da oferta desses serviços nas regiões mais pobres e cidades com
menor número de clientes, estimulando que as empresas mais competitivas ocupem, portanto,
esses nichos de mercado. A hipótese aqui implícita é que, nas condições anteriores, esses ter-
ritórios não seriam atraentes para as empresas maiores em razão do alto poder de mercado
das pequenas e médias operadoras nos seus nichos.
Conclusão e recomendações
A definição de cenários por essas metodologias pode ser extremamente útil para a função
de regulação. O desenho da regulação da indústria de planos e seguros de saúde tem sido
formatada por meio de uma arrojada combinação de defesa do consumidor e do controle da
qualidade da firma. Os reguladores devem estar atentos para a correção de rumos caso os efeitos
dessa modelagem possam afetar a sustentabilidade do segmento e, portanto, a capacidade
competitiva das empresas.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, M. V. & LISBOA, M.B.A. Economia da Saúde no Brasil In: Microeconomia e Sociedade no
Brasil, pp. 285-332, Rio de Janeiro, Edtora Contracapa e FGV/EPGE, 2001.
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar Termos de Referência http://ans.gov.br/portal
(Consultado em 14/12/2002).
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar Panorama Setorial (volume 28) Abril de 2003.
ARROW, K.J. Uncertainty and the welfare economics of medical care. American Economic Review (53)
1963.
AYRES, I. & BRAITHWAITE, J. Responsive regulation: transcending the deregulation Debate. Oxford,
Oxford Univeristy Press, 1992.
BAHIA, L. Mudanças e padrões das relações público-privado: seguros e planos de saúde no Brasil. Rio de
Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz, 1999. (Tese de Doutorado).
BAUMOL, W. J. & BLINDER, A. S. Economics: Principles and Policy, Orlnado The Dryden Press/
Harcourt Brace College Publishers, 1997.
COSTA, N. R. Política Social e Ajuste Macroeconômico, In: Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro
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DUARTE, C. M. R. O Modelo Organizacional da Unimed. Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação
Oswaldo Cruz. 2003 (Tese de Doutorado).
FAVERET, P. F. & OLIVEIRA, P. J. A Universalização Excludente In: Revista Dados 33 (2): 257-283,
1990.
FELDSTEIN, P. Health Policy Isssues na Economic Perspective, Chicaho, Health Administration Press,
1999.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Estatística de Saúde Assistência Médico-
Sanitária, Rio de Janeiro, 2002.
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IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) Suplemento Acesso e Utilização de Serviços de Saúde, Rio de Janeiro, 1999.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), Rio de
Janeiro, 1997.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), Rio de
Janeiro, 1986.
MAJONE, G. Regulating Europe. London, Routledge, 1996.
MÉDICI, A. Family Spending on Health in Brazil Some Indirect Evidence of Regressive Nature of
Public Spending in Health, Washington, IADB, July, 2003.
STIGLITZ, J. E. Economics of the Public Sector, New York, W.W. Norton, 1999.
WILSON, J. Q. Political organizations. New Jersey, Princenton, 1995.
WORLD BANK A Organização, Prestação e Financiamento da Saúde no Brasil. Washington, Janeiro,
1995.
Nota Introdutória sobre
Estrutura de Mercado, Concentração
e Mercados Relevantes 1
Maria da Graça Derengowski 2
1. INTRODUÇÃO
|1| Este trabalho contou também com o apoio de Rodrigo Zeidan, economista e doutorando do Instituto de
Economia da UFRJ.
|2| Economista, Professora do Instituto de Economia da UFRJ. João Francisco Fonseca, economista, é co-
autor deste texto.
|3| O uso do termo saúde suplementar refere-se ao fato de existir obrigatoriedade na contribuição com o ser-
viço de assistência médica e hospitalar público. Apesar desta obrigatoriedade há a opção de os agentes paga-
rem por um seguro privado, denominado suplementar.
|4| Estes convênios eram financiados pela Previdência Social através do pagamento de uma taxa per capita
correspondente ao número de trabalhadores e dependentes, desde que optassem pela assistência em grupo,
empresas médicas ou diretamente através do sistema de autogestão em que as próprias empresas estruturam
a rede de provedores e serviços.
$$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
padrões de cobertura diferenciados. Com isso, elas ganham a chance de poder discriminar seus
preços em função dos grupos de clientes de renda mais alta, especializando e qualificando os
seus serviços de acordo com o perfil desses grupos.
A ampliação da demanda e oferta dos serviços privados de saúde, ainda nos anos 80 e 90,
teve que esperar cerca de uma década até que fosse estabelecido no país um arcabouço legal e
normativo minimamente adequado ao comportamento dos agentes. O que ocorreu com a Lei
9.656, de agosto de 1998, e com a Resolução 3.034, de 29 de outubro de 2002, através da qual as
seguradoras de saúde passaram a ser subordinadas à Superintendência de Seguros Privados.
O Brasil conta, atualmente, com um importante mercado para serviços privados de
assistência à saúde. A demanda por estes serviços aumentou de forma sustentada até o final dos
anos 90, apesar dos problemas trazidos pelo aumento de preço dos serviços na segunda metade
da década de 90 e pela redução da renda de boa parte da clientela, especialmente da classe média
urbana, entre 1999 e 2003. O mercado de planos de saúde está sendo diretamente afetado pelo
desemprego e terceirização da mão-de-obra, uma vez que famílias que tinham planos pagos
pelos empregadores ficaram, de uma hora para outra, sem cobertura.
Do ponto de vista da oferta, ocorreu um aumento dos custos financeiros, admi-
nistrativos e tributários para as empresas em função do aumento da CPMF e da cobrança de
taxas adicionais. Além disso, houve uma acentuada elevação do grau de utilização desses serviços
por parte da população, o que aumentou os custos médico-hospitalares (REIS, 2002). Segundo
Andreazzi (2002) isso levou a uma queda nos prêmios das empresas. Os segmentos de mercado
mais afetados foram os de medicina de grupo. Em contrapartida, as empresas têm colhido os
frutos da adoção de bem-sucedidas estratégias de diferenciação dos serviços, oferecidos a
segmentos de clientes, tentando mantê-los cativos e leais. Esta estratégia acabou, reciprocamente,
aumentando as opções para os clientes, mantendo a concorrência entre operadores, prestadores
e empresas de seguros.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 $%
2. ESTRUTURA DE MERCADO:
MAPEAMENTO PRELIMINAR
Dados da ANS mostram que o setor privado de saúde suplementar atendia, em 2000, a
do conjunto do mercado, dois terços são planos coletivos. Segundo Reis (2002), com base em
amostra da PNAD, cerca de 65% do mercado é constituído por planos coletivos e apenas 35%
lhões para 35 milhões de pessoas. Este último número é o adotado pela ANS e pelas agências
dicos é realizado por dia pelos agentes da medicina suplementar. As empresas de medicina
de grupo lideram no número de beneficiários, com 37% do total, nos recursos financeiros
mobilizados com 23% do total de R$ 23 bilhões e na quantidade de hospitais (próprios
quarto dos usuários e pelos sistemas de autogestão e seguradoras, que ficam, em conjunto,
|5| As 2,4 mil empresas de saúde suplementar movimentam R$ 18 bilhões, segundo a Abramge.
$& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
F i g u r a 1 C AT E G O R I A S D E A T E N D I M E N TO P O R B E N E F I C I Á R I O S
Fonte: Abramge.
Q UA D R O 1
Q UA D R O 2
As cooperativas, por sua vez, estão fortemente estabelecidas não só em São Paulo, mas
nos mercados locais e oferecem, via preços e proximidade do consumidor, forte concorrência às
empresas líderes em cada uma das categorias.6 A comparação do número de operadoras com o
número de beneficiários mostra uma grande disputa por estes últimos um saudável indício de
concorrência. No entanto, observa-se, também, a partir da Figura 2, reproduzida de Reis (2002),
que 31,12 % dos clientes estão alocados em apenas 12 operadoras. Isso denota, segundo o autor,
uma concentração relativa, em que um número reduzido de operadoras disputa um grande
número de associados.
Milhões de Clientes
|6| Esta análise, no entanto, só pode ser aprofundada através de um estudo mais detalhado ao nível dos estados.
% R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Q UA D R O 3
Q UA D R O 4
Estimativa de Prêmios
por Segmento de Mercado (US$ bilhões)
|7| Esta análise será complementada com análise do share das empresas com base no prêmio, no item 4.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %
F i g u r a 3 B R A S I L QUA N T I DA D E D E O P E R A D O R A S P O R R E G I Ã O
Já as empresas médias, com população de beneficiários entre 50 e 200 mil usuários, são
dominantes em estados menores e em grandes cidades do interior. A faixa imediatamente abai-
xo, composta por empresas que atendem entre 10 e 50 mil usuários, concentra empre-
sas localizadas em cidades de médio porte, ou em capitais dos menores estados. As empresas
menores no total, que atendem menos de dez mil usuários, encontram-se espalhadas pelo
interior, também em cidades pequenas, mas também nas periferias das grandes cidades. Neste
último segmento, há certa predominância de serviços oferecidos por pequenos hospitais e
Santas Casas. Estas empresas comercializam a modalidade de planos mais baratos, com as
limitações de qualidade decorrentes, no entanto com o vínculo criado pela proximidade.
A importância dos serviços de saúde suplementar pode, também, ser observada através
das atividades hospitalares. Segundo a Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANHP),
existem cerca de oito mil hospitais no país, dos quais 65% são particulares. Cerca de 13,5 milhões
de brasileiros são atendidos anualmente nos hospitais privados, sendo que 90% destes
atendimentos estão ligados a pacientes de planos de saúde privados. A oferta total de leitos nesses
hospitais é de 500 mil ao ano, dos quais 82% pertencem à rede privada.
Já o perfil do usuário da saúde suplementar pode ser observado no Quadro 2, resumido
de Reis (2002). Segundo este autor, verifica-se que a população jovem, que não atingiu ainda a
idade de 30 anos, e que ainda não usa plenamente os serviços oferecidos, é predominante.
% R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
De um modo geral, há uma grande diversidade de planos de saúde. Segundo Reis (2002),
esta diversidade deve-se a um conjunto de fatores econômicos e institucionais entre os quais:
o porte patrimonial e financeiro da firma empregadora que está patrocinando os
serviços de saúde aos trabalhadores;
o porte patrimonial e financeiro das operadoras de planos de saúde, bem como sua
inserção entre os setores da economia;
a qualificação e posição ocupacional dos trabalhadores;
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %!
petitivas básicas, do ponto de vista microeconômico. É necessário observar que, no que se refere
ao mercado de saúde suplementar, essas características isoladamente não são suficientes para
estabelecer os limites dos mercados, sendo necessário complementá-las com informações sobre
a estrutura de regulação, sobre as instituições encarregadas de estabelecer as regras do jogo
institucional e sobre a natureza incompleta dos contratos de longo prazo estabelecidos entre
os agentes de saúde suplementar.
Note-se, também, que do ponto de vista da reação da demanda às mudanças de preços,
o mercado de saúde ainda pode ser considerado competitivo. No entanto, há espaço para que
seus agentes, firmas, operadores e seguradores, obtenham quase-rendas não derivadas do poder
de mercado. A obtenção dessas rendas extraordinárias não decorre diretamente da existência de
poder de monopólio em decorrência da existência de barreiras à entrada de novos competidores.
Devem ser explicadas do ponto de vista da existência de ativos específicos e relações do tipo
agente-principal entre operadores e prestadores de serviço. Além disso, as quase-rendas são
características de contratos de longo prazo, como são os contratos de prestação de serviços de
assistência à saúde. Nesses contratos, direitos de propriedades dos ativos tangíveis (associados
ao uso de hospitais e equipamentos hospitalares, por exemplo) ou intangíveis (decorrentes do
conhecimento altamente especializado do agente que presta o serviço, o médico) não conseguem
ser completamente estabelecidos devido à incerteza e falta de informações.9
Do ponto de vista prático, o primeiro aspecto a ser levado em consideração na defi-
nição dos segmentos de mercado é a relação entre risco e modalidade de pagamento/preço.
Esta não é apenas uma questão de natureza técnica ou atuarial, mas pode definir, de um modo
mais geral, a natureza dos contratos, uma vez que há uma importância muito grande entre
a forma como o pagamento é efetuado e o desenho do contrato.10 Neste sentido há, aparen-
temente, três situações:
|9| Williamson (ibidem), Alchiam and Demsetz (1972) Production, information costs and economic organization,
American Economic Review 62:777-95.
|10| Andreazzi Siliansky observa que há uma influência importante entre o modo de pagamento e o
comportamento dos prestadores de serviços.
%$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
3 . 1 Me d i c i n a d e G r u p o ( MG )
quase todas as cidades com mais de 40 mil habitantes, sendo representadas em nível institucional
pelo sistema (Abramge, ibidem).
A Medicina de Grupo é responsável pelo atendimento de cerca de 18,4 milhões de pessoas,
das quais 14,3 milhões (78%) através de planos patrocinados por empresas para trabalhadores
e dependentes e 4,1 milhões (22%) em planos individuais e familiares, onde o próprio interessado
contrata a operadora dos respectivos planos. Segundo dados da Abramge para o ano de 2002,
o valor movimentado pelo segmento é de cerca de R$ 6,2 bilhões (Figura 4).
F i g u r a 4 M E D I C I NA D E G RU P O M OV I M E N TA Ç Ã O F I NA N C E I R A
Fonte: Abramge.
Dos 2,3 mil agentes que operam no segmento MG no País, 77% são pequenas empresas
de medicina de grupo e 10% do mercado pode ser classificado como grande pelos critérios de
classificação da ANS, superando os 500 mil usuários. A maior parte dos beneficiários do
segmento de medicina de grupo está localizada nas Regiões Sul e Sudeste e apenas o Estado de
São Paulo representa 42% deste segmento de mercado. Apenas a região metropolitana de São
Paulo representa atualmente o maior mercado para o sistema MG, calculado em R$ 3,6 bilhões
(ver Figura 5 logo abaixo).
Mais da metade dos clientes dos serviços de saúde encontram-se em São Paulo, onde
operam as grandes empresas de medicina de grupo. Segundo Bahia (1999)11, a face paulista da
assistência suplementar está marcada pelo crescimento regional das empresas criadas nos anos
60. Segundo dados da autora, as cinco maiores empresas são: Amil (fundada em 1981),
Intermédica (1968), Interclínicas (1964), Medial e Amico12 (ver também Anexo). Todas estas em-
presas também atendem clientes no Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraná e Pernambuco.
Apenas no município de São Paulo, operam 40 das 131 operadoras de medicina de grupo. Estas
131 empresas paulistas movimentam 83.310 planos ambulatoriais e 5.078 mil planos globais.
O desempenho do segmento de medicina de grupo pode ser avaliado pelo número de pro-
cedimentos apresentados em Quadros mostrados no Anexo.
Recentemente surgiram pequenas empresas de medicina de grupo vinculadas a
segmentos de menor poder aquisitivo e/ou nas cidades do interior e em municípios menores.
Estes planos são ofertados por hospitais filantrópicos. Um dos exemplos é o da Confederação
das Misericórdias do Brasil, com 360 hospitais (BAHIA, 1999).
3.2 Seguradoras
|11| BAHIA, L. (1999). O Mercado de Planos e seguros de Saúde no Brasil: tendências pós-regulamentação. In:
Cadernos de Saúde Suplementar, 2001.
|12| Posteriormente a Intermediária vinculou-se à Notre Dame, a Amil constituiu a Amil Seguradora e a
Golden Cross modificou sua natureza jurídico-institucional.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %'
O seguro-saúde existe desde 1966 (Decreto-Lei 73) e permite livre escolha de médicos e
hospitais pelo sistema de reembolso de despesas, no limite da apólice contratada, sendo
operado pelas seguradoras de saúde. Estas últimas são vinculadas ao capital financeiro e,
legalmente, não poderiam organizar a prestação de serviços médicos. No entanto, contam com
uma rede credenciada de médicos e hospitais. As companhias seguradoras são submetidas à
regulação específica e operam apenas com planos privados de assistência à saúde. Nos últi-
mos dez anos, este segmento de mercado vem crescendo expressivamente e, atualmente, há
37 seguradoras com 5,5 mihões de associados que realizam 28 milhões de consultas, segundo
a Abramge (AUSTIN, 2002).
A participação dos seguros-saúde representa cerca de 27% do total dos prêmios-seguro,
que é de R$ 21 bilhões, o que equivale a um mercado de cerca de R$ 5,6 bilhões nos dados da
Fenaseg. A participação do seguro de assistência à saúde no conjunto dos seguros é apresentada
na Figura 6, vindo atrás apenas da parcela de seguros de automóveis e na frente dos seguros de
vida em termos de volume de prêmios. As duas grandes seguradoras do mercado nacional são
a Sul América e a Bradesco. Em conjunto, elas são responsáveis por 60% do volume de prêmios
no ramo saúde.
F i g u r a 6 A N T E C I PA Ç Ã O D O S E G U RO -S A Ú D E
N O TOTA L D E S E G U RO S
Fonte: Abramge.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
3 . 3 . S e g me n t o C o o p e r a t i v a s ( S C )
|13| Em termo de recursos próprios são 54 hospitais com três mil leitos e 19 laboratórios.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &
4. ATOS DE CONCENTRAÇÃO
Do ponto de vista legal, são atos que visam a qualquer forma de concentração
econômica (horizontal, vertical ou conglomeração), seja através de fusão ou de incorporação
de empresas, de constituição de sociedade para exercer o controle de empresas ou qualquer
forma de agrupamento societário, que implique participação da empresa, ou do grupo de
empresas resultante, igual ou superior a 20% (vinte por cento) de um mercado relevante, ou
em que qualquer dos participantes tenha registrado faturamento bruto anual no último
balanço equivalente a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais) (§ 3o do artigo 54
da Lei 8.884/94).
Segundo Oliveira (2001),14 atos de concentração são operações mediante as quais duas
ou mais empresas previamente independentes entre si e concorrentes em um ou mais mer-
cados passam a cooperar por meio de fusões, aquisições e joint ventures. Estes atos não são
|14| OLIVEIRA, Gesner (2001) Concorrência. Panorama no Brasil e no Mundo. Ed. Saraiva.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
expressivos no setor de saúde suplementar no Brasil. Na apuração destes atos junto à Secretaria
de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, constata-se que são poucos os atos
de concentração envolvendo o setor de saúde suplementar.
Segundo Mello (2002), os atos de concentração exercidos pelo CADE têm por finalidade
prever o surgimento de condições estruturais que possam facilitar o exercício abusivo de posição
dominante. São, por isso, chamados de controle de estrutura de caráter preventivo (ibidem).
Isso se refere a quaisquer contratos que tenham impactos sobre a estrutura de mercado, como
fusões, aquisições, incorporações, formação de grupos de sociedades, holdings, joint ventures. A
intenção é impedir que sejam efetuados acordos e adotadas estratégias que possam produzir
dominação de mercados superior a 20%, ou que ultrapassem o faturamento bruto
mencionado. Do ponto de vista estritamente econômico, a intenção é a de verificar se a ação
analisada mediante o contrato em que os agentes econômicos atuem para a diminuição da
concorrência.
Para efeitos do controle de concorrência, como já havia sido antecipado no início do
trabalho, o mercado de saúde suplementar foi regulado em 1988 através da Lei 9.656, que foi
alterada por medidas provisórias que complementam o quadro regulatório e institucional. São
passíveis de regulação:
os planos privados de assistência à saúde que impliquem em prestação continuada
de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preços pré ou pós-estabelecidos
por prazo indeterminado, entre outros aspectos;
as operadoras dos planos de assistência à saúde, que são as pessoas jurídicas que se
responsabilizam pela assistência; elas podem ser sociedades civis ou comerciais,
cooperativas e entidades de autogestão;
os conjuntos de contratos de cobertura dos custos assistenciais e serviços de
assistência ou carteiras.
que operam de forma similar; a autogestão, que é um sistema fechado vinculado a empresas
públicas e privadas, e as seguradoras, que oferecem serviços com as características dos planos
privados de assistência à saúde. As seguradoras, no entanto, estão submetidas à regulamentação
diferente e não administram os planos de saúde, fazendo apenas o reembolso.
De acordo com as definições anteriores, torna-se difícil separar a natureza estrita da
competição por faixas relevantes de mercado, uma vez que as empresas costumam atuar em
diversas modalidades de serviços. Segundo orientação das agências e instituições reguladoras
(CADE, SEAE e SDE), deve-se levar em conta que, embora existam algumas diferenças
operacionais entre as seguradoras e as operadoras de plano de saúde, os serviços oferecidos são
basicamente os mesmos. Além disso, há empresas seguradoras que contam com redes
credenciadas. Também há operadoras de saúde que oferecem livre escolha de médicos, por
exemplo, realizando reembolso total ou parcial do que foi pago pelo usuário.
Sendo assim, é possível considerar os planos de assistência à saúde como serviços
substitutos. Apesar da existência de concentração e poder de mercado, há grande competição
entre todas as modalidades de planos e seguros de saúde. Isso ocorre especialmente nas regiões
de maior poder aquisitivo.
Os dados levantados junto à ANS sobre prêmios mostram indícios de concentração e
de poder de mercado, tanto em termos locais como nacionais (sítio da ANS www.ans.gov.br).
O Quadro 6 mostra o CR4 das maiores empresas neste mercado e o índice HH (Herfindal-
Hirshmann) para o segmento.
Q UA D R O 6
O CR4 das quatro maiores empresas seguradoras, Sul América, Bradesco, Porto Se-
guro e HSBC, é de 87,7%. No entanto, o HHI é de 31,7% (ou 0,317). Quando se analisa o share
das empresas em nível estadual, constata-se que a situação em São Paulo define a média
nacional, sendo maior no Rio de Janeiro, onde o CR4 é de 95% (Ver também ANEXOS). No
Quadro 6, o item Outros se refere aos Estados de Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. Em alguns estados e municípios, as em-
presas que oferecem seguros deparam-se com variada concorrência de pequenas empresas.
Nesses casos, existe a possibilidade do consumidor optar por outro tipo de serviço de saúde. A
Figura 7 mostra a divisão nacional do mercado pelas empresas que oferecem seguros de saúde,
independentemente de serem seguradoras.
F i g u r a 7 S H A R E S DA S S E G U R A D O R A S D E S A Ú D E P O R P R Ê M I O
F i g u r a 9 P L A N O I N D I V I D UA L S H A R E P O R P R Ê M I O
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Requerentes
Adquirida Valor Mercado Relevante Índice de Concentração
(Adquirente)
Vivendi Universal 1,2 Cinven, a Carlyle e a Apax: fundos ADQUIRENTE : não obteve qualquer fatura-
Cinven
Health AS e de investimento. Vivendi Universal mento no Brasil ou no Mercosul em 2001.
bilhões Health e Vivendi Universal Informa-
Vivendi Universal ADQUIRIDA : participou de um ato de
Information tion AS: serviços (saúde e concentração no Brasil de seis empresas
(Aprovia e negócios) e publicações. argentinas.
Santemedia)
Sul América Saúde HSBC Sul América Saúde S. A. e Sul Amé- A DQUIRENTE : faturou R$ 2,5 bilhões em
S.A. e Sul América rica Serviços Médicos S.A: mercado 2002. Operação mundial de aquisição de 2
Serviços Médicos de seguros e previdência, adminis- grupos internacionais gerou reflexos.
S.A. tração de recursos de terceiros; ADQUIRIDA : faturou R$ 226 milhões em
linhas de produtos relativos ao mer- 2002. Não participou de nenhuma operação
cado de capitalização. HSBC: ope- tanto no Brasil quanto no Mercosul nos
racionalização de planos privados de últimos 3 anos.
assistência à saúde.
Saúde Integrada UNIBANCO AIG Setor de saúde suplementar A DQUIRENTE : a participação das quatro (C4)
Participação Ltda e maiores empresas é de 60,01%, inferior a
Unibanco AIG Saúde 75%.
Sistema de A DQUIRIDA : a AIG Companhia de Seguros,
Administração Ltda. parte do grupo AIG, detém menos de 1% de
mercado; a participação de mercado da
Unibanco AIG Saúde Sistemas de
Administração Ltda.
&%
Fonte: SAE em 2003.
&& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Outra ação envolvendo Atos de Concentração diz respeito à aquisição de 100% das
quotas de capital social da UNIBANCO AIG pela Brasil Saúde Integrada Participações. Ambas
as empresas operam na categoria de medicina de grupo (MG), segundo a SAE. O UNIBANCO
AIG possui rede credenciada em 36 estados brasileiros em um mercado em que o SR4 é de 60%,
não havendo identificação de práticas de concentração. Além disso, UNIBANCO AIG deteria
menos do que 0,01% do mercado nacional, não havendo evidências de que a operação levaria a
práticas de poder de mercado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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nómico (versão em espanhol de 1989).
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A N E XO 2
SAÚDE VOLUME 3
SUL AMÉRICA AETNA SEGURO SAÚDE S.A. 649.578 43,6% 145.857 25,8% 294.943 44,6% 1.090.378 40,2%
BRADESCO SAÚDE S.A. 419.490 28,2% 362.336 64,2% 266.116 40,3% 1.047.943 38,6%
PORTO SEGURO SEGURO SAÚDE S.A. 143.982 9,7% - 0,0% - 0,0% 143.982 5,3%
HSBC SEGURO SAÚDE S.A. 38.372 2,6% 18.345 3,3% 41.031 6,2% 97.749 3,6%
MARÍTIMA SAÚDE SEGUROS S.A. 88.673 6,0% 3.570 0,6% 501 0,1% 92.743 3,4%
AGF SAÚDE S.A. 49.222 3,3% 4.497 0,8% 9.790 1,5% 63.508 2,3%
UNIBANCO AIG SAÚDE SEGURADORA S.A. 20.789 1,4% 11.657 2,1% 9.540 1,4% 41.986 1,5%
UNIMED SEGUROS SAÚDE S.A. 24.777 1,7% 2.638 0,5% 8.892 1,3% 36.307 1,3%
BRASIL SAÚDE COMPANHIA DE SEGUROS 5.898 0,4% 11.276 2,0% 17.488 2,6% 34.661 1,3%
ITAUSEG SAÚDE S.A. 23.779 1,6% 3.406 0,6% 2.298 0,3% 29.483 1,1%
NOTRE DAME SEGURADORA S.A. 25.041 1,7% - 0,0% - 0,0% 25.041 0,9%
GRALHA AZUL SAÚDE S.A. - 0,0% - 0,0% 10.251 1,6% 10.251 0,4%
SALUTAR SAÚDE SEGURADORA S.A. - 0,0% 764 0,1% - 0,0% 764 0,0%
TOTA L 1.489.601 100% 564.346 100% 660.848 100% 2.714.796 100%
Prêmio em R$ 1.000,00.
Fonte ANS (2003), pelos autores.
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SUMÁRIO EXECUTIVO
Este artigo pretende fazer uma contextualização e apontar perspectivas sobre o mar-
co regulatório do setor de saúde suplementar no Brasil, concentrando-se em duas questões
fundamentais.
Primeira, por que a regulação no setor saúde suplementar se faz necessária? Para
responder a esta pergunta, serão analisados os determinantes do desenvolvimento e con-
solidação do setor privado de planos e seguros de saúde nas últimas duas décadas. Será utili-
zado o conceito de falhas de governo para demonstrar que foi como conseqüência das
fragilidades das políticas públicas de saúde inclusivas e universais que a saúde suplementar
ganha fôlego, demandando, assim, alguma forma de ação reguladora do Estado.
A segunda questão: por que a regulação do setor de saúde suplementar tomou a forma
de uma regulação via agência regulatória independente? Nessa seção será feito um diá-
logo crítico com a literatura da economia política normativa e positiva da regulação, com
vistas a identificar os riscos e custos provenientes da decisão do governo brasileiro em delegar
a tarefa regulatória para uma agência independente. Discute-se a possibilidade e condições
em que os agentes reguladores seriam ou não controlados pelos políticos, tanto do Congresso
como do Executivo. Diante da possibilidade de os riscos delegativos (agency costs) da agência
não se comportarem de acordo com as preferências dos políticos, investiga-se quais benefícios
|1| Pesquisador Adjunto, ENSP/Fiocruz. Professor Economia Política da Regulação, Universidade Cândido
Mendes. Visiting Professor of Government, Colby College USA.
'" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
PRIMEIRA SEÇÃO
|2| Hirschman (1982: 74) afirma que o consumidor dispõe de dois tipos de reação à insatisfação: a primeira é
o afastamento, quando o consumidor vai à procura de opções mais satisfatórias de consumo no espaço privado,
e a segunda é a manifestação, ou seja, engajar-se em várias ações que vão da reclamação estritamente individual
à ação coletiva, ou, como frisa o autor, à ação pública por definição.
|3| Como exemplo ilustrativo, Boudon (1982:7) utiliza-se de um fato cotidiano, o trânsito. Pergunta o autor,
Por que todos aceitam sem muito reclamar a multidão de pequenas irritações provocadas pelas paradas no
sinal vermelho? Certamente porque, sem os sinais vermelhos, o trânsito seria mais difícil. Os sinais verme-
lhos têm por finalidade reduzir os efeitos perversos que resultariam da justaposição de deslocamentos indi-
viduais seguindo no mesmo momento trajetórias que se cruzam. Também Hirschman (1992: 18), ao analisar os
argumentos reacionários quanto às mudanças, identifica que os conservadores se utilizam do que ele chama de
tese da perversidade, ou seja, a tentativa de empurrar a sociedade em determinada direção fará com que ela,
sim, se mova, mas na direção contrária. Dessa forma, segundo a tese da perversidade, toda ação de mudança
desencadearia uma série de conseqüências não intencionais no exato oposto do objetivo proclamado e perse-
guido. Este trabalho, embora represente uma brilhante identificação das resistências discursivas dos conservadores
ao processo de mudança social, apresenta uma concepção diferenciada de efeitos perversos daquela desenvolvida
por Boudon, uma vez que concebe esses efeitos como necessariamente negativos.
'$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
na vida prática dessas políticas uma tendência de política social de características residuais e
segmentárias com a consolidação de um setor privado de saúde suplementar.
É pertinente, então, presumir que é como conseqüência das próprias fragilidades das
políticas inclusivas e universalistas de saúde que se desenvolve e se consolida a saúde suple-
mentar. Em outras palavras, as falhas de governo de não-provimento adequado de uma polí-
tica pública de saúde pavimentam o caminho para a materialização de um sistema híbrido
e complementar com o setor privado suplementar. Esta linha de argumentação não visa ques-
tionar a necessidade de que este mercado privado de planos e seguros de saúde venha a ser re-
gulado, pois pela própria natureza da saúde de ser um bem público, é recomendável que sejam
reduzidas as chances para comportamentos oportunistas por parte de quem oferece tais ser-
viços. Dessa forma, regular este setor privado de saúde suplementar passa a ser uma necessidade
de racionalizar e reordenar um setor que se desenvolve como conseqüência das falhas de governo.
Uma das evidências que fortalecem essa hipótese é que as demandas por uma intervenção
regulatória no setor se originam da repercussão negativa da opinião pública quando da ação
unilateral de algumas empresas de seguro e planos de saúde de aumento indiscriminado de
preços e restrições à cobertura. Essas queixas alcançaram ampla divulgação nos meios de
comunicação e vários consumidores obtiveram ganhos de causa nas instâncias judiciárias. A
regulamentação de planos e seguros privados de saúde foi, assim, demandada por consumi-
dores, entidades médicas e por setores governamentais ligados à área econômica, paralela-
mente às estratégias de empresas operadoras para a ampliação de seu mercado.5
As demandas de consumidores e entidades médicas repercutiram principalmente no
Executivo, que, diante de uma matéria de grande apelo popular e da possibilidade de o tema se
manter na mídia, evidenciando, assim, as possíveis fragilidades do governo sua morosidade,
ou mesmo a sua quase inação em estabelecer de fato uma regulação do setor fez a escolha de
colocar a regulação do setor suplementar da saúde no topo de sua agenda, como forma de evitar
|5| Também as operadoras, buscando manter sua imagem, demonstraram preocupação quanto a alguma
regulamentação. No início de 1990, em face das denúncias crescentes, a medicina de grupo, na tentativa de
evitar a intervenção governamental no setor, esboçou medidas de auto-regulamentação, como a criação do
Conselho de Auto-Regulamentação das Empresas de Medicina de Grupo (Conamge).
'& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
ser responsabilizado (blame shifting) e ao mesmo tempo auferir crédito (credit claiming) pela
criação de um organismo autônomo e especializado para lidar com este problema. Nas palavras
do Diretor de Normas e Habilitação da ANS, João Luís Barroca, a regulação de planos e seguros
de saúde é uma atividade governamental destinada a corrigir falhas de mercado e condições
contratuais que afetam consumidores e empresas e repercutem negativamente na opinião
pública6. Dessa forma, a iniciativa regulatória do governo nesse setor pode ser interpre-
tada como uma ação estratégica bem-sucedida, uma vez que as tensões e reclamações dos con-
sumidores foram redirecionadas.
A discussão sobre a questão, porém, só ganhou maior destaque no Legislativo com a
criação, em 27 de agosto de 1996, de uma Comissão Especial para proferir parecer sobre o
projeto do senador Saraiva (Projeto de Lei 4.424, de 1994, cujo principal objetivo era proibir a
exclusão de cobertura de despesas com tratamento de determinadas doenças em contratos que
asseguram atendimento médico-hospitalar pelas empresas privadas de seguro-saúde ou
assemelhadas). Esta comissão, entretanto, foi extremamente morosa no encaminhamento do
debate e na tomada de decisões. Embora o trâmite de uma matéria por uma comissão especial,
que é uma comissão temporária, deva ser rápido, uma vez que o prazo regimental é de dez ses-
sões legislativas, esta não conseguiu apresentar um relatório final ao plenário da Casa após mais
de um ano de funcionamento. A despeito do extenso e exaustivo trabalho realizado pela
Comissão, que promoveu inúmeras audiências públicas com a participação de praticamente
todos os representantes do setor de saúde suplementar, bem como da sociedade civil, seu relator,
o deputado Pinheiro Landim, não se sentiu em condições de apresentar um relatório-base ao
plenário e, juntamente com o presidente da Comissão, deputado Euler Ribeiro, solicitou ao
presidente da Câmara a dissolução da mesma para que o plenário se posicionasse diretamente
sobre o assunto.7
|6| Cf. Prefácio Regulação & Saúde: Estrutura, Evolução e Perspectivas da Assistência Médica Suplementar/
Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de Janeiro, 2002 (grifo nosso).
|7| Informação obtida mediante longa entrevista com o deputado Pinheiro Landim, em seu gabinete na Câ-
mara dos Deputados, Brasília.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 ''
|8| Segundo o então deputado federal e hoje Ministro da Saúde Humberto Costa, as seguradoras eram as
que menos se preocupavam com isso, pois além de já serem controladas pela instituição a que o governo
queria dar o controle total, têm um poder de fogo maior em termos de lobby dentro do governo. Entretanto,
os grupos de autogestão temiam que se fosse o Executivo quem regulasse diretamente via MP, não desse um
tratamento diferenciado. Entrevista com o deputado Humberto Costa, realizada por Marcus André Melo,
em Recife, em 22/2/2000.
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
perceberam que a comissão informal estava funcionando, já era tarde demais. Não deu mais
tempo para eles se rearticularem contra o projeto. Resumindo, estava claro que o desenho
institucional bipartite de regulação, tendo a Secretaria de Seguros Privados SUSEP, como o
órgão responsável pela regulamentação econômico-financeira dos seguros de saúde, e o Minis-
tério da Saúde, responsável pela regulamentação e fiscalização da produção de serviços de assis-
tência à saúde, já não conseguia responder de modo satisfatório ao conjunto de necessi-
dades reguladoras, o que se traduzia como uma outra falha do governo. A necessidade, então,
era pensar um modelo que pudesse oferecer respostas adequadas às demandas crescentes por
regulação. A solução encontrada foi a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar
ANS, através da Lei 9.961/00, como agência reguladora, vinculada ao Ministério da Saúde, mas
com autonomia administrativa, financeira e política expressa por uma arrecadação própria, de-
cisões em Diretoria Colegiada, cujos membros têm mandato definido em lei e não coincidentes.
SEGUNDA SEÇÃO
Uma importante questão que surge é: qual a forma que deve tomar a regulação de modo
a assegurar que os mercados regulados alcancem os níveis de performance que têm sido preten-
didos? Existem inúmeras formas de estruturar o processo regulatório e a forma escolhida irá ter
um papel decisivo no sucesso ou fracasso da regulação. Epstein e OHalloran (1999), por
exemplo, ao analisarem o caso americano, afirmam que existe uma grande variação no nível
de delegação de poderes e atribuições entre as áreas específicas que são reguladas. Além da
diferença em relação a quem é delegada a autoridade de regular, há diferenças ainda com
respeito à quantidade de poder discricionário que é delegada pelo Congresso/Executivo às
respectivas agências.
Pode-se estabelecer um desenho institucional com uma legislação extremamente
detalhada, deixando as agências com pouco ou nenhum espaço para tomar decisão, ou pode-se
simplesmente propor um desenho institucional vago, no qual o poder discricionário delegado é
extremamente amplo não apenas para regular, mas inclusive para definir as políticas para o
setor. Em algumas áreas, por exemplo, como agricultura, ciência e tecnologia e forças armadas,
o Congresso americano delega amplos poderes. Por outro lado, em áreas tais como orçamento,
funcionalismo público, judiciário etc., o nível de delegação é comparativamente mais baixo.
A hipótese defendida por Epstein e OHalloran é a de que o Congresso/Executivo calcula os
custos internos da produção e execução da política regulatória versus os custos externos da
delegação (make-or-buy decision). A política será feita de tal maneira a maximizar os objetivos
políticos dos legisladores; ou seja, reeleição. Os legisladores preferirão se responsabilizar pela
provisão daquela política até o ponto em que os benefícios políticos ultrapassem os custos
políticos; do contrário, eles preferirão delegar para o Executivo.
Sendo assim, não existiria uma forma ótima de regulação e o importante passa a
ser encontrar uma estrutura de regulação que combine com as circunstâncias de cada país em
questão e dos interesses existentes em cada setor. Antes da criação das agências regulatórias in-
dependentes, no Brasil, a regulação para muitos dos setores não era ausente, incluindo, aqui,
o setor de saúde suplementar, que era regulado pelo sistema bipartite entre SUSEP e Minis-
tério da Saúde, que já tinha demonstrado suas limitações.
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|9| Aquele que delega autoridade é conhecido como o principal e aquele para quem a autoridade de realizar
a tarefa em troca de uma remuneração é delegada seria o agente. (Os acionistas de uma companhia, os
principais, delegam a um gerente geral, o agente, a tarefa de presidir e fazer funcionar a companhia).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !
W EINGAST, 1987, 1989; SPILLER, 1990; LAFFONT e TIROLE, 1993; EPSTEIN e OHALLORAN, 1999).
de forma satisfatória e flexível as suas missões e funções. Mas como decorrência das
informações assimétricas inerentes da natureza deste tipo de relação, fazendo com que as
ações dos reguladores sejam intrinsecamente não observáveis, os políticos correriam, assim,
sérios riscos de que uma ampla discrição possa ser usada em busca de resultados distintos
pelo cumprimento de uma tarefa, o principal não pode usar o resultado obtido pelo agente para
inferir qual o esforço colocado, pois não existe uma relação estreita entre ambos.11 Não se pode
|10| O agente possui certas informações sobre si mesmo e/ou sobre a tarefa que o principal não possui. Por
exemplo, o agente sabe quanto esforço coloca para cumprir a tarefa. Já o principal não observa o esforço
colocado e sim o resultado deste esforço. (O gerente sabe quais as escolhas que fez, quais deixou de fazer,
quais as condições da companhia, dos concorrentes etc. Os acionistas não possuem nem o tempo nem o
capital humano para obter e processar todas essas informações. Eles observam não o esforço colocado pelo
gerente, mas sim o lucro obtido no final do mês).
|11| Por exemplo: ao observar um lucro alto, os acionistas não podem inferir disto que o gerente tomou
todas as decisões corretas e geriu a empresa de maneira sábia, pois é possível que o gerente tenha agido de
forma imprudente ou desleixada e mesmo assim obtivesse lucro. Da mesma forma, um lucro baixo pode se
dar por contingências fora do controle do gerente.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
ainda esquecer que, na maioria das vezes, existiria um alto custo de monitoração. Ou seja, o
principal não tem como monitorar a baixo custo a performance do agente para poder observar
o nível de esforço colocado. Para tornar ainda mais complexa esta relação, os objetivos entre os
atores podem não ser alinhados. Em outras palavras, não é raro que os objetivos do principal
não coincidam inteiramente com os objetivos do agente.12
Esta vasta literatura tem mostrado que estes problemas delegativos existem e têm
conseqüências decisivas para o resultado da política pública regulatória. De uma forma bastante
esquemática, é possível classificar esta literatura em dois grandes grupos (teoria da dominância
burocrática e teoria da dominância dos políticos), tomando como critério classificatório a
possibilidade ou não dos principais (políticos) controlarem os agentes (reguladores) e/ou de
incentivarem estes últimos a se comportarem de acordo com as preferências dos primeiros.
O primeiro grupo de autores são céticos sobre a possibilidade de controle da burocracia.
Eles fazem uma dura crítica à tradicional escola do interesse público que defendia a visão de que
a regulação surgia quando havia uma falha de mercado, o que levaria o governo a corrigi-la
através de alguma forma de intervenção. Por isso esta vertente é aqui chamada de teoria ou escola
da dominância burocrática. Ou seja, esta literatura se opõe à idéia de que os burocratas agem
orientados pelo interesse público ou pelo bem comum.
Segundo esta abordagem tradicional da dominância da burocracia, o problema
principal-agente entre políticos e agências reguladoras é tão severo que não seria possível
|12| Se os objetivos coincidirem exatamente, a relação principal-agente deixa de ser problemática, pois
então o agente estará agindo da maneira preferida pelo principal. Entretanto, na maioria das vezes, por
exemplo, os acionistas querem que o gerente aja de maneira a maximizar o lucro da empresa sem tomar
riscos desnecessários. O gerente, por sua vez, quer maximizar sua própria renda e talvez possua também
objetivos relacionados a sua carreira e seu poder na empresa. Os objetivos de ambos são somente parcialmente
coincidentes, pois ao perseguir seus próprios objetivos, o gerente poderá estar levando a firma a um lucro
menor do que o possível.
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preferências dos políticos também seria muito alto. As agências são, portanto, insuladas, têm
alto nível de discricionariedade e podem perseguir seus próprios interesses. Agências burocráticas
outros. Como acontece em qualquer outro tipo de mercado, o mercado regulatório tende a
distribuir mais benefícios para os que oferecem maiores demandas. Os grupos que teriam
menores custos organizacionais e maiores ganhos per capita seriam os grupos com maiores
probabilidades de atingir sucesso de influenciar o processo regulatório. Dessa forma, grupos
pequenos e mais homogêneos teriam mais condições de capturar o processo regulatório do que
os grupos maiores e difusos, como os consumidores.
Vale salientar, entretanto, que a teoria econômica da regulação foi posteriormente mo-
delada formalmente por Peltzman (1976), ganhando, assim, mais precisão e solidez. Em geral,
a informação imperfeita sobre ganhos e perdas devido à regulação, em conjunto com os custos
de organização dos grupos atrás de favores políticos, leva a uma redução da coalizão vence-
dora esta não receberá um ganho tão grande quanto poderia ser concedido pelo regulador. O
regulador/legislador não irá conceder ao grupo vencedor todos os benefícios que este gosta-
ria de receber. Mesmo se os grupos se organizarem por seus interesses econômicos (e.g. pro-
dutores versus consumidores), será do interesse do regulador produzir uma coalizão que con-
tenha membros do grupo perdedor. Como o regulador/legislador leva em conta a oposição dos
perdedores, ele irá até o ponto em que o apoio marginal obtido é igual à oposição mar-
ginal gerada.13
Apesar do apelo da teoria da captura que exerce sua influência até os dias de hoje, ela
tem sofrido críticas principalmente no que se refere ao fato de olhar basicamente para o lado da
demanda por regulação, abstraindo o lado da oferta.14 Ou seja, a teoria presume que o regulador
e o legislador (políticos; Congresso e/ou Presidente) são a mesma pessoa ou tivessem a mesma
|13| Um exemplo bastante ilustrativo do modelo proposto por Peltzman seria a recente disputa sobre o
aumento dos preços dos telefones no Brasil. A agência reguladora defendeu o cumprimento do contrato
(reforçando a teoria da captura) que beneficiava as empresas de telefonia. O governo, por outro lado, apre-
sentou um duplo discurso estratégico: com o Ministério das Telecomunicações defendendo a quebra do
contrato com um aumento menor (sinalizando sua preferência pró-consumo) e o Ministério da Fazenda
defendendo a manutenção dos contratos (sinalizando suas preferências pró-mercado). A solução deste conflito
até o momento claramente beneficia o Executivo, pois a decisão sobre o aumento foi transferida para o
Judiciário, eximindo o governo de possíveis desgastes, tanto com o mercado como com os consumidores.
|14| Ver J.J. Laffont, e J. Tirole, 1990, The Politics of Government Decision-Making: A Theory of Regulatory
Capture. Cahier de recherches économiques, Université de Lausanne.
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|15| Positivo se refere ao fato de que esta abordagem não busca analisar os fatos de acordo com algum
critério de eficiência, como acontece com a literatura normativa. Ou seja, a teoria positiva busca explicar
por que as coisas são como são e não sugerir como deveriam ser.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|16| Vale salientar, entretanto, que no caso brasileiro, as comissões permanentes no Congresso Nacional
não dispõem de mecanismos institucionais tais como poderes de agenda (gatekeeping power), regras fechadas
(closed rule) etc. Quem na realidade exerce o papel de principal no Brasil é o Executivo.
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trativos que a agência deve seguir (no caso brasileiro, esse mecanismo tem sido chamado de
contrato de gestão, presente na ANS e ANVISA). Isso envolve todas as regras e processos
administrativos que determinam o quê e como a agência deve fazer, incluindo metas de
desempenho. Esses procedimentos são uma forma de reduzir o custo da monitoração e facilitar
o controle da agência pelos legisladores. Eles são estruturados de forma a evitar que a agência
inicie e se comprometa a determinadas políticas que podem afetar os legisladores negativa-
mente, antes que estes percebam e possam tomar medidas para revertê-las. As restrições
impostas sobre o regulador pelos procedimentos administrativos do contrato de gestão ca-
nalizam as escolhas do regulador a favor dos grupos que apóiam os legisladores. O fato de que
raramente se vêem os legisladores interferindo nas decisões do regulador não significa, por-
tanto, que não estejam exercendo controle, mas sim que o sistema de controle está funcio-
nando de maneira automática e eficaz.
Como visto, se as agências podem ser controladas pelos políticos, é ainda motivo de
grande controvérsia na literatura da economia política da regulação. Entretanto, tanto a
abordagem centrada na autonomia da burocracia, como a abordagem que defende o poder
dos políticos sobre as agências, corroboram a idéia de que a decisão de delegar poderes re-
gulatórios a agências independentes engendra riscos delegativos e custos de monitoração.
Dado que a decisão de delegar tarefas regulatórias para agências independentes ocasiona
riscos e custos delegativos (agency costs) para os políticos, é surpreendente que os governos
brasileiros venham optando pela criação de tal modelo regulatório tão freqüentemente, uma
vez que, a princípio, tarefas semelhantes poderiam ser realizadas por outras formas de de-
senho institucional e burocrático, tais como departamentos ou secretarias dentro de minis-
térios ou agências executivas, onde, teoricamente, seria mais fácil para os governos contro-
larem o comportamento dos reguladores. Em outras palavras, se os políticos estão optando
incorrer nesse tipo de risco, é porque o modelo autônomo de regulação deve trazer algum tipo
de vantagem para os políticos. Dessa forma, a pergunta que necessita ser investigada é a se-
guinte: o que uma agência regulatória independente pode fazer em benefício dos políticos
que outras formas organizacionais não podem?
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Existe uma série de ganhos que os políticos poderiam obter com a decisão de transferir
poderes regulatórios para agências independentes. Dentre os mais estudados na literatura
estariam:
Ganhos de informação: como os políticos têm que tomar uma série de decisões
políticas, muitas delas com um elevado grau de incerteza sobre o resultado final
da política escolhida, seria potencialmente vantajoso para os políticos delegar
poderes para reguladores para que estes se sintam incentivados a se especializar e
revelar informações, vindo, assim, a reduzir as incertezas inerentes de um deter-
minado setor. Ou seja, delegar poderes regulatórios pode gerar ganhos de troca
informacionais para os políticos. Embora um burocrata que trabalhasse em um
departamento ou ministério com a responsabilidade de regular um determinado
mercado também tivesse a oportunidade de se especializar, faltaria a ele os incen-
tivos (poderes regulatórios capazes de influenciar no resultado das políticas do
setor) necessários para que revelasse as informações fruto da especialização. Da
mesma forma que tem sido argüido sobre o papel informacional desempe-
nhado pelas comissões no Congresso (GILLIGAN e KREHBIEL, 1987; KREHBIEL, 1991;
EPSTEIN, 1997), existiriam ganhos de troca similares no processo regulatório se
esse fosse feito via garantias de autonomia a uma burocracia especializada.
|17| Digo parcialmente em relação à ANP porque neste caso a agência estaria regulando basicamente uma
empresa estatal, Petrobras, onde os custos de credibilidade por uma maior intervenção do governo seriam
teoricamente menores. Talvez por conseqüência desses menores custos de credibilidade é que a ANP não
tem poderes para estabelecer novos preços e tarifas sugerindo uma maior interferência do governo no setor
de petróleo. Outro indicativo que sugere uma maior interferência na ANP foi a decisão do governo de
escolher para Presidente da agência uma pessoa da extrema confiança do governo, o então genro do
Presidente da República, David Zylbersztajn.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
para o governo que as preferências das agências e do governo estivessem o mais próximo
possível, uma vez que ele teria maiores possibilidades de controlar as agências. Entretanto, um
maior controle sobre as preferências das agências não é destituído de custos. Na realidade,
maior controle sobre as agências engendra custos de credibilidade que o governo deve consi-
derar, dependendo das suas necessidades. Esses custos advêm das reações dos investidores
diante dos potenciais riscos do governo em expropriar os contratos. Em essência, o argumento
é que a credibilidade e a eficácia do processo regulatório e, portanto, de sua capacidade de
incentivar o investimento privado e apoiar a eficiência na produção e uso dos serviços variam
com as instituições políticas e sociais de cada país.18 Dessa forma, dotar o sistema político de
mais rigidez, através de salvaguardas institucionais do tipo agências regulatórias indepen-
dentes, diminui controle governamental, mas em contrapartida possibilitaria compensa-
ções de maior credibilidade.
Entretanto, é pertinente fazer inferência semelhante para as agências da área da saúde,
ANS e ANVISA? Ou seja, será que os custos de credibilidade no setor saúde justificariam que o
governo incorresse nos riscos delegativos vindo, assim, a perder poder e interferência nas polí-
ticas do setor de saúde privado suplementar com a criação das agências?
Como já é sabido, com a criação da ANS as atividades reguladoras foram reunidas em
órgão único, autônomo, superando, pelo menos no desenho institucional, os conflitos entre os
seguros de saúde já existia com considerável grau de competitividade entre as empresas que o
zacional entre elas. Dessa forma, as empresas ou investidores não estariam demandando
em uma zona movediça pela ausência de instrumentos críveis que garantissem a durabili-
dade das regras do jogo, passaram a dispor de maior estabilidade em função da previsibili-
dade do comportamento dos atores envolvidos.
setor que vinha operando praticamente sem o controle do Estado. Daí porque os ganhos de credi-
bilidade, entendidos como salvaguardas de investimentos, não parecem ter um papel decisivo
no cálculo do governo na montagem da ANS e ANVISA. Esse argumento se fortalece ainda mais
diante da distinção do modelo da agência reguladora adotado no setor saúde em comparação
àquele adotado para as agências da área de infra-estrutura, onde os custos de credibilidade se-
riam teoricamente maiores. As agências do setor saúde são as únicas em que o Contrato de
Gestão é mandatário em relação à Diretoria Colegiada.21 Isto não ocorre por acaso, pois, como
dito anteriormente, o Contrato de Gestão também serve como mecanismo institucional de
controle formal moldado para preservar as preferências do governo mesmo diante da inde-
pendência dessas agências. Ou seja, no setor saúde, o governo teria menos a perder em credibi-
lidade diante de uma maior interferência via Contrato de Gestão. Por outro lado, os mercados
de infra-estrutura requisitavam do governo maior autonomia e flexibilidade de gestão, restrin-
gindo, assim, um maior controle do Executivo através desse mecanismo institucional formal.
|20| No processo de regulação de qualquer mercado, existem setores ou indústrias que teriam maiores custos,
enquanto outros, como lembra a teoria da demanda regulatória, se beneficiariam com ela. É pertinente, então,
supor que algumas empresas do setor de saúde, especialmente aquelas que dispõem de maior capacidade de
adaptação (maiores empresas, mais homogêneas, mais consolidadas no mercado etc.) se beneficiassem com as
novas regras regulatórias, tais como universalização de cobertura, não exclusão de procedimentos, não cobrança
para portadores de doenças preexistentes etc. Entretanto, esta é uma hipótese que necessita de maiores investi-
gações empíricas (COSTA, PEREIRA e RIBEIRO, 2003).
|21| Cf. documento do Fórum de Discussão sobre o Setor de Saúde Suplementar: Evolução e Desafios da
Regulação do Setor de Saúde Suplementar, p. 6, 2003.
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
traria no Executivo o responsável direto pela sua resolução. Naturalmente, que possíveis fa-
lhas no processo regulatório não eximiria totalmente o Executivo de custos políticos uma vez
que ele ainda teria que responder, como agente, às demandas de seus principais; ou seja, os
consumidores/eleitores. Entretanto, essas responsabilidades estariam agora mais atenuadas
pela ação de escudo protetor da agência reguladora.
Finalmente, não podemos também esquecer dos ganhos informacionais obtidos pelo
Ministério da Saúde (porque também não dizer, por todos os atores que teriam algum interesse
neste setor, incluindo aqui, outras esferas de governo, universidades, centros de pesquisa,
operadores privados etc.), provenientes da criação de um corpo institucional dotado de
incentivos a especialização técnica e operacional como a ANS. Hoje, se tem muito mais clareza
da extensão e importância, bem como das diferentes estratégias organizacionais das diver-
sas formas (medicina de grupo, planos, seguros, co-gestão, Unimed etc.) que o mercado da
saúde suplementar no Brasil oferece. Isto se deve a não só o papel regulador da ANS, mas
também à sua capacidade de gerar e oferecer informações mais precisas e confiáveis. Não resta
dúvida de que as investigações e conhecimentos gerados (incluindo aqui teses e dissertações
acadêmicas) como conseqüência destas informações vão se refletir em uma maior qualidade
da política pública de saúde no Brasil.
CONCLUSÃO
Este artigo procurou fazer uma discussão sobre o marco regulatório do setor de saúde
suplementar, questionando tanto as razões que motivaram o governo a regular este setor bem
como o tipo de desenho institucional regulatório caracterizado pela autonomia política e
financeira do Executivo/Congresso. Ao fazer um diálogo crítico com a literatura da econo-
mia política normativa e positiva da regulação, foi possível identificar que a decisão de de-
legar amplos poderes para uma agência independente do governo não é isenta de riscos e
custos. Faz sentido o governo tomar tal decisão se conseguir compensar esses custos com
retornos de ordem informacional, de credibilidade, de transferência de responsabilidade,
flexibilidade administrativa etc.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|23| Sucesso aqui definido como a capacidade de o agente realizar as preferências do principal, aumentando
assim seu o bem-estar (Lupia e McCubbing, 1998).
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Página 120
em branco
Mercado de Saúde Suplementar:
amplitudes e limites
na arena da regulação
Mar i a d e Fát i ma Si l i a ns k y d e Andr e a z zi 1
|1| Médica, Doutora de Saúde Coletiva, Profa. Adjunta da UFRJ. São co-autores: Marco Antônio Ratzsch de
Andreazzi, Márcia Cristina Chagas Macedo Pinheiro e Bernardo Sicsú.
|2| Spínola & Troster (1998). Estruturas de Mercado. In: Manual de Economia. Equipe dos Professores da
USP. São Paulo: Atlas.
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
teoria são, de uma forma geral, classificados em: 1. instrumentos de comando e controle; e, 2.
incentivos financeiros. Os primeiros estão vinculados às sanções e penalidades impostas pelas
agências governamentais, e os segundos estão associados aos subsídios e às transferências de
recursos via tributação.3
1. DEFININDO REGULAÇÃO
A regulação é uma categoria que emerge da administração pública e que, a despeito dos
mecanismos de funcionamento do mercado, surge, de acordo com Crozier (1989:84), para
garantir os meios de seu estabelecimento, de sua manutenção e de seu desenvolvimento em
função de circunstâncias sempre novas.
O mesmo autor considera que o termo regulação, sob a perspectiva da visão das ciências
sociais, designa a ação de mecanismos corretores que mantém a existência de um sistema. Ao
contrário dos sistemas físicos, que não podem admitir senão regulações automáticas, os sistemas
sociais são mais abertos, muito menos subjugados: a presença em seu seio de fenômenos de
poder e de consciência os torna mais vulneráveis, mas, ao mesmo tempo, mais capazes de
adaptação (CROZIER, 1989).
Atualmente a categoria regulação está disseminada, sendo largamente discutida e
analisada no contexto econômico e social mais amplo, o que não quer dizer, exatamente, o
mesmo que sua congênere adotada pela Administração Pública. Boyer (1990:181) acredita que
cabe o uso da palavra regulação enquanto arcabouço para a conjunção dos mecanismos que
viabilizam a reprodução do conjunto do sistema, em função do estado das estruturas econômicas e
das formas sociais. Esta regulação está na origem da dinâmica de curto e médio prazos.
Para Lipietz (apud BOYER, 1990:183) entendida do ponto de vista político e social, a
regulação consegue conciliar interesses antagônicos (ao menos num determinado período de
|3| Para detalhes, cf. Anuatti Neto. (1998). Regulamentação dos Mercados. In: Manual de Economia. Equipe
dos Professores da USP. São Paulo: Atlas.
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tempo) sendo o ajustamento, de acordo com alguma regra ou norma, de uma pluralidade de
movimentos ou de atos e de seus efeitos ou produtos, cuja diversidade ou sucessão torna-os
estranhos entre si. Para Di Ruzza, apesar da concordância com Boyer, a regulação só é pos-
sível de ser praticada em momentos de estabilidade política e social evidenciando uma certa
capacidade de maturação do estado democrático. Di Ruzza acredita que nos períodos de
crise, a capacidade de poder regulatório tende a enfraquecer e até a desaparecer. (DI RUZZA apud
BOYER, 1990:184).
Ainda para Crozier, a atividade regulatória é missão de autoridades públicas que não
deve ser contestada em seu princípio, uma vez que garante a consecução dos contratos e
estabelece a segurança necessária às atividades econômicas. Isto posto, a discussão não se coloca
em relação à necessidade de regulamentação, mas em relação ao tipo de autoridade que irá
assumir as funções de desenvolvimento, fiscalização e controle da regulação.
A regulação, entretanto, não ocorre de forma automática, dependendo muito da
complexidade das relações humanas entre as partes envolvidas. Portanto, não se pode conferir
à regulação a capacidade de adaptação da ação. A capacidade regulatória é o resultado da
organização das relações pessoais; só podendo, de fato, acontecer e ser implantada a partir da
transformação das relações humanas que embasam as relações econômicas. Isto posto, o poder
regulatório só é eficaz quando desenvolvido por seus agentes.
Por conseguinte, a origem da regulação está no campo político, no sentido em que surge
de uma decisão social, a partir de uma luta e uma dada correlação de forças e não emerge das
relações econômicas de livre-mercado, ou auto-reguladoras. Nos Estados Unidos, até os anos
30, o próprio aparato jurídico foi o lócus das atividades reguladoras. Kahn (1988) refere que
uma das primeiras indústrias que passam a ser reguladas foram os bancos (1911) e, poste-
riormente, os seguros (1913, 1931). Instituições reguladoras ligadas ao aparato executivo
de Estado surgem posteriormente.
Conforto (1998:31) cunhou a expressão marco regulatório para adjetivar um
conjunto de regras, orientações, medidas de controle e valoração que possibilitem o exercício
do controle público em atividades de serviços públicos. Nesta perspectiva, a autora acredita
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
que o gestor deste marco regulatório deve reunir características que incluam a capacidade de
gerenciar a orientação e o controle do mercado visando a eficiência na condução do serviço
público, sendo possível inclusive gerenciar com flexibilidade as diferenças que se apresentem
no seu cotidiano de gestor.
E, mais, para a mesma autora (1998:31) uma das questões principais na estruturação do
ente regulador é a eqüidistância em relação aos atores sociais envolvidos e uma composição que
dificulte sua captura por qualquer área de interesse vinculada à prestação de serviço específica.
O termo marco regulatório pode ser entendido como um conjunto de políticas formuladas
para que a sociedade tenha benefícios públicos a despeito das regras do mercado.
Pesando todas as definições, há uma concordância quanto à capacidade de regulação em
estabelecer normas e condutas a serem adotadas visando ao atendimento dos interesses coletivos
e mais gerais em detrimento dos interesses particulares (BARBIERI & HORTALE, 2002).
No campo da saúde, o principal objeto da regulação é o sistema de saúde como um todo,
uma vez que a saúde é considerada, constitucionalmente, como um bem essencial e de relevância
pública. Neste sentido, a formulação de políticas de saúde e seu respectivo controle são
responsabilidade de governo. No que se refere ao mercado suplementar em saúde, a perspectiva
da ação regulatória se reveste de importância capital em virtude da defesa da concorrência no
mercado e do interesse público no que se refere à assistência suplementar à saúde.
2. A M P L I T U D E S E L I M I T E S N A A R E N A
O processo regulatório é entendido como as ações que definem uma estrutura normativa
e de referência capazes de estabelecer fronteiras e limites aos procedimentos dos agentes que
ofertam e demandam o seguro-saúde. O Estado, através de um órgão específico, estabelece o
modo pelo qual a oferta e a demanda tenham suas práticas e expectativas respeitadas. Evitando,
assim, oportunismos das partes, que poderiam levar a desequilíbrios de poder entre os agentes.
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|4| BIERRENBACH, Julio de A.(1997). In: UCHARA, Irineu. Para onde vai o Mercado de Saúde? Julho. São
Paulo: Banco Hoje.
|5| KORNIS, George & CAETANO, Rosângela. (2002). Dimensão e Estrutura Econômica da Assistência
Médica Suplementar no Brasil. In: Regulação & Saúde. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde /ANS.
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|6| Inclui-se nesta categoria todas as instituições cujo objetivo é a oferta de proteção contra o risco de não
atendimento médico.
|7| As companhias seguradoras são investidores institucionais.
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|8| A lei 9.656/98 sofreu diversas alterações desde a data em que entrou em vigor. Para maiores detalhes, cf.
Mesquita, 2002. Op. cit.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|9| Mesquita. Ma. Angélica F. (2002). A Regulação da Assistência Suplementar à Saúde: Legislação e Contexto
Institucional. In: Regulação & Saúde: Estrutura, Evolução e Perspectiva da Assistência Médica Suplementar.
Rio de Janeiro: ANS.
|10| Expressão utilizada no corpo da lei citada.
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& Santiago Jr. (2002)11, comentando a natureza e os objetivos da ANS, afirmam que os próprios
objetivos da Agência estarão em permanente (re)definição em resposta ao jogo de interesses
sobre os quais a ação reguladora intervirá.
Depreende-se do comentário desses autores citados, a atenção voltada para as mudanças
da área de regulação, condicionando os objetivos da entidade aos interesses dos agentes.
Diferentes aspectos, portanto, do funcionamento do mercado de saúde suplementar
têm comportado ações por parte de diferentes órgãos do aparelho de Estado, já de longa data,
às quais foram acrescidas as funções da nova Agência reguladora:
Econômico-financeiros.
Defesa da concorrência.
Garantia de cumprimento dos contratos.
Defesa do consumidor.
Preservação da qualidade do produto assistência à saúde.
Garantia de adequadas condições de acesso a assistência à saúde.
|11| CAMPOS, Anna M a & SANTIAGO Jr, D.(2002 página). Em Busca de um Sistema de Controle e Avaliação
da Agência Nacional de Saúde Suplementar. In: Regulação & Saúde. Rio de Janeiro: Min. da Saúde/ANS.
|12| No Brasil, as Autoridade Monetárias são Conselho Monetário Nacional CMN, o Banco Central do
Brasil Bacen, e o Conselho de Política Monetária COPOM. Vale lembrar o papel da Comissão de Valores
Mobiliários CVM, integrante do subsistema normativo do Sistema Financeiro, regulando e fiscalizando o
mercado de capitais.
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
2.1. As A u t o r i d a d e s Mo n e t á r i a s e o c o n t r o l e d o s a s p e c t o s
e c o n ô mi c o - f i n a n c e i r o s
O seguro saúde tem sua oferta inserida em uma estrutura oligopolista do âmbito das
finanças. Os conglomerados financeiros são os ofertantes do produto e atuam no mercado
financeiro como investidores institucionais. Analisando a questão sob a ótica do produto, o
seguro-saúde, em sua formatação atual, assume particularidades de produto financeiro14 e
como tal, deve seguir as regras estabelecidas pelas autoridades monetárias, como os demais
produtos do ramo. Assim, pela lógica científica, a regulamentação da dimensão econômico-
financeira e da formatação do produto tem a ver com as diretrizes gerais emanadas pelos ór-
gãos responsáveis pela condução da política econômica do País.
2.2. O Mi n i s t é r i o d a J u s t i ç a e a d e f e s a d a c o n c o r r ê n c i a
perfeita. Sicsú (2002) constata que para o caso específico do seguro-saúde o mercado é concen-
trado e se caracteriza por ser um oligopólio diferenciado.
Por outro lado, é importante salientar que é uma tarefa inglória para a própria Agência
estabelecer e monitorar o funcionamento dos inúmeros mercados regionais. A experiência da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA, é a descentralização para as Unidades Locais.
No caso da ANS pretender seguir o modelo da co-irmã, questiona-se: Para quem descentralizar?
Vale lembrar que as Unidades de Saúde locais não tem essa capacitação. Por isso há que se criar
uma metodologia para a consecução de tal objetivo. Sugere-se o desenvolvimento de parcerias
com núcleos acadêmicos e empresas que conjuguem conhecimentos de Economia e de Saúde.
Quando analisa, especificamente, a questão da regulamentação do seguro-saúde,
Ocké Reis 15(2001) afirma que a regulamentação, tal como vem sendo conduzida, a partir
das propostas do managed care, acabaria assim criando, paradoxalmente, bases institu-
cionais que favorecem uma crescente internacionalização e oligopolização do mercado de
planos de saúde.
O autor da assertiva, analisando o modelo brasileiro de regulamentação, afirma que
há uma forte tendência do mercado operar em estrutura oligopolista. A afirmação de Ocké
Reis induz ao entendimento de estrutura oligopolista, no sentido econômico, como um
grupo de empresas dominando a oferta do produto. Quanto ao termo internacionaliza-
ção, compreende-se como o domínio do mercado por empresas oriundas do exterior, onde já
tenha percorrido sua curva de aprendizado do negócio e, aproveitando as oportunidades
do mercado brasileiro, procuram alocar seus recursos disponíveis visando rentabilidade para
o capital investido.
De acordo com Andreazzi, quanto à concentração do mercado (2002:287) duas foram
as dificuldades encontradas: a informação e a delimitação do mercado relevante para a avaliação da
concentração. Ao nível nacional, parecem competir grandes seguradoras e medicinas de grupo, além
da Unimed, através de seus mecanismos de intercâmbio entre as singulares... O mercado parece
|15| Ocké Reis C. O. (2001). A Regulamentação dos Planos de Saúde: Uma Questão de Estado. Boletim de
Políticas Sociais. No 4. Brasília: IPEA.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !!
aproximar-se mais de um modelo de oligopólio não conivente, não organizado... ocorrendo ações
independentes das firmas, com menor exatidão com relação à reação das rivais e com guerras de
preços ou de marketing16... Considerando-se mercados regionais e locais, no entanto, é possível
que se encontre uma concentração maior do que ao nível nacional.
Um ponto de atenção dos analistas de políticas de saúde, é quanto à capacidade regulatória
do Estado frente às empresas estrangeiras que atuam no mercado brasileiro. Eles os analistas
afirmam que ajustar o mercado via incentivo governamental (subsídios para o setor) pode criar
condições para o ingresso de grupos econômicos internacionais, dificultando a capacidade
regulatória do Estado. Sobre o assunto, Ocké Reis (2001)17 diz em função da rigidez do tamanho
do mercado e dos custos crescentes do setor que a conseqüência inevitável seria uma acelerada
concentração do poder econômico. Isso tornaria ainda mais frágil a capacidade regulatória do
Estado no sentido de atenuar o primado do lucro e da radicalização da seleção de riscos tão
presentes na dinâmica de acumulação capitalista dos ofertantes, por exemplo, do seguro-saúde, o
que tanto prejudica tanto os consumidores quanto a própria sinergia do sistema de saúde.
C E N Á R I O S I N É R G I C O C O M D U P L A E N T R A DA PA R A O S L E S A D O S
PELAS PRÁTICAS MONOPOLÍSTICAS
ANS CADE
Metodologias de análise do mercado. Análise dos casos e parecer sobre
Monitoramento do mercado. casos de práticas monopolísticas.
Encaminhamento dos casos de agravo Análise e parecer sobre processos
à concorrência ao CADE com de fusões/aquisições.
parecer consultivo.
Parecer consultivo em fusões/
aquisições.
2.3. O Mi n i s t é r i o d a J u s t i ç a e a De f e s a d o s Co n s u mi d o r e s
Apuração de denúncias.
Informações e orientações dos consumidores, quanto aos seus direitos e garantias.
Fiscalização das relações de consumo e aplicação de sanções administrativas.
Quanto ao último ponto, Giovanella, Ribeiro e Costa (2002) referem que o assober-
bamento do órgão com o acolhimento e a apuração de denúncias individuais, muitas vezes,
não libera o tempo institucional necessário para uma ação mais preventiva. Por outro lado,
a busca da conciliação tem precedência na atuação do órgão.
Mesmo sob a égide da Lei 9.656/98, liberal para os consumidores, estes não se veêm
protegidos, ainda, pela regulação, o que ocorre, principalmente com os planos individuais. Há
brechas na legislação que permitiram reajustes diferenciados entre as faixas etárias18; ... A
segunda importante mudança trata da cobertura de urgência e emergência. De acordo com a
legislação, o usuário teria direito ao serviço a partir de 24 horas após a assinatura do contrato. E
poderia ser atendido em ambulatório ou internação por tempo indeterminado. Depois da
resolução 013, o consumidor perdeu o direito ao atendimento pelo período que o tratamento exigisse.
A emergência foi anulada dos pagamentos. Vale apenas ambulatório. Isso quer dizer que, se uma
pessoa quebrar a perna e tiver fratura exposta, necessitando de cirurgia, ela terá de pagar por tudo
o que for feito depois de 12 horas de atendimento... 19 Também os agravos para condições de
saúde pré-existentes acabaram sendo elevados, tornando proibitivos os prêmios.
|18| ...Os planos continuam reajustando da forma que bem entendem, observa a advogada do Idec (Insti-
tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor, uma ONG), Andrea Salazar in Ibid.
|19| Ibid.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !#
2.4. A d e f e s a d a É t i c a P r o f i s s i o n a l n a s
práticas profissionais de saúde
registro no CREMERJ para as empresas que operam no mercado de saúde suplementar. Esta
anuência quanto ao registro de empresas de saúde suplementar impede ao CREMERJ o pleno
exercício da fiscalização e regulação das questões éticas e técnicas da Medicina.
Outro tema abordado é a fiscalização da relação entre os médicos e as Operadoras de
Saúde, cujos poderes teriam sido outorgados à Agência no corpo da lei que a criou. Uma
relação onde, na visão da liderança entrevistada, os médicos são claramente hipossuficientes,
pois dependem do credenciamento para a viabilidade financeira. O editorial do Jornal do
CREMERJ, de abril de 2003, corrobora este sentimento quando menciona: Cabe pergun-
tarmos qual o papel da ANS, que se omite como órgão fiscalizador das operadoras por lei
(CREMERJ, 2003, no 151:2).
A relação deteriorada entre o CREMERJ e a ANS culminou com a representação pelo
CREMERJ junto ao Ministério Público Federal quanto à inércia e à omissão da ANS no
cumprimento de suas funções institucionais. O fruto desta representação contextualiza e
embasa a ação civil pública no 20005101030760-4 que tramita na 6a vara federal da seção ju-
diciária do Estado do Rio de Janeiro.
Há, entretanto, para citar o caso do Estado do Rio de Janeiro, experiências em vigor, que
exemplificam as possibilidades de sinergia entre o CREMERJ e a ANVISA e entre o CREMERJ
e o Ministério Público, que podem servir de modelo para a construção de um processo de si-
nergia semelhante entre a ANS e os Conselhos Profissionais no futuro, concretizando o com-
partilhamento institucional com a consolidação de parcerias profícuas. Compartilhamento
esse que pode envolver o encaminhamento de informações que demandem intervenções es-
pecíficas de cada instituição.
2.5. O Mi n i s t é r i o d a S a ú d e e o c o n t r o l e
da qualidade e do acesso
espaço privilegiado para as ações de planejamento, controle e avaliação das ações de saúde e do
controle social.
Por outro lado, a Lei 9.961, que estabelece competências e atribuições para a ANS, to-
mou um cunho centralizador, além de abrir mão do controle social, ao estabelecer mecanis-
mos não paritários de participação dos usuários. No que diz respeito à qualidade relativa à
prestação de serviços médicos e hospitalares, apresenta superposições a diversos órgãos do pró-
prio Ministério da Saúde e das demais esferas de Governo.
A Lei 9.961c que cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar e dá outras providências,
em seu Artigo 1o define a ANS como órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização das
atividades que garantam a assistência suplementar à saúde. No Artigo 3o, determina que a ANS
terá por finalidade institucional promover a defesa do interesse público na assistência suplementar
à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores e
consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no País. Entre as
competências listadas no Artigo 4o destacamos o V estabelecer parâmetros e indicadores de
qualidade e de cobertura em assistência à saúde para os serviços próprios e de terceiros oferecidos
pelas operadoras; o XXIV exercer o controle e a avaliação dos aspectos concernentes à garantia
de acesso, manutenção e qualidade dos serviços prestados, direta ou indiretamente, pelas
operadoras de planos privados de assistência à saúde; o XXV avaliar a capacidade técnico-
operacional das operadoras de planos privados de assistência à saúde para garantir a
compatibilidade da cobertura oferecida com os recursos disponíveis na área geográfica de
abrangência; e o XXVII fiscalizar aspectos concernentes às coberturas e o cumprimento da
legislação referente aos aspectos sanitários e epidemiológicos, relativos à prestação de serviços
médicos e hospitalares no âmbito da saúde suplementar; além do XXXVII zelar pela qualidade
dos serviços de assistência à saúde no âmbito da assistência à saúde suplementar.
Tais preceitos legais sugerem uma rede de assistência médico hospitalar exclusiva, para
atendimento de uma população isolada, fora dos conceitos de saúde enquanto direito universal
e responsabilidade de Estado firmado na Constituição. Tais premissas partem da idéia de que o
mercado de seguros e planos de saúde agem segundo seus próprios critérios no fornecimento e
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !'
contratação de serviços, não sofrendo influência e nem influenciando a oferta de serviços a ser
considerada nas programações pactuadas integradas intra e inter gestores do SUS.
Segundo Cordeiro, (2001:323), A lei 9.961/00 criou a nova agência, com atribuições de
regulação das operadoras, o que vêm sendo implantado de forma paralela ao Sistema Único de Saúde.
O planejamento pactuado integrado (SUS) não leva em conta o mercado de usuários do seguro-
saúde, nem a oferta de prestadores de serviços de saúde às operadoras de saúde suplementar. A
dissociação normativa e de planejamento fortalece a possibilidade de se segmentar o consumo de
saúde em múltiplos mercados internos de saúde, com competição regulada pela ANS e pela
SAS, até agora, seguindo critérios e diretrizes independentes entre as duas instituições.
Portanto, desenham-se, nos cenários futuros, a fragmentação e a segmentação entre diversas
clientelas de consumidores de serviços de saúde, cabendo ao Estado e aos gestores de saúde funções
regulatórias de ordenação de um mercado imperfeito de saúde.
Embora as ações que marcam a atuação da ANS no esforço de regulação do setor de
saúde suplementar venham se dando prioritariamente junto às operadoras de planos de saúde,
no que diz respeito aos aspectos financeiros desta operação, e às garantias de cobertura e de
assistência a seus assegurados, as questões referentes à fiscalização da qualidade dos serviços
prestados pelos prestadores de saúde estão colocadas na referida lei.
No nosso entender, todo o desenvolvimento conceitual a respeito da saúde que culmina
com a Constituição de 1988, e é consolidada pela Lei Orgânica da Saúde e insistentemente
trabalhada através de portarias e normas operacionais do Ministério da Saúde e legisla-
ções complementares, apontam para uma visão de saúde abrangente. Visão de saúde essa de-
terminada por um conjunto de fatores sociais, econômicos, ambientais, culturais e na maioria
das vezes decorrentes de políticas sociais e econômicas mais amplas, implementadas no
conjunto da sociedade.
Tais fatores interagem com questões locais e mesmo atitudes e hábitos pessoais, ele-
gendo o espaço local como principal palco onde interagem atores, fatores e circunstâncias deter-
minantes da saúde. Estas premissas nortearam toda a estratégia de desenvolvimento do SUS
pelo fortalecimento do nível municipal de gestão, através de seu gestor único e do conselho
municipal de saúde.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Até mesmo algumas atribuições técnicas bastante específicas como algumas das
desempenhadas pela fiscalização sanitária, encontraram na descentralização e no envolvimento
de todas as esferas do SUS, através do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, sua principal
forma de implementação.
A maior parte da rede de serviços privados de saúde foi criada e desenvolvida através de
investimentos, da contratação e do subsídio público dado ao setor privado, principalmente
através de renúncia fiscal. Esta rede permanece, em sua grande maioria, fornecendo serviços ao
SUS. Não parece, assim, oportuna a criação de uma nova rede local de fiscalização e controle dos
serviços de saúde, que opere em paralelo aos organismos de gestão do SUS e à própria Vigilância
Sanitária (ANVISA). O fortalecimento destes mecanismos de gestão, controle e avaliação que já
deveriam estar abrangendo algo em torno de 70% da rede privada, permitiria maior agilidade e
eficiência, com economia de recursos.
Segundo dados da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária AMS 2002, do IBGE, 70%
dos estabelecimentos privados com internação possuem algum tipo de contrato com o SUS.
Estes estabelecimentos detêm 83% dos leitos existentes em estabelecimentos privados de saúde,
permanecendo apenas 17% dos leitos em estabelecimentos privados sem nenhum tipo de
relacionamento com o SUS.
O controle de qualidade da prestação de serviços de saúde tem como nível de análise
básico, portanto, o estabelecimento de saúde que possui convênios, em geral, com várias
operadoras de planos de saúde, além do próprio SUS. Esse nível já conta no sistema nacional de
vigilância sanitária seu lócus primário de regulação e no sistema de acreditação, de melhoria
contínua. As ações resolutivas de problemas beneficiam o conjunto dos planos de saúde. De
outro modo, induzir o controle através das operadoras teria como ação mais radical o des-
credenciamento do serviço de saúde, apenas, daquele plano, o que, obviamente, não ga-
rante segurança da prestação de serviços para o conjunto da população.
Como apresentado em Andreazzi (2002:225), até os anos 80 era consenso que o seguro
social representava a principal fonte de financiamento dos serviços privados de saúde no
Brasil. Esse quadro, a partir daí, se modifica, refletindo uma extrema contenção de despesas nos
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "
Mesmo que a ANS opte por um modelo descentralizado, contando com uma maior
participação do gestor do SUS na fiscalização e controle da qualidade dos serviços prestados em
nível local, tais ações não poderiam se dar sem uma profunda reformulação do papel atualmente
desempenhado por este gestor (PINHEIRO, 2003), que deveria passar a ocupar um papel mais
estratégico em relação ao setor saúde e não, apenas, do segmento estatal. Além de fiscalizar e
planejar as ações, investimentos e incorporação tecnológica dos serviços próprios deveria
acompanhar todo o setor saúde, e não somente o contratado pelo SUS.
Caberia à ANS para a implantação de um modelo de regulação, descentralizado, da
qualidade do atendimento prestado ao usuário de planos de saúde desenvolver um sistema de
informações capaz de alimentar o gestor local com dados e indicadores de cobertura, acesso e
utilização, dos usuários cobertos por planos privados de saúde, disponibilizados segundo
estrutura de distribuição geográfica (municipal). Os gestores locais retornariam para a ANS
informações sobre a adequação da rede, capacidade de cobertura e qualidade do atendimento.
Permaneceria no âmbito da ANS (nacional) a avaliação dos aspectos da qualidade inerentes ao
funcionamento das operadoras de planos de saúde condições de acesso, mecanismos de
regulação podendo desenvolver análises e cruzamentos entre os dados de prestadores de serviço
e gestores locais e aqueles fornecidos pelas próprias operadoras.
Através dessa estratégia de regulação, contando com o envolvimento das demais
estruturas de gestão e controle de qualidade do SUS, a ANS estaria desempenhando suas
atribuições legais de forma mais eficiente e abrangente. Agregaria toda uma dimensão de
proximidade com os prestadores de serviço e usuários, que de outra feita, demandariam
custos avantajados de instalação e operação e resultariam em conflitos e dificuldades de
implementação.
Por outro lado, o fortalecimento dos níveis de gestão local do SUS, que passariam a
desempenhar um papel de planejamento, fiscalização e controle sobre a totalidade da rede
de serviços de saúde de sua região, ampliaria seu poder de decisão e barganha sobre os con-
tratos do SUS. Isso possibilitaria uma maior racionalidade e/ou eficiência na utilização e in-
corporação de recursos, principalmente daqueles de maior complexidade e custo, que
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F ÓR U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "!
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Restrições de Informações, Custos
de Transação e Ambiente Regulatório
em Saúde Suplementar
José Mendes Ribeiro 1
INTRODUÇÃO
O mercado de saúde suplementar no Brasil e o novo regime regulatório têm sido objetos
cada vez mais freqüentes de estudos, de análises e de ensaios publicados na imprensa geral, em
livros e em periódicos científicos. O padrão dominante nestas publicações tem sido a descrição
do setor e de empresas participantes, os novos marcos regulatórios, a manifestação de interesses
estruturados e a sua inserção no debate da Reforma do Estado. Em comum são apontados os
problemas relacionados a falhas de mercado e assimetrias de informações, embora as soluções
acerca das melhores soluções (em geral em torno de maior ou menor intensidade regulatória
governamental) sejam freqüentemente divergentes. Assimetrias de informações são observadas
como características de mercados em geral e tendem a se tornar mais relevantes em ambientes
de elevada e acelerada incorporação tecnológica (como em grandes indústrias) e em serviços
onde profissionais concentram alto poder decisório (como na área da saúde). Por sua vez, faltam
estudos robustos e evidências empíricas acerca dos mecanismos de decisão dos agentes que
atuam nos mercados de saúde suplementar no Brasil.
Risco moral e seleção adversa são comumente apontados na origem de falhas de mercado
na prestação de serviços de saúde. Por sua vez, outros fatores influenciam as decisões adotadas
por empresas e profissionais que atuam nos mercados de saúde e dizem respeito aos mecanismos
REGULAÇÃO E GOVERNANÇA
(LAFFONT & TIROLE, 1993). A seleção adversa se expressa de modo intenso no jogo regulatório
quando empresas controlam o fluxo das informações e orientam os reguladores em direções de
seu interesse ou os sobrecarregam com excesso de informações de processamento difícil. Em
ambas situações os reguladores encontram dificuldades em obter as informações adequadas ou
em entender os movimentos e interesses das empresas e implica no melhor conhecimento das
empresas sobre os aspectos tecnológicos do setor do que os agentes reguladores.
A restrições de características transacionais dizem respeito à natureza dos contratos e
crescem na medida em que os fatores passíveis de intervirem na relação contratual sejam pouco
previsíveis e de formulação difícil (LAFFONT & TIROLE, 1993). Desta forma o impacto dos custos
transacionais são mais intensos em setores de elevada densidade tecnológica. Neste caso,
ao tratar o contrato como incompleto, as teorias de custos transacionais, como discutido adian-
te a partir de Williamson (1985; 1996), dão menor ênfase aos efeitos das falhas informacionais,
as quais são mais típicas de teorias dos contratos completos.
As restrições de caráter administrativo e político envolvem aspectos institucionais do
jogo regulatório. Laffont & Tirole (1993) destacam elementos como a limitação do escopo da
regulação (que afasta setores e indústrias correlatas ou associadas às empresas controladas);
limitação no uso de instrumentos; limitação no horizonte de tempo; aspectos vinculados aos
procedimentos (como modo de coletar informações ou empresas). As restrições políticas são
evidentes e dizem respeito ao sistema político de cada país e aos interesses específicos de políticos
em determinado setor regulado da economia.
O enfoque microanalítico e organizacional adotado por Williamson (1985; 1996) ao
tratar dos custos de transação, por sua vez, orienta os estudos sobre regulação e ações entre
agentes para o campo multidisciplinar da economia, do direito e da administração. Na medida
em que bens e serviços se diferenciam em termos tecnológicos e aumentam as incertezas
contratuais, mecanismos de governança são introduzidos pelos agentes de modo a controlar
estas incertezas e orientar escolhas cuja racionalidade não pode ser completa. Desta forma,
teorias de custos transacionais submetem os problemas de assimetrias informacionais às lógicas
embutidas em contratos e nas estratégias das empresas em economizar os custos aí envolvidos.
# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
absoluto, mas sim sujeitas aos custos de transação que podem dificultar ou impedir a
formação de mercados.
Embora as teorias de custos transacionais sejam fundamentalmente orientadas aos
setores industriais, assim como as teorias regulatórias contemporâneas discutidas adiante um
conjunto de pressupostos, fundamentos e orientações gerais , podem ser resumidas de modo
a considerar a sua aplicação a setores de serviços.
O principal pressuposto quando se consideram mercados em saúde diz respeito aos
padrões de racionalidade. Como discutiremos adiante, a literatura sobre mercados em serviços
de saúde enfatizam os aspectos informacionais, as assimetrias entre agentes e suas estratégias.
Neste jogo, risco moral e seleção adversa seriam condições endêmicas objetivas. Como
assinala Williamson, para os contratos de maior complexidade no setor industrial, e como uma
tendência a setores cada vez mais amplos da economia, a racionalidade é limitada, amarrada
(bounded rationality). A impossibilidade de obtenção de informações completas e de seu
processamento mental adequado pelos indivíduos coloca em relevância os mecanismos de
governança no âmbito dos contratos. Desta forma, como assinalado anteriormente, as-
simetrias informacionais podem ser manejadas como atritos, assim como as condições
oportunistas. Estes fatores inerentes às relações contratuais podem ser manejados mais
adequadamente por mecanismos contratuais que incluam arbitragem, revisão de decisão,
flexibilidade contratual, e diversos outros fatores de atualização e adaptação de decisões. O
balanço entre maiores ou menores custos de transação seriam os principais fatores a orientar a
solução organizacional decorrente da relação entre agentes. Caso a integração vertical e a
incorporação à empresa reduzam o atrito, a hierarquização se institui como solução. Caso
os problemas de déficit de incentivos inerentes às relações internas às empresas e grandes
organizações sejam elevados, como bem expressam as teorias principal x agent, a boa gover-
nança contratual pode orientar soluções como terceirizações e contratualização direta
entre empresas ou indivíduos.
Nesta abordagem institucionalista, os problemas associados à informação tendem a
ser incorporados aos cálculos institucionais determinados pelos custos transacionais. A di-
# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
chamada a elaborar o seu código de condutas para evitar que o Estado proponha padrões
exagerados ou tecnologicamente defasados. A vantagem se refere aos casos de alta especiali-
zação das atividades das empresas. O código escrito deve estar adequado às estratégias do Es-
tado e uma vez rompido, o regulador sobe na escala punitiva estatal. Outro modelo delegativo
é o da intervenção parcial no ramo industrial, onde o Estado regula apenas parte da indústria,
esperando que as demais empresas do ramo acompanhem o padrão estabelecido. O foco pode
estar na empresa principal, para gerar um padrão de conduta dominante, ou nas mais fracas,
para melhorar seu desempenho.
No caso do setor saúde no Brasil, este modelo poderia ser aplicado com variações de
tripartismo e de intervenção estatal escalonada segundo o setor (pirâmide de intervenção),
embora inovações como a regulação parcial de empresas por ramo industrial (medicamentos,
equipamentos médicos) ou auto-regulação controlada possam gerar cooperação e redução
de custos de transação na política regulatória. O pressuposto básico do modelo de Ayres &
Braithwaite está nas vantagens das condutas cooperativas, fundadas nas orientações socio-
trópicas dos agentes, sobre as maximizadoras, fundadas na racionalidade econômica.
que orientam as relações contratuais) são vantajosas na compreensão do jogo regulatório nestes
setores e eventos recentes nestes mercados nos EUA mostram que intervenção governamen-
tal, integração vertical e delegação evoluem, por meio de inovações, para novos equilíbrios.
Dessa maneira, seja em função de custos administrativos ampliados pelo managed care, ou
pela necessidade de comunitarizar em larga escala os riscos para todos os participantes, os mo-
delos neoclássicos excessivamente orientados às assimetrias informacionais podem ser insu-
ficientes para explicar as inovações organizacionais em curso.
Sucessivas crises no sistema de atenção à saúde nos EUA têm sido destacadas e o debate
da Reforma Clinton, assim como a recente crise do managed care, são suas expressões recentes
mais relevantes. A proposta de reforma do setor saúde nos Estados Unidos na década de 1990 e
a rápida expansão da atenção gerenciada (managed care) são movimentos muitas vezes vistos
como correlatos em meios políticos e acadêmicos. A maciça incorporação de clientelas aos
planos e seguros de assistência médica e hospitalar deixou de fora importantes contingentes
norte-americanos, seja pelo desemprego ou por inserção fraca no mercado de trabalho. As
regras de acesso de clientelas aos programas públicos federais e estaduais impedem a cobertura
de um grande número de não-segurados, na medida em que os sistemas públicos (União e
Estados) não são universalistas. O controle sobre os custos crescentes da atenção médica e o
impacto da população não coberta por programas públicos, planos vinculados ao emprego e
aqueles financiados individualmente, funcionam como fatores que impulsionam inovações
por parte de governos e empresas, apesar da derrota política da reforma proposta pela admi-
nistração. A baixa crença na capacidade governamental em resolver problemas sociais e um
passado repleto de reformas incrementais decorrentes de ajustes de interesses conjunturais,
teriam tornado demasiadamente complexa a articulação de interesses no setor de difícil con-
versão a um sistema planejado e eqüitativo (KIRKMAN-LIFF, 1998).
O resultado das transformações aceleradas a partir da década de 1970 na direção da
atenção gerenciada, uma resposta de mercados aos custos ampliados da assistência médica,
levou ao predomínio das diferentes organizações provedoras de serviços e de suas estratégias
gerenciais de seleção de risco e controle de custos. A Reforma Clinton buscou resolver a crise do
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setor por meio de soluções orientadas a mudanças nos mecanismos de governança que re-
gem a ação dos grupos atuantes nestes mercados, como resultado de uma vigorosa intervenção
governamental. A reforma almejou combinar padronização dos planos, cobertura universal e
mudanças na estrutura de incentivos do managed care e dos seguros indenizatórios, buscando
direcionar a pesada microrregulação rumo a práticas cooperativas entre empregadores, mé-
dicos e pacientes, basicamente pela adoção da orçamentação global.
A comunitarização (pooling) dos riscos para grandes contingentes de beneficiários
representaria solução adequada tanto em termos de custos transacionais (maior integração
vertical e hierarquização das relações entre agentes) e redução dos efeitos de estratégias maxi-
mizadoras endógenas (moral hazard) ou exógenas (adverse selection). Em meio aos impulsos
reformadores, muitos formuladores almejaram a cobertura universal por serviços de saúde,
mesmo que não acompanhada pela criação de um sistema nacional de saúde de corte euro-
peu (STARR, 1994).
Em função da adoção de estratégias de managed care pelo principal programa público
norte-americano (o Medicare), os objetivos da reforma (ampliação de cobertura e controle de
custos) se combinam a estes modelos de microrregulação. No Brasil, a difusão é mais intensa
no que se refere ao managed care como um item que encontra apoio com relação à sua pos-
sível capacidade de controlar custos médicos (ANDRADE & LISBOA, 2000) e restrições por parte de
organizações médicas e de defesa de consumidores pela possível perda de qualidade dos serviços.
A assistência à saúde nos EUA, como é sabido, ao contrário da maioria dos países de-
senvolvidos, se caracteriza pelo predomínio do mercado na provisão de serviços, embora a
participação estatal seja substancial e componha um mix com o setor privado. A configuração
básica e as diferentes articulações entre os setores é resumida a seguir. Os programas públicos
estão concentrados no sistema Medicare-Medicaid, embora existam programas federais
voltados a segmentos como veteranos e populações indígenas. O Medicare é um programa
financiado pelo governo federal, voltado para a população idosa, acima de 65 anos de idade, e
incapacitados permanentes, com participação dos associados (elegíveis) conforme o padrão
de utilização dos serviços. A cobertura hospitalar, mesmo que sujeita a mecanismos de co-
pagamento, representa um direito decorrente de impostos pagos pelos assalariados para o
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seguro social. Com relação aos demais serviços, o grupo formado pelas despesas com médicos
e tratamento extra-hospitalar é coberto por prêmios mensais dos associados e aportes fede-
rais anuais. Existem abatimentos fiscais anuais pelas despesas médicas efetuadas. Os médi-
cos podem cobrar dos pacientes no Medicare acima da tabela negociada e muitos associados
compram seguros complementares para cobrir estes gastos adicionais, cujas despesas geram
também abatimentos fiscais. O Medicaid, focalizado na população pobre, após definidos pa-
râmetros sociais e mecanismos de comprovação, é administrado pelos governos estaduais
por meio de co-financiamento do governo federal. Os critérios de elegibilidade e padrão de
implementação diferem bastante entre os diferentes Estados. Os médicos credenciados
usualmente não cobram acima da tabela.
A década de 1980 se caracterizou pela explosão de custos na assistência médica e alta
diferenciação no tipo de provisão e mecanismos de acesso aos serviços médicos. O impacto dos
custos sobre os orçamentos governamentais estimulou a adoção de medidas reguladoras.
As grandes corporações criaram seus próprios seguros (self-insurance). Foi neste período que
se deu a expansão dos antigos planos de pré-pagamento, depois transformados em em-
presas praticantes de uma vigorosa microrregulação e controle de custos, denominadas
empresas de atenção à saúde (Health Maintenance Organizations HMO). Os planos de atenção
gerenciada buscaram modificar o sistema de pagamentos por serviço (fee-for-service), conside-
rado gerador de custos elevados, de incorporação ilimitada de tecnologias e indutor de exa-
gerada especialização médica.
Como estratégias de controle dos custos, os programas governamentais introduzi-
ram os pagamentos por admissão (Diagnose-related Groups DRG) e as tabelas de pagamentos
médicos. As HMO aplicaram mecanismos de revisão de custos e controlaram o acesso dos
beneficiários por meio de médicos de atenção primária (gatekeepers) autorizadores de pro-
cedimentos mais complexos. As seguradoras ampliaram as práticas de seleção de risco, pri-
vilegiando grupos de menor consumo. O sistema de cobertura ampliada, esperado a partir da
expansão destes mercados, chegou ao início da década de 1990 na forma de um sistema forte-
mente excludente. Inicialmente a cobertura universal (ou altamente abrangente) era prevista
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Após duas décadas o conceito originário das HMO foi ampliado para o de managed
care, inicialmente pela incorporação das IPA e depois pela própria generalização dos gatekeepers
para os demais planos. A noção de atenção gerenciada se alargou de modo a incluir redes de
provedores que oferecem aos associados maior cobertura em troca da aceitação das taxas dos
planos. Nestas redes de provedores, ao contrário das HMO, são oferecidas coberturas fora dos
planos. O conceito acabou por incorporar inclusive planos de reembolso de pagamentos diretos
(seguros indenizatórios) quando acompanhados de técnicas de controle médico, como revisão
de utilização, perdendo a conotação inicial de gerenciamento de planos baseados na capitação
(financiamento prospectivo).
Apesar da amplitude com a qual são utilizados os termos atenção gerenciada (estratégia)
e HMO (organização), estes podem ser resumidos na utilização de mecanismos de controle de
custos médicos que suprimem e reduzem os pagamentos por serviços, em favor de modalidades
alternativas como orçamentação global, capitação, assalariamento. A exigência de autorização
por médicos de atenção primária para o acesso a serviços de maior complexidade e custo reduz
o escopo da livre escolha pelos beneficiários. Mecanismos de controle sobre a decisão médica,
por meio de revisão de prontuário, e estratégias para compartilhar os riscos financeiros das
empresas com os médicos, afetam a autonomia profissional médica. No conjunto, a atenção
gerenciada e as HMO afetaram, por mecanismos diversos, os pilares da assistência médica nos
EUA: pagamentos por serviço, livre escolha de médicos pelos pacientes e inviolabilidade das
decisões médicas. O grau diferenciado de ataque a estes fundamentos pelas organizações que
atuam no setor explica a grande variedade de modalidades atualmente observada e discutida
mais adiante. O quadro abaixo, adaptado a partir de Robinson & Steiner (1998), resume as
mudanças nas relações entre médicos e clientes determinadas pelos novos arranjos.
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M O D E LO S D E O F E RTA D E S E RV I Ç O S M É D I C O S N O S E UA
Com a diversificação dos produtos, a atenção diferenciada passou a ter sua imagem
associada a mecanismos de controle nos quais burocratas e enfermeiras ficam ao telefone
negando autorizações de pagamentos (STARR, 1994). A noção de atenção gerenciada é comu-
mente associada aos seguros de saúde contratados pelos empregadores, embora se obser-
vem modalidades individuais mais dispendiosas pela tendência dos mais afeitos a doenças
procurarem mais diretamente a contratação dos seguros.
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staff, sem compartilhar riscos, embora a organização possa penalizar o uso de recursos
provedores por capitação e estes grupos regulam o trabalho médico. Os grupos ou médicos
individuais podem ser exclusivos ou não e a exclusividade pode variar também conforme o tipo
de prática, embora o padrão dominante seja o contrato não exclusivo. Os programas gover-
situações que tornam cada vez mais difícil a tipificação das empresas. Dentro de cada arranjo
específico, como os descritos acima, existem diferenças com relação às formas de pagamento
de acesso dos beneficiários aos serviços. Com a complexidade crescente dos contratos, desenhos
organizacionais, mercados competitivos e múltiplos controles sobre médicos e hospitais,
decisões médicas. As tecnologias utilizadas visam tornar mais previsível o consumo tecnológico
nos planos e se observa uma ênfase crescente das operadoras no estímulo à prevenção de doenças
e a intervenções precoces e simplificadas para reduzir as mais custosas e tardias. As estratégias
variam desde incentivos financeiros diretos até a indução a comportamentos adequados dos
pacientes, sem deixar de lado controles diretos sobre a decisão médica. Os incentivos financeiros
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praticados junto aos médicos ou organizações são distribuídos por diferentes modalidades
Revisão detalhada sobre estudos acerca do efeito das tecnologias de atenção gerenciada
sobre os custos e a qualidade dos serviços (ROBINSON & STEINER,1998) mostrou, embora com
controvérsias, menor utilização de hospitais, maiores taxas de atenção preventiva e níveis
comparáveis de qualidade com relação à atenção médica provida exclusivamente com base no
pagamento por serviço. Por outro lado, a satisfação dos pacientes mostrou-se inferior em um
número maior de estudos realizados.
A forte expansão da atenção gerenciada estimula alguns clamores por intervenções
regulatórias pelos governos estaduais e federal. Por outro lado, o sucesso obtido na desa-
celeração da elevação de custos na atenção à saúde gera confiança em soluções de mercado. Por
sua vez, alguns autores identificam maior aceitação pelas grandes empresas de atenção
gerenciada por algum tipo de regulação devido a conflitos de base federativa. Existe maior re-
gulação pelos governos estaduais e, na medida em que as organizações têm caráter nacional, os
custos de adaptação a regras diferenciadas são elevados, tornando a intervenção federal aceitá-
$& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
vel dependendo de sua amplitude (MORAN, 1997). Outros lembram que as forças de mercado
podem promover uma regulação adequada, nomeando a atenção gerenciada como uma
resposta à espiral de custos crescentes na atenção à saúde, mas ressaltam que devido às
características especiais do mercado para o managed care, as forças de mercado por si falham
em produzir uma alocação eficiente e equitativa dos recursos de atenção à saúde. A ação coletiva
é necessária (ENTHOVEN & SINGER, 1997).
A regulação setorial varia quanto ao modelo (auto-regulação versus regulação gover-
namental) ou objeto (médicos e/ou organizações privadas e públicas). Apesar da eficiência dos
esquemas regulatórios no controle de custos, existe menor consenso com relação à qualidade
dos serviços prestados. As evidências são insuficientes em demonstrar que a regulação tenha
aprimorado a qualidade da atenção à saúde, o que favorece uma combinação entre auto-regu-
lação e inovações, desde que a agência regulatória seja capaz de punir aqueles que não participem
de programas razoáveis (BRENNAN, 1998).
Estes arranjos amadurecidos e desenvolvidos ao longo de um século, altamente dife-
renciado segundo mercados, regiões e corporações envolvidas, apresenta freqüentemente situa-
ções de crise que estimulam o surgimento de propostas reformadoras. Os principais com-
ponentes da crise envolvem a não cobertura de importantes segmentos populacionais, o im-
pacto de custos sobre o financiamento público e das empresas e a percepção crescente de um
impacto negativo sobre a qualidade decorrente das estratégias de controle de custos pelas
operadoras. Dois diagnósticos são comumente apresentados para definir a crise. O primeiro
destaca os custos crescentes como resultado de maior expectativa de vida, aumento da demanda
por serviços, novas tecnologias e processos sobre erros médicos. Em seu conjunto apontam
para os sucessos do sistema e induzem a propostas pontuais de reforma. O segundo destaca os
problemas decorrentes da estrutura organizacional do sistema e do financiamento da atenção
à saúde. Este enfoque induz a propostas de reforma global do sistema.
Estes números devem ser ainda observados, para fins de impacto nos orçamentos
domésticos, levando-se em conta o elevado volume de desembolso direto, por parte dos segu-
rados, decorrente do pagamento de prêmios e diversas formas de co-pagamento que atingem
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os beneficiários de planos patrocinados por empresas. Estudo recente para medir o impacto do
desembolso direto (out of pocket), mostra que indivíduos de meia-idade não cobertos por
seguros privados e não elegíveis ao Medicare apresentaram, após acompanhamento por dois
anos, despesas diretas em saúde muito pouco superiores aos segurados. Para isto recorreram
a autolimitação no consumo médico e no acesso a redes sociais e ao Medicaid em situações
mais agudas, buscando contornar o impacto das chamadas despesas catastróficas (JOHNSON
& CRYSTAL, 2000).
Seguindo o mesmo ceticismo acerca da capacidade de controle de custos via managed
care, Gold (1999) apontou para os principais cenários em jogo:
pluralismo continuado: o sistema se mantém pluralista, com peso substancial
do setor privado e a presença continuada de uma grande população não segurada
demandando alternativas;
lacunas de cobertura: em 1997 o equivalente a 6,5 em cada dez norte-americanos
com menos de 65 anos tinham seguro privado de grupo ou individual; os de-
mais eram não-segurados ou cobertos pelo Medicaid e 15% de todas as crianças
não tinham seguro;
reforço no papel do comprador e impulso à atenção gerenciada: compradores
públicos ou privados dominam a cena política e consolidam a atenção geren-
ciada como a principal alternativa ao alto custo, gerando produtos cada vez
mais complexos decorrentes da crescente filiação aos planos;
aumento na partilha de custos dos empregados: em 1996 os empregados pa-
gavam em média cerca de 30% do prêmio para cobertura familiar e 22% para
individual (em 1988 era de 26% e 10%, respectivamente). Entre 1980 e 1993, a par-
ticipação daqueles com cobertura individual sem custo caiu de 72% para 37%;
mudanças contínuas, mas lentas na prática clínica: a oferta clínica responde à
tendência dos sistemas de saúde se tornarem cada vez mais submetidos a avaliações.
por exemplo, estão caindo. Em 1994, quase 90% delas eram lucrativas, mas em 1997 este
percentual caiu para apenas 49%. Se os planos não se tornarem mais eficientes em resposta às
pressões dos empregadores contra o aumento de prêmios, as soluções tendem a envolver
diminuição de cobertura ou aumento da partilha de custos. Neste sentido, a atenção gerenciada
não representa um golpe fatal para a contenção de custos e a questão central reside em como
prover maiores quantidades por menores custos e para quais clientelas, principalmente pelo
fato do conhecimento tecnológico exceder rapidamente a quantia que aqueles que pagam a conta
final acreditam poder ou desejar pagar.
O quadro descrito acima sugere que mecanismos institucionais estão envolvidos nas
decisões adotadas por governos, empresas e beneficiários, para além das estratégias maxi-
mizadoras de cunho informacional e que as soluções políticas para estes mercados são não
apenas freqüentemente demandadas por diversos setores da economia como, a princípio,
necessárias para a sustentação deste modelo de provisão de serviços de saúde.
O quadro se torna mais complexo com a recente recessão norte-americana e a contração
no mercado de trabalho. Isto associado à crise das HMO onde, como antecipado, muitas das
estratégias de controle de custos, especialmente a interposição dos gatekeepers ao livre acesso dos
beneficiários, são vistas como fatores que comprometem a qualidade da atenção.
A eficiência das HMO no controle de custos da atenção à saúde, assim como o conjunto
de tecnologias de managed care, enfrentou o desafio da qualidade e movimentos recentes nos
diferentes mercados norte-americanos sugerem a adoção de novas estratégias das HMO, no
sentido de equilibrar de modo mais atraente, para empregadores e beneficiários, o trade off com
eficiência e qualidade. As restrições de acesso podem ser responsáveis pelo menor número de
associados a estes planos no período 1999-2000 (menos 1% em termos de filiados e menos 9%
em termos de empresas). Eventos recentes têm revelado pressões crescentes de empregadores e
de consumidores quanto a aspectos contratuais, como a maior participação de pagamentos
diretos a médicos (fee-for-service) e por casos clínicos e cirúrgicos para os hospitais. Agências
reguladoras estaduais e federais têm atuado sobre as modalidades contratuais em resposta a
estas pressões de consumidores.
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ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE
CUSTOS DE TRANSAÇÃO
altamente relevantes são integrados e internalizam incentivos cujo objetivo principal está
justamente em reduzir custos transacionais elevados característicos do managed care e das HMO.
São exemplos a disseminação de grupos de médicos provedores, serviços e as associações entre
empresas compradoras de planos de saúde.
Com relação aos médicos, em função da persistência de esferas de autonomia e
independência técnica, o custo da regulação do processo decisório destes profissionais se
mostra muito elevado e com impacto, muitas vezes, sobre a qualidade. Por outro lado, a
renúncia ao controle e o uso extensivo dos mecanismos de fee-for-service, como visto,
apresentam fortes efeitos sobre os custos. As inovações mais recentes desenvolvidas no Estado
da Califórnia se orientam para soluções onde os médicos se associam em empresas presta-
doras de serviços para as HMO e, mediante mecanismos de capitação e pré-pagamento,
assumem o risco dos associados e as funções do managed care. O efeito esperado é que, in-
teressados em manter qualidade (nível elevado de filiados), exerçam controle mais eficiente da
atenção aos beneficiários. Desta forma, os custos transacionais seriam reduzidos de modo
substantivo. Os resultados, auspiciosos de início, se mostram contraditórios segundo as
últimas evidências empíricas.
O modelo da Califórnia se expandiu rapidamente, chegando a cobrir cerca de 16 milhões
de beneficiários por meio de HMO que contratam em torno de 250 organizações de médicos.
Este amplo mercado, incentivado por decisões de agências reguladoras locais, no entanto se
encontra em crise, com as organizações médicas reduzindo a expansão territorial, a capitação
para itens mais caros como hospitais e medicamentos e efetuando fusões entre grupos e
consolidações com hospitais (ROBINSON, 2001). A aceitação do novo modelo, observado também
em outras regiões do país, decorre da reação dos consumidores à forte integração da oferta de
serviços promovida pelas HMO. Neste sentido, as organizações médicas promovem um tipo de
integração da assistência voltada a substituir a pulverização de contratos e condições de acesso
negociados entre as HMO e médicos individuais. Caso estas inovações, em vez de alcançarem
um equilíbrio em novo ponto, e ajustado à vigente recessão econômica norte-americana,
enfrentem um colapso, os motivos centrais seriam decorrentes do fato dos ganhos de eficiência
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obtidos pela expansão dos grupos médicos terem sido consumidos pela ineficiência caracte-
rística de organizações grandes e complexas, especialmente quando resultantes de fusões e
incorporações (ROBINSON, 2001).
Os processos em curso na distribuição entre mercados e hierarquias, como apontado a
partir de Williamson (1985), podem ser adaptados para compreender as soluções organiza-
cionais em mercados de atenção à saúde. Dados obtidos em estudo sobre o modelo califor-
niano de delegação do managed care para grupos médicos são ilustrativos (ROSENTHAL et al.,
2001). Os dados obtidos mostram que os contratos por meio de capitação, de caráter pros-
pectivo, e a absorção de parte dos riscos financeiros em conjunto com as HMO são as caracte-
rísticas dominantes do modelo de financiamento e as respostas das organizações médicas,
após a fase inicial de expansão desde finais da década de 1990, foi orientada para a realização de
parcerias com hospitais, além de maior utilização de empresas especializadas na administração
de planos. Os resultados têm apontado para um arranjo onde predominam estruturas hí-
bridas, porém de maior porte.
Este modelo, ao preservar estoques de autonomia médica e delegarem a microrregulação
aos médicos, se baseia no fato dos médicos serem incentivados, em nome do risco compartilhado
com as HMO, a agirem adequadamente em termos do equilíbrio entre eficiência e qualidade.
No entanto, autores apontam para a falta de um caso exitoso plenamente documentado em
torno destas expectativas. Para Casalino (2001), a experiência ainda não comprovou que estes
novos arranjos coordenam a competição de modo adequado, pois as estruturas de incentivos
estimulam mais as decisões em torno de alavancagem de mercado por grupos médicos e con-
trole de custos, em vez de premiar de modo mais intenso os ganhos de qualidade e a própria
eficiência de cada ato médico.
Com relação aos empregadores, que formam com os programas governamentais, os
principais financiadores das seguradoras e operadoras de planos de saúde nos EUA, se observam
experiências na direção oposta. Ou seja, a busca por reduzir o grau de delegação da estrutura de
oferta de serviços às HMO. No caso, experiências recentes no Estado de Minnesota, também
observadas em outras regiões do país, apontam para estratégias empresariais típicas do
consumerismo, onde os empregadores formam grupos de compradores, estruturam planos
%" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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em branco
O Setor de Saúde Suplementar:
acesso e cobertura populacional
Lui z Fe l i pe da Si l v a Pi nt o 1
Este artigo tem como objetivo central traçar o perfil do acesso e cobertura dos serviços
de saúde suplementar. Para isso, considera seus três componentes que, juntos, compõem seu
perfil: as operadoras, os prestadores de serviço (unidades de saúde) e os beneficiários,
incorporando aos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE, 1998),
duas outras bases: AMS/IBGE (2002) e tabulações especiais do Cadastro de Operadoras,
Prestadores e Beneficiários da ANS.
Em que pesem as funções definidas na agenda da regulação pela ANS, não se deve perder
de vista que o acesso, a utilização e a cobertura populacional em planos de saúde precisam ser
periodicamente monitorados, em particular a análise do mercado privado na Região Sudeste,
que concentra 70% da população coberta por planos de saúde. Também, são necessários es-
tudos mais detalhados sobre as capitais brasileiras, que constituem grandes centros de con-
centração de clientela e investigações mais detalhadas para os subgrupos etários que mais
acessam os serviços de saúde: crianças menores de cinco anos, mulheres em idade fértil e idosos.
Os planos privados de assistência à saúde atuam no sistema de saúde brasileiro, con-
figurando-se enquanto mais um fator de geração de desigualdades sociais no acesso e na
utilização de serviços de saúde, na medida em que cobrem apenas uma parcela específica da
população brasileira: pessoas de maior renda familiar, de cor branca, com maior nível de
escolaridade, inseridas em determinados ramos de atividade do mercado de trabalho,
|1| Estatístico, Doutorando em Políticas Públicas em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
INTRODUÇÃO
Os primeiros estudos desenvolvidos por Médici (1991) e também por Cordeiro (1984)
tiveram como foco central as empresas que administram/comercializam a modalidade de
prestação de serviços de saúde suplementar.
Desde o final da década de 1980 e início dos anos 90, a dificuldade de acesso e a baixa
qualidade atribuída ao sistema público de saúde vêm sendo consideradas como fatores im-
portantes na determinação do crescimento dessa modalidade (MÉDICI, 1991). Nessa mesma
época, Faveret & Oliveira (1990) apresentaram a tese da universalização excludente como
um possível efeito colateral da ampliação do acesso aos serviços públicos de saúde a partir da
formação do Sistema Único de Saúde (SUS), que passou a excluir progressivamente a classe
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &
média brasileira, tendo esta buscado nos planos privados de assistência à saúde a solução para
seus problemas de saúde. Este fato foi potencializado pela oferta, cada vez maior, de planos de
saúde para funcionários de instituições públicas e privadas.
O crescimento do segmento de saúde suplementar2 observado ao longo das últimas
décadas vem trazendo alguns desafios para sua integração junto ao sistema de saúde brasileiro.
Os primeiros pontos de contato, que futuramente poderão gerar uma massa crítica de dados
para análise conjunta com o Sistema Único de Saúde, referem-se ao banco de dados que co-
meça a ser gerado a partir das informações de ressarcimento que as operadoras devem fazer
ao SUS, segundo a Lei 9.656/98, de 3 de junho de 1998 (art. 32) e as informações da Pesquisa
de Assistência Médico-Sanitária do IBGE que, a partir de 2002, incluiu em seu questionário o
item número de operadoras atendidas pelo estabelecimento de saúde que prestam serviços
a clientes de planos privados de saúde, administrados por terceiros, e também a variável nú-
mero de consultas realizadas por convênios de saúde suplementar.
A regulamentação desse setor possui como marcos legais a Lei 9.656/98 3, a MP 1.665/98
(hoje MP 2.177-44) e a Lei 9.961/00, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
como órgão do Ministério da Saúde responsável pela sua regulação, cujos objetivos, segundo
Montone (2001), podem ser resumidos em:
(a) garantia de cobertura assistencial integral da população coberta por planos pri-
vados de assistência à saúde (chamados beneficiários) e regulação das condi-
ções de acesso;
(b) definição e controle das condições de ingresso, operação e saída das operadoras e
entidades que atuam no setor;
(c) definição e implantação de mecanismos de garantias assistenciais e financeiras para
a continuidade da prestação de serviços contratados pelos consumidores;
|2| O ordenamento jurídico-legal do segmento de Saúde Suplementar foi traçado pela Lei n O 9.656/98, de
3 de junho de 1998, e pela Medida Provisória que a alterou MP nO 1665, de 4 de junho de 1998.
|3| Uma análise minuciosa das principais inovações trazidas pela Lei 9.656/98 foi desenvolvida por Mes-
quita (2002).
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|4| Esse aspecto como assinala Almeida (1998:38) refere-se às assimetrias de informação específica desse mercado
(entre as seguradoras e os segurados e entre os profissionais e o paciente) e deve cobrir tipicamente duas áreas: a
regulação das cláusulas contratuais e do marketing dos planos de seguro; e a regulação das relações entre os planos
de saúde e os prestadores de serviço.
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uma localidade específica pode demandar serviços de forma diferenciada, dependendo de fa-
tores relacionados à demanda ou à própria oferta de serviços. Perguntavam Hulka & Wheat
(1985) quais os fatores que influenciariam as pessoas a utilizar os serviços de saúde. Para res-
ponder a este questionamento, propõem a análise de cinco categorias: condição e necessidade
de saúde (morbidade), disponibilidade de médicos, características demográficas, caracterís-
ticas organizacionais dos serviços de saúde e o modelo de financiamento. As duas primeiras
categorias podem ser objeto de estudo em um contexto epidemiológico5 e do perfil dos mé-
dicos6, respectivamente. Os demais fatores podem ser estudados à luz da oferta de serviços, da
composição do sistema de saúde de um país e do perfil sociodemográfico de seu povo, ou
seja, mediante o delineamento do acesso e da cobertura populacional dos serviços de saúde.
No caso particular do setor de saúde suplementar, a análise do acesso7 e cobertura
populacional deve levar em consideração três componentes que, juntos, compõem seu perfil:
as operadoras, os prestadores de serviço (unidades de saúde) e os beneficiários. A comparação
destes com o Sistema Único de Saúde pode auxiliar na explicação dos motivos que teriam
levado à instalação das operadoras, o atendimento de seguros e planos privados nos esta-
|5| No contexto do setor de saúde suplementar, Bahia et al. (2002b) ao analisarem as informações consolidadas
a partir dos motivos de atendimento aos clientes de planos e seguros de saúde nos hospitais universitários
brasileiros apontam a precariedade das mesmas. A preocupação principal dos responsáveis pelos registros espe-
cíficos aos convênios é a valorização financeira dos procedimentos realizados a serem incluídos na fatura apresentada
à operadora ou ao paciente particular. (BAHIA et al., 2002:579).
|6| Na perspectiva da análise da disponibilidade de médicos, o primeiro inquérito realizado no Brasil, com repre-
sentatividade nacional, regional, estadual e para capital x interior de cada unidade da federação foi realizado pela
Fiocruz em parceria com o Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira e Federação Nacional
dos Médicos no ano de 1995. Embora esteja um pouco desatualizado, o Perfil dos Médicos no Brasil (MACHADO
et al., 1996, 1997) e as demais pesquisas que o sucederam, traçando perfis profissionais de diversas especialidades
médicas (pediatria, urologia, ortopedia, nefrologia, gineco-obstetrícia) trouxeram à luz um mapeamento da dis-
tribuição geográfica dos profissionais por especialidade segundo aspectos sociodemográficos, econômicos, político-
ideológicos, de formação profissional e mercado de trabalho, dentre outros.
|7| Não apenas a oferta de recursos garante o acesso aos serviços de saúde. Há ainda fatores facilitadores desse
acesso como a distância, barreiras geográficas, o tempo de transporte e o tempo de espera, a disponibilidade de
horários. A literatura tem caracterizado esses fatores dentro do conceito de acessibilidade, agrupando-o em
quatro grupos distintos: acessibilidade geográfica, econômica, cultural e funcional (Donabedian (2003); Pinheiro
& Escosteguy (2002); Frenk (1985).
&" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
MATERIAL E MÉTODOS
|8| Os microdados da PNAD (1998) foram disponibilizados pelo IBGE a partir de agosto de 2000, e podem
ser desagregados por região, unidade da federação e região metropolitana. O universo da pesquisa exclui as
áreas rurais dos Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima. Do questionário aplicado
pelo IBGE, o bloco 13 intitulado Característica de saúde dos moradores contém cerca de 80 variáveis, que
foram subagrupadas pelo IBGE em seis dimensões: morbidade (perguntas de 3 a 20), cobertura de planos de
saúde (perguntas de 21 a 44), acesso aos serviços de saúde (perguntas de 45 a 49), utilização dos serviços de
saúde (perguntas de 50 a 68), internação (perguntas de 69 a 77), gastos com serviços e bens de saúde (per-
guntas 78 e 79). Para maiores detalhes ver IBGE (2000).
&$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
G r á f i c o 1 C O E F I C I E N T E S D E VA R I A Ç Ã O PA R A A S
E S T I M AT I VA S D E TOTA L B R A S I L 1 9 9 8
0,16
0,14
0,12
Coef. de variação (cv)
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
Fonte: Gráfico elaborado a partir da função ajustante apresentada pela equipe técnica da PNAD-1998. (IBGE, 2000:60)
|9| Segundo a metodologia da PNAD definida pelo IBGE, a expansão da amostra considerou estimadores de
razão cuja variável independente foi a projeção da população residente, segundo o tipo de área (região me-
tropolitana e não-metropolitana). Estas projeções consideram a evolução populacional ocorrida entre os
Censos Demográficos de 1980 e 1991, sob hipóteses de crescimento associadas à taxas de fecundidade, mortalidade
e migração. Sendo assim, estaremos aqui considerando que o comportamento da capital é semelhante àquele
observado pela região metropolitana da qual ela faz parte, no caso em que esta microrregião existir, e semelhante
àquele observado no Estado, quando não houver região metropolitana.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &%
|10| Há ainda outro inquérito do IBGE, de periodicidade não regular, a Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF), cujos microdados mais recentes, referem-se aos anos de 1987 e 1996. Este inquérito permite a ava-
liação do gasto, receita e poupança das famílias. Um estudo descritivo e exploratório que traçou o perfil dos
gastos das famílias em saúde em 1987 e 1996 foi desenvolvido por Reis (2001).
|11| Viacava & Bahia (2002:13) chamam essa variável de modalidade de financiamento. Aqui preferiu-se a
denominação modalidade de prestação de serviços, tal como proposto pelo questionário aplicado pelo
IBGE, na AMS-2002.
&& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
tudo por esse inquérito. Os médicos que atuam no setor público ou privado (cerca de 90%)
são captados, então, de forma indireta pelas atividades que desenvolvem nos estabeleci-
mentos de saúde dessas esferas administrativas.12
O Cadastro de Beneficiários, disponibilizado pela ANS para o ano de 2000, através da
Rede Interagencial de Saúde (RIPSA, 2002) é outro banco de dados importante para análise
do perfil da cobertura da saúde suplementar, em particular, pela possibilidade de junção aos
demais bancos de dados pela variável município ou mesmo pelo estabelecimento de saúde.
Esse fator potencializa a utilização desse banco de dados, ao permitir a análise sob o recorte
SUS x saúde suplementar. Entretanto, o Cadastro considera o número de planos de saúde
e não o número de pessoas, sendo necessário um ajuste do número de beneficiários se-
gundo a quantidade de planos de saúde por pessoa. Esse dado foi levantado pela PNAD/
IBGE em 1998 e corresponde, em nível nacional, a cerca de 10% do total de pessoas que pos-
suem planos de saúde, com oscilações entre as unidades da federação, regiões metropoli-
tanas e não metropolitanas.13
Outros dois bancos de dados já sistematizados desde 2000 (Operadoras e Prestadores
de Serviços), desde que devidamente criticados, complementam a análise do acesso à saúde
suplementar.
Para traçar o perfil do acesso e cobertura dos serviços de saúde suplementar, este
artigo percorre um caminho não convencional. Diversos estudos (DACHS, 2002; BAHIA et al.,
2002a) seguiram a trilha da análise dessa temática apenas para o Brasil. Nossa proposta é
|12| Pinto et al. (2001) também demonstraram que um segundo problema metodológico existente em relação
à AMS é o aspecto dos recursos humanos, que aborda não o número de profissionais, mas o número de
postos de trabalho. Entretanto, este problema, conforme também demonstraram Pinto et al. (2001) pode ser
equacionado, pelo fato da existência de uma forte correlação entre o número de postos de trabalho e o nú-
mero de médicos, nas cidades brasileiras de todos os portes populacionais.
|13| Acreditamos, porém, que ao longo de 2003 e nos anos subseqüentes, com a criação da Instrução Nor-
mativa DIDES no 07/2002, essa dupla contagem, possa ser mensurada a partir das novas críticas de dados
que poderão ser feitas com o fornecimento do número do CPF de cada pessoa a partir do arquivo de dados
do beneficiário e do plano (ANS, 2002:9).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &'
SAÚDE SUPLEMENTAR
|14| No caso da PNAD/1998, essa possibilidade de análise se reduz à região metropolitana (incluindo a
respectiva capital) x região não metropolitana (que em algumas partes do texto e em algumas tabelas foi
chamada de demais municípios ou municípios do interior).
|15| A história e as características da cooperativa de trabalho médico UNIMED, a mais importante desse
segmento foi pela primeira vez analisada em toda a sua amplitude por Duarte (2001:363-393).
' R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Essa situação de elevada concentração de planos de saúde ocorre entre todas as clas-
sificações existentes. Por exemplo, 15,4% das seguradoras de saúde especializadas respon-
dem por 78,1% dos beneficiários desse tipo de plano; 4,3% das medicinas de grupo concen-
tram 51,4% de benefícios desse tipo, e 7% das cooperativas médicas possuem 50,8% do total
quatro estados: São Paulo (37,1%), Minas Gerais (12,5%), Rio de Janeiro (11,1%) e Rio Grande
do Sul (6,2%).
|16| Um importante estudo sobre a experiência de planos de saúde no setor filantrópico em São Paulo foi
desenvolvido por Ibañez & Spinelli (2002) a partir dos dados da Federação das Santas Casas de Misericórdia
e do Registro Provisório da ANS.
|17| Em 2001, a Lei 10.185 art. 1o, dispôs sobre a especialização das sociedades seguradoras em planos pri-
vados de assistência à saúde (BRASIL , 2001). Com isso, as seguradoras passaram progressivamente a partir de
2001, a serem reclassificadas como seguradoras especializadas em saúde dentro dos Cadastros da ANS. O
banco de dados de operadoras possui as duas informações desagregadas, ou seja operadoras que encontram-
se nas duas situações como ativas (no caso de seguradoras) e inativas (no caso de seguradoras especializadas
em saúde). Para efeitos de análise, estas duas categorias foram agrupadas.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '
G r á f i c o s 2 D I S T R I B U I Ç Ã O DA S O P E R A D O R A S D E P L A N O S
P R I VA D O S D E S A Ú D E R E G I S T RA DA S NA A N S S E G U N D O
C O N D I Ç Ã O E C L A S S I F I C A Ç Ã O DA O P E R A D O R A B R A S I L 2 0 0 2
Administradora
Autogestão
Cooperativa Médica
Cooperativa Odontológica
Filantropia
Medicina de Grupo
Odontologia de Grupo
0 10 20 30 40
(%)
Administradora
Autogestão
Cooperativa Médica
Cooperativa Odontológica
Filantropia
Medicina de Grupo
Odontologia de Grupo
Seguradora Espec. em Saúde
0 10 20 30 40
(%)
' R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Administradora
Autogestão
Cooperativa Médica
Cooperativa Odontológica
Filantropia
Medicina de Grupo
Odontologia de Grupo
(A)
0 10 20 30 40
(%)
Fonte: Gráficos criados a partir de tabulações especiais da ANS, Cadastro de Operadoras, dezembro de 2002.
(*) Considerando as operadoras ativas e inativas (seguradoras e seguradoras especializadas em saúde).
Um ano após a vigência da Lei 9.656/98, ou seja, a partir de dezembro de 1999, a adap-
tação de todos os contratos de planos privados de assistência à saúde passou a ser obriga-
tória por parte das operadoras, que deveriam, então, oferecer esta opção aos clientes. Desde
então, foi proibida a comercialização de planos com cobertura inferior à do Plano de Refe-
rência, seguindo-se à segmentação proposta pela própria lei, estipulada em plano ambula-
torial, hospitalar com e sem obstetrícia e odontológico. Conforme destaca Montone (2002),
os contratos firmados antes da promulgação dessa lei, e não convertidos, não possuem as
garantias contempladas por ela. Um quadro-resumo comparativo da regulamentação dos
planos privados de assistência à saúde permite avaliar o panorama geral das funções das
operadoras atuantes no mercado brasileiro (Quadro I).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '!
Q u a d ro I F U N Ç Õ E S DA S O P E R A D O R A S A N T E S x D E P O I S DA
R E G U L A M E N TA Ç Ã O D O S P L A N O S P R I VA D O S D E A S S I S T Ê N C I A À S A Ú D E
Antes da Depois da
regulamentação regulamentação
O período de vigência dos contratos apontava, ainda em 2002, para uma situação de
predomínio de contratos antigos na maior parte das unidades da federação onde estão
localizadas as sedes das operadoras, com uma participação de cerca de 65% para o total do
país18 e de 89,1% em Roraima, 81,0% no Pará, 70,7% em Alagoas, 70,6% na Paraíba, 62,5% em
Pernambuco e no Piauí, 61,1% no Ceará, 60,8% no Rio Grande do Norte, 59,0% no Maranhão,
68,4% em São Paulo, 65,5% em Minas Gerais, 63,3% no Rio de Janeiro, 67,3% no Rio Grande do
Sul, 66,4% em Santa Catarina, 84,9% em Mato Grosso, 69,2% no Distrito Federal, 61,2% em
Goiás (Gráfico 3).
A participação das operadoras do tipo medicina de grupo é expressiva, representando
quase a metade do total de operadoras com beneficiários em 2002, com uma rede credenciada
de mais de 20 mil prestadores de serviços. As cooperativas médicas, embora respondam por
|18| A taxa de migração de plano antigos para planos novos, que mede o impacto das normas de regulação
no estímulo a adaptações dos contratos aumentou em 35% de 2001 para 2002 (MONTONE, 2003:23).
'" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
27,7% do total das operadoras, possuem uma rede pelo menos duas vezes superior, com cerca
de 47 mil prestadores. Este fato pode ser explicado pela maior abrangência geográfica das
cooperativas; o número mediano de municípios de atuação para cada cooperativa é de 24
municípios, enquanto que nas medicinas de grupo, apenas oito. De forma semelhante, cada
plano de autogestão atua, em média, em 25 municípios diferentes, possuindo um total de
24.471 prestadores e representando 13,2% do total das operadoras. Os planos de saúde de
operadoras filantrópicas possuem uma pequena abrangência geográfica; cada um cobre,
em média, apenas dois municípios distintos.
Há de se ressaltar que as seguradoras especializadas em saúde, embora em pequena
quantidade, destacam-se pelo caráter nacional de atendimento a seus beneficiários. Com uma
rede próxima da metade das autogestões e das medicinas de grupo e quase a quarta parte das
cooperativas médicas, cada seguradora atende, em valores medianos, pessoas de mais de
650 municípios diferentes (Tabela A).
Ta b e l a A D I S T R I B U I Ç Ã O DA S O P E R A D O R A S , P R E S TA D O R E S D E
S E RV I Ç O S E B E N E F I C I Á R I O S D E S A Ú D E S U P L E M E N TA R , N Ú M E RO
D E P R E S TA D O R E S P O R O P E R A D O R A E N Ú M E RO M E D I A N O D E
M U N I C Í P I O S D E AT UA Ç Ã O D E C A DA O P E R A D O R A S E G U N D O
CLASSIFICAÇÃO BRASIL 2002
Classificação No de No de No de No de No mediano
da operadora operadoras prestadores benef. prestadores de municípios
(%) (%) (%) por operadora de atuação
Fonte: Tabulação especial, a partir dos dados do Cadastro de Prestadores de Serviços da ANS, dezembro de 2002.
Nota: Foram consideradas as operadoras ativas e inativas. Os dados relativos às seguradoras foram reagrupados em
seguradoras especializadas. (*) Valor igual a zero resultante de arredondamento.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '#
AC
AM
AP
PA
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RR
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MA
PB
PE
PI
RN
SE
ES
MG
RJ
SP
PR
RS
SC
DF
GO
MT
MS
Brasil
DE SAÚDE SUPLEMENTAR
U ma a p r o x i ma ç ã o a p a r t i r d a A MS / 2 0 0 2
A primeira aproximação que pode ser desenvolvida, a partir dos dados da AMS/IBGE
(2002), relaciona-se às múltiplas formas de prestação dos serviços de saúde existentes no país,
levando-se em consideração o fato de que um mesmo estabelecimento de saúde ou prestador de
serviço pode ter múltipla forma de acesso, ou seja, a análise aqui desenvolvida considera o total
de modalidades de prestação de serviços (97.558), que é diferente do número total de
estabelecimentos (66.452) (Anexo-Tabela 1).
Os dados da AMS/2002 evidenciam, ainda, a importância do Sistema Único de Saúde na
Região Norte do país em contraposição à quase ausência do setor de saúde suplementar.
Excetuando-se a cidade de Belém, no Pará, onde a participação da modalidade de prestação de
serviços de saúde suplementar é a mais freqüente (39,6%); nas outras capitais do Norte, o SUS
prevalece, com participações que oscilam entre 45% e 55%. As outras unidades geográficas
selecionadas (unidade da federação, região metropolitana exceto capitais e municípios do
interior), apresentam, também, como principal modalidade, o SUS, havendo casos extremos
como o Acre (76,2%), Amapá (72,4%), Amazonas (71,2%), Pará (66,7%), Rondônia (65,5%),
Tocantins (64,0%), Roraima (54,4%). Seguindo a mesma tendência, os municípios do interior
de todas as unidades da federação apresentam participação dessa modalidade acima de 60%.
O número médio de modalidades de prestação de serviços nessa região é de apenas um,
para o total do Estado e municípios do interior, e de dois, para as capitais: Belém, Palmas e Porto
Velho, o que significa dizer, que apenas nestas últimas, existe um mercado para a saúde su-
plementar e mesmo unidades de saúde que aceitam pagamento particular.
Na Região Nordeste, o quadro é diferente. A maior participação do setor de saúde
suplementar ocorre em todas as capitais das unidades da federação, exceto no Piauí. Nesse
caso, a presença nas oito cidades (Salvador, Fortaleza, Recife, Natal, João Pessoa, Maceió,
Aracaju, São Luís) alcança valores entre 36% e 44%, com padrão semelhante aos clientes
de planos particulares.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '%
O Sistema Único de Saúde mantém sua importância nas regiões metropolitanas, nos
demais municípios do interior e no total de todas as unidades da federação do Nordeste, com
participações expressivas de 41% a cerca de 90%.
Também aqui, o número médio de modalidades de prestação de serviços nessa região
é de apenas um, para o total do Estado e municípios do interior, e de dois, para as capitais, o
que reforça a afirmativa anterior de existência de clientela de planos de saúde apenas nes-
sas localidades.
No Centro-Sul do país (Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste), excetuando-se Cuiabá,
todas as demais capitais apresentam maiores proporções de modalidades de saúde suple-
mentar com valores entre 37% e 46%. Além disso, chama a atenção, nesse caso, a força do
Distrito Federal (Brasília e demais cidades do entorno) e a Região Metropolitana de São Paulo,
com participação de cerca de 40%.
Uma curiosidade nesse estrato refere-se ao fato de que essas mesmas unidades geo-
gráficas (capitais exceto Cuiabá, Distrito Federal, Região Metropolitana de São Paulo) di-
videm com a modalidade plano particular a primeira posição, aparecendo apenas de for-
ma residual as modalidades de prestação de serviços mediante o SUS.
Um grupo intermediário de unidades geográficas, relativo às regiões metropolitanas do
Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, destaca-se pela composição semelhante nas
três modalidades: SUS x Não SUS x Particular.
Finalmente, o acesso ao SUS ocorre com maior intensidade nos municípios do in-
terior, exceto no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, o que significa dizer que, esta modali-
dade é a principal porta de entrada dos serviços de saúde, com participação entre 35% e 60%
nessas três regiões geográficas (Sudeste, Sul e Centro-Oeste).
O número médio de modalidades de prestação de serviços nessas três regiões é de
apenas um, para os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso, além das regiões
metropolitanas exceto capital de todos os estados, e municípios do interior do Sudeste, ex-
ceto São Paulo.
Todas as demais unidades geográficas, em particular, todas as capitais do Sudeste, Sul
e Centro-Oeste, apresentam dupla porta de entrada no sistema de saúde, mais uma vez
destacando a existência de clientela de planos privados de saúde apenas nessas localidades.
'& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Gr á f i c o 4 N Ú M E RO M É D I O D E M O DA L I DA D E S D E P R E S TA Ç Ã O D E
S E RV I Ç O S P O R P R E S TA D O R NA S C A P I TA I S E M U N I C Í P I O S D O
I N T E R I O R S E G U N D O U N I DA D E S DA F E D E R A Ç Ã O B R A S I L 2 0 0 2
G r á f i c o 5 A N Ú M E RO D E P R E S TA D O R E S P O R 1 0 . 0 0 0
H A B I TA N T E S X N Ú M E R O D E P R E S TA D O R E S P O R O P E R A D O R A S
S E G U N D O C A P I TA I S DA S U N I DA D E S DA F E D E R A Ç Ã O B R A S I L 2 0 0 2
35
30
No de prestadores por operador
25
20
15
10
0
0 5 10 15 20 25
Fonte: Cadastro de Prestadores de Serviços da ANS/MS, dezembro de 2002, considerando as operadoras ativas e
inativas.
G r á f i c o 5 B N Ú M E RO D E P R E S TA D O R E S P O R 1 0 . 0 0 0 H A B I TA N T E S X
N Ú M E RO D E P R E S TA D O R E S P O R O P E R A D O R A S S E G U N D O M U N I C Í P I O S
D O I N T E R I O R DA S U N I DA D E S DA F E D E R A Ç Ã O B R A S I L 2 0 0 2
No de prestadores por operador
Fonte: Cadastro de Prestadores de Serviços da ANS/MS, dezembro de 2002, considerando as operadoras ativas e
inativas.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
|19| Considerando-se nesse caso, os 1.109 estabelecimentos de saúde pertencentes à Região Integrada de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno não computados pelo IBGE na publicação da AMS-2002.
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Q u a d ro I I N Ú M E R O D E P R E S TA D O R E S D E S E RV I Ç O S
DE SAÚDE SEGUNDO DIVERSAS FONTES
populacional20, revelando, por exemplo, que, no final de 2002, a proporção da população coberta
era de 17,4% para o total do país (30,4 milhões de pessoas21), oscilando entre as regiões: Norte
(5,8%), Nordeste (7,2%), Sudeste (28,6%), Sul (13,1%) e Centro-Oeste (11,6%). As capitais do
país apresentam um comportamento diferenciado, ou seja, nestes locais, 36,6% da população
possui planos de saúde, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória,
Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (Anexo Tabela 2). A distribuição espacial por todo
o país reforça, por um lado, esse aspecto de concentração da população coberta por planos
de saúde nas áreas urbanas22, que possuem as maiores coberturas (em particular, os mu-
nicípios do Centro-Sul do Brasil) e por outro, a ausência e/ou baixa cobertura nos muni-
cípios do interior das Regiões Norte e Nordeste. Nas duas últimas décadas, um processo de
consolidação dos conglomerados urbanos metropolitanos e não-metropolitanos emergiu
a partir da reestruturação econômica do país (IPEA, 2001). Esse processo pode explicar por
que não apenas as capitais, mas também os municípios de seu entorno também apresentam
taxas de cobertura de planos de saúde superiores aos demais municípios do interior (Mapa 1).
A análise segundo o porte populacional reforça essa tendência de concentração de
cobertura nas áreas urbanas ao sugerir, em todas as regiões geográficas, uma associação po-
sitiva entre o tamanho do município e a proporção da população coberta (Gráfico 6).
|20| A própria OMS, ao descrever o sistema de saúde brasileiro admite a possibilidade de dupla contagem ao
assinalar que: se estima que 25% de la población está cubierta por lo menos com un seguro de salud (...)
(OMS, 2002: 126b, grifo nosso).
|21| A diferença observada em relação ao total ajustado para a PNAD-98 (36,1 milhões de pessoas com planos
de saúde) é de cerca de 19%. Acreditamos que esse percentual será alcançado pelo Cadastro de Beneficiários
ainda em 2003, a partir dos dados das operadoras que até então não informavam à ANS.
|22| Curiosamente, a distribuição espacial da população coberta por planos de saúde é muito semelhante
àquela observada por Pinto et al. (2003) na análise desenvolvida sobre o mercado de trabalho dos médicos
gineco-obstetras no Brasil.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #
Legenda:
Sem cobertura
Até 10%
De 10% a 30%
De 30% a 50%
Mais de 50%
G r á f i c o 6 C O B E RT U R A P O P U L AC I O NA L D E P L A N O S P R I VA D O S
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE SEGUNDO PORTE POPULACIONAL
E GRANDES REGIÕES BRASIL 2002
50
45
(%) cobertura de planos de saúde
40
35
30
25
20
15
10
0
Até 5 5,01 a 10 10,01 a 20 20,01 a 50 50,01 a 100 100,01 a 200 Mais de 200
Fonte: Cadastro de Beneficiários da ANS, dezembro de 2002, considerando as últimas atualizações em junho de 2003.
O gênero, a idade e a origem racial são as três principais variáveis demográficas que
caracterizam a distribuição de saúde e doença numa determinada população (DEVER, 1988). Em
relação à questão do gênero, um aspecto a ser ressaltado é que, com exceção de Belém, Teresina,
Porto Alegre e Brasília, todas as demais capitais brasileiras apresentam maior cobertura
populacional de planos de saúde entre as mulheres. Os municípios do interior e as regiões
metropolitanas, exceto capitais, apresentam um comportamento semelhante, com pre-
dominância do sexo feminino. Se então considerarmos o indicador de razão de sexos, defi-
nido como o número de homens para cada grupo de 100 mulheres, na população em deter-
minado espaço geográfico e ano específico, as desigualdades de cobertura também podem
ser evidenciadas (Anexo Tabela 3). Nesse caso, a Região Norte, que apresenta razão de sexos
acima de 100 para a população-residente de quase todas as suas unidades da federação, quando
analisada sob a perspectiva da população com planos de saúde, inverte essa tendência, pelo
predomínio de mulheres na maior parte dos estados. A hegemonia da população de mulheres
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %
com planos de saúde é quase absoluta no país, sendo mais significativa do que o mesmo
indicador calculado para a população-residente como um todo.
A idade é a característica pessoal mais associada à ocorrência da doença, sendo quase
sempre necessário controlar o efeito das diferenças na distribuição etária, quando são com-
paradas as ocorrências de doenças em duas populações ou em dois períodos distintos, através
da padronização dos coeficientes de idade.
O processo de transição demográfica relaciona-se aos efeitos que as mudanças nos níveis
de fecundidade, natalidade e mortalidade provocam sobre o ritmo de crescimento populacio-
nal e sobre a estrutura por idade e sexo. Um método bastante utilizado pelos demógrafos para
examinar a distribuição etária de forma combinada à questão do gênero é a construção de
pirâmides etárias23, usualmente elaboradas para faixas etárias qüinqüenais 24. Uma mudança
percebida em conseqüência da transição demográfica é o processo de envelhecimento
populacional que, no Brasil, pode ser observado ao serem comparadas às pirâmides etárias
entre as décadas de 1970 e 2000. Em 1970, a forma da pirâmide ainda apresentava uma base
larga e o ápice estreito. Progressivamente, essa configuração se alterou até atingir no ano de
2000, um grande estreitamento da base e um alargamento do ápice, como reflexo da redução
relativa da população jovem e do crescimento da população de idosos, esta última princi-
palmente do sexo feminino, como reflexo de sua maior sobrevida (Gráfico 7A).
Já em relação às pessoas que possuem planos de saúde, a pirâmide apresenta um com-
portamento curioso, com predominância de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos); idosos
(com 60 anos ou mais) e semelhança de homens e mulheres entre a população de menores
de 10 anos e de 10 a 19 anos (Gráfico 7B).
|23| Dever (1988:136) também apresenta um método alternativo para análise das doenças por idade, sexo e
raça, chamado pirâmide de doenças, construída da mesma forma que a pirâmide populacional, que exibe
quais faixas etárias são mais afetadas pelas doenças.
|24| Aqui, pela não disponibilidade de dados para períodos qüinqüenais em todas as faixas etárias para a
população com planos de saúde, optamos pela construção das pirâmides etárias, com agrupamento decenal
das idades.
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
G r á f i c o 7 A P I R Â M I D E E T Á R I A DA P O P U L A Ç Ã O - R E S I D E N T E
N O PA Í S B R A S I L 2 0 0 2
Fonte: Cadastro de Beneficiários da ANS, dezembro de 2002, considerando as últimas atualizações em junho de
2003.
A distribuição espacial da cobertura por planos de saúde de crianças nessa faixa etária
(Mapa 2) revela grandes áreas com ausência e/ou baixa assistência, nas Regiões Norte, Nordeste,
Sul, Centro-Oeste e, também, o Norte de Minas Gerais. Contudo, em 2002, as capitais da Região
Sudeste possuíam cobertura entre 30% e 50%; na Região Sul, entre 17% e 36%.
Legenda:
Sem cobertura
Até 10%
De 10% a 30%
De 30% a 50%
Mais de 50%
Fonte: Cadastro de Beneficiários da ANS, dezembro de 2002, considerando as últimas atualizações em junho de 2003.
Diversos estudos vêm demonstrando a maior utilização dos serviços de saúde por
parte das mulheres, inclusive os próprios dados levantados pela PNAD/IBGE, que veremos
mais adiante. Os dados da ANS corroboram esse fato, ao evidenciar as maiores proporções
de cobertura por planos de saúde nesse segmento, notadamente as mulheres em idade fértil,
cujos valores chegam a atingir entre 30% a 62% no Estado de São Paulo e 13% a 48% no Rio
de Janeiro, por exemplo. (Anexo-Tabela 3). Também nesse caso, a maior cobertura pode ser
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
observada nos estados das Regiões Sudeste e Sul e em praticamente todas as capitais do Brasil
(Mapa 3). Por fim, a análise por idade considera a população de idosos, consensuada pelo
Comitê de Especialistas da RIPSA (2002) e definida pela legislação brasileira (BRASIL, 1994)
como a população com idade igual ou superior a 60 anos. Aqui, os maiores vazios de cober-
tura de planos de saúde podem ser constatados nas Regiões Norte e Nordeste (Mapa 4). Apesar
das mensalidades mais elevadas, entre esse segmento etário, devido aos custos da assistência
e tecnologia médicas, as capitais das Regiões Sudeste (46,5%), Sul (26,3%) e Centro-Oeste
(46,0%) permanecem com proporções elevadas de cobertura, com exceção de Porto Alegre
(14,4%) (Anexo-Tabela 3).
Ma p a 3 C O B E RT U R A D E M U L H E R E S E M I DA D E F É RT I L E M P L A N O S
P R I VA D O S D E A S S I S T Ê N C I A À S A Ú D E B R A S I L 2 0 0 2
Legenda:
Sem cobertura
Até 10%
De 10% a 30%
De 30% a 50%
Mais de 50%
Fonte: Cadastro de Beneficiários da ANS, dezembro de 2002, considerando as últimas atualizações em junho de 2003.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
M a p a 4 C O B E RT U R A D E I D O S O S E M P L A N O S P R I VA D O S
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE BRASIL 2002
Legenda:
Sem cobertura
Até 10%
De 10% a 30%
De 30% a 50%
Mais de 50%
Fonte: Cadastro de Beneficiários da ANS, dezembro de 2002, considerando as últimas atualizações em junho de 2003.
A análise realizada até o momento revelou que as principais unidades de análise con-
sideradas possuem uma boa capacidade de explicação para o setor de saúde suplementar. Assim,
o efeito de isolar a capital25, da região metropolitana e dos demais municípios de cada unidade
da federação cumpriu um papel importante, pois evidenciou a necessidade de aprofunda-
mento de algumas questões como, por exemplo, o porte populacional. É provável que o mesmo
|25| A opção metodológica utilizada ao longo de todo o texto de isolar o efeito capital dos demais muni-
cípios de cada unidade da federação, pode ser testada também através da avaliação da qualidade do ajuste de
modelagem estatística, onde ora seja incluída a cobertura populacional de planos de saúde na região metro-
politana, ora esta seja excluída, em modelos de regressão logística com a combinação de variáveis dummy
(MENARD, 1995; HARDY, 1993). Também algumas técnicas específicas de análise exploratória de dados são alta-
mente recomendadas para uma primeira aproximação descritiva (HOAGLIN et al., 2000).
R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
comportamento observado de uma maneira geral para as capitais do país também se repita
para as cidades de médio e grande portes, com mais de 80 mil habitantes e para os muni-
cípios vizinhos às capitais. Infelizmente, o próximo banco de dados a ser considerado oriundo
de um inquérito nacional do IBGE que investigou de forma detalhada diversas questões
relacionadas ao acesso e utilização dos serviços de saúde, dimensiona apenas as unidades
de análise: região metropolitana (aqui de forma agregada à capital) e região não-metropo-
litana (que aqui chamamos de demais municípios ou municípios do interior). Também
estimou apenas os valores para as nove regiões metropolitanas existentes até 1998, deixan-
do, portanto, de computar as estimativas para as novas regiões metropolitanas propostas
a partir do Censo Demográfico de 2000.
Os microdados da PNAD/1998 sugerem a existência de associação positiva entre co-
bertura de plano de saúde e renda familiar: no Brasil, a cobertura é de 3,4% na classe de renda
familiar inferior a um salário mínimo, cresce para 15,3% entre pessoas cuja renda familiar está
entre um e cinco salários mínimos, e passa a crescer com maior intensidade nas demais
classes de renda: 43,1% (5 a 10 salários mínimos), 63,6% (10 a 20 salários mínimos) e 80,6%
(20 salários mínimos e mais). As pessoas de cor branca possuem quase duas vezes mais
cobertura por planos de saúde (32,4% no Brasil e 45,5% nas regiões metropolitanas), do que os
negros e pardos, onde a cobertura flutua entre 15% e 25%. O nível de escolaridade tam-
bém apresenta importantes desigualdades na cobertura por planos de saúde. Entre aqueles
com menos de quatro anos de estudo, de 14% a 28% possuem este atributo nas regiões metro-
politanas e não metropolitanas do país; para aqueles com quatro a sete anos de estudo, entre
19% e 28% e dentre as pessoas com oito anos ou mais de estudo, as participações relativas
encontravam-se entre 44% e 52% (Anexo-Tabela 4).
A relação entre a idade e a quantidade de consultas médicas é melhor descrita por uma
curva em forma de U. As crianças e os idosos são os que mais utilizam serviços médicos. As taxas
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !
de internação hospitalar são mais baixas entre as crianças e mais altas para as mulheres em
idade fértil, declinando até os idosos, quando se elevam novamente (DEVER, 1988). Esta
associação tem sido observada não apenas para a população em geral, mas também para a
população coberta por planos de saúde. Em todas as unidades da federação, a consulta a um
médico nos últimos 12 meses anteriores a 1998 ano de referência da PNAD/IBGE é mais
freqüente entre as crianças menores de cinco anos e a população idosa, com proporções os-
cilando entre 60% e 100%. Para as mulheres em idade fértil, foram observados valores
entre 60% e 85%. As mulheres foram mais aos médicos do que os homens (77% x 65%). Em
relação à raça ou cor, não foram constatadas diferenças significantes na consulta entre
brancos, pardos e pretos: em média entre 60% e 80% da população coberta por planos de
saúde dessas três raças teve pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses. Igual-
mente, para as classes de renda de menos de cinco salários mínimos, de cinco a dez salários
e mais de dez salários, não se observam diferenças de utilização desse serviço de saúde entre as
unidades da federação no país. Por fim, o nível de escolaridade das pessoas que têm planos
de saúde foi também avaliado, no que se refere à ida ao médico para uma consulta. Também
aqui, quando são comparados os grupos de menos de quatro anos de estudo (que tem sido
utilizado pela literatura como proxy do analfabetismo funcional), de quatro a sete anos
de estudo e o grupo com oito ou mais anos de estudo, pequenas diferenças são registradas
(Anexo-Tabela 5).
Os dados da PNAD/IBGE para o ano de 1998 sugerem, portanto, que, entre aqueles que
possuem planos de saúde, a utilização dos serviços médicos em sua dimensão mais simples
(consulta médica) não depende da cor, renda familiar ou nível de escolaridade, ao contrário da
tendência observada para estas variáveis entre a população-residente como um todo.
Os t i t u l a r e s d e p l a n o s d e s a ú d e : b r e v e s c o me n t á r i o s
mensalidade do plano de saúde representava, em 1998, de 7,6% a 10,2% da renda familiar para
o total do país, com variações de 6% a 11%, nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste; e de
6% a 17%, nas Regiões Norte e Nordeste. Essa relação também foi estudada por Reis (2001:399)
ao analisar a evolução do gasto médio mensal familiar para 1987 e 1996 a partir dos microdados
da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE que considera as regiões metropoli-
tanas, Brasília e Goiânia , encontrando para uma participação de 6,5%.
O co-pagamento está presente em 21,4% dos planos e é mais freqüente nos planos de
pouca abrangência, ou seja, naqueles que cobrem apenas consultas médicas (38,5%) e consultas/
exames complementares (45,6%). Por outro lado, o co-pagamento é praticamente inexistente
nos planos de saúde com cobertura que abrange apenas internação hospitalar, sendo responsável
por apenas 7,5% dos casos.
Os titulares dos planos de saúde têm em média 1,4 dependente e entre aqueles com mais
de dez anos de idade, 80,1% exerciam alguma ocupação na semana de referência da pesquisa.
Por exemplo, 16% dos titulares atuavam no setor da economia que responde pelos serviços co-
munitários e sociais, serviços médicos, odontológicos e veterinários e serviços de ensino; 15,8%
trabalham na indústria de transformação e cerca de 10% trabalham nas áreas de comércio de
mercadorias e de administração pública. A freqüência de titulares de plano de saúde que
trabalham nos ramos da agricultura e da construção é pequena: 2,1% e 1,8%, respectivamente.
Se levarmos em consideração a abrangência do contrato, 91,7% dos planos de saúde
(exceto planos odontológicos) no Brasil ofereciam uma cesta de serviços que inclui consulta
médica, exames complementares e internação hospitalar. A distribuição deste tipo de plano é
semelhante entre os titulares de ambos os gêneros e nas diferentes faixas etárias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
determinados ramos de atividade do mercado de trabalho, pessoas que avaliam seu estado de
saúde como muito bom ou bom, moradores das capitais/regiões metropolitanas, locais
em que o acesso à rede credenciada de prestadores de serviços e o número médio de pres-
tadores por operadora é superior àquele observado nos municípios com menos de 80 mil
habitantes. Essa situação de desigualdade social é agravada ainda mais pelo fato da maioria
dos planos de saúde ser formada por contratos anteriores a Lei 9.656/98.
Em que pesem as funções definidas na agenda da regulação pela ANS, não se deve perder
de vista que novos estudos devem ser realizados para aprofundar as questões apontadas
anteriormente. Em particular, a análise do mercado privado na Região Sudeste, que como
observamos ao longo desse artigo, concentra 70% da população coberta por planos de saúde.
Também são necessários estudos mais detalhados sobre as capitais brasileiras, que consti-
tuem grandes centros de concentração de clientela de planos de saúde e investigações mais deta-
lhadas para os subgrupos etários que mais acessam os serviços de saúde: crianças menores de
cinco anos, mulheres em idade fértil e idosos.
Na medida em que fosse possível a obtenção de dados epidemiológicos com
representatividade nacional e local, pesquisas que abordem aspectos de morbi-mortalidade
complementariam o perfil da atenção à saúde. Nesse sentido, o modelo a ser seguido pelo setor
de saúde suplementar poderia ser semelhante àquele adotado no SUS, cujos procedimentos
ambulatoriais e hospitalares (quantidades e valores) são sistematizados em meios magnéticos
com periodicidade mensal, oriundos do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) e do
Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS). Seria também fundamental que os dados
cadastrais hoje existentes fossem criticados e disponibilizados na RIPSA, no site do DATASUS,
com desagregação mensal e municipal, possibilitando, com isso, a realização de novos estudos
comparativos entre as modalidades de prestação de serviços: SUS x saúde suplementar.26
|26| Uma iniciativa inédita nesse sentido foi proposta pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro
(http://www.saude.rj.gov.br/informacoes/bancodad.shtml), que apresenta os dados de diversos sistemas
nacionais de informação em saúde, não apenas em nível municipal, tal como o DATASUS, mas em nível de
unidade de saúde, isto é, para cada estabelecimento de saúde, os dados mensais são apresentados, com data
de referência de até dois meses antes do mês corrente.
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
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ANEXOS
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D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
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S A Ú D E P O R U N I DA D E S G E O G R Á F I C A S S E L E C I O NA DA S B R A S I L 2 0 0 2 ( * )
(continua...)
!
Modalidade de prestação de serviços Unidades
Unidades geográficas
"
(a)/(b)
de
selecionadas SUS (%) Não SUS (%) Particular (%) Total (a) (%) (**)
saúde (b)
R E G U L A Ç Ã O
Região Norte 4.325 67,2 1.068 16,6 1.040 16,2 6.433 100,0 5.137 1
Capitais 817 42,0 584 30,1 542 27,9 1.943 100,0 1.270 2
Região Metropolitana 39 47,6 21 25,6 22 26,8 82 100,0 380 0
Demais municípios 3.469 78,7 463 10,5 476 10,8 4.408 100,0 4.757 1
SAÚDE VOLUME 3
Alagoas 862 78,8 119 10,9 113 10,3 1.094 100,0 935 1
Maceió 72 32,0 82 36,4 71 31,6 225 100,0 124 2
Região Metropolitana 67 98,5 0 0,0 1 1,5 68 100,0 191 0
Demais municípios 723 90,3 37 4,6 41 5,1 801 100,0 744 1
Bahia 3.523 50,6 1.711 24,6 1.722 24,8 6.956 100,0 4.845 1
Salvador 269 13,2 893 43,7 880 43,1 2.042 100,0 1.043 2
Região Metropolitana 149 40,6 111 30,2 107 29,2 367 100,0 1.279 0
Demais municípios 3.105 68,3 707 15,5 735 16,2 4.547 100,0 3.566 1
Ceará 2.321 61,0 760 20,0 722 19,0 3.803 100,0 2.869 1
Fortaleza 205 18,5 472 42,7 429 38,8 1.106 100,0 589 2
Região Metropolitana 192 78,7 25 10,2 27 11,1 244 100,0 799 0
Demais municípios 1.924 78,4 263 10,7 266 10,8 2.453 100,0 2.070 1
Maranhão 1.651 74,0 269 12,1 312 14,0 2.232 100,0 1.846 1
São Luís 84 28,2 107 35,9 107 35,9 298 100,0 172 2
Região Metropolitana 19 86,4 1 4,5 2 9,1 22 100,0 191 0
Demais municípios 1.548 81,0 161 8,4 203 10,6 1.912 100,0 1.655 1
Paraíba 1.424 67,5 340 16,1 347 16,4 2.111 100,0 1.665 1
João Pessoa 100 29,7 123 36,5 114 33,8 337 100,0 184 2
Demais municípios 1.324 74,6 217 12,2 233 13,1 1.774 100,0 1.481 1
Pernambuco 2.260 56,5 860 21,5 878 22,0 3.998 100,0 3.026 1
Recife 215 20,3 429 40,6 413 39,1 1.057 100,0 612 2
Região Metropolitana 380 58,5 128 19,7 142 21,8 650 100,0 1.119 1
Demais municípios 1.665 72,7 303 13,2 323 14,1 2.291 100,0 1.907 1
(continua...)
Modalidade de prestação de serviços Unidades
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Unidades geográficas (a)/(b)
de
selecionadas SUS (%) Não SUS (%) Particular (%) Total (a) (%) (**)
saúde (b)
Piauí 1.372 70,7 290 14,9 278 14,3 1.940 100,0 1.480 1
Teresina 139 37,6 118 31,9 113 30,5 370 100,0 195 2
Demais municípios 1.233 78,5 172 11,0 165 10,5 1.570 100,0 1.285 1
Rio Grande do Norte 1.166 60,6 391 20,3 366 19,0 1.923 100,0 1.437 1
Natal 149 23,5 251 39,5 235 37,0 635 100,0 342 2
Região Metropolitana 85 62,0 27 19,7 25 18,2 137 100,0 445 0
Demais municípios 932 81,0 113 9,8 106 9,2 1.151 100,0 992 1
Sergipe 670 62,4 208 19,4 196 18,2 1.074 100,0 809 1
Aracaju 102 27,3 136 36,4 136 36,4 374 100,0 194 2
Demais municípios 568 81,1 72 10,3 60 8,6 700 100,0 615 1
Região Nordeste 15.249 60,7 4.948 19,7 4.934 19,6 25.131 100,0 18.912 1
Capitais 1.335 20,7 2.611 40,5 2.498 38,8 6.444 100,0 3.455 2
Regiões Metropolitanas 892 59,9 292 19,6 304 20,4 1.488 100,0 4.024 0
Demais municípios 13.022 75,7 2.045 11,9 2.132 12,4 17.199 100,0 14.888 1
Espírito Santo 1.053 48,9 548 25,5 552 25,6 2.153 100,0 1.491 1
Vitória 55 15,5 154 43,4 146 41,1 355 100,0 184 2
Região Metropolitana 146 30,9 164 34,7 163 34,5 473 100,0 487 1
Demais municípios 852 64,3 230 17,4 243 18,3 1.325 100,0 1.004 1
Minas Gerais 6.450 50,4 3.202 25,0 3.142 24,6 12.794 100,0 8.858 1
Belo Horizonte 268 19,4 564 40,8 552 39,9 1.384 100,0 815 2
Região Metropolitana 476 58,0 181 22,0 164 20,0 821 100,0 1.444 1
Demais municípios 5.706 53,9 2.457 23,2 2,426 22,9 10.589 100,0 7.414 1
Rio de Janeiro 4.679 2
2.280 30,4 2.568 34,2 2.653 35,4 7.501 100,0
Rio de Janeiro (capital) 1.577 2
239 8,6 1.273 45,6 1.281 45,9 2.793 100,0
Região Metropolitana 2.705 1
594 31,7 610 32,6 667 35,6 1.871 100,0
Demais municípios 1.974 1
1.447 51,0 685 24,1 705 24,9 2.837 100,0
(continua...)
#
$
Modalidade de prestação de serviços Unidades
Unidades geográficas (a)/(b)
de
R E G U L A Ç Ã O
selecionadas SUS (%) Não SUS (%) Particular (%) Total (a) (%) (**)
saúde (b)
São Paulo 5.218 35,3 5.004 33,8 4.562 30,9 14.784 100,0 9.384 2
São Paulo (capital) 522 17,8 1.235 42,2 1.169 40,0 2.926 100,0 1.769 2
Região Metropolitana 612 26,7 908 39,7 769 33,6 2.289 100,0 3.203 1
SAÚDE VOLUME 3
Demais municípios 4.084 42,7 2.861 29,9 2.624 27,4 9.569 100,0 6.181 2
Região Sudeste 15.001 40,3 11.322 30,4 10.909 29,3 37.232 100,0 24.412 2
Capitais 1.084 14,5 3.226 43,3 3.148 42,2 7.458 100,0 4.345 2
Regiões Metropolitanas 1.828 33,5 1.863 34,2 1.763 32,3 5.454 100,0 7.839 1
Demais municípios 12.089 49,7 6.233 25,6 5.998 24,7 24.320 100,0 16.573 1
Paraná 3.254 48,0 1.779 26,2 1.752 25,8 6.785 100,0 4.393 2
Curitiba 191 16,2 506 42,9 482 40,9 1.179 100,0 659 2
Região Metropolitana 267 57,1 101 21,6 100 21,4 468 100,0 997 0
Demais municípios 2.796 54,4 1.172 22,8 1.170 22,8 5.138 100,0 3.396 2
Rio Grande do Sul 3.086 45,8 1.879 27,9 1.780 26,4 6.745 100,0 4.198 2
Porto Alegre 175 23,5 291 39,0 280 37,5 746 100,0 439 2
Região Metropolitana 373 36,2 354 34,3 304 29,5 1.031 100,0 1.052 1
Demais municípios 2.538 51,1 1.234 24,8 1.196 24,1 4.968 100,0 3.146 2
Santa Catarina 2.305 44,0 1.466 28,0 1.464 28,0 5.235 100,0 3.166 2
Florianópolis 102 22,1 182 39,4 178 38,5 462 100,0 243 2
Região Metropolitana 145 59,2 53 21,6 47 19,2 245 100,0 416 1
Demais municípios 2.058 45,5 1.231 27,2 1.239 27,4 4.528 100,0 2.750 2
Região Sul 8.645 46,1 5.124 27,3 4.996 26,6 18.765 100,0 11.757 2
Capitais 468 19,6 979 41,0 940 39,4 2.387 100,0 1.341 2
Regiões Metropolitanas 785 45,0 508 29,1 451 25,9 1.744 100,0 2.465 1
Demais municípios 7.392 50,5 3.637 24,9 3.605 24,6 14.634 100,0 9.292 2
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Modalidade de prestação de serviços Unidades
Unidades geográficas (a)/(b)
de
selecionadas SUS (%) Não SUS (%) Particular (%) Total (a) (%) (**)
saúde (b)
Distrito Federal 492 14,8 1.408 42,4 1.422 42,8 3.322 100,0 1.974 2
Brasília 139 9,2 681 45,1 689 45,7 1.509 100,0 865 2
Demais municípios 353 19,5 727 40,1 733 40,4 1.813 100,0 1.109 2
Goiás 1.664 50,2 823 24,8 826 24,9 3.313 100,0 1.968 2
Goiânia 251 25,7 357 36,6 368 37,7 976 100,0 470 2
Região Metropolitana 85 64,4 24 18,2 23 17,4 132 100,0 558 0
Demais municípios 1.328 60,2 442 20,0 435 19,7 2.205 100,0 1.498 1
Mato Grosso 1.067 56,9 414 22,1 393 21,0 1.874 100,0 1.346 1
Cuiabá 112 32,0 119 34,0 119 34,0 350 100,0 206 2
Demais municípios 955 62,7 295 19,4 274 18,0 1.524 100,0 1.140 1
Mato Grosso do Sul 661 44,4 416 28,0 411 27,6 1.488 100,0 946 2
Campo Grande 104 23,4 175 39,4 165 37,2 444 100,0 242 2
Demais municípios 557 53,4 241 23,1 246 23,6 1.044 100,0 704 1
Região Centro-Oeste 3.884 38,9 3.061 30,6 3.052 30,5 9.997 100,0 6.234 2
Capitais 606 18,5 1.332 40,6 1.341 40,9 3.279 100,0 1.783 2
Regiões Metropolitanas 85 64,4 24 18,2 23 17,4 132 100,0 558 0
Demais municípios 3.193 48,5 1.705 25,9 1.688 25,6 6.586 100,0 4.451 1
BRASIL 47.104 48,3 25.523 26,2 24.931 25,6 97.558 100,0 66.452 1
Capitais 4.310 20,0 8.732 40,6 8.469 39,4 21.511 100,0 12.194 2
Regiões Metropolitanas 3.629 40,8 2.708 30,4 2.563 28,8 8.900 100,0 15.266 1
Demais municípios 39.165 58,3 14.083 21,0 13.899 20,7 67.147 100,0 49.961 1
%
& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de
População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária, 2002.
(*) A AMS/IBGE não considera, em seu universo, os consultórios particulares individuais e aqueles
com menos de três profissionais, que no caso do setor de saúde suplementar constituem um
importante prestador de serviços.
Nota 1: O mesmo estabelecimento de saúde pode ter múltipla forma de acesso, ou seja, o total
desta tabela corresponde ao número total de modalidades de prestação de serviços, que é diferente
do número total de estabelecimentos.
Nota 2: (*) A região metropolitana, nesse caso, não inclui a capital, apresentada de forma separada.
Nota 3: A modalidade Não SUS inclui o plano de terceiros, ou seja, quando o estabelecimento de
saúde atende clientes de seguro e planos de saúde administrados por terceiros, ou plano próprio,
quando a unidade de saúde possui ou é de propriedade de uma empresa de seguro de saúde, grupo
médico ou medicina de grupo, que financia suas próprias atividades através dos planos de saúde
ou de associados por cotas. Na modalidade particular, o estabelecimento de saúde atende clientes
particulares, mediante pagamento direto.
Nota 4: Na tabela 8b divulgada pelo IBGE, não foi considerado para a totalização do número de
unidades a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal, com 1.109 estabelecimentos
de saúde. Se somarmos ao total de 65.343 unidades esse valor, encontraremos o total da tabela
acima apresentada para o Brasil, 66.452 unidades em atividade total ou parcial.
Ta b e l a 2 D I S T R I B U I Ç Ã O DA P O P U L A Ç Ã O C O B E RTA P O R P L A N O S D E S A Ú D E E P O P U L A Ç Ã O - R E S I D E N T E
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
S E G U N D O U N I DA D E S G E O G R Á F I C A S S E L E C I O NA DA S B R A S I L 2 0 0 0 a 2 0 0 2
Norte AC Capital 6.242 253.059 2,47 9.076 261.432 3,47 12.409 267.741 4,63
Demais municípios 1.483 304.467 0,49 1.656 312.934 0,53 2.281 319.204 0,71
Total 7.725 557.526 1,39 10.732 574.366 1,87 14.690 586.945 2,50
AM Capital 189.993 1.405.835 13,51 223.559 1.451.958 15,40 268.236 1.488.805 18,02
Demais municípios 5.002 1.406.722 0,36 5.753 1.448.260 0,40 7.236 1.472.999 0,49
Total 194.995 2.812.557 6,93 229.312 2.900.218 7,91 275.472 2.961.804 9,30
AP Capital 10.557 283.308 3,73 20.337 295.897 6,87 24.709 306.580 8,06
Demais municípios 2.161 193.724 1,12 2.412 202.838 1,19 2.493 209.934 1,19
Total 12.718 477.032 2,67 22.749 498.735 4,56 27.202 516.514 5,27
PA Capital 96.802 1.280.614 7,56 198.923 1.304.311 15,25 287.335 1.322.682 21,72
Região Metropolitana 11.427 514.922 2,22 20.572 539.004 3,82 26.902 555.811 4,84
Demais municípios 41.295 4.396.771 0,94 54.832 4.498.396 1,22 63.499 4.575.206 1,39
Total 149.524 6.192.307 2,41 274.327 6.341.711 4,33 377.736 6.453.699 5,85
RO Capital 17.546 334.661 5,24 26.875 342.261 7,85 29.878 347.843 8,59
Demais municípios 13.721 1.045.126 1,31 16.417 1.065.617 1,54 18.464 1.083.933 1,70
Total 31.267 1.379.787 2,27 43.292 1.407.878 3,07 48.342 1.431.776 3,38
RR Capital 12.487 200.568 6,23 15.067 208.512 7,23 15.901 214.541 7,41
Demais municípios 361 123.829 0,29 428 128.741 0,33 449 132.325 0,34
Total 12.848 324.397 3,96 15.495 337.253 4,59 16.350 346.866 4,71
TO Capital 8.060 137.355 5,87 14.074 150.882 9,33 14.483 161.138 8,99
Demais municípios 10.823 1.019.743 1,06 12.509 1.033.973 1,21 14.264 1.045.870 1,36
Total 18.883 1.157.098 1,63 26.583 1.184.855 2,24 28.747 1.207.008 2,38
Total Capital 341.687 3.895.400 8,77 507.911 4.015.253 12,65 652.951 4.109.330 15,89
Região Metropolitana 11.427 514.922 2,22 20.572 539.004 3,82 26.902 555.811 4,84
Demais municípios 74.846 8.490.382 0,88 94.007 8.690.759 1,08 108.686 8.839.471 1,23
Total 427.960 12.900.704 3,32 622.490 13.245.016 4,70 788.539 13.504.612 5,84
(continua...)
'
!
R E G U L A Ç Ã O
População População População
Unidades com planos População População com planos População População com planos População População
da Unidades de saúde residente coberta de saúde residente coberta de saúde residente coberta
Regiões Federação Geográficas (*) 2000 2000 2000 (%) 2001 2001 2001 (%) 2002 2002 2002 (%)
SAÚDE VOLUME 3
Nordeste AL Capital 75.493 797.759 9,46 100.948 817.447 12,35 136.976 833.260 16,44
Região Metropolitana 2.550 191.423 1,33 3.367 195.251 1,72 4.141 198.543 2,09
Demais municípios 15.892 1.833.439 0,87 20.342 1.843.865 1,10 25.378 1.855.723 1,37
Total 93.935 2.822.621 3,33 124.657 2.856.563 4,36 166.495 2.887.526 5,77
BA Capital 381.559 2.443.107 15,62 423.289 2.485.699 17,03 526.175 2.520.505 20,88
Região Metropolitana 84.304 578.465 14,57 97.397 596.640 16,32 105.197 611.541 17,20
Demais municípios 233.159 10.048.678 2,32 254.766 10.131.807 2,51 314.494 10.191.104 3,09
Total 699.022 13.070.250 5,35 775.452 13.214.146 5,87 945.866 13.323.150 7,10
CE Capital 490.084 2.141.402 22,89 545.221 2.183.609 24,97 581.903 2.219.836 26,21
Região Metropolitana 30.662 843.287 3,64 36.087 862.551 4,18 39.681 887.478 4,47
Demais municípios 104.667 4.445.972 2,35 117.507 4.501.524 2,61 122.518 4.547.226 2,69
Total 625.413 7.430.661 8,42 698.815 7.547.684 9,26 744.102 7.654.540 9,72
MA Capital 84.608 870.028 9,72 104.411 889.130 11,74 129.788 906.567 14,32
Região Metropolitana 2.135 200.660 1,06 3.040 209.800 1,45 3.896 216.840 1,80
Demais municípios 32.084 4.580.787 0,70 36.418 4.631.502 0,79 41.284 4.679.876 0,88
Total 118.827 5.651.475 2,10 143.869 5.730.432 2,51 174.968 5.803.283 3,01
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
População População População
Unidades com planos População População com planos População População com planos População População
da Unidades de saúde residente coberta de saúde residente coberta de saúde residente coberta
Regiões Federação Geográficas (*) 2000 2000 2000 (%) 2001 2001 2001 (%) 2002 2002 2002 (%)
PB Capital 108.991 597.934 18,23 127.648 607.440 21,01 139.314 619.051 22,50
Demais municípios 83.538 2.845.891 2,94 104.842 2.861.094 3,66 115.604 2.875.914 4,02
Total 192.529 3.443.825 5,59 232.490 3.468.534 6,70 254.918 3.494.965 7,29
PE Capital 365.849 1.422.905 25,71 409.313 1.437.189 28,48 456.787 1.449.136 31,52
Região Metropolitana 119.760 1.914.660 6,25 157.733 1.949.542 8,09 184.978 1.976.294 9,36
Demais municípios 84.244 4.580.779 1,84 101.445 4.621.524 2,20 113.173 4.659.292 2,43
Total 569.853 7.918.344 7,20 668.491 8.008.255 8,35 754.938 8.084.722 9,34
PI Capital 75.049 715.360 10,49 83.266 728.882 11,42 88.682 740.016 11,98
Demais municípios 15.719 2.127.918 0,74 18.975 2.144.101 0,88 19.729 2.158.175 0,91
Total 90.768 2.843.278 3,19 102.241 2.872.983 3,56 108.411 2.898.191 3,74
RN Capital 145.267 712.317 20,39 152.165 722.143 21,07 187.818 734.503 25,57
Região Metropolitana 9.475 206.314 4,59 10.531 212.063 4,97 10.910 216.897 5,03
Demais municípios 41.413 1.858.151 2,23 49.160 1.880.997 2,61 57.083 1.901.400 3,00
Total 196.155 2.776.782 7,06 211.856 2.815.203 7,53 255.811 2.852.800 8,97
SE Capital 29.569 461.534 6,41 40.783 468.296 8,71 108.330 473.990 22,85
Demais municípios 8.895 1.322.941 0,67 11.277 1.349.022 0,84 22.569 1.372.052 1,64
Total 38.464 1.784.475 2,16 52.060 1.817.318 2,86 130.899 1.846.042 7,09
Total Capital 1.756.469 10.162.346 17,28 1.987.044 10.339.835 19,22 2.355.773 10.496.864 22,44
Região Metropolitana 248.886 3.934.809 6,33 308.155 4.025.847 7,65 348.803 4.107.593 8,49
Demais municípios 619.611 33.644.556 1,84 714.732 33.965.436 2,10 831.832 34.240.762 2,43
Total 2.624.966 47.741.711 5,50 3.009.931 48.331.118 6,23 3.536.408 48.845.219 7,24
(continua...)
!
!
R E G U L A Ç Ã O
População População População
Unidades com planos População População com planos População População com planos População População
da Unidades de saúde residente coberta de saúde residente coberta de saúde residente coberta
Regiões Federação Geográficas (*) 2000 2000 2000 (%) 2001 2001 2001 (%) 2002 2002 2002 (%)
SAÚDE VOLUME 3
Sudeste ES Capital 146.169 292.304 50,01 174.531 296.010 58,96 188.597 299.358 63,00
Região Metropolitana 190.807 1.133.283 16,84 249.242 1.166.509 21,37 289.227 1.189.129 24,32
Demais municípios 95.150 1.671.645 5,69 113.090 1.692.529 6,68 132.537 1.713.225 7,74
Total 432.126 3.097.232 13,95 536.863 3.155.048 17,02 610.361 3.201.712 19,06
MG Capital 811.580 2.238.526 36,26 914.528 2.258.856 40,49 976.809 2.284.469 42,76
Região Metropolitana 246.131 2.105.472 11,69 265.613 2.179.524 12,19 287.888 2.234.846 12,88
Demais municípios 1.089.163 13.547.496 8,04 1.614.629 13.688.644 11,80 1.710.230 13.824.203 12,37
Total 2.146.874 17.891.494 12,00 2.794.770 18.127.024 15,42 2.974.927 18.343.518 16,22
RJ Capital 1.965.633 5.857.904 33,56 2.211.882 5.897.487 37,51 2.721.485 5.937.251 45,84
Região Metropolitana 479.369 5.036.252 9,52 540.564 5.105.208 10,59 654.143 5.184.051 12,62
Demais municípios 381.362 3.497.126 10,91 441.311 3.555.866 12,41 549.117 3.603.177 15,24
Total 2.826.364 14.391.282 19,64 3.193.757 14.558.561 21,94 3.924.745 14.724.479 26,65
SP Capital 4.379.722 10.434.252 41,97 5.309.461 10.499.133 50,57 6.047.963 10.600.059 57,06
Região Metropolitana 1.882.667 7.444.451 25,29 2.262.531 7.628.928 29,66 2.519.167 7.790.697 32,34
Demais municípios 4.126.381 19.153.700 21,54 4.747.874 19.502.044 24,35 5.187.462 19.786.978 26,22
Total 10.388.770 37.032.403 28,05 12.319.866 37.630.105 32,74 13.754.592 38.177.734 36,03
Total Capital 7.303.104 18.822.986 38,80 8.610.402 18.951.486 45,43 9.934.854 19.121.137 51,96
Região Metropolitana 2.798.974 15.719.458 17,81 3.317.950 16.080.169 20,63 3.750.425 16.398.723 22,87
Demais municípios 5.692.056 37.869.967 15,03 6.916.904 38.439.083 17,99 7.579.346 38.927.583 19,47
Total 15.794.134 72.412.411 21,81 18.845.256 73.470.738 25,65 21.264.625 74.447.443 28,56
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
População População População
Unidades com planos População População com planos População População com planos População População
da Unidades de saúde residente coberta de saúde residente coberta de saúde residente coberta
Regiões Federação Geográficas (*) 2000 2000 2000 (%) 2001 2001 2001 (%) 2002 2002 2002 (%)
Sul PR Capital 539.966 1.587.315 34,02 637.249 1.620.221 39,33 714.049 1.644.599 43,42
Região Metropolitana 103.500 1.133.238 9,13 128.971 1.180.586 10,92 146.639 1.215.202 12,07
Demais municípios 531.244 6.842.905 7,76 589.821 6.893.962 8,56 706.790 6.938.164 10,19
Total 1.174.710 9.563.458 12,28 1.356.041 9.694.769 13,99 1.567.478 9.797.965 16,00
RS Capital 216.243 1.360.590 15,89 278.981 1.373.312 20,31 339.771 1.383.454 24,56
Região Metropolitana 201.111 2.332.406 8,62 268.388 2.380.744 11,27 341.670 2.418.088 14,13
Demais municípios 233.425 6.494.802 3,59 304.953 6.555.965 4,65 349.227 6.606.886 5,29
Total 650.779 10.187.798 6,39 852.322 10.310.021 8,27 1.030.668 10.408.428 9,90
SC Capital 75.278 342.315 21,99 87.971 352.398 24,96 106.412 360.603 29,51
Região Metropolitana 28.549 474.000 6,02 24.887 485.636 5,12 34.808 495.079 7,03
Demais municípios 470.538 4.540.045 10,36 595.670 4.610.668 12,92 636.815 4.672.036 13,63
Total 574.365 5.356.360 10,72 708.528 5.448.702 13,00 778.035 5.527.718 14,08
Total Capital 831.487 3.290.220 25,27 1.004.201 3.345.931 30,01 1.160.232 3.388.656 34,24
Região Metropolitana 333.160 3.939.644 8,46 422.246 4.046.966 10,43 523.117 4.128.369 12,67
Demais municípios 1.235.207 17.877.752 6,91 1.490.444 18.060.595 8,25 1.692.832 18.217.086 9,29
Total 2.399.854 25.107.616 9,56 2.916.891 25.453.492 11,46 3.376.181 25.734.111 13,12
(continua...)
!!
!"
População População População
Unidades com planos População População com planos População População com planos População População
R E G U L A Ç Ã O
da Unidades de saúde residente coberta de saúde residente coberta de saúde residente coberta
Regiões Federação Geográficas (*) 2000 2000 2000 (%) 2001 2001 2001 (%) 2002 2002 2002 (%)
Centro- DF Capital 376.700 2.051.146 18,37 530.952 2.097.450 25,31 567.177 2.145.838 26,43
Oeste Total 376.700 2.051.146 18,37 530.952 2.097.450 25,31 567.177 2.145.838 26,43
Capital 127.155 1.093.007 11,63 223.141 1.111.623 20,07 274.300 1.129.274 24,29
GO Região Metropolitana 11.951 546.509 2,19 17.171 575.116 2,99 20.236 597.044 3,39
SAÚDE VOLUME 3
Demais municípios 90.488 3.363.712 2,69 116.390 3.429.656 3,39 118.435 3.484.048 3,40
Total 229.594 5.003.228 4,59 356.702 5.116.395 6,97 412.971 5.210.366 7,93
MS Capital 114.617 663.621 17,27 110.828 679.283 16,32 153.727 692.546 22,20
Demais municípios 54.516 1.414.380 3,85 57.151 1.431.747 3,99 91.126 1.448.074 6,29
Total 169.133 2.078.001 8,14 167.979 2.111.030 7,96 244.853 2.140.620 11,44
MT Capital 48.681 483.346 10,07 54.820 492.891 11,12 111.446 500.290 22,28
Demais municípios 34.364 2.021.007 1,70 50.807 2.067.646 2,46 66.622 2.104.433 3,17
Total 83.045 2.504.353 3,32 105.627 2.560.537 4,13 178.068 2.604.723 6,84
Total Capital 667.153 4.291.120 15,55 919.741 4.381.247 20,99 1.106.650 4.467.948 24,77
Região Metropolitana 11.951 546.509 2,19 17.171 575.116 2,99 20.236 597.044 3,39
Demais municípios 179.368 6.799.099 2,64 224.348 6.929.049 3,24 276.183 7.036.555 3,92
Total 858.472 11.636.728 7,38 1.161.260 11.885.412 9,77 1.403.069 12.101.547 11,59
Brasil Capital 10.899.900 40.462.072 26,94 13.029.299 41.033.752 31,75 15.210.460 41.583.935 36,58
Região Metropolitana 3.404.398 24.655.342 13,81 4.086.094 25.267.102 16,17 4.669.483 25.787.540 18,11
Demais municípios 7.801.088 104.681.756 7,45 9.440.435 106.084.922 8,90 10.488.879 107.261.457 9,78
Total 22.105.386 169.799.170 13,02 26.555.828 172.385.776 15,40 30.368.822 174.632.932 17,39
Fonte: Tabulação especial, a partir dos dados criticados do Cadastro de Beneficiários da ANS em dezembro de 2000, 2001 e 2002.
Obs: O Cadastro de Beneficiários até dezembro de 2002 possibilitava o duplo registro de benefícios, ou seja, pessoas com mais de um plano de saúde. Somente a partir de então, através
da Instrução Normativa DIDES no 07/2002, as operadoras ao informarem seus beneficiários, terão suas informações cruzadas e criticadas para evitar dupla contagem.
O cadastro até 2002, portanto, precisa ser criticado, para que se obtenha, não o número de benefícios, mas o número de pessoas com benefícios. Para isso, é necessário que seja realizado
um ajuste. O fator de correção utilizado, nesse caso, é oriundo da variável 21, bloco 13, do suplemento especial da PNAD/1998, onde é possível a realização de uma correção aproximada
para as unidades da federação, regiões metropolitanas, demais municípios e, conseqüentemente, regiões geográficas e Brasil. A ANS, então, poderá obter essas duas informações:
número de planos de saúde e número de pessoas com planos de saúde.
(*) A região metropolitana nesse caso, não inclui a capital, apresentada de forma separada.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Ta b e l a 3 P O P U L A Ç Ã O C O B E RTA P O R P L A N O S D E S A Ú D E : G Ê N E R O, R A Z Ã O D E S E XO S , FA I X A S E T Á R I A S
S E L E C I O NA DA S S E G U N D O U N I DA D E S G E O G R Á F I C A S B R A S I L 2 0 0 2
(continua...)
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R E G U L A Ç Ã O
Cobertura Razão de sexos Cobertura
Unidades Sexo Sexo POPULAÇÃO Menor de Mulheres População
da Unidades masculino feminino Residente Com planos 5 anos em idade 60 anos
Regiões Federação Geográficas (*) (%) (%) de saúde (%) fértil (%) e mais (%)
SAÚDE VOLUME 3
Região Metropolitana 4,47 5,19 94,89 81,65 2,93 5,19 6,97
Demais municípios 1,21 1,25 107,16 103,02 0,52 1,53 1,11
Total 5,69 5,99 102,62 97,39 2,92 6,79 6,83
Nordeste AL Capital 15,24 17,51 89,41 77,78 9,63 18,04 17,88
Região Metropolitana 1,90 2,26 97,65 82,10 1,44 2,46 1,95
Demais municípios 1,25 1,48 98,06 83,16 0,68 1,85 1,15
Total 5,20 6,31 95,46 78,68 2,97 7,25 5,53
BA Capital 20,78 20,96 88,97 88,22 12,55 20,81 24,84
Região Metropolitana 17,63 16,78 98,51 103,47 10,50 18,98 9,62
Demais municípios 2,80 3,37 100,00 83,15 1,76 4,01 2,39
Total 6,73 7,47 97,75 88,06 3,91 8,55 6,08
CE Capital 23,94 28,21 87,98 74,66 16,96 29,66 34,47
Região Metropolitana 4,15 4,78 98,70 85,72 3,97 5,56 3,13
Demais municípios 2,22 3,16 98,60 69,35 2,02 3,66 3,12
Total 8,49 10,90 95,41 74,31 6,09 12,60 10,81
MA Capital 13,95 14,64 87,66 83,56 7,54 14,36 22,34
Região Metropolitana 1,53 2,05 95,89 71,55 1,04 2,05 2,83
Demais municípios 0,82 0,94 101,58 88,32 0,45 1,18 0,74
Total 2,77 3,26 99,05 84,37 1,35 3,81 3,47
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Cobertura Razão de sexos Cobertura
Unidades Sexo Sexo POPULAÇÃO Menor de Mulheres População
da Unidades masculino feminino Residente Com planos 5 anos em idade 60 anos
Regiões Federação Geográficas (*) (%) (%) de saúde (%) fértil (%) e mais (%)
(continua...)
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R E G U L A Ç Ã O
Cobertura Razão de sexos Cobertura
Unidades Sexo Sexo POPULAÇÃO Menor de Mulheres População
da Unidades masculino feminino Residente Com planos 5 anos em idade 60 anos
Regiões Federação Geográficas (*) (%) (%) de saúde (%) fértil (%) e mais (%)
SAÚDE VOLUME 3
Sudeste ES Capital 61,36 64,47 89,36 85,05 50,82 67,24 61,84
Região Metropolitana 23,22 25,38 95,90 87,77 19,91 26,73 22,91
Demais municípios 7,50 7,97 101,51 95,50 5,61 8,49 7,40
Total 18,07 20,04 98,21 88,53 14,62 21,58 17,86
MG Capital 40,58 44,70 89,50 81,25 32,30 43,25 62,43
Região Metropolitana 12,24 13,51 98,03 88,84 11,43 13,75 13,94
Demais municípios 11,60 13,14 99,35 87,72 8,62 13,69 15,82
Total 15,12 17,29 97,91 85,65 11,60 17,78 21,53
RJ Capital 44,53 46,99 88,37 83,74 31,25 47,73 41,02
Região Metropolitana 11,84 13,34 93,65 83,12 10,48 12,89 15,24
Demais municípios 14,24 16,21 96,50 84,78 11,58 16,08 16,24
Total 25,34 27,87 92,16 83,78 18,29 27,78 27,95
SP Capital 55,64 58,34 91,05 86,84 46,60 62,15 46,92
Região Metropolitana 31,53 33,12 96,60 91,96 28,04 35,24 26,86
Demais municípios 24,85 27,57 98,62 88,88 19,71 28,90 25,44
Total 34,53 37,47 96,05 88,53 28,91 39,84 31,87
Total Capital 50,52 53,25 90,00 85,39 40,50 55,57 46,49
Região Metropolitana 22,12 23,59 95,80 89,79 19,70 24,74 20,52
Demais municípios 18,38 20,54 98,81 88,43 14,18 21,53 20,47
Total 27,20 29,87 95,81 87,23 21,81 31,38 27,96
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Cobertura Razão de sexos Cobertura
Unidades Sexo Sexo POPULAÇÃO Menor de Mulheres População
da Unidades masculino feminino Residente Com planos 5 anos em idade 60 anos
Regiões Federação Geográficas (*) (%) (%) de saúde (%) fértil (%) e mais (%)
(continua...)
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R E G U L A Ç Ã O
Cobertura Razão de sexos Cobertura
Unidades Sexo Sexo POPULAÇÃO Menor de Mulheres População
da Unidades masculino feminino Residente Com planos 5 anos em idade 60 anos
Regiões Federação Geográficas (*) (%) (%) de saúde (%) fértil (%) e mais (%)
SAÚDE VOLUME 3
Total 7,56 8,29 99,23 90,41 5,53 8,83 7,50
MS Capital 20,67 23,64 94,66 82,78 12,61 23,64 28,04
Demais municípios 5,71 6,89 102,92 85,28 2,74 7,50 5,83
Total 10,41 12,46 100,17 83,70 5,65 13,10 12,75
MT Capital 20,67 23,81 95,07 82,53 7,50 23,84 21,38
Demais municípios 2,96 3,39 108,54 94,82 1,54 3,78 4,40
Total 6,18 7,53 105,81 86,94 2,54 8,07 7,64
Total Capital 24,77 24,77 92,39 92,37 13,44 23,77 45,97
Região Metropolitana 3,37 3,41 99,09 97,73 2,45 3,62 2,81
Demais municípios 3,66 4,20 104,13 90,83 2,27 4,60 4,26
Total 11,15 12,03 99,39 92,14 6,13 12,24 18,48
Fonte: Tabulação especial, a partir dos dados criticados do Cadastro de Beneficiários da ANS em dezembro de 2000, 2001 e 2002.
Obs: O Cadastro de Beneficiários até dezembro de 2002 possibilitava o duplo registro de benefícios, ou seja, pessoas com mais de um plano de saúde. Somente a partir de então, através
da Instrução Normativa DIDES no 07/2002, as operadoras ao informarem seus beneficiários, terão suas informações cruzadas e criticadas para evitar dupla contagem.
O cadastro até 2002, portanto, precisa ser criticado, para que se obtenha, não o número de benefícios, mas o número de pessoas com benefícios. Para isso, é necessário que seja realizado
um ajuste. O fator de correção utilizado, nesse caso, é oriundo da variável 21, bloco 13, do suplemento especial da PNAD/1998, onde é possível a realização de uma correção aproximada
para as unidades da federação, regiões metropolitanas, demais municípios e, conseqüentemente, regiões geográficas e Brasil. A ANS, então, poderá obter essas duas informações:
número de planos de saúde e número de pessoas com planos de saúde.
(*) A região metropolitana nesse caso, não inclui a capital, apresentada de forma separada.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Tabela 4 DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO-RESIDENTE POR COBERTURA DE PLANOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA
À SAÚDE SEGUNDO VARIÁVEIS E UNIDADES GEOGRÁFICAS SELECIONADAS BRASIL 1998 (n=344.975)
Norte AC Total 12,76 16,14 16,41 16,29 17,91 22,22 10,38 0,00 1,75 4,71 27,38 44,92 70,82 11,09 10,32 21,95
AM Total 14,59 17,22 13,08 19,18 14,43 17,37 14,87 21,50 6,20 9,85 32,27 44,95 59,35 10,13 11,66 27,59
AP Total 15,39 20,40 17,20 22,53 11,29 21,24 16,33 27,59 1,35 12,92 30,00 64,63 32,26 11,78 14,95 27,95
PA Região Metropolitana 29,14 33,31 26,12 33,01 39,53 40,28 27,25 28,49 10,41 21,10 50,05 65,61 79,60 22,68 22,53 42,80
Demais municípios 12,11 14,08 11,84 15,80 10,47 16,20 12,22 9,48 5,02 12,38 26,78 20,11 26,48 9,06 11,96 25,53
Total 17,09 20,27 15,09 21,91 20,86 25,09 16,43 18,23 6,48 14,68 34,87 44,47 70,42 11,84 15,04 34,12
RO Total 24,71 25,45 20,93 26,21 12,80 28,52 22,22 22,92 6,51 13,30 38,40 55,14 65,68 18,70 15,45 40,21
RR Total 6,35 7,01 6,82 7,10 4,35 11,18 4,64 15,00 0,00 4,72 7,93 12,66 41,20 5,91 3,89 9,24
TO Total 8,59 11,82 10,22 13,35 6,98 15,87 8,56 9,51 1,04 8,81 34,08 46,21 34,05 5,90 7,78 24,72
Total Região Metropolitana 29,14 33,31 26,12 33,01 39,53 40,28 27,25 28,49 10,41 21,10 50,05 65,61 79,60 22,68 22,53 42,80
Demais municípios 13,71 16,22 13,27 17,89 11,53 19,35 13,09 16,56 4,02 10,73 30,63 41,88 53,67 9,76 11,54 27,65
Total 15,50 18,41 14,43 19,98 15,79 22,06 14,76 18,63 4,69 11,87 33,14 46,02 61,08 10,84 12,82 30,47
Nordeste AL Total 10,75 13,18 11,02 14,23 17,47 19,01 7,93 5,99 1,48 7,96 42,12 66,50 88,40 5,28 9,49 34,63
BA Região Metropolitana 32,01 34,29 27,57 33,82 43,48 60,82 27,17 23,94 7,44 22,58 51,07 79,28 89,35 20,78 23,74 48,69
Demais municípios 6,01 7,17 4,37 8,43 7,35 10,86 5,62 2,59 0,74 5,90 32,56 48,17 52,29 2,72 6,12 25,72
Total 11,43 13,35 8,70 15,22 13,61 20,18 9,97 10,80 1,58 9,24 40,50 64,86 78,46 4,93 10,19 36,57
CE Região Metropolitana 21,16 24,49 16,64 24,93 29,28 33,86 17,55 14,21 4,30 14,97 48,36 71,90 84,65 12,57 16,19 41,78
Demais municípios 3,72 4,59 2,09 5,09 5,27 7,59 2,84 0,00 0,33 3,14 23,14 46,63 68,42 1,62 4,43 17,42
Total 10,23 12,54 7,14 13,92 12,96 18,72 8,26 6,96 1,25 8,18 37,96 63,43 80,77 4,69 9,52 32,71
(continua...)
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R E G U L A Ç Ã O
Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Faixa etária 5,01 a 10,01
Mulheres Cor ou raça < 1 1a5 10 a 20 > 20 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e Mais Branca Parda Preta SM SM SM SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográficas (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
SAÚDE VOLUME 3
MA Total 5,38 6,41 4,20 8,21 3,35 12,73 3,68 6,19 0,34 3,34 30,14 53,80 75,55 2,15 3,96 22,03
PB Total 15,45 16,60 14,06 18,87 13,86 22,41 11,61 7,79 3,20 11,17 46,10 73,29 85,63 8,11 11,44 40,54
PE Região Metropolitana 27,48 29,41 23,54 30,27 32,28 39,84 20,47 16,06 6,13 21,43 56,42 76,01 91,70 17,28 19,44 46,78
Demais municípios 8,70 10,21 7,74 12,63 5,42 14,67 6,17 5,98 2,53 9,35 33,58 36,55 51,39 5,29 8,92 26,80
Total 16,34 18,30 13,63 20,66 15,68 25,68 11,77 10,60 3,73 14,05 46,13 64,85 80,74 8,87 13,48 39,40
PI Total 8,81 9,50 5,47 12,45 5,65 16,98 7,45 0,59 0,65 7,19 43,75 64,92 88,37 3,27 7,17 32,92
RN Total 8,94 12,94 10,73 13,51 14,02 18,90 6,44 11,02 2,01 5,17 34,80 62,55 77,58 5,47 5,43 30,63
SE Total 13,64 17,34 12,05 17,61 17,82 26,08 12,63 10,73 1,50 10,42 45,33 64,48 73,05 7,78 12,44 35,80
Total Região Metropolitana 26,95 29,46 22,37 29,87 34,61 42,08 21,71 21,35 5,93 19,55 52,06 75,96 88,77 16,57 19,81 46,11
Demais municípios 7,87 9,50 6,63 11,15 8,42 15,11 6,18 4,47 1,13 6,57 35,46 57,88 73,64 3,82 7,01 28,83
Total 11,36 13,37 9,18 15,27 12,66 20,61 8,85 9,46 1,69 8,98 40,70 64,37 80,04 5,38 9,68 34,74
Sudeste ES Total 21,24 24,33 18,10 23,75 31,68 28,83 18,01 15,70 5,17 13,44 45,10 66,24 80,50 14,84 15,62 40,84
MG Região Metropolitana 33,96 37,83 34,22 37,48 45,49 44,86 27,61 26,53 10,75 24,84 52,18 65,54 84,38 27,67 26,55 51,30
Demais municípios 18,43 20,55 16,45 21,83 18,79 26,19 12,26 10,00 3,16 14,75 39,93 56,75 69,39 12,52 14,76 37,81
Total 21,94 24,66 20,47 25,85 23,69 30,23 16,11 13,90 4,24 16,93 43,53 59,75 75,85 15,26 17,40 42,04
RJ Região Metropolitana 34,58 37,32 32,30 36,84 42,40 43,36 26,60 20,04 10,22 20,81 47,39 69,26 88,01 26,26 23,69 50,06
Demais municípios 20,90 23,79 20,03 23,79 27,08 29,12 13,47 11,31 3,43 12,97 43,88 71,01 86,46 13,03 16,04 40,86
Total 31,18 34,12 29,06 33,80 38,97 40,00 23,30 17,80 7,82 18,62 46,71 69,56 87,85 22,27 21,60 48,42
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Faixa etária 5,01 a 10,01
Mulheres Cor ou raça < 1 1a5 10 a 20 > 20 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e Mais Branca Parda Preta SM SM SM SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográficas (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
SP Região Metropolitana 43,39 46,14 45,40 46,77 50,03 50,84 30,48 32,30 10,90 29,74 48,65 68,50 86,21 36,04 35,51 56,17
Demais municípios 32,65 35,31 31,30 36,60 35,51 36,46 22,79 22,34 6,48 19,90 43,61 67,00 85,84 24,12 26,45 48,69
Total 37,76 40,64 38,05 41,73 41,93 42,76 27,60 27,65 8,56 24,07 46,11 67,76 86,08 29,45 30,61 52,65
Total Região Metropolitana 39,34 42,15 39,54 42,36 46,52 47,83 28,73 25,45 10,63 25,71 48,62 68,43 86,56 31,64 30,46 53,59
Demais municípios 25,77 28,27 23,51 29,45 28,74 32,59 15,98 14,64 4,27 16,78 42,81 65,05 82,14 17,66 20,41 44,51
Total 31,82 34,72 30,47 35,64 36,62 39,32 21,96 20,10 6,36 20,41 45,75 66,82 85,01 23,14 24,67 49,38
Sul PR Região Metropolitana 34,09 35,98 31,86 38,50 35,03 38,29 19,49 21,35 8,48 21,41 44,75 60,09 77,01 24,81 24,69 49,59
Demais municípios 15,51 17,40 14,85 19,01 13,22 18,01 10,58 10,65 2,06 10,58 33,97 46,41 69,41 11,11 11,50 29,24
Total 20,50 22,54 19,47 24,65 18,31 23,93 12,39 14,19 3,09 13,09 37,86 51,89 73,34 14,18 14,77 36,38
RS Região Metropolitana 34,39 37,40 31,25 39,45 36,79 38,24 22,60 28,22 4,72 21,95 46,28 67,92 85,77 25,45 24,87 51,91
Demais municípios 24,58 28,29 20,75 30,03 28,31 28,18 16,02 10,70 3,44 16,50 50,29 67,99 62,90 16,53 20,10 44,25
Total 27,83 31,40 24,30 33,33 30,95 31,44 18,18 20,91 3,72 18,18 48,75 67,96 74,16 19,30 21,53 47,32
SC Demais municípios 22,51 25,04 21,06 27,52 24,40 24,81 11,58 18,30 2,15 14,66 32,86 56,25 64,49 17,07 17,04 37,79
Total 22,51 25,04 21,06 27,52 24,40 24,81 11,58 18,30 2,15 14,66 32,86 56,25 64,49 17,07 17,04 37,79
Total Região Metropolitana 34,26 36,79 31,52 39,03 36,15 38,26 20,90 26,83 6,45 21,72 45,63 64,55 81,65 25,16 24,80 50,89
Demais municípios 20,66 23,41 18,54 25,31 22,08 23,85 12,13 12,33 2,58 13,73 39,32 57,32 65,40 14,36 16,38 37,14
Total 23,89 26,71 21,69 28,78 25,25 27,29 14,04 18,77 3,17 15,47 41,07 59,67 72,09 16,64 18,19 41,27
(continua...)
"!
""
R E G U L A Ç Ã O
Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Faixa etária 5,01 a 10,01
Mulheres Cor ou raça < 1 1a5 10 a 20 > 20 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e Mais Branca Parda Preta SM SM SM SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográficas (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
SAÚDE VOLUME 3
Centro- DF Total 31,69 34,09 27,72 33,45 47,30 43,38 23,68 24,40 6,60 12,97 39,23 56,20 79,13 23,26 19,84 46,12
Oeste GO Total 20,42 23,06 16,86 24,21 23,92 26,94 16,98 15,01 5,35 15,60 40,25 54,83 70,89 14,06 16,97 37,78
MS Total 23,07 26,37 19,33 28,62 21,46 27,77 21,40 25,00 6,18 17,43 42,27 62,59 80,13 15,96 20,41 40,47
MT Total 12,36 14,58 10,63 15,90 17,33 18,43 9,93 15,72 2,21 7,63 25,11 42,89 55,74 8,07 8,46 26,47
Total Total 21,05 23,91 17,81 25,03 25,37 28,52 16,99 18,37 4,90 13,86 37,54 54,42 73,20 14,31 16,13 38,21
Brasil Região Metropolitana 36,23 38,95 34,62 39,43 43,37 45,49 25,98 24,73 8,48 23,81 48,62 68,65 86,09 27,21 27,71 51,83
Demais municípios 17,75 19,97 15,02 21,81 19,87 26,20 10,52 11,25 2,34 12,23 39,62 59,90 74,74 10,14 15,06 37,94
Total 23,10 25,74 20,17 27,47 26,87 32,39 14,31 16,77 3,37 15,29 43,12 63,55 80,58 13,84 18,72 43,57
Norte AC Total 77,04 80,49 95,23 81,82 74,98 85,90 70,76 - 84,61 80,43 75,71 84,44 73,06 77,78
AM Total 56,62 66,19 77,46 62,55 76,19 66,66 60,12 54,97 62,38 63,78 59,06 66,83 53,94 62,62
AP Total 55,68 71,55 88,89 69,86 85,71 72,22 60,16 68,75 63,86 54,90 79,37 77,20 48,89 65,14
PA Região Metropolitana 69,11 77,42 86,43 75,19 87,17 76,13 72,65 63,14 71,29 76,35 75,92 78,39 69,55 73,53
Demais municípios 52,14 69,71 63,22 72,77 72,23 61,57 61,21 77,80 57,17 66,83 85,11 57,93 54,78 69,69
Total 60,60 73,78 72,37 74,07 82,35 70,20 66,53 67,26 62,61 71,58 77,27 65,93 61,23 72,08
RO Total 58,69 74,07 88,00 78,74 100,00 71,96 60,37 81,82 56,97 63,54 77,19 68,03 56,36 69,62
RR Total 85,01 81,82 83,32 76,95 100,00 88,91 90,01 - 60,00 100,00 94,13 85,69 66,67 86,38
TO Total 65,65 69,98 81,08 71,18 79,51 68,09 68,04 71,32 65,40 68,28 74,53 71,50 57,47 70,76
Total Região Metropolitana 69,11 77,42 86,43 75,19 87,17 76,13 72,65 63,14 71,29 76,35 75,92 78,39 69,55 73,53
Demais municípios 57,97 70,32 77,55 70,84 77,94 69,23 62,11 66,48 60,48 65,63 72,12 66,39 55,57 67,82
Total 60,41 71,96 78,99 71,83 81,45 70,86 64,40 65,60 62,63 67,72 73,24 68,50 58,44 69,31
Nordeste AL Total 66,13 75,84 76,56 74,72 81,16 74,85 66,98 64,70 69,42 66,19 78,57 75,00 68,32 71,12
BA Região Metropolitana 74,26 82,42 92,55 81,81 87,90 83,44 76,89 72,78 77,37 79,65 79,95 84,40 73,44 78,65
Demais municípios 62,06 75,23 77,10 75,14 86,84 70,99 67,86 71,79 65,94 75,08 71,29 75,00 57,60 71,89
Total 69,18 79,44 86,23 79,10 87,43 77,99 72,83 72,63 71,62 77,55 77,49 79,84 66,12 76,14
(continua...)
"#
"$
R E G U L A Ç Ã O
Faixa etária Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Mulheres Cor ou raça < 5 5,01 a > 10 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e mais Branca Parda Preta SM 10 SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográfica (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
SAÚDE VOLUME 3
CE Região Metropolitana 70,42 80,23 89,86 81,39 82,21 78,34 73,50 82,75 72,57 75,77 80,92 75,97 71,39 77,44
Demais municípios 66,25 78,46 81,81 81,82 77,27 77,05 68,60 - 76,02 72,04 69,57 74,44 68,96 74,16
Total 69,47 79,84 88,32 81,48 80,84 78,04 72,44 82,75 73,33 74,84 78,31 75,59 70,75 76,79
MA Total 66,86 73,93 88,24 72,22 88,23 75,53 66,29 72,22 62,71 71,97 75,63 72,62 67,21 70,95
PB Total 71,43 81,39 90,72 84,08 89,25 81,21 71,53 - 73,56 77,61 80,44 80,63 66,67 78,27
PE Região Metropolitana 72,94 82,95 89,19 81,68 87,63 80,23 75,54 76,69 78,13 78,95 79,47 85,91 74,95 76,84
Demais municípios 49,86 69,64 70,83 68,48 71,42 63,88 57,82 - 57,50 64,44 75,56 59,09 54,10 66,09
Total 65,65 78,66 82,65 77,28 84,17 74,98 69,90 64,16 69,63 74,19 78,83 74,67 67,14 74,14
PI Total 69,96 83,33 80,65 85,03 92,30 80,22 75,50 - 79,90 72,11 77,60 73,08 70,59 80,48
RN Total 77,43 82,96 93,55 83,60 81,97 82,54 77,51 84,62 79,89 81,33 81,90 85,00 75,91 80,28
SE Total 69,66 77,70 81,69 73,90 83,58 77,74 71,93 78,94 73,31 72,57 80,00 75,12 72,02 74,72
Total Região Metropolitana 72,82 82,04 90,62 81,66 86,28 80,66 75,53 73,90 76,40 78,39 80,05 82,67 73,47 77,69
Demais municípios 65,62 77,20 82,33 77,19 84,00 75,29 69,07 62,89 68,65 72,89 77,37 73,88 64,04 74,14
Total 68,74 79,27 85,60 79,11 85,01 77,53 71,79 70,24 71,79 75,11 78,56 77,19 68,07 75,76
Sudeste ES Total 73,05 82,59 91,09 83,95 82,31 78,92 77,69 67,39 69,60 80,49 86,30 80,56 70,36 80,34
MG Região Metropolitana 68,29 80,08 92,38 79,25 88,19 77,35 70,84 70,83 71,52 74,50 79,05 80,05 69,24 75,16
Demais municípios 63,22 73,83 82,77 73,69 86,67 71,08 63,60 61,95 67,77 72,45 67,09 73,42 66,51 67,75
Total 64,99 76,11 86,41 75,76 87,20 73,09 66,71 65,95 68,96 73,17 72,01 75,59 67,44 70,58
(continua...)
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3
Faixa etária Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Mulheres Cor ou raça < 5 5,01 a > 10 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e mais Branca Parda Preta SM 10 SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográfica (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
RJ Região Metropolitana 62,79 77,44 86,47 74,20 84,68 71,76 67,03 71,86 69,01 69,42 74,21 78,23 67,66 69,47
Demais municípios 68,84 81,52 92,41 80,94 81,82 75,72 78,85 68,29 76,33 78,40 72,15 81,70 78,02 72,46
Total 63,80 78,11 87,56 75,31 84,23 72,44 68,75 71,27 70,42 71,06 73,91 78,84 69,76 69,91
SP Região Metropolitana 64,45 77,51 85,49 76,62 83,35 72,55 67,73 71,11 73,13 69,65 71,25 79,08 69,87 69,21
Demais municípios 63,29 74,50 86,89 72,06 84,85 69,84 67,27 61,47 69,14 68,44 69,82 77,77 67,48 66,47
Total 63,92 76,18 86,09 74,64 84,06 71,25 67,59 67,47 71,25 69,07 70,63 78,49 68,75 68,02
Total Região Metropolitana 64,40 77,78 86,61 76,23 84,30 72,76 68,10 71,36 71,66 70,10 72,80 78,96 69,24 69,90
Demais municípios 64,29 75,39 86,49 73,86 84,82 70,95 68,46 62,90 69,26 70,83 70,60 76,99 68,12 68,15
Total 64,35 76,74 86,56 75,21 84,53 71,92 68,24 68,31 70,49 70,43 71,89 78,05 68,71 69,17
Sul PR Região Metropolitana 70,52 79,97 91,06 79,76 81,32 75,63 75,00 70,38 72,25 78,27 75,37 83,47 68,80 75,05
Demais municípios 62,80 74,74 83,02 78,74 72,22 70,21 62,98 52,17 64,95 68,99 74,76 72,59 63,66 69,90
Total 66,24 77,05 86,60 79,20 76,28 72,74 66,82 61,23 67,74 72,95 75,06 76,85 65,78 72,36
RS Região Metropolitana 70,89 81,97 90,83 81,49 84,49 78,19 66,84 68,48 73,90 76,56 79,60 82,91 71,59 77,08
Demais municípios 62,06 76,51 82,24 75,78 83,92 70,17 66,13 68,57 68,69 69,60 72,21 76,70 67,13 69,10
Total 65,67 78,74 85,97 78,15 84,13 73,33 66,42 68,50 70,61 72,14 75,75 79,24 68,67 72,61
SC Total 61,62 74,68 78,44 77,00 79,07 68,96 59,72 67,86 68,10 64,60 73,19 69,28 66,01 69,58
(continua...)
"%
"&
R E G U L A Ç Ã O
SAÚDE VOLUME 3
Faixa etária Renda familiar Nível de escolaridade
Sexo Mulheres Cor ou raça < 5 5,01 a > 10 < 4 4a7 8e+
Unidades Masc Fem < 5 15 a 49 60 e mais Branca Parda Preta SM 10 SM SM anos anos anos
Regiões UFs Geográfica (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Total Região Metropolitana 70,73 81,13 90,94 80,74 83,36 77,09 71,01 68,79 73,20 77,27 77,83 83,16 70,48 76,22
Demais municípios 62,13 75,49 81,33 76,97 80,17 69,80 63,62 63,70 67,41 67,94 73,22 73,12 65,99 69,46
Total 65,06 77,41 84,72 78,26 81,20 72,24 66,02 66,93 69,17 70,81 75,02 76,33 67,31 71,96
C.-Oeste DF Total 74,41 83,02 91,21 83,16 87,28 80,03 77,47 80,00 74,66 76,89 81,27 81,84 72,89 79,77
GO Total 62,03 73,88 80,34 74,36 83,62 69,97 66,18 65,12 66,42 65,83 74,28 70,86 63,34 69,81
MS Total 61,56 76,91 81,66 79,80 75,99 71,01 67,65 63,63 68,12 68,92 73,14 73,37 65,59 70,29
MT Total 60,05 69,49 72,46 71,58 75,71 65,86 63,40 69,44 62,85 60,18 71,29 69,30 54,10 67,48
Total Total 64,81 76,30 82,47 77,33 82,16 72,39 68,71 70,25 67,40 68,37 76,68 73,58 64,47 72,65
Brasil Região Metropolitana 66,37 78,76 87,69 77,52 84,49 74,17 70,46 71,50 72,67 72,01 74,32 79,94 69,92 71,83
Demais municípios 63,83 75,55 83,76 75,28 83,40 71,24 67,59 64,03 68,07 69,96 72,91 74,70 66,21 69,90
Total 64,99 77,03 85,53 76,31 83,93 72,56 68,87 68,54 69,96 70,86 73,60 76,93 67,80 70,83
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é apresentar alguns subsídios para a discussão sobre finan-
ciamento do setor de saúde suplementar no Brasil. O artigo consiste, na primeira parte, de uma
discussão sobre alguns problemas que devem ser considerados quando da escolha das formas
de financiamento dos gastos com bens e serviços de saúde, assim como dos mecanismos regu-
latórios a serem implementados de modo a contemplar as particularidades desse mercado.
Essa discussão se utiliza fundamentalmente das evidências observadas em alguns países:
Canadá, Inglaterra e Estados Unidos. Dado o recente desenho dos sistemas de saúde da América
Latina, não estendemos nossa análise considerando esses países, o que certamente poderá
ser realizado futuramente, em virtude, sobretudo das similaridades entre os problemas vividos
por esses países e o Brasil que torna sempre pertinente a comparação.
A segunda parte do trabalho consiste fundamentalmente de uma análise empírica sobre
o setor de saúde suplementar no Brasil, em particular dando ênfase à forma como este setor se
financia. Os dados utilizados no trabalho são provenientes da Pesquisa Nacional de Amostra
por Domicílios PNAD realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
anualmente, cujo questionário suplementar em 1998 versou sobre saúde. Não existem dados
mais atualizados que nos permitam fazer uma comparação do financiamento antes e depois da
|1| Colaboraram Ana Carolina Maia, Mestranda em Economia do CEDEPLAR/UFMG e Kenya Valéria
Micaela de Souza Noronha, Doutoranda em Economia do CEDEPLAR/UFMG. As autoras agradecem ao
apoio logístico de Cristina Guimarães, assistente de pesquisa, sem a qual o trabalho não seria possível.
|2| Professora do CEDEPLAR/UFMG.
# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
2. CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE
rendimentos diretos, se o sistema de reembolso for por tarefa, como para tentar garantir a
certeza de um diagnóstico correto. Por último, podem ainda existir, dependendo dos meca-
nismos que o governo implementa para garantir acesso a estes bens, problemas de seleção
adversa de consumidores neste mercado.
2 . 1 . F i n a n c i a me n t o p ú b l i c o o u p r i v a d o ? O s p r o b l e ma s
d e r i s c o mo r a l e s e l e ç ã o a d v e r s a
|3| A cobertura parcial diz respeito ao contrato de seguro no qual, mesmo excedido o limite da franquia, o
consumidor continua sendo responsável por uma parcela do pagamento, através dos co-seguros ou co-
pagamentos.
#" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
serviços de saúde, que pode ou não ser sancionada pelo governo federal dependendo do
orçamento definido para a saúde.4
Na relação de contratos entre os provedores e a fonte financiadora, que pode ser a
seguradora, se o financiamento for privado, ou do governo, se o financiamento for público, o
problema de risco moral decorre da indução de demanda por serviços médicos gerada pelos
provedores. Usualmente, os provedores não arcam com qualquer parcela do risco da atividade
médica e auferem o seu rendimento dependendo do volume de procedimentos realizado. Este
sistema de reembolso gera incentivos para os médicos determinarem maior nível de demanda.
Como os pacientes não têm informação suficiente para julgar se o procedimento determinado
é necessário, o provedor tem livre arbítrio para determinar a necessidade de qualquer pro-
cedimento de diagnóstico e tratamento. O médico tem incentivos a determinar o maior volume
de serviços, pois deste modo terá sua renda elevada. Além do rendimento direto, o uso ex-
cessivo de serviços pode ser também ocasionado pela medicina defensiva, por exemplo.5
Como vimos anteriormente, uma das inovações proposta nos contratos do Managed
Care é a participação dos provedores na divisão do risco da atividade médica.6 Desse modo,
estes incorporam a restrição orçamentária do consumidor na sua decisão de realizar deter-
minado tratamento. Como os bens e serviços providos por estes profissionais estão relacionados
à possibilidade e qualidade de vida dos indivíduos, na ausência de restrição orçamentária, o
melhor para os indivíduos é sempre receber o melhor atendimento possível e, portanto realizar
todos os procedimentos médicos disponíveis. Entretanto, o uso desses serviços é dispendioso,
sendo, portanto, necessário que o médico considere o custo de realizar o serviço na decisão de
determinar os encaminhamentos médicos necessários. Estes argumentos são válidos para a
relação de contrato com qualquer provedor dos serviços médicos.
|4| O percentual de redução de gastos decorrente da implementação de divisão de custos depende do grau de
responsabilidade que é colocada sobre o consumidor, mas pode chegar até a 40% (Ver NEWHOUSE, 1996). A
divisão em torno de 5% a 20% é usualmente utilizada.
|5| Ver McClean e Kessler (1996).
|6| O Managed Care propõe vários outros instrumentos de gerenciamento da utilização dos serviços, controle
da qualidade dos serviços, controle do risco da carteira de associados de cada médico que são introduzidas
conjuntamente com a divisão de risco com os provedores.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 ##
|7| Outro argumento contra o Managed Care diz respeito ao sistema de um único pagador. Para estes autores
o sistema concorrencial gera custos administrativos elevados. A evidência empírica da concorrência estratégica
nos Estados Unidos, entretanto não corrobora este argumento.
#$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|8| As pesquisas que existem nesse campo não são de forma alguma conclusivas. No trabalho de Baily e
Gruber (1997), por exemplo, os Estados Unidos são mais eficientes que a Inglaterra no tratamento de câncer
de pulmão e pedra nos rins exatamente pelo uso mais intensivo de capital.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #%
sem dúvida, é um puzzle importante na área de financiamento dos planos de saúde que merece
uma atenção especial dos reguladores no momento de definição das regras.
2 . 1 . 2 . O pr o b l e ma d e s e l e ç ã o ad v e r s a
|9| Recorrentemente se encontra na literatura o argumento de que a seleção adversa de consumidores decorreria
de assimetria de informações entre pacientes e seguradoras. Neste caso, os pacientes mais informados sobre
seu verdadeiro estado de saúde só demandariam planos de seguro quando realmente fossem utilizá-los.
Somente os indivíduos de alto risco comprariam planos de seguro, configurando, portanto seleção adversa de
consumidores. Entretanto, atualmente, quando o indivíduo compra plano de seguros, a seguradora requer
para estabelecer o contrato, uma série de informações sobre os hábitos de vida e consumo dos indivíduos, o
que a permite mapear o risco dos indivíduos não justificando portanto a seleção adversa neste contexto.
#& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
aqueles indivíduos com risco mais baixo e, portanto que pagariam prêmios menores, não
podem desfrutar de cobertura plena, caso contrário os indivíduos de maior risco na economia
prefeririam comprar o contrato de seguro desenhado para os tipos de risco menor. Para
proteger determinados grupos na sociedade, em geral é mais eficiente, o Estado realizar a
transferência direta de recursos, isto é, taxar os indivíduos de menor risco e transferir para
os indivíduos de risco mais elevado.10
O sistema de pagamento de tarifa única, community rating, onde, por exemplo,
indivíduos de uma mesma região geográfica, pagam o mesmo prêmio de risco, só é possível, se
a compra de plano de seguro for mandatória, ou em outro caso, se o seguro for administrado
por um empregador, e este esteja indiretamente forçando um subsídio cruzado entre os diversos
grupos de indivíduos da empresa, caso contrário, o equilíbrio da economia pode ser instável ou
mesmo não existir, dependendo da fração de cada grupo na sociedade.11 A possibilidade de
seleção adversa de consumidores tem conseqüências diretas tanto no sistema de regulamen-
tação dos planos de seguros, como nos contratos propostos pelas seguradoras. Duas formas
usuais de evitar a seleção adversa são as imposições de cláusulas sobre doenças preexistentes
e tempos de carência para tratamentos específicos. Na ausência destas especificações, os indi-
víduos só demandam o plano de seguro quando irão utilizar os serviços. No caso da economia
americana, praticamente todas as seguradoras têm cláusulas sobre exclusão de cobertura
para doenças preexistentes. Em alguns países, os governos têm forçado uma regulamentação
propondo cobertura ampla para todos os serviços sem exclusão de doenças preexistentes. As
conseqüências dessa regulamentação podem determinar inclusive o fechamento do mercado
de seguros. Em economias com mercado de seguros mais sólido, algumas empresas que
operam em maior escala têm condição de absorver este tipo de risco.12
|10| Esta perda de bem-estar também pode ocorrer quando o governo tenta implementar subsídio cruzado
entre grupos sociais através do setor privado. Ver Newdeck e Podczeck (1996).
|11| Rohtschild e Stiglitz (1976).
|12| Dois mecanismos regulatórios, utilizados para proteger os consumidores, entretanto são importantes:
garantia do direito de se associar a qualquer plano de seguro e garantia de renovação do contrato com a
seguradora. Estes dois mecanismos são fundamentais para evitar a seleção de consumidores pela seguradora
(seleção do risco).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 #'
|13| Uma outra forma de analisar este subsídio, é interpretá-lo como um subsídio intertemporal do mesmo
indivíduo.
|14| Segundo a Constituição Federal, Título VIII, Capítulo II, Artigo 196, a saúde é um direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|15| A participação da comunidade no SUS é realizada através de duas instâncias colegiadas: a conferência de
saúde e o Conselho de Saúde. A Conferência de Saúde contém representação de vários segmentos sociais e
se reúne a cada quatro anos para propor diretrizes e planos na gestão da saúde. O Conselho de Saúde é um
órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e
usuários, atuando na formulação de políticas e estratégias e no controle da execução da política de saúde.
|16| O Sistema Único de Saúde foi regulamentado através da lei 8.080 de 19/9/1990 também denominada de
Lei Orgânica do SUS, e da Lei 8.142 de 28/12/1990 que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão
do SUS e sobre as transferências de recursos do governo federal para as instâncias estaduais e municipais.
|17| Estas fontes constituem fundamentalmente os recursos para o financiamento federal dos serviços de
saúde, mas os mesmos também são financiados pelos Estados e Municípios.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 $
o Sistema de Saúde somaram 23,5 bilhões de reais.18 Destes, 51,89% foram oriundos de
Contribuições Sociais, 38,84% da CPMF e 9,27% são de outras fontes.
Tabela 1 S U S P A RT I C I PA Ç Ã O N O F I NA N C I A M E N TO P O R
NÍVEL DE GOVERNO 1994/1998
|18| Este valor depende da metodologia adotada. Na metodologia adotada pelo Ministério da Saúde, por
exemplo, são contabilizados todos os gastos do Ministério da Saúde somados ainda aos gastos do Ministério
da Educação e Cultura com os hospitais universitários, os recursos transferidos diretamente pelo Ministério
da Fazenda ao governo do Distrito Federal e os gastos do Ministério do Trabalho referentes à saúde do
trabalhador.
|19| Ver Andrade e Lisboa (2000).
$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|22| O Suplemento de Saúde da Pnad/98 não apresenta pergunta direta sobre qual o tipo de plano o indivíduo
possui.
|23| Os planos e seguros de saúde foram regulamentados através da Lei 9.656, de 03 de junho de 1998.
$" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
sem limitação de prazo, CTI sem limite de prazo, prazo máximo de carência de 300 dias para
partos e 180 dias para os demais casos, reembolso das despesas efetuadas pelo beneficiário
com assistência em caso de urgência e emergência quando não for possível a utilização dos
9) Criação de sete faixas etárias ( 0 a 17, 18 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59, 60 a 69, acima
de 70 anos). O valor máximo do prêmio cobrado da última faixa não pode exceder a seis
vezes o prêmio da primeira faixa;
11) Determina a criação dos seguintes tipos de planos alternativos ao plano de referência:
plano ambulatorial, plano hospitalar com obstetrícia, sem obstetrícia, odontológico e suas
combinações. (Determina o rol de procedimentos oferecido em cada um dos planos acima);
de um diretor fiscal;
13) Determina o ressarcimento do SUS quando os serviços forem prestados pelo mesmo.
setores público e privado. Do ponto de vista do financiamento falta investigar, por exemplo,
como os mecanismos de divisão de custos influenciam a utilização dos serviços de saúde e tam-
bém sobre a presença de seleção adversa de pacientes no sistema público de saúde. Além
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 $#
serviços de saúde, sobretudo para as classes de renda inferior que acabam tendo maior di-
ficuldade de acesso aos serviços de saúde. A inexistência de mecanismos de racionalização
dos serviços de saúde tanto no setor público, como em grande parte do setor privado torna
mais aguda a dificuldade de financiar amplamente todos os tipos de serviços, tal como pre-
visto pela Constituição.
A Tabela 2 sistematiza os gastos domiciliares com saúde no Brasil por região e decil de
renda como percentagem da renda familiar em 1998. Chama a atenção a elevada fração da renda
domiciliar alocada em gastos com saúde: em praticamente todas as regiões e para todas as faixas
de renda, esta fração se aproxima dos 10%. Este comportamento, entretanto não é mono-
tônico. Nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, as regiões mais ricas do país, esse compor-
tamento é decrescente com a renda, indicando que as parcelas mais pobres alocam uma fração
da renda maior do que as mais ricas. Este padrão de gastos provavelmente está associado aos
componentes dos gastos com bens-saúde entre os grupos socioeconômicos. Para os grupos de
renda mais baixa o principal componente do gasto familiar com saúde são os medicamentos.
Em geral, esse gasto oscila em torno de 50%-75% dos gastos totais para os três primeiros
aumenta, a fração gasta em medicamentos decresce, chegando a cerca de 1,5% da renda para
os 10% mais ricos. O mesmo comportamento regressivo pode ser observado para os
gastos com consulta médica em quase todas as regiões (a única exceção é a Região Nordeste),
ainda que de forma bem menos acentuada do que os gastos com medicamentos).
$$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
T a b e l a 2 P A RT I C I PA Ç Ã O D O G A S TO P O R D E C I L D E R E N DA SE G U N D O
C A DA CAT E G O R I A D E GA S TO R E G I Ã O N O RT E 1 9 9 8 ( % )
(continuação) T a b e l a 2 P A RT I C I PA Ç Ã O D O G A S T O P O R D E C I L D E R E N DA
SE G U N D O C A DA CAT E G O R I A D E GA S TO R E G I Ã O N O R D E S T E 1 9 9 8 ( % )
(continuação) T a b e l a 2 P A RT I C I PA Ç Ã O D O G A S TO P O R D E C I L D E R E N DA
SE G U N D O C A DA CAT E G O R I A D E GA S TO R E G I Ã O S U D E S T E 1 9 9 8 ( % )
(continuação) T a b e l a 2 P A RT I C I PA Ç Ã O D O G A S TO P O R D E C I L D E R E N DA
SE G U N D O C A DA CAT E G O R I A D E GA S TO R E G I Ã O S U L 1 9 9 8 ( % )
(continuação) T a b e l a 2 P A RT I C I PA Ç Ã O D O G A S TO P O R D E C I L
D E R E N DA SE G U N D O C A DA CAT E G O R I A D E GA S TO
R E G I Ã O C E N T R O - O E S T E 1 9 9 8 (%)
Ta b e l a 3 G A S TO M É D I O D O M I C I L I A R E M R E A I S P O R D E C I L D E R E N DA
S E G U N D O C A DA C AT E G O R I A D E G A S TO R E G I Ã O N O RT E 1 9 9 8
(continuação) Ta b e l a 3 G A S TO M É D I O D O M I C I L I A R E M R E A I S P O R
D E C I L D E R E N DA S E G U N D O C A DA C AT E G O R I A D E G A S TO
REGIÃO NORDESTE 1998
(continuação) Ta b e l a 3 G A S TO M É D I O D O M I C I L I A R E M R E A I S P O R
D E C I L D E R E N DA S E G U N D O C A DA C AT E G O R I A D E G A S TO
REGIÃO SUDESTE 1998
(continuação) Ta b e l a 3 G A S TO M É D I O D O M I C I L I A R E M R E A I S P O R
D E C I L D E R E N DA S E G U N D O C A DA C AT E G O R I A D E G A S TO
REGIÃO SUL 1998
(continuação) Ta b e l a 3 G A S TO M É D I O D O M I C I L I A R E M R E A I S P O R
D E C I L D E R E N DA S E G U N D O C A DA C AT E G O R I A D E G A S TO
REGIÃO CENTRO-OESTE 1998
Como esperado, os gastos com medicamentos aumentam com o aumento da renda das
famílias. Dessa forma, a regressividade dos gastos com medicamentos observada na Tabela 2
significa que os gastos com medicamentos aumentam em uma taxa bem menor do que a renda
familiar. Enquanto a renda média do décimo decil é cerca de 40 vezes superior ao do primeiro
decil, os gastos com medicamentos do décimo decil são cerca de cinco a dez vezes superiores aos
do primeiro decil.
Um resultado talvez mais surpreendente ocorre na Tabela 4. Nessa tabela são apre-
sentados os gastos médios nominais com medicamentos contabilizando apenas a fração de
domicílios que teve algum gasto positivo. Como pode ser observado, os gastos com medi-
camentos do décimo decil são apenas três vezes superiores aos do primeiro decil, ocorrendo a
maior diferença na Região Nordeste, onde a diferença chega a cerca de 3,51 vezes. Dessa forma,
uma parcela significativa da regressividade dos gastos com medicamentos ocorre na decisão
de realizar algum gasto positivo com medicamentos.
% R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
T a b e l a 4 V A LO R M É D I O E M R E A I S D O S G A S TO S D O M I C I L I A R E S
COM MEDICAMENTOS SEGUNDO REGIÕES
(considerando apenas os indivíduos que tiveram gastos positivos)
Duas razões pelo menos podem explicar esse fenômeno. Em primeiro lugar, os grupos
de menor renda podem diagnosticar com maior dificuldade a necessidade de consumo de algum
medicamento. Em segundo lugar, a tecnologia do impacto positivo dos medicamentos pode
apresentar características semelhantes a de uma tecnologia Leontief, onde um gasto mínimo
pode ser necessário para que o tratamento tenha qualquer eficácia. Portanto, a fração das fa-
mílias que resolvem não adquirir o conjunto de medicamentos necessários pode diminuir com
a renda. A precisa investigação desse ponto necessitaria de uma análise das decisões das famílias
de aquisição de medicamentos controlando-se pelo seu estado de saúde ou diagnóstico médico
realizado. Infelizmente, esses dados não se encontram disponíveis na PNAD-98.
O mesmo impacto da renda na decisão de realização de gastos positivos com me-
dicamentos pode ser observado dos gastos médicos em geral, como mostrado na Tabela 5.
Nas diversas regiões, a decisão de realizar algum gasto com saúde aumenta monotonicamente
com a renda, sobretudo nos dois últimos decis, sendo cerca de três a cinco vezes superior no
último decil do que no primeiro decil. A principal componente de aumento da decisão de gasto
com saúde é a aquisição de planos de saúde. A percentagem de domicílios que decidem adquirir
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %!
planos é cerca de 15 vezes maior no décimo decil do que no primeiro decil. No décimo decil das
Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o percentual de indivíduos com plano de saúde alcança
70% (Tabela 7).
Ta b e l a 5 P E RC E N T UA L D O S D O M I C Í L I O S Q U E A P R E S E N TA RA M
ALGUM TIPO DE GASTO MÉDICO
Ta b e l a 6 P E R C E N T UA L D O S D O M I C Í L I O S Q U E R E A L I Z A RA M
GASTOS COM MEDICAMENTOS
Ta b e l a 7 P E RC E N T UA L D O S D O M I C Í L I O S
QUE TÊM PLANO DE SAÚDE
O objetivo da primeira parte desta seção é investigar o perfil da população coberta por
plano de saúde e o perfil dos planos no Brasil, a partir de dados da PNAD/98. Para tanto, con-
sideramos três categorias de adesão ao plano de saúde. A primeira, denominada de adesão
voluntária, consiste dos indivíduos que compram o plano sem o intermédio do empregador. A
segunda categoria engloba os indivíduos que possuem plano de saúde por intermédio do vínculo
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %#
trabalhista com o setor público e esse plano é gerido por uma instituição pública.24 Esse é o caso,
por exemplo, dos funcionários públicos estaduais que possuem um plano de saúde de instituição
estadual, como a PREVIMINAS em Minas Gerais. A terceira categoria consiste dos indivíduos
que possuem plano por intermédio do empregador, mas o plano de saúde é privado.25
Na segunda parte, realizamos dois exercícios. No primeiro, a partir da estimação de
modelos de regressão logística, procuramos responder às seguintes questões: a) quais são os
principais determinantes da decisão de compra do plano de saúde, ou seja, quais os fatores que
explicam a probabilidade do indivíduo ter plano; b) considerando apenas os indivíduos que
têm plano, quais os fatores que determinam a adesão às três categorias especificadas.
O segundo exercício consiste em entender os fatores que afetam a probabilidade do
indivíduo ter um plano cuja mensalidade pertence a um determinado intervalo. Nesse caso,
estimamos um modelo probit ordenado, no qual a variável dependente apresenta sete categorias
de resposta, que correspondem às faixas de mensalidade do plano.26 Este exercício permite
conhecer melhor como os indivíduos escolhem seus contratos de planos de saúde dando
suporte para a análise da capacidade de solvência das operadoras.
|24| Essa subamostra é classificada a partir da pergunta se o plano ao qual a pessoa pertence é de instituição
pública ou privada. Caso a resposta seja pública, o indivíduo é classificado dentro dessa segunda categoria.
Aqueles que não possuem plano público são separados em adesão voluntária e adesão via empregador
privado.
|25| Nesse caso a variável usada é a resposta sobre quem paga a mensalidade deste plano de saúde. Caso a
resposta seja somente o empregador ou o titular através do trabalho anterior ou atual, o plano é caracterizado
como via emprego no setor privado, caso contrário, como adesão voluntária.
|26| São sete faixas, ordenadas de 0 a 6 no modelo estimado. São: Até 30 reais, mais de 30 até 50 reais, mais de
50 até 100 reais, mais de 100 até 200 reais, mais de 200 até 300 reais, mais de 300 até 500 reais e mais de 500 reais.
%$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
setor público compreende 22.323 observações. A categoria de adesão via empregador cujo
plano é privado e a categoria de adesão voluntária possuem 30.644 e 25.504 observações,
respectivamente.
Ta b e l a 8 A D E S Ã O AO P L A N O D E S A Ú D E E C AT E G O R I A D E A D E S Ã O
S E G U N D O QU I N T I S D E R E N DA E S E XO
Pela Tabela 9, observamos que entre os indivíduos mais jovens, a proporção de adesão
via trabalho é mais elevada (71,84%). Por outro lado, a proporção de indivíduos com planos de
adesão voluntária tende a aumentar com a idade. Entre os indivíduos com 70 anos e mais,
56,95% possuem planos por adesão voluntária. Esse percentual se reduz à metade entre os
segurados de 0 a 17 anos.
Ta b e l a 9 C AT E G O R I A D E A D E S Ã O S E G U N D O G RU P O S D E I DA D E
Esse resultado não nos permite concluir se haverá um problema de financiamento nas
seguradoras, tendo em vista que a regra de preços foi implementada em 1998, ou seja, após a
realização da PNAD/98, e, sobretudo, porque não conhecemos a composição etária da carteira
de cada seguradora. Com a nova regra de apreçamento, se houver aumento do preço dos
seguros para os indivíduos mais jovens, provavelmente, estes tenderão a se desligar do plano,
especialmente na categoria de adesão voluntária. Essa distribuição pode se constituir em um
problema de financiamento caso a carteira da seguradora não seja diversificada entre os tipos de
adesão, ou seja, se os contratos de adesão ao plano forem predominantemente voluntários.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 %'
Ta b e l a 1 0 C AT E G O R I A D E A D E S Ã O S E G U N D O FA I X A
D E M E N S A L I DA D E D O P L A N O
Ta b e l a 1 1 C AT E G O R I A D E A D E S Ã O S E G U N D O R A M O S D E AT I V I DA D E
5 . 1 . 2 . Per fi l do pl ano de s aú de
com custos mais elevados, como os de internação hospitalar, e tendem a oferecer mais alguns
benefícios que facilitam o acesso aos serviços de saúde, tais como listas dos serviços creden-
ciados e direito a atendimentos em outros municípios. Além disso, entre esses grupos de renda,
a proporção dos seguros que permitem reembolso dos gastos realizados é mais elevada,
evidenciando a maior facilidade de acesso garantida pelos planos de saúde adquiridos por
esses indivíduos.
Um resultado que chama atenção refere-se à cobertura de assistência odontológica. A
proporção dos planos de saúde que cobrem esse tipo de serviço é maior entre os quintis de renda
mais baixa, sugerindo uma lacuna na prestação de assistência odontológica no setor público.
Ta b e l a 1 2 P E R F I L D O P L A N O D E S A Ú D E C O M A D E S Ã O
VO LU N T Á R I A S E G U N D O Q U I N T I S D E R E N DA
Ta b e l a 1 3 P E R F I L D O P L A N O D E S A Ú D E C O M A D E S Ã O V I A
T R A B A L H O P Ú B L I C O S E G U N D O Q U I N T I S D E R E N DA
Ta b e l a 1 4 P E R F I L D O P L A N O D E S A Ú D E C O M A D E S Ã O V I A
T R A B A L H O P R I VA D O S E G U N D O Q U I N T I S D E R E N DA
de t er pl ano de s aú de
Q u a d ro 1 V A R I Á V E I S E X P L I C AT I VA S I N C LU Í DA S
NO MODELO LOGÍSTICO
No modelo que considera apenas a população ocupada, além dessas variáveis, incluímos
também um conjunto de dummies para cada um dos grupos de ramos de atividade considerados
na PNAD/98 e um outro conjunto para indicar a posição na ocupação (Quadro 2).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &#
Q u a d ro 2 C A R AC T E R Í S T I C A S D E O C U PA Ç Ã O
Com relação à escolaridade do chefe de família, observamos uma relação positiva com
a probabilidade de ter plano. No Nordeste e no Sudeste essa probabilidade é 95% e 90% menor,
respectivamente, para os indivíduos cujo chefe de família não tem instrução ou tem menos de
um ano de escolaridade comparado com os que têm curso superior completo. Esse resultado
sugere que o nível de informação que o indivíduo dispõe afeta na sua decisão de comprar o
plano de saúde. Os indivíduos que pertencem a famílias cujo chefe é mais educado podem ter
um melhor entendimento sobre o funcionamento desse mercado, visto que os custos de
informação tendem a decrescer com a escolaridade. Além disso, como esses indivíduos são mais
bem informados, tendem a valorizar mais o cuidado com sua saúde. Como incluímos no
modelo a variável renda, o efeito da restrição orçamentária já estaria sendo controlado. Nesse
sentido, a escolaridade do chefe de família estaria refletindo, em sua maior parte, o nível de
conhecimento que o indivíduo dispõe sobre a importância de se ter um seguro e o seu com-
portamento em relação à sua saúde, e não a capacidade que cada grupo de educação tem para
financiar os custos com os planos e seguros de saúde.
A probabilidade de possuir algum plano de saúde é maior para as mulheres e para os
indivíduos que moram em áreas urbanas.27 O resultado para as mulheres pode indicar uma
seleção de risco contra a seguradora, tendo em vista que as mulheres tendem a utilizar mais os
serviços de saúde e apresentam um estado de saúde mais vulnerável, especialmente na faixa de
idade fértil e nas idades mais avançadas.
|27| Como a PNAD não considera a área rural na Região Norte, não incluímos no modelo estimado para essa
região a variável referente ao local de residência.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 &%
Tabela 15 R E S U LTA D O S D O M O D E LO L O G Í S T I C O : P RO B A B I L I DA D E D E
T E R P L A N O D E S A Ú D E P O R R E G I Ã O G E O G R Á F I C A T O DA A M O S T R A
Odds Ratio
Variáveis
Norte1 Nordeste Sudeste2 Sul C.-Oeste3 DF SP
Odds Ratio
Variáveis
Norte1 Nordeste Sudeste2 Sul C.-Oeste3 DF SP
P rimário
incomp. 0.09*** 0.10*** 0.14*** 0.17*** 0.20*** 0.17*** 0.22***
Primário
comp. 0.15*** 0.15*** 0.22*** 0.21*** 0.22*** 0.26*** 0.28***
1 grau
o
Odds Ratio
Variáveis
Norte1 Nordeste Sudeste2 Sul C.-Oeste3 DF SP
Rio Grande
do Sul - - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 1.09** - -
Mato Grosso - - - - 0.47*** - -
Goiás - - - - - - -
Distrito
Federal - - - - - - -
Local de
Residência - 2.00*** 2.76*** 1.60*** 2.25*** 1.49*** 1.61***
Biparental 1.06 + 1.21*** 1.22*** 1.14*** 1.00 + 1.21*** 1.46***
Número de
Filhos:
Entre
0 e 2 anos 0.94 + 0.96 + 1.09*** 1.20*** 1.04 + 1.08 + 1.32***
Entre
3 e 5 anos 0.95 + 0.96 + 1.05** 1.03 + 1.01 + 0.84*** 1.16***
Entre
6 e 10 anos 0.96 + 1.01 + 1.18*** 1.13*** 1.07** 1.01 + 1.06***
Entre 11 e
15 anos 0.91*** 1.05*** 1.10*** 1.06** 1.03 + 0.84*** 1.11***
caracterizados por possuirem uma baixa expectativa de vida ao nascer, apresentando uma par-
cela mais baixa de indivíduos em idades mais avançadas. Nesse sentido, a parcela da população
segurada com 70 anos e mais de idade é provavelmente muito pequena, refletindo em uma
menor probabilidade desse grupo etário ter plano de saúde.
O oposto é observado nas demais regiões. Na Região Sudeste e no Distrito Federal a
probabilidade de ter plano é mais elevada para os indivíduos com 70 anos e mais. No Sudeste,
por exemplo, essa probabilidade é 28% menor para os indivíduos entre 0 e 17 anos comparada
com a probabilidade do grupo de idade mais elevada. Para os que têm entre 18 e 29, e 30 e 39
anos, esse percentual é igual a 48% e 35% respectivamente. Em São Paulo e na Região Sul, a
probabilidade de ter plano é menor apenas para os indivíduos com 18 a 29 anos em relação
àqueles com 70 anos e mais. Na Região Centro-Oeste, além desse grupo etário, a probabilidade
de ter plano é também menor para os que têm entre 30 e 39 anos.
Analisando as medidas de saúde, dois pontos são destacados. Em primeiro lugar, o efeito
do estado de saúde auto-avaliado sugere que a probabilidade de ter plano é maior para aqueles
que possuem um melhor estado de saúde. Esse resultado é observado nas Regiões Sudeste, Sul
e no Distrito Federal. Em segundo lugar, em todas as regiões, a presença de doença crônica pa-
rece afetar na decisão do indivíduo adquirir seguro de saúde. De um modo geral, indivíduos
que possuem alguma doença crônica têm maior probabilidade de possuir plano de saúde. En-
tretanto, o tipo de doença que afeta nessa decisão varia entre as regiões analisadas, com desta-
que para as doenças do coração, asma e tendinite.
educação do chefe de família, sexo e local de residência. O efeito de cada um desses fatores é
como observado no modelo anterior: a probabilidade de ter plano cresce monotonicamente
com a renda e escolaridade, é maior entre as mulheres e para os indivíduos que moram nas
áreas urbanas. A principal diferença entre o modelo estimado para toda amostra e a população
ocupada ocorre quando analisamos o efeito da idade, especialmente nas Regiões Norte e
Nordeste. Pela Tabela 16, observamos que para a população ocupada, a idade não afeta a pro-
babilidade de ter plano de saúde nas Regiões Nordeste, Centro-Oeste e no Distrito Federal. Em
São Paulo, Sudeste e Sul, essa probabilidade é mais elevada entre os indivíduos com 70 anos e
mais vis-à-vis os demais grupos etários. Na Região Norte, a probabilidade de ter um plano de
saúde é menor para os indivíduos entre 0 e 29 anos, em torno de 55% em relação às idades
mais avançadas.
Com relação às características de ocupação, observamos que os empregados sem car-
teira assinada e que trabalham por conta própria têm menor probabilidade de possuir um
plano de saúde do que os empregados com carteira assinada. Esses resultados evidenciam a
importância do empregador como intermediário na compra do plano de saúde. Quanto
mais precária é a inserção do indivíduo no mercado de trabalho, menor a probabilidade
de adquirir o plano de saúde, em decorrência dos poucos benefícios aos quais esses traba-
lhadores têm direito.
' R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 1 6 R E S U LTA D O S D O M O D E LO L O G Í S T I C O : P RO B A B I L I DA D E
DE TER PLANO DE SAÚDE POR REGIÃO GEOGRÁFICA
P O P U L A Ç Ã O O C U PA DA
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste DF SP
Sexo 0.65*** 0.73*** 0.69*** 0.74*** 0.67*** 0.68*** 0.74***
0/17 anos 0.45** 1.06 + 0.60** 0.70 * 0.87 + 0.76 + 0.49***
18/29 anos 0.47** 0.80 +
0.44*** 0.48*** 0.57* 0.39 +
0.33***
30/39 anos 0.60 + 1.02 + 0.58*** 0.59*** 0.71 + 0.57 + 0.42***
40/49 anos 0.67 +
1.16 +
0.57*** 0.63*** 0.85 +
0.51 +
0.42***
50/59 anos 0.85 + 1.32 + 0.68** 0.73* 1.15 + 0.63 + 0.46***
60/69 anos 0.75 + 1.35 + 0.86 + 0.82 + 1.45 + 0.84 + 0.89 +
Número de
componentes
na família 1.07*** 1.07*** 1.05*** 1.03* 1.06** 1 . 0 8 * * * 1.02 +
Coluna 1.16* 1.01 +
1.08* 1.13** 1.07 +
1.24* 1.09 +
Artrite 0.95 + 0.94 + 0.85* 0.98 + 0.89 + 0.84 + 0.76**
Câncer 0.85 +
1.30 +
1.40 +
1.31 +
1.17 +
0.40 +
1.58 +
Diabete 1.79** 1.07 +
0.99 +
1.21 +
1.21 +
3 . 1 4 * * * 1.04 +
Asma 1.07 + 1.33** 1.06 + 1.14 + 1.20 + 1.05 + 0.95 +
Hipertensão 1.02 +
1.25*** 1.13** 1.18*** 1.07 +
1.24 +
1.12*
Coração 0.88 + 1.18 + 1.06 + 1.11 + 1.35** 1.74** 1.22*
Renal 0.97 + 1.00 + 0.89 + 0.78** 0.89 + 0.90 + 0.98 +
Depressão 0.96 + 0.95 + 1.11 + 1.16** 0.83 + 0.88 + 0.89 +
Tuberculose 1.06 + 0.79 + 1.87 + - - 0.32 +
Tendinite 1.04 +
1.47*** 1.79*** 1.47*** 1.39 +
1.40 +
1.66***
Cirrose 1.79 + 1.41 + 2.48* 2.32 + 1.46 + 0.32 + 1.29 +
Saúde auto-
avaliada 0.95 + 0.89** 0.99 + 1.01 + 0.94 + 1 . 5 0 * * * 0.96 +
1 decil 0.08*** 0.01*** 0.03*** 0.02*** 0.01*** - -
2 decil 0.09*** 0.02*** 0.04*** 0.02*** 0.05*** 0.02*** 0.03***
3 decil 0.10*** 0.04*** 0.06*** 0.05*** 0.08*** 0.12*** 0.04***
4 decil 0.21*** 0.05*** 0.09*** 0.08*** 0.14*** 0.10*** 0.07***
5 decil 0.18*** 0.08*** 0.12*** 0.12*** 0.16*** 0.18*** 0.09***
6 decil 0.22*** 0.10*** 0.17*** 0.17*** 0.19*** 0.19*** 0.11***
7 decil 0.35*** 0.15*** 0.20*** 0.22*** 0.26*** 0.24*** 0.15***
8 decil 0.39*** 0.23*** 0.29*** 0.34*** 0.37*** 0.36*** 0.21***
9 decil 0.59*** 0.39*** 0.44*** 0.60*** 0.53*** 0.45*** 0.38***
S/ intr. e
menos de
um ano 0.12*** 0.12*** 0.13*** 0.15*** 0.21*** 0.14*** 0.23***
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '!
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste DF SP
Primário
incomp. 0.14*** 0.15*** 0.18*** 0.21*** 0.29*** 0.27*** 0.26***
Primário
comp. 0.27*** 0.22*** 0.26*** 0.27*** 0.32*** 0.29*** 0.30***
1 grau
o
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste DF SP
Rio Grande
do Sul - - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 1.05 + - -
Mato Grosso - - - - 0.41*** - -
Goiás - - - - - - -
Distrito
Federal - - - - - - -
Urbana - - 2.24*** 1.20*** 1.39*** 1.35* 1.22**
Emp.s/cart. 0.33*** 0.29*** 0.38*** 0.35*** 0.45*** 0.46*** 0.31***
Conta-própria 0 . 3 5 * * * 0.35*** 0.41*** 0.38*** 0.48*** 0.56*** 0.38***
Ind.transf. 1.49** 2.46*** 2.24*** 1.93*** 1.61*** 3.40*** 2.84***
Construção 1.20 + 1.06 + 0.71*** 0.76** 1.14 + 1.81 + 0.78*
Outr.indust. 2.42*** 4.93*** 6.06*** 3.87*** 3.86*** 5.93 + 4.13***
Comércio 1.23 +
2.12*** 1.58*** 1.29*** 1.73*** 2.58** 1.79***
Serviços 0.82 + 1.69*** 1.16 + 1.04 + 1.24* 2.08* 1.34***
Ativ. Econ. -1.26 +
3.22*** 1.95*** 1.49*** 1.82*** 4.55*** 2.06***
Transp./com. 1.27 + 2.61*** 2.33*** 1.51*** 1.93*** 4.49*** 1.72***
Social 3.17*** 3.47*** 2.32*** 1.97*** 3.47*** 2.59** 2.09***
Adm.publ. 4.08*** 4.92*** 3.41*** 3.25*** 4.59*** 13.90*** 2.79***
Outras 2.59*** 4.33*** 2.96*** 2.29*** 3.28*** 8.69*** 3.63***
Biparental 1.32*** 1.37*** 1.37*** 1.32*** 1.12* 1.44*** 1.51***
Número
de filhos:
Entre
0 e 2 anos 1.08 + 1.01 + 1.08* 1.27*** 1.20** 1.13 + 1.47***
Entre
3 a 5 anos 0.93 + 0.97 + 1.16*** 1.12** 1.01 + 0.92 + 1.24***
Entre
6 a 10 anos 1.00 + 1.03 + 1.20*** 1.13*** 1.07 + 0.95 + 1.08**
Entre 11
a 15 anos 0.91* 1.03 + 1.10*** 1.07* 0.83** 1.12***
o ti po de adesão ao pl ano
Nessa etapa da análise, trabalhamos apenas com a amostra que possui plano de saúde
e estimamos um conjunto de modelos logísticos de forma a identificar os fatores que
determinam o tipo de adesão ao plano. Consideramos três tipos de adesão: voluntária, via
empregador cujo plano é privado e via empregador público, no qual o plano é gerido por alguma
administração pública. Para a análise do plano de saúde cuja adesão é voluntária, estimamos
um modelo considerando toda amostra e outro com apenas a população ocupada. Para os
outros dois tipos de adesão, a análise é realizada apenas para a população ocupada, tendo em
vista que a adesão ocorre por intermédio do empregador. Em cada um dos exercícios realiza-
dos, estimamos separadamente um modelo para cada região e para o Estado de São Paulo.
Nessa parte da análise, não consideramos o Distrito Federal, pois o número de observações
resultante não nos permite realizar uma análise mais controlada. As variáveis independentes
estão listadas no Quadro 1 e no Quadro 2 apresentados anteriormente.
A Tabela 17 apresenta para cada uma das regiões os resultados do modelo logístico para
a probabilidade em ter um plano cuja adesão é voluntária, considerando toda amostra. Para a
maioria das regiões, as principais variáveis que afetam essa probabilidade são renda familiar per
capita, idade e sexo. Quanto maior a renda, maior a probabilidade do indivíduo possuir um
plano por adesão voluntária. A razão de chance para o segundo e terceiro decis de renda na Re-
gião Nordeste é igual a 0.20 e 0.21 respectivamente, indicando uma probabilidade 80%
menor para esses grupos de renda vis-à-vis o último decil. Na Região Sudeste, essa probabili-
dade é 66% e 44% menor para o segundo e terceiro grupo, respectivamente.
'$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 1 7 P RO B A B I L I DA D E D E T E R P L A N O D E A D E S Ã O
VO LU N T Á R I A T O DA A M O S T R A
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Sexo 0.86* 0.79*** 0.81*** 0.90** 0.95 + 0.86***
0/17 anos 0.35*** 0.76** 0.60*** 0.45*** 0.79 + 0.31***
18/29 anos 0.30*** 0.66*** 0.42*** 0.34*** 0.77 +
0.24***
30/39 anos 0.36*** 0.68*** 0.49*** 0.43*** 0.80 + 0.25***
40/49 anos 0.30*** 0.62*** 0.53*** 0.51*** 0.78 + 0.32***
50/59 anos 0.43*** 0.73** 0.65*** 0.59*** 0.99 +
0.54***
60/69 anos 1.01 + 0.68*** 0.80** 0.96 + 1.36 + 0.75**
Número de
componentes
na família 0.88*** 1.00 + 1.01 + 1.07*** 0.94* 0.94***
Coluna 0.93 +
0.89* 0.99 +
0.99 +
0.99 +
1.04 +
Artrite 1.01 +
1.03 +
1.06 +
1.07 +
0.94 +
1.07 +
Câncer 7.17** 1.21 + 1.09 + 0.89 + 1.22 + 1.54 +
Diabete 1.31 +
1.19 +
1.05 +
1.19 +
1.30 +
1.04 +
Asma 1.27 + 0.90 + 1.09 + 1.12 + 1.07 + 1.13 +
Hipertensão 1.09 +
1.20** 1.01 +
1.06 +
0.79* 1.01 +
Coração 1.17 +
1.24* 1.04 +
0.80* 0.77 +
1.12 +
Renal 0.94 + 1.31 + 0.90 + 1.18 + 0.86 + 1.01 +
Depressão 1.03 +
0.85 +
1.06 +
0.98 +
1.24 +
0.89 +
Tuberculose - 0.56 +
1.22 +
4.19 +
- 0.89 +
Tendinite 0.62* 0.88 + 0.97 + 0.77** 0.78 + 0.89 +
Cirrose - 0.67 +
1.59 +
1.16 +
0.42 +
0.82 +
Saúde auto
avaliada 0.91 + 0.88* 0.77*** 0.72*** 0.83* 0.90 +
1 decil 1.87** 0.61** 2.05*** 1.15 +
1.59 +
2.20***
2 decil 0.89 + 0.20*** 0.34*** 0.76 + 0.99 + 1.06 +
3 decil 0.53*** 0.21*** 0.56*** 0.49*** 0.66** 0.56***
4 decil 0.39*** 0.29*** 0.35*** 0.34*** 0.48*** 0.35***
5 decil 0.51*** 0.27*** 0.44*** 0.36*** 0.58*** 0.30***
6 decil 0.39*** 0.37*** 0.60*** 0.28*** 0.67*** 0.31***
7 decil 0.36*** 0.41*** 0.60*** 0.34*** 0.48*** 0.48***
8 decil 0.56*** 0.44*** 0.61*** 0.43*** 0.57*** 0.62***
9 decil 0.64*** 0.58*** 0.77*** 0.58*** 0.72*** 0.77***
S/ intr e
menos de
um ano 0.37*** 1.29** 0.97 + 1.19 + 1.94*** 0.74***
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 '%
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Primário
incomp. 0.45*** 0.98 + 1.06 + 1.19 + 1.37** 0.73***
Primário
comp. 1.02 + 1.25** 1.00 + 1.23** 1.31** 0.84**
1 grau
o
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Rio Grande
do Sul - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 1.67*** -
Mato Grosso - - - - 1.62*** -
Goiás
Distrito
Federal
Local de
Residência - 0.97 + 1.48*** 0.48*** 0.99 + 0.70***
Biparental 1.01 + 0.70*** 0.78*** 0.96 + 0.89 + 0.85***
N de Filhos:
o
Entre
0 e 2 anos 1.04 + 1.18*** 0.97 + 0.89* 0.94 + 0.98 +
Entre
3 e 5 anos 0.70*** 0.81*** 0.84*** 0.82*** 0.94 + 0.86***
Entre
6 e 10 anos 0.82*** 0.88*** 0.86*** 0.77*** 0.90* 0.98 +
Entre 11 e
15 anos 0.88* 0.78*** 0.80*** 0.80*** 0.92 + 0.88***
Um resultado que chama atenção refere-se àquele observado para o primeiro decil de
renda nas Regiões Norte e Sudeste, e no estado de São Paulo. Nessas localidades, a probabilidade
de ter um plano de saúde através da adesão voluntária é mais elevada nesse grupo de renda
comparada com a probabilidade do décimo decil. Além disso, nas Regiões Sul e Centro-Oeste,
a diferença entre esses dois grupos não é significativa. Esse resultado é semelhante àquele
encontrado para a análise não controlada e sugere que mesmo os indivíduos mais pobres
estão procurando uma alternativa ao setor público. Uma vez mais, ressalta-se a importância da
criação de mecanismos de regulação por parte da Agência Nacional de Saúde, visando proteger
especialmente esses consumidores.
A probabilidade do plano de saúde ser de adesão voluntária é menor entre os homens.
A razão de chance é igual a 0,79 no Nordeste, indicando uma probabilidade 21% menor
comparada com a probabilidade observada entre as mulheres.
Analisando grupos etários, observamos que a chance de ter um plano de adesão vo-
luntária é menor entre os mais jovens para a maioria das regiões. Em São Paulo, essa proba-
bilidade é 69% menor para os indivíduos entre 0 e 17 anos, comparado com os indivíduos
com 70 anos e mais. Na Região Norte, essa probabilidade é 65% menor, e no Sul, 55%.
Para a população ocupada, os resultados diferem daquele encontrado para toda
amostra. As variáveis mais importantes que afetam a probabilidade de ter plano de saúde de
adesão voluntária são a renda familiar per capita e as características de ocupação.
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 1 8 P RO B A B I L I DA D E D E T E R P L A N O D E A D E S Ã O
VO LU N T Á R I A P O P U L A Ç Ã O O C U PA DA
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Sexo 1.08 + 0.72*** 0.87** 1.07 + 1.10 + 0.94 +
0/17 anos 0.35 + 0.41* 1.00 + 0.61 + 0.60 + 0.73 +
18/29 anos 0.29* 0.82 + 0.88 + 0.91 + 0.66 + 1.07 +
30/39 anos 0.55 + 0.82 + 1.14 + 1.02 + 0.78 + 0.95 +
40/49 anos 0.34* 0.74 +
1.25 +
1.07 +
0.70 +
1.01 +
50/59 anos 0.38 + 0.75 + 1.19 + 1.07 + 0.71 + 1.45 +
60/69 anos 0.60 +
0.56 +
1.47 +
1.42 +
0.74 +
1.56 +
Número de
componentes
na família 0.96 + 1.04* 1.01 + 1.02 + 0.94 + 0.97 +
Coluna 0.96 + 0.79*** 1.01 + 0.97 + 0.90 + 1.08 +
Artrite 1.23 + 1.09 + 0.99 + 1.16 + 0.75 + 1.15 +
Câncer 10.38 +
0.17** 1.14 +
0.50 +
1.56 +
1.58 +
Diabete 1.66 + 1.22 + 1.16 + 1.63** 1.34 + 0.89 +
Asma 1.15 +
0.94 +
1.12 +
1.05 +
1.04 +
1.20 +
Hipertensão 1.18 +
1.23** 1.04 +
1.04 +
0.97 +
1.10 +
Coração 1.18 + 1.16 + 0.98 + 0.90 + 1.09 + 1.09 +
Renal 1.20 +
0.93 +
1.12 +
1.41 +
1.02 +
1.01 +
Depressão 0.61 +
0.68*** 0.94 +
1.00 +
1.07 +
0.82 +
Tuberculose - 1.20 + 0.48 + 4.27 + - 1.15 +
Tendinite 0.74 +
0.72 +
0.92 +
0.86 +
0.82 +
0.33 +
Cirrose - - 2.47 + 1.53 + 1.19 + -
Saúde auto-
avaliada 1.35 + 1.01 + 0.90 + 0.96 + 0.91 + 1.23**
1 decil 0.60 + 0.15** 1.13 + - - -
2 decil 0.91 +
0.14*** 0.18*** 0.62 +
1.46 +
0.52 +
3 decil 0.92 +
0.17*** 0.71 +
0.34*** 0.59 +
0.57 +
4 decil 0.35*** 0.24*** 0.31*** 0.33*** 0.44*** 0.32***
5 decil 0.44** 0.28*** 0.47*** 0.48*** 0.48*** 0.37***
6 decil 0.27*** 0.30*** 0.64*** 0.25*** 1.02 + 0.26***
7 decil 0.38*** 0.36*** 0.56*** 0.39*** 0.48*** 0.46***
8 decil 0.54*** 0.43*** 0.65*** 0.52*** 0.47*** 0.59***
9 decil 0.68* 0.65*** 0.78*** 0.70*** 0.71** 0.67***
S/ intr. e
menos de
um ano 0.12*** 1.07 + 0.86 + 1.21 + 1.44 + 0.91 +
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Primário
incomp. 0.23*** 0.88 + 0.75** 1.01 + 0.91 + 0.72**
Primário
comp. 0.59* 0.87 + 0.85 + 1.16 + 0.78 + 0.94 +
1o grau
incomp. 0.37*** 0.89 + 0.79* 1.07 + 0.81 + 0.74**
1o grau
comp. 0.52** 0.78 + 0.91** 0.87 + 0.91 + 0.97 +
2 grau
o
Amazonas 3.32*** - - - - -
Roraima 14.74*** - - - - -
Pará 3.87*** - - - - -
Amapá 1.83 + - - - - -
Tocantins - - - - - -
Maranhão - 1.30 +
- - - -
Piauí - 0.32*** - - - -
Ceará - 1.07 +
- - - -
Rio Grande
do Norte - 2.46*** - - - -
Paraíba - 1.35** - - - -
Pernambuco - 1.42*** - - - -
Alagoas - 1.06 + - - - -
Sergipe - 0.86 + - - - -
Bahia - - - - - -
Minas Gerais - - - - - -
Espírito
Santo - - 1.05 + - - -
Rio de
Janeiro - - 0.93 + - - -
São Paulo - - - - - -
Paraná - - - 1.73*** - -
Santa
Catarina - - - 0.78** - -
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Rio Grande
do Sul - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 1.62*** -
Mato Grosso - - - - 1.47*** -
Goiás
Distrito
Federal
Urbana - 1.08 + 1.42 + 0.77* 1.16 + 0.67**
Emp.s/cart. 1.68*** 2.29*** 2.30*** 2.65*** 2.22*** 3.48***
Conta
própria 2.85*** 4.23*** 4.75*** 6.44*** 4.47*** 7.60***
Ind.transf. 0.54 + 0.79 + 0.72 + 0.56*** 0.83 + 0.47***
Construção 0.54 + 1.40 + 1.77** 0.85 + 0.82 + 1.02 +
Outr.indust. 0.15** 0.42** 0.29*** 0.22*** 0.16*** 0.32***
Comércio 1.08 + 1.30 + 1.83*** 1.04 + 0.93 + 1.09 +
Serviços 1.69 + 1.10 + 1.21 + 0.90 + 0.94 + 0.78 +
Ativ. Econ. 0.74 +
0.97 +
0.98 +
0.70* 0.72 +
0.89 +
Transp./com. 0.21*** 0.84 + 0.75 + 0.71 + 0.51** 0.54**
Social 0.42** 0.78 +
0.99 +
0.65** 0.32*** 0.85 +
Adm.publ. 0.33*** 0.57** 0.56*** 0.39*** 0.38*** 0.66*
Outras 0.72 + 0.37*** 0.43*** 0.32*** 0.31*** 0.42***
Biparental 1.06 + 0.73*** 0.83** 0.72*** 0.72** 0.82**
N o de filhos:
Entre
0 e 2 anos 0.93 + 1.03 + 0.92 + 1.08 + 0.89 + 1.01 +
Entre
3 a 5 anos 0.58*** 0.82** 0.81** 0.77** 0.85 + 0.87 +
Entre
6 a 10 anos 0.74** 0.85** 0.82*** 0.77*** 0.85 + 0.99 +
Entre 11 e
15 anos 0.93 + 0.86** 0.78*** 0.90 + 0.90 + 0.92 +
Como pode ser observado na Tabela 18, a probabilidade do indivíduo aderir a um plano
de saúde sem o intermédio de algum empregador é menor para os grupos de renda mais baixa.
Esse resultado se verifica para a maioria das regiões consideradas.
Com relação à posição na ocupação, verificamos que os empregados sem carteira as-
sinada e os trabalhadores por conta própria têm maior chance de possuir um plano de saúde
via adesão voluntária, comparado com os trabalhadores com carteira assinada. Esse resultado
é como esperado, pois os trabalhadores do setor informal têm menos acesso aos benefícios
garantidos pelas leis trabalhistas e em geral os contratos de trabalho são realizados por um pe-
ríodo determinado. Além disso, as empresas empregadoras tendem a ser menores, não exis-
tindo, portanto um convênio com as empresas de seguro de saúde.
público é menor. Esse resultado reflete a composição dos postos de trabalho no setor público.
Nas Regiões Norte e Nordeste e no estado de São Paulo, a escolaridade do chefe de fa-
mília é importante para explicar as chances do indivíduo ter um plano de saúde nessa mo-
ocorrer através do empregador público. A idade tem um efeito significativo apenas na Re-
gião Norte, onde a probabilidade de aderir a um plano via empregador público é maior nos
Ta b e l a 1 9 P RO B A B I L I DA D E D E T E R P L A N O D E A D E S Ã O V I A
E M P R E G A D O R P Ú B L I C O P O P U L A Ç Ã O O C U PA DA
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Sexo 0.90 +
1.06 +
0.92 +
0.85* 0.96 +
1.21**
0/17 anos 18.18*** 2.41* 1.53 + 1.40 + 1.97 + 0.98 +
18/29 anos 6.59*** 0.98 + 0.61 + 0.47** 0.96 + 1.06 +
30/39 anos 5.52** 1.12 +
0.52 +
0.61 +
1.06 +
1.18 +
40/49 anos 7.12*** 1.25 +
0.60 +
0.69 +
1.47 +
1.42 +
50/59 anos 8.89*** 1.30 + 0.84 + 0.78 + 1.42 + 1.33 +
60/69 anos 3.47 +
2.22* 0.75 +
0.75 +
1.46 +
1.78 +
Número de
componentes
na família 1.01 + 1.02 + 0.98 + 1.12*** 0.97 + 1.06*
Coluna 0.97 + 1.29*** 1.00 + 0.99 + 0.95 + 1.17 +
Artrite 1.05 +
1.03 +
1.02 +
1.21 +
1.50** 0.89 +
Câncer - 1.46 +
0.40 +
0.83 +
1.10 +
2.44 +
Diabete 0.90 + 0.99 + 1.29 + 0.93 + 1.32 + 0.92 +
Asma 0.74 +
0.98 +
0.71* 1.06 +
0.65* 0.66 +
Hipertensão 1.13 + 0.90 + 0.99 + 0.90 + 1.00 + 1.20 +
Coração 0.75 +
0.91 +
0.67** 1.14 +
0.87 +
0.74 +
Renal 0.92 +
1.34 +
0.91 +
1.02 +
1.01 +
0.67 +
Depressão 1.41 + 1.48*** 1.23 + 0.95 + 0.91 + 1.21 +
Tuberculose - 1.12 +
4.06 +
1.05 +
- -
Tendinite 1.56 + 1.18 + 0.69* 0.84 + 0.78 + 0.94 +
Cirrose - 1.84 + 0.34 + 0.91 + 0.82 + 0.60 +
Saúde auto
avaliada 0.74* 0.90 + 0.87 + 0.98 + 0.89 + 0.92 +
1 decil 1.12 +
3.45** 2.50** - - -
2 decil 2.35* 2.82*** 3.50*** 1.55 + 1.41 + 8.44**
3 decil 1.95* 2.76*** 1.79** 0.83 + 2.56*** 4.21***
4 decil 3.42*** 2.84*** 1.91*** 1.19 +
4.08*** 1.13 +
5 decil 3.16*** 2.31*** 1.84*** 1.39 +
2.64*** 0.79 +
6 decil 3.51*** 2.70*** 1.68*** 0.85 + 2.31*** 1.30 +
7 decil 4.40*** 2.59*** 1.54*** 1.18 +
2.53*** 1.51**
8 decil 2.55*** 1.86*** 1.64*** 1.15 + 2.60*** 1.39**
9 decil 1.93*** 1.45*** 1.68*** 1.15 +
1.74*** 1.37***
S/ intr. e
menos de
um ano 3.26*** 1.70*** 1.22 + 0.73 + 0.83 + 1.72**
!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Primário
incomp. 2.88*** 1.41** 1.19 + 0.75 + 1.19 + 1.18 +
Primário
comp. 1.09 + 1.48** 1.19 + 0.63*** 1.39 + 1.58**
1 grau
o
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Rio Grande
do Sul - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 0.43*** -
Mato Grosso - - - - 0.17*** -
Goiás
Distrito
Federal
Urbana - 0.99 + 0.46*** 1.33* 1.22 + 1.58 +
Emp.s/cart. 1.54** 1.14 +
1.10 +
1.06 +
1.40** 0.97 +
Conta própria 1.64** 1.10 +
0.91 +
1.21* 1.03 +
0.76*
Ind.transf. 0.50* 0.34*** 0.47*** 0.32*** 0.53* 0.58 +
Construção 1.30 + 0.57* 0.84 + 0.88 + 1.22 + 1.65 +
Outr.indust. 2.04 + 2.43*** 3.37*** 5.13*** 3.11*** 6.38***
Comércio 1.01 +
0.40*** 0.63** 0.58** 0.85 +
1.05 +
Serviços 0.43** 0.43*** 0.73 +
0.75 +
0.98 +
1.62 +
Ativ. Econ. 1.70 + 0.49*** 1.03 + 0.86 + 1.34 + 0.98 +
Transp./com. 1.40 +
0.59* 0.90 +
0.70 +
1.52 +
1.82 +
Social 8.39*** 2.44*** 3.82*** 3.46*** 7.03*** 8.20***
Adm.publ. 15.16*** 5.23*** 15.41*** 15.79*** 11.00*** 22.40***
Outras 2.07 + 1.56* 1.53* 1.67** 2.45** 2.42 +
Biparental 1.15 + 1.00 + 1.15 + 0.96 + 1.21 + 0.76**
Número
de filhos:
Entre
0 e 2 anos 1.08 + 0.94 + 0.90 + 0.82* 1.08 + 0.89 +
Entre
3 a 5 anos 1.48*** 1.19** 0.99 + 1.05 + 0.98 + 1.06 +
Entre
6 a 10 anos 1.32*** 1.12* 0.98 + 1.06 + 1.30*** 0.81**
Entre 11 e
15 anos 1.15 + 1.16*** 1.17*** 0.93 + 1.03 + 1.02 +
Tabela 20 P RO B A B I L I DA D E D E T E R P L A N O D E A D E S Ã O V I A
E M P R E G A D O R C U J O P L A N O É P R I VA D O P O P U L A Ç Ã O O C U PA DA
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Sexo 1.07 +
1.25*** 1.17*** 1.02 +
0.93 +
0.96 +
0/17 anos 0.19 +
2.47 +
0.89 +
1.35 +
1.00 +
1.43 +
18/29 anos 0.96 + 2.76* 1.79 + 2.11** 1.76 + 0.94 +
30/39 anos 0.68 +
2.50* 1.62 +
1.67 +
1.44 +
1.01 +
40/49 anos 0.80 +
2.56* 1.35 +
1.46 +
1.15 +
0.82 +
50/59 anos 0.46 + 2.41 + 1.05 + 1.25 + 1.25 + 0.64 +
60/69 anos 1.06 +
1.74 +
0.82 +
0.83 +
0.91 +
0.49 +
Número de
componentes
na família 1.04 + 0.91*** 0.99 + 0.89*** 1.07 + 0.99 +
Coluna 1.05 + 0.93 + 0.98 + 1.02 + 1.12 + 0.85*
Artrite 0.73 +
0.81 +
0.97 +
0.75** 0.81 +
0.91 +
Câncer 0.17 +
2.28 +
1.53 +
2.12 +
- 0.31**
Diabete 0.63 + 0.78 + 0.63** 0.68* 0.47 + 1.16 +
Asma 1.05 + 1.06 + 1.15 + 0.92 + 1.32 + 1.00 +
Hipertensão 0.66 + 0.90 + 0.95 + 1.04 + 1.03 + 0.85 +
Coração 1.19 +
0.90 +
1.39* 0.96 +
1.01 +
1.00 +
Renal 1.02 +
0.73 +
0.96 +
0.73 +
1.01 +
1.15 +
Depressão 0.94 + 0.93 + 0.91 + 1.03 + 1.01 + 1.07 +
Tuberculose - - 0.43 +
- - -
Tendinite 0.79 + 1.23 + 1.42** 1.24 + 1.47 + 0.90 +
Cirrose 1.03 + 3.90* 0.66 + 0.61 + 1.12 + 2.72 +
Saúde auto
avaliada 1.05 + 1.09 + 1.22** 1.02 + 1.22 + 0.84*
1 decil 0.31 +
1.67 +
0.40* - - -
2 decil 0.31** 1.75** 1.04 + 1.01 + 0.38* 0.49 +
3 decil 0.49 + 1.66** 0.88 + 2.58** 0.64 + 0.83 +
4 decil 0.53** 1.31 +
1.48** 1.93*** 0.48*** 2.24***
5 decil 0.52** 1.47*** 1..22 + 1.33 + 0.73 + 2.38***
6 decil 0.63 + 1.23 + 1.04 + 2.82*** 0.40*** 2.52***
7 decil 0.36*** 1.15 +
1.22* 1.77*** 0.73* 1.61***
8 decil 0.61** 1.35*** 1.02 + 1.49*** 0.72* 1.36***
9 decil 0.66* 1.169+ 0.87* 1.21** 0.81 + 1.24***
S/ intr. e
menos de
um ano 1.58 + 0.53*** 0.95 + 1.17 + 0.69 + 0.87 +
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Primário
incomp. 1.22 + 0.81 + 1.11 + 1.28 + 0.82 + 1.26*
Primário
comp. 1.77* 0.77 + 1.00 + 1.29** 0.82 + 0.88 *
1 grau
o
Odds Ratio
Variáveis
Norte Nordeste Sudeste Sul C.-Oeste SP
Rio Grande
do Sul - - - - - -
Mato Grosso
do Sul - - - - 1.53*** -
Mato Grosso - - - - 3.31*** -
Goiás - - - - - -
Distrito
Federal - - - - - -
Urbana - 0.90 + 1.62*** 0.99 + 0.76 + 1.21 +
Emp.s/cart. 0.31*** 0.37*** 0.42*** 0.45*** 0.38*** 0.30***
Conta própria 0.18*** 0.19*** 0.20*** 0.15*** 0.21*** 0.13***
Ind.transf. 3.05** 3.27*** 1.59** 2.79*** 1.98*** 2.14***
Construção 1.47 + 1.50 + 0.58** 1.32 + 1.12 + 0.86 +
Outr. indust. 1.40 + 0.92 + 0.60** 0.50*** 0.89 + 0.88 +
Comércio 0.90 + 2.00** 0.62** 1.30 + 1.25 + 0.87 +
Serviços 1.63 +
2.48*** 0.93 +
0.26 +
1.18 +
1.10 +
Ativ. Econ. 0.71 + 2.07** 0.86 + 1.51* 1.03 + 1.01 +
Transp./com. 2.14 +
2.22** 1.15 +
1.63** 1.28 +
1.40 +
Social 0.15*** 0.61 +
0.29*** 0.45*** 0.32*** 0.43***
Adm. publ. 0.08*** 0.29*** 0.08*** 0.10*** 0.18*** 0.19***
Outras 0.63 +
1.84* 1.23 +
1.40 +
1.01 +
1.55*
Biparental 0.76 + 1.34*** 1.08 + 1.34*** 1.08 + 1.33***
Número
de filhos:
Entre
0 e 2 anos 0.95 + 1.03 + 1.13* 1.08 + 1.08 + 1.04 +
Entre
3 a 5 anos 0.98 + 1.01 + 1.18** 1.13 + 0.14 + 1.08 +
Entre
6 a 10 anos 0.92 + 1.03 + 1.17*** 1.13* 0.08 + 1.10 +
Entre
11 e 15 anos 0.85 + 0.99 + 1.07 + 1.15** 1.06 + 1.05 +
O efeito da renda difere entre as regiões. Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, os grupos
intermediários de renda têm menor probabilidade de adesão em relação aos indivíduos que
pertencem ao décimo decil. Em São Paulo, Nordeste e Sul, o oposto é observado. Para esses
grupos de renda, a probabilidade de adesão a essa modalidade de plano de saúde é maior.
|28| São sete faixas, ordenadas de 0 a 6 no modelo estimado. São: Até 30 reais, mais de 30 até 50 reais, mais de
50 até 100 reais, mais de 100 até 200 reais, mais de 200 até 300 reais, mais de 300 até 500 reais e mais de 500 reais.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !!
Como pode ser observado na Tabela 21, os principais fatores que explicam as faixas de
mensalidade do plano de saúde são as variáveis socioeconômicas (renda familiar per capita e
escolaridade do chefe de família), as características do plano (tipo de adesão ao plano e variáveis
de cobertura) e idade.
O valor do plano é positivamente relacionado com o nível de renda familiar per capita,
escolaridade do chefe de família e idade do indivíduo. Quanto maior a renda, o nível educacional
e a idade, maior a probabilidade do indivíduo adquirir um plano de saúde cuja mensalidade é
mais elevada (Tabela 21).
!" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 2 1 R E S U LTA D O S D O M O D E LO P RO B I T O R D E NA D O :
M E N S A L I DA D E D O P L A N O D E S A Ú D E BRASIL TODA AMOSTRA
Em segundo lugar, o preço dos planos de saúde está associado aos tipos de serviços
ofertados. Nesse caso, podemos identificar dois perfis de seguro de saúde. O primeiro engloba
os planos de saúde mais caros, geralmente adquiridos pelas camadas de renda mais elevadas.
Nesse caso, incluem-se os planos que possuem lista de serviços credenciados, que permitem
reembolso dos gastos realizados e/ou apresentam cobertura dos serviços com custos mais
elevados, como os de internação hospitalar e exames. O valor da mensalidade dos seguros que
ofertam esses serviços é mais elevado do que aqueles que não cobrem esses benefícios. Como
vimos na seção 4, a proporção dos indivíduos que possuem plano de saúde com essas
características é maior entre os indivíduos de renda mais elevada.
O segundo perfil inclui os planos normalmente adquiridos pelas camadas de renda mais
baixa. Nesse caso, encontram-se os planos que ofertam basicamente os serviços de assistência
odontológica. Como podemos observar na Tabela 21, a probabilidade do plano de saúde ser
mais barato é maior para aqueles que cobrem consultas ao dentista. Esse resultado surpreende,
pois os custos dos cuidados odontológicos em geral são bastante altos. Uma possível explicação
é que como visto na seção de análise descritiva, a proporção de indivíduos que adquire planos
de saúde que cobrem esses serviços é mais elevada entre os grupos de menor renda. Nesse
sentido, esses grupos estariam dispostos a comprar esses planos de saúde, ainda que a cobertura
e qualidade dos demais serviços médicos ofertados sejam menos generosas. Em decorrência
disso, os preços dos planos de saúde que cobrem as consultas ao dentista seriam mais baixos.
Esse resultado parece refletir uma lacuna do sistema público de saúde na provisão de cuidados
odontológicos, fazendo com que as camadas mais pobres da população procurem uma
alternativa aos serviços desse setor.
As Tabelas 22, 23 e 24 apresentam as probabilidades médias preditas do plano de saúde
pertencer a uma determinada faixa de mensalidade, segundo os grupos etários e tipo de adesão,
obtidas após a estimação do modelo probit ordenado. A análise dessa probabilidade por grupos
etários nos permite verificar a consistência da regra de apreçamento estabelecida pela
regulamentação. Essa discussão é mais importante para os planos de saúde cuja adesão é
voluntária, tendo em vista que o mecanismo de tarifação baseia-se nas características individuais
!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
do segurado (experience rating), e por serem mais sensíveis às variações dos preços da
mensalidade.
Analisando os resultados para a categoria de planos de adesão voluntária, observamos
que a probabilidade média predita do indivíduo adquirir plano de saúde dentro da primeira
faixa de mensalidade (até 30 reais) se reduz com a idade, sendo 2,28 vezes maior para o grupo de
0 a 17 anos vis-à-vis o grupo de 70 anos e mais. Na faixas entre 50 e 100 reais e entre 100 e 200
reais, o oposto é verificado, ou seja, a probabilidade média predita do plano pertencer a esses
intervalos é maior entre os mais velhos. Para a faixa entre 100 e 200 reais, observamos que essa
probabilidade é 2,75 vezes maior para os indivíduos do último grupo etário, comparado com
aqueles entre 0 e 17 anos de idade (Tabela 22). Padrão semelhante pode ser observado quando
analisamos as categorias de adesão via empregador (Tabelas 23 e 24). Estes resultados mostram
que os indivíduos mais jovens tendem a escolher os planos de saúde com contratos de menor
cobertura enquanto que os mais velhos escolhem planos mais amplos. Comparando as
probabilidades preditas entre os planos de adesão voluntária e através do empregador percebe-
se que no caso de adesão voluntária todos os grupos etários tendem a escolher planos mais
caros do que quando a oferta do plano é realizada através do empregador. Este resultado deve
ser analisado com cautela uma vez que um plano que custa 30 reais pode ter cobertura
diferenciada dependendo do tipo de contrato realizado. O padrão etário observado para os
diferentes tipos de planos representados pelas faixas de mensalidade nos dois casos aponta para
a necessidade de uma carteira de tamanho maior para os planos mais caros uma vez que a
probabilidade de sinistro é maior nesses casos. Além disso, no caso do sistema de tarifação não
refletir o valor esperado dos gastos de cada grupo etário é importante levar em consideração as
diferenças de probabilidade de adesão entre as diferentes idades.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !%
T a b e l a 2 2 P R O B A B I L I DA D E M É D I A P R E D I TA D O P L A N O D E S A Ú D E
D E A D E S Ã O VO LU N T Á R I A P E RT E N C E R A U M A D E T E R M I NA DA
FA I X A D E M E N S A L I DA D E P O R G RU P O S E T Á R I O S
Fonte: PNAD/98.
Ta b e l a 2 3 P RO B A B I L I DA D E P R E D I TA D O P L A N O P R I VA D O D E S A Ú D E
D E A D E S Ã O V I A E M P R E G A D O R P E RT E N C E R A U M A D E T E R M I NA DA
FA I X A D E M E N S A L I DA D E P O R G RU P O S E T Á R I O S
Fonte: PNAD/98.
!& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
T a b e l a 2 4 P RO B A B I L I DA D E P R E D I TA D O P L A N O D E S A Ú D E
DE ADESÃO VIA EMPREGADOR PÚBLICO PERTENCER A UMA
D E T E R M I NA DA FA I X A D E M E N S A L I DA D E P O R G RU P O S E T Á R I O S
Fonte: PNAD/98.
6. RENÚNCIA FISCAL
O objetivo dessa seção é estimar a renúncia fiscal devido aos gastos com planos de saú-
de e verificar se esse benefício concedido pelo governo incide principalmente sobre os gru-
pos de renda mais elevada. A atual legislação tributária brasileira permite que gastos com
os serviços de saúde sejam deduzidos do imposto de renda devido por pessoa física e pessoa
jurídica. No caso de pessoa física, é possível abater do imposto de renda o total das despesas
realizadas com os serviços médicos. Esse subsídio para os gastos privados com a saúde cons-
titui-se em uma parte importante do financiamento do setor de saúde suplementar. A con-
cessão desse benefício tem estimulado o crescimento desse setor e em certa medida, contri-
buído para acentuar a desigualdade no acesso aos serviços de saúde no Brasil ao subsidiar uma
parcela da população que paga impostos, especialmente os grupos de renda mais elevada.
Nesse trabalho, a análise refere-se apenas aos gastos anuais com os planos de saúde
realizados por pessoa física. A base de dados utilizada é a PNAD 98. Trabalhamos com a amostra
expandida, permitindo uma análise para a população. No Brasil, existem poucos estudos que
buscam mensurar a renúncia fiscal decorrente dos gastos com serviços médicos e que buscam
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !'
identificar sobre quais grupos da população esse benefício incide, tendo em vista a
indisponibilidade de dados confiáveis sobre os gastos privados com a saúde.29
Para a realização da análise, fizemos dois exercícios. Em primeiro lugar, estimamos
a renúncia fiscal e quanto ela representa no total da renúncia e no total da contribuição por
faixa de rendimentos tributáveis. No segundo momento, a análise foi realizada por quintis
de rendimentos tributáveis.
O Quadro 1 abaixo mostra os limites de renda que definem as três faixas de rendimentos
tributáveis e as respectivas alíquotas do imposto de renda definidas pela legislação tributária
brasileira em 1998.
Q u a d r o 1 F A I X A S D E R E N D I M E N TO S E A L Í Q U OTA D O
I M P O S TO D E R E N DA 1 9 9 8
|29| A PNAD 98 proporciona informações sobre os gastos privados com consultas médicas, cuidados
hospitalares, medicamentos e planos de saúde. Ressalta-se, contudo, que as informações presentes nessa
base de dados apresentam algumas limitações (CITAR).
|30| Consideramos apenas os indivíduos cujos rendimentos totais são positivos.
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Por simplificação, consideramos como dependentes os filhos cuja idade é igual a 18 anos
ou menos e/ou os filhos que tenham entre 19 e 24 anos, freqüentam a escola e não possuem
rendimentos.
Para calcular a renúncia fiscal devido aos gastos com planos de saúde utilizamos a
variável presente na PNAD 98 que informa a faixa de mensalidade do plano de saúde a qual o
contribuinte pertence. A Tabela 1 mostra a distribuição dos titulares dos planos de saúde por
faixa de mensalidade, bem como o intervalo de valores que define cada uma dessas faixas.
Tabela 1 D I S T R I B U I Ç Ã O D O S T I T U L A R E S D O S P L A N O S D E S A Ú D E
P O R FA I X A S D E M E N S A L I DA D E D O P L A N O
Para obtermos os gastos anuais com plano de saúde, para cada faixa de mensalidade
consideramos que o valor pago pelos indivíduos equivale ao valor máximo definido pelo
intervalo a qual ele pertence e multiplicamos esse valor por 12. No último intervalo, o valor do
limite superior foi obtido através da variável que informa quanto o indivíduo gastou nos últimos
três meses com o plano de saúde. Essa variável apresenta algumas limitações, tais como: não
deixa claro se o gasto é individual ou familiar ou se o valor reportado equivale ao total gasto nos
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !
últimos três meses ou é uma média para o período. Entretanto, para a última faixa de valor do
plano de saúde, os gastos realizados nos últimos três meses pareceram consistentes com o
valor reportado na faixa correspondente.
Depois de calculada a renda tributável, separamos a amostra segundo as faixas de
rendimentos conforme definidas no Quadro 1. A primeira faixa corresponde aos isentos e as
duas últimas referem-se aos contribuintes. Analisando a amostra expandida, observamos
que 65.716.813 (88,40%) indivíduos possuem uma renda anual tributável positiva e inferior
a R$ 10.800; 5.088.799 (6,85%) pertencem a segunda faixa de rendimentos tributáveis e
3.532.987 (4,75%) pertencem a terceira faixa.
Entre os indivíduos que são isentos, ou seja, cuja renda tributável é positiva e menor que
R$ 10.800, 22,71% têm plano. Desses, 64,33% são titulares do plano de saúde. O valor médio dos
gastos anuais com o plano de saúde nessa faixa de rendimentos é em torno de R$ 83,38. Entre
os isentos, a renúncia fiscal com os gastos com plano de saúde equivale a R$ 617.342.070, 00.
Dos indivíduos que pertencem à segunda faixa de rendimentos tributáveis, 65,81%
têm algum plano ou seguro-saúde. Desses, 80,89% são titulares do plano. Dos que estão na ter-
ceira faixa, 78,76% têm plano, dos quais 84,68% são titulares.
A Tabela 2 mostra os resultados da renúncia fiscal devido aos gastos com plano de saúde,
bem como o valor total da contribuição por faixas de rendimentos tributáveis, considerando
apenas os indivíduos não isentos (contribuintes). Como podemos observar, a renúncia fiscal
devido aos gastos com planos e seguros de saúde em 1998 era aproximadamente igual a R$ 797
milhões, correspondendo a 2,78% do valor total da contribuição.31 Por faixa de rendimentos,
percebe-se que a renúncia fiscal corresponde a 10,16% e 1,91% da contribuição da primeira e
segunda faixas, respectivamente. Esse resultado mostra que a parcela da contribuição total
referente à renúncia fiscal é mais elevada entre os contribuintes com menor renda, o que evidencia
o maior peso dos gastos com a saúde no orçamento dessas famílias.
|31| Adicionando o valor da renúncia dos isentos, esse percentual sobe para 4,92%.
! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Ta b e l a 2 R E N Ú N C I A F I S C A L P O R F A I X A S D E R E N D I M E N TO S
TRIBUTÁVEIS
presença de regressividade na concessão desse subsídio, ou seja, o benefício parece incidir mais
sobre os indivíduos de maior renda. Pela Tabela 3, constatamos que 61,66% da renúncia total
recai sobre os indivíduos que pertencem à terceira faixa de rendimentos tributáveis. Esse
resultado é como previsto, tendo em vista a maior proporção de indivíduos nessa faixa que
possui plano de saúde e o maior valor da mensalidade pago por esse grupo.32
monotonicamente com os rendimentos: enquanto que 38,94% da renúncia total recai sobre os
indivíduos do quinto quintil de renda, para o grupo de contribuintes com menor renda, esse
|32| O valor médio dos planos de saúde para a segunda e terceira faixas são em torno de R$ 136 e R$ 242,
respectivamente.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 ! !
Ta b e l a 3 R E N Ú N C I A F I S C A L P O R Q U I N T I S D E R E N D I M E N TO S
Esses resultados sugerem que a concessão desses benefícios além de regressivos, não tem
estimulado a compra dos planos e seguros de saúde por parte da população mais carente. Isso
é evidenciado não só pela distribuição da renúncia fiscal por grupos de rendimentos, mas
também pela proporção de indivíduos em cada faixa de renda que possui plano de saúde. Além
disso, a renúncia fiscal estimula a compra dos planos de saúde por parte dos indivíduos que
poderiam ou estariam dispostos a comprar esses serviços independente da existência desse
benefício, por serem justamente os indivíduos que possuem maior renda.
7 . 1 . De s i g u a l d a d e s o c i a l e m s a ú d e e n o a c e s s o
aos serviços médicos e hospitalares
O objetivo desta seção é apresentar alguns resultados sobre trabalhos empíricos que
buscam investigar e mensurar a presença de desigualdade em saúde no Brasil, assim como
sobre os determinantes desta desigualdade. Entendemos que a discussão sobre eqüidade
na saúde e no acesso aos serviços de saúde está diretamente associadas à forma de financia-
! " R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
mento do setor saúde. No caso do sistema de saúde brasileiro, no qual existe uma dualidade de
entrada no sistema, sistemas público e privado, é de fundamental importância a investigação
principalmente sobre a existência de desigualdade social no acesso aos serviços de saúde. Desse
modo, essa seção do trabalho compreende muito mais um subsídio à discussão sobre a for-
mulação de políticas públicas que visem minimizar os problemas de desigualdade decorren-
tes da presença de um sistema de saúde misto.
A principal meta de política de saúde, na maioria dos países, tem sido promover uma
distribuição igualitária de saúde e garantir o acesso aos serviços desse setor. Para verificar se
essas metas estão sendo atingidas, muitos estudos empíricos internacionais têm a preocu-
pação de mensurar a desigualdade social em saúde e no acesso aos cuidados médicos. A evi-
dência empírica mostra que de um modo geral existe uma desigualdade social em saúde e no
acesso a esses serviços favoráveis aos grupos sociais privilegiados. Esses resultados são obser-
vados mesmo em países desenvolvidos onde as disparidades socioeconômicas não são tão
acentuadas e em países cuja oferta dos serviços de saúde é gratuita. Essa constatação sugere
que em países onde os problemas sociais e de distribuição de renda são mais evidentes, como
no Brasil, a desigualdade na distribuição de saúde e no acesso aos serviços desse setor podem
ser mais acentuadas.
Os principais trabalhos existentes para o caso brasileiro sugerem a existência de uma
desigualdade social em saúde e no acesso aos serviços desse setor em geral favoráveis aos in-
divíduos com maior poder aquisitivo. Para avaliar a desigualdade social em saúde no Brasil,
Travassos et al. (2000), utilizando como medida de saúde o estado de saúde auto-avaliado,
estimam a razão de chance para o primeiro e terceiro tercil da distribuição de renda das Re-
giões Nordeste e Sudeste. Os principais resultados encontrados mostram que há no país uma
desigualdade social em saúde bastante evidente em favor dos indivíduos pertencentes aos
grupos de renda mais elevada. A probabilidade dos indivíduos pertencentes ao primeiro tercil
de renda reportar estado de saúde regular ou ruim no Nordeste era 3,07 vezes maior que a
probabilidade dos indivíduos pertencentes ao topo da distribuição de renda.
Almeida et al. (2000) apresentam dados sobre a expectativa de vida ao nascer para
diversos grupos socioeconômicos. Os autores mostram que entre os indivíduos do grupo de
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renda mais baixa, esse indicador é de apenas 51,7 anos, comparado com 73,5 anos entre aqueles
dos grupos de renda mais alta. Em 1989, a taxa de mortalidade infantil variava entre 26,5 por mil
para as famílias com renda mensal superior a um salário mínimo e que moravam em domicílios
com condições de saneamento adequadas e 86,4 por mil para famílias cuja renda mensal era
inferior a um salário mínimo e que não tinham acesso a condições adequadas de saneamento.
Campino et al. (1999) mesuram a desigualdade social em saúde no Brasil a partir da
construção de índices de concentração. A base de dados utilizada é a Pesquisa sobre Padrão de
Vida (PPV 1996/1997). Essa pesquisa abrange apenas as Regiões Nordeste e Sudeste. As
principais variáveis de saúde empregadas são doença crônica e presença de problema de saúde
nos últimos 30 dias que antecederam a pesquisa. Os resultados encontrados sugerem a existência
da desigualdade social em saúde no Brasil a favor dos pobres quando o indicador de saúde
utilizado é doença crônica e a favor dos ricos, quando se utiliza a proporção de indivíduos que
ficaram doentes no período de referência considerado.
No trabalho desenvolvido por Noronha e Andrade (2001a) são realizadas estimativas
dos índices de concentração em saúde para cada estado brasileiro, utilizando diferentes medidas
de morbidade e socioeconômicas.33 A principal contribuição do trabalho é diagnosticar a
existência de desigualdade em saúde no Brasil e, sobretudo mensurar as disparidades relativas
em saúde existentes entre as Unidades da Federação. Os índices construídos mostram uma
desigualdade em favor das camadas mais ricas, independente da medida de nível socioeconômico
utilizada. Entretanto, na maioria dos estados da Região Nordeste, as desigualdades sociais em
saúde são favoráveis aos pobres quando utilizamos como indicador socioeconômico a variável
renda familiar per capita e no caso da variável educação esses estados apresentaram os menores
índices de concentração. Duas hipóteses podem estar relacionadas a estes resultados. Em
primeiro lugar, como nos estados do Nordeste há uma proporção muita elevada de indivíduos
|33| As variáveis de morbidade utilizadas foram proporção de indivíduos que declararam apresentar alguma
doença crônica, proporção de indivíduos que avaliaram seu estado de saúde como muito bom, proporção
de indivíduos que avaliaram seu estado de saúde como muito bom e bom, proporção de indivíduos que
estiveram acamados nas duas últimas semanas que antecederam à pesquisa. As medidas socioeconômicas
foram renda familiar per capita e educação do indivíduo.
! $ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|34| A produtividade marginal do cuidado com a saúde é positiva e decrescente. Cuidados com a saúde
aumentam o nível de saúde dos indivíduos, mas seu efeito incremental diminui quanto mais cuidados são
utilizados e pode ainda se tornar negativo. Em países desenvolvidos, enquanto que a contribuição total de
cuidados com a saúde é substancial, sua contribuição marginal é pequena. Mantendo constante o estado da
ciência médica, o efeito marginal de um aumento na quantidade de cuidado médico sobre saúde parece ser
pequeno nesses países.
|35| De acordo com Culyer e Wagstaff (1993), a política que mais se aproxima de uma distribuição igualitária
de saúde é aquela que garante acesso eqüitativo aos serviços de atenção médica, sobretudo quando a meta
da política busca a eqüidade de acesso aos diagnósticos. Isso porque a alocação dos tratamentos de forma a
promover uma distribuição igualitária de saúde dependerá das funções de produção de saúde dos indivíduos.
Assim, a menos que essas funções de produção sejam iguais, garantir igual oportunidade de acesso aos
diagnósticos não resultará em todos os indivíduos com o mesmo nível de saúde.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 ! %
de renda mais elevada. Cerca de 45% dos indivíduos pertencentes ao primeiro quintil e que ti-
veram atividades restritas por motivo de doença utilizam os serviços de saúde. Esse percentual
se eleva para 69,22% quando foram considerados os grupos de renda mais elevada. Para a
amostra de indivíduos saudáveis, o quinto quintil apresenta uma taxa de utilização 50% maior
que a classe de menor renda.
A metodologia adotada por Travassos et al. (2000) consiste em estimar, a partir de uma
regressão logística, razões de chance para três grupos de renda, utilizando como base de dados
a Pesquisa sobre Padrão de Vida 1996/1997. Os autores consideram a utilização dos serviços de
saúde como medida de acesso e mostraram que há no país uma desigualdade social na dis-
tribuição de cuidados médicos favoráveis às classes sociais privilegiadas. As chances de um
indivíduo da camada de renda mais baixa utilizar os serviços de saúde é 37% menor no Nordeste
e 35% menor no Sudeste, em comparação com os indivíduos do terceiro tercil. É importante
notar que as chances de utilização são também mais elevadas entre os indivíduos cobertos com
plano de saúde vis-à-vis os sem cobertura (66% mais elevadas no Nordeste e 73% no Sudeste).
Viacava et al. (2001), a partir dos dados provenientes da PNAD 98 (Pesquisa Nacional
por Amostra Domiciliar), testam a existência da desigualdade social na utilização de serviços de
saúde no Brasil por gênero. O método empregado baseia-se nas estimadas das razões de chance,
obtidas através de um modelo de regressão logística. Os autores, utilizando como medida de
morbidade a restrição de atividades habituais por motivo de saúde, observam que a posição no
mercado de trabalho, a escolaridade e a raça são significativas para explicar o uso dos serviços
de saúde para homens e mulheres. Os indivíduos com maior escolaridade, empregadores ou
assalariados com carteira assinada e brancos tendem a apresentar chances mais elevadas de
consumir serviços de saúde, tanto preventivos quanto curativos, indicando uma desigualdade
social no consumo de serviços de saúde no Brasil favorável aos grupos sociais mais privilegiados.
Noronha e Andrade (2001b) testam a hipótese de eqüidade horizontal no acesso aos
serviços de saúde no Brasil a partir da especificação de um modelo hurdle binomial negativo. A
escolha desse modelo foi importante, pois permite considerar a decisão de contato e a decisão de
freqüência como dois processos estocásticos distintos e, sobretudo, incluir na análise diversas
! & R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
variáveis que medem o status socioeconômico e de saúde dos indivíduos além de controlar para
as diferenças existentes entre as unidades da federação.
A principal contribuição do trabalho é detectar a presença da desigualdade social no
acesso aos serviços de saúde no Brasil. Entretanto, essa desigualdade é mais pronunciada na
primeira etapa do processo de decisão. Observa-se que quanto maior a renda familiar per capita,
maior a probabilidade do indivíduo ter consultado o médico. No caso da decisão de freqüência,
a renda é significativa e favorável aos ricos apenas quando a amostra restringe-se aos indivíduos
em idade ativa. Outra variável importante para explicar o acesso aos serviços médicos é o plano
de saúde. A decisão de contato e a decisão de freqüência são bastante sensíveis a essa variável e
indica uma maior utilização dos serviços de saúde para aqueles que possuem algum plano. Com
relação às características de ocupação, a forma como os indivíduos se inserem no mercado de
trabalho afeta o acesso aos serviços de saúde. À exceção dos militares e funcionários públicos,
todas as categorias apresentam probabilidade menor de consultar o médico do que os
empregados com carteira. Na segunda etapa do processo de decisão, a freqüência de visitas
médicas é menor apenas para os empregados sem carteira, considerando como categoria de
referência os empregados com carteira.
Com relação aos serviços de internação hospitalar, observa-se uma desigualdade social
no acesso favorável aos grupos de renda mais baixa. A probabilidade dos indivíduos serem
internados e de permanecerem internados por um determinado período é maior para os
indivíduos mais pobres. Entre os indivíduos ocupados, a probabilidade de ser internado é maior
para aqueles pertencentes aos dois primeiros decis de renda. Na segunda etapa, apenas os
indivíduos pertencentes ao terceiro, sétimo e nono decil de renda apresentam coeficientes
positivos e significativos, indicando que estes indivíduos ficam mais tempo internados do que
aqueles que pertencem ao último decil. Esses resultados podem refletir o fato de que os
indivíduos mais pobres demandam menos os serviços preventivos de saúde, e procuram algum
cuidado médico quando o seu estado de saúde está pior, necessitando de um tratamento mais
intensivo. Isso se torna evidente quando analisamos o acesso aos serviços ambulatoriais, que
incluem os cuidados preventivos de saúde. Nesse setor, constatamos a presença da desigualdade
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favorável aos grupos socioeconômicos mais privilegiados, indicando que os indivíduos mais
pobres procuram menos esses cuidados.
Os resultados compilados nesta seção evidenciam a presença de desigualdade em saúde
e desigualdade social no acesso aos serviços de saúde. Em particular a desigualdade social
no acesso se mostra bastante desfavorável para os grupos mais pobres, principalmente por
indicar um menor acesso aos serviços preventivos (consultas médicas) e um maior volume de
internação hospitalar. A maior probabilidade de internação assim como maior número médio
de dias internados para os indivíduos mais pobres, sugere que a gravidade com que os indivíduos
mais pobres buscam os serviços de saúde é maior. Esse resultado parece estar bastante associado
à presença de um sistema misto de saúde, através do qual, os indivíduos mais ricos têm duplo
acesso aos serviços de saúde. Essas evidências sugerem que do ponto de vista de políticas pú-
blicas talvez seja importante que o governo estabeleça algum tipo de mecanismo de subsídio
para os indivíduos mais pobres a fim de incentivar e aumentar o acesso dos mesmos aos ser-
viços preventivos. Uma política importante consiste na redução dos custos de oportunidade para
os indivíduos mais pobres. Muitas vezes, como estes indivíduos só têm acesso aos serviços
médicos através do sistema de saúde público, onde os custos de oportunidade indiretos são
bastante elevados distância para realização de exames, tempo de fila de espera, expectativas
negativas sobre a possibilidade de atendimento, entre outros os indivíduos optam por pos-
tergar a decisão de procura deste tipo de cuidado. A presença de desigualdade social no acesso
aos serviços de saúde no Brasil deve ser levada em consideração quando da definição dos
mecanismos regulatórios a serem propostos pela Agência.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.Para todos os grupos de renda os gastos pessoais com saúde oscilam em torno de 10%
da renda familiar per capita. A composição desses gastos, entretanto, sugere a existência de
regressividade, sobretudo no tipo de gasto realizado: enquanto que os grupos de renda mais
elevada despendem grande parte dos seus gastos com a compra de plano de saúde, os indi-
víduos que pertencem aos grupos de renda inferior despendem com medicamentos. Na
medida em que os gastos com medicamentos podem ser classificados como gastos curativos
e, portanto inadiáveis essa diferença na composição dos gastos representa uma perda de bem-
estar importante para os grupos mais pobres.
2.A análise do tipo de adesão ao plano de saúde segundo quintis de renda sugere que
mesmo os indivíduos mais pobres estão procurando uma alternativa aos serviços públicos,
uma vez que dos indivíduos pertencentes ao primeiro quintil que possuem plano de saúde,
cerca de um terço escolheu voluntariamente comprar plano de saúde.
3.A análise do perfil dos indivíduos que possuem plano de saúde sugere a existência de
seleção adversa contra a seguradora, na medida em que existe um maior contingente de mu-
lheres com plano de saúde. Além disso, considerando o padrão etário, notamos que os
indivíduos mais jovens escolhem ter plano de saúde com maior freqüência quando este plano é
financiado pelo empregador e pertence a uma instituição privada. Estes resultados são
observados tanto na análise de freqüência como na análise controlada.
4. A análise do perfil de indivíduos que possuem plano de saúde evidencia diferenças na
carteira de associados quando o plano é de adesão voluntária e quando a adesão ao plano ocorre
por intermédio do empregador. Este resultado é interessante para a Agência de regulação,
na medida em que a solvência dos planos depende da composição de sua carteira.
5.A renda familiar per capita é um dos determinantes mais importantes da decisão
de possuir plano de saúde, assim como o tipo de inserção no mercado de trabalho para a
população ocupada.
6.O cálculo do valor da renúncia fiscal realizado sugere presença de regressividade na
concessão desse benefício. A maior parcela da renúncia fiscal é apropriada pelos indivíduos
pertencentes aos quintis de renda superior.
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O Impacto das Ações da Agência
Nacional de Saúde Suplementar -
ANS no Mercado Operador
Ci d Ma nso de Mel l o Vi a nna 1
1. INTRODUÇÃO
Todos sistemas de saúde provêem alguma função de seguro médico (acesso aos serviços
de saúde com proteção de risco financeiro) para as suas populações, utilizando diferentes
arranjos organizacionais e institucionais na mobilização e alocação de recursos. Freqüente-
mente, com respeito ao financiamento do cuidado médico, há quase sempre alguma confu-
são entre ferramentas e objetivos da política. Neste texto, procura-se desenvolver uma aná-
lise baseada em dois princípios. Primeiro, toda a avaliação do impacto de medidas regula-
tórias deve ser orientada para explicitar os objetivos políticos. Segundo, medidas propostas
com a finalidade de se atingir os objetivos delineados, devem necessariamente considerar os
arranjos institucionais e organizacionais existentes.
Se existem múltiplos fundos de seguro, um papel mais realístico e apropriado está na
promoção de medidas regulatórias que possam melhorar a eficiência do sistema de seguro-
saúde, do que na tentativa de desmantelá-lo todo. Assim, o caminho não é discutir qual é a
melhor estrutura de mercado, mas dado à situação atual, qual é a direção das mudanças políticas
que podem facilitar o funcionamento do sistema de saúde, o seu acesso e eqüidade para a
população coberta.
A assistência médica suplementar tem hoje um importante papel no cenário do sistema
de saúde do País. O mercado privado de seguro-saúde consolidou-se a partir dos anos 80,
contando atualmente com cerca de 35 milhões de usuários (ANS, 2003:3). Com a promulgação
|2| Um dos pontos culminantes dessas pressões foi a adesão das entidades de defesa do consumidor, obrigando
o recuo na adaptação dos contratos antigos para novas coberturas previstas na Medida Provisória no 1.908-17.
|3| Muitas definições sobre managed care dizem respeito à natureza do contrato que são muito mais completos na
concepção do que aqueles originados do seguro saúde tradicional. Por exemplo, as organizações podem neste
modelo intervir nas relações entre os prestadores de serviço médico e os segurados individuais, limitando o uso
em situações particulares, estabelecendo contratos seletivos com os prestadores ou, ainda, limitando a escolha
desses provedores (Glied, 1999: 2).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !!#
|4| O que se verifica, freqüentemente, é que os princípios da seleção de riscos que orientam as atividades das
seguradoras e as empresas médicas entram em choque com a experiência real de probabilidade de exposição
ao risco e com os padrões e necessidades de consumo de serviços de saúde.
!!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
A implantação e expansão das operadoras de planos e seguros de saúde, por sua vez,
não estão condicionadas somente pela demanda, mas também pela interação com os seus
usuários e, fundamentalmente, com a quantidade e formas de organização da oferta dos
prestadores de serviços. Nesse contexto, as relações entre as empresas de planos e seguros e os
prestadores de serviços, considerando as transformações que ocorrem no âmbito específi-
co do trabalho médico e os posicionamentos das entidades profissionais às políticas de saú-
de, contribuem para o discernimento de algumas características das empresas médicas e
seguradoras.
A compreensão dessa intricada institucionalização dos planos e seguros é especialmente
importante para o delineamento de tendências de expansão e retração das diversas modalidades
empresariais, bem como do seu relacionamento com a ANS. A análise do impacto da ANS sobre
as operadoras de planos de saúde suplementar será feita a partir do entendimento das funções
de financiamento e alocação de recursos, e de como as ações regulatórias perturbam o risco da
carteira das operadoras de planos de saúde suplementar e a sua capacidade de financiamento a
partir de algumas variáveis selecionadas garantia da carteira, a existência de pré-condições, a
relação com os prestadores de serviços e sistema de informação.
2. FUNÇÕES DE FINANCIAMENTO E
ALOCAÇÃO DE RECURSOS
casos de intervenção de alta complexidade, por exemplo, são normalmente cobertas pelos SUS)
na tentativa de assegurar viabilidade financeira de um esquema particular de seguro, podem
diminuir a efetividade da função do seguro para a população coberta.
Sem um envolvimento forte por parte do governo para reduzir os efeitos da seleção
adversa, os incentivos para um mercado competitivo do seguro voluntário irão produzir uma
segmentação da população em diferentes grupos de riscos, com problemas, entre outros de se
assegurar o financiamento dos indivíduos mais pobres.
A estrutura de risco da carteira de uma operadora é uma das principais variáveis a ser
considerada quando se propõem medidas regulatórias. Nas seguradoras as noções de risco e
probabilidade orientam as atividades de gestão de riscos. O seguro pode ser definido como uma
tecnologia do risco, toda a teoria do seguro repousa sobre a noção de risco. Sob um enfoque
genérico a teoria do seguro assenta suas bases na criação de fundos para a compensação de
perdas financeiras, que se estendeu a partir da demografia e do cálculo de probabilidades aos
seguros de pessoas (BAHIA, 2001: 10).
Assim, por exemplo, a lei 9.656/98 alterou profundamente a estrutura do risco das
operadoras. Ao introduzir a obrigação de ofertar um pacote mínimo de benefícios, as opera-
doras perderam uma das suas estratégias mais utilizadas de diminuir os efeitos da seleção
adversa. Em outras palavras, elas não podiam mais criar classes de usuários, com graus dis-
tintos de serviços de saúde cobertos.
Além disso, havia uma complicação adicional. As doenças pré-existentes e outras de custo
elevado como câncer e aids não podiam ser mais excluídas. Isto significava um forte aumento
do custo, seja pelo lado operacional, quanto pelo necessidade de se manter uma provisão de
capital mais elevada como garantia da continuidade do seu serviço.
Para as operadoras, restavam pelo menos três estratégias: aumentar o preço do prêmio
do seguro, diminuir o custo operacional e diminuir o risco da sua carteira de seguro.
Aumentar o preço do seguro traz grandes vantagens. Permite não só manter os lucros
em um mercado com custos ascendentes, como também, uma vez que a população idosa tem
uma renda média mais baixa que a dos assegurados mais jovens, impedir que usuários de maior
!!& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
probabilidade de risco busquem manter o seu seguro. No entanto, esta medida não pode ser
empregada indefinidamente à medida que, hoje em dia, o preço do seguro encontra-se regulado
pela ANS, embora o seu custo médio seja superior ao praticado anteriormente à Lei 9.656/98.5
A diminuição dos custos é uma medida importante e tem sido largamente utilizada.
A principal estratégia empregada tem sido a de utilizar o poder de compra das operadoras para
impor limites ao preço cobrado pelos prestadores de serviços médicos. Como este limite não
se distribui uniformemente pelo mercado, hospitais têm maior poder de resistir do que os
médicos isoladamente tem aparecido distorções que impactam negativamente sobre a eficácia
do atendimento. Por exemplo, os médicos podem reduzir o tempo de atendimento, com a
possibilidade de aparecer mais erros, e portanto atender um número maior de pacientes, como
mecanismo de assegurar uma determinada renda.
Outra estratégia de redução de custo está na implantação de programas de geren-
ciamento de doenças.6 Estes programas, bastante utilizados nos países industrializados, não
só têm impacto nos custos, como também aumentam a eficiência do processo de atenção mé-
dica (VIANNA et al., 2003: 14).
Em outras palavras, programas de gerenciamento de doenças efetivos tornaram-se
essenciais para operadoras de saúde que buscam a agilização dos serviços, redução dos custos
de tratamentos e sobrevivência em uma indústria competitiva de atendimento médico. Além
desses objetivos, estes programas também procuram auxiliar sistemas de atendimento médico
a alcançar níveis satisfatórios de resultados, atualmente exigidos via sistemas de credenciamento.
A meta é prevenir as complicações em doenças crônicas no futuro, por meio da orientação e
acompanhamento dos pacientes. Sendo o aspecto preventivo o fundamento do gerenciamento
de doenças, o paciente compartilha grande parte da responsabilidade em muitos programas.
|5| Esta situação existe provavelmente porque até hoje a ANS não conseguiu que todos os usuários mudassem
de plano para o previsto pela lei. Embora a cobertura dos planos antigos possa ser menor, por ter um menor
preço, continua mantendo a sua atratividade.
|6| Segundo a Associação Médica Americana (ZITTER, 2002), o gerenciamento de doenças é uma técnica de
atendimento gerenciado, definido como processo que presta, administra ou assume riscos de saúde para
controlar ou influenciar sua qualidade, acessibilidade, utilização, custos ou resultados em uma dada
população.
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Me r c a d o i n d i v i d u a l d a R e g u l a ç ã o
|7| Na Austrália, por exemplo, o impacto da seleção adversa sobre os preços dos seguros-saúde individuais
se revelou menor do que o esperado, principalmente, em função da possibilidade das operadoras de
selecionar a sua clintela, jovem e de idosos, com planos e preços específicos (VAITHIANATHAN, 2000).
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Para reduzir os efeitos dos riscos da seleção adversa sobre a carteira dos fundos de seguro,
uma alternativa é a criação de fundos compensatórios. Esses fundos teriam a função de distribuir
o risco entre um conjunto de empresas, podendo ser ou não compulsório. À ANS caberia criar
regras e mecanismos de como a reunião dessas empresas poderia ou teria de se organizar.
Em geral, pode-se esperar que a existência de um fundo de cobertura de riscos elevados
pode favorecer à presença de pequenas seguradoras, sustentando um grande número delas no
mercado, aumentando a competição e levando potencialmente a um menor preço do seguro. Na
verdade, alguns estudos têm encontrado evidências com esta expectativa (SLOAN E CONOVER, 1998).
Muitos países, como o Chile, Argentina, Colômbia, Alemanha, Israel e Holanda,
introduziram ou expandiram o fundo de escolha de consumidor com uma fórmula de ajuste da
quantidade que cada fundo recebe de receita, de acordo com o risco relativo de seus usuários
(KUTIZIN, 2001). A implantação desses ajustes de risco requer a montagem de um pool de renda
da saúde, que cubra a população e a distribua de acordo com o número de pessoas que escolhe
um fundo, ajustado pelo risco. Este tipo de reforma teria vários objetivos:
Aumentar a eqüidade da receita dos serviços prestados pela distribuição dos recursos
recebidos por cada fundo, de acordo com o risco de saúde dos seus usuários;
Aumentar a eqüidade do financiamento do cuidado médico reduzindo a necessidade
de prêmio baseado no risco de saúde dos seus usuários;
Aumentar a satisfação dos usuários por meio da expansão das escolhas;
Aumentar a eficiência setorial por meio da competição entre fundos, reduzindo seus
incentivos para selecionar riscos preferenciais.
3 . 1 . Ga r a n t i a d e ca p i t a l
A literatura especializada (CHOLLET et al., 2003; BLUMBERG e NICHOL, 2003; ZELLERS et al.,
1992) parece concordar que a adição de garantias contratuais sobre os seguradores parece não
ter grande influência em expulsar firmas do mercado. A imposição de alguma garantia pode
levar a um aumento do market share de seguradoras comerciais em detrimento das empresas
médicas e de outros planos. Na verdade, o que parece sugerir essa pesquisa é que as garantias
servem mais como barreiras à entrada, facilitando quem já está no mercado, de novas
seguradoras do que como mecanismo concentrador.
Ao contrário do que os manuais de economia preconizam, o processo de competição
não ocorre necessariamente pelo aumento do número de operadoras. Operadoras pequenas,
com um número pequeno de usuários tendem a ser mais frágeis dos que as grandes. Elas têm
menos capital e, portanto, menor condição de dar garantias de suas operações. Têm menos
condições de negociar preço com os prestadores de serviço e, portanto buscam aqueles que têm
menor eficiência como forma de compensar suas margens menores de lucro. Enfim, ofere-
cem um serviço pior, nem sempre a um preço menor.
As grandes companhias, por sua vez, podem trabalhar com uma carteira cuja distri-
buição de risco é mais homogênea e buscar serviços mais eficazes para os seus usuários. Nesse
sentido, uma forma de fortalecer o mercado de saúde suplementar no Brasil seria a ANS
procurar incentivar a fusão de pequenas operadoras, como mecanismo de garantia dos ser-
viços contratados pelos usuários.
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Embora reformas desse tipo não tenham impacto significativo sobre a estrutura do mer-
cado, alguns grupos pequenos ou mal administrados podem se retirar do mercado, forçando
alguma concentração. Isto porque, na medida em que os grupos pequenos vão adquirindo
experiência com aumento de economias de escala (custo médio baixo com um aumento do volume
de negócios) uma ampliação da concentração do mercado pode acontecer pela retirada de algumas
empresas ou pela fusão de pequenas empresas. Esta concentração deve ser entendida como um
resultado positivo, na medida em que a fragilidade das empresas diminui e a garantia da conti-
nuidade dos serviços aumenta. Entretanto, deve ficar claro que o impacto dessas medidas no mer-
cado é pequeno e as operadoras conseguem na grande maioria dos casos se ajustar.
3 . 3 . A mp l i a ç ã o d e b e n e f í c i o s
|8| As experiências internacionais (JACOBZONE, 2000) mostram que o uso de programas de benefício farmacêutico
é um instrumento efetivo de aumento do acesso de medicamentos à população.
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Existem outros incentivos financeiros, sejam eles restrições (ex: retenções financeiras
sobre as prescrições) ou bônus, que tomam como base os saldos das operadoras (UGÁ et al.,
2002). As operadoras de BF podem adotar um método de controle por meio de retenções sobre
os rendimentos dos médicos. Em função do desempenho individual dos prescritores, a taxa de
retenção pode aumentar, segundo o nível de desempenho do profissional.
Devemos ainda mencionar, incentivos ou restrições não financeiros, como os protocolos
clínicos. Os guidelines ou protocolos de tratamento, indicados por associações médicas, governos,
operadoras de planos de saúde e de BF são uma fonte importante para o aumento da racionalidade
dos serviços médicos. Como muitos deles são criados para o manejo de doenças crônicas, existem
padrões pré-estabelecidos para o tratamento, farmacológico ou não, das doenças. Mais ainda,
estes guidelines muitas vezes podem ser considerados estratégias de contenção de gastos para os
sistemas de saúde, porque procuram usar os medicamentos mais seguros, efetivos e eficientes
(MOSEGUI, 2002). Alguns inclusive trabalham somente com medicamentos genéricos, que são
opções mais custo-efetivas na maior parte dos países que possuem esta política implantada. Mas
sabe-se que este tipo de mecanismo de contenção de gastos possui um forte fator limitante: a
resistência do prescritor em cercear sua liberdade médica.
Como os desafios para a ANS põem-se:
avaliar a obrigatoriedade ou não por parte das operadoras de planos de saúde, em
oferecer serviços vinculados total ou parcialmente à cadeia do medicamento;
assinalar qual a melhor cobertura a ser oferecida por tipo de empresa;
propor como as diferenças entre as coberturas podem ser ampliadas;
sugerir a criação de consórcios pelas pequenas e médias empresas de planos de saúde,
a fim de que os custos para operacionalização do benefício sejam menores, e;
sugerir, junto ao Ministério da Saúde e da Fazenda, um sistema de incentivos, capaz
de estimular o mercado de planos de benefício farmacêutico.
Esta discussão mostra que embora a ampliação de cobertura não seja um item simples,
devido à sua implicação e ao impacto em um mercado bastante heterogêneo de operadoras, ela
talvez seja importante na perspectiva de aumento da eficácia e eficiência do sistema privado de
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saúde no Brasil. Por sua vez, mal conduzido, este item pode ter influência extremamente nega-
tiva sobre a viabilidade da operação das empresas de saúde. Por exemplo, a inclusão de bene-
fício farmacêutico no programa Medical Care nos EUA, só não levou o sistema à falência de-
vido à cobertura do Estado Americano, (VIANNA, 2001).
3 . 4 . P a g a me n t o d o s c o mp r a d o r e s e p r e s t a d o r e s
Como sugerido, a organização das seguradoras em qualquer sistema de saúde pode ser
categorizada de acordo com o número dessas organizações e a extensão com que elas competem
umas com as outras. Muitos países têm mais de um comprador de serviços cobrindo diferentes
grupos da população em uma mesma área geográfica. Em alguns casos, não existe compe-
tição entre eles, a população é assistida por um ou por outro sistema.
É essencial que os formuladores de política entendam os detalhes e as implicações da sua
própria estrutura de mercado, quando reformas são programadas a partir de um ponto inicial. A
experiência de alguns países e elementos da falha de mercado sugerem um número de razões porque
o entendimento da estrutura de mercado dos compradores é importante para informar que medidas
governamentais podem ser tomadas para promover uma responsabilidade ativa de compras.
Por exemplo, existe uma vantagem teórica de ser um único comprador, pela sua condição
monopsônica, que pode ser utilizada como poder financeiro para assegurar que os serviços
alcancem eficiência e qualidade. Isto ocorre não apenas pela possibilidade de atingir economias de
escala na compra, mas também porque a presença de múltiplos compradores que pagam a um
mesmo fornecedor pode diluir os incentivos no comportamento estratégico dos prestadores.
Exemplos desses últimos são o desvio de custo os preços são ajustados para diferentes
compradores para um mesmo serviço, a manipulação de custo do tratamento e da própria prática
para pessoas com a mesma condição clínica, mas diferentes níveis de cobertura de seguro, no
aumento da oferta de serviços para pacientes cobertos por um esquema em resposta a mudanças
no sistema de pagamento de outros esquemas. Adicionalmente, a necessidade de se monitorar e de
se regular as ações de múltiplas operadoras significa que os custos administrativos do sistema
serão mais altos, mesmo que seguradoras individuais estejam operando bem.
!"& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
fica que a maior parte de qualquer ajuste da estrutura de risco e dos custos deverá recair
sobre os outros dois componentes: os usuários e os prestadores de serviços.
Os usuários estão mais protegidos que os prestadores de serviços médicos. Na verdade,
a própria criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar, com a missão de ampliar o marco
regulatório do setor, assegura aos consumidores dos planos e seguros de saúde, a existência de
uma instância de governo responsável pela defesa de seus direitos. Embora isso tenha gerado
disputas judiciais importantes entre a Agência e as operadoras, em função dos conflitos com
relação às normas e às ações regulatórias, a capacidade das operadoras em ajustar suas carteiras
à custa dos usuários é bastante limitada.
O mesmo não acontece no mercado de prestadores de serviços médicos. A ausência de
uma ação regulatória por parte da ANS tem provocado uma grande turbulência no setor,
começando a comprometer a própria eficiência com que os serviços estão sendo prestados. Isto
porque uma boa parcela do ajuste que ocorre sobre os prestadores.
Estes últimos encontram-se hoje em uma difícil situação. Ele se constitui de três
segmentos:
primeiro é o Estado, mediante o SUS. Embora esta seja a maior de todas, o preço
dos serviços está limitado pelo Ministério da Saúde e não é objeto de negociações
individuais;
segundo é a dos indivíduos que compram diretamente o serviço oferecido. Esta é a
menor parcela e provavelmente se encontra em processo de contração pela queda da
renda média per capita. Além disso, ela não é suficiente para garantir a valorização de
todos os capitais investidos na área da saúde;
terceiro é a dos usuários dos planos de saúde, cujos preços estão controlados pelas
operadoras.
Nessa situação, mesmo não querendo, a ANS vai acabar sendo envolvida na disputa
entre operadoras e prestadoras de serviço. Para isto seria interessante começar a vislumbrar
qual seria esta função e que instrumentos estariam disponíveis nessa ação regulatória.
Em geral, as transferências de recursos para os serviços deveriam ter a finalidade de
beneficiar a população dos fundos que são servidas por eles. Pagamento aos prestadores refere-
!# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
limitar atendimento desnecessário está circunscrito aos serviços de atenção primária mais do
que o de serviços referenciados.
A atenção primária é um item de custo menor do que o dos serviços referenciados.
Por isto, quando os compradores têm uma atitude passiva como intermediários financeiros,
o resultado é invariavelmente uma escalada de custo entre os prestadores, normalmente
acompanhados de uma expansão potencial negativa de serviços desnecessários. Alterna-
tivamente, os compradores podem ligar suas decisões de alocar os seus recursos à performance
dos prestadores. Estas compras ativas podem tomar várias formas e requerem um sistema
de informação para fornecer dados para compradores e prestadores, a fim de que o desenvol-
vimento de sistemas de gerenciamento possam melhorar a performance. Os mecanismos de
compra incluem, entre outros:
incentivos financeiros nesta situação existe uma mudança de parcela do risco do pa-
ciente para os prestadores, com o objetivo de se atingir controle de custo ou qualidade;
inclusão de serviços de não emergência em pacotes de benefício somente se refe-
renciado por um médico primário;
estabelecer contratos somente com prestadores selecionados, exigindo deles
cooperar com certa utilização e controle de serviços, além de obter desconto de
preços ou taxas dentro de um certo volume de serviços;
monitorar o perfil dos prestadores individuais, fornecendo retorno para eles sobre
os seus tratamentos, orientações, práticas prescritivas e custos;
intervenção pelos compradores nas decisões clínicas para reduzir serviços não apro-
priados e melhorar a qualidade do processo e dos resultados da atenção médica,
promovendo o uso de padrões de tratamento.
A menos que exista explicitamente uma política de saúde e controle das falhas de mer-
cado na interação com os prestadores, os procedimentos administrativos podem ficar fora de
controle. Isto parece ter acontecido nos EUA onde as firmas de managed care são criadas por
interesses financeiros de curto prazo dos seus proprietários em um mercado ausente de me-
didas regulatórias (CHOLLET et al., 2003).
!# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
3 . 5 . R e g u l a ç ã o e i n f o r ma ç ã o c o mo
instrumentos de política
soas mais jovens que são provavelmente as que têm menor custo para as seguradoras. Em
outras palavras, no contexto de múltiplos seguradores, o objetivo de um sistema de informação
amplo e de fácil acesso pela população seria o de estimular a competição, reduzindo o escopo
em termos da base seletiva, e aumentando a qualidade do serviço médico prestado.
4. CONCLUSÃO
O propósito desse texto foi apresentar alguns instrumentos de análise das funções prin-
cipais das ações de seguro-saúde e das suas interações com o sistema de regulação da atenção à
saúde suplementar. A revisão desses componentes sugere que o progresso em direção aos obje-
tivos de uma política de financiamento requer uma aproximação envolvendo a coordenação de
múltiplos aspectos do sistema de saúde, mais do que propor reformas de algum aspecto isolado.
As políticas apropriadas para melhorar a função de seguro requerem uma orientação que tenha
uma clara percepção de que qualquer reforma, como a criação de um esquema específico de
seguro, significa mais do que um fim de política.
Os arranjos institucionais e organizacionais existentes no sistema de saúde são o ponto
de partida de qualquer ação. Além disso, mesmo se circunstâncias macroeconômicas limitem
o escopo de mobilização de recursos adicionais, existem muitas outras políticas que podem
ser empreendidas. Melhorias no sistema de seguro requerem que os agentes responsáveis pela
política do setor reconheçam que o gerenciamento do setor é tão ou mais importante quanto
aumentar o fundo para o seguro.
A hipótese apresentada nesse texto é de que as características financeiras das operadoras
predominam atualmente. Nesse contexto, as operadoras de seguro-saúde estarão sempre
buscando equilibrar o risco de suas carteiras com as exigências financeiras de cumprir as suas
obrigações. Toda a modificação no ambiente em que estas empresas operam, levará inevi-
tavelmente a correções e ajustes que priorizam o equilíbrio financeiro. Esta é uma das razões
prováveis porque o mercado de seguro individual vem declinando gradativamente.
Isto não deve, entretanto, ser considerado negativo. A sobrevivência das operadoras e do
sistema de saúde suplementar depende da viabilidade financeira das empresas que atuam nesse
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !##
mercado. A dificuldade, e de onde podem surgir distorções, é que como empresas financeiras,
elas são avessas ao risco em um mercado de gerenciamento de risco.
Estudos recentes sobre o mercado de seguro-saúde têm concluído que a regulação do
estado tem reduzido (ou não tem nenhum impacto) a cobertura oferecida pelas seguradoras de
saúde. Alguns desses estudos têm encontrado que a regulação pode mudar a distribuição de
risco da população assegurada, aumentando a cobertura entre os grupos de mais riscos, mas
diminuindo a cobertura dos grupos e indivíduos com menor risco, sem impacto significativo na
cobertura total.
A hipótese é de que forçando as seguradoras a aceitar riscos que elas de outra forma
negariam ou segmentariam em classes de maior risco, a regulação provoca um aumento dos
custos e, conseqüentemente, a elevação do preço do seguro. Grupos de baixo risco e indivíduos
ficam desencorajados a comprar cobertura adicional, e a taxa da cobertura do seguro privado
pode declinar. Implicitamente, todos estes estudos assumem que o mercado de seguro é
competitivo e, portanto, os preços altos são efeitos inevitáveis da regulação.
Na verdade, a hipótese acima não pode ainda ser provada. Revendo o impacto da
regulação no mercado de seguro-saúde, não está claro se os seus efeitos são positivos ou
negativos. Se alguma forma de regulação produz preços baixos e aumento da cobertura depende
da força relativa dos efeitos intermediários sobre o número de seguradoras e da concentração
do mercado. Em uma indústria de custos declinantes como a de seguro-saúde, poucas
seguradoras resultarão em custo de produção menor. Em mercados competitivos, baixos preços
podem aparecer. Em mercados monopolístico, pode ter o efeito contrário.
O ponto principal é que para ter efeito sobre o sistema de preço, a regulação de mercado
deverá incidir sobre níveis mais eficientes de produção. Em outras palavras, a ANS deverá buscar
formas de aumentar a eficiência do sistema para que os preços possam ser controlados. Como
normalmente existe um reajuste negociado pelas operadoras único para todos, a tendência é
que a busca por eficiência não seja considerada uma meta. Aliás, um dos principais problemas
no Brasil é que os contratos beneficiam a ineficiência quando estabelecem um reajuste baseado
na inflação sem procurar verificar qual foi o ganho de produtividade no período anterior ao
!#$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
reajuste. Esta deveria ser uma meta que a ANS deveria exigir de todas as operadoras como ins-
trumento do aumento da eficiência e racionalização do sistema de saúde.
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Página 358
em branco
Análise da Política de Reajuste para
Planos Individuais e Coletivos
Implementada pela ANS
Hor a c i o L . N . Ca t a Pr e t a 1
1. INTRODUÇÃO
Para se analisar as práticas adotadas pela ANS Agência Nacional de Saúde Suple-
mentar, utilizadas para o reajuste das contraprestações pecuniárias dos planos privados de assis-
tência à saúde individuais e coletivos, a partir de 2000, ano da sua criação, torna-se necessário
um breve retrospecto da política de controle dos reajustes das mensalidades dos planos priva-
dos de assistência à saúde, aplicada pelo Governo Federal a partir de março de 1991. Inicial-
mente pelo Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento MEFP e, posteriormente, pelos
Ministérios da Fazenda e da Saúde, através dos respectivos órgãos vinculados: Secretaria de
Política Econômica, SUSEP Superintendência de Seguros Privados e ANS Agência Nacio-
nal de Saúde Suplementar.
É importante ressaltar que até março de 1991, os reajustes das mensalidades do planos
individuais e coletivos de saúde eram realizados conforme previsto nos contratos individuais e
coletivos e não há registro de situações de intervenção do Estado nessa área.
A prática de controle de preços no setor de planos e seguros de saúde iniciou-se com a Lei
no 8.178, de 1o de março de 1991, art. 1o que estabeleceu: Os preços de bens e serviços efetivamente
praticados em 30 de janeiro de 1991 somente poderão ser majorados mediante prévia e expressa
autorização do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento.
|1| Professor convidado da Fundação Getúlio Vargas nos MBAs de Gerência de Saúde e Regulação de Saúde
Suplementar ANS e Consultor Independente para Gestão de Saúde Suplementar.
!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
O art. 2o da Lei no 8.178 determinou que: O disposto no art. 1o desta lei aplica-se,
também, aos contratos cujo objeto seja:
I a venda de bens para entrega futura;
II a prestação de serviços contínuos ou futuros;
III a realização de obras.
Os planos e seguros de saúde foram enquadrados no inciso II, do art. 2o, acima citado.
A referida Lei no 8.178 estabeleceu ainda, no art. 3o, que: O Ministro da Economia,
Fazenda e Planejamento poderá:
I autorizar reajuste extraordinário para corrigir desequilíbrio de preços relativos
existentes na data referida no art. 1o desta lei;
II suspender ou rever, total ou parcialmente, por prazo certo ou sob condição, a
vedação de reajustes de preços que aludem os artigos anteriores;
III baixar, em caráter especial, normas relativas à renegociação dos contratos de que
trata o art. 4o, visando preservar seu equilíbrio econômico-financeiro.
Verifica-se, pois, pela análise das disposições acima citadas que a preocupação do
Governo Federal, na ocasião, era realizar uma transição controlada do regime de preços
congelados, imposta através do Plano Collor em fevereiro de 1990, para um regime de preços
que evoluiria de controlados para monitorados e destes para liberados. Aliás, a Portaria no 463,
de 6 de junho de 1991, estabelece claramente esta política de preços.
É importante registrar que a Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça,
também esteve presente, em determinado período, no processo de controle dos preços dos
planos individuais, invocando o Código de Defesa do Consumidor para a proteção dos direitos
dos usuários de planos e seguros de saúde.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !$
da República, que praticamente paralisou o País até a sua aprovação, pelo Congresso Nacio-
nal, em 29/9/1992.
Esse modelo de controle de preços, cujo objetivo principal era evitar a disparada dos
índices inflacionários, buscou inspiração na experiência desenvolvida anteriormente pelo
Governo Federal através da CIP Comissão Interministerial de Preços, e que tinha como
principal missão monitorar os preços básicos da economia, evitando o repasse indiscriminado
de custos decorrentes de ineficiências operacionais e administrativas para os compradores,
fossem eles consumidores finais ou outras empresas que fizessem parte de cadeias produtivas.
O DAP Departamento de Abastecimento e Preços, após receber das entidades re-
presentativas das operadoras de planos de saúde e das seguradoras (ABRAMGE, UNIMED,
CIEFAS, ABRASPE e FENASEG) as planilhas de custos operacionais, elaborou uma proposta
de fórmula de reajuste, que foi discutida com cada segmento, daí resultando a edição da Por-
taria no 110, cujo objetivo era preparar a saída do Governo Federal do controle dos preços,
em médio prazo.
onde:
Is índice de reajuste da mensalidade em função do índice setorial de custo;
Ref. Méd. variações de preços incorridas na lista de referência de procedimentos
médicos;
S variações observadas nos salários pagos pela empresa, comprovadas através de
acordos, convenções ou dissídios coletivos entre os sindicatos de classe ou resultantes de po-
lítica salarial oficial;
!$$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Econômicas da USP, não houve acordo nesse sentido e a idéia não foi adiante, em virtude do
setor ser composto por operadoras de diferentes segmentos, com visões diferentes da atividade
econômica. Aliás, essa é uma característica marcante entre os diversos segmentos que com-
põem o setor de saúde suplementar.
Em 1995 esse projeto seria retomado pela FENASEG, mas frente às dificuldades
encontradas e o seu alto custo, mais uma vez foi abandonado.
SEGURADORAS 19911994
custos com honorários médicos consultas dos honorários médicos outros procedimentos,
pois isso dava maior visibilidade e controle operacional nas negociações do valor do CH
Coeficiente de Honorários, item referencial da Tabela de Procedimentos Médicos da Associação
Médica Brasileira AMB. Em outras palavras, possibilitava negociar o valor do CH por tipo de
serviço prestado: consultas e outros procedimentos relacionados na lista da AMB.
Também foram incorporados os custos decorrentes de novos tributos criados e o
percentual que excedesse ao limite atuarial de sinistralidade.
A nova fórmula geral apresentava a seguinte estrutura:
(IVC + IES) = IRM
onde:
IVC Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares.
IES Índice de Excesso de Sinistralidade.
IRM Índice de Reajuste da Mensalidade.
A apuração dos índices IVC e IES era feita utilizando-se as seguintes fórmulas:
onde:
HMC variação nos preços dos honorários médicos consultas;
HMO variação nos preços dos honorários médicos outros procedimentos;
DT variação nos preços das diárias e taxas hospitalares;
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !%
onde:
SI Total de sinistros incorridos (SI) no período decorrido (12 meses).
MR Total de mensalidades recebidas no mesmo período.
0,75 Percentual máximo de sinistros previsto pela nota técnica atuarial para o plano.
No período acima alguns reajustes para operadoras de planos de saúde foram au-
torizados com datas-base iniciando em 1o de maio e 1o de junho, conforme a quantidade de
contratos com vencimentos nessas datas.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !%#
Apesar de fixadas as regras, a Agência, desde o primeiro ano, não considerou nenhu-
ma solicitação de reajuste apresentada pelas operadoras, preferindo adotar em cada ano, uma
técnica de calcular o reajuste, ora considerando a média de uma cesta de índices de inflação
geral de preços (primeiro ano), ora em função da média dos reajustes concedidos nos con-
tratos coletivos.
Ambos os critérios não consideram os custos incorridos pela carteira de planos indi-
viduais, que além de ter características próprias, deveria ser objeto de análise específica.
Por outro, a metodologia usada pela ANS para a determinação do índice de reajuste não
encontra apoio em um programa ou objetivo que se queira atingir, a não ser o de se conformar
ao plano geral de controle de metas da inflação, administrado pelo Banco Central do Brasil.
O impacto do reajuste no INPC e no IPCA, por mais significativo que seja, dificilmente
produzirá um efeito catastrófico, pois há que se ponderar que o reajuste atingiria somente 30%
operadora deverá estar sofrendo prejuízo operacional e não podendo recuperar a perda
verificada no exercício, certamente estará a caminho da insolvência.
A opção pelo abandono das planilhas de custos operacionais efetivos, pode vir a causar
uma perda importante no processo de melhoria dos controles das operadoras que foi ini-
ciado em 1991, reestruturado nos anos de 1993 e 1994 e consolidado nos anos de 1995 a 1999.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !%%
*Reajuste concedido às operadoras que concedessem aumento de 20% nos honorários médicos de consultas.
Fonte: ANS e Operadoras.
!%& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Seguradoras 82,1
Medicina de Grupo 75,1
Odontologia de Grupo 48,3
Cooperativa Médica 85,5
Cooperativa Odontológica 71,0
Autogestão 87,6
Filantropia 79,9
4. L IQUIDEZ
A situação geral do setor de saúde suplementar também não tem sido boa, quase crítica,
ao redor de 1,3. Ou seja, o setor dispõe de R$ 1,30 disponível para cada R$ 1,00 que deve pagar
no curto prazo, relação essa muito apertada.
Nesse quesito, mais uma vez as operadoras pequenas são as que se encontram em
pior situação, 35,2% das 898 operadoras da amostra estavam no limite (1) ou ilíquidas em 2002
(índice inferior a 1).
DE SAÚDE 19952002
E VO LU Ç Ã O DA S I N I S T R A L I DA D E DA S S E G U R A D O R A S
1995-2002
Fonte: SUSEP/ANS.
!& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
A ausência de regras para os reajustes dos preços, de fácil apuração e constatação por
parte de todos os interessados, afeta profundamente o relacionamento entre as partes envol-
vidas: ANS, operadoras, prestadores de serviços e usuários, submetendo a decisão da Agência a
críticas de diferentes grupos, interessados direta ou indiretamente no tema ou nos seus efeitos
econômicos e exposição negativa por parte da mídia, além de eventuais ações ou reclamações
por parte de órgãos de defesa do consumidor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. APRESENTAÇÃO
O objetivo geral deste estudo é realizar uma breve descrição sobre o atual cenário da
assistência farmacêutica no Brasil, tendo como foco o papel regulador da Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS). Por meio de mecanismos de Benefício Farmacêutico (BF) em-
pregados no mercado norte-americano e dos instrumentos regulatórios usados nesse
país, apontaremos perspectivas e possibilidades de adequação dos mesmos pela ANS no
setor de saúde suplementar brasileiro. Buscaremos entender a regulação sob três eixos dis-
tintos e complementares: o técnico-assistencial, o operacional e o de sustentabilidade eco-
nômico-financeira.
O primeiro eixo incorpora elementos relacionados ao ciclo da assistência farmacêu-
tica, tais como cobertura, acesso e mecanismos de avaliação. O segundo eixo trata de registros
e contratos entre os planos, seus beneficiários, o Estado, as distribuidoras e a indústria far-
macêutica. O terceiro e último eixo procura entender quanto dos recursos aplicados são
gastos e reaplicados, revertendo-se em um ciclo auto-sustentável ou não, para o plano de be-
nefício farmacêutico ou para a seguradora que o opera.
Detalharemos a experiência norte-americana para uma melhor compreensão da for-
ma pela qual estes mecanismos atuam na prática, assim como quais são as soluções mais
freqüentemente adotadas por este país. A escolha dos Estados Unidos não foi casual, mas por
apresentar modelos de serviços de saúde privados semelhantes aos firmados no Brasil a partir
da década de 70. São analisadas as características dos programas de benefício farmacêutico sob
a ótica dos três eixos usados pelas agências reguladoras desses sistemas.
Procuramos discutir questões vinculadas direta e indiretamente ao processo de regulação
de planos de benefício farmacêutico, tanto no contexto internacional quanto no contexto brasileiro.
Para tanto, introduzimos pequena parte do debate da reorganização institucional pela qual o setor
saúde atravessa desde o final da década de 90. Este texto será subdividido em quatro partes.
Na primeira, abordaremos o papel da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
no processo regulatório das operadoras de planos de saúde e a experiência norte-americana em
regulação do setor privado. Na segunda etapa, discutiremos conceitos fundamentais sobre
assistência e benefício farmacêuticos, além de diversas modalidades destes últimos. A seguir,
trataremos do impacto da regulação dos planos de benefício farmacêutico, nos EUA e no Brasil.
Finalmente, nas considerações finais, discutiremos algumas propostas concretas para a
regulação dos planos de benefício farmacêutico no país.
A experiência brasileira
Grande parte dos sistemas de saúde internacionais, na presente fase, tem introduzido
mecanismos de mercado na provisão de serviços de saúde, além de o Estado renunciar, aos
poucos, à responsabilidade por estas funções e pelo fortalecimento da participação das des-
pesas e ofertas privadas em saúde (BAHIA e VIANNA, 2002; CAMPOS e SANTIAGO JR, 2002; VIANNA
et al., 2002).
Sendo assim, a regulação dos planos e seguros de saúde constitui-se em uma atividade
recente do Estado, cujo órgão regulamentador, a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS)2, é responsável pela correção ou minimização das falhas existentes no mercado e pelas
condições contratuais que afetam empresas e consumidores.3 Estas falhas podem ser exem-
plificadas seja pela assimetria de informações entre clientes, operadoras e provedores de ser-
viços, seja pela seleção de riscos. A seleção possui duas faces de uma mesma moeda, estando
relacionada à empresa ou ao cliente. A face, por parte das empresas de planos de saúde, ocorre
quando optam por clientes que apresentam riscos menores de adoecer. Quando são os clien-
tes a terem um tipo de comportamento seletivo adverso, provavelmente o estão fazendo ao es-
colher uma empresa, já apresentando um determinado problema de saúde (BAHIA e VIANNA,
2002; VIANNA et al., 2001).
Segundo Teixeira e colaboradores (2002), a lógica que orienta os contratos, formais
ou não, dos planos de saúde de empresas no Brasil, é muito distinta da que orienta os planos
individuais. Isto porque os planos vinculados às empresas implicam em um risco homogêneo
para os participantes das apólices coletivas e seus cálculos de custos per capita baseiam-se no
community ratio. Já os planos individuais, baseiam-se no experience ratio, uma avaliação indi-
vidualizada do risco. Sendo coerente com o pensamento de que grandes empresas teriam
maior poder de barganha junto às operadoras e, os riscos de adoecer estariam diluídos nos
grupos de empregados; a assistência teria custos menores do que aquela oferecida nos con-
tratos individuais.
As empresas podem ter seus planos operados por empresas de medicina de grupo,
cooperativas médicas ou seguradoras. Também podem ter uma organização própria, como
acontece com as autogestões.4 Estes dois segmentos, um lucrativo e outro não-lucrativo, se
diferenciam pela forma com que geram seus riscos. As operadoras com fins lucrativos
costumam transferir seus riscos, enquanto as autogestões os retêm.
A experiência norte-americana
Nos EUA, as empresas empregadoras costumam oferecer mais de um tipo de plano aos
seus empregados. Iniciativas desse tipo têm apoio governamental, pois intencionam proteger os
clientes da seleção de riscos das operadoras (TEIXEIRA et al., 2002). O segmento privado de saúde
é dominante (DAIN et al., 2002, MOSEGUI a, 2002), muito embora seja financiado, indiretamente,
mas de forma significativa, pelo setor público, por meio de renúncia fiscal e crédito tributário
(DAIN et al., 2002).
O modelo predominante de cobertura privada neste país é o de Managed Care ou atenção
gerenciada, responsável pela assistência de quase metade da população norte-americana. Este
modelo procura abarcar uma enorme variedade de mecanismos pelos quais as operadoras de
planos de saúde procuram conter os custos e racionalizar o uso de serviços ou insumos,
incorporados a cada tratamento. Tais planos fazem parte das Health Maintenance Organizations
HMOs, Preferred Provider Organizations PPOs e Point-of-Service POS, organizações que
oferecem cobertura da assistência à saúde (MOSEGUI et al., 2002; VIANNA et al., 2002; VIANNA
et al., 2001). Estas são denominadas Organizações de Atenção Gerenciada, que, diferentemente
das seguradoras, negociam contratos com prestadores de serviço individuais, ou com grupos,
através dos quais introduzem incentivos (financeiros e outros), a fim de limitar os serviços e
insumos incorporados a cada tratamento (UGÁ et al., 2002).
|4| Definições sobre autogestões, cooperativas médicas e outras modalidades assistenciais podem ser en-
contradas em: Kornis, G.E.; Caetano, R. Dimensão e Estrutura Econômica da Assistência Médica Suplementar
no Brasil. In: Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar. In: Regulação & Saúde:
estrutura, evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. Ministério da Saúde, Agência Nacional de
Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2002. p. 37-67.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !'!
macêutica pode ser vista como um conjunto de ações desenvolvidas pelo farmacêutico, em sinto-
nia com outros profissionais da área de saúde, voltadas à promoção, proteção e recuperação da
saúde, tanto individualmente quanto coletivamente, sempre tendo o medicamento como insumo
essencial. A assistência farmacêutica visaria ao acesso e ao uso racional deste insumo e envol-
ção progressiva. Assim, o estado deve orientar-se para o atendimento da demanda daqueles
atenção à saúde, pode também se constituir em fator de risco quando utilizado de maneira
qualquer forma, mas sim, de promover o uso racional e seguro desses produtos. O escopo da
ação estatal abrange medidas que assegurem oferta adequada de medicamentos em termos
depara com os maiores problemas e dificuldades. Ficam mais evidentes as distorções e pro-
blemas que são gerados pelas grandes desigualdades sociais e econômicas ainda existentes
Se, por um lado, a assistência farmacêutica aos pacientes tratados no nível da internação
embora com alguns problemas focais relacionados a medicamentos de alto custo, a assistência
aos pacientes em nível ambulatorial constitui-se, ainda, em importante problema de saúde
pública (BELTRAME, 2002).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !'#
Grande parte da dispensação ambulatorial é provida pela compra direta dos usuá-
rios. Isto, em decorrência da diversidade de poder de compra da população, determinado pelas
desigualdades de renda gera um acesso assimétrico a medicamentos no país nessa
área específica. Esta situação é particularmente dramática em se tratando de medicamen-
tos de uso ambulatorial continuado, quando o tratamento de doenças crônicas, muitas vezes
com duração por toda uma vida, se torna inacessível para a maioria da população, quer pelo
alto custo do medicamento, quer pelo custo total do tratamento. Nesse parti-
cular, é fundamental a ação do poder público para combater a iniqüidade no acesso, na
formulação de políticas de assistência farmacêutica de alto custo, na garantia do finan-
ciamento, na distribuição gratuita de medicamentos e na ampliação do acesso à popu-
lação a estes tratamentos (LUIZA, 2003).
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde ampliou significativamente as ações de apoio
à assistência farmacêutica. A garantia do acesso a seu insumo básico, o medicamento, tem
se tornado uma realidade para segmentos crescentes da população. Os avanços no campo da
regulação sanitária e econômica e a reformulação institucional potencializaram os esforços na
melhoria da gestão das políticas públicas e a substancial ampliação de recursos do orçamento
do Ministério da Saúde destinados a medicamentos (BELTRAME, 2002).
A disciplina na gestão financeira dos recursos do Fundo Nacional de Saúde permitiu ao
Ministério regularidade na transferência dos recursos, seja para o pagamento de fornecedores,
quando das compras diretas do Ministério, seja nas transferências a estados e municípios
quando da execução descentralizada. Tais procedimentos estão detalhados nas Portarias
no 1.077 GM/MS, de 24 de agosto de 1999, e no 1.481 GM/MS, de 28 de dezembro de 1999.
O período é marcado pela busca da estruturação de um modelo alternativo ao mo-
delo anterior para a ação do SUS na assistência farmacêutica e o provimento de seu insumo
fundamental, o medicamento. A descentralização na execução das políticas foi uma impor-
tante diretriz para viabilizar a execução das ações e ensejar o aprimoramento dessas ações
nas três esferas de governo (BELTRAME, 2002).
!'$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
|5| A Política Nacional de Medicamentos (PNM) foi aprovada através da PORTARIA GM/MS no 3.916/98.
Esse instrumento passou a nortear todas as ações deste Ministério no campo da política de medicamentos
do setor público. No âmbito dessa política, foi estruturada a assistência farmacêutica, desenvolvida pelo
Ministério da Saúde. Nela, a assistência farmacêutica consiste no grupo de atividades relacionadas com o
medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Desse modo, assis-
tência farmacêutica não se restringe apenas aos processos de distribuição e aquisição, ao contrário, abrange
todas as etapas constitutivas do processo de abastecimento de medicamentos: conservação e o controle de
qualidade; segurança e a eficácia terapêutica; acompanhamento e a avaliação da utilização do medicamento;
obtenção e a difusão de informações sobre medicamentos; educação permanente dos profissionais de
saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 !'%
1997). Esse serviço prestado pode, então, ser considerado uma espécie de benefício farma-
cêutico, pois não abrange todos os processos previstos à assistência nos termos em que é de-
finida. Basicamente, o benefício farmacêutico oferecido pelas empresas de medicina suple-
mentar assume quatro tipos de estratégia de distribuição, com objetivo de facilitar o acesso
aos medicamentos: farmácias próprias, farmácias contratadas, firmas de Pharmaceutical
Benefits Management PBMs e gerenciamento de doenças.
A primeira dessas estratégias consiste no estabelecimento de convênio com redes de
farmácias para a venda, com percentual variado de descontos, de um elenco de produtos tera-
pêuticos. A prescrição por um profissional conveniado é sempre exigida do segurado. O rol de
medicamentos disponíveis para essa compra facilitada é definido pela operadora do plano,
tendo como base critérios nem sempre bem definidos, seja na constituição do pacote de pro-
dutos e de patologias cobertas, seja, inclusive, na própria redação dos contratos. Mas inde-
pendente de seu potencial de redução de custos, essa atividade vem se constituindo em objeto
importante de marketing na competição acirrada a que hoje está submetido o setor médico
supletivo, possibilitando o aumento nas fatias de mercado daquelas empresas que a incorporam.
Tudo isso tem contribuído para a elevação desse tipo de cobertura oferecida.
As modalidades de assistência/benefício farmacêuticos oferecidas variam de uma
operadora de saúde suplementar para outra, existindo casos de empresas que possuem mais
de uma modalidade, enquanto outras oferecem apenas um tipo. A grande dificuldade residiria
nos mecanismos de dispensação e de distribuição de medicamentos, que podem trazer im-
pactos negativos no setor de saúde suplementar. Para isso, é fundamental que sejam incor-
porados ao programa de benefício farmacêutico modelos de gerenciamento de doenças.
Algumas operadoras possuem farmácias que operam dentro do serviço de saúde por
meio de mail order (serviços de correio) para a distribuição dos medicamentos. De acordo com
a Associação Americana de Medicina (AMA, 2003), para um serviço médico ter qualidade,
necessita suprir, em tempo necessário, o acesso do paciente aos fármacos prescritos. Questões
relacionadas ao acesso às farmácias, são particularmente relevantes para usuários do Medicare,
que podem ter dificuldade em obter medicamentos em locais distantes de suas residências.
Entretanto, qualquer tipo de benefício deveria assegurar o acesso às farmácias locais, e não ser
limitado apenas às mail orders 6. As farmácias próprias permitem maior controle de custo,
qualidade e serviço por parte das operadoras, pois atuam no mesmo local da consulta, ou sob
estreita supervisão das mesmas.
Nesse tipo de programa, os médicos têm acesso direto aos farmacêuticos, além de ser
mais cômodo para os pacientes, pois adquirem o medicamento logo após a consulta, sem
maiores burocracias. Em geral, as operadoras que operam com essa modalidade de benefício
farmacêutico necessitam de um volume muito grande de prescrições para compensar o custo
operacional por elas imposto. Além disso, não podem operar em regiões geográficas muito
distantes, o que aumenta muito o custo de dispensação da droga (AMA, 2003).
Farmácias contratadas
tratamento das doenças crônicas é a baixa adesão ao mesmo. As PBMs podem criar programas
as PBMs conseguem grandes descontos junto aos fabricantes, para que seus medicamentos
façam parte das suas listas básicas. Estas listas, baseadas nos consensos médicos, permitem a
utilização de certos fármacos dentro de cada classe. A molécula a ser escolhida e o seu respectivo
Revisão periódica dos formulários: faz parte dos serviços oferecidos pelas PBMs, que
poucas operadoras teriam capacidade técnica e operacional de realizar. O comitê clínico far-
macêutico das PBMs tem capacidade de realizar revisão constante das listas, adequando-as
Avaliação dos desfechos do tratamento: por possuírem uma grande base de dados, que
integra todas as pontas do sistema de saúde (desde informações ambulatoriais, pedidos de
medicamentos, adesão ao tratamento e a internação), têm a capacidade de avaliar os desfechos
de saúde e permitir a criação de ferramentas adequadas para o controle da sinistralidade.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "
Por fim, a última modalidade de benefício farmacêutico a ser discutida, mas não me-
nos importante: o gerenciamento de doenças.
E s c o l h a d o mo d e l o d e b e n e f í c i o f a r ma c ê u t i c o
Ta b e l a 1 C O M PA RA Ç Ã O E N T R E O S T I P O S D E B E N E F Í C I O
FA R M AC Ê U T I C O
Gerenciamento Melhor qualidade e Maior custo inicial. Ideal para operadoras com
de doenças custo do tratamento. abrangência nacional, que
Prevenção de podem arcar com os custos
complicações do benefício gerenciamento.
crônicas no futuro.
(livre escolha ou mais restritivo), sendo diretamente proporcional ao prêmio mensal pago.
O usuário é identificado através de um cartão de benefícios apresentado no momento da aqui-
sição do medicamento, juntamente com uma receita preenchida por um médico. Algumas
operadoras de planos de saúde exigem que o médico seja credenciado, outras permitem
médicos fora da lista de credenciados.
Medicamentos categorizados como Over-The-Counter (OTC)7 não possuem cobertura
no benefício. A maioria das operadoras de planos de saúde possui formulários de medica-
mentos que são listas contendo uma variedade de fármacos para diferentes doenças. Estes for-
mulários podem ser abertos, indicando que o formulário apenas indica medicamentos prefe-
renciais, permitindo a cobertura de drogas que não se encontram na lista, ou formulários fe-
chados, onde somente as drogas da lista estarão cobertas pelas operadoras (VIANNA, D., 2002).
A dispensação do medicamento é realizada, normalmente, em farmácia designada pela
operadora de planos de saúde e pertencente a uma rede de farmácias credenciadas. A opção pelo
genérico ainda não é a regra, porém é uma tendência crescente (PBM Pharma Business, 2000).
Em alguns casos, o medicamento pode ser distribuído por correio nos casos de doentes crônicos
com dispensação por 90 dias.
A modalidade de operacionalização do benefício mais utilizada é a contratação de
uma Pharmacy Benefit Manager (PBM). Esta empresa assume a população de beneficiários
de uma operadora de planos de saúde. Sua função é distribuir o medicamento aos usuários,
controlar a utilização, gerar uma base de dados sobre a população assistida (perfil de utili-
zação, dados epidemiológicos) e disponibilizar ferramentas de aumento à aderência ao
fármaco. São remuneradas pelas fontes pagadoras, normalmente, por meio de capitação da
população e negociam margens diretamente com a indústria farmacêutica. Uma contribuição
financeira por parte do usuário na compra do medicamento é denominada co-participação,
funcionando como uma ferramenta de gerenciamento da demanda para evitar os abusos
na utilização dos fármacos.
A v a l i a ç ã o d o c u s t o d e i mpl e me n t a ç ã o
Prevalência de doenças que mais têm impacto sobre o sistema de saúde, sobretudo
sobre o consumo de medicamentos;
Utilização histórica de medicamentos por parte dos segurados;
Dados sobre gastos com medicamentos na população segurada (inclui a utilização
e o preço médio dos medicamentos utilizados);
|8| Historicamente, as empresas de autogestão foram pioneiras na oferta do benefício farmacêutico aos seus
usuários, no segmento de saúde suplementar sob regulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Pes-
quisa realizada pela consultoria Towers Perrin demonstrou a estratificação do custo médio mensal líquido por
usuário para financiamento do benefício farmacêutico pelas empresas consultadas (ABRASPE, 2000): < R$ 10,00/
mês em 45% das empresas pesquisadas; entre R$ 10,00 e R$ 14,90, em 16% das empresas pesquisadas; entre R$
15,00 e R$ 19,90 em 9% das empresas pesquisadas; entre R$ 20,00 e R$ 39,90, em 14% das empresas pesquisadas;
R$ 80,00/mês em 9% das empresas pesquisadas; outros custos em 7% das empresas pesquisadas.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "#
Nesse sentido, o controle de custo do benefício farmacêutico por parte das operadoras se
baseia em dois instrumentos fundamentais: a transferência do risco para o segurado, mediante
várias formas de co-pagamento e a transferência de risco para o médico prescritor, por meio da
capitação do benefício farmacêutico.
Deve-se levar em consideração que as seguradoras operam em um ambiente altamente
competitivo, em que os custos do benefício podem ter impactos negativos sobre a saúde
financeira dessas operadoras.
Existem inúmeras medidas de controle de custo que podem ser empregadas pelas
operadoras. As modalidades freqüentemente usadas nos Estados Unidos são: o benefício
farmacêutico capitado, o limite ao benefício farmacêutico, o co-seguro, o co-pagamento e a
mail order.
O modelo de capitação pode ser aplicado para o benefício farmacêutico, da mesma
forma que é aplicado ao plano de saúde, no qual a operadora paga ao prestador uma quantia
fixa referente ao uso de medicamentos, sendo que, desta forma, o risco é transferido para o
prestador (médicos ou farmacêuticos), que se vêem obrigado a controlar a prescrição dos
medicamentos.
No limite ao benefício farmacêutico, a operadora estabelece um teto de gastos de
medicamentos por usuário. Diferentemente da capitação, ao atingir um determinado limite,
fronteira de gastos, o beneficiário deve arcar com as despesas.
A terceira modalidade de controle de custos é o co-pagamento. Neste tipo de medida de
controle de custos, a seguradora paga um valor fixo por cada medicamento, visando transferir
o valor da prescrição da operadora para o usuário e, assim, coibindo o uso de medicamentos
"$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
desnecessários. Pode haver, também, de forma conjugada, um estímulo, por parte das
marca e aqueles indicados apenas para melhora da qualidade de vida (como medicamentos
A última modalidade é o plano de medicamentos por mail order, onde fármacos são
dispensados em casa. Tem demonstrado um grande crescimento no mercado americano nos
últimos anos. No Brasil, este tipo de dispensação (via Sedex) ainda é muito caro, principalmente
forte de descontos. Quanto mais fechada for a lista, maiores serão os descontos. Por exemplo,
se existirem oito medicamentos de uma mesma classe terapêutica, a utilização de apenas dois
fármacos poderá levar a um maior poder de barganha e a uma redução significativa do preço.
Em 1996, por meio do Health Insurance Portability and Accountability Act (HIPAA), o
vado de assistência (IZ, 2001). As PBMs, ficaram atentas ao impacto dessa resolução e em suas
como entorpecentes e psicotrópicos, além de possuir algum tipo de dispositivo que impeça o
desperdício do medicamento, devendo seus inventários de estoques estarem sempre atualizados.
No que tange a legislação sobre genéricos, os farmacêuticos podem substituir o fármaco,
mesmo quando o medicamento com o nome de marca é indicado, desde que o médico não
redija a mão essa impossibilidade. Essa legislação teve um impacto significativo no preço de
insumos farmacêuticos de marca e contribuiu para a redução dos preços.
Os programas de substituição terapêutica onde a PBM troca a droga prescrita pelo
médico era substituída por outra terapeuticamente semelhante, mas de interesse da PBM
sofreram modificações em seu formato, pois agora essa alteração não pode ser realizada de
forma automática (IZ, 2001).
A c e s s o a r e d e s de f a r mác i a s e dr o g a r i a s
As leis de acesso não tiveram um impacto grande sobre as transações realizadas pelas
PBMs, pois em sua maioria elas mantêm redes e se estabelecem em redes nacionais. De forma
geral, essas empresas incluem qualquer farmácia capaz de realizar a entrega em tempo real, em
suas redes, desde que estejam adequadas às regras do seguro e consigam realizar a operação em
um mínimo de horas.
Não há problemas para as PBMs cumprirem as exigências legais quanto à licença para
seu funcionamento nos estados americanos, contanto que sigam as recomendações gerais
federais e as de cada unidade da federação.
P r e ç o d o s me d i c a me n t o s
O fato do medicamento ser um bem essencial à saúde faz com que exista uma baixa
elasticidade no preço da demanda, sendo o consumidor pouco sensível a variações de preços.
Uma vez diagnosticada a necessidade do uso do medicamento, o paciente não pode simples-
mente optar por adiar o consumo do produto (BELTRAME, 2002).
Além da essencialidade do bom medicamento para a garantia do direito à saúde, ou-
tras questões decorrentes das características desse mercado são importantes para a compreen-
são da necessidade de intervenção do Estado, tanto do ponto de vista da regulação, quanto da
implementação de programas governamentais de ampliação do acesso gratuito ou não aos
medicamentos. Este item analisa, de modo bastante sintético, as especificidades do mercado
farmacêutico, em especial as falhas de mercado que justificam uma ação mais ativa do Estado
para assegurar o acesso da população a esses bens (BELTRAME, 2002). Também, segundo a
ANVISA (2001), a caracterização do poder de mercado dos fabricantes reveste-se de maior com-
plexidade quando se consideram as especificidades da demanda, que seria inelástica para a
maior parte dos produtos éticos. Para esse órgão, a essencialidade do produto leva o paciente
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
a correr riscos de vida, em alguns casos se não adquiri-lo. Há então, baixo grau de elas-
ticidade-preço da demanda, ou seja, o consumo de ampla gama de medicamentos éticos
não diminui sensivelmente em razão de aumentos de preço. Além de inelástica, esta demanda
estaria desprovida de informações sobre a possibilidade de substituição de produtos. Estas
idéias estão em conflito com a de determinados autores (Productivity Commission, 2001;
CASTELLÓ et al., 2000; JACOBZONE, 2000; LÓPEZ-CASASNOVAS & PUIG-JUNOY, 2000).
A teoria econômica reconhece quatro tipos de falhas de mercado que justificariam a
intervenção do Estado: poder de mercado, informação incompleta, externalidades e bens
públicos. O setor farmacêutico é caracterizado por duas delas: o poder de mercado de deter-
minadas empresas em algumas classes terapêuticas e a assimetria de informações. Nesses ca-
sos, o sistema de preços falha em dar os sinais necessários aos consumidores e produtores
e, como conseqüência, o mercado passa a não operar de modo eficiente. A intervenção go-
vernamental coloca-se como alternativa para reduzir os prejuízos resultantes das imperfei-
ções do mercado (JACOBZONE, 2001).
Essencialmente, trata-se de um mercado em que a concorrência entre produtores opera
muito pouco. Isso porque, em primeiro lugar, os consumidores não detêm a informação, o
conhecimento sobre os produtos condição fundamental para que opere bem a concorrência.
É diferente comprar um medicamento de, por exemplo, uma lata de palmitos. Neste caso, o
consumidor sabe bem o que esperar do produto, compara preços, pode mudar de marca ou
escolher um semelhante. Mesmo quando compra um automóvel, que é mais complexo, ele já
se informou antes e é capaz de avaliá-lo razoavelmente ao longo do tempo. Já no caso dos
medicamentos, a avaliação é mais difícil, a possibilidade de trocar de marca é mínima e a
substituição por sucedâneo, quase impossível. Por isso tudo e em razão da maior essencialidade
do produto, a demanda por medicamentos tende a ser inelástica ao preço: quando este sobe, as
pessoas não deixam de comprá-los nem reduzem o volume de sua demanda proporcionalmente.
Por último, há também barreiras tecnológicas, de escala e mercadológicas importantes que
dificultam muito a entrada de novos produtos concorrentes no setor, que de outro modo
aumentariam a produção e forçariam os preços para baixo (SERRA, 2000).
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intervenções do setor público para garantir este acesso. O Ministério da Saúde, especialmente
nestes últimos anos, tem empreendido importantes esforços no sentido de ampliar e tornar
mais equânime o acesso da população brasileira a medicamentos. Fazem parte desses esforços
a definição de uma Política Nacional de Medicamentos e todos os desdobramentos dela de-
correntes, a implementação/aperfeiçoamento/ampliação de programas e ações específicas
destinadas a viabilizar a distribuição gratuita de medicamentos, a ampliação da produção
de medicamentos nos laboratórios públicos, as medidas reguladoras sobre o mercado farma-
cêutico, entre outras atividades (BELTRAME, 2002).
Neste contexto, desempenham papel essencial, com grande importância e alcance social,
os diversos programas de assistência farmacêutica gratuita que têm sido desenvolvidos pelo
ministério, além dos estudos que a Agência Nacional de Saúde Suplementar tem se proposto
a realizar, a fim de aumentar esse acesso aos medicamentos no setor privado de saúde.
Quanto aos contratos no setor privado de saúde, seguindo a mesma lógica de poder de
barganha de grandes corporações como Amil, Sul América Seguros e Golden Cross, que pos-
suem contratos de prestação de serviços com empresas de porte e com grande número de
funcionários (ex. Universidade Estácio de Sá, Lojas Americanas), os planos de benefício far-
macêutico podem ter, junto a esses grupos, uma maior viabilidade assistencial e econômico-
financeira. As negociações de preços são muito mais vantajosas, em termos financeiros.
Sabe-se que uma mesma empresa pode estabelecer contratos diferenciados com uma
operadora, ofertando serviços e alternativas relativos ao padrão dos planos. A padronização
encontra-se associada a uma hierarquia de demandas, estabelecida de acordo com o nível so-
cioeconômico. Havendo distintos padrões de planos oferecidos por uma mesma operadora,
os planos de benefício farmacêutico podem também seguir essa linha, oferecendo produtos
diferenciados para cada tipo de clientela.
As organizações que lidam com medicamentos deverão diferenciar-se, fundamental-
mente, pelo tipo de plano oferecido a seus clientes e pela forma de relacionamento entre os
prestadores. Neste caso, devem existir diferenças de acordos realizados entre as operadoras
de benefício farmacêutico e as de saúde, relacionados à forma de remuneração, ao compartilha-
mento financeiro dos riscos e à exclusividade no atendimento ao beneficiário (UGÁ et al., 2002).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "!
No que se refere ao tipo de plano, as diferenças devem estar ligadas às alternativas que
as operadoras oferecem, como o preço (nível de co-pagamento, por parte do usuário), o nível
de liberdade de escolha do prestador e da cobertura (por exemplo, diferentes listas de medica-
mentos para diferentes coberturas).
Mas a questão decisiva do benefício farmacêutico diz respeito à transferência do risco
financeiro. Tal transferência poderia ocorrer por meio da introdução de intermediações nos
arranjos entre as operadoras de planos e as de BF, e da adoção de sistemas de pagamento mistos,
que, se conjugados, gerariam transferência de risco para um ou outro agente. Tanto as ope-
radoras de planos de saúde quanto as de BF passariam a usar sistemas ordenadores de despesas
a partir do desenvolvimento de novas formas de remuneração e relações contratuais. Havendo
intermediação entre o prestador e a operadora, por parte da PBM ou de qualquer operadora de
BF, vigorariam misturas de formas de pagamento.
Ugá (2002) discute o cenário norte-americano de tipo de Organizações de Atenção
Gerenciadas, fazendo distinções quanto ao tipo de contrato, atendimento e financiamento.9
Vamos mais adiante, extrapolando a discussão para o campo das empresas de BF. Para estas, as
modalidades de contrato mais freqüentes seriam três. Na primeira combinação a PBM seria
contratada pela operadora de planos de saúde, per capita, e esta financiaria os medicamentos, de
acordo com a prescrição médica (remuneração médica é por produção). Apresentaria a van-
tagem da auto-regulação. Quem recebe per capita, efetuaria um rigoroso controle sobre os
possíveis excessos existentes nas prescrições. E como os prescritores seriam remunerados por
produção, excluir-se-ia a possibilidade de subprestações, principal perigo desta modalidade de
pagamento (per capita). Neste caso, a operadora de BF assumiria o principal risco financeiro.
Em uma segunda combinação, a PBM seria contratada pela operadora de planos de
saúde, per capita, e esta financiaria os medicamentos, de acordo com a prescrição, mas os
médicos assalariados, não receberiam por produção. Nesta situação, não haveria ajuste dos
|9| Ver: Ugá, M.A. et al. A Regulação da Atenção à Saúde nos EUA. In: Regulação & Saúde: estrutura, evolução e
perspectivas da assistência médica suplementar. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar. Rio de
Janeiro: ANS, 2002. p. 245-262.
"" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
salários médicos, segundo os resultados financeiros da PBM. Portanto, esta assumiria todo o
risco, pois receberia um valor fixo, independente dos custos das prescrições médicas.
Finalmente, a PBM seria contratada pela operadora de planos de saúde, per capita, que
por sua vez, remunera os prescritores, por meio de um valor subcapita. Nesta terceira e última
combinação, parte da diferença entre os valores per capita e subcapita, poderia ser distribuída
entre os prescritores, como forma de incentivar um maior controle nas prescrições. O risco
seria compartilhado entre o prescritor e a operadora de BF. Nesta relação, haveria um com-
partilhamento do risco entre a operadora de planos de saúde, a PBM e o prescritor, e variaria
de acordo com o tipo de combinações de sistemas de remunerações. Em todos os casos, porém,
haveria diminuição do risco assumido pelas operadoras de planos de saúde.
Existe, também, a possibilidade de avaliação de todos estes programas, como poderemos
ver no próximo item.
A v a l i a ç ã o de p r o g r a ma s de b e n e f í c i o f a r ma c ê u t i c o
De acordo com a AMCP (2002), existem três perspectivas básicas pelas quais são ana-
lisados e avaliados programas de cuidado gerenciado de farmácia: a dos resultados clínicos,
humanísticos e econômicos. Cada um deles pode ser tratado separadamente, ou não, quanto
aos três eixos de análise empregados neste estudo. Tais avaliações podem ser regulamentadas
pela ANS, com a finalidade de monitorar a qualidade dos serviços oferecidos pelas operadoras
de planos de saúde em relação aos planos de BF.
A primeira perspectiva, a dos resultados clínicos, aborda basicamente os resultados do
cuidado médico, tomando como base a terapia farmacológica empregada, a longo e a curto
prazo. Um exemplo pode ser dado quanto ao manejo da asma. Havendo complience, ou adesão
ao regime terapêutico por um paciente asmático, os resultados a curto prazo podem ser
aumentados. A longo prazo, o mesmo paciente pode ter uma diminuição de suas hospitalizações.
Se por um lado os profissionais são treinados para compreender as razões pelas quais o paciente
adere ou não à terapêutica e são incentivados a aumentá-la, por outro lado, os pacientes recebem
orientações especiais para que haja adesão efetiva. Assim, o eixo técnico-assistencial funciona de
forma mais adequada (AMCP, 2002).
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "#
diretriz. Testar somente o efeito causal da política isolada requer o ajuste de todos os fatores que
estão vinculados à decisão de aderir ou não.
Tanto no modelo avaliativo político quanto no clínico, podemos perceber semelhanças.
Eles podem ser vistos como equivalentes de políticas de saúde quase experimentais, de conceitos
bem estabelecidos de análises que intencionam tratar e das que tratam efetivamente, como os
ensaios clínicos controlados (Tabela 2).
T a b e l a 2 D E F I N I Ç Õ E S D E C O N C E I TO S S E M E L H A N T E S PA R A
P E S Q U I S A S E M P O L Í T I C A S D E M E D I C A M E N TO S Q UA S E
E X P E R I M E N TA I S E P E S QU I S A S S O B R E E F I C Á C I A R A N D O M I Z A DA S
Uma rápida análise da tabela acima faz com que percebamos como o modelo político
subestima os efeitos adversos, assim como a análise de manejo subestima os efeitos dos
tratamentos que podem ser vistos caso haja uma aderência ao tratamento ou à política.
Concluindo, ambos os modelos devem ser testados com o entendimento claro de suas
perspectivas, hipóteses e interpretações, sendo que cada um deles gera diferentes tipos de
informações (SCHNEEWEISS et al., 2001). A escolha de um ou outro modelo reflete a extensão de
que tipo de avaliação de resultados é usada para os níveis de decisão de cuidado em saúde.
"& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
|10| Em geral, as listas positivas limitam o número de medicamentos àqueles mais custo-efetivos.
" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
operadoras de planos de saúde e de BF são uma fonte importante para o aumento da racionalidade
dos serviços médicos. Como muitos deles são criados para o manejo de doenças crônicas, existem
padrões pré-estabelecidos para o tratamento, farmacológico ou não, das doenças. Mais ainda,
esses guidelines muitas vezes podem ser considerados estratégias de contenção de gastos para os
sistemas de saúde, porque procuram usar os medicamentos mais seguros, efetivos e eficientes
(MOSEGUI b, 2002). Alguns, inclusive, trabalham somente com medicamentos genéricos, que são
opções mais custo-efetivas na maior parte dos países que possuem essa política implantada. Mas
sabe-se que este tipo de mecanismo de contenção de gastos possui um forte fator limitante: a
resistência do prescritor em cercear sua liberdade médica.
Como desafio para a ANS, põe-se:
Avaliar a obrigatoriedade ou não por parte das operadoras de planos de saúde,
em oferecer serviços vinculados, total ou parcialmente, à cadeia do medicamento;
Sugerir a criação de consórcios pelas pequenas e médias empresas de planos de
saúde, a fim de que os custos para operacionalização do benefício sejam menores;
Assinalar qual a melhor cobertura a ser oferecida por tipo de empresa;
Propor como as diferenças entre as coberturas podem ser ampliadas;
Sugerir, junto ao Ministério da Saúde e da Fazenda, um sistema de incentivos,
capaz de estimular o mercado de planos de benefício farmacêutico.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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farmacêutico. Atenção Básica à Saúde: modelo de fornecimento de medicamentos pelo segmento de
operadoras de saúde, P.10, setembro de 2002. Documento manuscrito, 41p.
Gerenciamento de Custos
em Planos de Assistência
à Saúde
Cl á udi o da Rocha Mi r a nda 1
1. INTRODUÇÃO
S i s t e m a s de sa ú d e n o B r a s i l p a r a d o x o s e p a r a d i g m a s
políticas sociais onde se destaca a saúde. Acrescenta-se a isso, em nosso país, o aceleradíssimo
processo de envelhecimento da população. Continuamos a ter problemas com doenças da
pobreza (típicas de países do terceiro mundo) e passamos a ter que enfrentar, cada vez mais, os
altos custos decorrentes das doenças da riqueza (próprias das nações desenvolvidas).
Na área privada da saúde, passamos por uma situação onde todos os atores do sistema
suplementar estão em crise. A rede de atendimento composta por médicos, hospitais, clínicas
e laboratórios reclama cada vez mais da baixa remuneração. As operadoras de saúde vivem
uma situação que, com raras e honrosas exceções, é quase falimentar. Passada a fase onde o
ganho financeiro, decorrente da inflação, era mais que suficiente para esconder os crescentes
custos da assistência à saúde, elas se vêem às voltas com instrumentos de gerenciamento
e controle de custos que, não raramente, têm se mostrado insuficientes para resolver sua
problemática. Os usuários, por seu turno, estão cada vez mais se esforçando para que em
seu orçamento caibam as despesas com os planos de saúde e, por conseguinte, estão sempre
em busca daqueles que oferecem os menores preços.
Se fizermos um paralelo da crise da saúde suplementar com a área pública, certamente os
contornos são de semelhantes para piores. Enquanto os médicos conveniados se queixam dos
cerca de R$ 25,00 a R$ 30,00 com os quais são remunerados por suas consultas. Na área pú-
blica recebem cerca de 10 a 12 vezes menos pelo mesmo serviço prestado.
Falarmos, portanto, de Gerenciamento da Saúde e, principalmente, de ferramentas
voltadas para ele com o paradigma vigente é cada vez mais, focar apenas um lado do
problema. A questão parece ser muito menos de técnicas de gerenciamento e muito mais de
paradigma. Mas o que é, exatamente, um paradigma ou um outro paradigma?
Conforme os dicionários, paradigma é um modelo ou um padrão. Nosso modelo de
assistência à saúde está equivocado. Ele está focado na doença e não na saúde. Segundo a
Organização Mundial da Saúde, dentre os diversos fatores que fazem com que um indivíduo
passe dos 65 anos, apenas 10% estão ligados à assistência médica. O estilo de vida é res-
ponsável pelos outros 53%, o meio ambiente por 20%, a herança genética, pelos demais
17%. Nosso sistema de saúde tem foco apenas nos 10% relativos à assistência médica. Onde fica,
então, a saída?
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 " %
dispositivos aprovados, o que foi efetivado por meio de uma série de resoluções que esta-
beleceram as primeiras normas e critérios para operação no setor, bem como definiram
alguns instrumentos para permitir a aplicabilidade da legislação.
No ano 2000, foi aprovada a Lei 9.961, criando a ANS Agência Nacional de Saúde
Suplementar, que passou, então, a assumir a regulação do setor. A partir de então, por meio de
diversas Resoluções da Diretoria Colegiada-RDCs, Resoluções Normativas-RNs, Resoluções
Operacionais-ROs, a agência vem normatizando e fiscalizando as operações no setor, tanto no
que se refere à constituição das empresas operadoras, quanto aos direitos e obrigações dos
beneficiários dos planos de saúde e, também, à atuação de empresas empregadoras, quando a
operação se dá na modalidade de autogestão.
Ainda que não se observe uma dedicação maior em relação aos prestadores de serviço,
vários dos itens legais direcionam o modelo assistencial, tratando da cobertura, de carên-
cias e regulação de acesso aos serviços, entre outros.
Os relatórios de gestão da ANS mostram balanços positivos em relação ao impacto da
legislação no setor, destacando a evolução de uma atuação livre das operadoras no mercado
para uma atuação controlada com obrigatoriedade de obtenção de autorização para fun-
cionamento, concedida após demonstração de sua viabilidade econômico-financeira. Cita-se,
também, como positiva a instituição de regime equivalente ao das instituições financeiras
para as operadoras, a possibilidade de intervenções, a liquidação extrajudicial e a determi-
nação de um compromisso bem definido dos elementos da esfera de direção das empresas.
No tocante ao acesso, o relatório mostra que foram introduzidas normas que im-
pedem a seleção de risco e outras que estabelecem as condições para entrada e saída dos
beneficiários do plano. Da mesma forma, em relação à assistência, a avaliação é conside-
rada positiva, tendo como principais pontos de avanço a evolução da cobertura sob a ótica da
assistência integral à saúde, a restrição aos limites de número e tipos de procedimentos e a
ampliação da abrangência das doenças para todas as que integram a Classificação Interna-
cional das Doenças CID, da OMS.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 " '
O sistema de saúde público brasileiro não é universal, atende pouco mais de 60% dos
170 milhões de brasileiros. Indo além, no final da década de 80, constatou-se um esgo-
tamento da capacidade do governo em gerir a saúde pública, principalmente no que con-
cerne ao Sistema Único de Saúde SUS, e a total liberdade dos operadores do Sistema de
Saúde Complementar SSC, resultando em diversos conflitos. Nesse sentido, a década de
1990 testemunhou o desenrolar de uma tentativa para melhorar o desempenho do sistema
de saúde e regular de maneira adequada as atividades das operadoras que atuavam no sis-
tema de saúde complementar.
Havia uma expectativa de crescimento inicial da população atendida pelo Sistema de
Saúde Complementar SSC, principalmente à custa de uma expectativa de migração de usuários
do Sistema Único de Saúde (SUS) para o SSC. Entretanto, dados recentes da ANS revelam que
a população assistida pelo SSC encolheu significativamente de 40 milhões de usuários, em
1996, para cerca de 33 milhões, em 2003. Conseqüentemente, não ocorreu a redução do número
de usuários iniciais e a desoneração do SUS para atender novas populações, pelo contrário.
O rigor burocrático imposto pela ANS e a retração significativa do mercado resultaram
no encerramento das atividades de diversas empresas, nacionais e transnacionais, trazendo à
baila a necessidade de um gerenciamento mais austero dos recursos disponíveis. Nesse coro-
lário de dificuldades, a sustentação do sistema passa a ser questionada e a necessidade de
ferramentas de gestão mais eficazes torna-se a tônica das demandas da alta gerência. Em ver-
dade, na impossibilidade de crescimento sustentável da população de usuários, as empresas
passaram a exercer atitudes compatíveis com canibalismo de mercado, cujas conseqüências
desastrosas podem ser discutidas no escopo teórico da gestão estratégica.
"! R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
2 . 3 . Os a t o r e s d o s i s t e ma
P r e s t a d o r e s e Pr o f i s s i o n a i s d e Se r v i ç o s d e Sa ú d e :
acreditam que o valor da remuneração dos seus serviços está muito aquém do
que seria justo e que as operadoras de saúde são beneficiadas com essa situação;
acreditam que as operadoras de saúde querem ganhar sempre e por isso criam
formas de cobrar tudo, o que podem e o que não podem, com a justa alegação
de que precisam sobreviver.
Esse quadro contempla as relações conflituosas e/ou distorcidas que permeiam o sis-
tema e demonstra a extensão desse comprometimento, senão vejamos:
1 No sistema de saúde, os prestadores de serviços baseiam sua viabilidade econômica
na geração de despesas para o sistema, o que resulta em um clima de adversidade entre
operadoras e beneficiários.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "!!
2 Existe falta de sensibilidade coletiva dos beneficiários para o uso adequado dos limi-
tados recursos disponíveis, gerando desperdícios, fraudes e elevando os custos do sistema. Nes-
se sentido, os beneficiários teriam pouca sensibilidade em relação aos custos dos benefícios
disponíveis.
3 Existe uma inflação tecnológica, fora de controle, para o diagnóstico e tratamento de
doenças. Essa inflação tecnológica seria agravada por circunstâncias resultantes do aumento da
longevidade, dos riscos legais (aumento do número de processo contra prestadores de serviços),
aumentando os custos de maneira desproporcional aos benefícios gerados. Não obstante, a
utilização dos sistemas de saúde se acentua na medida em que as características da vida mo-
derna (competição, estresse, sedentarismo, violência, insegurança, hábitos alimentares no-
civos etc.) funcionam como geradoras de demanda.
4 Inexistem sistemas de informação e/ou indicadores capazes de gerir os relacio-
namentos entre operadoras, beneficiários e prestadores de serviços e que permitam escolhas
adequadas à sustentação e à viabilidade do sistema de saúde.
5 A preocupação central na gestão dos sistemas de saúde está na redução de custos
e inexiste incentivo para melhora do desempenho do sistema, harmonizando qualidade e
custos justos. Nesse sentido, a concorrência seria baseada no que é observado: o agradável
ambiente físco das instalações, os equipamentos de alta tecnologia, o amplo aparato de ser-
viços e até mesmo nos preços elevados.
A análise macroscópica do cenário sugere que o gerenciamento do sistema de assis-
tência e atenção à doença e à saúde não garante a criação de um sistema de saúde sustentá-
vel ou viável ao longo do tempo. Portanto, propostas inovadoras de gestão deverão considerar
relevante criar mecanismos de gestão que solucionem ou minorem os dilemas do sistema.
A conclusão é de que os sistemas atuais caminham, inexoravelmente, para a inviabili-
dade econômica. Para combater essa situação, várias alternativas são propostas, quase todas
baseadas na necessidade de mudar o foco do sistema da doença para a saúde através da
adoção de medidas preventivas ou da modificação das práticas atuais de tratamento (ex-
cessivamente intervencionistas e invasivas).
"!" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Saúde e doença são conceitos diferentes que devem ser tratados de forma diferente.
O sistema que fornece serviços para o tratamento da doença não é incompatível com um sis-
tema que se preocupe em gerar saúde. Na verdade, eles são complementares. Focar a elimi-
nação da doença como forma de viabilizar a saúde e vice-versa é um grande engano.
Querer adotar um sistema voltado para a promoção de saúde como forma de viabilizar
o atual sistema de doença é correr o risco de simplesmente trocar de problema. O que é um
sistema de saúde? Quanto custa gerar saúde efetiva? Quem são os profissionais habilitados para
prestar esse tipo de serviço? Quem vai querer explorar esse segmento de mercado e ganhar
dinheiro com isso? Como as pessoas vão usar um sistema voltado para a saúde? Persistirão as
fraudes e os desperdícios? Que novas necessidades serão estabelecidas? Que novos interes-
ses serão instituídos?
Por outro lado, não há como substituir o atual sistema de doença no seu papel de atender
a casos crônicos, urgências e toda e qualquer situação envolvendo risco de vida ou o tratamento
de doenças já estabelecidas no organismo. É certo que as técnicas de diagnóstico e tratamento
devem ser questionadas, é certo que ações de promoção de saúde podem reduzir o número de
doentes, mas também é certo que uma vez caracterizada a necessidade de tratamento de doenças
ou traumas reais, o sistema de doença sempre será necessário.
Vamos imaginar, no entanto, que os sistemas de saúde, propriamente ditos, foram
implantados. Como já vimos, eles não eliminaram o sistema de doença e agora precisam pres-
tar novos tipos de serviço para gerar saúde efetiva. Será que todos os serviços realizados serão
realmente necessários? Os resultados compensarão os custos? Levando ao extremo, como saber
se o sistema é capaz de gerar saúde? Mais ainda, que itens comporiam um verdadeiro e efi-
ciente programa de saúde? Finalmente, quem os compraria?
Ausência de doença não é sinônimo de saúde e a presença de saúde não significa a elimi-
nação da doença. Um modelo mais próximo do ideal engloba de forma integrada, mas diversa, a
coexistência de dois tipos de sistema: um voltado para a doença e outro voltado para a saúde.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "!#
2 . 5 . O ma r k e t i n g c o mo e s t r a t é g i a d e p r e v e n ç ã o
Muito embora saúde e doença sejam conceitos diferentes, como acabamos de analisar, é
inegável que a imensa maioria dos modelos de assistência à saúde têm seu foco, direcionado
para a cura e não para a prevenção. De muito tempo é conhecido o dito: prevenir é melhor que
remediar. Melhor, dentre outras vantagens, porque é mais barato. Se isto é do domínio
público, que dirá dos profissionais da área médica.
A pergunta é: se isso é tão verdadeiro, por que, então, os planos de saúde não adotam a
prevenção como principal ferramenta para reduzir seus custos? Mais ainda: por que para a
imensa maioria deles, prevenção é sinônimo de custo e não de investimento, capaz de garantir a
redução de seus gastos?
Várias podem ser as considerações a respeito desse tema e, portanto, várias podem ser as
respostas a essa pergunta. No entanto, um dos enfoques merece consideração neste contexto: os
impactos sobre os custos do atual Marketing Negativo comparativamente aos impactos de
um Marketing Positivo.
Sem nenhum compromisso com os conceitos da ciência do marketing, cabe a elucidação
sobre o que aqui é entendido por Marketing Negativo e Marketing Positivo. A história dos
planos de saúde (aproximadamente dos anos 70 até os nossos dias) é indicativa de que toda a
mensagem mercadológica direcionada ao público foi divulgada dentro de uma perspectiva de es-
tímulo à demanda: Venha para o plano X que ele, mais e melhor, disponibiliza o acesso a gran-
de quantidade de médicos, nas suas mais diversas especialidades, recursos de última geração,
clínicas, hospitais e laboratórios. O beneficiário (usuário) sempre foi induzido a contratar um
plano em que ele mais confiasse nesse contexto. Os profissionais das áreas comerciais das opera-
doras (corretores, representantes comerciais etc.) bem sabem que uma das mais eficientes for-
mas de comprovação da qualidade de seu produto perante o comprador é o número de pági-
nas do livro que reúne a respectiva rede credenciada. Quanto maior for este número, melhor.
Em economia, sabemos que não é a demanda que determina a oferta. Ao contrário, cada
vez mais é a oferta que determina a demanda. Isto se explica, especialmente, pelo papel crescente
que o marketing exerce sobre os padrões de consumo.
"!$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
2 . 6 . A c r e s c e n t e i mp o r t ân c i a d a
T e c n o l o g i a d a I n f o r ma ç ã o
3 . P L A N E J A M E N T O DA A S S I S T Ê N C I A À S A Ú D E
3 . 1 . P r i n c í p i o s p a r a o p l a n e j a me n t o d a
assistência à saúde
3 . 2 . Me d i c i n a b a s e a d a e m e v i d ê n c i a s
Atallah e Castro (2003) elencam uma série de razões para a realização da revisão sistemática,
entre as quais: aumentar a precisão da estimativa dos dados, explicar as diferenças e contradições
encontradas em estudos individuais, permitir a generalização dos achados científicos e, portanto,
apoiar a decisão quanto à melhor prática a ser adotada referente aos temas em estudo.
Segundo os mesmos autores, as revisões sistemáticas se aplicam às questões terapêuticas
ou de diagnóstico, que podem se tornar disponíveis eletronicamente, de maneira a permitir sua
difusão e atualização em nível universal. Existe uma base de dados com centenas de ensaios
clínicos disponibilizados na Cochrane Library. O Centro Cochrane do Brasil, ligado à UNIFESP,
tem a missão de realizar, auxiliar e divulgar revisões sistemáticas em consultas na área da saúde.
Em termos conceituais, a metologia se baseia em visão positivista da Medicina, des-
considerando dimensões importantes da prática médica relacionadas ao entendimento da
natureza social do processo saúde-doença. Também estabelece de forma crítica a possibilidade
de que a utilização da metodologia seja aplicada para atender a interesses da indústria farma-
cêutica e a de equipamentos médicos.
Algumas dificuldades na aplicação do método são sugeridas: como as evidências muitas
vezes são incompletas e contraditórias, há um relativo distanciamento das preferências dos
pacientes e da ética social, a inconveniência da aplicação de estudos feitos em grupo para casos
individuais, a impossibilidade de uso em situações de emergência e o fato da evidência poder
não ser encontrada em muitas situações ou pelo menos não ser encontrada no momento
necessário. Na prática diária do gerenciamento são inúmeras as situações em que a incorpo-
ração de novos procedimentos na prática médica tem de ser decidida antes que haja um
fundamento científico devidamente validado.
No pesar das críticas, a organização das informações abarcando as melhores evidências
existentes sobre a freqüência, método diagnóstico, tratamento, prognóstico e profilaxia
relacionados a determinado agravo, além de subsidiar a tomada de decisão, permite a
composição dos guias de conduta médica, expressando, de forma geral, uma opinião con-
sensual de especialistas de determinado assunto. Este tipo de ferramenta tem o potencial de
contribuir para uma melhor relação entre os prestadores de serviço e as operadoras na busca do
atendimento às reais necessidades dos beneficiários com menor custo.
"" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
tadores de maneira a estimular sua preocupação em manter os níveis de saúde da sua popu-
lação-alvo, reduzindo, assim, a probabilidade de adoecer e, por conseqüência, demandar
mais serviços com impacto negativo em sua remuneração.
Nesse sentido, o gerenciamento de caso e o da doença constituem-se em ferramental
desenvolvido com a finalidade de organizar formas de intervenção que possam influenciar no
risco dos expostos virem a desenvolver doenças ou antecipar as suas complicações.
O gerenciamento de caso pressupõe a identificação de casos, em geral de natureza crô-
nica, com potencial para geração de demanda por serviços e a introdução de atividade geren-
cial com vistas a adequar a aplicação de recursos para a otimização da assistência no sentido
de obter uma relação entre o custo e a qualidade mais favoráveis.
A atividade gerencial aqui especificada deve ter por finalidade diagnosticar as reais
necessidades dos pacientes e seus familiares e propor, na medida do possível, as melhores prá-
ticas para atendê-las. Nestas circunstâncias, a problemática certamente envolverá também
questões de natureza social e ambiental. Ao gerente do caso, cabe também o papel de catali-
sador da comunicação entre o paciente, seus familiares, os prestadores de serviços e os fi-
nanciadores da assistência.
Não há ainda uma avaliação de consenso sobre o seu impacto, bem como nos Estados
Unidos da América ainda existem dificuldades em ampliar a abrangência da atividade. Em
2003, a Case Management Society of America CMSA publicou um consenso sobre a ativi-
dade, no qual foram elencados diversos fatores que dificultam a ampliação dessa prática,
elencando, ainda, propostas de medidas de facilitação. Nota-se que a maior parte dos itens
refere-se às dificuldades na relação entre os médicos e os gerentes, à falta de incentivos para
todos os envolvidos e à fragmentação dos processos e dos sistemas informatizados de dados.
As considerações contidas no documento certamente também se aplicam ao nosso meio.
Além delas, aqui, a distribuição geográfica dos locais de atuação dos médicos, evidenciando uma
extrema concentração nos grandes centros e os modelos seguidos pelos aparelhos formadores
dos profissionais complicam mais ainda a implantação de atividades dessa natureza com a
abrangência adequada a um custo aceitável.
""" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
efeito da referida redução pode não se dar em curto prazo, não tem estimulado os provedores
da assistência a incorporar as ações de prevenção de forma mais abrangente.
Há, no entanto, os que advogam que um dos poucos caminhos que pode levar a um equa-
cionamento da questão do custo é o investimento na prevenção dos agravos, principalmente
em uma realidade como a nossa em que a legislação impõe uma cobertura praticamente sem
limites, sem que haja um processo adequado de avaliação para incorporação de novas tecnologias.
Estudos de intervenção mostraram que o tempo necessário para que a redução na ex-
posição aos fatores de risco tenha impacto na ocorrência dos agravos não é necessariamente o
mesmo relacionado ao efeito causal. Exemplificando, o período de exposição aos fatores de risco
para doença isquêmica do coração e a manifestação da doença foi estimado em dez anos;
porém, o efeito do controle da exposição aos fatores de risco pôde ser observado em cerca de
dois anos, ou seja, é possível que se obtenham resultados em períodos mais curtos de tempo.
Além disso, determinadas situações de agudização podem ser evitadas, de imediato, com o
controle de determinadas doenças crônicas, como é o caso das crises hipertensivas e da ceto-
acidose diabética, que, por vezes, podem demandar internações em centros de terapia inten-
siva com conseqüências indesejáveis em termos de custo e, obviamente, no comprometimento
da saúde dos beneficiários.
A seleção das doenças que merecem ser focadas deve estar baseada nos seguintes cri-
térios: magnitude em termos de morbi-mortalidade, gravidade das manifestações e com-
plicações, custo para tratamento e reabilitação, conhecimento de técnicas de intervenção e
aplicabilidade com a abrangência necessária.
Os estudos de custo-efetividade relacionados, por exemplo, às ações de prevenção de
doenças cardiovasculares envolvendo a prevenção no nível mais primário, ainda não se mostraram
conclusivos. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos da América CDC, com base
em uma revisão de estudos, estimou que um regime de exercícios regulares poderia custar US$
3,433 por ano de vida ganho e US$ 27,851 se também for considerado o custo do tempo gasto.
Também estimou que a redução de 1% a 3% da ingestão de gordura reduziria a incidência da
doença coronariana entre 32 mil a 97 mil eventos, economizando US$ 4,1 a US$12,7 bilhões em
custos médicos e perda de produtividade ao longo de dez anos.
""$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
A assistência domiciliar pode ser conceituada de forma mais geral como a prestação de
serviços de assistência à saúde, no domicílio ou na comunidade, para os indivíduos que
apresentam incapacidade funcional total ou parcial, por determinado período de tempo ou
definitivamente.
A assistência domiciliar pode ser utilizada como alternativa à internação hospitalar, em
regime de internação domiciliar ou simplesmente como forma de prestação de serviços por
profissionais de saúde no domicílio pela impossibilidade de locomoção do paciente. Existe
também a situação em que os beneficiários necessitam de cuidados de higiene e apoio para os
atos da vida diária, porém não necessariamente realizados por profissionais de saúde. Daí ficar
claro que existe um tênue limite entre as necessidades de saúde e de natureza social nesse tipo de
situação, exigindo extrema cautela no gerenciamento.
Uma outra forma a ser considerada é a alternativa da assistência domiciliar como
ferramenta para a atividade de gerenciamento de casos crônicos ou de doenças. Aqui, o tra-
balho multiprofissional está calcado em uma ação proativa de atendimento de necessidades
sentidas ou não pelos pacientes ou familiares, facilitando a sua aderência e o seguimento do
protocolo de tratamento, no sentido de evitar complicações e propiciar uma melhor qualidade
de vida. Pelo fato das ações, estrategicamente, serem desenvolvidas no domicílio, o assunto acaba
sendo abordado no âmbito da assistência domiciliar.
""& R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
Alguns critérios devem ser adotados para caracterizar os casos elegíveis, entre os
quais destacam-se: a necessidade de indicação formal do médico assistente, a concordância
da família, a possibilidade de se montar uma estrutura mínima no domicílio e, fundamen-
talmente, a indicação de um elemento cuidador que atuará na interface do paciente e seus
familiares com as operadoras e os prestadores de serviço.
O Conselho Federal de Medicina, por meio da resolução 1.668/2003, regulamentou as
condições para os prestadores de assistência domiciliar poderem atuar na atividade, e es-
tabeleceu, também, os procedimentos mínimos a serem executados pela equipe de profis-
sionais envolvidos.
Foi muito difundida a idéia de que a assistência domiciliar seria uma forma de prestação
de serviço de menor custo que traria uma melhora na qualidade da assistência que passaria a
ser prestada no meio social do paciente, facilitando a sua recuperação ou, em muitos casos,
possibilitando um tratamento mais digno. Outra vantagem seria o fato de a retirada do paciente
do ambiente hospitalar poder reduzir a incidência de complicações, mormente as relacionadas
à infecção hospitalar. Existem publicações que demonstram vantagens em termos de custo
quando se comparam os gastos de uma internação domiciliar em relação à hospitalar. Em outros
estudos, evidencia-se a redução na demanda de internações e serviços de pronto atendimento;
todavia, não dá para afirmar que este tipo de avaliação seja consensual, principalmente quan-
do se estuda o impacto no sistema em médio e longo prazos. Alguns estudos americanos de
custo-efetividade, por exemplo, relacionados a casos de assistência por período prolongado
não se mostraram favoráveis.
Nakagawa et al. (2003) avaliaram a utilização do sistema de saúde por 30 pacien-
tes com doenças crônicas 18 meses antes e 18 meses após a introdução de atendimento domi-
ciliar, obtendo redução de 89% no número de atendimentos ambulatoriais, 46% em exames
diagnósticos e 76% no custo do atendimento, concluindo que o atendimento médico domiciliar
propicia redução no número de intervenções médicas com redução no custo do tratamento.
Os autores comentam os resultados financeiros comparando com os dados de literatura,
relatando, da mesma forma acima mencionada, não haver um consenso sobre os resultados
das ações desenvolvidas no nível domiciliar. Entretanto, analisando de forma mais desagregada
"# R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
O atendimento pré-hospitalar também tem sido apontado como uma ferramenta que
pode contribuir para o gerenciamento da assistência médica. Estudos de demanda revelam que
a maior parte dos casos que buscam assistência em unidades de urgência/emergência poderia
ter sua situação resolvida no nível primário de atenção à saúde.
Independente do motivo que leva os beneficiários a optarem por esse tipo de recurso
em situações agudas, percebe-se que, entre os acometidos por doenças crônicas que evo-
luem com surtos de agudização, a freqüência destas situações é maior e o volume de recur-
sos gasto desnecessariamente também é maior.
Tendo claro que não é obrigação do usuário determinar se sua situação se caracteriza ou
não como de urgência ou emergência, percebe-se a dificuldade em se obter sucesso, lançando
mão somente de campanhas de esclarecimento sobre a melhor utilização dos serviços
disponíveis. Visto de outro modo, se ao invés de se contar somente com a conscientização do
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "#
usuário sobre a busca dos serviços lhe fosse oferecida uma alternativa eficaz de resolução da
sua situação fora do ambiente hospitalar ou de pronto-socorro, acredita-se ser possível auferir
um melhor resultado.
Um exemplo que pode ilustrar esse tipo de raciocínio é um caso de doença pulmonar
obstrutiva crônica que evolui com surtos de agudização desencadeado por um fator infeccioso.
A sintomatologia da agudização do quadro obstrutivo e mais a resultante do processo infeccioso
determinam ao usuário a busca imediata de assistência. Alguns casos, de fato, necessitarão
de recursos hospitalares, no entanto, outros menos graves podem, por meio de inalações,
aspiração, administração de broncodilatadores e antibióticos no próprio domicílio, ser re-
solvidos neste nível, sem a necessidade de internação hospitalar ou utilização da estrutura
de um pronto-socorro.
A organização do atendimento pré-hospitalar se torna mais fácil de ser executada
quando aplicada a casos selecionados que ficam previamente cadastrados em uma central de
atendimento, de forma que, quando esta é acessada pelo beneficiário, a equipe responsável
dispõe, de imediato, de uma série de informações que facilitam a decisão sobre a melhor forma
de assistência. A aplicação é mais favorável, ainda, quando contempla casos crônicos já
gerenciados nos moldes acima descritos. Existe também o entendimento de alguns que o
procedimento deve ser visto como valor a ser agregado para toda a carteira de beneficiários.
Algumas operadoras já estão se utilizando desta ferramenta e os prestadores que
oferecem o serviço estão divulgando algumas avaliações, evidenciando as vantagens, também
sob enfoque econômico, possível de serem auferidas. Porém, é necessário, ainda, um número
maior de trabalhos de avaliação para se ter uma visão mais conclusiva sobre a melhor forma
de aplicação dessa prática.
4 . 4 . G e r e n c i a me n t o d o b e n e f í c i o f a r macêutico
empregados, por exemplo, nota-se, na maior parte das vezes, que tal concessão é geren-
ciada separadamente dos programas de assistência médica.
Nos Estados Unidos da América, o gerenciamento do benefício está atrelado a um
processo integrado às demais áreas gerenciais da assistência à saúde, o que permite o desen-
volvimento de uma série de ações programáticas de interesse, como, por exemplo, geren-
ciamento da doença e programas de prevenção. Dados da Pharmaceutical Care Mana-
gement Association PCMA revelam que naquele país a atividade envolve 190 milhões de be-
neficiários, com cerca de dois bilhões de prescrições processadas ao ano, correspondendo à
movimentação de US$ 164 bilhões por 170 empresas gerenciadoras desse tipo de benefício.
A imensa maioria das farmácias atende pelo sistema.
Em nosso meio, existem poucas empresas com propostas de atuação nessa linha, com
atividades ainda incipientes em relação ao seu potencial e com modelos diferentes de atuação,
priorizando ainda o aperfeiçoamento na operacionalização e o controle dos programas, por
meio da integração entre operadoras, indústria, distribuidores e redes de farmácias e be-
neficiários, bem como propiciando a obtenção de significativos descontos para os que ofe-
recem e usufruem dos benefícios.
Uma parcela dos beneficiários de planos de saúde usufruem de algum tipo de apoio à
assistência farmacêutica, por meio de acordo de preços, desconto em folha de pagamento, reem-
bolsos, convênio com rede de farmácias e poucos se utilizam do sistema de gerenciamento do
benefício farmácia e, ainda assim, quando o fazem, é sem aproveitamento de todo o seu potencial
de integração. Mais de 70% das empresas que operam na modalidade de autogestão, por exemplo,
oferecem programas para aquisição de medicamentos com co-participação dos empregados.
Além de viabilizar a efetivação dos tratamentos de casos agudos, a assistência far-
macêutica propicia condições para facilitar a aderência dos beneficiários aos tratamentos,
contribuindo para a prevenção dos episódios de descompensação das doenças de base e suas
complicações. Dessa forma, além de usufruir de uma melhor qualidade de vida, os beneficiá-
rios demandam menos serviços de natureza curativa, com economia para o sistema.
D O C U M E N T O S T É C N I C O S D E A P O I O A O F Ó R U M D E S A Ú D E S U P L E M E N T A R DE 2 0 0 3 "#!
Se, além dessas vantagens, for agregado um modelo de gerenciamento que também
propicie ações de educação aos beneficiários e a produção de informações que possam ser
integradas àquelas acima descritas, que são fundamentais ao processo de planejamento da
assistência à saúde, como o delineamento do perfil epidemiológico da população e a definição
dos grupos de risco, seguramente pode-se considerar uma ferramenta de valor para ser inte-
grada no arsenal disponível para racionalização da aplicação de recursos em momentos
mais adequados da história das doenças.
4.5. Auto-regulação
A participação dos usuários tem sido bastante valorizada quando se trata da gestão e do
gerenciamento dos sistemas de saúde. No setor público, em especial, a participação dos usuários
nos processos de tomada de decisão e de acompanhamento das medidas implementadas pelos
gestores se dá por intermédio de instâncias, como os Conselhos de Saúde, entidades classistas
e, ainda, por meio de outros fóruns de debate.
Nas discussões que envolvem o mercado supletivo de assistência à saúde, tal participação
também tem sido tratada, ainda que não se tenha absolutamente clara a forma com que a
mesma deva se dar. Mais ainda, percebe-se que tal participação deva ser diferenciada conforme
a modalidade de gestão. É evidente, por exemplo, a diferença no caso de plano operado na
modalidade de autogestão, em que os próprios usuários assumem o risco, em relação àqueles
em que este último é assumido pelas próprias operadoras, na qualidade de representantes da(s)
patrocinadora(s). Em termos de atuação objetiva, o que se observa é que os usuários direcionam
as suas ações principalmente para a defesa de direitos de forma individual ou por meio de
instâncias que representam o consumidor, com base na legislação vigente, incluindo aí a
regulamentação do código do consumidor.
Entretanto, esta participação, não se estende com a exuberância necessária aos dife-
rentes níveis dos processos de gestão e gerenciamento dos planos, na decisão de políticas de
assistência e investimento dos recursos disponíveis, na definição de coberturas e preços, bem
como na fiscalização da cobrança realizada pelos prestadores por conta dos serviços prestados.
"#" R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
4 . 6 . 1 . Gu i a s de Aut o r i z a ç ã o e Ce n t r a i s d e Re g u l a ç ã o
Nas avaliações de desempenho dos planos de saúde, um fator tem sido objeto de
constante preocupação: o aumento na freqüência de utilização dos serviços, independente de
sua relação com outras variáveis. Dessa forma, deve-se procurar conhecer suas condicio-
nantes de modo a viabilizar a implantação de sistemática de controle que racionalize o uso
dos serviços oferecidos.
Um primeiro ponto a ser observado refere-se ao modelo no qual os planos operam, no
qual a assistência é propiciada por meio da execução de procedimentos especializados, em
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ma geral, são vistas com certa antipatia pelos usuários. Ainda que de fato possam inibir a
utilização indevida e coibir alguns tipos de fraudes, não parece ser uma forma suficiente para
interferir nas demais determinantes de aumento de custo acima referidas.
4 . 6 . 3 . Pr o moç ã o de Sa ú de e Pr e v e n ç ã o de Agr a v o s
5. CONCLUSÃO
nos complexos, obtendo-se resultados mais favoráveis em relação ao custo e para os bene-
ficiários, uma vez que a atuação prioriza a prevenção dos agravos ou, pelo menos, de suas
manifestações mais graves e complicações.
Visualizadas dessa forma, a identificação dos principais problemas e a intervenção no
processo em cada momento podem estar subsidiadas por informações obtidas a partir da
aplicação de métodos epidemiológicos observacionais ou dos ensaios da Epidemiologia Clínica,
bem como a avaliação de resultados em termos de custo e efeitos nos níveis e nas condições de
saúde dos beneficiários podem se fundamentar em modelos de estudos econômicos.
Com base nesse subsídio metodológico e de disponibilidade de informações, têm sido
sugeridas formas de atuação gerenciadas na assistência à saúde que se reproduzem nas propostas
de gerenciamento de caso, gerenciamento da doença ou do risco, assistência domiciliar,
atendimento pré-hospitalar e gerenciamento de benefício farmacêutico. A integração dos
sistemas deve ser considerada como fundamental facilitadora para o desenvolvimento das ações.
A experiência da atividade gerenciada implementada de forma mais ampla no sistema
americano, ainda não tem uma avaliação global de consenso. Observa-se, ainda, uma certa
confusão conceitual nas apresentações dos modelos propostos e os estudos de avaliação
divergem quanto aos resultados, principalmente no tocante à relação custo-efetividade. Em
relação ao nosso meio, os estudos são muito mais escassos e as atividades não são ainda de-
senvolvidas com abrangência adequada para permitir a obtenção de informações suficientes
para nortear diretrizes condizentes à situação de realidade dos beneficiários dos planos e seguros
operados no mercado supletivo de assistência à saúde.
Por outro lado, é inquestionável que a fundamentação metodológica e as ferra-
mentas elencadas neste trabalho têm o potencial de contribuir para o desenvolvimento de ações
mais planejadas no modelo assistencial de forma a contribuir no processo de racionalização de
investimento de recursos para obtenção de resultados mais favoráveis no desempenho dos
sistemas de saúde.
"$ R E G U L A Ç Ã O SAÚDE VOLUME 3
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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