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ANATOMOFISIOLOGIA

Tema:

“ESTRUTURAS DE SUPORTE DO CORPO E DO


MOVIMENTO: fundamentos básicos de artrologia”

Resumo:

A partir da compreensão da organização do corpo humano,


dirigimos o nosso estudo para a análise das estruturas de suporte
do corpo e do movimento, na perspectiva de que essas estruturas constituem um pilar fundamental
para a compreensão do movimento humano. Estudámos o esqueleto e dedicar-nos-emos nesta
sessão aos fundamentos básicos de artrologia, i. é, à investigação da forma como as peças ósseas
se relacionam para permitir o movimento e como constroem o compromisso da estabilidade e da
mobilidade imprescindíveis à harmonia que caracteriza o movimento. Iniciaremos o nosso estudo
caracterizando os tipos articulares e classificando as articulações móveis. Depois estudaremos a
cartilagem articular e os meios de união da articulação onde iremos reconhecer o papel
desempenhado por estruturas como a cápsula articular, os ligamentos, os meniscos, os debruns, o
líquido sinovial, etc. Debateremos depois as questões da estabilidade e mobilidade articular
procurando relacioná-las com as informações relativas aos meios de união articular. Fecharemos a
sessão com uma caracterização geral das principais articulações.

Organização:

1. Estruturas de suporte do corpo e do movimento

1.1. Noções elementares de artrologia

1.1.1. Tipos de articulações


1.1.1.1. Classificações das articulações móveis
1.1.2. Superfícies articulares
1.1.2.1. Cartilagem articular
1.1.2.2. Composição histoquímica da cartilagem articular
1.1.2.3. Fontes nutritivas da cartilagem articular
1.1.2.4. Propriedades da cartilagem articular
1.1.3. Meios de união da articulação
1.1.3.1. Cápsula articular
1.1.3.2. Ligamentos
1.1.3.3. Membrana sinovial
1.1.3.4. Líquido sinovial
1.1.3.5. Meniscos e bordaletes
1.1.4. Inervação da articulação
1.1.5. Estabilidade Vs Mobilidade articular
1.1.5.1. Factores determinantes da estabilidade articular
1.2. Caracterização geral das principais articulações
1.2.1. Principais articulações da coluna vertebral
1.2.2. Principais articulações do membro superior
1.2.3. Principais articulações do membro inferior

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1.1. Noções elementares de artrologia

As peças ósseas asseguram a parte mais relevante do suporte do corpo. Porém, o


movimento humano exige o deslocamento das peças ósseas que, comportando-se como
alavancas, ampliam o efeito da contracção muscular.

As articulações, definidas como a relação entre duas ou mais peças ósseas, asseguram
as condições fundamentais para a estabilidade e mobilidade das peças ósseas. A forma
dos topos ósseos e os meios de união, determinam o grau de liberdade de cada
articulação e a sua consequente mobilidade.

1.1.1. Tipos de articulações

Os ossos estão unidos através de um conjunto de tecidos moles (ligamentos, tendões e


cápsula). A zona de contacto entre os ossos designa-se de articulação. Embora a sua
estrutura básica seja comum, as articulações apresentam um grau de mobilidade diferente,
sendo por isso classificadas de forma diferente:

- Articulações imóveis: muito pouco ou nenhum tipo de movimento


- Articulações semi-móveis: movimento reduzido do tipo deslizamento
- Articulações móveis: movimentos de amplitude considerável

Do ponto de vista anatómico, cada articulação é composta por:

- Peças ósseas
- Partes moles entrepostas entre as peças ósseas
- Partes moles envolventes

Nas articulações imóveis a união entre os ossos faz-se através de bordos e não de
superfícies ósseas. Membranas fibrosas ou cartilagíneas são os componentes articulares
deste tipo de articulação.

Nas articulações semi-móveis as superfícies ósseas encontram-se revestidas por uma fina
cartilagem hialina sobre a qual encontramos tecido fibro-cartilageneo (articulações sacro-
ilíacas) ou então fibrocartilagem que se liga fortemente à superfície óssea (articulação entre
os corpos vertebrais das vértebras).

Designam-se:
- Sínfises, para o primeiro caso
- Anfiartroses, para o segundo

Em comum têm a particularidade dos topos ósseos se relacionarem através de superfícies


planas. Exemplo: Lâminas epifisárias, sínfise manúbrio esternal, sínfise púbica, sínfise
xifo-esternal. Estas articulações possuem um importante reforço ligamentar entre as peças
ósseas.

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Nas articulações móveis ou diartroses observamos a existência:

- Cavidade articular que separa os topos ósseos


- Líquido sinovial que actuam como factor de amortecimento e de
lubrificação

Constituem a articulação móvel os seguintes elementos estruturais:

- Superfícies articulares
- Cartilagem articular
- Cápsula
- Ligamentos
- Membrana e líquido sinovial

Fig. 1: Constituintes da articulação móvel

Em algumas articulações móveis encontramos, ainda, estruturas fibro-cartilagineas


que melhoram a concordância entre as superfícies articulares:

- Meniscos
- Debruns ou bordaletes

Fig. 2: Meniscos e bordaletes

Embora sem fazer parte das articulações, mas em estreita relação com elas,
constatamos a existência de bolsas serosas que são sacos fibrosos revestidos
internamente com uma membrana do tipo sinovial.

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Fig. 72: Bolsas serosas

Estas estruturas são encontradas em zonas justa-articulares, em áreas de proeminências


ósseas que podem provocar atrito com as estruturas envolventes, p.e., locais de passagem
de tendões e ligamentos. Quando esta bolsa se inflama, situação muito característica nas
práticas desportivas que exigem movimentos balísticos, resulta o aparecimento de uma
bursite.

Integradas nas estruturas articulares reconhecemos a existência de terminações


nocioceptivas (receptores da dor) que são estimulados nas situações de lesão.

1.1.1.1. Classificação das articulações móveis

A forma dos topos ósseos determina a amplitude dos movimentos destas articulações,
permitindo a sua classificação em:

- Articulações em Roldana ou trocleartrose


- Articulações em Eixo ou Trocóide
- Articulação em Elipse ou Condilartrose
- Articulação em Sela ou Epifiartrose
- Articulação em Esfera ou Enartrose
- Articulação plana com deslizamento ou Artrodia

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Fig. 3: Articulações móveis

Os movimentos articulares das diartroses são, basicamente, de dois tipos:

- Deslizamentos
- Movimentos Angulares

Fig. 4: Referência aos diferentes tipos de articulações moveis no corpo humano

Nos deslizamentos os ossos deslocam-se num só plano. Nos movimentos angulares há


deslocamento num ou mais planos e segundo um ou mais eixos. Observemos o quadro para
situar os movimentos angulares.

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Quadro I
Caracterização dos movimentos articulares
Tipos de Plano do Orientação do Eixo
Movimentos Movimento do Movimento Nomenclatura
Articulares
Sagital Transversal Flexão – Extensão

Angulares Frontal Antero-Posterior Adução - Abdução

Horizontal Vertical Rotação Interna -


Rotação Externa
Sagital Protracção –
Retracção
-
Deslize Frontal Elevação –
Depressão

Horizontal Didução

Em algumas articulações é permitido que o movimento se realize segundo vários planos e


eixos determinando o movimento descrito como Circundução.

Em algumas articulações reconhecemos a existência de movimentos especiais que,


salientamos, através do quadro seguinte:

Quadro II - Movimentos Articulares Especiais


Articulações Plano do Orientação do Eixo Nomenclatura
Movimento do Movimento
Articulação da Frontal Antero-Posterior Flexão lateral
Coluna Vertebral
Horizontal Vertical Rotação
Articulação do
Cotovelo e Horizontal Oblíquo Pronação /
Antebraço Supinação
Tornozelo Sagital Transversal Flexão Plantar
Flexão Dorsal
Articulações do Pé Frontal Oblíquo Inversão / Eversão

1.1.2. Superfícies articulares

1.1.2.1. Cartilagem articular

Nas articulações móveis os topos ósseos relacionam-se através das superfícies


articulares. Para evitar o atrito das superfícies em movimento, elas estão revestidas
por cartilagem articular do tipo hialino, que é lisa, deslizante e esbranquiçada. A sua
espessura varia de articulação para articulação, sendo maior nas articulações de
carga (membros inferiores) e, para uma mesma articulação, mais espessa nas zonas de
compressão (variação de 1 a 7 mm).
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A cartilagem tem um comportamento dinâmico, deformando-se, e absorvendo energia que


liberta após ter sido removida a carga. Com estas características a cartilagem articular
permite:
- Revestimento protector do osso ao efeito abrasivo do movimento
- Função amortecedora em que transmite e distribui as forças compressivas
ao osso sub-condral
- Melhora a congruência articular reduzindo o esforço para manter a relação
entre as peças ósseas
- Proporciona uma superfície lubrificante e lisa que evita a fricção e facilita o
movimento

1.1.2.2. Composição Histoquímica da Cartilagem Articular

Substância Fundamental 95%


Condrócitos 5%

Componentes Sólidos 20 a 30% da Substância


Matriz
Fundamental
- Colagéneo
- Proteoglicanos e glicosaminoglicanos
- Proteínas não colagénicas (glicoproteínas)

1.1.2.3. Fontes Nutritivas

A cartilagem articular é desprovida de vasos sanguíneos, linfáticos e de nervos, sendo


o líquido sinovial a sua principal fonte de nutrição. No jovem, os nutrientes podem
chegar à cartilagem através de capilares do osso subjacente, recebendo também
nutrientes da micro-circulação sinovial.

Fig. 5: Exsudação e imbibição da cartilagem articular

A nutrição da cartilagem articular resulta dela se comportar como uma esponja em que,
quando há compressão sai água (exsuda) e quando se descomprime entra água (imbibição).
Este ciclo de exsudação (saída de líquido) e imbibição (entrada de líquido) justifica a
importância do movimento na manutenção da saúde articular.

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1.1.3. Meios de união da articulação

Trata-se dos elementos que asseguram a estabilidade da articulação.

1.3.3.1. Cápsula articular

Rica em colagéneo e fibras elásticas, que lhe confere grande resistência e elasticidade.

Funções: Barreira de protecção


Estabilização da articulação

Passiva, através dos ligamentos


Activa, através dos tendões e ligamentos circundantes

Fig. 6: Cápsula articular

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1.3.3.2. Ligamentos

Ricos em colagéneo com elastina. Nos ligamentos muito elásticos predomina a elastina.
Devido ao seu reduzido “aport” sanguíneo e pobre conteúdo celular, a sua recuperação, em
caso de lesão, é lenta.

Quanto à sua localização no complexo articular os ligamentos podem distinguir-se em:

- Ligamentos Articulares, que unem ossos entre si (capsulares e intra-


capsulares)

- À distância, que unem ossos entre si mas que se encontram fora da


articulação

Os ligamentos apresentam propriedades que se ajustam bem às suas funções, sejam:

- Resistentes (mais resistentes à tracção do que à torção)

- Flexíveis e maleáveis

- Pouco extensíveis

- Pouco elásticos (sendo pouco elásticos, o seu período de recuperação é


prolongado e se forem excessivamente estendidos, podem não
readquirir o seu comprimento normal)

- Se sujeitos a longos períodos de stress tornam-se “frouxos”.

Reconhecemos as seguintes funções aos ligamentos:

- Actuar como factor limitante do movimento articular

- Actuar como factor bloqueante dos deslizamentos articulares

- Funcionar como elemento de protecção da cápsula articular

1.1.3.2. Membrana sinovial

Trata-se uma membrana de tecido epitelial que é muito delgada, macia, flexível e móvel.
Reveste interiormente a cápsula. Pode apresentar prolongamentos:

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Fig. 7: Membrana sinovial e ligamentos articulares

- Internos ou intra-articulares
- Externos ou extra-articulares

Reconhecem-se as seguintes funções à membrana sinovial:

- Produção de líquido sinovial


- Papel de barreira protectora contra agentes estranhos e nocivos
- Regulação da quantidade de líquido sinovial através da secreção /
reabsorção. A membrana possui muitos vasos sanguíneos e linfáticos
(drenadores).

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1.1.3.3. Líquido sinovial

Paracelsus (1493-1541) chamou-lhe sinóvia, por ter uma consistência próxima do


fluído viscoso e gelatinoso da clara do ovo (sinovia: syn (grego) + ovum (Latim) =
como substância do ovo). A sua viscosidade tende a diminuir com a idade e é,
naturalmente, devida aos seus elementos constituintes.

À medida que a temperatura aumenta a viscosidade diminui, fazendo com que, com o frio,
se observe a tendência para a rigidez articular. À medida que a velocidade dos movimentos
aumenta a viscosidade também diminui, o que explica que a fricção diminua quando há
uma aceleração do movimento.

Reconhecem-se as seguintes funções ao líquido sinovial:

- Nutrição da cartilagem
- Lubrificação
- Manutenção da coesão das superfícies articulares, através do efeito de
vácuo na cavidade articular

O Movimento é o estímulo para a produção de líquido sinovial.

1.1.3.4. Meniscos e bordaletes (debruns)

Encontramo-los nas articulações em que não existe uma perfeita concordância entre as
superfícies articulares. Melhoram, assim, a concordância articular.

1.1.3.4.1. Meniscos

Trata-se de estruturas semelhantes a um disco e podem ser:

- Completas
- Incompletas.

No primeiro caso, o disco separa a cavidade articular em duas, aumentando a mobilidade


articular ao permitir tipos de movimentos diferentes em cada uma das sub-cavidades.

No segundo, o menisco melhora a relação entre as duas superfícies ósseas numa pequena
extensão.
Encontramos meniscos nas seguintes articulações:

- Tempero-maxilar
- Esterno-clavicular
- Femuro-tibial
- Acrómio-clavicular (inconstante)

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1.1.3.4.2. Debruns / Bordaletes

Semelhantes a anéis e com perfil em cunha, aderem ao centro das cavidades


articulares e à cápsula. A sua presença nas articulações é determinante para aumentar a
extensão e a superfície de uma cavidade articular.

Nas articulações em que existe uma grande desproporcionalidade entre a dimensão da


cavidade articular e a superfície da cabeça da peça óssea, estes elementos articulares são
fundamentais pois melhoram:

- A adaptação das superfícies articulares


- O auxílio à contenção dos movimentos de maior amplitude
- O aumenta da coesão da articulação
- A diminuição dos riscos de luxação

Tal como os meniscos, os debruns são fibrocartilagem e são vascularizados, embora, não
inervados.

Os principais debruns são observados nas articulações escapulo-umeral e coxo-femural.

1.1.4. Inervação da articulação

Na articulação encontramos receptores nervosos de 4 tipos, que se diferenciam pela


sua morfologia, localização, características comportamentais e informações que
fornecem.

Estes receptores permitem informar o Sistema Nervoso Central da dor, da posição e


do movimento das articulações.

Os receptores nervosos articulares classificam-se em dois agrupamentos:

- Proprioceptivos: recolhem informações sobre a posição e o movimento e


localizam-se na cápsula e nos ligamentos.

Exemplo: Receptores de Ruffini, Paccini e Terminações de Golgi

- Nocioceptivos: recolhem informações sobre a dor e localizam-se na


cápsula, ligamentos e membrana sinovial.

Exemplo: Terminações Nervosas Livres

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Quadro III
Características dos receptores articulares

Receptores de Receptores de Terminações de Terminações


Ruffini Paccini Golgi Nervosas Livres
Ovóide com Terminações Corpúsculos
Morfologia ramificações em simples com uma fusiformes com Ramos finos de
cacho envoltas por cápsula espessa e cápsula delgada fibras
uma cápsula fina laminada
Cápsula
Ligamentos
Localização Cápsula superficial Cápsula profunda Ligamentos Almofadas de
gordura
Vasos sanguíneos
Baixo limiar Baixo limiar Alto limiar Alto limiar
Características Adaptação lenta Adaptação rápida Adaptação muito Inadaptáveis
lenta
Pressão Aceleração do Posição da
Informações Direcção dos movimento articulação Dor
movimentos

Estes receptores são os mais numerosos.

Os receptores de Ruffini têm elevada sensibilidade (baixo limiar de excitação) e dão


referências sobre o movimento:

- Grau
- Direcção
- Velocidade

Notamos que estes receptores são capazes de receber informações quando a articulação está
estática e dinâmica, sendo capazes de perceber variações angulares inferiores a 1 grau.

Os receptores de Paccini estão especializados em


perceber mudanças rápidas do movimento dando,
por isso, informações sobre a aceleração do
movimento.

As terminações de Golgi localizam-se


predominantemente nos tendões e informam sobre
a posição da articulação, sendo particularmente
sensíveis à tracção longitudinal, se esta for
mantida durante tempo suficiente.

As terminações nervosas livres são estimuladas


Fig. 8: Receptores articulares em situações de deformação mecânica (entorse ou
luxação) ou irritação química. Em caso de edema
articular, as terminações nervosas são estimuladas
pela acção mecânica da maior quantidade de líquido articular. Os mediadores inflamatórios

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libertados pelos tecidos lesados também são capazes de estimular as terminações nervosas
livres.

1.1.5. Estabilidade / Mobilidade articular

Para o monitor de actividades físicas é muito importante ter conhecimentos anotomo-


fisiológicos sobre a articulação. No entanto, talvez mais relevante seja a percepção das
questões relativas à mobilidade e estabilidade articular que, na prática, diferenciam aqueles
que possuem grande disponibilidade articular para a realização dos gestos.

Face às informações anteriores, concluímos que o movimento melhora todas as funções


articulares e, portanto, o monitor, ao prescrever o exercício aos seus alunos / clientes está a
contribuir para elevar a sua saúde articular. Porém, o que é verdadeiramente problemático
no movimento articular é que as articulações devem satisfazer, simultaneamente, a dois
objectivos aparentemente contraditórios: ESTABILIDADE e MOBILIDADE
ARTICULAR.

O trabalho do monitor deve assegurar que os seus alunos / clientes elevam a sua
estabilidade e mobilidade articular. Importa, pois, ganhar sensibilidade para estas questões.

A estabilidade articular deve ser entendida como a resistência oferecida pelas estruturas
articulares e peri-articulares à ocorrência de movimentos anormais e, no limite, à ocorrência
de entorses ou luxações.

Os movimentos de distracção (desvio) das superfícies articulares são o resultado da


diminuição das forças compressivas que se exercem sobre a articulação e que resultam de:
- Tensões ligamentares
- Força da gravidade
- Tensão muscular

As forças de distracção surgem associadas ao movimento articular de grande velocidade,


choques das peças ósseas e transporte de cargas. O equilíbrio entre as forças compressivas e
as de distracção deve assegurar uma adequada estabilização que, naturalmente, varia de
articulação para articulação.

1.1.5.1. Factores determinantes da estabilidade articular

Consideram-se 3 grupos de factores estabilizadores:

- Forma das superfícies articulares (estabilidade intrínseca ou inerente)


- Elementos de contenção passiva (meios de união cápsulo-ligamentares)
- Elementos de contenção activa (tensão dos músculos que envolvem a
articulação)

Acessoriamente, mas com uma importância desprezível a este nível, consideramos ainda:
- Pressão negativa intrarticular
- Tensão superficial exercida entre as superfícies articulares pelo líquido
sinovial

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1.1.5.1.1. Morfologia das superfícies articulares

A forma das superfícies articulares, geralmente do tipo côncavo-convexo, constitui um


factor de estabilidade articular. Na maior parte dos casos, a congruência entre as superfícies
articulares não é suficiente como factor de estabilização. A articulação coxo-femural é,
talvez, a única suficientemente congruente para se falar de uma verdadeira estabilidade
inerente.

As formas das superfícies articulares determinam que as articulações possuam uma posição
em que existe a máxima estabilidade, em parte, resultante, também, do efeito de
“aparafusamento” criado pelos meios de união.

1.1.5.1.2. Elementos de contenção passiva

A cápsula e os ligamentos são muito importantes na estabilização articular. A


resistência dos ligamentos assegura que se encontrem tensos durante grande parte da
excursão articular e determinam a estabilização das superfícies articulares.

Como acontece com os ligamentos cruzados do joelho, os ligamentos podem, também,


assumir um importante papel na definição das características do movimento, pois ajudam a
determinar o respectivo eixo articular.

A direcção oblíqua dos ligamentos favorece o aumento da sua tensão à medida que o
movimento articular atinge o seu limite, contribuindo, assim, para aumentar a compressão
articular e a capacidade da articulação para os maiores esforços de distracção que ocorrem
nessas fases do movimento.

1.1.5.1.3. Elementos de contenção activa

Os elementos de contenção activa são o factor que assegura a versatilidade do


processo de estabilização articular. Cápsula e ligamentos, sendo estruturas passivas,
têm uma limitada capacidade de adequação às condições em que se realizam os
movimentos (velocidade, ângulo e carga) e, face às características das suas estruturas,
não podem ser regulados.

Cabe ao complexo músculo tendinoso assegurar a regulação dos níveis tensionais que dão
versatilidade à articulação. Desde logo, porque os tendões possuem uma constituição
idêntica aos ligamentos e permitem elevada resistência à tracção. Depois, porque a
contracção muscular determina estados tensionais diferentes nos tendões o que permite um
ajuste constante do seu comportamento elástico e que faz com que este factor seja o mais
decisivo na capacidade de amortecer os impactos articulares e de os restituir nas fases
propulsivas do movimento.
Em algumas situações, o complexo musculo tendinoso substitui o papel desempenhado
pelos ligamentos nas regiões capsulares em que há grande fragilidade de elementos de
contenção passiva. Observa-se esta situação nas articulações do ombro, em que os
músculos supraespinhoso, infraespinhoso e pequeno redondo compensam a fragilidade
ligamentar da face posterior da articulação.

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No joelho, o tendão do quadricípete crural actua como um verdadeiro ligamento anterior.

A modelação que o Sistema Nervoso Central é capaz de fazer nos níveis de contracção
tónica dos músculos, determina um aumento da rigidez articular ou o aumento da sua
laxidão, constituindo, por isso, como um elemento determinante no binómio estabilidade-
mobilidade. O mesmo acontece com os reflexos posturais que também desencadeiam a
modulação da contracção muscular e a respectiva contenção articular.

1.2. Caracterização geral das principais articulações

Recapitulemos, no quadro seguinte, a classificação das articulações móveis, relacionando-


as com a orientação do eixo dos movimentos que permitem e os planos dos respectivos
movimentos:
Quadro IV
Classificação funcional das articulações

Classificação Classificação Orientação do Plano do Tipos de


Funcional Morfológica Eixo Articular Movimento Movimentos
Articulares
UNIAXIAIS Trocóide ou em
Movimentos Eixo Longitudinal Horizontal A
segundo um Trocleartrose N
único eixo ou em Roldana Transversal Sagital G
Condilartrose U
BIAXIAIS ou em Elipse Transversal Sagital L
Movimentos Epifiartrose ou A
segundo dois em Sela Antero / Frontal R
eixos Posterior E
TRIAXIAIS Transversal Sagital S
Movimentos Enatrose ou em Antero / Frontal
segundo três Esfera Posterior Horizontal
eixos Longitudinal
Artrodias ou - - DESLIZE
Planas

Assinalamos que a denominação das articulações decorre directamente das peças que estão
relacionadas. Se o formando pensar dessa forma, verá como é simples denominar as
articulações.

Para reflectir sobre a sua classificação / tipo, o formando deve procurar auto analisar a
mobilidade dessa articulação no seu próprio corpo. Será uma ajuda preciosa. Tratando-se de
articulações móveis, apresentamos a sua categoria. A partir dessa referência e consultando
o quadro da classificação funcional das articulações, o formando compreenderá facilmente
a sua categoria.

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1.2.1. PRINCIPAIS ARTICULAÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL

Entre as vértebras

1. Articulação Inter-somática (entre os corpos vertebrais e os discos inter-vertebrais)


Tipo: Semimóvel
Movimento: pequenos deslizamentos

2. Articulações Inter-apofisárias (entre as apófises articulares)


Tipo: Móvel.
Categoria: Artrodia
Movimentos: Deslizamentos

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Entre a cabeça e a coluna

1. Articulação occipito-atloideia (entre os dois côndilos da base do occipital e pratos


articulares da atlas)
Tipo: Móvel
Categoria: Bicondilartrose
Movimentos: Flexão / Extensão e Flexão Lateral

2. Articulação axo-atloideia (entre a Atlas onde se destaca o papel do ligamento transverso


e a apófise odontóide da Áxis)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocóide
Movimentos: Rotação

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Entre o tórax e a coluna

1. Articulações Costovertebrais (entre as costelas e as vértebras dorsais: corpos


(costovertebrais (1)) e apófise transversas (costo-
transversárias (2))
Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimentos: Deslizamento

1
2

Na região do tórax

1. Articulações Costo-condrais
Tipo: Imóvel

2.. Articulação Condro-esternais


Tipo: Móvel
Categoria: Artródias
Movimentos: Deslizamentos

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1.2.2. PRINCIPAIS ARTICULAÇÕES DO MEMBRO SUPERIOR

1. Articulação Omocostal (articulação falsa entre o omoplata e a face posterior da grelha


costal. Trata-se duma articulação falsa pois a união que existe
não apresenta superfícies articulares, resultando da ligação
entre os músculos sub-escapular e grande dentado que se
encontram aderentes, respectivamente, à face anterior da
omoplata e face posterior da grelha costal. Desta ligação
resulta uma grande mobilidade da grelha costal e,
consequentemente à cintura escapular e ao membro superior).

Tipo: articulação falsa com grande mobilidade

2. Articulação Esterno-clavicular (entre a clavicula e o esterno)


Tipo: Móvel
Categoria: Epifiartrose ou em Sela
Movimentos: Movimentos de pequena amplitude

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3. Articulação Acrómio-clavicular (entre o acrómio da omoplata e a clavicula)


Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimentos: Deslizamento

4. Articulação Escápulo-umeral (entre a cavidade glenoideia da omoplata e a cabeça do


úmero. Assinalamos a existência de um bordalete, ou
debrum glenoideu, que procura equilibrar a reduzida
congruência articular)
Tipo: Móvel
Categoria: Enartrose
Movimentos: Articulação de maior mobilidade do corpo humano. Permite
movimentos de circundução.

5. Articulação Úmero-cubital (entre a tróclea umeral e a grande cavidade sigmóide do


cúbito)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocleartrose
Movimentos. Flexão / Extensão

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6. Articulação úmero radial (entre o côndilo umeral e a cavidade glenóide do rádio)


Tipo: Móvel
Categoria: Condilartrose
Movimentos: Flexão / Extensão.

7. Articulação rádio-cubital superior (entre o controlo da cabeça do rádio e a pequena


cavidade sigmóide do cúbito. O ligamento anular, que está interiormente revestido por
cartilagem, o rebordo da cabeça do rádio, prendendo-se de ambos os bordos da pequena
cavidade sigmóide do cúbito)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocóide ou em Eixo
Movimentos: Prono / supinação

As 3 articulações a que nos referimos encontram-se na mesma cápsula articular falando-se,


por isso, num complexo articular do cotovelo.

8. Articulação rádio-cubital inferior (entre a cavidade sigmóide do rádio e a cabeça do


cúbito)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocóide ou em Eixo
Movimentos: Prono / Supinação

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9. Articulação Rádio-cárpica (entre o côndilo cárpico, constituído pelos ossos do procarpo,


excepto o pisiforme, e a cavidade inferior do rádio e o
ligamento triangular que reveste a cabeça do cúbito)
Tipo: Móvel
Categoria: Condilartrose composta
Movimentos: Flexão / Extensão, Adução / Abdução

10. Articulação Médio-cárpica (entre os ossos do carpo)


Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimentos: Pequenos deslizamentos

11. Articulações Carpometacárpicas (entre a epífise proximal dos metacarpos e a segunda


fila do carpo):
1º Metacarpo com o trapézio
2º Metacarpo com o trapézio e trapezóide
3º Metacarpo com o osso grande
4º Metacarpo com o osso grande e o unciforme
5º Metacarpo com o unciforme
Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Excepto articulação do 1º metacarpo (primo-carpo-metacárpica) que é uma
articulação em sela que permite movimentos de flexão/extensão e adução / abdução)
Movimentos: Deslizamentos

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ANATOMOFISIOLOGIA

12. Articulação Inter-metacárpica (entre as epífise superiores da epífise distal dos


metacarpos. Trata-se de articulações laterais)
Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimentos. Deslizamentos

13. Articulação Metacarpo-falângica (entre a a epífise distal dos metacarpos e a epífise


proximal da falange)
Tipo: Móvel
Categoria: Condilartrose
Movimentos: Flexão / extensão e lateralidade dos dedos

14. Articulações interfalângicas (entre as falanges)


Tipo: Móvel
Categoria: Trocleartrose
Movimentos: Flexão / Extensão

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ANATOMOFISIOLOGIA

1.2.3. MEMBRO INFERIOR

1. Articulação Sacroilíacas (entre a parte lateral do sacro e os ilíacos)


Tipo: Semimóvel
Movimento: muito reduzido

2. Articulação Coxo-femural (entre a cavidade cotilóide ou acetábulo (mais concretamente


a relação é com a sua parte periférica - contorno
acetabular), e a cabeça esférica do fémur. A zona central
da cavidade cotilóideia - transfundo acetabular –
apresenta uma textura bem diferente do contorno
acetabular, apresentando uma textura e sendo
preenchida por uma massa adiposa que almofada o
ligamento redondo)
Tipo: Móvel
Categoria: Enartrose
Movimento: Circundução

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ANATOMOFISIOLOGIA

3. Articulação femuro-tibial (entre os côndilos femurais e as cavidades glenóides da tíbia).


A discordância entre a curvatura dos côndilos femurais e as
cavidades glenóides é compensada a presença de meniscos à
periferia da cavidade e que a moldam à curvatura do
respectivo côndilo femural. O menisco externo tem a forma
de um “O” e o interno de um “C”. Nesta articulação importa
destacar o papel do ligamento, um ligamento intra-articular
que confere grande estabilidade à articulação)
Tipo: Móvel
Categoria: Bi-condilo-menisco-artrose
Movimento: Flexão / Extensão

4. Articulação Femuro-rotuliana (entre o fémur e a rótula - pequeno osso incluso no tendão


terminal do quadricípete crural)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocleartrose
Função: aumentar a eficácia mecânica do músculo quadricípete crural

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ANATOMOFISIOLOGIA

5. Articulação Tíbio-peroneal superior


Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimento: Deslizamentos

6. Articulção Tíbio-peroneal inferior


Tipo: Móvel
Categoria: Artrodia
Movimento: Deslizamentos

7. Articulação do Tornozelo (entre as epífises inferiores da tibia e do perónio que formam


uma cavidade articular em pinça e a face superior e lateral
do astrágalo)
Tipo: Móvel
Categoria: Trocleartrose
Movimentos: Dorsiflexão e plantarflexão

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ANATOMOFISIOLOGIA

8. Articulação Astrágalo calcaneana, sub-astragaliana ou sub-talar (entre a parte inferior do


astrágalo e a parte superior do calcâneo)
Tipo: Móvel
Categoria: Condilartrose rudimentar
Movimentos: Deslocamentos rudimentares entre os dois ossos

9. Articulação de Chopart (estabelece a união entre o protarso e o mesotarso. Integra duas


articulações: interna - astrágalo-calcâneo-escafoi-
deia e uma externa calcânaeo-cuboideia)

Articulação Astrágalo-calcâneo-escafoideia
Tipo: Móvel
Categoria: Enartrose

Articulação Calcânaeo-cuboideia
Tipo: Móvel
Categoria: Epifiartrose ou em Sela

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ANATOMOFISIOLOGIA

10. Articulação de Lisfranc (estabelece a relação entre o tarso e o metatarso reunindo as


cinco articulações tarso-metatársicas)
Tipo: Móvel
Categoria: Artrodias

11. Articulações Metatarso-falângicas (entre a epífise anterior dos metatarsos e a primeira


falange do dedo respectivo)
Tipo: Móvel
Categoria: Condilartrose
Movimentos: Flexão / Extensão, Movimentos laterais

12. Articulações Inter-falângicas


Tipo: Móvel
Categoria: Trocleartrose
Movimentos: Flexão / Extensão

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