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Tomando-se como ponto de partida este simbolismo, há desde então uma relação
direta do pedagogo com a educação, em defesa da educação, a partir do cuidado que ele tem
em fazer desviar as crianças e os jovens do caminho da perdição, que levaria crianças e jovens
a se consumirem em seus prazeres naquela e nesta época. Sua incumbência de mensageiro
não seria simplesmente levar as crianças e jovens até a escola, mas evitar que elas tomassem
um caminho do prazer e negassem o saber ao qual elas deveriam ser destinadas. Não era,
portanto, um simples pajem sem poder de decisão, mas alguém que orientaria quanto ao
caminho a ser seguido na ausência dos pais durante um determinado percurso da vida dos
imberbes. Entre o lar e a escola, o pedagogo tinha a função importante de limitar as ações das
crianças e jovens conduzindo-as para um determinado o fim, o da educação, que era
principalmente teórica, consistindo sua prática um dimensionamento daquela sobre o corpo
com os exercícios de ginástica e sobre as artes com as métricas musicais e poéticas.
De tanto levar crianças e jovens até a escola cuidando para que ela não se desvie do
seu trajeto, a educação passou a ser identificada com o ponto de vista pedagógico, com a
lógica do cuidado e do poder sobre o corpo e da mente das crianças e jovens como um
orientador, de modo a garantir a educação não mais no trajeto da escola, mas dentro da
própria escola exercendo as funções de coordenadores e diretores criadas especificamente
para aquela finalidade apontada por Sócrates. Funções que fundam a estrutura de poder
escolar tal como a conhecemos atualmente na medida em que o poder conferido aos
pedagogos antigamente e atualmente ainda pelos pais se institucionaliza nas instituições
escolares, ou mesmo, na medida em que as escolas se tornam instituições. Isto é, adquirem a
tarefa de instituírem o saber na sociedade no sentido de garantir de todos os modos possíveis
que as crianças e jovens aprendam.
O que muitos chamam de educação hoje em dia se refere a esta estrutura de poder
estabelecida pedagogicamente na medida em que o saber é instituído a partir do poder do
pedagogo de limitar o prazer das crianças e jovens desde a época de Sócrates e, podemos
dizer, desde o próprio Sócrates como o pedagogo por excelência, aquele que sabe que nada
sabe, isto é, que não detém o saber, mas tem o poder, inclusive divino conferido pelo oráculo,
de conduzir todos ao saber, de si próprios, primeiramente, mas também de tudo o mais que se
queira conhecer. Neste sentido, assim como o pedagogo é aquele que conduz as crianças e
jovens ao saber durante um determinado trajeto, Sócrates também conduz aqueles que
querem aprender a conhecer a si próprios e por si próprios, mas não é por meio das mãos que
ele os conduz senão pela razão. Modo pelo qual a ética do cuidado com o corpo e a mente
exercida pelo pedagogo, se torna uma maiêutica, a arte de parir ideias de Sócrates, a qual
Platão, por sua vez, interioriza, subjetiva, torna consciente, fazendo da maiêutica socrática um
diálogo, isto é, uma conversa consigo mesmo, e não mais com o outro como em Sócrates,
tornando a pedagogia propriamente uma lógica, a das Ideias, cujo telos a ser atingido por
todos que quiserem se educar seria a limitação de todo o prazer, dos sentidos e do corpo, que
pudesse desviar as crianças e jovens do saber.