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Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas

Termodinâmica Aplicada

2ª Lei da Termodinâmica
Prof. Victor Wagner Freire de Azevedo

victorwfreire@ufersa.edu.br

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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Processo espontâneo

2
2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Processo espontâneo

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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Processo espontâneo
– Nos casos ilustrados, a situação inicial do sistema
pode ser restaurada, mas não por um processo
espontâneo;
– Dispositivos auxiliares são necessários para que o
estado inicial seja atingido:
• O bloco poderia ser aquecido novamente;
• A massa poderia ser levantada ao estado inicial.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Processo espontâneo
– Para casos simples de termodinâmica, por
intuição, deduzimos quais processos espontâneos
estão ocorrendo e em quais direções;
– Em casos mais complexos, onde não há muito
conhecimento sobre o comportamento do
sistema, é utilizada a 2ª Lei da Termodinâmica
como referência.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Desenvolvendo trabalho
– Voltando ao primeiro caso apresentado:
Calor está sendo desperdiçado.

Qual a máxima quantidade de energia convertida em


trabalho em um sistema?
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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Máquina a vapor
– A primeira máquina a vapor foi inventada por
Papin (1691),que utilizou vapor para impulsionar
um mecanismo de êmbolo com cilindro;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Introdução: Máquina a vapor
– A primeira aplicação industrial foi feita Thomas Newcomen
(1712), utilizando a máquina para retirar água de poços de
minas de carvão;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Revisão: Motores e Refrigeradores

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2ª Lei da Termodinâmica
• Enunciados da 2ª Lei: Clausius
– “É impossível construir um dispositivo que opere,
segundo um ciclo, e que não produza outros
efeitos, além da transferência de calor de um
corpo frio para um corpo quente”.
qH

QH

QL

qL 10
2ª Lei da Termodinâmica
• Enunciados da 2ª Lei: Kelvin-Planck
– “É impossível construir um dispositivo que opere
num ciclo termodinâmico e não produza outros
efeitos além do levantamento de um peso e troca
de calor com um único reservatório térmico”.
qH

QH

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W
2ª Lei da Termodinâmica
• Enunciados da 2ª Lei: Kelvin-Planck
– Escrevendo de forma analítica o enunciado. Considerando
um sistema descrevendo um ciclo, de acordo com o
balanço de energia temos:
 Qciclo   Wciclo
– De acordo com o enunciado, enquanto descrevendo um
ciclo trocando calor com um único reservatório, o sistema
não poderá realizar somente trabalho sobre a vizinhança.
Dessa forma, o trabalho não pode ser positivo. Assim,
podemos escrever de forma analítica esse enunciado
como:
 Wciclo  0 Considerando um único
reservatório 12
2ª Lei da Termodinâmica
• Equivalência dos enunciados:
Quando se nega o enunciado de Clausius...

qH
QL  QH  Q 'L  W
QH QH

W
...nega-se o
QL QL' enunciado de Planck
qL
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2ª Lei da Termodinâmica
• Equivalência dos enunciados:

qH Se isso fosse possível, seria


também possível utilizar a
QH QH
energia dos oceanos para
acionar os navios
W
QL QL'

qL
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2ª Lei da Termodinâmica
• Equivalência dos enunciados:
Quando se nega o enunciado de Planck...
qH

QH
QL+W
QH  W

W
...nega-se o
QL
enunciado de Clausius
qL

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Reversível:
– O processo é considerado como reversível quando o seu
estado inicial pode ser restaurado depois que o processo
ocorreu;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Reversível:

Outro exemplo de um processo reversível


é um pêndulo. Se considerarmos que o
pêndulo está no vácuo, ou seja, os efeitos
do atrito são reduzidos, temos que os
estados, tanto do pêndulo como da
vizinhança, serão completamente
restaurados ao fim de cada oscilação.

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2ª Lei da Termodinâmica
• O processo reversível é um processo ideal.
Todos os processos que ocorrem na prática
estão sujeitos a perdas:
– Por atrito;
– Transferência de calor a partir de diferença de
temperatura;
– Expansão não-resistida de gás ou líquido.
• Essas perdas caracterizam os processos
irreversíveis;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
– Se o estado inicial de um sistema não pode ser
restaurado após um determinado processo,
dizemos que o processo é irreversível;
– Durante um processo, irreversibilidades podem
ser encontradas tanto no sistema em si
(irreversibilidades internas), como na vizinhança
(irreversibilidades externas).
– O comportamento dependerá da escolha do
volume de controle para análise;
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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
– Voltando ao exemplo do cilindro com gás:
O estado da vizinhança foi
alterado – processo
irreversível

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
Considerando que o bloco (de
massa m) desliza sem que ocorra
transferência de calor. O balanço
de energia aplicado ao bloco fica
como:

U final  U inicial   mg  z final  zinicial  

  KE final  KEinicial   Q  W

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
Para provar que o processo é
irreversível, vamos supor uma
situação ideal.

Processo 1. Admitindo que o


processo inverso pode ocorrer
espontaneamente, ou seja, o
bloco voltar ao topo do plano
inclinado sem mudar o estado
da vizinhança.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
Processo 2. Usando uma polia,
a energia potencial do bloco é
diminuída (voltando para a
posição Z-inicial. Em outras
palavras, a queda da energia
potencial realiza o trabalho
para movimentar uma outra
massa (na outra extremidade
do cabo) na vizinhança.

W  mg  zinicial  z final 

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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:

Processo 3. A energia interna


do sistema pode ser
aumentada colocando-o em
contato com um reservatório
térmico.

O calor necessário para isso é:


Q  U final  U inicial

Ou:
Q  mg  zinicial  z final 
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2ª Lei da Termodinâmica
• Processo Irreversível:
– O processo anterior transferiu energia de um único
reservatório sob a forma de calor e produziu uma
quantidade equivalente de trabalho, sem outros efeitos.
– Isso é impossível de acontecer de acordo com o enunciado
de Kelvin-Planck para a 2ª Lei.
– Os processos 2 e 3 são possíveis de ocorrer fisicamente. O
que nos leva a concluir que o processo 1 é o processo
impossível. Como ele é o inverso do processo de
deslizamento, podemos concluir que o processo original (o
deslizamento) é um processo irreversível.

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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Kelvin-Planck
Considerando o ciclo que troca
calor com um único reservatório,
fazendo movimentar a massa na
polia (localizada na vizinhança).

Assumindo que todos os


processos que ocorrem são
reversíveis, a massa será
movimentada, e retornará em
seguida ao seu estado inicial:

Wciclo  0
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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Kelvin-Planck
Pela 1ª Lei aplicada a ciclos,
temos:

Wciclo  Qciclo  0
O que mostra que não houve
também mudanças na condição
do reservatório.

Relembrando o enunciado de
Kelvin-Planck:

Wciclo  0 27
2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência
Considerando o sistema que
executa um ciclo em
comunicação com dois
reservatórios térmicos,
desenvolvendo trabalho.

A eficiência térmica é dada por:

Wciclo Qsai
  1
Qentra Qentra

28
2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência
– Isso está definido nos corolários de Carnot:
• A eficiência térmica de um ciclo de potência
irreversível é sempre menor do que a eficiência
térmica de um ciclo de potência reversível
operando entre os mesmos reservatórios
térmicos;
• Todos ciclos de potência reversíveis operando
entre os mesmos reservatórios térmicos
possuem a mesma eficiência térmica.

29
2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência

Considerando um ciclo reversível


R e um irreversível I operando
entre os mesmos reservatórios
térmicos. Os ciclos realizam
trabalhos Wr e Wi,
respectivamente.

Pela conservação da energia,


cada ciclo libera uma quantidade
de calor para o reservatório frio
como um resultado da subtração
entre o calor que entrou e o
trabalho realizado. 30
2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência

Considerando agora que o ciclo


reversível opera no sentido
contrário (como um ciclo de
refrigeração). Como o ciclo é
reversível, o trabalho e o calor
envolvido no processo será o
mesmo.

31
2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência

Considerando o sistema
combinado, formado pelos dois
ciclos, abrangendo o reservatório
quente.

O novo ciclo vai trocar calor com


um único reservatório (o frio) e
vai obedecer à seguinte equação:

Wciclo  0 WI  WR  0

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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência

Voltando aos ciclos isolados,


como cada um recebe a mesma
quantidade de energia, Qh,
temos que:

Wciclo
  I  R
Qentra
Comprovando o primeiro
corolário de Carnot.

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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de potência

Considerando agora dois ciclos


reversíveis, R1 e R2.

Como eles operam entre os


mesmos reservatórios térmicos,
temos que:

WR1  WR 2   R1   R 2
Comprovando o segundo
corolário de Carnot.

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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de refrigeração
Relembrando o visto na 1ª lei
para bombas de calor e
refrigeradores. Para o ciclo de
refrigeração:

QC QC
 
Wciclo QH  QC
E para a bomba de calor:

QH QH
 
Wciclo QH  QC
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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de refrigeração
– Para os ciclos de refrigeração, os corolários de
Carnot dizem:
• O COP de um ciclo de refrigeração irreversível é
sempre menor do que o COP de um ciclo
reversível quando operando entre os mesmos
reservatórios térmicos;
• Todos os ciclos de refrigeração reversíveis
operando entre os mesmos dois reservatórios
térmicos possuem o mesmo COP.

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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de refrigeração
Considere um ciclo reversível R e
um ciclo irreversível I, operando
entre os mesmos reservatórios
térmicos.

Temos que o ciclo irreversível


requer uma maior quantidade de
trabalho (devido a presença das
irreversibilidades) para operar. O
que nos leva a concluir que:

COPI  COPR
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2ª Lei da Termodinâmica
• 2ª Lei aplicada a ciclos: Ciclos de refrigeração

Também pode ser observado que


ciclos reversíveis, operando entre
os mesmos reservatórios
térmicos, terão COP’s iguais.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Ciclo de Carnot:
– O Ciclo de Carnot é o melhor exemplo de um ciclo
de potência reversível operando entre dois
reservatórios térmicos;
– No ciclo de Carnot, o sistema passa por 4
processos internamente reversíveis, sendo dois
adiabáticos e dois isotérmicos;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Ciclo de Carnot:

40
2ª Lei da Termodinâmica
• Ciclo de Carnot:
– O ciclo de potência de Carnot é aquele com maior
rendimento entre dois reservatórios de calor;
Demonstração formal por negação:
qH

QH QH
QH
WC
WC QL ,Carnot  QL ,real

Wreal- WC
QLreal QL,C
QL
qL
41
2ª Lei da Termodinâmica
• Ciclo de Carnot:
– Dois sistemas termodinâmicos operando em ciclos
de Carnot entre os mesmos reservatórios térmicos
possuem o mesmo rendimento;

qH
WC,1>WC,2
QH QH QH
WC.2
WC,2 WC,1

QL,2 QL,2 QL,1

qL
42
2ª Lei da Termodinâmica
• Ciclo de Carnot:

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2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
– Para definir os valores máximos de eficiência, é
necessário a utilização do conceito da escala de
temperatura de Kelvin;
– Sabemos dos corolários de Carnot que as
eficiências de ciclos reversíveis operando entre os
mesmos reservatórios térmicos são iguais,
independente da natureza da substância envolvida
no processo;

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2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
– Dessa forma, conclui-se que o valor da eficiência
está relacionado apenas aos reservatórios
térmicos;
– Como o gradiente de temperatura é que resulta
no fluxo de calor, temos que a eficiência depende
(para ciclos reversíveis) somente da temperatura
dos reservatórios térmicos onde o ciclo está
ocorrendo.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
qH
W QL
QH
  1
QH QH QH
C
QL
QL,I
 f q L , q H 
qI C QH
QL,I

QL QL , I QL
C  f q I , q H   f q L , q I 
QL
QH QL , I
qL
46
2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
qH

QL  QL , I 
QH
QL
QH  f q L , q H  
C QH QL , I QH
QL,I  f q L , q I  f q L ,q H 
qI C
QL,I

C
QL
f q L , q H   f q L ,q I  f q I ,q H 
QL
qL
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2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
qH
QH Uma possível solução para a
QH igualdade é a temperatura
C Kelvin:
T q L  T q I  T q L 
f q L , q H  
QL,I

qI C
T q I  T q H  T q H 
QL,I

T q L 
QL
C
  1
QL T q H 
qL
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2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
– Reescrevendo as eficiências dos ciclos de potência
e refrigeração máximas:

TC TC
max  1  max 
TH TH  TC

TH
 max 
TH  TC
49
2ª Lei da Termodinâmica
• Escala de temperatura de Kelvin:
– As restrições que aparecem com essa dedução
são:
• T > 0 : Pois ao contrário, existiriam ciclos de
Carnot com rendimento maior do que 100%;
• O rendimento é 100% quando a temperatura
do reservatório frio, TL, é igual a zero;

50
2ª Lei da Termodinâmica
• Máquinas térmicas reais e ideais:
– Utilizando o conceito da escala de temperatura de
Kelvin aplicado no ciclo de Carnot, podemos obter
a eficiência de uma máquina térmica ideal;
– Lembrando que as definições para eficiências
máximas só são válidas para ciclos reversíveis, ou
seja, ciclos de Carnot. Mas, as expressões que
envolvem somente o fluxo de calor são válidas
para qualquer tipo de máquina.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Máquinas térmicas reais e ideais:
– Assim,
QL TL
térmico real  1  1
QH TH
QL TL
 real  
QH  QL TH  TL
QH TH
 real  
QH  QL TH  TL 52
2ª Lei da Termodinâmica
• Exemplo. Ciclo de Potência de Carnot. Considerando o sistema ilustrado.
A taxa de transferência de calor do reservatório a alta temperatura (800 K)
para a máquina é 1 MW e a potência da máquina é 450 kW. Considerando
que o ambiente está a 300 K, determine a eficiência dessa máquina.
Compare os valores da eficiência considerando que a máquina opera ao
lado de outra semelhante, só que desta vez descrevendo um ciclo de
potência reversível.
qH
QH

WC,1

QL,1

qL
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2ª Lei da Termodinâmica
• Exemplo. Ciclo de Refrigeração de Carnot. Considerando o sistema
ilustrado. A taxa de transferência de calor do ambiente frio para a
máquina é 129,6 kW e a potência da máquina é 42,3 kW. Considerando
que o ambiente frio está a -20ºC e que o reservatório quente está a 40ºC,
determine o coeficiente de performance dessa máquina. Compare os
valores do COP considerando que a máquina opera ao lado de outra
semelhante, só que desta vez descrevendo um ciclo de refrigeração
reversível.
qH
QH

WC,1

QL,1

qL 54
2ª Lei da Termodinâmica
• Exercício. Considerando um ciclo de potência capaz de
desenvolver 410 kJ de trabalho a partir de uma entrada de
energia de 1000 kJ. O sistema descrevendo um ciclo recebe
energia por transferência de calor a partir de gases quentes a
500 K e descarrega energia por transferência de calor à
atmosfera a 300 K. Avalie esse ciclo de potência.

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2ª Lei da Termodinâmica
• Exercício. Determine se uma bandeja de gelo vai conseguir
manter o gelo formado integralmente se colocado em uma
geladeira com COP de 9, operando em uma sala onde a
temperatura é 32ºC.

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