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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6. CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS


A composição química tem sido a base da classificação dos minerais desde o século XIX. De
acordo com este esquema, os minerais são divididos em classes dependendo do anião ou grupo aniónico
dominante (óxidos, halogenetos, sulfuretos, silicatos, etc.)
Há várias razões para que este critério seja uma base válida para a classificação dos minerais.
Primeiro, os minerais tendo o mesmo anião ou grupo aniónico dominante na sua composição química têm
muito mais semelhanças entre si do que os minerais que tenham o mesmo catião ou grupo catiónico. Assim,
os carbonatos (grupo aniónico CO32-) têm muito mais semelhanças entre si do que os minerais de cobre têm
entre si. Segundo, os minerais com o mesmo anião/grupo aniónico têm tendência a ocorrerem juntos ou no
mesmo ambiente geológico. Terceiro, o esquema usado está de acordo com a prática química corrente de
classificação de compostos inorgânicos.
Contudo, a composição química não é suficiente para caracterizar um mineral. É importante
considerar a sua estrutura interna, porque são estas duas características que determinam as propriedades
físicas dos minerais. No caso dos silicatos (veremos mais à frente), estes foram subdivididos em função da
sua estrutura interna.
As classes de minerais são:
a) Elementos nativos g) Nitratos
b) Sulfuretos h) Boratos
c) Sulfossais i) Fosfatos
d) Óxidos e Hidróxidos j) Sulfatos
e) Halogenetos k) Tungstatos
f) Carbonatos l) Silicatos
Evidentemente que a classificação não pára por aqui. As classes são subdivididas em famílias,
estas em grupos, estes em espécies (que podem formar séries) e as espécies podem ainda ser subdivididas
em variedades. Não entraremos em detalhes sobre este assunto, uma vez que não cabe no âmbito deste
programa. Mas fica a informação!
Seguidamente iremos estudar estes grupos de minerais, com especial ênfase para aqueles que
ocorrem com maior frequência na crusta terrestre.

6.1. ELEMENTOS NATIVOS


À excepção dos gases livres da atmosfera, só cerca de 20 elementos são encontrados no estado
nativo. Estes elementos nativos podem ser divididos em: Metais, Semi-metais e Não-metais.
Os metais nativos mais comuns pertencem a três grupos: o grupo do Ouro (Au, Ag, Cu e Pb); o
grupo da Platina (Pt, Pd, Ir, Os); e o grupo do Ferro (Fe, Fe-Ni), todos os grupos cristalizando no sistema
cúbico. Os semi-metais mais comuns são o Ar, Sb, Bi, Se e Te. Os não-metais nativos são o S e C (este
nas formas de grafite e diamante).

6.1.1. OURO

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Au; normalmente ocorrem outros
metais misturados com o ouro, como Ag, Cu e Fe, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço; aparece na forma granular (fig. 3.2.c),
dendrítica (Fig. 3.6.e) e raramente cristalizado (Fig. 3.13.a). Frequente na
forma de pepitas (Fig. 3.13.b);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é em tipo esquírola;
a) b)
Tenacidade: metal maleável, dúctil e séctil; Fig. 3.13. Cristal (a) e pepita (b) de
Dureza: baixa a muito baixa – 2.5-3; Ouro
Densidade: muito denso – 19.3;
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Cor: amarelo-ouro, quando puro; quando misturado com prata, torna-se mais claro;
Risca: amarelo-ouro metálico;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilização: a maior utilização é na joalharia; metal que garante as reservas financeiras dum
país. Muito utilizado na numismática, para medalhas e moedas comemorativas. Nos tempos modernos, o
ouro é cada vez mais utilizado em instrumentos científicos e em aplicações dentárias.
e) Ocorrência: em Moçambique, o ouro ocorre nas Províncias de Manica, Tete e Niassa. A nível
internacional, os principais jazigos de ouro estão na África do Sul, Rússia, China, Canadá, EUA e Brasil.
f) Origem do nome: do Latim Aurum = ouro.

6.1.2. COBRE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Cu; normalmente ocorrem outros
metais misturados com o cobre, como Ag, Bi, Hg e As, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço (fig. 3.14.a), dendrítica (Fig. 3.14.b) e a
raramente cristalizado;
Clivagem, Fractura, Tenacidade e Dureza: comporta-se como o ouro;
Densidade: muito denso – 8.94;
Cor: vermelha-rosa claro, escurecendo com o tempo até castanho;
Risca: vermelho-metálico;
Brilho: metálico em superfície fresca, embaciando com a oxidação;
b
Diafanidade: opaco.
d) Utilização: é utilizado principalmente na indústria eléctrica, no
fabrico de cabos eléctricos e condutores. Também se utiliza no fabrico de
ligas metálicas (bronze e latão) e na indústria química.
e) Ocorrência: em Moçambique, o cobre nativo não ocorre. A
nível internacional, os principais jazigos de cobre estão nos EUA, na
Zâmbia, Namíbia, RD Congo, Índia e Rússia.
c
f) Origem do nome: do Latim Cuprum, nome dado a este metal Fig. 3.14. Cobre (a) maciço, (b)
encontrado na Ilha de Chipre. dendrítico; (c) cristalino

6.1.3. DIAMANTE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: C puro.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais isolados, normalmente octaédricos (Fig. 3.15) e
dodecaédricos, além doutras formas;
Clivagem e Fractura: clivagem octaédrica perfeita; fractura conchoidal; Fig. 3.15. Diamantes octaédricos

Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito alta – é o último termo da Escala de Mohs - 10; é a substância mais dura que se conhece;
Densidade: pequena – 3.05;
Cor: incolor ou variada, desde amarelada, a rosa, azulada e acinzentada; há ainda a variedade negra;
Risca: branca;
Brilho: adamantino;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas em joalharia; as variedades negra e
cinzenta são utilizadas como diamantes industriais como abrasivos e instrumentos de corte.
e) Ocorrência: em Moçambique, o diamante é muitíssimo raro, tendo sido encontrados alguns nos
aluviões do Rio dos Elefantes (Gaza) e no Niassa. A nível internacional, os principais jazigos de diamantes
estão na RSA, nos EUA, na Namíbia, Botswana, Angola, Gana, Serra Leoa, RD Congo, China, Venezuela,
Brasil.

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f) Origem do nome: do Grego adams = invencível.

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6.1.4. GRAFITE
a) Sistema Cristalino: sistema hexagonal.
b) Composição química: Carbono puro – C.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais tabulares, vulgarmente em massas foliadas, radiais (Fig.
3.16), terrosas;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; não tem fractura;
Tenacidade: as lâminas de grafite são flexíveis (não elásticas);
Dureza: muito baixa – 1-2; Fig. 3.16. Grafite
Densidade: pequena – 2.09-2.23;
Cor: negra a cinzenta escura;
Risca: negro brilhante;
Brilho: metálico a baço;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: untuoso ao tacto, condutor de calor e electricidade,
termoeléctrico; escreve no papel.
a)
A Fig. 3.17 mostra as redes cristalinas do diamante e da grafite, exemplo
claro de polimorfismo do Carbono.
d) Utilização: usada na indústria eléctrica, para fabrico de
escovas colectoras e eléctrodos, na indústria química (lubrificantes,
tintas), lápis, moderador de reacções atómicas.
e) Ocorrência: em Moçambique, a grafite ocorre em Montepuez, b)
Monapo, Angónia e Lúrio. Os principais jazigos de grafite estão no Canadá, Fig. 3.17. Redes cristalinos (a) do
Madagáscar, Áustria, Finlândia, Rússia e México. diamante e (b) da grafite
f) Origem do nome: do Grego graphein = escrever.

6.1.5. FERRO-NÍQUEL (Meteoritos férricos)

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Fe, com percentagens variáveis de Ni. Na
Fig. 3.18A, as lamelas mais claras têm pequenas percentagens de
Ni (+5.5%), ao passo que nas mais escuras há de 27-65% Ni.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; a fractura é irregular,
de bordos cortantes; a)
Tenacidade: maleável;
Dureza: média – 4.5;
Densidade: relativamente alta – 7.3-7.9;
Cor: cinzenta de aço a negra;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: fortemente magnético.
d) Utilização: não tem utilização prática, a não ser para b)
estudos científicos sobre a Terra e o Universo. Fig. 18. (a) Meteorito de Edmonton
g) Ocorrência: o ferro nativo é muito raro na Terra (Fig. (Kentucky, EUA); (b) Grânulos negros de
ferro dispersos em roch
3.18B), pois é extremamente oxidável em óxidos de ferro. Ocorre
na Gronelândia e no Oregon (EUA). Contudo, é muito comum em
meteoritos que caíram em vários pontos do planeta.

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6.1.6. ENXOFRE

a) Sistema Cristalino: sistema ortorrômbico (Fig. 3.19).


b) Composição química: Enxofre puro – S.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais. Por vezes de aspecto terroso e
estalagtítico;
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal a irregular;
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa - 1.5-2.5;
Densidade: baixa – 2.05-2.09;
Cor: amarelo;
Brilho: resinoso; Fig. 3.19. Agregado de
cristais de enxofre
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: mau condutor de calor; quando um pedaço de enxofre é agarrado com a mão e
colocado junto ao ouvido, ouvem-se estalidos porque a zona superficial aquecida pela mão estala.
d) Utilização: utilizado para o fabrico de compostos de enxofre, como o ácido sulfúrico (H 2SO4). Usado
também em insecticidas, fertilizantes e vulcanização da borracha.
e) Ocorrência: em Moçambique não se conhecem ocorrências de enxofre. Os depósitos mais importantes
situam-se na Sicília (Itália) e outras regiões vulcânicas, como Chile, México, EUA, Hawaii, Japão e Argentina.
f) Origem do nome: do Latim sulphur.

6.2. SULFURETOS/SULFOSSAIS
Os sulfuretos e sulfossais constituem uma importante e numerosa classe de minerais que incluem
a maioria dos minerais de minério. A maioria dos sulfuretos é opaca com cores e riscas características. Os
não opacos têm índices de refracção extremamente altos e só não são opacos em secções muito finas.
A fórmula geral dos sulfuretos é XmYnZp, em que X e Y representam elementos metálicos e Z os
não metálicos. Neste capítulo trataremos só de alguns deles, e que são os mais frequentes.

6.2.1. GALENA

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Chumbo – PbS; normalmente tem
prata associada.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico ou cúbico+octaédrico (equigranular) (Fig. 3.19), em massas
compactas granulares grosseiras ou finas;
Clivagem e Fractura: a clivagem é cúbica perfeita; a)

Tenacidade: quebradiça;
Dureza: muito baixa – 2.5;
Densidade: alta – 7.4-7.6;
Cor: cinzenta de chumbo;
Risca: cinzenta de chumbo;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco. b)
d) Utilidade: principal minério de chumbo e importante fonte de prata. O
Fig. 3.20. (a) Galena maciça
Chumbo é fundamentalmente utilizado em baterias, na indústria química e com clivagem cúbica; (b) Cristal
ligas metálicas. ocatédrico.
e) Ocorrência: em Moçambique, a galena ocorre em pequenas
quantidades em Manica e Tete. Os grandes jazigos mundiais de galena
encontram-se na Alemanha, República Checa, Inglaterra, Austrália e
Canadá.

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f) Origem do nome: do Latim galena, nome dado à escória.

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6.2.2. CALCOPIRITE

a) Sistema cristalográfico: tetragonal.


b) Composição química: Sulfureto de Cobre e Ferro –
CuFeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, podendo ser tetraédrico (Fig. 3.21.A); a)
Clivagem e Fractura: a clivagem é muito imperfeita; a fractura vai de
conchoidal a irregular;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: baixa – 3.5-4;
Densidade: média – 4.2-4.3;
Cor: amarelo-latão, passando a iridiscente com a oxidação (Fig. 3.21.B);
Risca: negra-esverdeada; b)
Brilho: metálico; Fig. 3.21. (a) Calcopirite
tetraédrica; (b) Calcopirite
Diafanidade: opaco. iridescente
g) Utilidade: principal minério de cobre.
e) Ocorrência: em Moçambique, a calcopirite ocorre em grandes quantidades em Manica. Os
grandes jazigos mundiais de calcopirite encontram-se na Inglaterra, Suécia, República Checa, Espanha,
África do Sul, Zâmbia e Chile.
f) Origem do nome: do Grego chalcos = cobre + pyros = fogo (ver pirite adiante).

6.2.3. PIRITE

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Ferro – FeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: frequentemente em cristais cúbicos , octaédricos e doutras
formas (Fig. 3.1.b, Fig. 3.6.d, Fig. 3.22.a); comum na forma maciça;
Clivagem e Fractura: sem clivagem; a fractura é conchoidal;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: média – 6-6.5;
Fig. 3.22 Cubos de pirite
Densidade: média – 5.02; Brilho: metálico;
Cor: amarelo-latão pálido; Diafanidade: opaco;
Risca: negra-esverdeada; Outras propriedades: cristais de faces estriadas.
d) Utilidade: a pirite é muitas vezes minerada para a extracção de ouro e cobre com ela
associados; é uma fonte de enxofre para o fabrico de ácido sulfúrico; em situações muito particulares, a
pirite pode ser considerada como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique, a pirite não ocorre como jazigo, mas está presente em grande
número de rochas nas regiões centro e norte do país. É o Sulfureto mais frequente na crusta terrestre Os
grandes jazigos mundiais de pirite encontram-se em Portugal, Espanha.
Origem do nome: do Grego pyros = fogo, por causa das faíscas que lança quando percutido por ferro.

6.2.4. OUTROS SULFURETOS IMPORTANTES (Fig.3.23)

Esfalerite (ZnS), Pirrotite (Fe1-xS), Covelite (CuS), Cinábrio (HgS), Realgar (AsS), Marcassite (FeS 2 -
polimorfo da pirite), Molibdenite (MoS2), Cobaltite (Co,Fe)AsS e Arsenopirite (FeAsS).

Cinábrio Marcassite
Pirrotite Molibdenite Arsenopirite
Covelite

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Fig. 3.23. Exemplos doutors tipos de sulfuretos.

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