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Quanto a forma, uma resenha responde duas questões fundamentais: Qual o objetivo do
texto e o que ele trata. A resposta a essas duas perguntas orienta metodologicamente toda a
construção do texto resenhístico. A resposta à primeira pergunta abre a resenha, em geral, sendo
desenvolvida normalmente em no máximo um parágrafo. Aqui o objetivo é apreender o sentido do
texto para o autor, qual sua finalidade, o que ele pretende mostrar com tal trabalho. Isto demonstra
já (por parte daquele que elabora a resenha) uma capacidade de apreensão da totalidade do trabalho.
Como todo texto de natureza científica portanto, a resenha é marcada por um estilo
redacional bastante característico. Nesta, o autor da obra analisada aparece permanentemente citado,
a fim de tornar claro ao leitor que trabalha-se com idéias de outrem. Neste sentido, o texto
resenhístico aparece caracterizado por uma espécie de “diálogo com o autor”. Expressões como
“para o autor...”, “segundo o autor...”, “ele pensa que...”, são recursos habituais de linguagem no
texto resenhístico, aparecendo em geral, em cada parágrafo de uma resenha.
Quando definimos a resenha como uma “síntese comentada” (ver primeiro parágrafo
acima), a expressão “comentada” se refere aqui menos a possibilidade de acrescentar-se ao texto as
opiniões (ou comentários) daquele que escreve a resenha – como forma de apreciação crítica do
texto analisado -, já que tais comentários não são uma pré-condição para o texto resenhístico, sendo
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facultado aquele que escreve; mas, tal expressão diz respeito muito mais a este estilo redacional
próprio do trabalho científico que também vai marcar o texto de resenha.
A seguir sugerimos, de modo bastante objetivo, alguns passos para aquele iniciante à
prática do texto resenhístico:
a) em primeiro lugar parece bastante aconselhável partir-se de um texto resumo – base útil para
transformá-lo em resenha. Entretanto aqui uma questão elementar se coloca: como elaborar o
resumo ? Um dos caminhos possíveis é aquele de proceder uma leitura do texto marcando as
passagens consideradas mais relevantes na identificação das idéias fundamentais defendidas
pelo autor. Após, deve-se reunir todas estas passagens marcadas num único texto, onde tais
passagens aparecem transcritas sempre necessariamente com o auxílio das aspas (obtém-se aí
um esboço de texto-resumo);
b) o segundo passo, final, consiste justamente em transformar este texto-resumo (esboçado) em
texto resenhístico. Para tanto faz-se necessário acrescentar aquele estilo redacional sugerido
(marcado justamente pelo “diálogo com o autor”). O iniciante irá aqui retrabalhar com suas
próprias palavras uma série destas transcrições que aparecem no resumo, dispensando dessa
forma, evidentemente, o uso das aspas. Outras transcrições permaneceram como foram postas
no resumo, aparecendo pois na resenha sob a forma de citação, isto é, entre aspas. Mas,
sobretudo, uma preocupação forte aqui consiste em articular estas várias passagens resumidas
do texto, a fim de expor a estrutura lógica e coerente, enfim o fio condutor, que identifica a
construção do pensamento do autor analisado.
Talvez resida precisamente neste último ponto a grande dificuldade na elaboração do texto
resenhístico, isto é, a capacidade que terá aquele que escreve a resenha de penetrar no pensamento
do autor e mostrar como ele conduz seu raciocínio, isto é, como ele pretende demonstrar, através de
um conjunto articulado de idéias, seus argumentos principais.
No final das contas, o texto de resenha pode ser visto como um produto do texto resumo,
onde retrabalhou-se alguns parágrafos a fim de explicá-los com suas próprias palavras e manteve-se
outros sob a forma de citações, mas sobretudo buscou-se articular, mais uma vez com suas próprias
palavras, as várias passagens ou parágrafos a fim de apreender-se o fio condutor da argumentação
do autor.
O estilo redacional, próprio ao texto resenhístico e marcado pelo que chamo de um “diálogo
com o autor”, mais do que uma simples questão de forma, visa refletir justamente aquilo que parece
constituir a essência de uma resenha: a honestidade intelectual daquele que escreve. Antes de
pretender demonstrar suas próprias idéias é preciso mostrar que se conhece idéias de outrem, até
para reconhecer-se em que medida sua próprias idéias são originais, ou inspiram-se de idéias
alheias.