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Teste Formativo 8

Grupo I

A. Lê o texto apresentado.

Acordando

Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta


Este meu vão sofrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o céu a minh'alma sobe e canta.

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,


Que ao mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo das cousas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...

Mas, de repente, um vento húmido e frio


Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. – A noite é negra e muda: a dor

Cá vela, como d'antes, ao meu lado...


Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!

Antero de Quental, Sonetos, Lisboa: IN-CM, 2002, p. 100.

Educação literária

1. Divide o texto em partes, tendo em conta a oposição sonho / realidade,


justificando.
2. Explica a utilização do gerúndio no título do poema.
3. Explicita o sentido dos dois últimos versos do poema.
4. Analisa formalmente o poema e relembra a utilização desta forma por um poeta
já estudado.
B. Lê o seguinte poema.

NOTURNO

Espírito que passas, quando o vento


Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo1 da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo − triste e lento −


Que voga2 e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua3,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva


Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,


A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
Antero de Quental, Sonetos, Lisboa: IN-CM, 2002, p. 120.

5. Indica as características atribuídas pelo sujeito poético ao “tu”.


6. Explicita a importância do segundo terceto para a construção do sentido do
texto.

Grupo II

O século XIX foi um grande século em Portugal; depois do século XVI nenhum
outro se lhe compara, a meu ver, na pujança intelectual, no culto de nobres ideais, na
multiplicidade de realizações. Foi um século de poetas, romancistas, historiadores,
sábios, políticos, administradores, e em todas estas manifestações do engenho e da
atividade, que exuberância e que inovações! O seu legado é imenso; bastariam, porém, a
constituição científica da história, ou por outras palavras, a consciência reflexiva da vida
nacional, o advento da eloquência parlamentar e do jornalismo, criações e baluartes da
liberdade política, que só nascem e crescem num povo de cidadãos, e o culto dos
sentimentos generosos, que elevam e transportam, o patriotismo, o respeito da mulher, o
carinho pelos fracos, o amor da independência individual e coletiva, para que ele
merecesse sempre a nossa veneração.
Foi um século que acreditou no ideal, e por ele lutou; mas por singular
insatisfação foi também o século, sobretudo na segunda metade, que sofreu do
desencanto das coisas e se deteve no abismo entre o senso das realidades e a sedução do
ideal. O desencanto, que foi a doença do século, fez a sua aparição com Herculano, o
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fugidio.
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flutua.
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que está em tumulto, que se inquieta.
homem íntegro, lutador, cuja velhice conheceu talvez a amargura da desilusão, mas foi a
geração da segunda metade do século, Antero, Oliveira Martins, Eça de Queirós, que,
desapegando-se do passado e demolindo-o, rindo e troçando, amando outros ideais, mas
incapaz de os realizar, viveu na sensação da derrota e nos legou uma mensagem de
angústia e de tristeza.
Nenhum, porém, como Antero de Quental.
A sua vida é uma sucessão de itinerários, em demanda de ideais de permanência,
jamais logrados. Procura-os na religião, na arte, na filosofia, e não os encontra; é
homem de ação, tão resoluto e coerente que se faz tipógrafo em Paris para que o seu
socialismo tivesse a sagração do trabalho, e pouco depois, em Vila do Conde, leva a
vida de um santo laico, resignado, indiferente à ação, quase um budista.
A sua musa inquieta e insatisfeita não canta a natureza, nem o lirismo ingénuo e
sentimental; não se confinou em escolas literárias, nem se prendeu a temas nacionais. A
filosofia da vida foi o seu alvo, o universalismo, a lei do seu pensamento; por isso, os
seus Sonetos são o drama de uma inteligência que busca ardentemente o sentido das
coisas e da vida, isto é, como disse admiravelmente Eça de Queirós, “o sumo poético
duma agonia filosófica”.
Antero foi um espírito que se renovou incessantemente e jamais se deixou
cristalizar num ideário; do príncipe da mocidade, que ele fora no tempo de Coimbra,
exuberante de vida, à resignação, senão apatia, dos derradeiros dias, que mutações de
ideais, que sucessão de crises interiores! Procurará em vão aquele que pedir a Antero
certezas. Ele só dá inquietudes, angústias, insatisfação, mas não é a insatisfação o mais
nobre predicado do Homem?
Por isso, Antero, único em toda a literatura portuguesa, foi do seu tempo, é de
hoje, é de amanhã. A sua poesia gera o desalento, e sem certezas não se vive; mas
desperta a inquietude, descobre em cada um o que entorpece e encadeia o eu profundo,
e sem a consciência da dor, do que exalta e deprime, a vida não alcança plenitude nem
sentido.
http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/112-1.-Antero-de-Quental-#sthash.2FCvRvrz.dpuf
(consultado em 27 de janeiro de 2016).

Leitura / Gramática
1.Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.
1.1. Segundo o autor do texto, o século XIX
A. marca o panorama literário português.
B. demarca-se do século XVI e supera-o.
C. apresenta-se como um século de contradições.
D. assinala uma viragem política incomparável.

1.2. A vida de Antero de Quental, figura ímpar do século XIX,


A. espelha a insatisfação própria do seu tempo.
B. apresenta aspetos antagónicos, mas complementares.
C. decorre em diversos locais por imposição da sua atividade poética.
D. é feita de viagens sucessivas à procura de inspiração.

1.3. Antero de Quental, o poeta,


A. busca o impossível.
B. procura incessantemente modelos.
C. revela, nos primeiros poemas, a sua inquietude.
D. anseia conhecer o sentido das coisas.

1.4. A oração “que sofreu do desencanto das coisas” (l. 13) é


A. subordinada adjetiva relativa explicativa.
B. subordinada substantiva relativa.
C. subordinada substantiva completiva.
D. subordinada adjetiva relativa restritiva.

1.5.A expressão “que foi a doença do século” (l. 15) tem a função sintática de
A. vocativo.
B. modificador apositivo do nome.
C. modificador restritivo do nome.
D. modificador.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.


2.1. Indica o referente dos pronomes pessoais presentes na frase “Procura-os na
religião, na arte, na filosofia, e não os encontra” (l. 22)
2.2. Indica a função sintática da expressão “aquele que pedir a Antero certezas” (l.
35.)
2.3. Divide e classifica as orações da frase “é homem de ação, tão resoluto e coerente
que se faz tipógrafo em Paris para que o seu socialismo tivesse a sagração do trabalho”.

Grupo III

Escrita
Ser jovem é querer mudar o mundo.

Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião, com 180 a 220
palavras, no qual fundamentes o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo
menos, um exemplo concreto e significativo para cada um.

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