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Controladoria

Material Teórico
Avaliação de Desempenho e Investimentos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Me. Divane Alves da Silva

Revisão Técnica:
Prof. Me. Carlos Henrique de Jesus Costa

Revisão Textual:
Prof. Me. Magnólia Gonçalves Mangolini
a
Avaliação de Desempenho e Investimentos

• O ato de avaliar o desempenho

• Estrutura para análise do desempenho e investimentos

• A análise de balanços para a avaliação do desempenho


e investimentos

Foi realizado um amplo planejamento, de acordo com a estratégia adotada


pela empresa. Executou-se as atividades previstas e cada um na empresa
deu sua contribuição pessoal. Mas e agora? Tudo o que fora planejado foi
realizado da forma como deveria ter sido? E com os dados apurados durante
a execução das atividadesé possível extrair lições para melhorar a qualidade?
Se a empresa auferir lucros ou mesmo prejuízos, é possível avaliar o quanto
cada trabalhador ou cada gestor [realmente] contribuiu com seu esforço
pessoal para esse resultado?
A resposta a essas indagações, todas elas, é sim. É possível! E esse é um
trabalho do Controller! Ter metodologias para reconhecer e avaliar o esforço
de cada um na empresa permite uma avaliação racional, sem a prevalência de
emoções ou privilégios. Ter uma avaliação do desempenho permite também
que os profissionais da empresa reflitam sobre sua própria atuação e tomem
decisões pessoais, como gastar com treinamentos e aperfeiçoamento das
atividades. Tudo isso significa respeito ao ser humano!

Para estudar avaliação do desempenho é imprescindível que você se coloque no lugar tanto de
um controller que precisa preparar relatórios sobre a atuação de cada gestor quanto no lugar das
pessoas que serão avaliadas.
Imagine que você é o gestor de um departamento importante para a empresa e que tenha se
esforçado bastante para cumprir os orçamentos e planejamentos. Ao mesmo tempo, você não
tem certeza se os outros gestores se esforçaram o mesmo que você. Como você reagiria se
alguém apontasse que o seu resultado foi insatisfatório e o dos outros foi satisfatório?
É importante esse exercício, se colocar nesses papéis, informar o que é relevante e no momento
correto. Sem esse esforço de imaginação, sem uma preocupação para com as pessoas e suas
emoções ao serem avaliadas, o trabalho de análise e avaliação de desempenho torna-se um
problema corriqueiro. Mas sabendo lidar com as expectativas e com o desempenho, o controller
mostrará a beleza da profissão!

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Contextualização

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O ato de avaliar o desempenho

 Valeu a pena?
 Alcançamos o sucesso, ganhamos dinheiro ou, na próxima vez, conhecendo melhor o
caminho, vamos fazer diferente?
 Não estamos indo bem. Vamos continuar a fazer o que estamos fazendo ou parar por aqui?
 O que podemos mudar e o que devemos manter por estar sendo bem feito?
 Somos bons! O que podemos fazer para mostrar isso para a sociedade e atrair investidores?

As perguntas acima são atuais? Certamente você dirá que sim! Qualquer empreendedor
terá essas dúvidas, em algum momento, na condução de seus negócios, por mais convicto ou
confiante que seja e mesmo que não se importe muito com contabilidade.
O mais surpreendente nessas perguntas, no entanto, é que elas não são novas! Essas mesmas
perguntas também eram feitas pelos negociantes no passado, nos tempos mais remotos. É claro
que o ritmo das coisas era diferente, a tecnologia também. Tudo era mais difícil, mas mesmo
assim os empresários tinham a necessidade de saber como estavam seus negócios.
Se olharmos para a história veremos que mercadores e/ou negociantes hábeis e poderosos
do passado, como os Médici em Florença – Itália ou Jakob Fugger de Augsburg - Alemanha
mantinham um serviço de contabilidade para conhecer o seu desempenho.

Você Sabia ?
Jakob Fugger - “O rico” foi o primeiro investidor estrangeiro no Brasil. Após a descoberta
da então “Terra de Santa Cruz”, o Rei de Portugal,Manuel I, deu a Fernão de Loronha, um bem
estabelecido mercador de Lisboa, uma capitania hereditária no Brasil. Fernão de Loronhaera
agente de Jakob Fugger em Lisboa, que tão logo soube da empreitada em novas terras recém-
descobertas investiu dinheiro na missão.

Schmalenbach (1955) comenta que naquele período, era muito comum caravanas ou
expedições para o transporte de mercadorias para os mercados principais por meio de rotas
comerciais. Essas caravanas ou expedições eram feitas normalmente em lombo de burros,
cavalos ou camelos, e carregadas de perigos. Ao longo do caminho acidentes e assaltos poderiam
ocorrer e fazer com que parte das mercadorias, ou tudo, se perdesse. Sempre que uma caravana
(ou uma navegação marítima)terminava, apurava-se obalanço patrimonial para saber se todo o
esforço da expedição havia resultado em lucro ou prejuízo. Esse trabalho era feito considerando-
se tudo o que se ganhou na viagem (as receitas) e descontando-se todas as despesas e perdas.
A seguir, vemos uma foto de um homem levando mercadorias transportadas em lombo de
burros no Caminho do Chá, na China. Uma rota comercial milenar que é usada ainda nos dias
atuais sem nenhuma modificação:

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Foto: Caminho/Rota do Chá e do Cavalo, na China 2006. Fonte: Relato de Viagem de Jeff Fuchs (2011)

No Brasil, tivemos durante muito tempo a atuação dos chamados “Tropeiros”. O


funcionamento desse serviço com riqueza de detalhes é possível encontrar na obra de Marins
(1982, pp. 19-20) que descreve por meio de seu personagem uma “tropa” que atuava entre o
Porto de Santos e o (então) povoado de São Paulo:

Já havia subido e descido centenas de vezes a serra do Cubatão, vencendo


os seus 2.500 pés de altura, através de péssimos caminhos, cheios de pedras
e lajes, que feriam os cascos da burrada e nos matavam de cansaço. Nossa
tropa, de cerca de quarenta bestas, era tocada por Perova, o tropeiro, e
dividida em cinco lotes, cada um formado por oito animais, sob a direção
de um camarada. Todas as tropas que andavam pela serra obedeciam a
essa organização.
Quase sempre, em viagem, pegávamos chuvas, por dias inteiros. Mas também,
em certas manhãs, éramos recompensados por magníficos panoramas.
Os princípios, os fundos dos valores, o cume das montanhas, onde nesgas
de nuvens muito brancas pareciam grudadas, tudo nos proporcionava
espetáculos incríveis!
Aquela vida de vaivém, entretanto, começava por me enjoar. Além do mais,
a estrada, com o aumento do trânsito de animais, ia-se tornando cada vez
mais perigosa. Por ocasião das chuvas, o sacrifício aumentava. Muitas vezes,
para que os burros pudessem caminhar, era preciso colocar, nos trilhos por
onde passavam, couros de bois bem curtidos. Levávamos uma porção desses
couros, para impedir que atolassem na lama. Assim, demorávamos horas e
horas para transpor pequenos trechos. Havia também, o perigo de perder
as mercadorias, pelas quais éramos responsáveis. Lembro-me de um dia em
que duas bestas carregadas de sal desviaram-se do trilho e escorregaram no
abismo. Tomamos sérios prejuízos, além de ficarmos bastante penalizados
com a sorte dos animais.

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Conheça a saga dos tropeiros no Brasil. http://www.tropeirosdasgerais.com.br/historia.htm

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Observe no relato do personagem de Marins (1982, pp.19-20) que os tropeiros assumiam
os prejuízos pela perda de mercadorias ao longo do trajeto, sendo que não havia naquele
momento serviços de seguros, como temos atualmente,e já era comum na Europa em algumas
cidades. É evidente que esses serviços eram verdadeiras sagas, que envolviam coragem e um
hercúleo esforço pessoal de todos que se engajavam no trabalho.
Cada um dos trabalhadores era avaliado por sua coragem e lealdade, mas normalmente
a avaliação econômica sobre se o esforço resultou em lucro ou prejuízo era realizada ao final
da empreitada, com fins exclusivos de informação para o comerciante. Mesmo os grandes
comerciantes costumavam solicitar um levantamento dos seus contadores quando sentiam
necessidade para tal, não havia um hábito nesse sentido. Por essa razão, alguns autores, como
Schmalenbach (1955), dizem que a contabilidade nasceu para fins gerenciais.
Schmalenbach (1955) comenta que foi Luca Pacioli, que conforme Sá (2004) era um homem
fascinado pela difusão de conhecimentos, quem incentivou os comerciantes a adotar o hábito
de publicar balanços patrimoniais periodicamente. A intenção era a de atrair investidores,
mostrar à empresa potenciais agentes que poderiam ajudar em seu desenvolvimento. Para tal,
Pacioli disse uma frase muito significativa: “RAGIO SPESSA AMISTA LONGA”, ou seja, uma
contabilidade publicada de forma periódica, frequente, acaba por atrair amizades longas.

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Para quem gosta de games, indica-se o “Rise of Venice”, um game muito interessante, que
explora a temática da cidade-estado de Veneza durante a época do renascimento, justamente a
época de Luca Pacioli. Nesse game você é um mercador e para prosperar, comprando mercadorias
como limão ou azeite em uma cidade e indo vender em outras, precisa passar por vários perigos. De
acordo com o seu esforço e o reconhecimento por uma junta de nobres, você vai adquirindo mais e
mais barcos e poderes.

Nascia a contabilidade financeira, que atualmente é mais conhecida e lembrada do que a


gerencial. Observe, então, que o ato de avaliar o desempenho começa de dentro para fora, ou seja,
em um primeiro momento é realizado uma medição do desempenho mesmo que seja apenas pelo
fechamento simples das demonstrações financeiras. Ainda que o próprio comerciante/empresário
não se interesse em saber com exatidão como andam seus negócios, provavelmente outros
agentes que tenham alguma influência sobre esse mesmo negócio terão interesse em saber como
está o desempenho da empresa. Sendo assim, muito do que é feito em termos de contabilidade
financeira é voltada ao usuário externo, ou seja, quem está do lado de fora da organização.
No entanto, resgatando a visão de Marins (1982, pp. 19-20) por meio de seu personagem, ações
empreendidas em uma empresa são muito mais do que simplesmente o apurar de lucro ou prejuízo.
As pessoas se esforçam, criam uma história e têm emoções, então, o ato de avaliar o desempenho
reveste-se de toda a importância. Seja por uma rigorosa e detalhada análise de orçamentos entre
real x orçado, usando custos padrões, ou atingindo o breakeven point como no caso IG descrito por
Cortês (2001), a avaliação do desempenho envolve a emoção e o comportamento humano.

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

O controller, por meio dos seus controles e do SIC-SIG, realiza avaliações que podemenvolver
a empresa como um todo, uma área ou departamento de uma empresa, um gestor ou mesmo
um funcionário. É a partir de seus relatórios que serão tomadas decisões importante, que alteram
a vida das pessoas, como substituir ou não um funcionário, dar continuidade a um projeto, a
unidades inteiras de produção, ou ainda se vale a pena investir em treinamento de uma equipe
de trabalho.
É claro que o controller está condicionado a muitas expectativas e pressões, seja pelo público
interno a empresa, seja pelo público externo. Com a adoção das Normas Internacionais de
Contabilidade, as IFRS, o papel do controller passa a ser ainda mais crucial porque a ele é dada
a incumbência de julgar, apontar o que é justo ou não para uma situação. Assim, Iudícibus et al
(2010) comentam que o contador cada vez mais está no “centro dos interesses divergentes” e
que “está aí toda a beleza, todo o conflito e toda a dificuldade da profissão”.
Nesse sentido, Schmalenbach (1955) nos mostra,ao lado da perspectiva interna e externa da
organização, outra abordagem da análise de desempenho, que é a função social da empresa.
Eugen Schmalenbach é conhecido como o “pai” da contabilidade gerencial alemã” e economista
de formação, que por conta de seu trabalho e dos negócios da família teve que se envolver com
contabilidade. Schmalenbach (1955, p.39)1 disse o seguinte:

A nossa ideia de resultados precisa começar pela natureza de um negócio. O


negócio é uma parte da totalidade da vida econômica a que é chamado a
atuar para fazer parte de uma divisão de tarefas da economia como um todo,
como uma parte da economia que recebe matérias primas e serviços de vários
tipos e retorna para a economia, mercadorias ou serviços. Nesse processo,
deve produzir um valor adicionado, senão o negócio não estará contribuindo
para a economia como um todo – estará, ao contrário, consumindo-a. Aquilo
que é pego da economia geral é a despesa do negócio; aquilo que contribui
para a economia geral em mercadorias, serviços ou outros atos é a receita do
negócio. O resultado é a diferença entre receitas e despesas; sua determinação
é a tarefa da Contabilidade de negócios.

Schamalenbach (1955) é muito preciso e esclarecedor ao comentar que em uma demonstração


do resultado do exercício, as despesas são o que a empresa, como parte da sociedade, consumiu
dos fatores de produção disponíveis. E a receita é a remuneração por esse trabalho, que deve
sempre apresentar um valor adicional, que é o trabalho que essa empresa realizou pela sociedade.
Uma empresa que consome recursos da sociedade (despesas), mas que não consegue
transformar e entregar adequadamente algo para essa mesma sociedade e apurar um prejuízo,
estaria consumindo a sociedade, sendo nociva.
Apurar lucro (considerado aqui como o resultado honesto das operações, sem uma conotação
nociva ou gananciosa) é uma obrigação para a empresa. Dentro das normas Internacionais
de Contabilidade, as IFRS, exige-se atualmente que as empresas divulguem a chamada
“Demonstração do Valor adicionado”, que permite justamente observar qual o desempenho da
empresa ou o que ele de fato produziu para a sociedade.

1 Traduzido do inglês para o português por Prof. A. Saramelli.

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Mesmo assim, será que nossas empresas, a partir de um olhar social, estariam sendo realmente
eficientes? Ou a busca do lucro estaria mais ou menos como em um“esconder de poeira embaixo
do tapete”, criando uma situação que nos prejudicaria como seres humanos? Esse é justamente
um dos aspectos que mais vem sendo discutido nos últimos anos no meio empresarial. Se no
passado os consumidores estariam preocupados com o preço e a qualidade dos produtos, hoje,
cada vez mais, se preocupam com fatores ambientais. É o que nos diz França (2007, p. 15):

Qualquer líder empresarial que esteja no comando de umaorganização não tem


dúvida dos efeitos da pressão que essa competitividade exerce na rotina dos
negócios, tendo uma influência direta nas ações e decisões dos seus dirigentes
e indivíduos de uma maneira geral. Entretanto, há outra fonte de pressão
sobre as organizações que vem ganhando vulto nos últimos tempos a ponto
de hoje ser considerado um dos mais importantes temas presentes na agenda
dos executivos de alto e médio escalão, que é a questão do desenvolvimento
sustentável, da ética nos negócios e da responsabilidade social e ambiental
nas empresas. Essa pressão da sociedade para uma mudança de postura
das empresas em relação aos impactos que suas atividades exercem entre o
equilíbrio sociale ambiental do planeta tem como origem a constatação de
que, apesar de todo o progresso tecnológico e econômico que o mundo vem
tendo nos últimos anos, a humanidade não conseguiu resolver os problemas
mais sérios do ponto de vista ambiental e social.

Glossário
De acordo com o Relatório da ONU – Comissão de Meio Ambiente, Brundtland ou “Nosso
Futuro Comum”, desenvolvimento sustentável “é o desenvolvimento que atende às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações terem suas
próprias necessidades atendidas”.

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Você pode encontrar documentos sobre Meio Ambiente e sustentabilidade no site
da ONU Rio+20. https://goo.gl/ucHjGQ

A essa visão de França (2007) soma-se a de Klabin (2011) que afirma que no mundo empresarial
ainda não foi incorporado o conceito de “sustentabilidade” e dá mostras de que isso será muito
difícil de ocorrer. O ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, ao comentar o trabalho
do ambientalista Israel Klabin,disse, conforme prefácio de Klabin (2011, p. xiii):

Israel deixa claro que, do ponto de vista da arquitetura da nova


economia,“estamos fazendo a conta errada” por considerar as riquezas que
se somam no PIB, desprezando o esgotamento dos recursos naturais e o
aquecimento global.

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

O próprio autor Klabin (2011, p. 282) nos alerta quanto a um gravíssimo problema referenteà
falta de precificação dos fatores ambientais nos custos dos produtos:

O problema é a falta de precificação das externalidades ambientais e sociais.


As empresas não conseguem mensurar o valor de práticas sustentáveis. Sea
economia não mudar, qual o custo concreto num futuro próximo? Asempresas
que se adequarem agora a algo que só vai regular daqui a dez,vinte anos
estariam apostando no futuro, mas a concorrência se estabeleceno presente.
Os governos poderiam acelerar essa agenda. Se houverregulamentação, as
engrenagens podem funcionar. Caso contrário, vira voluntarismo.

Como parte do trabalho de avaliação de desempenho de uma empresa e suas interações


com a sociedade, surgiu a “Gestão Ambiental” e alguns modelos de gestão para lidar com
a problemática ambiental. Um desses modelos é o Tripple Botton Line, que segundo Laville
(2009)foi proposto por John Elkington, fundador da consultoria inglesa SustainAbility. O Tripple
Botton Lineveio da certeza de que foi entendido que o desempenho das empresas precisaria ser
avaliado de uma forma inovadora, diferente do que tínhamos até então. Criou-se um modelo
simples, que vai ao encontro do conceito de sustentabilidade e que faz um triplo balanço
econômico, social e ambiental e que pode ser observado na figura a seguir:

Figura: Representação gráfica do Triple Bottom line. Fonte: Laville (2009, p.193)

Indo ao encontro de Roslender e Hart (2003) e IASB (2009), para “fazer a contabilidade
gerencial ser mais estratégica” é importante observar qual é a situação competitiva da empresa,
que muitas vezes também já está envolvendo o aspecto ambiental, e observar quais os melhores
modelos de gestão para a ela, o que pode passar pela adoção de modelos de gestão ambiental
como o do Triple Bottom line.
Convido-o(a) a, no próximo tópico, estudar como os controllers se estruturam e lidam com a
avaliação do desempenho e investimentos.

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Estrutura para análise do desempenho e investimentos

O trabalho da Contabilidade é manter o capitalismo honesto.


Hans Hoogervorst (Presidente da IASB) repetindo a frase de Sir David
Tweedie , IAAER Conference 2012, Amsterdã – Holanda

Padoveze (2003, p. 279) comenta que durante a fase de execução das atividades,
previamente planejadas, os gestores se utilizam de modelos de gestão para suas decisões.
É a partir de modelos de gestão adequados que os gestores terão condições de atuar de
forma que suas decisões sejam “coerentes e em linha com a visão da empresa de obtenção
de lucro e eficácia empresarial”.
Nesse sentido, Padoveze (2003, p. 279) diz que as atividades caracterizam-se pelos fluxos
operacional, econômico, financeiro e patrimonial. Assim, esse autor enfatiza com entusiasmo:
“a gestão do fluxo operacional é o ponto-chave para a obtenção de lucros”.
A gestão dos fluxos das atividades é conhecida como “gestão do capital de giro”. Então,
ao lado dos planejamentos estratégicos e dos modelos de gestão, saber bem administrar o
capital de giro de uma empresa é imprescindível. É esse aspecto que os usuários externos da
contabilidade estão preocupados. Saber se os gestores dessa empresa estão sabendo lidar com
o capital de giro é umas das principais dúvidas e/ou desconfianças desses usuários externos
(nesse grupo de usuários estão os investidores) e ter um bom desempenho nesse sentido irá
aumentar a credibilidade e confiança nos gestores, mas se os resultados forem ruins, certamente
os gestores precisarão explicar , justificar e convencer os usuários externos que sua atuação é
benéfica para a empresa.
Padoveze (2003, p. 279) define da seguinte forma esses fluxos:

O fluxo operacional caracteriza-se pela operação técnica de cada especialidade, em termos de


produção física, controle e utilização dos recursos, transferências e entrega dos produtos e serviços
produzidos pela atividade, controle de qualidade, prazos de entrega etc.
O fluxo econômico evidencia a consequência econômica do processo produtivo, ou seja, a
mensuração econômica dos recursos e dos produtos e serviços.
O fluxo financeiro corresponde à efetiva realização monetária do fluxo econômico.
O fluxo patrimonial, ou resultado patrimonial, compreende a retenção final do fluxo completo das
atividades, em termos de unidades monetárias ou bens e direitos em estoque.

Um dos exemplos mais significativos de fluxo operacional no Brasil é o que vemos nas
empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro. Após a crise mundial do petróleo de 1973, provocada
pelos países produtores de petróleo da OPEP, o governo brasileiro tomou a decisão de incentivar
o chamado programa “Proálcool”, pioneiro programa para possibilitar que uma alternativa ao
petróleo fosse disponível para o mercado brasileiro. Desde então, centenas de empresas, de
fazendas a usinas de açúcar vem sendo implantadas no Brasil.

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Imagem: Foto aérea da usina de álcool da Odebrecht Agroindustrial em Costa Rica – MS.
Fonte: Costa Rica em Foco – Jornalista Luciana Aguiar DRT/MS 373

As empresas que operam no ramo de produção sucroalcooleira dependem da safra da cana


de açúcar. É o que nos explica Balla Sosnoski ( 2007):

A produção agrícola ocorre em algumas épocas do ano, como a cana


que tem sua colheita no início do outono, característica que determina
basicamente o comportamento dos preços desses produtos. Nas estações
comumente chuvosas do Brasil (setembro a março), a produção de cana
cai verticalmente, períodos este chamados de entressafra, aumentando nos
meses de abril a agosto, período de pouca chuva, que é o período de safra
da cana-de-açúcar. Os produtos agroindustriais, pois, são dependentes
do comportamento sazonal da oferta agrícola. A velocidade da produção,
das vendas e a formação de estoques estão de acordo com a velocidade
especificada pelas estações do ano.

Dessa forma, Slack et al. (1997), comentam que normalmente as empresas realizam um
planejamento de suas atividades de forma a que leve em conta a capacidade de lidar com as
flutuações sazonais da demanda.
Assim, para a definição do fluxo operacional e consequentemente dos fluxos econômicos,
financeiro e patrimonial, um controller de uma empresa do setor sucroalcooleiro certamente irá
usar a safra como uma base.

Você Sabia ?
No Brasil, normalmente as empresas publicam seus balanços anuais (exercícios contábeis)
respeitando o ano-calendário ou o ano gregoriano, ou seja, iniciando em 01 de janeiro e terminando
em 31 de Dezembro. Nas empresas do setor sucroalcooleiro, no entanto, as demonstrações
financeiro-contábeis normalmente iniciam em 30 de Abril.

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A análise de balanços para a avaliação do desempenho e investimentos

Uma das formas de avaliar o desempenho é pelo uso da análise de balanços. Uma entidade
ou empresa, como vemos em Schmalenbach (1955), faz parte da economia como um todo,
e a economia está sujeita a diversas condições que desafiam os gestores que, além de se
preocupar com a eficiência e a eficácia das atividades internas da entidade, também precisam
se preocupar com as conjunturas da economia e da vida em sociedade em geral. É importante
avaliar como os gestores lidam com essas questões, como reagem a adversidades e a qualidade
de sua gerência como um todo.
Como exemplos, no ano de 2011 a empresa brasileira do setor químico Braskem enfrentou
duas conjunturas que afetaram sua operação, que vinha de uma tendência de lucratividade para
prejuízos expressivos: A desaceleração da demanda mundial em decorrência da crise econômica
mundial de 2008-2010 e o aumento nos preços das matérias primas. O resort hoteleiro Costa do
Sauípe enfrentou em 2011 um surto de meningite que levou à morte de 3 pessoas, durante a
realização da décima edição do “Sauípe Folia”, uma dos principais eventos organizados no local.
Em uma avaliação de desempenho justa é necessário entender que situações como essas
enfrentadas pela Braskem e pelo Complexo de Sauípe estão fora do alcance da agência de seus
administradores. Porém, afetam os negócios, e é importante avaliar como os gestores agiram.
Padoveze (2003, p. 423) a esse respeito comenta que a Análise Financeira ou de um balanço
é um “processo de meditação sobre os demonstrativos contábeis, objetivando uma avaliação da
situação da empresa em seus aspectos operacionais, econômicos, patrimoniais e financeiros”.
Dessa forma, Padoveze (2003, p. 429) enfatiza que o analista avalia a entidade, detectando os
pontos fortes e fracos do processo operacional da mesma, utilizando alguns cálculos matemáticos
e traduzindo-os em “Indicadores”. Nessa análise, é importante observar a comparabilidade e
tendências da seguinte forma:
- Comparação com períodos passados.
- Comparação com períodos orçados.
- Comparações com padrões setoriais.
- Comparações com padrões internacionais.
- Comparações com padrões internos da empresa.
- Comparações com empresas concorrentes, etc.

Analistas de bancos norte-americanos, e posteriormente em diversos outros países,


desenvolveram um ferramental tradicional de análise de balanços que segundo Padoveze (2003,
p. 429) compõe-se de:
- Análise vertical
- Análise horizontal
- Indicadores econômico-financeiros
- Avaliação Final

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Marion (2005) acrescentou a esses ferramentais três níveis de análise ou de extensão de análise:
- Introdutório
- Intermediário
- Avançado

Estudaremos esses ferramentais, mas antes devemos nos fazer a seguinte pergunta: É possível
analisar balanços e julgar a qualidade de uma gestão por meio deles sem cometer injustiças?

Evolução do Pensamento Contábil


Para responder a essa pergunta, precisamos conhecer rapidamente como se deu o
desenvolvimento da evolução do pensamento contábil. Sá (1997) nos diz que o contador
Giuseppe Cerboni, que viveu entre 1827 e 1917, lançou a “teoria personalista”, em quese
entende que as contas contábeis tem uma personalidade. Com Cerboni, a contabilidade passa
a ser reconhecida como ciência e não uma “arte de registro do ter e do contar”. Até então,
prevalecia na contabilidade a “Teoria Contista”, cuja preocupação dos contadores era o registro
das contas.
Posteriormente, como nos diz Sá (1997), Fábio Besta, que viveu entre 1845 e 1922, trouxe
a ‘Teoria Controlista”, onde a contabilidade passou a ser usada como forma de controle. Fábio
Besta entendia que a contabilidade tem a missão de atender três fases:
a) Estabelecer um ponto de partida para tornar possível a análise dos resultados da gestão;
b) Acompanhar a gestão evidenciando os fatos ocorridos que julgar o trabalho administrativo;
c) Demonstrar os resultados finais da administração econômica para a devida aprovação ou
rejeição da gestão.

Ou seja, as ferramentas de análise de balanços que iremos estudar agora muito, mais do
que um exercício matemático isolado, representam uma análise científica dos atos da empresa
e consequentemente de sua gestão. É possível, dessa maneira, apontar de forma justa e com
referencial científico modificações no patrimônio que ocorreram sob a responsabilidade dos
gestores, aprovando ou rejeitando-as.

Análise de Indicadores econômicos e financeiros


A primeira pergunta que devemos fazer é: O que é um indicador econômico e financeiro?
Segundo Marion (2005), os índices são “relações que se estabelecem entre duas grandezas”.
Assim, esse autor exemplifica da seguinte forma:

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Imaginemos que em uma empresa temos no Balanço Patrimonial os seguintes saldos nos grupos:
• Ativo circulante - $ 396.420
• Passivo circulante - $ 198.210

Para analisar a relação entre duas grandezas existentes no ativo circulante e no passivo
circulante, podemos dividir um grupo pelo outro, o que nos dá a seguinte fórmula:

Ao adicionar os dados da empresa, teremos os seguintes valores, em comparação da conta


A em relação à conta X:

O quociente dessa divisão nos dará o quociente = 2


Esse quociente nos diz que para cada um real2 de dívida que a empresa mantém no Passivo
circulante, há um real de recursos disponíveis no Ativo circulante, ou seja, uma situação
aparentemente confortável para a empresa.
Uma segunda pergunta que devemos fazer quanto aos indicadores é: É possível usar os
mesmos indicadores para avaliar empresas de porte e que estão em ramos de atuação, na
economia, diferentes?
Para responder a essa pergunta, peço para que você observe a seguinte foto:

Figura: Trânsito na Marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo


Fonte: Maurício Camargo/03.fev.2012/News Free/AE
2 Na verdade uma unidade monetária, pode ser qualquer moeda nacional.

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Observe que nessa foto há carros e ônibus de diferentes tamanhos e modelos e uma
motocicleta. Todos estão trafegando na mesma avenida. Se analisarmosa velocidade em que
esses veículos estão trafegando, podemos dizer que a moto e o ônibus estão (veja bem ao
centro da imagem) na mesma velocidade. Sabe-se que uma motocicleta é um veículo mais ágil
e que consegue trafegar a velocidades superiores a de um ônibus com facilidade, no entanto,
ambos estão limitados a uma determinada velocidade de acordo com as regras de trânsito
estabelecidas para essa avenida.
Assim, é correto analisar que apesar de serem veículos de porte e tamanho diferentes, ambos
estariam atuando nas mesmas condições e o aspecto “velocidade” pode ser medido igualmente
para os dois. Com os índices utilizados na análise de balanços temos o mesmo!
Há vários índices, sendo que, segundo Padoveze (2003, pp. 435-437), eles são reunidos nos
seguintes grupos:
• Indicadores de Capacidade de Pagamento
• Indicadores de Atividade
• Indicadores de Rentabilidade
• Análise de Preços e Retornos de Ações

E como vemos em Paiva (2003) embora ainda em uma fase experimental, inicial:

- Indicadores de Desempenho Ambiental


Conforme estudamos, Marion (2005) define três níveis de análise. Agora, vamos estudar o
nível básico.
Apesar do nome, o nível básico nos mostra três situações nas empresas que atraem grande
parte das preocupações dos usuários da contabilidade, e uma análise usando apenas os índices
que estão nesse nível básico já nos dá condições de obter conclusões de alta qualidade. Os
outros níveis, intermediário e avançado, utilizam ferramentas mais sofisticadas de análise.
A seguir, uma figura com o nível básico ou Tripé de análise, conforme proposto por Marion (2005):

Figura: Nível Básico – Tripé da Análise. Fonte: Marion (2005)

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Análise de Liquidez
Segundo Silva (2008, p. 283), os indicadores de liquidez “fornecem um indicador da
capacidade daempresa de pagar suas dívidas, a partir dacomparação entre os direitos realizáveis
eas exigibilidades”. Temos basicamente quatro indicadores de liquidez:

Liquidez geral
Quanto a empresa possui em dinheiro, bens edireitos realizáveis a curto e longo prazos,
parafazer face as suas dívidas totais.

Fórmula: (ativo circulante + ativo não circulante) ÷ (passivo circulante + passivo não circulante)
Interpretação: quanto maior, melhor

No índice de liquidez geral, temos uma análise ampla da liquidez da empresa, considerando
ativos e passivos de curto e longo prazos. Porém, podemos ter diferentes níveis de desconfiança
ou conservadorismo em uma análise, conforme segue:

Liquidez corrente
Este índice nos mostra como está a liquidez da empresa em curto prazo.
Para Silva (2008, p. 286), “indica quanto a empresa possui em dinheiromais bens e direitos
realizáveis no curto prazo,comparado com suas dívidas a serem pagas nomesmo período”.

Fórmula: ativo circulante ÷ passivo circulante


Interpretação: quanto maior, melhor.

Liquidez Seca
Podemos ser ainda mais conservadores ou pessimistas em relação à situação da empresa, e
imaginar uma hipótese dessa empresa não conseguir vender nada no mercado. Como ficaria a
liquidez dessa empresa?
Este índice é igual ao índice de liquidez corrente, porémexclui do ativo circulante os estoques.

Fórmula: (ativo circulante – estoques) ÷ passivo circulante


Interpretação: quanto maior, melhor.

19
Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Liquidez Imediata
Segundo Silva (2008, p. 180) esse indicador mede o volume de valores disponíveis
(caixas,bancos, aplicações de curto prazo) mantido pelaempresa para atender as suas
exigibilidades mais imediatas.

Fórmula: (disponibilidades) ÷ passivo circulante


Interpretação: quanto maior, melhor.

Endividamento
O endividamento é um aspecto difícil para analisar. Como regra geral, nenhum endividamento
é bom, porém, apesar desse conceito que a sociedade nos impõe, há situações em que um
endividamento pode ser muito benéfico para a entidade e fomentar, ou, como se diz no jargão
financeiro, “alavancar” a empresa.
Vamos estudar um desses índices, que mede a composição do capital próprio da empresa, ou
seja, o Passivo Circulante + Passivo Não Circulante sobre o capital próprio. No jargão financeiro
essa é a “estrutura do capital”.

Fórmula: Capitais de Terceiros÷Patrimônio Líquido


Quanto à empresa tomou de Capitais de Terceiros para cada $ 1,00 de capital próprio investido.
Interpretação: quanto menor, melhor.
Entendimento geral: As empresas devem sempre ter um índice de endividamento inferior a 1.

Esses dois índices nos trazem uma avaliação sobre a qualidade da empresa sobre a sua
capacidade de saldar dívidas e a qualidade do seu endividamento. Porém, segundo Matarazzo
(2003, p. 389) o maior interesse de muitos dos usuários externos da contabilidade, e
principalmente de investidores, são os indicadores de Rentabilidade, que “indicam a margem
de lucro (rentabilidade), de retorno do capital investido e a velocidade das operações realizadas.
Considera-se que a análise de rentabilidade é o principal relatório baseado nas demonstrações
financeiras de que podem fazer uso os dirigentes de uma empresa”. São os seguintes índices:

Giro do ativo
Segundo Silva (2008, p. 235), estabelece relação entre as vendas do período e os investimentos
totais efetuados na empresa, que estão representados pelo ativo total médio.

Fórmula: vendas líquidas ÷ ativo médio


Interpretação: quanto maior, melhor.

20
Margem líquida
Silva (2008, p. 237) compara o lucro líquido em relação às vendas líquidas do período,
fornecendo o percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação ao seu faturamento.

Fórmula: (lucro líquido ÷ vendas líquidas) x 100


Interpretação: quanto maior, melhor.

Rentabilidade do ativo
Segundo Matarazzo (2003, p. 179) é “quanto a empresa obteve de lucro líquido em relação
ao ativo”.

Fórmula: (lucro líquido ÷ ativo médio) x 100


Interpretação: quanto maior, melhor.

Rentabilidade do patrimônio líquido


Este índice é o que mostra efetivamente se o acionista se beneficia dos bons resultados
alcançados pela empresa.

Para Iudícibus (2010), este índice “expressa os resultados globais auferidos pela gerência na
gestão de recursos próprios e de terceiros, em benefício dos acionistas”.

Fórmula: (lucro líquido ÷ patrimônio líquido médio) x 100


Interpretação: quanto maior, melhor.

Após o tripé de análise, Marion (2005) propõe um nível intermediário de análise. Observe
que esse nível intermediário nada mais é do que o nível básico que é expandido para uso de
outras ferramentas de análise mais sofisticadas, como o método Du Pont, conforme pode ser
observado na figura a seguir:

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Figura: Nível Intermediário – Tripé da Análise. Fonte: Marion (2005)

E Marion (2005) sugere ainda um terceiro nível avançado, em que são realizados os seguintes
aprofundamentos:
• indicadores combinados;
• análise da demonstração do valor agregado;
• projeções das demonstrações contábeis e sua análise;
• análise com ajustamento das demonstrações contábeis no nível geral de preços;
• outros modelos de análise EVA, MVA, Balanced Scorecard etc.

Análises Horizontal e Vertical


Padoveze (2003, pp. 429-430) comenta que análise vertical é “a análise de participação
percentual ou de estrutura de elementos dos Demonstrativos Contábeis”. Nessa análise
considera-se que algum elemento patrimonial (ativo, passivo) como 100% de um determinado
elemento patrimonial. “Convencionou-se considerar 100% o total do ativo e do passivo” e para
a demonstração de resultados “convencionou-se adotar 100% o valor do total da receita de
vendas, líquida dos impostos”.

22
Já para a análise Horizontal, Padoveze (2003, p. 431) mostra que é “uma análise de
crescimento ou de variação”. Para essa análise, “tomam-se como base todas as contas de um
determinado período e se faz uma relação percentual em cima dos dados desse período. O
novo número relativo indica quanto o dado do período subsequente é maior ou menor que do
período anterior. Como é comum serem utilizados vários períodos, a variação sequencial acaba
indicando uma tendência de crescimento (ou diminuição).
Como um exemplo de aplicação do conceito de análise horizontal e vertical, vamos analisar
a Demonstração de Resultado da empresa Embraer S.A. (consolidado), a seguir:

Figura: Demonstração do Resultado da Embraer S.A (Consolidado)


Fonte: Adaptado de Embraer (2012) – Detalhe. Figura preparada pela autora.

Realizando uma análise horizontal, observe que a conta de Lucro Líquido do Exercício teve
uma queda nos três anos demonstrados. De 2009 para 2010, o lucro líquido teve uma queda de
36 %. De 2010 para 2011, teve uma queda de 71%. Se considerarmos a variação entre 2009 e
2011, teremos 82 % de queda. Isso mostra uma tendência de queda na lucratividade da empresa.
E agora realizando uma análise vertical, se considerarmos a participação do lucro líquido do
exercício nas Receitas líquidas, temos 1,75% de participação. Ou seja, das receitas, resultou-se
em 1,75% de lucro, menor do que nos anos anteriores. Em 2010 essa participação foi de 6,40%
e em 2009 8,62%.

Trocando Ideias
Procure na imprensa o que os jornalistas e executivos da empresa disseram a respeito desse resultado
e o que foi feito a partir de então.

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Indicadores de Desempenho Ambiental


Paiva (2003) sugeriu alguns índices para serem usados em empresas que mantém contabilidade
ambiental. Trata-se ainda de uma proposta, mas o autor comenta que se várias empresas
passarem a calcular e divulgar os índices a seguir, certamente muito em breve serão tão úteis
para análise como os índices tradicionais. Com fim apenas de conhecimento, demonstra-se
esses indicadores no seguinte quadro:
Quadro: Indicadores de Desempenho Ambiental

Índice Formulação Relação causal Reflexo


Indica a proporção
Investimentos em
entre ativos ambientais Reflete o posicionamento
Investimentos prevenção
adquiridos no período da empresa frente à questão
ambientais gerais
e os ativos totais da ambiental, de forma ampla.
Ativos totais
empresa.
Investimentos Revela a evolução
Investimentos Demonstra a preocupação com
em prevenção dos investimentos em
ambientais a qualidade de seu parque
prevenção em relação
operacionais fabril.
Ativo imobilizado ao seu parque fabril.
Diminuição do Mostra o percentual
Reflete o grau de cuidado com
patrimônio dos Perdas ambientais de patrimônio que
as operações, assim como o
acionistas em está sendo diminuído
reflexo direto na alteração do
decorrência de Patrimônio líquido em função de perdas
patrimônio.
fatores ambientais ambientais.
Relaciona o quanto, em
Perdas ambientais termos percentuais, às Reflete o grau de
Perdas ambientais
perdas sobre os bens e conscientização mediante
da empresa
Ativo total direitos que a empresa desastres ambientais.
dispunha no período.
Indica o quanto os Demonstra os investimentos da
Custos ambientais
custos ambientais empresa na qualidade ambiental
Custos ambientais
apropriados no período de seus produtos e como
operacionais Receitas
representam das essa relação pode afetar seu
operacionais
receitas operacionais. resultado.
Demonstra o quanto
Despesas
foi consumido de Revela a relação entre a
Despesas ambientais
despesas, favorecendo conscientização ambiental da
ambientais e as
o meio ambiente na empresa e suas atividades de
operações Receitas
geração de receitas comercialização.
operacionais
operacionais.
Gastos totais com Reflete como a empresa está
prevenção Relaciona os gastos em administrando seus gastos
Prevenção e valor
prevenção com o valor na prevenção de problemas
adicionado gerado
Valor adicionado adicionado total. ambientais face ao valor
total adicionado por suas operações.
Gastos com remediação Indica a relação Revela a postura da empresa
Remediação e
entre remediação e em sua relação com o meio
prevenção Gastos com prevenção prevenção. ambiente.
Fonte: Paiva (2003 p. 136)

24
As avaliações do desempenho da empresa no mercado ou na economia e sociedade em
geral posteriormente são estratificadas, repartidas pelo controller para cada área de atuação
da empresa. Todos são responsáveis pelos resultados da empresa e em alguns casos recebem
bônus ou prêmios pelos bons resultados alcançados.

Você Sabia ?
As empresas brasileiras normalmente negociam com os funcionários e sindicatos Programas
de participação nos resultados e lucros, conhecidos pela sigla PLR. O controller também tem
grande participação na qualidade da condução desses planos.

É claro que é necessário estabelecer de forma muito clara a responsabilidade de cada um.
Para isso, criam-se centros de responsabilidade. Cardoso, Mário e Aquino (2007, p. 220) citam
a definição de centros de responsabilidade de Anthony e Govindarajan (2002, p.84):

As unidades da organização, que são o cerne do processo de controle


gerencial. Um centro de responsabilidade é uma unidade de organização
supervisionada por um executivo responsável por suas atividades. [...] Todos
os centros de reponsabilidade têm saídas, isto é, liberam alguma coisa, e têm
entradas, isto é, consomem recursos. Podem ser classificados quanto suas
entradas e saídas em quatro tipos: Centros de receita, centros de despesas,
centros de lucros e centros de investimento.

Assim, Cardoso, Mário e Aquino (2007, p. 220) classificam os centros de responsabilidade


em quatro tipos:
a) Centro de custo (ou gasto);
b) Centro de receita;
c) Centro de resultado;
d) Centro de investimento.

Para todos esses centros de responsabilidade, o Controller poderá montar relatórios


personalizados. Poderá, por exemplo, formar uma DRE para cada um deles, evidenciando ao
gestor qual foi sua participação em particular no resultado total da empresa.
O centro de resultado, segundo Cardoso Mário e Aquino (2007, pp. 220-234), são centros
onde apenas se apuram os custos. No centro de receita, controlam-se as receitas do departamento,
mas não se controlam os gastos e o nível de investimento.
Os centros de resultado são os centros de reponsabilidade que controlam os gestores, que
controlam as despesas e receitas dos produtos (bens e serviços) que produzem. Aqui, temos
gestores que têm a possibilidade ou o poder de decidir sobre que despesas irão consumir
e que receitas conquistar (no centro de custo, os gestores apenas consomem gastos, não
têm possibilidade, por exemplo, de decidir questões como quantidade de trabalhadores, que
matéria prima comprar, etc.).

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Já os centros de investimento, ainda de acordo com Cardoso Mário e Aquino (2007, p.


234), são “quando os gestores têm as responsabilidades descritas para os centros de resultado e
também têm responsabilidade e autoridade para decidir sobre o capital de giro e os ativos físicos
investidos no centro”.
Dentro, então, desse processo de avaliação de resultado por departamento, ou pela
responsabilidade de cada gestor, Padoveze (2003, p. 428) traz o esquema de um processo geral
das avaliações, extraído de Parisi e outros:

Figura: Esquema do processo geral de avaliação de resultado e de desempenho.


Fonte: Padoveze (2003, p. 428) apud Parisi e outros (1999)

Finaliza-se este estudo, sempre lembrando que todo esse processo costuma gerar muitos
interesses divergentes, para os quais o controller deve sempre ter uma posição ética e neutra.

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Material Complementar

O Artigo “Governança Corporativa e Desempenho nos Ambientes Institucional,


Legal e Culturalbrasileiros” traz um interessantíssimo estudo, ligando o desempenho
empresarial às políticas de governança corporativa. Um assunto muito importante, sobretudo
nas sociedades anônimas, mas que não foi abordado no roteiro de estudos do nosso livro.
Recomenda-se a leitura!
Autores:
Roberto Do Nascimento Ferreira. Elaine Aparecida Araújo, Patrícia Almeida Ashley, Antônio
Carlos Dos Santos, Reinaldo Aparecida FonsecA
Resumo:
O ambiente institucional brasileiro possui características próprias, com raízes no
desenvolvimento econômico e na cultura empresarial, representando obstáculos às mudanças
institucionais. Grandes empresas nacionais ainda retêm valores aristocráticos e mentalidade
tradicional em suas organizações. Embora exista a necessidade de adotar novas estratégias,
as organizações relutam em implementá-las, porque isso requereria uma mudança nos valores
e expectativas. A cultura e a ideologia ajudam a explicar a manutenção do status quo de
alguns grupos, como também podem explicar a emergência de outros grupos de interesses,
como exemplo os acionistas minoritários. No entanto diversas mudanças vêm ocorrendo no
ambiente organizacional, como consequência de um maior apelo por transparência, equidade
e accountability por parte dos investidores. Uma boa estrutura de governança corporativa
é a resposta que as empresas podem dar ao mercado. A adoção de padrões de governança
corporativa pode representar uma condição que venha influenciar em um melhor desempenho
organizacional. Adotar as práticas de governança corporativa não é um fato isolado no contexto
das organizações. Deve-se considerar a influência da cultura e do ambiente institucional/
legal. Considerando que o atual ambiente organizacional é complexo e sujeito a mudanças
constantes, uma estrutura de governança corporativa representa uma resposta aos investidores
e demais partes interessadas na empresa. Além do mais, estabeleceu-se que uma estrutura de
boa governança diferencia a empresa no mercado. Assim, grande parte das pesquisas sobre
governança corporativa tem trabalhado com o objetivo de buscar uma resposta para a relação
entre governança corporativa e a melhora no desempenho.
Palavras chave: governança corporativa, desempenho, cultura, ambiente institucional, empresas.

O artigo completo está disponível on-line em: https://goo.gl/bQx4XX

27
Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

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Unidade: Avaliação de Desempenho e Investimentos

Anotações

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