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Os escribas tinham um importante papel para o alto clero: tornar acessível às obras
consideradas o modelo de escrita, traduzindo-as do latim para o romano. Os homens da igreja
usavam personagens dessas obras para exemplificar a moralidade ao ensinar.
Durante das traduções, acontecia de algumas vezes os escribas modificarem o texto, para
satisfazer quem recomendou a tradução. Um escriba chamado Benedito de Sainte-Maure
traduziu um texto onde as três ordens foram proclamadas: A Cavalaria, os Clérigos e os Vilões.
Os vilões eram os trabalhadores que moravam em locais mais abastados (vilões, deriva de
vilarejos, vilas).
Duby chama a atenção para o fato de que dentro dessa divisão os monges não aparecem,
e também para o fato de que a cavalaria não era beneficiada com privilégios por sua função
guerreira, mas por sua função dentro da ordem: manter a paz e a justiça. Segundo o autor,
Benedito não vai se preocupar em dizer que sem a classe trabalhadora, as outras duas ( o clero
e a cavalaria) não existiriam, considerando que naquele tempo a compensação do sofrimento
para o trabalhador, era a de se sentir útil ao seguir a sua função dentro da ordem: a de
sustentar as outras duas ordens. A tripartição servia para justificar as posições ocupadas
pelo clero e pela cavalaria.
A figura do abade era também de grande importância, já que este era quem descrevia a
ordem ideal para a sociedade terrestre. Naquele tempo, acreditava-se que a divisão feita na
terra era a reflexão do mundo divino, no entanto, com a fixação da lei humana, o abade vai
“perder” o seu papel de “profeta”, sendo que a ideia de uma providencia divina deixa de ser
suficiente para explicar a divisão das três ordens.
O príncipe assume então a palavra de ordem, sendo ele agora, o responsável por garantir
que o sistema senhoril funcione. O príncipe deverá se mostrar que protege as barreiras que
separam as três ordens, e para isso ele deve ouvir somente os conselhos dos “gentis”
cavaleiros e dos “sages” integrantes do clero, nunca ouvir conselhos de servos, para não
confundir as ordens. Caberá a ele também, zelar para que os trabalhadores não se afundem
tanto na miséria, e que o clero e os cavaleiros não fiquem pobres, fazendo a distribuição dos
produtos da exploração senhoril, mantendo o equilíbrio responsável pela perpetuação do
sistema senhorial, essa era função de justiça que eles tinham na época.
A cavalaria vai ser vista como uma extensão monárquica, conciliando no dever do senhor
em manter três ordens, para que o senhorio funcione corretamente, castigando aqueles que
querem deixar sua ordem e “virar o jogo”, se libertando de impostos.
Essa laicização vai marcar a passagem em que o sistema divino deixa de ser uma
expressão do divino e passa a ser uma expressão a serviço da corte: a oração, as armas e o
abastecimento.
O príncipe vai se tornar autoritário, varrendo tudo o que se opunha a sua vontade. Agora
as três ordens servem a autoridade de um príncipe. Esse príncipe, que não recebeu de Deus,
através do sacramento, o controle dos poderes que exerce que por vez deseja se libertar da
influencia do clero. Segundo Bretão de Amboise, o príncipe não precisa parecer “piedoso”
como acontece com os reis, não precisando que ele se feche no meio dos padres.
Resumindo: Duby vai focar na interpretação que as pessoas tinham do mundo. Para isso
vai estabelecer a importância dos escribas, e com isso vai iniciar uma analise de uma das
traduções de Benedito de Sainte-Maure, onde este vai defender a divisão das três ordens
(afinal Benedito também pertencia ao clero). Benedito dará destaque à cavalaria, porque essa
era a ordem mais próxima do rei, até mais do que o clero, podendo ser afirmado que os
cavaleiros eram o braço direito do príncipe, dando exclusivamente a eles o caráter de manter a
justiça e a paz, sendo essa cavalaria obediente ao príncipe. Eram eles a peça chave que
mantinha a ideologia da trifuncionalidade.