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CONTEXTUALIZAÇÃO
DA ÉTICA NO COLETIVO
A RELAÇÃO DA ÉTICA
COM AS OUTRAS CIÊNCIAS
O PAPEL DA MORAL E DA
ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES
CONTEXTUALIZAÇÃO DA
ÉTICA NO COLETIVO
Prof. Andrei Bosco Freire
APRESENTAÇÃO
Nesta parte do curso, vamos avançar no estudo sobre a moral. Você deve estar pensando
que já falamos nisso em módulos anteriores. Exatamente! Aprendemos que a moral esta-
belece normas, que se revestem de caráter obrigatório. Além disso, você aprendeu que
o ato moral só existe socialmente, e que a raiz da moral está no campo dos valores, que
são os significados que atribuímos a algo. Essa atribuição de significado começa desde o
nosso primeiro núcleo social: a família, na qual temos nossos primeiros modelos.
A partir de agora, veremos como a ética se relaciona com a religião e com algumas ciên-
cias, como filosofia, sociologia, psicologia, antropologia, dentre outras. Vamos considerar
também os deveres éticos na família, na comunidade, na sociedade, no ambiente de
trabalho. Além disso, analisaremos os fatores motivadores quanto à ética organizacional.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de:
• Identificar a relação da ética com outras ciências;
• Compreender os principais deveres éticos no grupo familiar;
• Compreender o papel das normas morais e do trato social na vida em sociedade;
• Descrever o papel da moral e da ética na vida das organizações.
REFLITA
Pare um pouco e pense sobre o pecado original. O que você já ouviu dizer sobre esse assunto?
O antigo livro do Gênesis relata a introdução do mal no mundo pelo pecado original,
quando Adão e Eva, induzidos pela serpente, desejaram ter seus olhos abertos e ansiaram
poder dispor do conhecimento divino. Desde os registros mais remotos do processo inte-
lectual humano, encontramos o questionamento primário sobre a origem, o destino e a
razão de nossa existência, como se o homem precisasse justificar sua presença, sempre
em busca de um ponto referencial que os conduzisse à felicidade, discutindo as forças
antagônicas que caracterizam nossa existência: o bem e o mal.
REFLITA
Na relação ética e religião, coloca-se o famoso dilema: os mandamentos são bons porque
Deus os prescreve ou Deus prescreve-os porque são bons?
Ao contrário dos outros animais, o Homem vem ao mundo por fazer e tem de fazer-se,
realizar-se a si mesmo. Logo, a exigência moral não surge do fato de se ser crente ou ateu,
mas da condição humana de querer ser pessoa humana autêntica, plenamente realizada.
De fato, se aceitarmos, como é o caso da perspectiva cristã, que Deus cria por amor, o
que é que Deus pode querer e mandar senão precisamente a adequada e plena realização
da pessoa humana? Na criação por amor, o único interesse de Deus só pode ser o Homem
vivo, realizado e feliz.
A ética está inseparavelmente ligada à religião, pois não há religião que não
apresente preceitos éticos. Budista, cristã, taoísta, hinduísta, muçulmana, Ímpios
Contrário à religião, que ofende
animista, toda linha de crença tem seus mandamentos de boa conduta, em os pais, a moral, a justiça.
alguns casos especificando formas de proceder em relação aos fiéis e em
relação aos “ímpios”.
A moral de inspiração religiosa impõe observância aos mandamentos, pois é imoral desa-
tendê-los. Provido de livre arbítrio, o ser humano pode escolher entre o bem e o mal.
Nenhuma religião deixa de impor sua ética a seus crentes. E esses preceitos éticos, de
base religiosa, serão ecoados no Direito Natural, geralmente ordenado a partir do princípio
de amor a Deus e ao Próximo.
Conforme diz a Bíblia, Jesus é muito enfático com a chamada Regra de Ouro: “Tudo aquilo que
quereis que os homens vos façam, fazei-o também por eles” (Mt 7:12). Dessa forma, pode-
mos concluir que “ao contemplar o amor como a mais importante das virtudes, o Cristianismo
reconhece que somente precisa de moral quem não tem amor” (NALINI, 2008, p.87).
A ÉTICA E AS CIÊNCIAS
A Ética e a Filosofia
Quando o ser humano começou a investigar de maneira mais sistemática o mundo ao
seu redor, todas as especulações de busca do conhecimento das leis que regem os fenô-
menos ficavam sob o “guarda-chuva” da filosofia, e foram recebendo nomes específicos
à medida que o conhecimento sobre seu objeto de estudo e seus métodos se tornavam
mais específicos.
REFLITA
Agora que já avançamos em nosso estudo, pense:
O que é mais importante: a ética ou a moral?
As duas coisas, claro, são indispensáveis. Sem moral, a convivência é impossível. Sem
ética, é infeliz e lamentável. Diz-se que quem age moralmente (por exemplo, não mentin-
do, não roubando, não matando etc.) faz o mínimo e não tem mérito; mas quem não age
moralmente deixa de fazer o mínimo e tem culpa (por isso pode ser punido). Por outro
lado, quem age eticamente (sendo generoso, corajoso, perseverante etc.) faz o máximo e
tem mérito, mas quem não age eticamente, apenas faz menos que o máximo e deixa de
ter mérito, mas sem ter culpa (por isso não pode ser punido, mas, no máximo, lamentado).
Agora que você já compreendeu a diferença entre ética e moral, vamos avançar para o
estudo de outro tipo de ética. Fique atento!
A Ética e a Psicologia
Por um lado, o indivíduo quer submeter-se à moral para poder viver em sociedade e
civilizar-se. Por outro, ele reluta fortemente em fazê-lo, pois tal submissão implica perda
da liberdade em busca de saciar seus desejos.
A ética molda, ensina, orienta, exige dos homens que se transformem em sujeitos morais
historicamente determinados. O homem é arremessado num mundo que ele não escolheu,
é um ser-no-mundo, incompleto, inseguro e com o desafio de desenvolver, construir um
modo de ser e de existir nele. A Psicologia possibilita um diálogo e um estudo de questões
éticas e morais. Morais no sentido de nos questionarmos sempre sobre o que é certo e o
que é errado.
REFLITA
A pessoa já nasce com um censo ético?
A pessoa não nasce ética. O ser ético vai se construindo por meio de seu desenvolvi-
mento bio-psico-social, ou seja, a condição de vir a ser ético passa pelo desenvolvimen-
to da sua personalidade. Um indivíduo pode ser considerado ético quando possui uma
personalidade bem integrada, ou seja, tenha maturidade emocional que permita lidar com
situações conflitantes, que tenha vida interior equilibrada e um bom grau de adaptação à
realidade do mundo. A maturidade emocional seria a capacidade de uma elaboração de
desejos e fantasias infantis da pessoa que favoreçam uma transformação e um desenvol-
vimento da sua personalidade.
As normas para vestir-se, tratar os estranhos ao grupo, casar-se, construir e usar moradia,
dia,
dispor do alimento traduzem as necessidades do grupo em certo momento histórico (fatosatos
geradores) e se mantêm enquanto o grupo considerar que satisfazem as suas necessidades.
es.
Para facilitar sua compreensão, veja a seguir alguns exemplos dessa situação.
Não é considerado adequado, por exemplo, andar pela rua em trajes menores ou
adâmicos, mesmo que o calor esteja perto dos 40°C. Matar um idoso ou enfermo
hoje é inadequado, mas isolar aquele que está sem trabalho formal é tido por normal.
A Ética e a Economia
Vivemos numa era em que o mercado é o regente, a economia dita as regras e impõe o
ritmo e as escolhas para a humanidade. O acúmulo de bens materiais é visto como indi-
cação de prestígio, como medida para valorização do indivíduo perante o grupo.
A Ética e o Direito
Não é preciso um esforço muito grande para perceber que os códigos legislativos, dee
uma forma geral, têm um forte enraizamento moral. Todo sistema jurídico é baseado o
no respeito entre as pessoas e na ideia de limitar a atividade própria para tornar
possível o exercício da atividade alheia (o direito de um acaba onde começa o
direito do outro). Esse soberano imperativo ético é pressuposto da reciprocidade
e da equidade que fundamentam qualquer ordem jurídica.
Todo crime é também falta de moral? Quase sempre, ao violar as regras vigentes na
comunidade, subvertendo o pacto de convívio, o infrator percorrerá, necessariamente,
ente a
área reservada à moral. Raro é o delito que escape à aferição de compatibilidade com
parâmetros morais. Veja algumas situações consideradas inaceitáveis:
ATENÇÃO
O julgamento é uma opção ética, pois uma solução juridicamente correta poderá ser discutí-
vel do ponto de vista ético.
Como diz José Renato Nalini (2008, p.147): “O direito, desprovido de ética, é solução
ilusória para as questões humanas”.
A seguir, vamos ampliar nosso conhecimento sobre a ética nas questões que envolvem
o coletivo. Aguardamos você no próximo tópico para conversamos sobre esse assunto.
A partir deste momento, vamos analisar o fundamento da família e a relação afetiva entre
seus membros. Dessa forma, ela orienta condutas voltadas para a preservação do grupo.
O apoio recíproco do convívio familiar é dever ético, assim como: o respeito mútuo; a
preservação da privacidade; a não-ridicularização dos familiares do cônjuge; o não-menos-
prezo à profissão, atividades, hobbies, medos, angústias e preocupações do outro; o repú-
dio à humilhação, ao vexame, à rispidez, indiferença, desinformação, traição, comparação
depreciativa e a outras formas de constrangimento.
IMPORTANTE
No ambiente familiar é que se inicia a construção moral do sujeito, mostra-se de importância
capital nesse ambiente a percepção e vivência dos deveres éticos. Portanto, o ser humano
se educa por observação de modelos. É na família que ele terá os primeiros e mais marcan-
tes modelos que lhe servirão de parâmetro na construção de sua percepção de mundo, aí
incluído o trato social.
Dessa forma, podemos afirmar que, a partir do grupo social básico: a família, as pessoas
constituem grupos de abrangência e complexidades crescentes, até constituir o estado.
Toda sociedade tem suas diretrizes morais explicitadas em normas de conduta, leis e
regulamentos, ou, de maneira mais formal, nos ditos populares, provérbios, histórias e
anedotas, ou de maneira mais marcante, no trato social (ex.: regras para comer à mesa).
REFLITA
Qual o papel da ética no sucesso de um profissional atualmente? A falta de ética atrapalha
seu crescimento?
É oportuno lembrar que as organizações, com seus valores, influenciam nesse processo
decisório, podendo facilitar as boas escolhas ou torná-las um ato heroico de quem assim
queira agir, pois a ética pessoal assinala que existem situações nas quais é necessário
confrontar o grupo ou a comunidade a que se pertence e atuar de maneira determinada,
sem importar-se com os interesses afetados.
Assim, finalizamos o quarto módulo do nosso curso. Veremos, em nosso próximo encon-
tro, mais aspectos sobre a questão Ética, totalmente focada no contexto organizacional.
Quais são os fatores motivadores da ética organizacional?
Referências
Gonçalves de Souza, Márcia Cristina. Ética no Ambiente de Trabalho. 1ª ed. Rio de
Janeiro: Campus / Elsevier Ltda., 2009, 136p.
Amoêdo, Sebastião. Ética do Trabalho – Na Era da Pós Qualidade. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Qualitymark Editora Ltda., 2007, 122p.
Vários Autores. Coordenação: Whitaker, Maria do Carmo. Ética na Vida das Empresas –
Depoimentos e Experiências. 1ª ed. São Paulo: DVS Editora, 2007, 284p.
LAZLO, Chris. Valor Sustentável – Como as empresas mais expressivas do mundo estão
obtendo bons resultados pelo empenho em iniciativas de cunho social, 1ª ed. Rio de
Janeiro: Qualitymark Editora Ltda, 2010, 240p.
NALINI, José Renato. Ética Ambiental. 2ª ed. Campinas: Editora Millennium Ltda., 2010,
470p.