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Não raras vezes nos deparamos a pensar em desafios que repetem-se em nossos

sistemas familiares.
“Por que meu tio é alcoólatra, meu avô era alcoólatra e meu bisavô também o
foi?”
“Por que o câncer se repete na família de minha mãe/meu pai?”

“Por qual motivo todas as mulheres de minha família casam e se divorciam?”


“Por que há tantas pessoas com depressão, ansiedade ou outros transtornos
psicológicos em minha família?”
“Em vão”, nos questionamos em busca de respostas sobre as causas que levam
esses padrões a repetirem-se...
Equivocadamente, incontáveis vezes, em nosso desespero e impotência face a
esses desafios, nos flagramos desejando uma única coisa: nos livrar daquilo nos
incomoda, seja uma doença física ou psíquica.
Ao desejarmos “nos livrar” do incômodo, estaremos desejando nos livrar de uma
parte de nosso ser; uma parte adoecida, mas que só precisa ser vista, acolhida,
transformada e integrada.

“Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”. Qual a saída? Unir-se ao
“bicho”.
Ao acolher uma parte de meu ser, torno-me pleno, inteiro. Não necessitamos nos
fraccionar, nos reduzir, nos diminuir, nos “amputar”... Converse com essa sua
parte adoecida; faça as pazes com ela; convide-a a unir-se a você e a desfrutar
os muitos bons momentos que a vida lhe(“s”) reserva...
Nossas partes principais, nossos pais, devem ser acolhidas de forma muito
especial.

Se quiser, faça esse pequeno “exercício”, usando sua imaginação e sentimentos.


Este trabalho deverá ser feito individualmente e sem necessidade de
repetição logo a seguir. Caso deseje repeti-lo, procure respeitar um
intervalo de alguns meses e faça-o apenas para verificar a diferença
na forma como acolhe ou é acolhida pelos pais, comparando com a
experiência anterior.
Sente-se ou deite-se confortavelmente, procure relaxar, esvaziando
sua mente dos problemas diários.
Lembre-se de que nascemos na família certa e que não existem
vítimas nem algozes, culpados nem inocentes. Não julgue. Está
tudo certo.
De olhos fechados, imagine-se, veja-se diante de seu pai e de sua
mãe. O pai estará à sua esquerda e a mãe à direita, de frente para
você.
Coloque-se em frente à mãe, a uma certa distância (uns 3 metros à
sua frente). Olhe-a nos olhos e procure perceber como se sente ao
olhar para ela. Que sentimento lhe vem? Conecte-se com o sentir e
não deixe sua mente divagar nem influenciar esse sentimento. O
sentimento deverá ser traduzido em uma única palavra, como, por
exemplo: paz, tranquilidade, raiva, ódio, mágoa, amor, saudade,
incômodo etc.
Não se preocupe se o sentimento for “negativo”. Permita-se sentir.
Aqui escrevo no feminino, mas é claro que em se tratando de uma
pessoa do sexo masculino, deverá mudar o gênero (seu / filho /
pequeno etc.).
1. Diga para sua mãe: Querida mãe, eu sou sua filha, a sua
pequena; você é minha mãe, a grande. Por favor receba-me
apenas como sua filha.
Se você sente raiva de sua mãe, ou qualquer sentimento “negativo”,
antes de dizer a fala acima diga: Querida mãe, eu sinto muito, mas
eu sempre senti muita mágoa de você e precisava lhe dizer isso.
Agora siga com a fala anterior (1), após perceber que sentiu-se
aliviada por ter falado a verdade.
Tente perceber se sua mãe lhe recebe como filha.
2. Diga para sua mãe: Querida mãe, você me deu a vida e isso é
muito é tudo; e eu lhe sou muito grata por isso.
Como se sente após dizer isso? Consegue aproximar-se mais de sua
mãe? Se consegue, imagine-se agora carregando uma pedra pesada.
Essa pedra é o peso que você carrega e que pertence à sua mãe.
Quando um filho carrega o peso dos pais, carrega junto a força, o
poder, deles, de cada um deles. Siga sua intuição para perceber o
tamanho e o peso da pedra.
3. Diga à sua Mãe: Querida mãe, por favor, receba o peso que lhe
pertence, e eu fico com o que é meu, apenas com o peso que
me pertence.
Sua mãe recebeu o peso, ou não quer recebê-lo?
Se não quer recebê-lo, diga: Querida mãe, tudo bem. Eu espero
mais um pouco, mas só mais um tempo.
4-a- Se recebeu o peso diga: Querida mãe, me abençoa se agora
eu posso ir para o meu pai.
Tente perceber se sua mãe lhe autoriza a ir para o seu pai. Mas
perceba se sente como verdade essa autorização. Não devemos
procurar sentir o que é melhor ou o que nos levaria a uma solução
mais fácil dessas dinâmicas. Nossas mentes costumam nos enganar.
Caso a mãe não autorize a ida para o pai tente a seguinte fala:
Querida mãe, o feminino, a mãe, autoriza o filho a ir para dentro
de si, entrar em contato com seus sentimentos, emoções e todos os
aspectos identificados com do feminino, assim como autoriza os
filhos a irem para o pai, para o masculino que, por sua vez,
autoriza os filhos a irem para o mundo, para os aspectos
identificados com do masculino e serem felizes ao seguirem seu
destino. Por favor, minha mãe, autoriza-me a ir para o meu pai.
Ao dizer isso, é provável que sua mãe lhe autorize a ida para o pai.
Se ela lhe autoriza, veja-se agora diante do pai e diga todas as falas
1 a 3 que disse à mãe, mudando onde se diz “MÃE” para “PAI”.
4-b- Finalizando, diga ao pai: Querido pai, me abençoa para que
eu possa seguir meu destino e ser feliz.
Agora, imagine-se novamente diante de seus pais. Atrás deles
encontram-se seus avós, bisavós, trisavós, tetravós, pentavós,
maternos e paternos.
Lembre-se que devemos respeitar o destino de todos, mas o nosso
destino inclui nossas escolhas. Assim sendo, podemos, também,
devolver aos nossos antepassados o peso e a força que lhes
pertence e ficarmos apenas com o que nos pertence, com nosso
próprio peso e nossa própria força.

Diga aos seus antepassados:


Queridos antepassados, vocês também me deram a vida; eu existo
porque vocês existiram, e eu lhes agradeço por isso. Por favor,
recebam de volta o que lhes pertence e eu fico apenas com o que é
meu. O que aconteceu com vocês eu deixo com vocês, e fico, repito,
apenas com o que é meu.
Por favor, me abençoem para que eu siga o meu destino e seja feliz,
e tudo o que eu viver de bom, tudo o que eu viver de felicidade, o
farei também em honra a vocês.
Faça uma profunda reverência, ajoelhando-se e curvando-se até
encostar a testa no chão (como fazem os muçulmanos quando oram),
aos seus pais e a todos os seus antepassados.
Imagine-se virando lentamente e deixando seus pais e seus
antepassados às suas costas. Eles estarão sempre lá, lhe dando todo o
suporte e lhe abençoando para que você siga o seu destino.
Imagine, então, um grande sol brilhante à sua frente. Siga em direção
a esse sol. Entre nele! É seu futuro! É sua felicidade!

Carlos Alberto de França Rebouças Junior


PhD em Psicanálise, com ênfase em Constelação Sistêmica fenomenológica Familiar
– DrHC em Psicanálise Clínica – DrHC em Constelação Sistêmica Familiar
Mestre (MsC) em Constelação Sistêmica Familiar
Pós-Graduado em Psicanálise – Especialista em Constelação Sistêmica Familiar

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