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Desastre da Cruz do Cassaco (1958) Rios e pontes Transpor tes

 8 min read
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2/4/2015
 
SOBRE A PÁGINA
O que é cassaco?

Muita gente quando ouve falar do Desastre da Cruz do Cassaco se pergunta a razão desse
nome tão estranho. Cassaco é o nome de um gambá, muito comum na região Nordeste do
Brasil e conhecido também pelo nome de mucura. É encontrado quase sempre sujo e possui
cheiro desagradável. Popularmente ficaram assim conhecidos os trabalhadores que usavam
sua força de trabalho na abertura de rodovias, ferrovias, açudes, pontes, entre outras obras. A
associação ao animal se deve ao fato de que também viviam sujos de poeira ou barro e
malcheirosos.

Muitos dos trabalhadores/cassacos eram retirantes e bastante pobres. Tinham precárias


vestimentas e pouco para comer e beber. Eram alistados em grande número, principalmente
nas obras de emergência contra a seca na primeira metade do século XX. Mesmo com
trabalho, os retirantes ainda ganhavam pouco, sendo comuns relatos sobre graves doenças,
suicídios e até consumo de carne humana para sobreviver.
Os cassacos foram importantes na abertura da rodovia federal 316 no Piauí, que liga
Teresina a Picos e aos estados de Pernambuco e Alagoas. Mas a BR, em 1958, não estava
totalmente concluída. Sequer tinha pavimentação asfáltica (Nem mesmo a zona urbana de
Teresina possuía!) que só chegaria durante o governo do presidente Emílio Garrastazu
Médici (1969-1974).

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Desastre automobilístico na BR-316 em Teresina.
(1958 / Acervo da ALEPI/ Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
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O acidente
Teresina Antiga
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1958 foi ano de Eleições Gerais (Governador, prefeito, senador, deputados estaduais e
federais, vereadores) em todo o Brasil. Também foi o ano em que mais foram feitos
alistamentos para os cassacos na região Nordeste. Fazia-se, então, a troca de voto por
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trabalho nas obras públicas. Todos certamente votariam no candidato da situação.

Essa era uma das formas que os grupos oligárquicos encontravam para garantir eleições sem
surpresas e mais alguns anos de mandato político. No Piauí, tal estratégia também foi
utilizada. As oligarquias rurais dos Freitas Gayoso e dos Almendra Castelo Branco
conseguiam assim se manter no poder político estadual durante vários anos. Teresina Antiga
na segunda

Senhores, no artigo sobre o


"Pontão do Poty Velho"
fizemos uma correção
através de uma descoberta.
Havíamos dito que a Santa
Maria e as Vassouras (Hoje
Santa Maria das Vassouras)
haviam surgido entre as
décadas de 1950 e 1960.
Porém, descobrimos dois
mapas do Piauí nos arquivos

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hidroaviões ao Aeroporto

 Pontão do Poty Velho

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Desastre automobilístico na BR-316 em Teresina.
(1958 / Acervo da ALEPI/Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)  Primeiras exibições
(Clique na imagem para ampliar) cinematográ cas de Teresina
(1901-1902)
Mas o rompimento do PTB estadual com os governistas do PDS (Deveu-se a  Os perigos da Agenda 2030
promessas de barganha política feitas no pleito de 1955, mas que não foram para Teresina
cumpridas) e a posterior aliança com a UDN ameaçou tal poder. De um lado
cou o candidato a governador José Gayoso Freitas, lho do ex-governador e
coronel oligárquico Pedro de Almendra Freitas. Do outro lado a chapa da
ONDE ESTAMOS NO BRASIL
UDN/PTB tendo como candidato ao Governo Estadual o campomaiorense
Demerval Lobão. Esta última, embora de oposição, trazia em seus quadros
também políticos oligarcas como Tibério Nunes, ligado à família dos Portella
Nunes (Petrônio Portella, inclusive, estava nesta chapa para prefeito de
Teresina). Também contava como candidato ao Senado outro membro da elite
política do estado: o engenheiro e deputado federal Marcos Parente, fundador
do Folha da Manhã, periódico que se dedicou exclusivamente a falar mal dos
adversários representados pelo PDS.

Desastre automobilístico na BR-316 em Teresina.


(1958 / Acervo da ALEPI/Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
(Clique na imagem para ampliar)

A campanha política corria bem de ambos os lados. Até que no nal, nas
proximidades do pleito, Demerval Lobão e sua comitiva rumaram em uma
viagem para comícios nas cidades de São Pedro do Piauí e Água Branca. A
partir daqui a história é bastante conhecida. Três carros (Ford Mercury vermelho
ano 1951, Ford F1 ano 1951, e Jeep Willis ano 1957) entraram pela BR-316 e
nunca chegaram a seus destinos.

Como foi dito, a rodovia estava em obras e não tinha asfalto. Por esse motivo,
quando algum carro passava soltava uma nuvem espessa de poeira o que
comprometia muito a visibilidade dos veículos que vinham atrás. E quando os
carros da chapa oposicionista estavam no Km 14, um deles, o Ford Mercury
conduzido por José Raimundo Gomes e levando como passageiros os
candidatos Demerval Lobão e Marcos Parente, além do advogado José Ribamar
Pacheco e do médico Rubem Perlingueiro, ousou fazer uma ultrapassagem em
um caminhão. Coberto pela nuvem de poeira, o condutor não viu uma caçamba
do DER-PI (Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí) e mais dezesseis
cassacos que trabalhavam nas obras da BR-316. Resultado: uma batida
violenta que matou na hora todos que estavam no Ford Mercury e mais seis
trabalhadores da obra, além de deixar gravemente feridos os outros dez. Quem
presenciou o local na época viu tremenda cena: corpos mutilados sendo
transportados para o Hospital Getúlio Vargas.
Desastre automobilístico na BR-316 em Teresina.
(1958 / Acervo da ALEPI/Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
(Clique na imagem para ampliar)

Consternação estratégica

A tragédia rodoviária ganhou repercussão em todos os jornais do Piauí. Mas o


Folha da Manhã, em particular, deu muito mais destaque ao desastre. Tinha um
interesse especial em aproveitar as mortes de Demerval Lobão e Marcos
Parente. A intenção era eleger os substitutos: Chagas Rodrigues, até então
candidato a deputado federal, para o governo do Estado, e Joaquim Parente,
que residia na cidade do Rio, mas com a morte do irmão Marcos Parente lançou
candidatura ao Senado pelo estado do Piauí.

Os partidários do PTB e da UDN também utilizaram o acidente para ganhar


votos da população. Até então ela estava comovida. Porém, como sempre
acontece até hoje nas tragédias envolvendo a elite política e econômica do
estado, a imprensa em geral tenta forçar a ideia de que “o Piauí todo está em
luto” quando se sabe que boa parte não estava e seguia sua vida
tranquilamente. A consternação era mais pela arti cialidade dos jornais e da
elite política do que pelo desastre em si.

Era uma ousadia da chapa oposicionista querer que seus novos candidatos
ganhassem faltando poucos dias para o pleito. Porém, como se sabe hoje,
Chagas Rodrigues e Joaquim Parente conseguiram se eleger e ainda arrastaram
outros mais como Petrônio Portella, eleito prefeito de Teresina.

É digno de mencionar também que os jornais impressos de 1958 até hoje se


referem aos trabalhadores das obras da BR-316 como outros mortos ou outras
vítimas. Poucas vezes citavam seus nomes (Con ra os nomes de todas as
vítimas no nal do artigo). Os membros políticos, ao contrário, sempre eram
citados, além de alardeados constantemente como redentores do Piauí.
Evidentemente era um exagero que se deveu mais às estratégias eleitoreiras em
cima do acidente e à posição de destaque que ocupavam na sociedade.
Projeto de construção do Monumento da Cruz do Cassaco.
(1990 / Acervo digital Teresina Antiga)
(Clique na imagem para ampliar)

Monumento da Cruz do Cassaco: inauguração e descaso.

A imprensa piauiense sempre mencionava a tragédia como desastre ou catástrofe


rodoviária. Mas com a inserção de um cruz rudimentar no local para sinalizar o infeliz
evento, passou a ser chamada de “Desastre da Cruz do Cassaco“. Mesmo com a
pavimentação asfáltica da BR-316 a cruz continuou lá por um bom tempo.

Depois de três décadas, a Prefeitura Municipal de Teresina, na gestão de


Heráclito Fortes (1989-1992), decidiu construir uma edi cação com dois pilares
de concreto de mais ou menos oito metros de altura cada um, projetada pelo
arquiteto Gustavo Almeida. Substituiu a velha cruz e foi inaugurada em 1991,
sem muito alarde pela imprensa e pela população, contando mais com a
presença dos familiares das vítimas.

Mas por incrível que pareça o monumento foi posto abaixo. Em 2014, durante as
obras de duplicação da BR-316, a edi cação foi simplesmente destruída e os
restos por lá continuam. Nenhuma autoridade sequer fez algo antes ou depois
da destruição deste patrimônio público. Cabe então uma pergunta crucial: se um
monumento feito, principalmente, em memória da própria classe política do
estado é tratado dessa forma, com negligência total, o que se pode esperar dos
outros?

Inauguração do Monumento da Cruz do Cassaco.


(1991 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
(Clique na imagem para ampliar)
Edi cação: Monumento da Cruz do Cassaco
Local: Km 14 da BR-316 – Teresina (PI)
Inauguração: 04 de setembro de 1991
Realização: Prefeitura Municipal de Teresina
Destruição: 2014

Homenageados (Por ordem alfabética):

– Demerval Lobão Veras (Candidato ao Governo do Estado);


– Francisco Fernandes da Silva (Trabalhador das obras da BR-316);
– João Francisco da Silva (Trabalhador das obras da BR-316);
– José Marques Cardoso (Trabalhador das obras da BR-316);
– José Mendes da Silva (Trabalhador das obras da BR-316);
– José Raimundo Gomes (Motorista);
– José Ribamar Pacheco (Advogado);
– Manuel Paulino de Aguiar (Trabalhador das obras da BR-316);
– Marcos Santos Parente (Candidato ao Senado);
– Rubens Perlingueiro (Médico);
– Valdemar da Silva (Trabalhador das obras da BR-316);

 Acontecimentos

SH A R E

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