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Resenha

TYKWER, Tom. Perfume: a história de um assassino.


França, Espanha, Alemanha. 2006.

Perfume: a história de um assassino foi dirigido por Tom Tykwer, com base no
livro O perfume do autor Patrick Süskind. O diretor Tykwer nasceu na
Alemanha e tem sua trajetória conhecida por dirigir filmes de suspense, dentre
eles Run Lola run (1998), Heaven (2002) e Perfume: a história de um
assassino (2006). Começou sua carreira muito jovem aos 11 anos com a obra
amadora Super-8. Em sua fase adulta mudou-se para Berlin onde alavancou
sua carreira, ganhando diversas premiações na área o que o possibilitou de
abrir sua própria produtora a X Filme Creative em 1994.

O filme trata da história de Jean-Baptiste Grenouille, ambientado na França do


século XVIII, precisamente na cidade de Paris, conhecida por ser a maior
cidade da Europa na época. Seu nascimento e consequentemente o despertar
do seu dom que podemos chamar de “o domínio fugaz dos perfumes” foi a
causa da morte de sua mãe, que ao tentar ocultar em meio aos dejetos e maus
odores do mercado de peixes o nascimento de mais um filho indesejado, não
contou com o imenso desejo de viver do bebê que ao chorar revelou a tentativa
de infanticídio.

Desde a infância Jean-Baptiste já se mostrava uma criança isolada e


autossuficiente com um único propósito, conhecer o mundo através do seu
olfato, todos os odores que o cercavam sem distinção do que seria bom ou
ruim. Aos 13 anos foi vendido como escravo para um curtume, onde seu oficio
baseava-se em observar, imitar e produzir em um sistema de trabalho
desgastante com longas horas de trabalho e com baixa expectativa de vida.

Sua busca incessante por amparo que não obteve de sua mãe e nem pela
sociedade em geral, é reflexo direto sobre a forma como ele usa os seus dons.
A procura de um cheiro que possa suprir e preencher a falta do seu próprio,
Jean-Baptiste então comete o seu primeiro assassinato, e passa a ir atrás da
fragrância única que exalava de jovens mulheres. Sua intenção é descobrir
uma técnica que possa preservar essas essências a fim de transforma-las em
um elixir que o tornasse alguém digno de ser amado.

Pudemos perceber ao longo do filme características bem definidas da época, a


forte influência da igreja católica apostólica romana para a tomada de decisões
importantes. Tanto sobre os assassinatos com a demonização e excomunhão
de Baptiste, como também na inesperada santificação do assassino pelo alto
sacerdote que estava sob efeito do “perfume”.

A nobreza francesa também foi destacada, principalmente com relação a


discrepância social e econômica comparada ao resto da população que vivia
em condições sub-humanas. Uma forte característica dessa elite era o uso de
perfumes não só como demonstração de status social, mas também como
substituição da higiene pessoal. Daí a necessidade de casas especializadas
para a produção dessas fragrâncias sofisticadas. Evidenciado no trecho do
romancista Patrick Süskind, em sua obra “O perfume”, que deu origem ao filme.

“Não só precisava saber destilar, também se precisava ao mesmo tempo ser


um produtor de pomadas e um manipulador de drogas, um alquimista e
artesão, comerciante, humanista e hortelão. Era preciso saber distinguir entre
sebo de rins de carneiro e sebo de bezerro, e entre uma violeta Vitória e uma
violeta de Parma. Era preciso dominar o latim. Era preciso saber quando o
heliotrópio deve ser colhido e quando o gerânio floresce e saber que a flor do
jasmim perde o seu perfume com o sol nascente.” (p.57)

Quando Jean-Baptiste Grenouille se torna aprendiz de perfumeiro com


Giuseppe Baldini, conseguimos identificar especificamente qual a relação
estabelecida por ambos. O processo de aprendizagem não poderia ser mais o
de observar, imitar e produzir como no curtume, era necessária uma formação
científica para a confecção de perfumes de alto nível. Era uma relação
educativa magistri e discipuli.

Essa relação era estabelecida com base em normas e regulamentos


específicos do ofício que detinham poder jurídico fundamentado nos costumes
da época.
“Nesta aprendizagem do ofício, da qual se visualizou apenas o procedimento
didático, há sem dúvida, ao lado do aspecto meramente executivo, também um
aspecto científico, isto é, o conhecimento das matérias-primas, dos critérios de
sua lavra, dos instrumentos. Mas esses conhecimentos foram confinados a
transmissão envolvida no “segredo da arte” e não estavam organicamente
sistematizados nem articulados com conhecimentos mais gerais”. (Manacorda
p.205)

Baptiste então deixa de ser escravo para se tornar um discípulo de Baldini, e


em troca como não poderia pagar o seu mestre o entregava “obras primas”
finalizadas por causa do seu dom olfativo para que fossem vendidas,
reestabelecendo o status social de Giuseppe Baldini.

Com isso o filme Perfume: a história de um assassino nos trás através de uma
temática da França do século XVIII ainda com aspectos da idade média, as
relações sociais entre a nobreza, o clero e principalmente o contexto da
pobreza e desigualdade nas relações de aprendizagem como forma de
ascensão social, o seu caráter educativo na formação para o ofício. Relações
estas que visavam a aquisição de conhecimento e habilidades da profissão,
onde o trabalho é também a escola.
Referências

SÜSKIND, Patrick. O Perfume. [trad. Flávio R. Kothe] São Paulo: Record, 2010.

MANACORDA, M. A. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias.


13. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

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