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Círculo Iniciático de Hermes

GARGÂNTUA E PANTAGRUEL – François Rabelais


Faze o que Tu queres Há de ser Tudo da Lei
Thelema ("Télema") é uma palavra grega que significa "Vontade" ou "Intenção". É também o nome
de uma filosofia espiritual nova que vem sendo elaborada nos últimos cem anos e está tornando-se
gradualmente estabelecida mundialmente.
Uma das primeiras citações desta Filosofia ocorre no clássico Gargântua e Pantagruel escrito por
François Rabelais em 1532.
Um episódio desta aventura épica fala da fundação de uma "Abadia de Thelema". Uma instituição
para a cultivação das virtudes humanas, que Rabelais identificou como sendo em exatamente opostas às
idéias cristãs que prevaleciam naquele tempo. A única regra da abadia era:"Faze o que Tu queres". Esta
tem se tornado uma das condutas básicas da Filosofia Thelêmica atual.
Frater Ra Soleil Tefnakht Khuit:.

Gargântua e Pantagruel

Somente os capítulos LII a LVII, que tratam da fundação de uma Abadia de Thelema, traduzidos
diretamente do original em Francês por Frater Ra Soleil Tefnakht Khuit:.

por François Rabelais, ano de 1532 e.v.

CAPÍTULO LII
DE COMO GARGÂNTUA FEZ CONSTRUIR PARA O MONGE A ABADIA DE THELEMA

Restava somente a monge a recompensar, o qual Gargantua queria fazer abade de Seulville; mas ele
recusou. Quis lhe dar as abadias de Bourgueil ou de Saint Florent que melhor lhe conviesse, ou ambas, se
assim o preferisse. Mas o monge lhe deu resposta peremptória que de monges não queria cargo nem
governo. "Pois, disse ele, como poderia governar os outros, se a mim mesmo governar não sei? Se vos
parece
que algo vos tenha feito, e que possa no futuro vos prestar serviço agradável, permite-me fundar
uma abadia ao meu gosto". O pedido agradou a Gargântua, que lhe ofereceu todas as suas terras de
Thélème, até o rio Loire, a duas léguas da grande floresta de Port Huault. E pediu a Gargantua que
instituísse a sua regra ao contrário de todas as outras. "Primeiramente, então, disse Gargantua, não se
precisará construir muros no circuito; pois todas as outras abadias são fortemente muradas. - É certo, e
não é sem motivo, disse o monge; onde muro há adiante e atrás, por força há murmúrios, inveja e
conspiração mútua".
Além disso, visto que em certos conventos deste mundo em uso, se ali entra uma mulher qualquer
(refiro-me às honestas e pudicas) limpa-se o lugar por onde ela passou, foi ordenado que, se religioso ou
religiosa lá entrasse por caso fortuito, se limpassem cuidadosamente todos os lugares por onde tivessem
passado. E porque nos conventos deste mundo tudo é compassado, limitado e regulado por horas, foi
decretado que lá não haverá relógio nem quadrante algum. Mas segundo as ocasiões e oportunidades
serão todas as obras praticadas. "Pois, disse Gargantua, a mais verdadeira perda de tempo que existe é se
contar as horas. Que bem vem disso? A maior ilusão deste mundo é se governar ao som de um sino, e não
ditado pelo bom senso e pelo entendimento".
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Item para que não se dedicassem à religião senão as mulheres zarolhas, caolhas, coxas, feias,
defeituosas, loucas, insensatas, enfeitiçadas e velhas; e os homens encatarrados, malnascidos, néscios e
trapalhões. (A propósito, disse o monge, uma mulher que não é bela nem boa, para o que serve? - Para se
tornar religiosa, disse Gargantua. - Isso mesmo, disse o monge, e para fazer camisas), foi ordenado que lá
não serão recebidas se não as belas, bem formadas e de boa natureza; e os belos, bem formados e de boa
natureza.
Item, porque nos conventos de mulheres não entram homens, senão furtiva e clandestinamente, foi
decretado que lá não estarão mulheres, no caso que não estivessem os homens, nem os homens, no caso
que não estivessem as mulheres.
Item, porque tanto os homens como as mulheres, uma vez recebidos no claustro, após um ano de
noviciado, eram forçados e obrigados a ali permanecerem perpetuamente durante a sua vida, ficou
estabelecido que tanto os homens como as mulheres de lá sairão quando muito bem lhes parecer, franca e
inteiramente.

Item, porque ordinariamente os religiosos fazem três votos, a saber, de castidade, de pobreza e de
obediência, ficou instituído que lá honestamente se podia ser casado, que cada um fosse rico e vivesse em
liberdade. A respeito da idade legítima, as mulheres ali serão recebidas depois dos dez e até os quinze
anos; os homens depois dos doze até os dezoito.

CAPÍTULO LIII
DE COMO FOI CONSTRUÍDA E DOTADA A ABADIA DOS THELEMITAS

Para a construção e conveniência da abadia, Gargantua fez entregar em espécie vinte e sete mil,
oitocentos e trinta e um carneiros de muita lã, e para cada ano, até que tudo estivesse perfeito, destinou da
receita divina mil seiscentos e sessenta e nove escudos do sol, e outros tantos da estrela. Para a fundação e
manutenção da mesma doou à perpetuidade, dois milhões trezentos e sessenta e nove mil e quinhentos e
quatorze nobles da rosa, de renda territorial, livres, amortecidos e solváveis para cada ano à porta da
abadia. E disso se comprometeu por escrito.
A construção era de figura hexagonal, de tal modo que em cada ângulo foi erguida uma grande
torre redonda, com sessenta passos de diâmetro; sendo todas iguais em largura e na aparência. O rio Loire
corria do lado do setentrião. Junto dele achava uma das torres, chamada Aretice. No rumo do oriente
ficava uma outra chamada Calaer. A seguinte chamava-se Anatole, a outra Mesembrine, a outra seguinte
Hesperie; a última Crière. Entre cada torre ficava o espaço de trezentos e doze passos. Todas as
torres tinham sido construídas com seis andares, sendo um deles o porão subterrâneo. O segundo andar
era abobadado com a forma de um arco. O resto era revestido de visgo Flandres, em forma de
ornamentos. A parte de cima era coberta de ardósia fina, com sustentadores de chumbo, em forma de
pequenos bonecos e animais bem trabalhados e dourados, com goteiras saindo fora da parede, entre
janelas, pintadas em riscos diagonais de ouro e de azul, até a terra, onde terminavam em grandes canais
que iam desaguar no rio, abaixo do prédio.
O referido prédio era cem vezes mais magnífico que os de Bomvet, Chambourg e Chantilly: pois
nele havia nove mil, trezentas e trinta e dois apartamentos, cada um dos quais contando com uma sala do
fundo, gabinete, guarda-roupa, capela e um salão. Entre cada torre, no meio do referido corpo de
alojamento, havia uma escada em caracol dentro daquele mesmo corpo. Os degraus da qual eram em parte
de Porfírio, em parte de pedra da Numídia, em parte de mármore serpentino, com vinte e dois pés de
comprimento, três dedos de espessura, sendo os degraus em número de doze entre cada patamar. Em
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cada patamar havia dois belos arcos, pelos quais era recebida a claridade; e por eles se entrava em um
gabinete feito com aberturas da largura da referida escada; e se subia até em cima da cobertura, que
terminava em platibanda. Pela referida escada se entrava em cada lado de uma grande sala, e das salas aos
apartamentos. Desde a torre Artice até a Crière ficavam as belas e grandes bibliotecas, em grego, latim,
hebraico, francês, toscano e espanhol, repartidas diversas estantes, segundo os seus idiomas. No meio
ficava uma maravilhosa escada, cuja entrada estava fora do aposento, em um arco com seis toesas de
largura. A qual era feita com tal simetria e apuro, que seis homens d'armas, com a lança sobre a coxa,
poderiam juntos de frente subir até em cima de toda a construção. Da torre Anatole até a Mesembrine,
havia grandes e belas galerias, todas pintadas com antigas proezas, histórias e descrições da terra. No meio
ficava uma entrada e porta semelhante à do lado do rio. Sobre essa porta estava escrito em grandes letras o
que se segue.

CAPÍTULO LIV
INSCRIÇÃO SOBRE A GRANDE PORTA DE THELEMA

Afastai-vos, hipócritas carolas;


Não entreis, monges sujos, preguiçosos,
Do que os godos mais vis, e gabarolas;
Não achareis aqui tolos ou tolas;
Aqui não entram rufiões e ociosos.
Afastai-vos, farsantes, mentirosos;
Ide pregar além vossas patranhas,
Ide usar mais além as artimanhas.
Os vossos abusos Tornaram-se em usos De pura abusão,
E eis que então Se mostram difusos Os vossos abusos.
Vós que explorais os autores e os réus,
Afastai-vos daqui, falsos juristas,
Traficantes, escribas, fariseus,
Que lesais os sabidos e os sandeus,
Com autos, citações, liças e listas,
Estendendo os processos; chicanistas,
Afastai-vos, livrando-nos assim
Das demandas inúteis e sem fim.
Processos e pleitos
São feitos, desfeitos,
Sem lucro nenhum
Para cada um.
Não trazem proveitos
Processos e pleitos.
Afastai-vos, malditos usuários,
Malsãos adoradores do dinheiro,
Que, com muita má fé e embustes vários,
O ouro acumulai, vis onzenários,
Furtando, de janeiro até janeiro,
O que luta e trabalha o ano inteiro,
Tão vorazes, e magros como um galgo,
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E só depois de mortos valeis algo.
Não é vossa face Humana, não faz-se Humana a ninguém.
Sois ricos, porém, Humana e ferace
Não é vossa face.
Não entreis, não entreis, velhos mastins,
Que alimentais os ódios, rancorosos,
Nem vós, insufladores d e motins,
Que sois das feras vis meros afins,
Insensíveis, covardes invejosos,
Cegos pela ambição, ambiciosos.
Com os lobos ide o ódio saciar,
Não desonreis com o ódio este lugar.
O ódio aqui não cabe,
Tudo aqui se acabe
Que do ódio vem,
A ira não convêm,
Pois como se sabe,
O ódio aqui não cabe.
A porta está aberta, é só entrar;
Sede bem-vindos, nobres cavaleiros.
Aqui é vossa casa, este lugar
Há de sempre acolher-vos, abrigar
Os joviais, os bons, os justiceiros;
Aqui são todos francos companheiros,
E se cultivam o entusiasmo e a calma,
A alegria do corpo e a paz da alma.
Reina a amizade,
O mal não há de aqui entrar;
É o nosso lar,
Nele em verdade Reina a amizade.
Entrai, entrai, ó vós que o Evangelho
Com bom senso e verdade anunciais;
Aqui tereis refúgio, honra e conselho,
Proteção contra o erro, ou novo ou velho,
E separados não sereis jamais
Da fé sincera, dessa fé que amais.
Não entra aqui, não fala, não encanta
O inimigo da palavra santa.
O verbo sagrado Não fica calado
Aqui nesta casa.
Tem vozes, tem asa,
E voa, e é falado
O verbo sagrado.
Entrai, nobres damas da alta linhagem,
Aqui vos esperais virtudes e ventura.
Entrai, belas damas de grande coragem,
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Entrai, e encontrareis nessa viagem
Um porto amigo, abrigo a vossa altura,
Uma angra tranquila e bem segura.
Nobres damas entrai, aqui tereis
O que bem desejais e mereceis.
A vida é suave
Qual canto de ave,
Nem pranto nem dor,
Mas hinos de amor
Quais cantos de ave.
A vida é suave.

CAPÍTULO LV
DA MANEIRA DOS THELEMITAS HABITAREM

No meio do pátio havia uma fonte magnífica de belo alabastro. Acima, as três graças, com
cornucópias, lançavam a água pelas mamas, boca, orelhas, olhos e outras aberturas do corpo. Na parte
superior de dentro, sobre o referido pátio, havia grossas colunas de calcedônia e pórfiro, formando belos
arcos. Dentro das quais viam-se belas galerias compridas e amplas, ornadas de pinturas, de chifres de
unicórnios, rinocerontes e hipopótamos, dentes de elefante e outras coisas semelhantes. O alojamento das
damas ia desde a torre Aretice até a porta Mesembrine. Os homens ocupavam o resto. Diante do referido
alojamento das damas, a fim de que pudessem folgar, entre as duas primeiras torres, por fora, havia liças, o
hipódromo, o teatro e piscinas de natação, com banheiros miríficos de três pavimentos, bem guarnecidos
de todos os sortimentos e abundância de água de mirto. Junto ao rio, ficava o belo jardim de recreio. No
meio dele, havia um belo labirinto. Entre as duas outras torres, ficava o terreno para o jogo de bola. Do
lado da torre Crière, ficava o vergel cheio de árvores frutíferas dispostas em ordem quincunce. No fim,
estava o grande parque, com as árvores crescidas selvagemente. Entre as terceiras torres, ficavam os
espaços para o exercício de arcabuz, arco e besta. As copas fora da torre Hesperie, com um só pavimento.
As cavalariças mais adiante. A falcoaria diante delas, dirigida por falcoeiros bem peritos na arte. E eram
anualmente fornecidas pelos candiotas, venezianos e samatas todas as sortes de aves, águias, gerifaltes,
açores, gaviões, falcões, esmerilhões e outras; tão bem domesticadas, que saindo do castelo para voarem
sobre os campos, pegavam tudo o que encontravam. O alojamento dos couteiros ficava um pouco mais
longe, perto do parque.
Todas as salas, quartos e gabinetes estavam atapetadas de diversos modos, segundo a estação do
ano. Todo o pavimento estava coberto de pano verde. Os leitos eram guarnecidos com bordados.
No fundo de cada quarto, havia um espelho de cristal com moldura de ouro fino e guarnecido de
pérolas, de tal tamanho que podia verdadeiramente representar toda a pessoa. Depois das salas dos
alojamentos das damas ficavam perfumadores e penteadores, por cujas mãos passavam os homens, quando
iam visitar as damas. Os quais forneciam cada manhã aos quartos das damas água de rosa, água de nafta,
água dos anjos, e a cada um precioso incensador vaporizante de todas as drogas aromáticas.

CAPÍTULO LVI
COMO OS HOMENS E MULHERES DA ORDEM RELIGIOSA DE THELEMA SE VESTIAM

As damas da fundação desta ordem foram aparatadas após seu próprio prazer e simpatia; mas, uma
vez que, por vontade própria e por livre arbítrio, eles se reformaram, seus apetrechos são da seguinte
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maneira: Usavam meias vermelhas escarlates ou tingidas de roxo, que chegavam a apenas cinco centímetros
acima do joelho, com uma lista embelezada com bordados requintados e raras incisões da arte do
cortador. As ligas eram da cor dos braceletes e circulavam o joelho um pouco por cima e por baixo. Seus
sapatos, sapatilhas e chinelos eram de veludo vermelho, violeta ou vermelho, rosados e recortados como
gafanhotos de lagosta.

Ao lado do avental, vestiam a bonita saia ou vasquilha de camlet de seda pura: acima dela ficava o
tafetá ou crinolina, branco, vermelho, marrom, cinza ou de qualquer outra cor. Acima dessa anágua de
tafetá, eles usavam outro tecido de brocado ou tecido, bordado com ouro fino e entrelaçado com bordado,
ou como achavam bom, e de acordo com a temperatura e a disposição do clima, as camadas superiores de
cetim, damasco ou veludo e aquele laranja, marrom, verde, cinza, azul, amarelo, vermelho brilhante,
vermelho ou branco e assim por diante; ou os tinha de tecido de ouro, de prata ou de qualquer outra coisa
de escolha, enriquecido com perolados ou bordados de acordo com a dignidade dos dias e épocas festivas
em que os usavam.

Seus vestidos, ainda correspondendo à estação, eram de pano de ouro com um trabalho de prata;
de cetim vermelho, coberto com ouro perolado; de tafetá, ou taffety, branco, azul, preto, amarelo
queimado, etc., de sarja de seda, camlet de seda, veludo, tecido de prata, tecido de prata, tecido de ouro,
fio de ouro, fio de ouro, veludo figurado ou cetim figurado com enfeites e nublado com fios dourados, em
vários rascunhos variados.

No verão, alguns dias, em vez de vestidos, usavam mantos leves e bonitos, feitos com as coisas das
atrações mencionadas acima, ou como os tapetes Moresco, de veludo violeta frisado, com um trabalho
elevado de ouro sobre prata perolado, ou com um cordão atado. Trabalho de bordado em ouro, em todos
os lugares decorado com pequenas pérolas indianas. Eles sempre carregavam uma bela panache, ou pluma
de penas, da cor de seu regalo, corajosamente adornados e enfeitados com brilhantes lantejoulas de ouro.
No inverno, eles usavam vestidos de tafetá de todas as cores, como os mencionados acima, e vestidos com
rufos de peles de lobos traseiros, ou linces manchados, doninhas manchadas de preto, peles maltesas da
Calábria, sabres e outras peles caras de um valor inestimável. Suas contas, anéis, pulseiras, colares,
carcaças e correntes para o pescoço eram todas de pedras preciosas, como carbúnculos, rubis, baleus,
diamantes, safiras, esmeraldas, turquesas, granadas, ágatas, beris e excelentes margarites. O penteado
também variava com a estação do ano, segundo a qual eles se enfeitavam. No inverno, era da moda
francesa; na primavera, dos espanhóis; no verão, à moda da Toscana, exceto apenas nos dias sagrados e
domingos, época em que eles eram instruídos no modo francês, porque o consideravam mais honroso e
mais adequado ao traje de uma pudicidade matronal.
Os homens foram aparatados à moda deles. Suas meias eram de tamina ou de sarja de pano, de
branco, preto, escarlate ou alguma outra cor arraigada. Suas calças eram de veludo, da mesma cor das
meias, ou muito próximas, bordadas e cortadas de acordo com a fantasia. Seu gibão era de pano de ouro,
de pano de prata, de veludo, cetim, damasco, tafetás, etc., das mesmas cores, recortadas, bordadas e
adequadamente cortadas com perfeição. As pontas eram de seda da mesma cor; as etiquetas eram de ouro
bem esmaltadas. Seus casacos e jérseis eram de tecido de ouro, tecido de prata, ouro, tecido ou veludo
bordado, como julgavam adequado. Seus vestidos eram tão caros quanto os das damas. Seus cintos eram
de seda, da cor de seus gibões. Todos tinham uma espada galante ao seu lado, o punho e cabo de que
eram dourados, e a bainha de veludo, da cor de suas calças, com uma capa de ouro, e o puro trabalho de
ourives. A adaga era a mesma. Seus bonés ou gorros eram de veludo preto, adornados com jóias e botões
de ouro. Eles usavam uma pluma branca, mais bonita e parecida com lacaios, dividida por tantas fileiras de
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lantejoulas de ouro, no final das quais pendiam penduradas em uma resplendência mais brilhante, rubis,
esmeraldas, diamantes, etc., mas havia tanta simpatia entre os galantes e as damas, que todos os dias
apareciam no mesmo uniforme. E para que não pudessem faltar, havia certos cavalheiros designados para
contar aos jovens todas as manhãs que vestes as damas usariam naquele dia: pois tudo era feito de acordo
com o prazer das damas. Nessas roupas tão bonitas, e habilidades tão ricas, não pense que um ou outro
de qualquer sexo tenha perdido algum tempo; pois os donos dos guarda-roupas tinham todos os seus
trajes e roupas tão prontos para todas as manhãs, e as damas da câmara tão habilidosas que, em um
instante, usavam roupas e roupas completamente da cabeça aos pés. E para ter esses apetrechos com mais
comodidade, havia sobre a madeira de Thelema uma fileira de casas de meia liga, muito arrumadas e
limpas, que habitavam ourives, lapidários, joalheiros, bordadores, alfaiates, gavetas de ouro. tecelões de
veludo, tapeçarias e estofadores, que ali trabalhavam todos em seu próprio ofício e tudo pelos citados
alegres frades e freiras do novo selo. Eles eram mobiliados com matéria e material das mãos do Lorde
Nausiclete, que todos os anos trazia para eles sete navios das Ilhas Perlas e Canibal, carregados de lingotes
de ouro, de seda crua, de pérolas e pedras preciosas. E se alguma margarita, chamada sindicato, começava
a envelhecer e perdia um pouco de sua brancura e brilho naturais, aqueles com sua arte eram renovados,
oferecendo-os para comer em alguns galos bonitos, como costumavam lançar aos falcões.

CAPÍTULO LVII
COMO OS THELEMITAS ERAM GOVERNADOS E COMO VIVIAM
Toda a sua vida foi organizada não por leis, estatutos ou regras, mas de acordo com sua vontade e
livre arbítrio. Eles se levantaram da cama quando queriam, bebiam, comiam, trabalhavam, dormiam quando
o desejo lhes chegava; ninguém os despertou, ninguém os obrigou a não beber nem comer, nem fazer mais
nada. Então Gargantua estabeleceu. Na regra deles, havia apenas esta cláusula:
"Faça o que você quiser",
porque pessoas livres, bem-nascidas, bem-educadas, conversando em companhia honesta, têm por
natureza um instinto e uma picada, que sempre as empurra a realizar atos virtuosos e as distancia do vício,
picada que chamavam de honra. Quando uma servidão vil ou uma restrição os faz cair e subjugá-los, eles
usam essa nobre inclinação, pela qual tendiam livremente à virtude, para afastar e infringir esse jugo de
servidão: pois sempre empreendemos as coisas proibidas e cobiçamos o que nos é negado.
Graças a essa liberdade, eles entraram em emulação louvável para fazerem juntos o que viram por
favor. Se um ou um deles dissesse: "Beba", todos estavam bebendo; se ele dissesse: "Vamos jogar", todo
mundo estava jogando. Se ele dissesse: "Vamos lutar no campo", todos foram para lá. Se fosse para caçar
em voo ou perseguir caça, as damas montadas em belos hackles, cada uma carregava um falcão-pardal, um
cordão ou um giro. Os homens carregavam os outros pássaros.
Eles eram tão nobremente educados que não havia quem não pudesse ler, escrever, cantar, tocar
instrumentos musicais, falar cinco ou seis idiomas e compor nessas línguas tanto em versos quanto em
prosa. Nunca foram vistos cavaleiros tão corajosos, tão bonitos, tão hábeis a pé e a cavalo, tão vigorosos,
mais alertas e mais capazes de lidar com todo tipo de armas. Nunca foram vistas damas tão elegantes, tão
fofas, menos insignificantes, mais hábeis no trabalho manual, nos bordados e em qualquer ocupação
adequada para uma mulher honesta e livre.
Por esse motivo, quando chegou a hora de um membro da abadia querer deixá-la, ou a pedido de
seus pais, ou por qualquer outro motivo, ele levou consigo uma dessas senhoras, a pessoa que a havia
levado para o seu servente e eles estavam se casando. E se tivessem vivido em Thelema em confiança e
amizade, melhor ainda, continuariam essa existência no casamento. Eles se amavam no final de seus dias,
como no primeiro dia de seu casamento.
- FIM -
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