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AS MELHORES
REDAÇÕES
NOTA MIL
DO ENEM
INSTA: @METODOSAPIENS
INTRODUÇÃO
Caro aluno,
O Período Colonial do Brasil, ao longo dos séculos XVI a XIX, foi marcado pela tentativa de
converter os índios ao catolicismo, em função do pensamento português de soberania. Embora
date de séculos atrás, a intolerância religiosa no país, em pleno século XXI, sugere as mesmas
conotações de sua origem: imposições de dogmas e violência. No entanto, a lenta mudança de
mentalidade social e o receio de denunciar dificultam a resolução dessa problemática, o que
configura um grave problema social.
Nesse contexto, é importante salientar que, segundo Sócrates, os erros são consequência
da ignorância humana. Logo, é válido analisar que o desconhecimento acerca de crenças
diferentes influi decisivamente em comportamentos inadequados contra pessoas que seguem
linhas de pensamento opostas. À vista disso, é interessante ressaltar que, em algumas religiões, o
contato com perspectivas de outras crenças não é permitido. Ainda assim, conhecer a lei é
fundamental para compreender o direito à liberdade de dogmas e, portante, para respeitar as
visões díspares.
Além disso, é cabível enfatizar que, de acordo com Paulo Freire, um seu livro "Pedagogia
do Oprimido", é necessário buscar uma "cultura de paz". De maneira análoga, muitos religiosos, a
fim de evitar conflitos, hesitam em denunciar casos de intolerância, sobretudo quando envolvem
violência. Entretanto, omitir crimes, ao contrário do que se pensa, significa colaborar com a
insistência da discriminação, o que funciona como um forte empecilho para resolução dessa
problemática.
Sendo assim, é indispensável a adoção de medidas capazes de assegurar o respeito
religioso e o exercício de denúncia. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação, em parceria com o
Ministério da Justiça, implementar aos livros didáticos de História um plano de aula que relacione a
aculturação dos índios com a intolerância religiosa contemporânea, com o fito de despertar o senso
crítico nos alunos; e além disso, promover palestras ministradas por defensores públicos acerca da
liberdade de expressão garantida pela lei para que o respeito às diferentes posições seja
conquistado. Ademais, a Polícia Civil deve criar uma ouvidoria anônima, tal como uma delegacia
especializada, de modo a incentivar denúncias em prol do combate à problemática." [Helário
Azevedo e Silva Neto, 17 anos, Ceará]
[Análise Método Sapiens] A redação do candidato mostra uma aplicação simples e eficiente da
estrutura padrão de uma dissertação. Destaca-se, entre as competências atingidas pelo estudante,
o repertório de recursos argumentativos, que vai da referência histórica à formação colonial do
Brasil até o conceito extraído do pensamento Paulo Freire e a citação filosófica de Sócrates. Além
do bom uso da linguagem formal, sem exageros de vocabulário, a banca optou por valorizar a
bagagem cultural que o aluno apresentou em seu texto, ao atribui-lo a nota 1000. No texto, as
várias abordagens com que o autor defende a importância dos direitos humanos também contribuiu
para a sua adequação à expectativa da banca.
Outro aspecto de destaque da redação de Helário é o parágrafo de conclusão, com
propostas de intervenção bastante detalhadas e pertinentes, ligadas ao papel da educação como
instrumento de transformação dos problemas sociais, junto ao reforço à fiscalização pelos órgãos
de segurança do Estado.
[Análise Método Sapiens] No parágrafo de introdução, o candidato apresenta seu ponto de vista
de forma simples e direta, através de uma estrutura já consagrada: apresenta a importância dos
direitos básicos previstos pela Constituição, e problematiza a realidade em que ocorre sua violação,
ainda introduzindo a necessidade de mudança. Esse esquema de raciocínio é básico e muito
eficiente, como prova a nota 1000 obtida por esse texto.
A análise feita pelos parágrafos de argumentação também apresenta elementos básicos
e consagrados do repertório de interpretação dos problemas brasileiros e contemporâneos, ao citar
Gilberto Freyre e ―Casa Grande & Senzala‖ e a ―Modernidade Líquida‖ de Zygmunt Bauman. Esses
são recursos argumentativos muito valorizados pla correção do ENEM, e que podem ser
empregados em diferentes temas para construir os parágrafos de desenvolvimento.
[Análise Método Sapiens] O texto apresenta uma estrutura adequada: quatro parágrafos,com
introdução, dois de desenvolvimento e conclusão. Além disso, é um texto escrito com estilo de
escrita adequado: linguagem impessoal, objetiva e formal, seguindo a norma culta. (...) A candidata
demonstra bom repertório sociocultural, quando relaciona o tema a outras referências,
principalmente ao citar Aristóteles e Durkheim. Vale dizer que esses foram mais bem empregados
do que a referência a Machado de Assis, que está um pouco ‗solta‘ no texto, sem relação muito
clara com a discussão.
O uso de adjetivos como ‗perversas‘ ajuda a evidenciar a opinião do texto, o qual se opõe à
intolerância religiosa, ao contrário do que prevê o princípio constitucional que não é posto em
prática. Na conclusão, a autora cita três propostas de intervenção social, cada uma dirigida a uma
instância da sociedade. Logo, um texto como este evidencia que é possível alcançar a nota máxima
no ENEM através de uma dissertação argumentativa básica e simples.
[Análise Método Sapiens] A redação escrita pela candidata reflete bem o seu repertório
sociocultural, como se vê nas referências, muito bem empregadas, a conceitos dos filósofos
Aristóteles e Karl Marx. A abordagem da Constituição desde o primeiro parágrafo ajuda a construir
a tese defendida pelo texto, contrapondo a esfera dos direitos fundamentais à realidade de
intolerância.
A candidata também se destacou bastante pelo domínio da norma culta escrita, chegando
até mesmo a um certo exagero na escolha do vocabulário e com algumas frases que oferecem
dificuldade de leitura. Um ponto negativo, consequência do exagero na elaboração da linguagem, é
o uso ambíguo e inadequado do termo ―cristianismo ortodoxo‖, já que provavelmente a autora quis
referir-se ao sentido de ―radical‖ ou ―dogmático‖
que possui o adjetivo, e não confundir-se com a Igreja Cristã Ortodoxa, muito importante no Leste
da Europa e uma minoria significativa em muitas comunidades de imigrantes no Brasil, mas que
não é particularmente conhecida por atitudes intolerantes como as criticadas por Laryssa. Apesar
desse único erro, a banca não penalizou o texto, tendo em vista sua qualidade na competência de
domínio linguístico.
Como consequência dessa elitização dos espaços públicos, que promove a exclusão das
camadas mais periféricas, é observado um bloqueio intelectual imposto a essa parte da
população. Nesse sentido, assuntos pertinentes ao saber coletivo, que, por vezes, não são
ensinados nas instituições formais de ensino, mas são destacados pelos filmes exibidos nos
cinemas, não alcançam as mentes das minorias sociais, fato que impede a obtenção do
conhecimento e, por conseguinte, a plenitude da essência aristotélica. Essa situação
relaciona-se com o conceito de "alienação", descrito pelo alemão Karl Marx, que caracteriza
o estado de insuficiência intelectual vivido pelos trabalhadores da classe operária no
contexto da Revolução Industrial, refletido na camada pobre brasileira atual.
Portanto, fica evidente a importância do cinema para a construção de uma sociedade mais
culta e a necessidade de democratização desse recurso. Nesse âmbito, cabe ao Ministério
da Educação e da Cultura promover um maior acesso ao conhecimento e ao lazer, por meio
da instalação de cinemas públicos nas áreas urbanas mais periféricas - que deverão possuir
preços acessíveis à população local -, a fim de evitar a situação de alienação e insuficiência
intelectual presente nos membros das classes mais baixas. Desse modo, o cidadão
brasileiro poderá atingir a condição de plenitude da essência, prevista por Aristóteles,
destacando-se, logo, das outras espécies animais, através do conhecimento e da cultura.
Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange
a população de baixa renda é um fato limitante para que haja a democratização plena da
cultura e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro "Quarto de Despejo", de Carolina
Maria de Jesus, o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de
miserabilidade vive, e, assim, mostra como o acesso a centros culturais é uma perspectiva
distante de sua realidade, não necessariamente pela distância física, mas pela ideia de
pertencimento a esses espaços.
Efetivamente, é notório o desacordo que existe entre o que é assegurado pela Constituição
e a realidade do país, uma vez que muitos municípios não possuem cinemas ou espaços
destinados à exposição de filmes, séries e documentários. Esse nefasto paradigma atesta,
sobretudo, uma grande desigualdade no acesso à cultura do país, tendo em vista que em
grandes cidades, como o Rio de Janeiro, o cinema é mais valorizado. Além disso, vale
ressaltar que tal desigualdade fere a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,
a qual assegura a produção cultural e lazer como um direito de todos. Logo, é fundamental
que o poder público desenvolva medidas, como a construção de mais espaços destinados
aos espectadores, com o intuito de que os anseios do artigo 215 tenham realmente vigor.
Sob esse viés, é importante ressaltar que a logística de instalação de salas de cinemas, nas
cidades pequenas, é precária. Nesse sentido, segundo o Contrato Social – proposto pelo
contratualista John Locke - , cabe ao Estado fornecer medidas que garantam o bem-estar
coletivo. Contudo, a infraestrutura das cidades pequenas e médias é, muitas vezes, pouco
dotada de incentivos para a construção de salas de exibição de filmes, como centros de
lazer – dotados de praça de alimentação, por exemplo. Com isso, uma parcela expressiva
da população é excluída dessa atividade cultural, o que, além de evidenciar o contexto
discutido por Gilberto Dimenstein, vai de encontro ao Contrato Social. Desse modo, políticas
públicas eficazes tornariam possível maior acesso ao direito de cultura, garantido pela
Magna Carta de 1988, por meio do cinema.