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RESUMO
Tenho estudado as religiões africanas no Brasil, que sempre vi referir como grandes
representantes: a Umbanda, unida á Quimbanda, o Candomblé e o Catimbó. E sempre tenho ouvido
isso como se essas religiões fossem a mesma coisa. Num país com influência africana forte como a
do Brasil, que serviu de bom solo para a germinação dessas crenças, e que mesmo assim ainda não
aprendeu as diferenças básicas delas, encontra-se a necessidade de um trabalho como este. O
Candomblé, onde se mediam os Orixás, em suas diversas nações, a Umbanda, dos Caboclos, a
Quimbanda, dos mal compreendidos Exus, e o Catimbó, dos Encantados, em todas as suas
peculiaridades, são religiões que mostram a brasilidade integralmente.
PALAVRAS CHAVE
INTRODUÇÃO
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A população negra no Brasil só é inferior a do próprio continente africano.
Quinhentos anos de construção conjunta deve ter dado à cultura brasileira não um
toque especial africano, mas suas bases e pilares mais profundos.
Não foi uma única vez que, procurando informações sobre a origem da
religiosidade africana no Brasil, que encontrei frases do tipo “as religiões africanas,
Umbanda, Quimbanda, e Candomblé...”, apontando o quadro geral, como se fossem
a mesma coisa. Aos olhos leigos, é perdoável que haja certa confusão, pois parecem
ver uma planície de um avião, onde tudo embaixo parece único: sabe, porém, o
viajante terreno que isso não corresponde à verdade, e que cada detalhe faz muita
diferença. É como nós, quando olhamos o mar, sem prestar atenção á sua
profundidade. É chegada, porém, a hora de abandonar as tolices do conhecimento
superficial e mergulhar nesse mar, por que conhecer a cultura afro-brasileira não é
um favor que dispensamos àquele povo, é uma obrigação para conosco mesmos, é
uma tarefa de autoconhecimento, pois não existe no Brasil cultura européia ou
africana, mas a cultura brasileira, que assemelhasse a deusa indígena Cy, que tinha
tantas faces quanto à própria lua.
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Essa foi à motivação que levou á elaboração desse trabalho, e que irá
mostrar as múltiplas formas que a religiosidade africana tomou em terras tão
inconstantes e vastas como o Brasil.
Foi no início do século XX que estudos acerca da crença que vinha da África
começaram a ser desenvolvidos. Mas eram, como qualquer coisa nova, ainda muito
pueris e pouco profundas. Sem contar o fato de que, por exemplo, a umbanda
surgiu na primeira década daquele século, o que faz os trabalhos daquela época
suficientes para seu contexto: mas não para nós.
I.I- O Candomblé
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oferecidas pelo Brasil. O Ilé Axé Yá Nassô, o terreiro do Engenho Velho, fora
fundado pela mulher cujo nome lhe deu o Título, Yànassô Akalá, que viajou para
Ketu, no Benin, acompanhada de mais duas jovens, possivelmente parentes,
permanecendo sete anos na cidade. Quando voltaram, com duas crianças, filhas das
sacerdotisas já devidamente preparadas, fundaram o candomblé. Bastide acredita
que foram as confrarias que, juntas, deram possibilidade para a instalação de uma
casa de culto, tão necessária para a comunidade afro-brasileira da época.
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para a formação do Brasil que nós conhecemos, e deixaram de legado uma religião
tão forte que persiste ainda hoje.
Graças à sua forma mais primitiva (uma vez que fora trazido da costa
africana), o Candomblé tem uma forma de iniciação mais rígida que as outras
religiões afro-brasileiras. Ainda se mantém velhos ritos e costumes, inda que sob
novas interpretações. Ainda se fazem uso de ervas, de transes profundos
provocados pela dança e cânticos coletivos ainda no idioma da nação. A orquestra
é muito vasta, e os tambores e atabaques tocam, com as mãos e varetas, ritmos
específicos de cada orixá. Por isso, tem a fama de ser mais “pesado” que suas
religiões irmãs.
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Quando questionei célebres pais de santo de Umbanda em União da Vitória
sobre as principais diferenças, todos foram unânimes quanto ao quesito sacrifical.
Segundo eles, o Candomblé prepara as sacerdotisas “no sangue”. O Candomblé
ainda hoje mantém os sacrifícios de animais específicos para cada divindade, sob
rituais também específicos, e cuja carne será consumida pelos membros da
comunidade durante o processo de iniciação dos filhos. A matança ritualística
ainda é um fator indispensável da iniciação ao Candomblé.
I.II- A Umbanda
Talvez o culto mais conhecido pelos brasileiros que tem raiz africana é a
umbanda. Mas ela não é uma religião africana em sua essência: sua essência é
realmente brasileira. Analisando com profundidade, ouso dizer que a umbanda só
é africana em seu culto aos orixás e em rituais específicos que são reproduções dos
do candomblé.
Em 1908, durante uma seção espírita, filosofia que era uma verdadeira
febre na época, um médium manifestou uma força espiritual que não tinha a
característica da educação européia que tanto desejam os espíritas dos espíritos
com quem se comunicam. Essa força espiritual disse que era chegada a hora de
uma nova interpretação dos valores espíritas, mais aberta para os espíritos que
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não tinham a forma que eles esperavam; que os homens da terra tinham que amar
mais uns aos outros, e que para isso velhos tabus tinham de ser desfeitos. O
espírito bebeu água e fumou cachimbo, apresentando-se como o Caboclo das Sete
Encruzilhadas “porque, para mim, não haverá caminhos fechados”. Obviamente
que os espíritas interpretaram o Caboclo como um espírito pouco evoluído, e não
admitiam sua manifestação. Seu médium foi expulso e passou a realizar rituais
autônomos. Estava fundada a Umbanda. É essa a história aceita entre os
praticantes da religião.
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Na umbanda, o adepto é admitido mediante comprovação de sua
mediunidade. Até mesmo o titulo que se dá aos adeptos é “médium”, e não “Yawô”
ou “filho de santo”. As danças, embora muito parecidas com a dos orixás do
candomblé, é muito mais silenciosa, tímida, sempre acompanhada de palmas. Suas
cantigas sempre são em português, embora uma ou outra palavra desconhecida
pelos profanos seja encontrada nas letras, como calunga (cemitério), ganga (sumo
sacerdote), zumbo e quizumba (feitiçaria), entre outros. O toque é sempre o mesmo
para todas as entidades, diferenciando-se apenas a velocidade em que é executado,
e só se toca com as mãos.
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um ritual mais simples, que possibilite uma freqüência maior de rituais (em geral
duas vezes por semana), isso pode levar anos de freqüência e aprendizado.
I.III- A Quimbanda
Em geral, a quimbanda é a umbanda dos Exús, e não dos Caboclos. Mas esse
não é o mesmo Exú do Candomblé: é um espírito, e não uma força da mente.
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Na quimbanda se encontra um Zé Pelintra, um malandro baiano, que fora
assassinado pela família de uma moça de importante família, que, segundo a lenda,
teria sido por ele deflorado. Encontra-se uma Maria Padilha, que fora estuprada e
assassinada por policiais na porta de seu próprio cabaré. Uma Maria Mulambo,
mulher da nobreza que abandonou tudo para viver um grande amor com um
plebeu e que morreu mendiga, alcoólatra e desiludida. O famoso Tranca Rua,
espírito de um malandro da Lapa do Rio de Janeiro, que morrera assassinado na
encruzilhada, que ele passou a guardar. Esses espíritos se tornaram entidades
graças a sua forma de morrer e por que tinham uma essência que nunca mais seria
encontrada. Mas elas podem também ser a forma da revolta contra os abusos, a
indignação de uma sociedade que defende a injustiça. Para os médiuns de
umbanda, as entidades da Esquerda são aquelas que estão mais perto dos seres
humanos, que estão todos nas trevas. Como habitantes das trevas, esses Exús e
Pomba-Giras conhecem muito bem seus caminhos e artimanhas e sabem como
chegar até a luz.
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I.IV- O Catimbó
As duas últimas religiões citadas têm como vimos uma forte ligação com o
espiritismo kardecista. O catimbó, porém, mais predominante na região Norte do
Brasil, onde a presença indígena é muito mais forte, as religiões africanas se
fundiram com as indígenas e deram inicio a essa manifestação religiosa muito
particular.
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Como o Elemental da Jurema é quem abre as portas, é desnecessário o uso
de sacrifícios, pois embora muito do ritual africano tenha sido mantido quanto à
música, vestuário, preparação sacerdotal, ancestralidade e organização dos Deuses,
o catimbó é muito mais indígena na sua forma essencial.
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III- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cremos que a própria mística que envolve a magia africana no Brasil baste
para justificar um trabalho como esse. A longa prole de Santo presente em nosso
país é encantadoramente vasta e rica. Talvez pelo mistério, ou talvez pelo fato de
que dentro das paredes dos terreiros todos são iguais, como uma grande família:
algo tão distante da realidade que se vive no mundo profano.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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dos livros, 2010. Volume 1.
____. Tudo que você precisa saber sobre umbanda. São Paulo: Universo dos
livros, 2009. Volume 2.
____. Tudo que você precisa saber sobre umbanda. São Paulo: Universo dos
livros, 2009. Volume 3.
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Editora, 1971
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