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RESUMO
ABSTRACT
The aim of the present article was to present the principles of whey
processability. In order to reach these objectives, the article presents the whey
proteins, the membrane filtration process and the spray drying technology. The main
technologies for use whey are presented: whey protein beverages, whey powder,
whey protein concentrate powder, whey protein isolate powder and powders of
whey protein fractions.
Keywords: membrane filtration; spray drying; whey proteins.
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secagem por atomização, abordando sobre as para a indústria de lácteos. Entretanto, com
propriedades das proteínas do soro de leite. as regulamentações ambientais rigorosas
que proíbem o descarte de produtos com
REFERENCIAL TEÓRICO alta demanda biológica de oxigênio, além
das comprovações científicas do alto valor
O estado de Minas Gerais é o maior nutricional dos constituintes do soro e com
produtor de leite do país. Em 2010, produ o desenvolvimento de técnicas de fraciona
ziu 8,38 bilhões de litros de leite, o que mento, esse produto é amplamente requi
representou 27,3% do total de 30,71 bilhões sitado como precursor de ingredientes ou
de litros produzidos no Brasil (IBGE, como ingrediente na indústria de alimentos
2010b).Grande parte desse volume de leite (GERNIGON et al., 2010).
industrializado no país em estabelecimento O soro de leite apresenta grande im
sob Serviço de Inspeção Federal é usada portância, tanto em função do elevado volume
na produção de queijos, o que representou produzido, quanto à sua rica composição
aproximadamente, 896 mil toneladas no ano nutricional. Na produção de 1 kg de queijo
de 2010 e consequemente, um alto volume de tem-se uma produção média de 9 litros de
soro (IBGE, 2010a). soro. Esse contém mais da metade dos sólidos
O soro de leite é um coproduto da presentes no leite original, incluindo grande
indústria de laticínios que representa a porção parte da lactose, proteínas do soro (20% da
aquosa do leite que se separa do coágulo proteína total), sais minerais e vitaminas
durante a fabricação de queijo ou da caseína. solúveis (ATRA et al., 2005; BALDASSO et
Apresenta-se como um líquido opaco e de cor al., 2011). Sua composição depende da com
amarelo-esverdeada (GIRALDO-ZUÑIGA et posição química do leite que varia de acordo
al., 2004; GUIMARÃES et al., 2010). Pode com a alimentação, reprodução, diferença
ser obtido em laboratório ou em indústrias individual de cada animal e do clima.
de processamento de leite por três operações Além disso, a composição do soro e
princ ipais: pela coagulação enzimática, o seu sabor, ligeiramente ácido ou doce,
resultando na coagulação das caseínas, ma dependem do tipo de coagulação do leite e da
téria-prima para a produção de queijos, e operação de fabricação do queijo. O soro doce
no soro doce; pode ser obtido também pela é obtido por coagulação enzimática do leite,
precipitação ácida no pH isoelétrico das pela adição da enzima conhecida por renina,
caseínas (pI = 4,6), resultando na caseína que tem a propriedade de coagular a caseína.
isoelétrica e no soro ácido; e por último, pela É um soro resultante da produção de queijos,
separação física das micelas de caseína por como por exemplo, o Cheddar ou o Emmental.
microfiltração, em membranas de 0,1 µm, O soro ácido, com pH entre 4,3 a 4,6, é obtido
obtendo-se um concentrado de micelas e as por coagulação ácida do leite para fabricação
proteínas do soro (MORIN et al, 2007). de caseína ou de queijo, como o Cottage.
Devido ao elevado conteúdo de subs Segundo Paboeuf et al. (2011), o soro
tâncias orgânicas presentes no soro de leite, doce tem maior teor de lactose comparado
associado principalmente à presença de ao soro ácido, enquanto que esse último
lactose e proteínas, o seu poder poluente é possui maior concentração de sais minerais.
considerado alto, com uma demanda bio A concentração de lactose no soro ácido
química de oxigênio (DBO) que varia de 27 é menor do que no soro doce, devido ao
a 60 kg·m-3 (PRAZERES et al., 2012). processo de fermentação, em que uma fração
Este coproduto já foi considerado uma de lactose é transformada em ácido lático
matéria-prima de aproveitamento oneroso durante a coagulação. Por outro lado, o soro
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ácido contém maior teor de cálcio e fósforo A principal proteína que contém grupos
que o soro doce, associado à solubilização sulfídricos no leite é a β-Lg, normalmente,
do complexo fosfato de cálcio existente nas esse grupo está presente dentro da molécula.
micelas de caseína, em pH ácido. No soro Na desnaturação por calor em temperatura de
doce, a ação da enzima renina não provoca 75 ºC, por exemplo, o grupo –SH da β-Lg é
a redução do pH, logo os íons de cálcio são exposto, reage com a caseína e provoca efeitos
retidos, associados às caseínas, no queijo. significativos em algumas das propriedades
A composição proteica de ambos os soros físico-químicas tecnologicamente importantes
é semelhante no que se refere à maioria das do leite, como a estabilidade do leite ao calor
proteínas. As proteínas do leite compreendem e a coagulação através da renina (WALSTRA
duas frações principais: as caseínas (80%) e et al., 2006). Devido à abundância desta
as proteínas do soro (20%). proteína no leite bovino, as propriedades dos
A caseína encontra-se organizada no concentrados proteicos de soro de leite bovino
leite sob a forma de micelas esféricas e pode são, na verdade, as propriedades da β-Lg
ser definida como a proteína precipitada pela (YADA, 2004).
acidificação do leite a um valor de pH próximo Em termos quantitativos, a α-La é a
a 4,6, sendo assim insolúvel em seu ponto segunda fração proteica do soro bovino e
isoelétrico (WALSTRA et al., 2006). a principal do leite humano. Ela contém
As proteínas do soro são solúveis em am 123 aminoácidos e tem uma massa molar
pla faixa de pH, apresentam estrutura globular de 14,2 kDa, sendo encontrada no soro de
e contêm pontes dissulfeto, que conferem um leite de todos os mamíferos (EDWARDS
determinado grau de estabilidade estrutural et al., 2009). O local de síntese da α-La é a
(AIMUTIS, 2004). As duas principais frações glândula mamária; no leite humano representa
proteicas do soro são β-lactoglobulina 28% do teor total de proteínas (WALSTRA
( β - L g ) e α - la c to a lbum i na (α-L a ) que et al., 2006). A α-La purificada é usada
estão presentes em maior concentração e comercialmente em fórmulas infantis com
constituem, aproximadamente, 70% das base na similaridade de sua composição e
proteínas totais do soro. Além dessas, são estrutura com a principal proteína do leite
encontradas a albumina do soro bovino (BSA), materno (USDEC, 2014).
imunoglobulina (Ig), glicomacropeptídeo A concentração do soro leva à for
(GMP) e subfrações, que se apresentam mação de produtos proteicos que podem
em pequenas concentrações no leite, como ser utilizados como ingredientes, para
lactoferrina, lisozima, lactoperoxidase, melhorar as propriedades tecno-funcionais
entre outras (HARAGUCHI et al., 2006; dos alimentos (solubilidade, gelificação,
METSÄMUURONEN; NYSTRÖM, 2009). viscosidade, emulsificação, formação de
A β-Lg é a fração mais abundante do soro espuma). Além disso,apresentam grande
de leite da maioria dos mamíferos. Representa, potencial de utilização em alimentos por
aproximadamente, 10% da proteína total do também possuírem componentes aos quais
leite e 50% da proteína do soro, no entanto se atribuem algumas propriedades biológicas
essa fração não está presente no leite humano. importantes como aumento da resposta
A β-Lg contém 162 aminoácidos, uma massa imunológica, anticâncer, proteção contra
molar de 18,3 kDa. Possui diferentes variantes problemas cardiovasculares, entre outras. No
genéticas, sendo as principais a β-Lg A e entanto, apesar dos experimentos preliminares
β-Lg B que diferem por substituições de indicarem a potencialidade dessas ações,
dois aminoácidos, Asp64Gly e Val118Ala, muitas delas necessitam de comprovações
respectivamente (EDWARDS et al., 2009). clínicas conclusivas (BAUMAN et al., 2006).
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para saladas, cremes artificiais de café, be fracionamento das proteínas com posterior
bidas nutricionais e sopas (USDEC, 2014). secagem (CANCINO, et al., 2006). Produtos
Vários fatores influenciam na com derivados do soro, como os concentrados
posição e nas características tecno-funcionais proteicos de soro são também utilizados em
dos produtos obtidos a partir das proteínas produtos extrudados à base de milho, batata
do soro, dentre eles, a fonte do leite, o mé e arroz (USDEC, 2014).
todo de produção, o tipo de queijo e o pro Alguns produtos derivados de soro
cessamento (REZAEI et al., 2011). Com comercialmente disponíveis são: concentrado
o desenvolvimento de novas tecnologias e proteico de soro (whey protein concentrate –
com um melhor entendimento do soro como WPC) que é o produto obtido pela remoção
matéria-prima que pode conferir à tecnolo de constituintes não proteicos do soro de
gia alimentar novas potencialidades, em forma que o produto final seco contenha, em
função das propriedades nutricionais e tecno- geral, entre 35% e 80% de teor proteico e o
funcionais de suas proteínas, este coproduto isolado proteico de soro (whey protein isolate
se tornou muito valorizado pelas indústrias – WPI) que é a forma comercial mais pura das
alimentícias. Dentre as alternativas para sua proteínas do soro e contém entre 80 e 95% de
utilização incluem a fabricação de produ proteína (BRANS, 2006). Os concentrados e
tos como ricota e bebida láctea, a produção isolados proteicos têm grande aplicação nas
de soro em pó, bem como a concentração e indústrias alimentícias pela funcionalidade
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que podem conferir aos alimentos. A Tabela a vácuo e a secagem em spray dryer são
1 resume algumas aplicações industriais dos utilizadas para obtenção de soro em pó,
concentrados proteicos de soro. concentrados e isolados proteicos de soro.
O uso de proteínas do soro como in O soro de leite é geralmente concentrado
gredientes em alimentos funcionais está por evaporação a vácuo antes da secagem
aumentando extensivamente, conforme tem em spray dryer, possibilitando a concentra-
aumentado a capacidade tecnológica das ção do soro a teores de sólidos láticos entre
indústrias para produzir WPC e WPI. Entre 52% m/m e 60% m/m, com um custo ener
as técnicas utilizadas para a recuperação gético por quilograma de água evaporada até
das proteínas do soro podemos citar a tec vinte vezes inferior ao processo de retirada
nologia de separação por membranas, em de água em spray dryer (CARIĆ et al., 2009;
especial a ultrafiltração, que é utilizada para SCHUCK et al., 2010).
recuperar as proteínas solúveis do soro. Os A concentração do leite ou soro de
componentes de baixa massa molar como leite por evaporação a vácuo geralmente é
lactose, sais e água permeiam através da aplicada para elaborar produtos concentrados
membrana de ultrafiltração, a qual retém como leite evaporado e leite condensado. É
as moléculas de proteína. Muitas vezes a também aplicada como etapa intermediária
ultrafiltração é operada no modo de diafil para produção de produtos lácteos em pó,
tração e permite uma maior remoção de sais já que a remoção da água por evaporação a
e lactose. O material retido na diafiltração vácuo requer menor energia do que por se
é seco em spray dryer. As proteínas de soro cagem; e para produzir lactose a partir de
obtidas por separação de membrana possuem recristalização do soro (WALSTRA et al.,
boas propriedades tecno-funcionais como 2006). A operação de secagem em spray
solubilidade, capacidade de formar espuma, dryer associada à tecnologia de separação
gel e emulsão (CROGUENNEC et al., 2006). por membranas permite a produção de pós
Outros produtos obtidos a partir do soro lácteos com diferentes propriedades físico-
de leite são: a proteína de soro hidrolisada, químicas, bioquímicas e graus de pureza,
que é obtida pela hidrólise das moléculas de além de variadas propriedades funcionais
proteínas durante seu processamento com a (NARONG; JAMES, 2008; BALDASSO et
formação de segmentos proteicos menores; al., 2011). A primeira patente que descreve
concentrados de soro com teor de lactose re a operação de secagem em spray dryer ou
duzido, que são produtos especiais com teor secagem por atomização, data de 1872,
de lactose inferior a 1% e também o soro realizada por Percy nos Estados Unidos, que
com teor de minerais reduzidos (produto foi considerado o inventor desta tecnologia
obtido pela remoção seletiva de uma parte de secagem. Estudos posteriores formaram
dos minerais do soro através dos processos de a base para o desenvolvimento do primeiro
troca iônica, eletrodiálise ou outras técnicas equipamento spray dryer industrial, em
de separação por membranas) (CORREIA 1905 (CARIĆ et al., 2009). A secagem por
et al., 2011). atomização consiste na remoção de parte da
Considerando as diversas aplicações água do produto, permitindo armazenamento
do soro de leite obtido durante a produção e conservação por mais tempo. Essa técnica
de queijos, são necessárias alternativas tec reduz os custos logísticos, e frequentemente é
nológicas para o seu adequado aproveitamen a mais utilizada para desidratação de produtos
to. Operações unitárias como a tecnologia lácteos. Também é considerada a operação
de separação por membrana, a evaporação mais importante para conservação de lácteos,
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dos problemas como o estufamento tardio pré-concentrar o leite foi uma ideia muito
em queijos duros (DIAS, 2011). A MF tam- atrativa e tem sido continuamente explorada
bém pode ser utilizada na indústria de para produção de uma grande variedade de
laticínios para remoção de gordura do soro queijos com diferentes variações tecnológicas
de leite e tratamento de salmouras (CORREIA (HENNING et al., 2006). Ribeiro et al. (2009)
et al., 2011). Rektor;Vatai (2004) utilizaram desenvolveram um queijo tipo Minas Frescal
operações de separação por membranas para probiótico a partir de retentados de UF de
processamento de soro obtido da produção de leite, com grande potencial como alimento
queijo tipo mussarela. Esses autores usaram probiótico. Segundo os autores, a produção do
MF para reduzir o número de bactérias do queijo por meio do uso de retentados da UF de
ácido láctico e de outros microrganismos leite resulta em maior rendimento e confere
presentes no soro. Os autores constataram à massa textura mais sólida e fechada, além
99,99% de retenção dos microrganismos pela de maior vida útil e padronização do sabor. A
membrana, resultado que permitiu afirmar que UF permite também fracionamento de proteí
a MF é eficiente para melhoria da qualidade nas com tamanho muito semelhante, como
microbiológica do soro de leite. Cianci et demonstrado por Cheang; Zydney (2004).
al. (2005); Castro et al. (2007) também de Esses pesquisadores analisaram a utilização
monstraram que é possível a aplicação das de um sistema de filtração tangencial de dois
membranas de MF na indústria de alimentos estágios para purificação de α- La e β-Lg a
para clarificação de suco. A UF pode ser partir de isolado proteico de soro. A NF é
utilizada na indústria de laticínios para con frequentemente utilizada para a concentração
centração de proteínas do soro de leite, para e desmineralização parcial do permeado da
obtenção de WPC e WPI e de algumas frações ultrafiltração de leite ou soro de leite (ATRA
concentradas, como α-La e β-Lg (POULIOT, et al., 2005; SUÁREZ et al., 2006).
2008). Além disso, essa operação pode ser De acordo com Martinez-Ferez et al.
aplicada na fabricação de queijos, para pré- (2006), a NF pode ser usada para a produção
concentração do leite, o que permite aumentar de derivados de lactose, como os oligossacarí
o rendimento na produção pela incorporação deos do leite de cabra. Um concentrado com
de proteínas do soro e outros componentes mais de 80% em oligossacarídeos pode ser
do leite na matriz do produto (MISTRY; obtido por meio da filtração tangencial, com
MAUBOIS, 2004; CARVALHO; MAUBOIS, dois estágios com membranas cerâmicas de
2010). Esse processo foi proposto por UF e NF. Estes oligossacarídeos podem ser
Maubois et al. (1969) e leva à concentração uilizados em formulações de produtos para
diferencial dos principais elementos do leite, crianças a fim de diminuir a propensão a
matéria graxa e proteínas. A técnica tem doenças.
como principal característica o uso direto A OR é utilizada na dessalinização, no
do retentado obtido pela UF do leite na reuso e no tratamento de águas (CORREIA
fabricação de queijos, dispensando a etapa et al., 2011) Além disso, é possível a utili
de dessoragem e o trabalho da massa nos zação desta operação para concentração
tanques de fabricação, sendo uma alternativa de suco anteriormente clarificado por MF
para a produção de queijos. O processo foi (CIANCI et al., 2005).
patenteado e ficou conhecido mundialmente A Figura 2 ilustra as principais tecno
como MMV, iniciais dos sobrenomes de seus logias empregadas na produção de lácteos
idealizadores, Maubois, Mocquot e Vassal. desidratados, no qual se destaca algumas
A possibilidade de utilização da UF para tecnologias de membranas.
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