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OFICINA DE LEITURA II: A TIPOLOGIA TEXTUAL

TEXTO 1

O bem-estar em cinco passos


Riad Younes

O custo de ficar saudável é barato. Pelo menos, evitar doenças crônicas e fatais
está ao alcance de todos. Essa era a conclusão de um estudo muito extenso realizado
pelo Departamento de Saúde do governo dos Estados Unidos da América (EUA),
publicado em 1982. Trinta e quatro anos depois, e milhões de dólares gastos em mais
pesquisas e medicamentos novos, as conclusões continuam as mesmas. Para evitar
doenças crônicas graves, os melhores passos a serem adotados resumem-se a meros
cinco: não fumar, fazer exercício físico regular e adequado, evitar bebidas alcoólicas
ou as consumir em quantidades pequenas, manter peso e índice de massa corpórea
normal e, finalmente, dormir sete horas ou mais por dia. 2º
A primeira pesquisa, realizada no fim da década de 70 por um time de
epidemiologistas liderados pelo doutor D. L. Wingard, foi um marco para orientar as
autoridades de saúde e as sociedades médicas para o rumo das políticas de saúde e
das recomendações para uma vida saudável. Trinta anos depois, foi a vez do estudo
realizado pelo doutor Yong Liu, do Centro de Controle de Doenças (CDC), também nos
EUA, para ver quão eficientes foram as medidas tomadas sobre o comportamento da
população americana.
A recente publicação dos resultados na revista Prevention of Chronic Diseases
é, no mínimo, curiosa. Os cientistas do CDC avaliaram mais de 400 mil americanos de
todos os estados da União, mais de 80% eram não fumantes (nunca fumaram ou já
haviam abandonado o cigarro na época do estudo). Quase a metade (50,4%) se
exercitava de forma adequada e regular. Mais de 37% dos adultos pesquisados
afirmaram que regularmente dormiam menos que sete horas por noite e consumiam
elevadas quantias de bebidas alcoólicas. Somente um terço dos voluntários tinha peso
adequado. O lado bom dessa pesquisa é que somente 1,4% das pessoas não tinha
nenhum dos hábitos recomendados. A má notícia é que apenas 6,3% da população
havia efetivamente adotado as cinco recomendações.
Os grupos com maior probabilidade de adotar os cinco hábitos são as mulheres,
os idosos com mais de 65 anos, as pessoas com educação superior e os asiáticos. Ao
mesmo tempo, a maioria das pessoas regularmente com os cinco hábitos saudáveis se
concentrava nos estados do oeste norte-americano. Os piores resultados estavam nos
estados centrais e nos do sudeste dos EUA.
Cientistas recomendam que as medidas adotadas até a presente data teriam
de ser reavaliadas, e novas orientações mais específicas e eficientes deveriam ser
implementadas para aumentar a adesão da população aos hábitos simples e saudáveis
e para diminuir a disparidade entre cidades, estados e regiões do mesmo país. Sugerem
intensa colaboração entre sistemas de saúde, comunidades, locais de trabalho e
escolas, que poderiam promover mudanças de hábitos na população, principalmente,
entre as camadas menos favorecidas da sociedade.
O mesmo é verdade para o Brasil. É mais barato e eficiente evitar doenças
crônicas, como hipertensão, diabetes, câncer, infarto e derrame, do que tratá-las.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/910/o-bem-estar-em-cinco-
passos>. Acesso em: 08 dez. 2016.
[Adaptado]

1.(COMPERV/2017) - No texto, predomina a sequência


A) narrativa.
B) argumentativa.
C) descritiva.
D) explicativa.

1
TEXTO 2

O salto da terapia genética

Saudamos o fato de a ciência avançar rapidamente para aplicar técnicas que


impeçam a transmissão de doenças hereditárias

Depois de décadas de hesitações e reveses, a terapia genética está em


condições de cumprir suas promessas e dar o salto à prática clínica. Em agosto foi
aprovado nos EUA o primeiro tratamento comercial para um tipo de leucemia com mau
prognóstico e em 2018 são esperados os resultados das primeiras terapias
experimentais para eliminar ou modificar os genes envolvidos em outras patologias e
tipos de câncer, entre eles o de pulmão.
Os primeiros experimentos tiveram de ser abandonados por causa dos efeitos
adversos, uma vez que não havia nenhuma maneira segura de extrair os genes
alterados e substituí-los por outros normais. A morte de vários pacientes retardou a
investigação e as expectativas criadas. O grande salto que aconteceu agora se deve à
descoberta — em 2013 — de uma nova técnica de edição genética, chamada CRISPR,
que não só permite copiar e colar genes ou porções do genoma como fazê-lo facilmente
e a custos muito mais baixos do que as técnicas anteriores. Seu desenvolvimento foi
vertiginoso. Depois de demonstrar eficácia em animais, os primeiros testes em
humanos foram autorizados em 2016.
Devemos saudar o fato de a ciência avançar rapidamente para poder aplicar
essa técnica de maneira segura em patologias que hoje não têm tratamento ou para
evitar a transmissão de doenças hereditárias. Mas também devemos abrir um debate
sobre como isso deve ser aplicado. O mesmo procedimento útil para curar pode servir
para outros propósitos, como a modificação de determinadas características da pessoa.
Ainda estamos longe de ter os conhecimentos necessários para tornar isso possível,
pois existem muitos genes e muitas interações entre eles. Mas é conveniente avançar
para canalizar a aplicação desses avanços, exigir a máxima transparência nos
resultados e garantir que esses tratamentos estejam disponíveis para todos e não
apenas para aqueles que eventualmente puderem pagar por eles.
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/28/opinion/1514482006_309077.html

2.(INAZ DO PARÁ/2018) - O texto “O salto da terapia genética” trata-se de


um texto:
(A) Argumentativo, porque explica e defende uma ideia, a fim de levar o leitor a crer
no que está escrito.
(B) Descritivo, pois descreve ao mesmo tempo em que caracteriza um fato.
(C) Narrativo, uma vez que conta um fato real e situa o leitor quanto a tempo e espaço.
(D) Não se aplica a nenhuma das alternativas anteriores, uma vez que se trata de um
texto informativo.

TEXTO 3

Um pouco de história

O bicameralismo é a divisão do Poder Legislativo federal em duas casas. Sua


origem moderna remonta à Inglaterra do século 14 que desenvolveu um Parlamento
dividido em um sistema bicameral: a House of Lords (Casa dos Lordes) – que
representava os interesses da alta aristocracia – e a House of Commons (Casa dos
Comuns), ligada às demandas das demais classes como os cavaleiros e a burguesia.
Esse modelo foi considerado bastante estável e eficiente devido ao poder das
instituições inglesas.
Na atualidade, o bicameralismo se estende a 61 países, mas é adotado com
um entendimento diferente do passado. Hoje, as duas Casas legislativas coexistem
porque abrigam dois tipos de representação: uma relativa ao número da população e

2
outra à representação dos territórios federados.

O bicameralismo no Brasil

O Brasil possui um sistema bicameral desde a época do Império. No entanto,


é na Constituição Federal de 1988 que está regulamentado o bicameralismo que
conhecemos hoje. O Congresso Nacional é o órgão constitucional que exerce as funções
legislativas no País. Ele se divide em duas Casas: a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal, cada um com suas funções específicas. Os arts. 45 e 46 da CF dividem as
atribuições políticas de cada Casa Legislativa.
A Câmara dos Deputados tem a função de representar os interesses da
população. Ela é composta atualmente por 513 deputados federais de todos os estados,
eleitos pelo sistema proporcional, com mandato de quatro anos. O número de
parlamentares eleitos em cada estado varia de acordo com o tamanho da sua
população: Roraima, o menos populoso do Brasil, é um dos estados que tem direito a
eleger oito deputados (o número mínimo permitido pela Constituição); já São Paulo,
por sua vez, tem a maior população do país e por isso elege 70 deputados (o número
máximo).
O Senado Federal tem a competência de representar as demandas das
unidades federativas do Brasil. Para que nenhum estado se sobreponha ao outro, todos
eles elegem três senadores pelo sistema majoritário, para mandatos de oito anos, com
renovação de 1∕3 e 2∕3 em cada eleição. Diante disso, a Casa é composta por 81
senadores e senadoras.
ORTIZ, Vitor. O bicameralismo brasileiro: análises e perspectivas. São Paulo: Faculdade
de Direito de Ribeirão Preto da USP, 2014. 82 p. (Tese, Doutorado). Disponível em .
Acesso em: 11 nov. 2018, com adaptações

3.(IADES/2019) - Com relação à tipologia, assinale a alternativa correta.


(A) O primeiro parágrafo corresponde à introdução de um texto argumentativo, em
que se apresenta um ponto de vista acerca do bicameralismo.
(B) O texto apresenta características de texto argumentativo e injuntivo, visto que
pretende convencer o leitor da importância de haver duas Casas no Brasil. (C) O
primeiro parágrafo corresponde à introdução de um texto narrativo, em que se
apresenta a história do bicameralismo.
(D) O texto é predominantemente descritivo, uma vez que objetiva pormenorizar o
funcionamento do Poder Legislativo na Inglaterra e no Brasil, respectivamente.
(E) O texto é predominantemente informativo, já que pretende apenas apresentar os
fatos que compõem a história do bicameralismo no Brasil.

GABARITO
1.D – 2.A – 3.E

RESOLVA COM TÉCNICA!

TEXTO 1

Diz o governo que a reforma da Previdência é urgente e que, sem ela, não
poderá haver crescimento econômico. Com certeza, essa reforma também será útil 3
para manter o “risco Brasil” no caminho da retração, para alegria de banqueiros e de
outros representantes do poder absolutista do capital... Há, entretanto, outro tipo de
risco que precisa ser avaliado, embora não existam organismos internacionais (leia-se
FMI) interessados em aferi-lo.
É o risco social brasileiro. A reforma precisa ser bem pensada para não gerar
mais empobrecimento, mais violência, mais degradação ambiental, mais doenças. Um
país que despreza o funcionalismo público não consegue prestar, condignamente, os
serviços que lhe são essenciais. [...] A polícia, por exemplo, começou a degradar-se a
partir do brutal achatamento dos salários de seus servidores. [...].
O Estado brasileiro tem menosprezado a função dos policiais, e muitos deles

3
vêm mudando de lado: em vez de trabalhar para a população, tornou-se-lhes mais
“interessante” servir aos bandidos. [...] O crime está ganhando terreno, com larga
vantagem em relação às providências da administração pública. Destruído o
funcionalismo, o Estado sucumbe – e a criminalidade agradece.
(Fragmento adaptado do texto “Reformar para quê?”, escrito por Luiza Nagib Eluf e
publicado, em 28-3-2003, na Folha de São Paulo, p. A3).
1.(FAPEC/2018) - Sobre as tipologias textuais, é correto afirmar que
predominam no texto sequências:
A) Descritivas.
B) Dissertativas.
C) Dialogais.
D) Prescritivas.
E) Narrativas.

TEXTO 2

Antes do desenvolvimento do Linux, todo o mundo acreditava que um software


tão complexo como um sistema operacional deveria ser desenvolvido para um grupo
de pessoas relativamente pequeno, sob controle e coordenado. Esse modelo era e é o
mais comum no desenvolvimento do software comercial. O Linux evoluiu de um modo
totalmente diferente.
Quase desde o princípio participaram de seu desenvolvimento numerosos
voluntários coordenados somente pela internet. A qualidade se mantinha não pela
autocracia ou por uma série de normas rígidas, mas pela simples estratégia de publicar
partes do programa a cada semana e receber comentários de centenas de usuários em
poucos dias, criando assim um tipo de rápida seleção darwiniana nas mutações
introduzidas pelos programadores.
RAYMOND, Eric. A catedral e o bazar. Disponível em:
biblioweb.sindominio.net/telemática/catedral.html.

2.(AMIGA PÚBLICA/2012) - Quanto à tipologia discursiva, o texto classifica-


se, fundamentalmente, como:
a) Narrativo
b) Descritivo
c) Expositivo
d) Argumentativo
e) Injuntivo

TEXTO 3

Os medos que o poder transforma em mercadoria política e comercial

Zygmunt Bauman

O medo faz parte da condição humana. Poderíamos até conseguir eliminar uma
por uma a maioria das ameaças que geram medo (era justamente para isto que servia,
segundo Freud, a civilização como uma organização das coisas humanas: para limitar
ou para eliminar totalmente as ameaças devidas à casualidade da Natureza, à fraqueza
física e à inimizade do próximo): mas, pelo menos até agora, as nossas capacidades
estão bem longe de apagar a “mãe de todos os medos”, o “medo dos medos”, aquele
medo ancestral que decorre da consciência da nossa mortalidade e da impossibilidade
de fugir da morte.
Embora hoje vivamos imersos em uma “cultura do medo”, a nossa consciência de
que a morte é inevitável é o principal motivo pelo qual existe a cultura, primeira fonte
e motor de cada e toda cultura. Pode-se até conceber a cultura como esforço constante,
perenemente incompleto e, em princípio, interminável para tornar vivível uma vida
mortal. Ou pode-se dar mais um passo: é a nossa consciência de ser mortais e,
portanto, o nosso perene medo de morrer que nos tornam humanos e que tornam

4
humano o nosso modo de ser-no-mundo.
A cultura é o sedimento da tentativa incessante de tornar possível viver com a
consciência da mortalidade. E se, por puro acaso, nos tornássemos imortais, como às
vezes (estupidamente) sonhamos, a cultura pararia de repente [...].
Foi precisamente a consciência de ter que morrer, da inevitável brevidade do
tempo, da possibilidade de que os projetos fiquem incompletos que impulsionou os
homens a agir e a imaginação humana a alçar voo. Foi essa consciência que tornou
necessária a criação cultural e que transformou os seres humanos em criaturas
culturais. Desde o seu início e ao longo de toda a sua longa história, o motor da cultura
foi a necessidade de preencher o abismo que separa o transitório do eterno, o finito do
infinito, a vida mortal da imortal; o impulso para construir uma ponte para passar de
um lado para outro do precipício; o instinto de permitir que nós, mortais, tenhamos
incidência sobre a eternidade, deixando nela um sinal imortal da nossa passagem,
embora fugaz.
Tudo isso, naturalmente, não significa que as fontes do medo, o lugar que ele
ocupa na existência e o ponto focal das reações que ele evoca sejam imutáveis. Ao
contrário, todo tipo de sociedade e toda época histórica têm os seus próprios medos,
específicos desse tempo e dessa sociedade. Se é incauto divertir-se com a possibilidade
de um mundo alternativo “sem medo”, em vez disso, descrever com precisão os traços
distintivos do medo na nossa época e na nossa sociedade é condição indispensável
para a clareza dos fins e para o realismo das propostas. [...]
(Adaptado de http://www.ihu.unisinos.br/563878-os-medos-que-o -poder-
transforma-em-mercadoria-politica-e-comercial-artigo-dezygmunt-bauman - Acesso
em 26/03/2018)

3.(INSTUTO AOCP/2018) - Em relação ao texto I, assinale a alternativa


correta.
(A) Uma das propriedades linguísticas que caracterizam o texto como argumentativo é
a predominância de formas verbais no pretérito.
(B) Os verbos e pronomes em primeira pessoa do plural, presentes em “Poderíamos
até conseguir eliminar uma por uma a maioria das ameaças que geram medo [...]” e
“[...] é a nossa consciência de ser mortais e, portanto, o nosso perene medo [...]” são
fortes marcas do tipo textual injuntivo, predominante no texto.
(C) O tipo argumentativo é o eixo da construção do texto, tendo em vista que o autor
defende uma tese por meio de relações lógicas de argumentação. Uma dessas relações
é a de condição, presente no excerto “E se, por puro acaso, nos tornássemos imortais,
como às vezes (estupidamente) sonhamos, a cultura pararia de repente [...]”.
(D) Não é possível classificar o tipo textual predominante no texto I, uma vez que os
tipos textuais constituem uma lista irrestrita na cultura linguística. Ao contrário disso,
os gêneros textuais compõem uma lista restrita, o que possibilita que se classifique o
texto I como um artigo de opinião.
(E) O amplo uso de figuras de linguagem, especialmente de metáforas, no texto I, é
uma pista de que o tipo narrativo é o eixo da construção textual, enriquecendo as
formas de expressão do autor a partir do uso de uma linguagem denotativa.

GABARITO
1.B – 2.C – 3.C

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