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O fascismo e o corpo
Publicada em Outubro 2017 — por carlos c. varela
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Coincidindo com uma forte crise na passagem do século XIX ao XX, as eli-
tes culturais alemãs viram ameaçado o seu tradicional statu quo pola de-
mocratização do acesso ao ensino superior. Boa parte da produção dos
chamados “revolucionários conservadores” foi uma reação contra essa
ameaça aos seus privilégios; através de alambicadas fórmulas metafísi-
cas estes lósofos não faziam outra cousa que expressar o seu mal-estar
e resistência perante a plebeização da academia (1). Agora que a cultura
parecia estar ao alcance de qualquer um –não se esqueça a epopeia au-
toeducativa do movimento obreiro da altura‑, a aristocracia cultural foi
elaborando a ideia do corpo como última evidencia da sua superioridade.
Nietzsche, nos aforismos do seu O que falta aos alemães, expressou-no
com mais rotundidade do que ninguém: “Tudo o que é bom é herança e
não há que enganar-se aqui: o cultivar meros sentimentos ou ideias não
é nada ou quase nada, ante tudo há que persuadir o corpo. O severo
mantimento de gestos signi cativos escolhidos, o o brigar-se a viver
como homens que não se deixam castrar é su ciente para tornar-se se-
leto, e em duas ou três gerações terá cado interiorizado”; “A cultura
deve começar no lugar devido, não na alma (funesta superstição de cléri-
gos), o lugar preciso é o corpo, o gesto, a dieta, a siologia, o resto é
consequência”.
Em certa maneira Nietzsche estava no certo: a hexis corporal, em tanto
que diferença social incorporada, lei social feita corpo, agrupa as disposi-
ções mais profundas do habitus e polo tanto as mais difíceis de modi car,
que continuam a funcionar mesmo durante muito tempo depois de que
as condições que as engendraram tenham desaparecido; eis o exemplo
caricaturesco do Fidalgo depauperado que mantém o seu porte aristo-
crático e maneiras esquisitas à mesa de uma taberna miserável ou, igual-
mente, a do novo-rico incapaz de adquirir os hábitos corporais legítimos
da burguesia e cuja gestualidade camponesa indissimulável delata todo o
tempo a sua origem social. No corpo, pois, atrincheira-se melhor do que
em nenhum outro lugar a antiga classe do desclassado, permitindo-lhe
continuar a ver o seu anterior privilégio como um direito natural, exata-
mente da mesma maneira que um cavalo sempre será melhor do que
um burro.
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