Você está na página 1de 3

PRINCÍPIOS DA OFTALMOLOGIA

FUNDOSCOPIA DIRETA
1
Jailton Vieira Silva
2
Bruno Fortaleza de Aquino Ferreira
2
Hugo Siquera Robert Pinto

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

 Reconhecer a i mportâ nci a da fundos copi a di reta pa ra o médi co genera l i s ta ;


 Aprender a técni ca da fundos copi a di reta ;
 Reconhecer um fundo de ol ho norma l ;
 Reconhecer a l tera ções pa tol ógi ca s em um fundo de ol ho.

RELEVÂNCIA

A pos sibilidade de a nalisar estruturas terminais do sistema ci rculatório e uma porçã o exteri ori za da do s i s tema nervos o
(nervo óptico) é suficiente para tornar a fundoscopia um exame único, podendo ser reconhecidos importantes s inais que orienta m
di a gnósticos e tra tamentos. Justifica-se, assim, a i mportância do domínio e da prática do exame não somente pelo oftalmol ogi s ta ,
ma s ta mbém por todo médico responsável por cuidados gerais, sempre correlacionando com a história clínica. Apesar da existência
de métodos mais avançados de avaliar o fundo de olho, a fundoscopia direta é um exame simples que pode s er de gra nde va l i a ,
qua ndo rea l i za da por um médi co. El a é fei ta us a ndo-s e um ofta l mos cópi o di reto.

INFORMAÇÕES GERAIS

OFTALMOSCÓPIO DIRETO TABELA 1. Aberturas e filtros do diafragma do oftalmoscópio.


Antes de pa rti r pa ra a a borda gem da técni ca , Pequena abertura
devemos ter conhecimento do a parelho utiliza do e de s eus Fundo de olho em pupilas não dilatadas e ambientes com
recurs os. Teremos por referênci a o ofta l mos cópi o di re to iluminação.

portá ti l el étri co à pi l ha – FIGURA 1. Média abertura


Fundo de olho em pupilas pouco dilatadas.

Grande abertura
Fundo de olho em pupila bem dilatada.
Teste do reflexo vermelho.

Abertura em fenda
Percepção de profundidade.

Abertura com alvo


Centralização macular (investigação de estrabismos).

FILTRO VERDE
Visualização dos vasos e da fóvea.

FILTRO AZUL
FIGURA 1. Esquema de oftalmoscópio direto portátil à pilha. Alterações pigmentadas com fluoresceína (não se utiliza de rotina).

O ofta l mos cópi o di rei to pos s ui dua s es trutura s


TÉCNICA FUNDOSCÓPICA DIRETA
pri ncipais: uma a bertura, através da qual podemos enxerga r
o que há do outro lado e uma fonte de l uz, em um mes mo
ponto da a bertura, possibilitando a iluminação e, portanto, a A fundoscopia direta é melhor realizada n o pa ci ente
em completa midríase. Havendo a possibilidade, util i za m-s e
vi s ua l i za çã o do fundo de ol ho.
A a bertura é dotada de um conjunto de l entes que col íri os midriáticos de curta dura çã o (ex.: tropi ca mi da 1%).
permi tem, quando necessário, correçã o refra ti va . Na fonte Antes de instilar o colírio no s a co conju nti va l do pa ci ente ,
deve-s e a tenta r pa ra i ndi víduos com predi s pos i çã o a
l uminosa, há diafragmas e filtros que regulam qua nti da de e
cor de l uz emi ti da pe l o ofta l mos cópi o – TABELA 1. gl a ucoma a gudo de â ngul o fecha do (GAAF), a na l i s a ndo o
â ngulo i ridocorneano e i dentifica ndo fa tores de ri s co pa ra

1. PROFESSOR DA DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


2. ACADÊMICO DE MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ TEXTO REVISADO EM 18/02/2013.
DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

câ ma ra a nteri or ra s a – TABELA 2. TESTE DO REFLEXO VERMELHO


O tes te do reflexo vermelho (TRV) é reali za do com o
TABELA 2. FATORES DE RISCO PARA CÂMARA ANTERIOR RASA. ofta l moscópio. É essencial para verifica r a permea bi l i da de
 Hipermetropia; dos mei os ocul a res a pa s s a gem de l uz.

 Nanoftalmo; ANATOMIA DO FUNDO DE OLHO


 História familiar de glaucoma agudo;
Pa ra uma mel hor a va l i a çã o do fundo de ol ho é
 Sexo feminino; necessário conhecer as estruturas que deverão se a nalisada s
 Idade avançada; e s uas disposições (FIGURA 4). Note que geralmente o que s e
encontra nos livros são fotos de exa mes de fundo de ol h o
 Uso de fármacos midriáticos (α1-adrenérgicos, anticolinérgicos).
i ndireto. Na fundoscopia direta, o ca mpo de vi sualização é de
a pena s 10-12 gra us .
Nem s empre é possível a dilatação fa rma col ógi ca . É
i mporta nte, porta nto, rea l i za r o exa me em a mbi entes
es curos com o olhar fixado em um ponto distante, tendo em
vi s ta que fa vorece a mi dría s e.
Ini cia-se o exame pela inspeção, compa ra ndo-s e os
ol hos e a s regi ões a dja centes .
A s eguir, a nalisa-se o â ngulo da câmara anterior. Para
ta l , a gonioscopia é o exame padrão-ouro, porém rea l i za da
s omente pelo oftalmologista a través da l â mpa da de fenda .
Entreta nto, pode -s e es ti ma r o â ngul o com a i l umi na çã o
perpendi cul a r com l a nterna – FIGURA 2.

FIGURA 4. Anatomia básica do fundo de olho. Observe o campo de


visualização reduzido na fundoscopia direta.

FIGURA 2. Estimativa do ângulo da câmara anterior através da iluminação


perpendicular ao globo ocular com lanterna. Deve -se analisar a
sombra que se forma do lado oposto ao iluminado.

ABORDAGEM AO PACIENTE

EXAMINANDO O FUNDO DE OLHO a pa reça al guma es trutura do fundo de ol ho. Foca l i za -s e a


i ma gem, utilizando o conjunto de l entes do ofta l mos cópi o . A
Preparo. Deve-se instilar colírio mi driático quando nã o s eguir, deve-se l ocalizar a papila óptica, procurando-a cerca de
houver contraindi ca ções . O a mbi ente deve ter i l umi na çã o 20-30° em rel ação à l inha média da face. A tra jetória dos va sos,
reduzida, e o paciente permanecer com a ca beça i móvel , na ta mbém, s erve de guia, uma vez que saem juntamente com a s
a l tura do examinador e alinhada a o eixo axial, devendo o ol ha r fi bras do nervo óptico. Analisa-se a papila quanto a cor, forma ,
s er fi xa do no i nfi ni to. l i mite e esca va çã o. Ao l oca l i za r a es ca va çã o, é i mporta nte
Técnica. Em pri ncípi o, devemos exa mi na r o ol ho do rel a cioná-la com o tamanho tota l da pa pi l a , gera l mente 30-
pa ci ente com o olho equivalente do nosso, isto é, o es querdo 40%.
exa mina o esquerdo e o direi to exa mi na o di rei to. Sa bendo PASSO 3 – Vasos: De dentro do ol ho, e mergem da
di sso, citamos um passo-a-passo para mel hor fi xa r a técni ca . pa pila artéria e veia central da retina, dividindo-s e nos ra mos
PASSO 1 – TRV: À di s tância de a proxi ma da mente um temporal superior, nasal s uperi or, tempora l i nferi or e na s a l
bra ço do examinador, iluminam-se simultaneamente os ol hos i nferior. Analisa-se a trajetória (retilínea ), o refl exo a rteri ol a r
com a ma ior abertura do diafragma, examinando-os a través do norma l (a té 1/3 do di â metro), e a rel a çã o do di â metro
ofta l moscópio. A presença de turbidez ou pontos enegreci dos a rteri ovenos o (2:3).
s ugere opacidade de meio ocular (TRV a norma l ), devendo-s e PASSO 4 – Retina: Após a a nálise dos vasos, passamos a
enca mi nha r a o ofta l mol ogi s ta . a preciar a retina como um todo, ca ra cteri za ndo col ora çã o e
PASSO 2 – Papila: Aproxi ma -s e o má xi mo pos s ível , uni formidade. É i mportante notar que a l guma s va ri a ções de
s empre buscando a vi sualização do reflexo vermel ho a té que col oração são fisiológicas e dependem da pigmentação de ca da

FUNDOSCOPIA DIRETA | 16
DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

i ndivíduo. Pa ra uma vi sualizaçã o ma i s a bra ngente da reti na TESTE DO REFLEXO VERMELHO


pel a fundos copi a di reta , é neces s á ri o rea l i za r a l guma s
PASSO 5 – Mácula: A vi s ualização da mácula é feita por
ma nobra s . Pede -s e a o pa ci ente pa ra ol ha r pa ra ci ma , úl ti mo, uma vez que es s a regi ã o é ma i s s ens ível à
vi s ualizando a retina superior; para baixo, vi sualizando a reti na
l uminosida de, provoca ndo des conforto e es cotoma s . Pa ra
i nferior; para dentro (adução), vi suali za ndo a reti na na s a l ; e
vi s ualizá-la, pede-se ao paciente olhar diretamente pa ra a l uz.
pa ra fora (a bduçã o), vi s ua l i za ndo a reti na tempora l .
Em i ndivíduos jovens, percebe-se um refl exo na regi ã o ma i s
centra l (reflexo foveolar). Utiliza-s e a a bertura em a l vo pa ra
veri fi car a centralização macular (no estrabismo, a fóvea pode
nã o es ta r centra da ).

FIGURA 3. Manobra para visualização da retina inferior.

REFERÊNCIAS

1. FACULDADE DE MEDICINA DA USP. Programa Educacional de Oftalmologia. São Paulo: Merck Sharp & Dohme, 2008.

2. LÓPEZ, M.; LAURENTYS-MEDEIROS, J. Semiologia Médica: as Bases do Diagnóstico Clínico. São Paulo: Revinter, 2004.

3. NOVER, A. O fundo de olho: Técnica de exploração e achados característicos. São Paulo: Manole, 1981.

4. REY, L. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

5. RIORDAN-EVA, P.; WHITCHER, J. P. Vaughan & Asbury’s general ophthalmology. New York: McGraw-Hill, 2008.

6. GOUVEIA, E. B.; GOUVEIA, G. B.; MARTINEZ, C. A. A. B. Fármacos que induzem glaucoma agudo. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, São
Paulo, v. 8, n. 3, 2010. Disponível em < http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n3/a010.pdf>. Acesso em 08 Nov. 2012.

7. MING, W. E. Fundoscopy made easy. Medical PBL, 2010. Disponível em <http://medicalpblukm.blo gspot.com.br/2009/06/downlo ads-
ophthalmology.html>. Acesso em 08 Nov. 2012.

FUNDOSCOPIA DIRETA | 17

Você também pode gostar