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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA
LINGUAGEM
TERESINA
2020
1
TERESINA
2020
2
_____________________________________________________
Profa. Dra. Maria Angélica Freire de Carvalho
Orientadora (UFPI)
____________________________________________________
Profa. Dra. Tarcilane Fernandes da Silva
Examinadora (UESPI)
____________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Wellington Borges Gomes
Examinador (UFPI)
____________________________________________________
Prof. Dra. Raimunda Gomes de Carvalho Belini
Examinadora suplente (IFPI)
3
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força e pela coragem para lutar por meus sonhos.
À minha família, meu alicerce e minha fonte inesgotável de amor. Sou grata, especialmente,
aos meus pais, Maria do Socorro Brito Martins e Raimundo Nonato Martins Nasareno por
sempre acreditarem em mim. Tudo que sou hoje é por causa de vocês!
À minha irmã, Ravenna Maria, pelo carinho infinito e pelas palavras acolhedoras.
À minha orientadora, Maria Angélica, minha inspiração como ser humano e minha referência
como profissional. Agradeço pela sua generosidade, quem sempre esteve de braços abertos
para me ajudar; e pelas palavras sempre tão sábias que tanto me acalmaram durante essa
jornada.
Aos grandes mestres que foram peças fundamentais em minha formação intelectual.
Agradeço aos professores maravilhosos que me ensinaram conteúdos para além da sala de
aula.
Aos meus amigos que estiveram por perto durante todo esse processo. Agradecida pelo apoio,
pelas conversas e pelo incentivo. Vocês foram essenciais para eu manter o foco.
Aos meus queridos alunos por me mostrarem o quanto ser professora é um ofício
transformador e gratificante. As palavras não conseguem traduzir o afeto, a troca e o carinho
que eles demonstram em sala de aula. Grata a cada um por trazer entusiasmo aos meus dias.
Obrigada a todos!
5
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
Thiago de Mello
1
MELLO, Thiago de. Poesia comprometida com a minha e a tua vida. 2º ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.
6
RESUMO
Com o advento da Internet, as formas de ler e de escrever têm sido ampliadas, modernizadas.
Nesse sentido, é fundamental a formação de leitores proficientes, capazes de participar de
práticas de linguagem ligadas às demandas socioculturais contemporâneas que requerem a
utilização de recursos digitais, tornando-os sujeitos “tecnoletrados”. Na esteira dessa
discussão, verificamos que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) explicita a
necessidade de se rediscutirem entendimentos que fazem referência ao ensino e à
aprendizagem de habilidades de leitura relacionadas tanto aos multiletramentos quanto à
cultura digital. Além disso, a partir desse documento, que se propõe como norte para que os
docentes das escolas de todo o Brasil elaborem os currículos, percebemos a projeção de um
perfil leitor diferenciado, isto é, um leitor multiletrado que imerso em diversos contextos,
sobreleva-se no digital. Dessa forma, o presente trabalho tem como principal propósito
analisar as habilidades de leitura exigidas do 6º ao 9º anos do ensino fundamental do Eixo de
Leitura da Base Nacional Comum Curricular, tendo como foco as práticas de leitura que
envolvem a relação entre múltiplas semioses e gêneros digitais. Para a realização deste
estudo, utilizamos como base teórica autores como: Gomes (2019), Borges (2016), Coscarelli
e Novais (2010), Kress e Van Leeuwen (2001, 2006), Ribeiro (2003, 2008), Palfrey e Gasser
(2011), Marcuschi e Xavier (2010), Dias e Novais (2009), Xavier (2005, 2011), Santaella
(2004, 2014), Lankshear e Knobel (2008), França (2002), New London Group (1996), Bloom
et al. (1956) entre outros. Vale destacar que o estudo é natureza qualitativa, pautado em uma
abordagem descritivo-interpretativa com base em procedimentos relacionados tanto à
pesquisa documental quanto à análise de conteúdo a partir das seguintes etapas: (i) Leitura e
descrição da componente curricular de Língua Portuguesa da Base Nacional Comum
Curricular, mais especificamente, das orientações relacionadas ao uso de Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs) e às competências de linguagens desse documento; (ii)
Identificação das práticas de linguagem e dos objetos de conhecimento exigidos aos
estudantes dos Anos Finais – do ensino fundamental em relação ao domínio de textos
multissemióticos em diferentes mídias digitais à luz do documento em estudo e (iii) Análise
das habilidades de leitura da BNCC solicitadas aos estudantes do 6º ao 9º anos, com o intuito
de traçarmos o perfil leitor contemporâneo em suas demandas sociocomunicativas, a partir do
desenvolvimento da competência leitora voltada à cultura digital. Os resultados obtidos a
partir das análises mostraram a preocupação da Base Nacional Comum Curricular com a
inserção das tecnologias digitais na vivência pedagógica, nas práticas de linguagem escolares,
o que aponta a necessidade de discussão sobre as mudanças nos currículos de língua
portuguesa diante do letramento digital. Isso porque é basilar que haja não só a
democratização do acesso às TICs nas instituições escolares, mas também a integração desses
recursos digitais na sala de aula, com o intuito de que os docentes formem sujeitos letrados
digitalmente.
ABSTRACT
With the advent of the Internet, ways of reading and writing have been expanded,
modernized. In this sense, it is essential to train proficient readers, capable of participating in
language practices linked to contemporary socio-cultural demands that require the use of
digital resources, making them “techno literate” subjects. In the wake of this discussion, we
found that the Base Nacional Comum Curricular (BNCC) makes explicit the need to re-
discuss understandings that refer to the teaching and learning of reading skills related to both
multi-tools and digital culture. In addition, based on this document, which is proposed as a
guide for school teachers from all over Brazil to prepare curricula, we perceive the projection
of a differentiated reader profile, that is, a multi-literate reader who immersed in different
contexts, if in digital. In this way, the present work has as main purpose to analyze the reading
skills required from the 6th to the 9th years of elementary education of the Reading Axis of
the Base Nacional Comum Curricular, focusing on the reading practices that involve the
relationship between multiple semioses and genders digital. To carry out this study, we used
as a theoretical basis authors such as: Gomes (2019), Borges (2016), Coscarelli and Novais
(2010), Kress and Van Leeuwen (2001, 2006), Ribeiro (2003, 2008), Palfrey and Gasser
(2011), Marcuschi and Xavier (2010), Dias e Novais (2009), Xavier (2005, 2011), Santaella
(2004, 2014), Lankshear and Knobel (2008), France (2002), New London Group (1996) ,
Bloom et al. (1956) among others. It is worth noting that the study is qualitative in nature,
based on a descriptive-interpretative approach based on procedures related to both
documentary research and content analysis based on the following steps: (i) Reading and
description of the Portuguese basic curriculum component National Common Curriculum,
more specifically, of the guidelines related to the use of Information and Communication
Technologies (ICTs) and the language skills of this document; (ii) Identification of language
practices and knowledge objects required from Final Years students - from elementary school
in relation to the mastery of multisemiotic texts in different digital media in the light of the
document under study and (iii) Analysis of reading skills of BNCC requested from students
from the 6th to the 9th years, in order to outline the contemporary reader profile in their socio-
communicative demands, based on the development of the reading competence focused on
digital culture. The results obtained from the analyzes showed the concern of the Base
Nacional Comum Curricular with the insertion of digital technologies in the pedagogical
experience, in school language practices, which points to the need for discussion about the
changes in the Portuguese language curricula in the face of digital literacy. This is because it
is essential that there is not only the democratization of access to ICTs in school institutions,
but also the integration of these digital resources in the classroom, with the intention that
teachers form digitally literate subjects.
Keywords: Reading Skills. Base Nacional Comum Curricular. Digital Literacy. Multi-tools.
8
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
CAPÍTULO I 20
MODOS DE LEITURA E NOVOS GÊNEROS: DOS MULTILETRAMENTOS AO
LETRAMENTO DIGITAL 20
1.1 Revisitando e ampliando o conceito de texto e de leitura 21
1.2 Dos letramentos aos multiletramentos 30
1.3 Dos gêneros aos gêneros digitais 36
1.4 Por um conceito de letramento digital 41
CAPÍTULO II 47
MULTILETRAMENTOS NA SALA DE AULA: USO DAS TICs À LUZ DA BNCC E
OS DESAFIOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 47
2.1 Base Nacional Comum Curricular - O que é? 48
2.2 Competências da BNCC voltadas à cultura digital 53
2.3 A BNCC e o uso das TICs: desafios para inclusão digital nas aulas de língua portuguesa 65
CAPÍTULO III 74
MAPEANDO O TERRITÓRIO DA PESQUISA: ASPECTOS METODOLÓGICOS 74
3.1 Tipo de pesquisa 75
3.3 Seleção e caracterização do corpus 77
3.4 Passos metodológicos 78
CAPÍTULO IV 81
ANÁLISES DAS HABILIDADES DE LEITURA VOLTADAS ÀS TECNOLOGIAS
DIGITAIS SEGUNDO A BNCC 81
4.1 Práticas de linguagem da BNCC: o Eixo de Leitura 82
4.2 As habilidades de leitura do 6º ao 9º anos conforme a BNCC 85
CONSIDERAÇÕES FINAIS 102
REFERÊNCIAS 105
11
INTRODUÇÃO
Michel de Certeau
A Invenção do Cotidiano
12
Introdução
O leitor durante muito tempo foi compreendido tão somente como mero “capturador”
de significados do texto. Isso porque a atividade de leitura se restringia à extração de
informações da superfície textual, ou seja, o texto era considerado um código que poderia ser
decifrado. Percebemos, dessa forma, práticas de leitura que tinham por base o texto escrito e a
observação de sua composição, mais acentuadamente os aspectos formais; aproximando-se de
um estudo da gramática e assumindo o texto, portanto, como um sistema abstrato, um código
linguístico (KOCH; ELIAS, 2006).
No entanto, sob uma perspectiva sociointerativa, que defende a linguagem como uma
atividade social, a noção de texto se amplia, e ele é entendido como uma unidade composta
por uma rede em que se intercruzam conteúdos implícitos, cujo entrelace da superfície textual
e das inferências direcionam a compreensão. Nesse esteio, o sentido é construído em
colaboração e a compreensão resulta da atividade de construção de conhecimentos em que o
sujeito lança mão de seu repertório sociocultural.
Vale lembrar que, atualmente, a inclusão das tecnologias digitais no nosso dia a dia, e
elas têm modificado as formas de comunicação e de interação social. Isso porque a inserção
dos computadores no cotidiano demanda um conjunto de habilidades que estejam
relacionadas à formação de sujeitos capazes de atuar na sociedade contemporânea de modo
mais colaborativo.
Assim, percebemos que as mídias digitais2 estão assinalando novos modos de ler, já
que há novas formas de produção de discurso (entendido, aqui, como uma atividade para além
do verbal ou evento de fala) e novos suportes de circulação de gêneros entre outros. Há, nesse
sentido, novas formas de textualizar, de expressar nossas intenções de acordo com as
demandas sociais, elegendo o gênero que melhor representa a finalidade para as atividades
comunicativas da vida pessoal, do trabalho, da escola etc.
Nesse contexto, diante de uma sociedade marcada pelos avanços tecnológicos,
notamos que é necessário integrar as tecnologias digitais na educação de modo a ampliar o
papel dos sujeitos, a fim de torná-los mais preparados para as demandas contemporâneas.
Defendemos isso porque os sujeitos interagem no corriqueiramente com outras modalidades
da linguagem além da verbal, tais como: a visual, a sonora, a corporal e, atualmente, a digital,
2
Adotamos o conceito de que mídia é todo e qualquer meio de comunicação que dissemina e veicula
informações, como a imprensa, a televisão, o rádio etc. As mídias digitais, nesse sentido, ampliam os espaços de
divulgação das informações, pois contemplam os meios de comunicação do universo digital, tais como banners
em sites, links patrocinados em redes sociais etc.
13
preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para trocar informações, para
pesquisar, para se comunicar entre outras finalidades (BRASIL, 2018).
Logo, um dos desafios atuais da escola está ligado aos processos de ensino e de
aprendizagem da leitura nos seus contextos vários, mais especificamente, ao desenvolvimento
de habilidades leitoras voltadas ao letramento digital 一 que não dizem respeito apenas às
habilidades exigidas pelas demandas sociais no meio digital a partir de um mundo cada vez
mais tecnológico 一 mas para a leitura de textos multissemióticos, ou seja, conjunto de signos
verbais e não verbais (ROJO, 2009), como os gêneros que circulam socialmente nos
ambientes digitais e que exploram a multiplicidade de multissemioses. É preciso considerar,
portanto, as diversas semioses que o aluno utiliza em seu cotidiano (sejam elas imagens,
cores, tipos de letras, sons, vídeos) que integram as informações veiculadas na internet.
Diante desse contexto cada vez mais tecnológico, é importante que a escola considere
as várias formas de comunicação e o dinamismo social que os gêneros emergentes têm trazido
com o uso das tecnologias digitais (XAVIER, 2005). É necessário, nesse sentido, que as
instituições escolares adotem abordagens que incluam os gêneros veiculados nas mídias
digitais, a fim de desenvolver as “novas práticas de linguagem” (entendidas aqui como
práticas que extrapolam a modalidade verbal).
O foco deste trabalho está, pois, nas habilidades da BNCC voltadas aos gestos de
leitura e às formas de textualização relacionados aos mecanismos de navegação em contextos
digitais, com o intuito de analisar essas novas abordagens que integram as práticas letradas
contemporâneas e específicas da Web.
Ressaltamos que as transformações nas formas de comunicação, influenciadas pelos
avanços tecnológicos e, por conseguinte, pelo uso de novos suportes de leitura, têm sido
ponto-chave para a reformulação e ampliação das práticas letradas vistas nas instituições
escolares. Isso porque há, atualmente, a necessidade de se repensarem as práticas de ensino de
leitura em diferentes contextos, sobretudo o digital, visto que estamos vivendo um fenômeno
de “reconfiguração” das formas de comunicação e de interação da sociedade contemporânea.
É certo que as instituições escolares podem selecionar conteúdos, gêneros das mídias
digitais de acordo com o seu compromisso de ensino e das condições de produção e recepção
desses gêneros escolhidos, para serem vistos em sala de aula. Todavia, é preciso ter o cuidado
de adequar o ensino à realidade sociocultural do aluno, a fim de torná-lo competente para
dominar as diferentes formas de avaliar contextos de uso da linguagem, produzir textos e
14
CAPÍTULO I
Roger Chartier
A aventura do livro: do leitor ao navegador
19
Capítulo 1 - Novos modos de ler e novos gêneros: dos multiletramentos ao letramento digital
A construção do conceito de texto é tarefa que desafia muitos estudiosos que a ela se
dedicam e gera discussões. Atualmente, a literatura, em geral, defende a ideia de que os
elementos linguísticos 3que fazem o texto ser um texto não se restringem apenas às unidades
verbais, visão consagrada durante muito tempo. O próprio marco de desenvolvimento de
civilizações antigas foi o surgimento de sistemas alfabéticos, textos verbais, embora a
imagem estivesse “presente desde o início da história da humanidade, mas sem o ‘status’ de
texto” (GOMES, 2019, p.89).
É preciso considerar o texto como um fenômeno multimodal, em que a linguagem se
manifesta a partir de diferentes sentidos (visão, tato, audição, olfato e gustação). Para Peirce
(1993), estudioso da Semiótica4, a manifestação e captação desses sentidos pode resultar um
3
No Curso de Linguística Geral (1916), de Ferdinand de Saussure, percebemos que a base estruturalista corrobora a
superioridade das estruturas verbais, já que essa visão defendia que a imagem era um “todo indivisível” impossível de ser
estudado em unidades menores (articulação). Os próprios estudiosos da Linguística de Texto, nos anos de 1960,
preocuparam-se em estudar a língua como um sistema linguístico dividido em unidades fonológicas, morfológicas, sintáticas.
Ou seja, a visão tradicional de texto como manifestação verbal ficou por muito tempo enraizada, mas está sendo ampliada
com os apontamentos relacionados à pedagogia dos multiletramentos.
4
É o estudo das semioses como múltiplas formas de criar significações. O famoso semiólogo Roland Barthes (2006) defende
a ideia de que a semiologia está dentro da linguística e não o contrário, conforme defendia Ferdinand de Saussure (2006).
20
texto, assim, segundo essa perspectiva, entendemos a linguagem como um fenômeno que
contempla diversas modalidades, postura adotada neste trabalho.
No entanto, é necessário atentar para a construção de sentidos do texto e não apenas
para a classificação de termos de uma frase; é necessário também entender que a imagem é
um texto. Dessa forma, é essencial enxergar a leitura de um texto como um processo que não
está pronto e acabado; é imprescindível sistematizar o ensino de texto de acordo com a
funcionalidade e com as demandas sociais, a fim de inserir o sujeito em situações que o
aproxime da realidade (PRESTES, 1996).
É preciso destacar que Roland Barthes, em sua obra Elementos de semiologia (2006),
alega que a linguística não se limitaria a uma ciência constituída apenas por elementos
verbais, mas por todas as formas de manifestação de se comunicar, de se relacionar com o
outro no mundo, pensamento também defendido já em 1978 por Halliday, sob um
determinado contexto e por meio de conhecimentos socioculturais compartilhados entre os
sujeitos (DELL’ISOLA, 2001; KOCH; ELIAS, 2006).
É imprescindível levar em consideração o contexto atual em que as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs) têm influenciado o modo de conceber essa noção de
texto como toda e qualquer manifestação da linguagem, uma vez que é possível ler, analisar,
produzir textos em múltiplos suportes digitais, como o smartphone, computador, tablet,
(FRANÇA, 2002), kindle etc. já popularizados e muito utilizados na contemporaneidade.
Notamos, portanto, que as formas de comunicação estão sendo redefinidas,
realinhadas, reconfiguradas de acordo com essas novas possibilidades de interagir
socialmente, de acordo com propósitos comunicativos exigidos pelas diversas esferas
humanas e com o auxílio de sistemas semióticos variados. No entanto, é importante destacar
que novos suportes não são superiores ou melhores do que os livros, revistas, outdoors,
jornais entre outros.
Mesmo entendendo a língua/linguagem como heterogênea, social, múltipla, variável e
interativa, percebemos que antes dessa visão atual, a linguagem já foi vista como como
expressão do pensamento, como um reflexo, espelhamento; também já foi considerada,
primordialmente, como um sistema de regras, como um código, como um mero instrumento
de transmissão de informação (KOCH; ELIAS, 2006).
Asseveramos, portanto, que a língua não é apenas um sistema de regras, pois se trata
de “uma atividade social, histórica e cognitiva, desenvolvida de acordo com práticas
Após essas discussões, concluímos que a Linguística é uma ciência que contempla os estudos das diversas manifestações da
linguagem, sendo a Linguística de Texto e Semiologia subáreas da Linguística.
21
modelo descendente (top down). Mary Kato, em sua obra O aprendizado da leitura, mostra
que o modelo ascendente é caracterizado pela análise e síntese das partes do texto, em que o
leitor decodifica a superfície textual sem fazer antecipações ou levantar hipóteses sobre as
informações do texto, ou seja, as ideias expressas pelo autor tornam o texto uma unidade
autossuficiente e o leitor é, portanto, um sujeito passivo
Já o modelo descendente, diferentemente do modelo bottom up, enfatiza o leitor como
peça central e fundamental do processo de leitura, uma vez que o sujeito é capaz de fazer
previsões sobre os conteúdos do texto, extrapolar a superfície textual com o preenchimento de
lacunas deixadas pelo autor a partir de seus conhecimentos prévios, mostrando-se, portanto,
um sujeito ativo no processo de compreensão textual.
Entendemos a leitura, portanto, como forma de ação, como uma atividade de interação
entre os sujeitos e não apenas como um processo mecânico, automatizado, de decodificação.
Isso porque Goodman (1967), em sua obra Theoretical Models and Processes of Reading, já
defendia que a visão interativa de leitura é concebida por meio da coexistência entre os
modelos ascendentes e descendentes e não pela separação deles (como fizemos para explicá-
los de modo mais didático).
Em paralelo a esses estudos das ciências da cognição e sob a influência dos estudos
da Linguística Textual na Europa, na década de 1960, e o advento dessa subárea no Brasil,
por volta de 1970, percebemos que produtor, texto e leitor são considerados peças principais
que participam de uma espécie de “jogo da linguagem”, segundo Koch (2002):
Além dessa relação entre autor, texto e leitor difundida por Koch, considerada uma
das mais influentes precursoras da Linguística de Texto no Brasil, corroboramos a visão de
que interlocutores são considerados sujeitos ativos, capazes de criar e recriar sentidos para os
textos que leem. Dessa forma, defendemos que a leitura é uma atividade interativa, dinâmica
e altamente complexa de produção de sentidos que se realiza com base não só nos elementos
linguísticos (verbais e não verbais) presentes na superfície textual e na sua forma de
organização, mas na interação que os sujeitos mantêm com esses elementos antes, durante e
depois da leitura, ativando seus conhecimentos cognitivos, linguísticos e sociais.
Portanto, afirmamos que ler é atividade exige não só a mobilização de um vasto
conjunto de saberes (conhecimentos prévios e partilhados, linguísticos, enciclopédicos e o
referente a estruturas textuais globais) dos sujeitos, mas a reconstrução destes no momento da
interação verbal conforme koch (2002) defende, e o texto pode ser entendido como “um
evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas”, segundo
Beaugrande (1997, p.10).
Essa definição de Beaugrande (1997) é defendida também por Marcuschi (2008), o
qual sugere o texto como um evento interativo e não como uma simples sequência de palavras
escritas ou faladas; ou seja, o texto é um conjunto de vários elementos linguísticos (palavras,
enunciados etc.) que envolve elementos não linguísticos (imagens, músicas, gestos)
apresentando-se como um processo de coprodução entre autor e leitor (coautorias).
Diante disso, devemos salientar, portanto um ensino pautado nas múltiplas semioses,
não apenas nos textos verbais, como afirma Gomes (2019) ao dizer que:
Isso porque o texto pode ser construído por abordagens multimodais diversas, como
explicaremos a partir das análises dos textos5 de Armandinho6 abaixo:
5
É necessário explicar que, utilizamos uma tirinha de Armandinho, que foi segmentada de duas formas, para mostrar como
as múltiplas semioses de um texto estão associadas. Em uma primeira análise, excluímos todos os recursos linguísticos além
exceto o verbal e deixamos o diálogo entre as personagens. Depois, utilizamos apenas os recursos não verbais, a fim de
analisar os sentidos produzidos pelos dois textos (sem integração) vistos em diferentes perspectivas. Por fim, analisamos o
entrelaçamento entre os recursos verbais e não verbais na construção de sentidos para a tirinha, [o que leva a entender que o
texto não é só o verbal e nem só o não-verbal, neste caso, mas a integração entre esses sistemas.
6
Vale lembrar que Alexandre Beck é o ilustrador e cartunista que criou, em 2009, o conhecido personagem Armandinho, um
garotinho questionador, polêmico e que contesta as problemáticas sociais. As tirinhas são publicadas em fontes importantes
como o jornal Folha de São Paulo e livros didáticos, além de regularmente ser compartilhado em fan pages do Instagram e do
Facebook. (Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Beck. Acesso em 7 set. 2019).
25
Fonte:https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-
sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos. Acesso em: 7 set. 2019.
Fonte:https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-
sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos. Acesso em: 17 set. 2019. Editado pela autora.
26
Fonte:https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-pai-do-armandinho-o-menino-de-cabelo-azul-que-reflete-
sobre-arte-a-politica-e-direitos-humanos. Acesso em:17 set. 2019.
Ao juntar o texto verbal ao texto visual, as possibilidades de sentidos, que antes eram
diversas, restringem-se contextualmente ou melhor se ajustam. Isso porque agora fica claro o
motivo de Camilo não achar seguro correr perto de Fê. A causa disso é que apostar uma
corrida perto de uma garota que está próxima a um policial pode gerar problemas aos garotos.
Isso porque o policial pode achar que os garotos estão perturbando Fê. Além disso, o
problema pode ser ainda pior para Camilo, pois se levarmos em consideração que Camilo é
negro, podemos depreender, a partir de nossos conhecimentos de mundo, que ele poderá
27
sofrer consequências piores do que Dinho ao se aproximar de Fê, por isso ele afirma “pra
mim, não é seguro!”.
Diante dessa proposta de compreensão os textos, percebemos que a de leitura que
mesclam recursos multissemióticos amplia as possibilidades de sentidos para o texto. Ao unir
o verbal com o visual notamos que a leitura se torna uma prática multidimensional deveras
complexa; trata-se, portanto, de um exercício cognitivo que não envolve apenas a
decodificação do que está escrito no texto, mas também diz respeito ao entendimento do que
nele está implícito a partir, também, dos elementos que estão presentes na imagem e no que
pode ser inferível por meio dela.
Assim, segundo Soares (2009) é preciso reconhecer que o acesso inicial à língua
escrita não se reduz ao aprender a ler e a escrever no sentido de ter domínio da grafia de
palavras, assim como também não se reduz ao conhecimento da acepção dessas palavras. Isso
porque o desenvolvimento da leitura no contexto de ensino pode contar com um universo
múltiplo de semioses em que o sujeito lança mão a partir de seus objetivos e formas de
comunicação em suas práticas letradas cotidianas.
Uma concepção ampla de leitura, como atribuição de sentidos, ultrapassa o domínio
do código escrito e de suas adjacências. A partir da tirinha, podemos perceber que a leitura
envolve o sujeito e o contexto que o constitui, sendo a leitura de mundo imprescindível para o
estabelecimento de pontes de significação, como o fato dos motivos que levam Camilo a não
se sentir seguro perto de um policial.
Essa leitura de mundo é defendida por Paulo Freire, renomado educador brasileiro,
em seu livro A importância do ato de ler: em três artigos que se completam, o qual afirma
que a leitura da palavra é sempre precedida pela leitura do mundo. Isso permite concluir que o
sujeito produz sentido através do que vive, do que sente, do que lê, ou seja, a partir de suas
experiências e interações no mundo em que está imerso por meio de diversas manifestações
da linguagem, seja por meio de textos verbais, de textos imagéticos etc.
Se concluímos também que “a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de
um sentido ideológico ou vivencial” conforme Bakhtin (2006, p. 96) defende, podemos
compreender o caráter histórico e social do homem, já que este é capaz de refazer as práticas
linguageiras. Isso pode ocorrer diante de propósitos comunicativos e da mesclagem de
gêneros de acordo com a finalidade comunicativa.
A partir desses apontamentos e conforme Solé (1998), o leitor é capaz de usar sua
percepção de mundo e as marcas textuais para produzir inferências, induzir suposições,
formular ideias e opiniões, criando e recriando o texto, mostrando-se ativo no processo de
28
contato com o texto e conduzindo sua leitura a partir de conhecimentos socioculturais. Essa
construção de sentidos do texto vai depender do conhecimento de mundo que o sujeito possui.
Notamos que, atualmente, a apresentação do código linguístico vem se modificando de
acordo com o contexto sociocomunicativo e as necessidades de uso da língua:
7
O Wikipédia, por exemplo, é um website que disponibiliza atualmente conteúdos por meio de uma enciclopédia
colaborativa e universal, com o intuito de oferecer conteúdo de forma rápida para os usuários. Logo, esse projeto wiki
permite a edição colaborativa para a melhoria do conteúdo disponibilizado na internet, o que mostra uma linha tênue entre
autor e leitor, uma vez que os sujeitos podem exercer os dois papéis de coautoria.
31
novas habilidades críticas de leitura e de escrita com as novas mídias digitais (GEE, 1996) a
partir de aspectos socioculturais.
Verificamos, contemporaneamente, que a cultura da tela está alterando a interação
entre os sujeitos e a construção do conhecimento. A cibercultura e o ciberespaço têm
modificado a relação com o saber, a percepção do mundo, por causa da ampliação de gestos
de leitura e de escrita em realidades virtuais, as quais estreitam as relações entre indivíduos
em dimensão global (LÉVY, 1999).
A partir das demandas ligadas às modificações nos modos de comunicação com a
ampliação de uso de meios de comunicação digitais houve a necessidade de se discutir as
mudanças relacionadas aos conceitos e ao ensino de letramento e o desenvolvimento de
habilidades críticas de leitura e de escrita. Logo, renomados teóricos se reuniram compondo o
conhecido The New London Group8 ou Grupo de Nova Londres (GNL), com o fito de debater
sobre a necessidade de uma Pedagogia dos Multiletramentos, nome dado ao manifesto feito
pelo grupo.
O grupo criou esse manifesto com o objetivo de discutir sobre “o impacto que os
meios de comunicação tinham sobre as práticas comunicativas e os modos de se construir e de
consumir significados” (GOMES, 2019, p. 66), isto é, levando em consideração a integração
de sistemas semióticos (imagens, sons, tipografia, cores) como forma de complementar as
práticas linguísticas já existentes.
Destacamos, portanto, que o uso das mídias digitais contribui para as rápidas
mudanças que emergiram das necessidades comunicativas linguísticas, institucionais e
culturais no âmbito global (KALANTZIS; COPE, 2001). Nesse sentido, entendemos que
esses aspectos estão relacionados à participação dos sujeitos ㅡ em eventos de letramentos ㅡ
como agentes críticos, que constroem e reconstroem sentidos para os textos, em destaque para
os multissemióticos, os quais são constituídos por várias modalidades e circulam na realidade
contemporânea em contextos culturais diversos.
No entanto, é preciso lembrar que essa noção de texto como construto multimodal
demorou muito tempo para ser reconhecida e amplamente disseminada no âmbito educacional
no Brasil, por exemplo, nas orientações, ainda, sutis sobre multimodalidade, multiletramentos
dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Conforme Snyder (2010), não há exclusivamente uma
8
O grupo reunido em 1996 era composto por Courtney Cazden (USA), Bill Cope (Australia), Norman Fairclough (UK),
James Gee (United States), Mary Kalantzis (Australia), Gunther Kress (UK), Allan Luke (Australia), Carmen Luke
(Australia), Sarah Michaels (US), Martin Nakata (Australia).
32
(impressa ou digital), o que reverbera a ideia de que “navegar” na leitura de um texto não se
restringe apenas ao suporte digital (RIBEIRO, 2003).
Assim, observamos que os textos ganharam diversas formas a partir dos suportes em
que são disponibilizados. Muito se tem usado o termo “navegar” para dar ideia do caminho
(percurso) que o sujeito faz de um determinado objeto de leitura. No entanto, é preciso
destacar que ação de “navegar por um texto” não se restringe à tela de um computador ou
smartphone. Antes mesmo dessa concepção, o leitor já navega ao folhear um livro e perceber
as ilustrações, as legendas, os gráficos, as notas de rodapé, o sumário, sem seguir uma
linearidade.
A ação de navegar tem sido ampliada por causa da reconfiguração das práticas de
leitura que são influenciadas pelos novos suportes. Isso é possível, pois podemos observar
novos arranjos da tecnologia do que é escrito no tipo de formatação, design, layout e forma de
registrar os textos. Nesse sentido, é preciso identificar como o domínio de habilidades
voltadas às práticas de leitura em suporte impresso pode assistir à leitura no âmbito virtual.
Nesse contexto, estamos falando de novos leitores que precisam reconhecer ícones ao invés
de memorizar trajetos de um objeto de leitura, por exemplo.
Segundo Gualberto (2008) o leitor que tem contato com ferramentas eletrônicas
interage facilmente aos processos de navegação do meio digital. Acessar links, abrir janelas
são ações que integram tanto modalidades verbais quanto não verbais. Dessa forma, o leitor
interage com os hipertextos reconhecendo as possibilidades que o meio digital oferece.
Além dos novos suportes de leitura, o texto impresso ou virtual vem ganhando
diversos formatos. Esse objeto físico tem sido lido, a partir do repertório do leitor e
produzido, reconfigurado mediante as demandas sociais seja para produzir um meme, tornar-
se booktuber, seja para produzir vlogs noticiosos. Diante disso, constatamos que a leitura dos
mais novos textos, vistos como artefatos tecnológicos digitais, tem exigido da escola ― uma
das principais, senão a principal agência de letramento (KLEIMAN, 2007) ― a utilização de
textos que estejam tanto em suportes como o papel e como a tela; sendo este último suporte
valorizado por unir, possibilitar a mesclagem de diversas semioses e, por conseguinte, trazer
possibilidades de interação com quaisquer sistemas semióticos.
Notamos, ainda, que a efervescência das Tecnologias de Informação e Comunicação,
devido à internet e aos avanços tecnológicos, tem provocado mudanças no que diz respeito à
noção de texto e, consequentemente, de leitura. Diante dessas alterações voltadas às formas
de se comunicar, observamos transformações no âmbito educacional, uma vez que
modificações significativas no currículo relacionadas à inserção das novas tecnologias da
34
como são construtos sociais plásticos, eles podem surgir ou desaparecer, e como maleáveis
eles podem ser transmutados, transformados.
Segundo os pressupostos de Bakhtin (2003), os gêneros apresentam formas
“relativamente estáveis”, ou seja, são enunciados que podem ter estrutura e função
modificadas através do dinamismo da sociedade. Assim, diante da inserção das tecnologias
digitais em meio às práticas linguageiras, percebemos a necessidade de se observarem as
atividades socioculturais, as inovações que estão acontecendo atualmente nas práticas de
leitura e de escrita, nas formas de interação social.
É preciso reconhecer ainda que os gêneros possuem características que os definem
como tal, a saber: conteúdo temático, organização composicional e estilo, a fim de empregá-
los de acordo com a necessidade comunicativa (BAKHTIN, 2003). Se pensarmos na
influência das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) na atualidade como
poderíamos analisar a organização composicional dos gêneros levando em consideração os
hipertextos digitais, por exemplo?
Para responder aos questionamentos acima, vale destacar que os diversos modos de
organização se modificam a partir do conteúdo e das funções, bem como dos aspectos
sociocomunicativos. Tais aspectos possuem papel preponderante na composição desses
textos, pois um gênero textual não é só a sua forma, mas é, sobretudo, sua função (Marcuschi,
2002). É necessário, nesse sentido, que os professores ensinem aos alunos a identificarem a
finalidade que o texto apresenta, percebendo as escolhas linguísticas feitas pelo autor, os
recursos semióticos utilizados para alcançar determinado objetivo de leitura, entre outros
aspectos.
É fato que os gêneros são inerentes à vida social e cultural de uma comunidade, visto
que atendem às necessidades comunicativas diárias, são eventos de comunicação. Marcuschi
(2005, p. 19) reforça a ideia de que tais eventos são “fruto de trabalho coletivo”, eles
constituem ações de linguagem que requerem do agente produtor uma série de decisões, para
cuja execução necessita ter competência. Logo, podemos afirmar que os gêneros estão
diretamente vinculados à utilização da linguagem e às intenções discursivas de que o sujeito
se apropria para efetuar o processo de comunicação. Dessa forma, os sujeitos usam a
linguagem de acordo com as necessidades comunicativas:
36
Notamos que a World Wide Web está possibilitando um novo lugar de leitura e de
escrita por meio de gêneros cada vez mais digitais. Isso porque, atualmente, existe a
emergência gêneros digitais9 por causa das novas formas de textualização, ou seja, a forma
como cada leitor interpreta e interage com os objetos de leitura e, consequentemente, as novas
formas de interação entre os sujeitos imersos em contextos digitais.
É importante lembrar também que, atualmente, com o desenvolvimento dos avanços
tecnológicos, os leitores têm acesso aos recursos tecnológicos, sendo, portanto, usuários da
rede, que interagem com gêneros emergentes e, portanto, lidam com o processo de leitura de
modo diferente, uma vez que há diversos suportes que conectam sistemas de hipermídias,
desenvolvidos a partir da dinâmica de interatividade do leitor com as informações que são
disseminadas na rede. Segundo Negroponte (1995), entendemos as hipermídias como um
complexo de conteúdos que circulam na esfera digital de forma instantânea. Assim, de acordo
com um propósito comunicativo, há interconexões e essas informações podem ser “esticadas”
ou “compactadas” por meio dos objetivos e das ações dos leitores:
9
Mesmo que a BNCC indique alguns gêneros, não necessariamente os gêneros da cultura digital são de conhecimento do
aluno e do professor. A petição on-line, por exemplo, não faz parte do contexto de aluno que não tem acesso à tecnologia
digital.
38
de habilidades múltiplas da linguagem que estejam relacionadas com o letramento digital, tais
como:
É importante destacar que, diante da inserção das TICs em nosso cotidiano, a escola
percebeu a necessidade de discutir sobre questões relacionadas aos multiletramentos, leitura
de hipertextos, escrita colaborativa, e ao letramento digital intrinsecamente ligado às aulas em
ambientes virtuais, ao uso de dispositivos e ferramentas digitais que auxiliam no ensino e
aprendizagem, a fim de integrar à escola as práticas contemporâneas presentes no cotidiano
dos alunos. Essas transformações ampliaram a interação no ciberespaço por causa das novas
formas de se comunicar, o que pode ser comprovado pelos gêneros textuais, cada vez mais
híbridos, nos meios digitais.
Ainda sobre os estudos relacionados ao letramento digital, segundo Borges (2016),
podemos destacar três grupos de estudiosos: École Normale Superior (França) que estuda a
relação entre tecnologia e educação; o grupo de Snyder (Austrália) que estuda a relação do
homem com a máquina (computador) e o grupo de Knobel e Lankshear (Estados unidos) que
estuda o letramento digital sob a perspectiva dos multiletramentos.
Estudos como os de Knobel e Lankshear (2008) defendem que o letramento digital
possibilita práticas sociais variadas, como a leitura de hipertextos diversos, a produção de
novos gêneros textuais imbuídos de múltiplas semioses. Assim, ouvir podcasts, entender um
infográfico, produzir um meme são práticas que requerem habilidades diversas que estão
relacionadas ao letramento digital, às hipermídias, às diferentes formas de se comunicar por
redes sociais diversas como WhatsApp, Instagram, Twitter etc além de “players digitais como
o setor de mídia (I-tunes e Netflix, Facebook, Snapchat), varejo (Amazon, Alibaba, Tencent,
Ebay) e o de turismo (AirBnb, Booking, Expedia, Trip Advisor, Odigeo)” (MACHADO,
2017, p.2).
Vale explicar que escolhemos a abordagem de letramento digital de Knobel e
Lankshear (1998), pois os autores partem dos estudos dos multiletramentos e dos Novos
Letramentos propostos por Street (1984). A pesquisa que desenvolvemos tem por intuito
44
CAPÍTULO II
Capítulo 2 - Multiletramentos na sala de aula: uso das TICs à luz da BNCC e os desafios no
ensino de língua portuguesa
10
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm.
Acesso: 29 set. 2019.
11
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC; SEB; DICEI, 2013. Disponível
em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13448-diretrizes-curiculares-nacionais-
2013-pdf&Itemid=30192. Acesso: 29 set. 2019.
47
Certamente, a Base Nacional Comum Curricular não será a solução para todos os
problemas de desigualdades ainda enfrentados pela educação brasileira. No entanto, esse
documento recente tem como foco a superação das desigualdades sociais, devido à
fragmentação das políticas educacionais. A BNCC é, nesse sentido, uma espécie de
alinhamento para a elaboração dos currículos, uma vez que apresenta diretrizes para uma
formação unificada entre municípios e estados das instituições de ensino públicas e privadas
do Brasil.
Além disso, destacamos que a influência da BNCC nos currículos é peça importante
para uma aprendizagem de qualidade, visto que essas diretrizes propõem uma formação
humana democrática e inclusiva dos sujeitos. O MEC (Ministério da Educação), entidade que
colabora com as mudanças que visam à equidade no setor educacional das escolas do Brasil,
participou desse processo de uniformização das bases comuns do conhecimento por meio de
orientações para a formulação dos currículos das redes de ensino conforme as necessidades
das instituições de ensino.
É importante lembrar ainda que a Constituição Federal (CF) brasileira garante, no
artigo 205, que a “educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL,
1998). Paralelo a isso, no artigo 210, há o reconhecimento da necessidade de exigência de
conteúdos mínimos na Educação Básica, a fim de que a formação de cidadãos seja a partir de
valores culturais, de princípios éticos e políticos e da participação em manifestações estéticas.
Além do direito à educação garantido pela CF, é possível observar que o próprio nome
do documento “Base Nacional Comum Curricular” pode ser reconhecido no Artigo 26 da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996). Notamos que esse
artigo estabelece que os currículos das instituições educacionais deverão apresentar uma
“base nacional comum”, com conteúdos basilares, que devem ser articulados de modo a
promover uma educação de qualidade. Desse modo, a BNCC está organizada da seguinte
forma:
48
de competências que permitam aos indivíduos se situarem em um mundo cada vez mais
marcado pela presença de artefatos tecnológicos digitais”. Ou seja, não é só possível acessar a
uma gama de conteúdos nas mídias digitais, mas é também exequível publicar fotos com a
inserção de legendas, postar vídeos, produzir infográficos, criar enciclopédias colaborativas,
ler e-books, seguir escritores em redes sociais etc. (BRASIL, 2018), práticas estas que
demandam habilidades de leitura (e de escrita) voltadas também ao letramento digital.
Além disso, é possível notar que o documento apregoa a natureza interdiscursiva da
linguagem e a configuração multissemiótica para os textos que são produzidos a partir de
“novas ferramentas de edição [...], áudios, fotos, vídeos [que] tornam acessíveis a produção e
disponibilização de textos multissemióticos nas redes sociais e outros ambientes da Web”
(BRASIL, 2018, p. 68).
Sobre a perspectiva de texto, a BNCC defende como unidade de comunicação, como
um ponto de convergência entre as dimensões de linguagem. É no texto que as relações
gramaticais se constroem e se reconstroem e é no texto também que os discursos se
concretizam. Percebemos, portanto, que a Base Nacional Comum Curricular preconiza os
usos efetivos do texto em situações comunicativas do cotidiano.
No entanto, é válido ressaltar que, apesar dessa tentativa de “uniformização” dos
currículos das escolas públicas e privadas mediante as diretrizes da BNCC, no que se refere às
competências que o sujeito deve ter e o que é preciso fazer para que ele as tenha, observamos
a disparidade presente entre as escolas dos grandes centros urbanos e as escolas da zona rural
no que diz respeito à inserção de aparatos tecnológicos que podem ser utilizados em sala de
aula. Ou seja, se consideramos que o “modus operandi” é proposto pela escola, a partir do que
se considera basilar, podemos dizer que a padronização deve ser relativizada de acordo com a
realidade dos alunos.
Ademais, ainda há uma carência de encaminhamentos metodológicos que contemplem
o desenvolvimento de habilidades de leitura, produção de textos, oralidade e análise semiótica
que incluam no currículo aulas com o uso de ferramentas digitais. Isso porque a Base
Nacional Comum Curricular indica as habilidades e são os professores que devem pensar na
aplicação ou desenvolvimento delas por meio da elaboração dos currículos. É preciso,
portanto, pensar a questão do que é “saber-fazer”. Para isso, é oportuno enfatizar a
importância de uma formação docente continuada que possa oferecer aos professores
ferramentas para pensar a sua prática, estabelecendo os encaminhamentos metodológicos
necessários que possam auxiliar nos meios de operacionalização para o desenvolvimento das
habilidades.
51
12
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em: 27
out. 2019.
52
(...) lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e
responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para
resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar
os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e
as diversidades (BRASIL, 2018. p.14).
Assim, a maior preocupação é fazer com que o aluno seja capaz de, a partir da leitura,
resolver situações cotidianas de forma autônoma, colaborativa, monitorada, pois esses
desafios estão relacionados com a formação leitora das novas gerações que têm como objetivo
a reflexão e a atitude crítica dos jovens perante a multiplicidade de recursos midiáticos e
digitais. É fundamental, portanto, que:
[...] a escola compreenda e incorpore mais as novas linguagens e seus modos de
funcionamento, desvendando possibilidades de comunicação (e também de
manipulação), e que eduque para usos mais democráticos das tecnologias e para uma
participação mais consciente na cultura digital. Ao aproveitar o potencial de
comunicação do universo digital, a escola pode instituir novos modos de promover a
aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e
estudantes (BRASIL, 2018, p. 59).
Síntese Definição: Habilidade de agregar e juntar partes com a finalidade de criar um novo
todo. Essa habilidade envolve a produção de uma comunicação única (tema ou
discurso), um plano de operações (propostas de pesquisas) ou um conjunto de relações
abstratas (esquema para classificar informações). Combinar partes não organizadas
para formar um “todo”.
57
Avaliação Definição: Habilidade de julgar o valor do material (proposta, pesquisa, projeto) para
um propósito específico. O julgamento é baseado em critérios bem definidos que
podem ser externos (relevância) ou internos (organização) e podem ser fornecidos ou
conjuntamente identificados. Julgar o valor do conhecimento.
Fonte: Bloom et al. (1956), Bloom (1986), Driscoll (2000) e Krathwohl (2002).
16) Reconhecer que o hipertexto Reconhecer que o hipertexto digital não é composto
digital é composto de diversas mídias. somente por texto verbal, mas também por recursos
visuais (ponteiro do mouse, animações, imagens,
background, vídeos) e sonoros (músicas, mids,
animações, vídeos).
Compreensão 17) Localizar-se nas várias camadas Identificar as várias camadas que compõem a
que compõem um hipertexto. malha hipertextual e situar a localização do nó em
que navega em relação ao todo do hipertexto.
13
Segundo Dias; Novais (2009) a interface é a parte que pode ser observada pelo usuário. Ela é composta por um sistema
semiótico que possibilita a interação dos sujeitos com a máquina.
59
19) Inferir o conteúdo do link a partir 19) Utilizar mais de uma estratégia – significado,
de seu nó. relação contextual e sinais gráficos – para inferir o
conteúdo de um link.
21) Selecionar conteúdos pertinentes 21) Identificar links e informações que se adeqüem
aos objetivos de leitura. a um objetivo preestabelecido de leitura.
pela escassez de ferramentas tecnológicas e, muitas vezes, não têm conhecimento sobre as
novas ferramentas digitais para desenvolver em sala de aula as habilidades de leitura
propostas pela BNCC.
Sobre as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular, destacamos a
competência 1, que propõe a apreciação das atividades das esferas humanas diversas:
Destacamos que há uma valorização de outras modalidades além da verbal que estão
associadas às possibilidades que os recursos digitais apresentam. A preconização de utilização
de outras linguagens pode ser comprovada a partir da competência 3, em que há a valorização
da linguagem corporal, visual, sonora e digital. Isso porque as necessidades da sociedade
contemporânea são diferenciadas, uma vez que o computador tornou-se ferramenta essencial
para a vivência de práticas de letramento corriqueiras.
A partir dessa competência, notamos, por exemplo, a indicação de habilidades
voltadas ao conhecer e reconhecer diferentes linguagens (DIONÍSIO, 2006; ROJO, 2009;
PINHEIRO, 2015) de modo que os sujeitos sejam capazes de significar a realidade individual,
coletiva, pessoal e profissional. Além disso, essa competência também indica a participação
dos sujeitos em diferentes práticas de linguagem em campos de atuação diversos da atividade
humana.
Conforme Bakhtin (2003), as construções humanas são de naturezas diversas e
dinâmicas e variam de acordo com a cultura e com o contexto histórico-social. Portanto,
identifica-se a partir desse pressuposto que a competência 3 está diretamente ligada à pós-
modernidade, uma época de utilização efervescente da modalidade digital, de valorização do
uso de diferentes semioses para a construção de conhecimentos, para a expressão de ideias,
para o compartilhamento de informações em diferentes contextos.
62
Ademais, com o fito de produzir textos com diferentes modalidades, a fim de mostrar
cuidado e empatia com o outro meio ambiente, observamos que a competência 4 defende:
Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e
promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente frente a questões
do mundo contemporâneo. (BRASIL, 2018, p.63).
Inferimos, a partir dessa competência, que são necessárias habilidades que promovam
a utilização de diferentes linguagens com o intuito de que os alunos possam formular pontos
de vista e defendê-los com base em uma visão crítica. Isso porque a internet tem inaugurado,
nos últimos anos “novos modos de gerir a informação, de produzir conhecimentos, de
estabelecer relações sócio-culturais” (SILVA, 2008, p.20). Assim, será possível sustentar,
segundo a competência 6, argumentos de modo a respeitar os direitos de outros sujeitos, com
o propósito de:
os alunos a diferenciarem um fato verídico de uma fake news com o objetivo de evitar
problemas de diversas ordens nas mídias.
2.3 A BNCC e o uso das TICs: desafios para inclusão digital nas aulas de língua
portuguesa
Figura 13: Proposta da BNCC diante dos desafios relacionados às práticas de letramento digital
64
Figura 14: Formação de professores de escolas urbanas na graduação sobre o uso de tecnologias na
aprendizagem
14
Foi o nome dado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle, segundo Tapscott (2010). Trata-se dos filhos dos nativos
digitais que nasceram após 2010 e que ocuparão cargos os quais ainda nem existem. Segundo Palfrey e Gasser (2011), os
nativos digitais nasceram entre 1995 e 2010 e fazem parte da geração Z ou pós-millenial. Já quem nasceu entre 1982 e 1994
está inserido na geração Y (XAVIER, 2011), também conhecida como millennial. Quanto à geração X, constituída pelos que
nasceram entre 1965 e 1981, destacamos os workaholics, pessoas que não conseguem se desconectar do trabalho.
65
pontual na graduação ou mesmo sem uma formação continuada fornecida pelas instituições
de ensino em que trabalham, buscam outros modos de aprender sobre as tecnologias digitais:
A partir dos dados acima, observamos que quase a totalidade de professores tanto de
escolas particulares quanto públicas aprendem sobre as tecnologias digitais sozinhos ou com
outras pessoas, professores. Apesar dos investimentos feitos pelo Governo Federal com
relação à compra de ferramentas eletrônicas (computadores, tablets) e à construção de salas
equipadas com esses eletrônicos, não há a extensão da formação para os professores
aprenderem a manusear e utilizar esses mecanismos de navegação na rede na educação
formal, mesmo com o Programa de Formação Continuada em Tecnologia Educacional
(Proinfo), criado pela Portaria no 522/MEC, em 1997 (BRASIL, 2007).
Diante desse contexto, podemos nos questionar: como os professores podem abordar
práticas de linguagem em relação ao letramento digital aos alunos se eles não têm o apoio das
escolas em relação à formação continuada sobre as tecnologias digitais?
66
A partir dos dados acima, notamos que os professores não são as principais fontes de
aprendizagem sobre tecnologias, já que os educadores não dominam um vasto conjunto de
conhecimentos relacionados ao letramento digital. Assim, os alunos buscam vídeos tutoriais
ou procuram informações sozinhos ou, na maioria da vezes, com amigos e parentes esses
saberes sobre tecnologia.
É válido destacar ainda que, por vezes, o uso de recursos tecnológicos em sala de aula
se resume a uma “aula de informática” e não como uma aula em que a máquina é suporte para
o desenvolvimento de habilidade de letramento digital relacionada à leitura e produção de
gêneros por meio de múltiplos recursos, por exemplo. Isso porque segundo Lorenzi e Pádua
(2012, p.40) com uso produtivo do computador “[...] É possível formar redes descentralizadas
para a interação; trabalhar imagens, por exemplo [...]”, ou seja, é possível construir, por
intermédio da linguagem digital, novos espaços de interação entre os sujeitos.
No entanto, o que se nota ainda, atualmente, é que “a leitura se constrói a partir de
uma sobreposição de habilidades, grande parte delas sem atenção adequada da Linguística”
(RIBEIRO, 2008, p.6). Assim, é imprescindível analisar as habilidades de leitura necessárias
para o desenvolvimento de um leitor competente, capaz de construir sentidos para os textos
ora impressos, ora disponíveis em diversificados ambientes da Web. Dessa forma, são
necessárias condições mínimas de leitura para um sujeito ser considerado letrado digitalmente
na sociedade, por exemplo.
67
Atualmente, além do uso de múltiplas semioses (foto, filme, pintura, esquema, música,
gráfico etc.) na produção dos discursos há também a utilização de variados recursos digitais,
como ícones, links, barras, vídeos, hipertextos etc. (COSCARELLI; NOVAIS, 2010), que
possibilitam a construção dos textos por vários códigos semióticos, fato que torna a noção de
texto muito mais abrangente.
Outrossim, Kress; Van Leeuwen (2001) afirmam a importância de “entender como
figuras, vídeo, diagramas, gestos, fala e recursos sonoros são combinados de forma complexa
para produzir significados”, o que mostra o quanto o estudo desses elementos são
imprescindíveis no âmbito escolar. Isso porque a partir da internet foi possível acentuar os
diálogos entre os variados discursos que circulam na sociedade os quais representam a relação
intertextual de um conjunto de ideias, organizadas através da linguagem.
Se o processo de leitura já era visto como complexo, percebemos que agora a noção
de leitura está sendo ampliada ao máximo devido à participação imprescindível do sujeito em
relação às escolhas dos caminhos de leitura, à manipulação dos suportes digitais. Esse
rearranjo nos modos de leitura tem sido observado de acordo com as experiências e com as
demandas do mundo atual. Assim, essa necessidade de domínio de leitura de novos formatos
dos gêneros surge a partir das modificações das funções e dos objetivos de leitura dos textos
que circulam socialmente. Diante disso, notamos que o leitor precisa ter um domínio mínimo
de letramento para navegar pelos novos suportes digitais. No entanto, as escolas das zonas
rurais apresentam maiores dificuldades com o desenvolvimento dessas habilidades, por causa
da precária disponibilidade de ferramentas digitais, como mostram os números abaixo:
É preciso lembrar que a sociedade exige, atualmente, que o leitor deva estar apto para
lidar com esses novos suportes, mas para isso deve ter contato, interagir com objetos de
leitura que serão exigidos pelas demandas sociais. E o que acontece com os leitores que não
têm contato direto com a leitura na tela? É preciso ressaltar que a Base Nacional Comum
Curricular apresenta proposta de ensino que se restringe às escolas “ideais”, ou seja, àquelas
em que os sujeitos têm acesso às diversas ferramentas e suportes digitais, o que não é o caso
de grande parte das escolas das zonas rurais do Brasil que não fornecem velocidades
razoáveis para os usuários da rede:
Diante desses dados, notamos que, mesmo com a democratização que a internet
trouxe, muitas escolas das zonas rurais, por exemplo, não estão incluídas nessa era de
tecnologias digitais, já que não há estrutura física mínima para os alunos, tampouco pontos de
acesso para conexão à internet (Wi-Fi).
Além disso, percebemos que a visão de uso de tecnologias digitais em sala de aula
ainda está limitada. Isso porque há uma resistência do uso de celulares smartphones, porque
eles “distraem, atrapalham”. No entanto, destacamos que a problemática está relacionada à
tarefa de como trazer esse aparelho para a dinâmica de sala de aula, como uma ferramenta
para ensino. Isso porque é preciso modificar também o modo de ver do aluno, o modo como
69
ele se relaciona com o aparelho, fato que contribui, muitas vezes, para que muitas escolas dos
grandes centros não permitam o uso do celular nesse ambiente:
Figura 19: Professores de escolas urbanas que usam telefone celular em atividades com os
alunos
De acordo com os dados, notamos que em 2016 e 2017 o uso do celular aumentou nas
escolas tanto públicas quanto particulares dos centros urbanos; já em 2018, o percentual caiu.
No entanto, é preciso ressaltar que o uso do celular pode ser muito produtivo para os alunos.
Exemplo disso é o trabalho de Costa (2013) intitulado: MOBILE LEARNING: Explorando
potencialidades com o uso do celular no ensino - aprendizagem de língua inglesa como língua
estrangeira com alunos da escola pública. A autora mostrou, em sua pesquisa, como a
interação entre aluno celular potencializou o desenvolvimento de habilidades linguísticas da
língua inglesa como língua estrangeira, o que também pode ser feito no ensino de língua
portuguesa.
Diante dos dados supracitados, notamos que boa parte da população brasileira não tem
acesso à internet e, muitas vezes, sequer ao computador; ou seja, o direito a uma educação
igualitária, justa e de qualidade tem sido negligenciado, uma vez que tanto as escolas dos
centros urbanos como as das zonas rurais possuem estrutura física básica precária para o
desenvolvimento de habilidades com ferramentas tecnológicas. Dessa forma, há, portanto,
desafios relacionados à perspectiva de incluir sujeitos em uma sociedade contemporânea
70
CAPÍTULO III
[...] considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de
dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tal pesquisa é descritiva. Os
pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu
significado são os focos principais de abordagem (PRODANOV; FREITAS, 2013,
p.70).
A Base Nacional Comum Curricular foi o documento que serviu como fonte primária
da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2007) para o estudo das novas perspectivas voltadas
aos currículos da Educação básica. Ademais, para auxiliar esta investigação, tivemos como
suporte as fontes secundárias (leis, artigos, livros, dissertações etc.) que serviram de apoio
para as análises e reflexões sobre as habilidades que estão relacionados à leitura de gêneros
emergentes em contextos ligados à era digital, de modo a identificar um perfil do leitor
contemporâneo pressuposto na BNCC.
Destacamos a representatividade do documento escolhido para análise nesta pesquisa,
pois a Base nacional Comum Curricular serve de referência nacional para a elaboração dos
currículos da Educação Básica das disciplinas exigidas na educação infantil e no ensino
fundamental e médio. No entanto, o enfoque da análise do corpus será na componente
curricular de Língua Portuguesa, com olhar restringido às habilidades de ensino de leitura
solicitadas do 6º ao 9º anos do ensino fundamental, com o propósito de ampliação dos estudos
74
Sobre a análise de documentos, vale ressaltar que o pesquisador visa mostrar uma
perspectiva do conteúdo que se difere da visão do texto-base por meio de procedimentos
específicos. É possível, diante da análise documental, transformar um documento primário (à
margem de análises, em sua forma bruta) em uma versão secundária, que representa o
documento o original a partir de uma análise minuciosa. No entanto, há diferenças entre a
análise de conteúdo e análise documental, a saber:
— A documentação trabalha com documentos; a análise de conteúdo com mensagens
(comunicação).
—A análise documental faz-se, principalmente por classificação-indexação; a análise
categorial temática é, entre outras, uma das técnicas da análise de conteúdo.
— O objectivo da análise documental é a representação condensada da informação,
para consulta e armazenagem; o da análise de conteúdo, é a manipulação de
mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que
permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem (BARDIN, 1977,
p.46).
CAPÍTULO IV
os espaços de circulação dos gêneros em diferentes mídias. Por isso, é preciso refletir sobre as
transformações que ocorrem em nosso cotidiano com a inserção das Tecnologias da
Informação e Comunicação, além de dar continuidade, no Ensino Fundamental - Anos Finais,
ao ensino de habilidades de leitura já aprendidas na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental - Anos Iniciais, por meio da ampliação de exigências de maiores capacidades de
abstração dos estudantes. Para tanto, é basilar articular as práticas de linguagem aos objetos
de conhecimentos e aos campos de atuação.
Assim, conforme a Base Nacional Comum Curricular, é necessário que os estudantes
saibam analisar as diversas formas de expressão da linguagem segundo o Eixo de Leitura, tais
como:
Verificamos que a leitura dos gêneros digitais não pode ocorrer sem reflexão sobre a
forma e a função. Isso porque é necessário criticar as informações, os acontecimentos e os
fatos diante dessa era de fake news em que estamos vivendo. É preciso considerar, também, a
fidedignidade do conteúdo temático veiculado nos textos posicionando-se sempre que for
possível.
Além disso, diante desse contexto de uso de gêneros digitais diversos, é fundamental
ainda compreender os sentidos provocados pela utilização de recursos multissemióticos,
perante as novas formas de textualização. É basilar, portanto, que as atividades de leitura em
redes sejam cada vez mais autônomas; no entanto, é essencial que os professores observem a
faixa etária indicada para acesso em determinados ambientes virtuais.
Além dessas indicações, é muito importante que os professores de língua portuguesa
selecionem “procedimentos de leitura adequados a diferentes objetivos e interesses, levando
em conta características do gênero e suporte do texto, de forma a poder proceder a uma leitura
autônoma em relação a temas familiares” (BRASIL, 2018, p.74). Assim, constatamos o
quanto é imprescindível desenvolver habilidades nos estudantes relacionadas ao letramento
digital, com o intuito de desenvolver sujeitos críticos, independentes, capazes de lidar com os
desafios do século XXI.
81
hiperlink e o conteúdo dele (DIAS; NOVAIS, 2009). A partir dessa identificação, o professor
pode sugerir uma apreciação dos textos para uma avaliação, por exemplo.
Sobre a habilidade (EF67LP02), também exigida no 6º e 7º anos, o objeto de
conhecimento é a apreciação e réplica (BAKHTIN, 2003). Segundo os pressupostos
bakhtinianos os sujeitos recepcionam os textos que circulam socialmente a partir da
apreciação e, em seguida, posicionam-se a partir de uma atitude responsiva e ativa. A
habilidade reforça a necessidade de que o aluno saiba:
Explorar o espaço reservado ao leitor nos jornais, revistas, impressos e on-line, sites
noticiosos etc., destacando notícias, fotorreportagens, entrevistas, charges, assuntos,
temas, debates em foco, posicionando-se de maneira ética e respeitosa frente a esses
textos e opiniões a eles relacionadas, e publicar notícias, notas jornalísticas,
fotorreportagem de interesse geral nesses espaços do leitor (BRASIL, 2018, p.163).
O espaço de leitura do impresso não é único de destaque. É evidente que os jornais on-
line ganharam notoriedade e que há uma preocupação quanto à publicação de notícias. Logo,
é imprescindível que os alunos reconheçam o tema e a veracidade das notícias, por exemplo, e
que esses sujeitos apreciem o conteúdo com a finalidade de replicar um discurso confiável,
assinalando esse objeto de conhecimento dessa habilidade.
É importante também que os estudantes se posicionem de modo crítico, a fim de
identificar, quando houver, a presença de fake news no espaço jornalístico, como indica
também a habilidade (EF67LP03): “Comparar informações sobre um mesmo fato divulgadas
em diferentes veículos e mídias, analisando e avaliando a confiabilidade” (BRASIL, 2018,p.
163). O verbo comparar, segundo a Taxonomia de Bloom et al. (1956) está no domínio
cognitivo da avaliação, da apreciação para elaborar juízo de valor com base em critérios e
conhecimentos prévios, por exemplo.
Nota-se que o objeto de conhecimento dessa habilidade está voltado à relação entre
textos e a confiabilidade da informação veiculada por diferentes mídias. Isso porque segundo
Dias e Novais (2009) uma das habilidades relacionadas a buscar e organizar informações nos
ambientes digitais está ligada à avaliação da informação obtida. É preciso, dessa forma
analisar não só o conteúdo, mas também estabelecer juízo de valor sobre o site, para avaliar o
nível de confiabilidade da informação de determinada fonte.
Semelhante à habilidade anterior, temos a (EF67LP05) a qual sugere que o aluno
saiba “Identificar e avaliar teses/opiniões/posicionamentos explícitos e argumentos em textos
argumentativos (carta de leitor, comentário, artigo de opinião, resenha crítica etc.),
manifestando concordância ou discordância” (BRASIL, 2018, p. 163). Observamos que, para
identificar o posicionamento do produtor do texto, é necessário rememorar conhecimentos,
83
informações prévias sobre o fato discutido. Nesse sentido, o verbo identificar faz referência
ao domínio cognitivo do conhecimento (BLOOM ET AL., 1956).
Ainda assim, além identificar teses e argumentos, é preciso avaliar opiniões. Para isso,
o estudante deverá mostrar o seu posicionamento sobre comentários em redes sociais, por
exemplo, Twitter. Assim, notamos que o objeto de conhecimento dessa habilidade faz
referência novamente à apreciação e réplica, pois os sujeitos respondem aquilo que avaliaram
inicialmente.
Ainda sobre o Campo jornalístico/midiático, observamos que a habilidade
(EF67LP07) está relacionada a uma questão problemática do século XXI, no caso, a
ocultação de fontes da informação, por exemplo:
15
É válido lembrar que a expressão “efeito de sentido” faz referência à Análise do discurso (AD) que está relacionada com
as intenções de produção de sentido para um determinado interlocutor. Segundo Orlandi (1988, p. 9) é “aquele que o autor
imagina (destina) para seu texto e para quem ele se dirige”.
84
entender o conteúdo que a imagem veicula, a partir unidades gramaticais, por exemplo.
Esse caráter imagético perpassa os estudos da Semiótica (PEIRCE, 1993). Além disso,
fica evidente a indicação de gêneros que mesclam multissemioses, a saber: foto-denúncias,
memes, anúncios publicitários e propagandas em sítios da internet. Logo, é imprescindível
perceber os múltiplos significados que as mídias e a hibridização de modalidades podem
gerar. Conforme Kress e Van Leeuwen (2006), a Gramática do Design Visual pode nos ajudar
a entender quais os significados por trás de determinado formato de letra ou posição de um
vetor em uma imagem, por exemplo.
Em se tratando do gif, a percepção da construção de significados é ainda mais
específica, pois estamos lidando com uma imagem em movimento. Assim, é necessário
observar, durante a leitura, as intenções do autor com relação a elaboração desse tipo de texto,
os recursos e os suportes em que ele pode ser produzido. É necessário, portanto, entender a
relação entre a animação e linguagem verbal, a fim de compreender os efeitos de sentido
desencadeados por esse texto multimodal, além, é claro, de reconhecer que o hipertexto
digital é constituído por recursos visuais e sonoros diversos (DIAS; NOVAIS, 2009).
No que diz respeito ao Campo de atuação da vida pública, é preciso, diante da
habilidade (EF67LP16) exigida aos estudantes do 6º e 7º anos, reconhecer as práticas letradas
mais comuns no cotidiano, por exemplo, a fim de:
● consumidor.gov.br
● reclameaqui.com.br
16
Disponível em: https://economia.ig.com.br/2016-05-17/o-sac-nao-funciona-conheca-5-canais-para-registrar-denuncias-e-
reclamacoes.html. Acesso em: 27 dez. 2019.
85
● denuncio.com.br
● proteste.org.br
● justicasejafeita.com
Fonte:https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes
permanentes/cdc/outros/dicas.html/ModelosdeCartas.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.
86
17
Segundo Win, Warga e Moen (2013) a curadoria digital requer o desenvolvimento de ferramentas, a coordenação e
assessoria de projetos e a criação de um espaço de acesso reservado a informações de uma área específica.
87
Além disso, para analisar o conteúdo dos textos, é preciso dividir a informação em
partes, a fim de compreendê-lo de forma segmentada (design, fonte dos links). Ademais, é
necessário analisar os recursos presentes na página do site de modo a compreender a
informação de modo global (DIAS; NOVAIS, 2009).
Fica evidente, portanto, a importância de entender o conteúdo que foi escolhido para
ser noticiado, levando em consideração o foco dado à veracidade da notícia. Assim,
complementando essa habilidade, a (EF08LP02) exige que o estudante saiba “Justificar
diferenças ou semelhanças no tratamento dado a uma mesma informação veiculada em textos
diferentes, consultando sites e serviços de checadores de fato” (BRASIL, 2018, p.177).
Diante disso, percebemos que o verbo justificar requer do aluno a capacidade não só
de apreciação, mas também de avaliação e explicitação da informação (BLOOM ET AL.,
1956). É imprescindível que o estudante entenda a relação entre o texto a mídia que o veicula,
elencando trechos de semelhanças e rupturas entre os conteúdos compartilhados. Para isso, é
fundamental que os discentes tenham acesso a curadorias diversas para checar a
confiabilidade da informação por meio da compreensão dos objetivos do produtor (WIN;
WARGA; MOEN, 2013), o que complementa o comando da habilidade (EF89LP01) ao
cobrar que os estudantes do 8º e 9º anos saibam:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
selecionados pelos professores durante a elaboração dos currículos, como também profundas
modernizações nas metodologias e uso de recursos digitais como suportes utilizados nas aulas
de língua portuguesa das instituições de ensino, por exemplo. Nesse sentido, este trabalho
propiciou algumas reflexões sobre práticas de linguagem contemporâneas, levando em
consideração o leitor do século XXI, imerso na era digital.
É preciso destacar que uma das limitações do trabalho foi a escolha do recorte do
corpus que contemplou apenas as habilidades de leitura voltadas à cultura digital. Assumimos
que, embora tenhamos apresentado o perfil de leitor contemporâneo indicado em nossos
objetivos, ainda existem lacunas para outros estudiosos se debruçarem, isso porque, para ter
uma visão global do aluno do ensino fundamental - Anos Finais nesse contexto relacionado
ao letramento digital, é essencial analisar também das habilidades dos Eixos de Produção de
Textos, Oralidade e Análise Linguística/Semiótica. No entanto, reconhecemos que, para um
estudo analítico inicial sobre a BNCC, sem referencial teórico ainda abrangente, analisamos
as habilidades de leitura de modo a identificar as ações (domínio cognitivo) que estão
relacionadas aos comandos que os professores deverão contemplar durante a elaboração dos
currículos para o desenvolvimento de habilidades leitoras.
Assim, entendemos que essas diretrizes indicadas pela Base nacional Comum
Curricular já mostram quais desafios estão relacionados ao ensino de leitura atualmente. O
documento apresenta gêneros emergentes voltados ambientes virtuais, suportes disponíveis
para acesso e a hibridização de semioses, fato que requer dos estudantes tanto de escolas
privadas quanto públicas, dos centros urbanos e de zonas rurais, não só o acesso às
tecnologias digitais, possibilitado pela democratização desses recursos, mas também a
estrutura física mínima e adequada tanto para a formação continuada para os professores
quanto para formação de alunos que sejam capazes de agir com autonomia, ética e
responsabilidade diante das demandas sociocomunicativas.
100
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