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Análise da estrutura de similaridade de Burnout: Validação da escala Maslach


Burnout Inventory em professores

Conference Paper · July 2000


DOI: 10.13140/RG.2.1.4856.4884

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3 authors, including:

Antonio Roazzi Carvalho Antonia Dalva França


Federal University of Pernambuco Universidade Federal do Piauí
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Roazzi, A., A. D. Carvalho, and P. V. Guimarães. 2000. Análise da estrutura de similaridade de
Burnout: Validação da escala Maslach Burnout Inventory em professores. In Anais do V Encontro
Mineiro de Avaliação Psicológica: Teorização e Prática, VIII Conferências Internacional de
Avaliação Psicológica - Formas e Contexto e V Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica:
Teorização e Prática, Belo Horizonte, Belo Horizonte: PUC, (pp. 89-115).

ANÁLISE DA ESTRUTURA DE SIMILARIDADE DA SÍNDROME DE BURNOUT:


VALIDAÇÃO DA ESCALA “MASLACH BURNOUT INVENTORY” EM PROFESSORES
Antonio Roazzi 1
Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco
Antonia Dalva Carvalho
Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Piauí
Patrícia Vasconcelos Guimarães
Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco
Resumo: A escala MBI (Maslach Burnout Inventory) de Maslach e Jackson (1981) que
possibilita mensurar o burnout ainda não foi devidamente validada para que se possa
avaliar esta síndrome através de um instrumento adequado em amostras brasileiras de
professores do Nordeste. Esta medida não tem manifestado uma estrutura fatorial estável,
possibilitando explicar somente porções limitadas de variância (e.g., Iwanicki & Schab,
1981; Powers & Gose, 1986; Sirigatti, Stefanile & Menoni, 1988). A partir dos resultados
da literatura na área (e.g., Codo e Vasquez-Menezes, 1998; Sirigatti, Stefanile & Menoni,
1988; Sirigatti & Stefanile, 1993a,b), tem sido elaborada uma nova versão desta escala.
Trata-se de um questionário inspirado no MBI revisado com a elaboração de três novos
itens. A escala que é apresentada a seguir é constituída por 24 itens. Destes, 21 foram
retirados do MBI (a escala original apresenta 22 itens); a modificação mais evidente destes
itens diz respeito à substituição do termo “cliente” para o termo “aluno”.
Considerou-se também oportuno integrar à escala original alguns itens que
hipoteticamente estivessem relacionados com a dimensão “Despersonalização”. Esta
decisão foi apontada pela própria literatura, visto que esta dimensão manifesta, com uma
certa freqüência, instabilidade e um escasso poder explicativo. Ao mesmo tempo, pode ser
considerada uma constelação de primário interesse no estudo da síndrome do burnout. Esta
escala tem sido administrada em uma amostra de 817 professores dos ensinos fundamental
e médio de escolas particulares, municipais e estaduais de Teresina (Piauí). Os dados foram
analisados inicialmente através de uma série de análises fatoriais e análises dos itens das
sub-escalas observadas. Para verificar a estrutura do construto, estas análises foram
complementadas através de análises multidimensionais (SSA: Similarity Structure
Analysis). Os resultados obtidos indicam que as modificações introduzidas permitem a
identificação das três dimensões originais encontradas por Maslach. Entretanto, as análises
multidimensionais indicam que a dimensão “Despersonalização” pode ser melhor definida
por duas sub-dimensões: “Indiferença” (itens originais do MBI) e “Frustração” (os três
novos itens). Estes resultados e as implicações dos mesmos no âmbito educacional serão
discutidos.

Palavras Chaves: Burnout, stress, MBI (Maslach Burnout Inventory).

1
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, CFCH
8o andar, Cidade Universitária, R. Acadêmico Hélio Ramos, s/n, 50670-901, Recife, PE. Tel.: 0xx81
3271.8272 (UFPE); Fax: 3271.1843; E-mail: roazzi@npd.ufpe.br
2
ANÁLISE DA ESTRUTURA DE SIMILARIDADE DA SÍNDROME DE BURNOUT:
VALIDAÇÃO DA ESCALA “MASLACH BURNOUT INVENTORY” EM PROFESSORES

A síndrome de burnout refere-se a uma reação de stress crônico, a uma condição de


mal-estar psicológico, a uma indisposição que decorre de uma situação de trabalho
vivenciada como estressante. O burnout pode ser facilmente observado quando as
expectativas individuais a respeito de uma determinada situação de trabalho, desiludidas
por uma realidade que não às corresponde, deixam o lugar a um sentimento de fracasso,
impotência e desespero. O burnout é, portanto, o resultado de um stress exagerado no
ambiente de trabalho; corresponde a uma atitude de não conseguir mais o que se quer, é o
mau-humor, a irritação quotidiana, o esgotamento, o esvaziamento, a sensação de desilusão
e de impotência. 2 Um profissional ou trabalhador portador desta síndrome, torna-se apático,
cínico com os pacientes, clientes ou com todas aquelas pessoas que usufruem de seus
serviços, indiferentes e destacados do seu ambiente de trabalho. Em casos extremos o
burnout pode implicar graves danos psico-patológicos para o indivíduo. Também a própria
instituição na qual opera o indivíduo se ressente tanto a nível da eficiência como a nível da
qualidade do serviços oferecidos.
Mas, mais em detalhes, o que é o burnout? Que fatores o determinam? Os modelos
teóricos explicativos são os de Cherniss (1980) e de Maslach e Jackson (1981). Cherniss
(1980) define burnout como uma estratégia de adaptação que possui conseqüências
negativas tanto para a pessoa como para a organização. Portanto, seria uma modalidade
(errada) de adaptação ao stress do trabalho que surge naquelas pessoas que não dispõem de
recursos adequados para enfrentá-lo. Esta falta de habilidade em enfrentar o stress é
determinada tanto por fatores pessoais como por variáveis relativas ao trabalho em si e a
sua organização.
De acordo com o modelo teórico de Maslach e Jackson (1986), o “burnout” pode ser
definido como uma síndrome de exaustão emocional, despersonalização e realização
pessoal reduzida, que pode ocorrer freqüentemente entre indivíduos que trabalham de
alguma maneira com recursos humanos, desempenhando profissões de ajuda (serviços
sócio-sanitários, educação etc.), exigindo, portanto, um alto nível de contato com pessoas.
Exaustão emocional e/ou física refere-se aos sentimentos de esgotamento dos recursos e
respostas emocionais. Despersonalização extrema refere-se a um negativo, insensível ou
excessivo desligamento da resposta para outras pessoas, que são geralmente os recipientes
de um desses serviços ou cuidados; em outra palavras, a despersonalização é uma
manifestação de atitudes negativas e cínicas para com as pessoas no ambiente de trabalho.
A realização pessoal reduzida ou perda do sentimento de realização no trabalho diz respeito

2
É importante salientar que o stress difere de burnout. Walsh (1987) ressalta que conceitualmente o stress é o gênero enquanto o
burnout é a espécie, isto é, uma forma específica de resposta a determinadas condições de stress. De forma similar, Farber (1983) afirma
que estes dois conceitos, malgrado similares, não são idênticos. O burnout é o resultado não só do stress em si (que pode ser inevitável
nas profissões de ajuda), mas do “stress não mediado”, do ser estressado sem possibilidade de solução, sem qualquer elementos de
moderação, sem um sistema de suporte. O stress, portanto, pode ser visto como determinante do burnout, mas não coincide com o
mesmo. Ao contrário, o burnout constitui-se em um possível êxito na presença de determinadas condições. Os sintomas do burnout
surgem, quando surgem, após um certo período de tempo de exposição a condições estressantes, como conclusão de um percurso
marcado por tensão e cansaço. O próprio Freudenberger sugere que o burnout se desenvolve no trabalhador em um processo gradual ao
ponto de ser inconsciente que se esteja verificando; caracteriza-se também pela recusa em acreditar em algo. Assim, o burnout deve ser
visto mais como um processo do que um evento. Além desta diferença de caráter mais conceitual, existe uma diferença mais
operacional. Apesar do burnout compartilhar com o stress no trabalho, o esgotamento emocional e a escassa realização pessoal ao
mesmo tempo diverge do mesmo quanto ao fator despersonalização, caracterizado por atitudes de indiferença e cinismo em relação aos
utentes dos serviços (Cherniss, 1980; Maslach, 1976).
3
a um declínio da auto-estima, da sensação de competência e sucesso no próprio trabalho,
com produtividade diminuída (Maslach, 1993). Este construto teórico parece enfatizar os
fatores pessoais e os relacionamentos sociais na análise das causas do burnout. A sua direta
expressão é o “Maslach Burnout Inventory” (MBI), o primeiro e, ainda hoje, um dos
instrumentos de diagnóstico que possui maior credibilidade. De fato, este modelo de três
dimensões tem sido verificado empiricamente através de diversas análises fatoriais, tanto de
tipo exploratório como confirmatório (Green & Walkey, 1988; Maslach & Jackson, 1981;
Belcastro, Gold & Hays, 1983; Evans & Fischer, 1993; Gold, Bachelor & Michael, 1989).
Além do mais, os diferentes estudos têm evidenciado que as três dimensões do MBI,
mesmo sendo aspectos diferentes do construto, estão correlacionadas entre si, sobretudo as
dimensões “exaustão emocional” e “despersonalização” (Maslach & Jackson, 1986; Evans
& Fischer, 1993).
Após a publicação do MBI e a difusão do modelo teórico que o fundamenta, parece
que os esforços dos pesquisadores em geral têm se direcionado exclusivamente para a
categorização dos fenômenos relacionados com a síndrome, ao invés de focalizar os
esforços para a interpretação e análise de sua origem. Assim, o burnout tem sido verificado
em ambientes de trabalhos bastante heterogêneos, nivelando o significado original do termo
até o ponto de fazer coincidir burnout com stress vivenciado no trabalho. De fato, hoje se
fala de burnout entre os enfermeiros, médicos, professores, policiais, desportistas,
psicólogos, psiquiatras, mas também entre bancários, advogados, controladores de vôo,
padres, administradores, bibliotecários, executivos, judeus que moram em área de conflito,
pais de filhos autistas, dentre outros (e.g., Alexander, 1980; Beck & Gargiulo, 1983;
Belcastro, Gold & Hays, 1983; Brockman, 1978; Cooper, 1986; Edelwich & Brodsky,
1980b; Gill, 1980; Gold, 1984; Maslach & Jackson, 1986; Neville, 1981; Pines, 1994;
Sulivan, 1979; Veninga, 1979; Wise & Berlin, 1981; Withehead, 1987). Esta modificação
do conceito original revela como, na realidade, não é ainda disponível um modelo teórico
suficientemente homogêneo e articulado, apesar das inúmeras pesquisas realizadas sobre o
assunto nas últimas três décadas. Seria útil, portanto, voltar às origens e às intuições de
Freudenberger (1974) 3 e centrar a noção de burnout no contexto específico das profissões
de ajuda, nas quais as realizações pessoal e profissional estão diretamente ligadas ao bem
estar e melhora do outro.
Entre estas profissões de ajuda, pode ser considerada a do professor. Infelizmente, a
mensuração do burnout através de uma escala como o MBI em amostras brasileiras de
professores do Nordeste ainda não foi devidamente validada para que se possa avaliar o
nível de burnout através de um instrumento adequado. Além do mais, quando esta medida
tem sido validada, não tem manifestado uma estrutura fatorial estável, possibilitando
explicar somente porções limitadas de variância (e.g., Iwanicki & Schab, 1981; Powers &
Gose, 1986; Sirigatti, Stefanile, Menoni & Taddei, 1988). Sem uma validação adequada
deste instrumento, torna-se difícil uma avaliação da síndrome de burnout entre professores.
O presente estudo objetiva validar este instrumento.

3
Historicamente, a síndrome de burnout e sua conceitualização foi descrita inicialmente em 1974 pelo
psicanalista Herbert J. Freudenberger ao publicar a primeira contribuição sobre o assunto. Para este autor, o
burnout seria “um estado do cansaço ou frustração que nasceu da devoção a uma causa, um modo de vida ou
uma relação que deixou de produzir as recompensas esperadas” (Freudenberger, 1974). Isto é, um
determinado quadro sintomatológico que pode ser detectado em pessoas que trabalham em serviços
comunitários e que se encontram particularmente expostas a um tipo de stress resultante de um relacionamento
direto e contínuo com um tipo de população bastante carente.
4
A partir dos resultados da literatura na área (e.g., Codo e Vasquez-Menezes, 1998;
Sirigatti, Stefanile & Menoni, 1988; Sirigatti & Stefanile, 1993a,b), tem sido elaborada uma
nova versão desta escala. Trata-se de um questionário inspirado no MBI de Maslach e
Jackson (1981, 1986; ver também Maslach, 1976, 1982, 1993) revisado com a elaboração
de novos itens. A escala que é apresentada a seguir é constituída por 24 itens. Destes, 21
foram retirados do MBI (a escala original apresenta 22 itens); a modificação mais evidente
destes itens, diz respeito à substituição do termo “cliente” para o termo “aluno”- sujeito
para o qual o professor direciona suas atividades de ensino.
Considerou-se também oportuno adicionar à escala original três itens que
hipoteticamente estivessem relacionados com a dimensão “Despersonalização”. Esta
decisão foi apontada pela própria literatura, visto que esta dimensão manifesta, com uma
certa freqüência, instabilidade e um escasso poder explicativo. Ao mesmo tempo,
entretanto, pode ser considerada uma constelação de primário interesse no estudo da
síndrome do burnout, tanto pelos aspectos teóricos que esta dimensão representa no
desenvolvimento de um modelo teórico explicativo como pelas implicações em termos
clínico.

Método

Amostra
A população alvo que constitui os participantes deste estudo é constituída por
professores da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da zona
urbana de Teresina, combinados com os seguintes tipos de escola: estadual, municipal e
particular. Os dados são relativos ao censo escolar de 1998, totalizando esta população alvo
em 9225 professores. Esta distribuição encontra-se apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Tipos de Escola versus Níveis de Ensino (população da amostra)

Rede de ensino
Níveis de ensino Estadual Municipal Particular Total Geral
Educação Infantil 491 94 587 1172
Ensino Fundamental 3246 405 2467 6118
Ensino Médio 889 30 1016 1935
Total 4626 529 4070 9225
Dados fornecidos pelo Departamento de Estatística da Secretária de Educação do Estado do Piauí.

Em grande população, como é o caso 9225, torna-se interessante a realização de


uma amostra, isto é, a seleção de uma parte da população para que seja observada sob um
rigoroso plano de amostragem, capaz de garantir sua representatividade com economia,
menor tempo de pesquisa, confiabilidade dos dados e operacionalidade.
Pelo design da pesquisa, a amostragem mais adequada é a do tipo amostragem
estratificada proporcional. Isto porque a técnica estratificada consiste em dividir a
população em subgrupos, denominados estratos. Estes estratos são mais homogêneos que a
população toda, com respeito às variáveis de estudo, quais sejam: tipo de escola - estadual,
municipal e particular da zona urbana, cruzadas com os níveis de ensino - Educação
5
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Especificamente, a amostragem estratificada
proporcional, a probabilidade do tamanho de cada estrato da população é mantida na
amostra, garantindo que cada elemento da população tenha a mesma probabilidade de
pertencer à amostra.
Em geral, quando a população é muito grande, como é o caso, o cálculo estatístico do
tamanho da amostra pode ser feito sem levar em conta o tamanho exato, apenas
considerando a população alvo como finita (Barbeta, 1994). Desta forma, o tamanho da
amostra a ser pesquisada, admitindo-se um erro tolerável de 5% (cinco por cento), seria de
384 (trezentos e oitenta e quatro) professores.
No entanto, como um dos objetivos do estudo foi validar e melhorar o
instrumento capaz de avaliar o burnout em professores, aumentamos a dimensionalidade
amostral em mais de 100%. A amostra, então, foi composta por 817 (oitocentos e
dezessete) professores, os quais foram distribuídos por tipo de escola, considerando o sexo,
o nível de ensino no qual o professor trabalha, o tempo de serviço, a renda familiar e a
idade. Tal distribuição será apresentada, detalhadamente, a seguir.
A Tabela 2 descreve a amostra da variável sexo, relacionada aos três tipos de escola.
Podemos verificar que, dos sujeitos da escola municipal, 33 eram do sexo masculino e 214
do sexo feminino, totalizados em 247 sujeitos. Dos sujeitos que compõem o grupo da
escola estadual, 50 (cinqüenta) eram do sexo masculino e 352 do sexo feminino, totalizando
402. Na escola particular, encontram-se 42 que pertencem ao sexo masculino e 118 ao sexo
feminino, que totalizam 160. Observando o total geral em percentuais (Tabela 7),
verificamos que a amostra foi composta por 15,8% de professores do sexo masculino e por
84,2% de professores do sexo feminino. Neste caso, o total de sujeitos considerados foi de
apenas 809. Vale ressaltar que a variação observada no total de sujeitos entre uma variável
e outra ocorre devido à invalidação das respostas dos respectivos sujeitos em algumas das
variáveis.

Tabela 2. Distribuição dos grupos por Tipo de Escola x Sexo


Tipos de escola
Sexo Municipal Estadual Particular Total geral %

Masculino 33 50 42 125 15.8


Feminino 214 352 118 684 84.2
Total 247 402 160 809 100

Na Tabela 3, encontra-se a distribuição dos grupos por nível de ensino nos quais
trabalham versus tipo de escola. Dos sujeitos que trabalham na Educação Infantil, foram
pesquisados 55 da escola municipal, 100 da escola estadual e 31 da escola particular,
totalizando em 186 sujeitos neste nível de ensino, o que corresponde a um percentual de
22,9% da amostra. Dos grupos inseridos no Ensino Fundamental, 183, foram da escola
municipal; 278 da escola estadual e 101 da escola particular, chegando-se a um total de 562
sujeitos. Portanto, isso significa que, dos sujeitos pesquisados, 69,2% trabalham no Ensino
Fundamental. Finalmente, daqueles sujeitos cujas atividades são exercidas na instância do
Ensino Médio, 9 foram da escola municipal, 26 da escola estadual e 39 da escola particular,
totalizando em 64 sujeitos, isto é, um percentual de 7,9% da amostra total, conforme indica
a Tabela 7.
6
Tabela 3. Distribuição dos grupos por Nível de ensino x Tipo de Escola
Tipos de escola
Nível de ensino Municipal Estadual Particular Total Geral %

Educação. Infantil 55 100 31 186 22.9


Ensino Fundamental 183 278 101 562 69.2
Ensino Médio 9 26 29 64 7.9
Total 247 404 161 812 100

A Tabela 4 delineia a distribuição da amostra por tempo de serviço em relação ao


tipo de escola. O tempo de serviço foi distribuído em três grupos, mediante os objetivos da
pesquisa. No primeiro grupo, estão alocados os professores menos experientes, melhor
dizendo, aqueles que têm até 5 anos de tempo de serviço. No segundo, o qual nomeamos de
intermediário, estão os professores com tempo de serviço variando de 6 a 14 anos e, no
terceiro grupo, estão inseridos os professores com mais de 14 anos de tempo de serviço,
considerados como mais experientes.
Nesse sentido, o número de professores da escola municipal com até 5 anos de
tempo de serviço que constituíram a amostra foram 112, os que pertencem à escola estadual
foram 85 e 50, os que trabalham na escola particular. Estes sujeitos totalizam um número de
247, percentual que corresponde a 37,2% da amostra geral. O grupo cujo tempo de serviço
varia de 6 a 14 anos é formado por 85 sujeitos que pertencem à escola municipal; 125 à
escola estadual e 62 à escola particular, ou seja, 272 sujeitos, representando um percentual
de 33,5% do total geral.
Vale ressaltar que, do grupo de professores com mais de 14 anos de tempo de
serviço, os mais experientes encontram-se assim divididos: 50 têm seus trabalhos prestados
à escola municipal, 174 à escola estadual e 13 à escola particular. A soma dos sujeitos que
compõem este grupo é de 237, isto é, 29,2% da amostra.

Tabela 4. Distribuição dos grupos por Tempo de serviço x Tipo de escola


Tipos de escola
Tempo de serviço Municipal Estadual Particular Total Geral %
1 a 5 anos 112 105 85 302 37.2
6 a 14 anos 85 125 62 272 33.6
> de 14 anos 50 174 13 237 29.2
Total 282 404 161 808 100

Ao lado disso, quando caracterizamos os grupos por renda, optamos como critério
de medida pela renda familiar, que foi distribuída em três grupos. O primeiro grupo
comporta os sujeitos que têm renda familiar de até 3 salários mínimos. O segundo grupo
encontra-se definido pelos sujeitos cuja renda familiar está intercalada entre 4 e 6 salários
mínimos. Por fim, o terceiro grupo é caracterizado por sujeitos com renda familiar superior
a 7 salários mínimos.
7
Na Tabela 5, está exposta a distribuição dos sujeitos por renda familiar e tipo de
escola. No primeiro grupo, 108 sujeitos pesquisados foram da escola municipal 178 da
escola estadual e 49 da escola particular. Isto significa que 335 sujeitos, melhor dizendo,
41,5%, possuem renda familiar de até 3 salários mínimos. No grupo onde a renda varia
entre 4 e 6 salários mínimos, 77 sujeitos foram da escola municipal, 145 da escola estadual
e 59 da escola particular, somando um total de 281 sujeitos ou 34,8% do total amostral. O
grupo em que a renda familiar ultrapassa 7 salários mínimos representa 24% da amostra,
sendo que 62 foram da escola municipal; 80 da escola estadual; e 13 da escola pública.

Tabela 5. Distribuição dos grupos por Renda Familiar x Tipo de escola


Tipos de escola
Renda familiar Municipal Estadual Particular Total Geral %
1 a 3 Salários mínimos 108 178 49 335 41.4
4 a 6 Salários mínimos 77 145 59 281 34.6
> de 7 Salários mínimos 62 80 52 194 24.0
Total 247 403 160 810 100

De maneira similar, a Tabela 6 descreve os sujeitos pesquisados por idade,


relacionados aos diferentes tipos de escolas onde estão inseridos. Nesse sentido, foram
distribuídos em três grupos distintos. O primeiro grupo compreende os sujeitos cujas
idades variam entre 19 a 28 anos; o segundo incorpora os sujeitos que têm as idades entre
29 a 39 anos; e o terceiro agrupa aqueles sujeitos com idades maiores do que 40 anos. Dos
sujeitos do primeiro grupo, foram pesquisados 96 da escola municipal, 78 da escola
estadual e 83 da escola particular, ou seja, um percentual de 31,8% do total amostral. No
segundo grupo, 106 eram da escola municipal, 155 da escola estadual e 69 da escola
particular, totalizando em 330, o que corresponde a um percentual de 40,8% da amostra. E,
finalmente, no terceiro grupo, foram entrevistados 44 sujeitos da escola municipal, 171 da
escola estadual e 7 da escola particular. Em percentuais, os sujeitos que têm mais de 40
anos representam 27,4% do total da amostra.

Tabela 6. Distribuição dos grupos por Idade x Tipo de escola


Tipos de escola
Idade Municipal Estadual Particular Total Geral %
19 a 28 anos 96 78 83 257 31.8
29 a 39 anos 106 155 69 330 40.8
> de 40 anos 44 171 7 222 27.4
Total 245 404 159 809 100

Conforme se pode observar, para dar uma visão geral da amplitude da amostra do
estudo, na Tabela 7 estão reunidos todos os dados já descritos anteriormente. Nesta Tabela,
verificamos o percentual de sujeitos por cada grupo, nas diferentes variáveis em relação ao
tipo de escola.
8

Tabela 7. Distribuição da amostra por tipo de escola x variáveis sociodemográficas


SEXO NÍVEL DE ENSINO TEMPO DE SERVIÇO RENDA FAMILIAR IDADE
TIPO DE
ESCOLA
Educ. Ens. Ens. 1-5 6-14 >14 1-3 4-6 > 7 19-28 29-39 > 39
Mas. Fem.
Infantil Fund Méd. anos anos anos SM SM SM anos anos anos
Municipal 4.1 26.4 6.8 22.5 1.1 13.8 10.5 6.2 13.4 9.5 7.7 11.9 13.1 5.4
Estadual 6.2 43.5 12.3 34.3 3.3 12.9 15.4 21.4 22.0 18.0 9.9 9.6 19.1 21.2
Particular 5.2 14.6 3.8 12.4 3.5 10.5 7.6 1.6 6.1 7.3 6.4 10.3 8.5 0.9
Total 15.5 84.5 22.9 69.2 7.9 37.2 33.5 29.2 41.5 34.8 24.0 31.8 40.8 27.5

SM= Salário mínimo.

Material
Na Tabela abaixo estão apresentados os 24 itens da escala utilizados: oito para a
dimensão “Esgotamento Emocional”, oito para a dimensão “Realização no trabalho” e oito
(5 originais do MBI e 3 novos) para a dimensão “Despersonalização”.
9
Tabela 8. Os 21 itens da escala MBI e os 3 itens novos utilizados

Ord. No Esgotamento Emocional


01 01 Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho
02 02 Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho
03 03 Sinto-me cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho
06 04 Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um cansaço para mim
08 05 Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho
14 06 Sinto que estou trabalhando demais
18 07 Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito tenso/estressado
20 08 Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim

Realização no Trabalho
04 09 Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
07 10 Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
09 11 Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12 12 Sinto-me cheio(a) de energia
16 13 Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
17 14 Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
19 15 No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
21 16 No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma

Despersonalização
05 17 Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal, como se fossem objetos
10 18 Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
11 19 Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
15 20 Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
22 21 Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus problemas

23 22 * Pergunto-me por que preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
24 23 * Tenho a sensação de que nos dias de hoje é muito difícil compreender os alunos
25 24 * Parece-me que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
Ord: ordem de apresentação dos itens; * itens novos;
10

PROCEDIMENTO
Esta investigação faz parte de uma outra mais ampla sobre stress e mal-estar na
profissão docente. Assim, a escala proposta foi respondida pelos professores como parte de
um questionário mais abrangente. Deste modo, a investigação foi desenvolvida em duas
fases. Na primeira, antes da aplicação do questionário geral, foi utilizada uma pequena
amostra formada por 30 professores. Estes foram entrevistados através de uma série de
questões abertas sobre stress e trabalho, como também responderam ao questionário geral,
visando detectar eventuais dificuldades na compreensão dos termos e instruções e, ainda,
nível de cansaço demonstrado ao responder. De posse destas informações, colhidas na
entrevista, e de observações/comentários dos sujeitos sobre o questionário e escalas, foi
preparada a versão definitiva do questionário geral, aplicado a uma amostra maior formada
por 817 professores (segunda fase). Este questionário geral foi preparado em forma de
livrete.
Na segunda fase, os livretes com os questionários e escalas foram distribuídos para
várias escolas, escolhidas aleatoriamente dentro da área urbana. Os questionários foram
entregues pessoalmente pelo pesquisador para cada professor, após introduzir a
investigação, enfatizando a importância do próprio professor em participar da mesma. Os
professores foram orientados a não escrever seus nomes no questionário, conscientizando-
se de que suas respostas individuais não seriam identificadas. Foi sugerido também que
podiam fazer observações acerca da pesquisa, lembrando ainda que deixassem telefone e
endereço para divulgação dos resultados, se assim desejassem.

Resultados

Estratégia de análise
Para a escala completa (24 itens), foram realizadas análises fatoriais tanto para as
respostas de freqüências quanto às de intensidade. Calculou-se também, para cada item, o
produto entre as respostas de freqüências e as de intensidade, efetuando-se uma análise
fatorial em relação aos escores assim obtidos. Têm sido realizadas também análises
fatoriais para as respostas de freqüência e intensidade, excluindo da computação os três
novos itens. Desta maneira, os dados foram tratados de forma similar à escala de 22 itens,
similar à proposta por Maslach e Jackson (1981), a exceção dos aspectos lingüisticos
anteriormente descritos e um item a menos.
O tipo de análise fatorial utilizado tem sido o das componentes principais, tendo o
método Varimax de rotação ortogonal dos fatores. O número de fatores a serem extraídos
tem sido inicialmente definido através do critério de eigenvalue superior à unidade e, em
seguida, requerendo-se três fatores.
Tem sido realizada também uma análise dos itens e verificada, assim, a
homogeneidade das sub-escalas identificadas através do cálculo do coeficiente alfa de
Cronbach. Enfim, para verificar a estrutura do construto, estas análises foram
complementadas através de análises multidimensionais (SSA: Similarity Structure
Analysis).
11
Análise do questionário com 24 itens
A Tabela 9 abaixo apresenta os resultados das análises fatoriais realizadas,
determinando o número de fatores a serem extraídos, tendo como critério o valor
eigenvalue maior do que 1. Os dados encontrados referem-se à análise dos julgamentos
relativos tanto à freqüência quanto à intensidade. Visando comparar os atuais resultados
com a estrutura dimensional encontrada por Maslach e Jackson (1981), os itens para esta
tabela, assim como para as outras apresentadas a seguir, estão agrupados de acordo com os
três fatores da escala MBI. Os três novos itens (22, 23 e 24) foram incorporados à dimensão
“Despersonalização”.
Os índices de adequação apontados pela análise fatorial foram considerados
aceitáveis. De fato, observa-se que o índice Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra
mostra-se satisfatório (Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para
Freqüência .83173; para Intensidade .85593), como também o teste de Bartlett de
Esfericidade que mede a normalidade multivariada das distribuições (Teste de esfericidade
de Bartlett: para Freqüência 4051.36, p = .00000; para Intensidade 5041.1615, p = .00000). 4
Enquanto na análise fatorial pela freqüência emergem seis fatores com uma
variância total explicada de 51.8%, na análise fatorial pela intensidade emergem cinco
fatores com uma variância total explicada de 51.0%. Pode-se observar uma série de
similaridades e diferenças entre as duas estruturas. Os fatores 1 e 2, respectivamente para
freqüência e intensidade, são formados por itens claramente relacionados com a dimensão
“Esgotamento emocional”. Os itens formados pelo núcleo deste fator com a maior carga
fatorial nos dois julgamentos são os itens 1, 2, 3 e 5, todos relacionados com esgotamento e
cansaço generalizado em relação ao trabalho. Pela freqüência, os itens 4, 6 e 8 compõem
também este fator. O único item que pertencia a esta dimensão no MBI e possui carga
fatorial baixa é o item 7; mas por outro lado, apresenta uma alta saturação no fator 5 (.95).
Realmente, este é o único item do grupo que menciona o trabalho “com pessoas”. Pela
intensidade, somente o item 4 contribui para esta dimensão. Observa-se que este item,
juntamente com o item 5, apresenta uma alta saturação (.51 e .41, respectivamente) também
no fator 3.
Os itens 9 a 16, que na escala MBI descrevem a dimensão “Realização no
Trabalho”, encontram-se claramente descritos nos fatores 2 e 1, pela freqüência e pela
intensidade, respectivamente. Somente o item 12 para intensidade apresenta uma carga
fatorial acima de 30 em outro fator (o 5). Esta dimensão apresenta-se, portanto, como a
mais homogênea e similar nos dois tipos de julgamentos e confirma a dimensão original do
MBI.
Os itens 18, 19 e 20 descrevem a dimensão “Despersonalização” nos dois tipos de
julgamentos, fator 4 pela freqüência e fator 3 pela intensidade. Os itens 17 e 21 descrevem
esta dimensão também para intensidade. Estes dois últimos itens, entretanto, comportam-se
diferentemente na freqüência: enquanto o item 17 apresenta um alto nível de saturação no
fator 6, o item 21 apresenta uma saturação muito baixa (< .30) em todos os fatores.
Os três novos itens elaborados (22, 23 e 24), se incorporados à dimensão
“Despersonalização”, constituem uma constelação emergente em ambas as análises e que

4
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling
Adequacy): Este índice deve ser maior de 0.5 para se realizar uma análise fatorial adequada. Teste de Bartlett
de Esfericidade (Bartlett Test of Sphericity): O teste de Bartlett precisa ser significativo (isto é, a
probabilidade precisa ser maior do que .05). Este teste fornece um índice da normalidade multivariada de um
conjunto de distribuições. Um nível de significância menor do que .05 sugere que os dados não diferem
significativamente de uma distribuição normal multivariada.
12
parece sublinhar um sentimento de desolação, desgosto e distanciamento em relação aos
outros; constelação que pode ser considerada como uma subdimensão da
“Despersonalização”, cuja proposta primeira é de que seja denominada de “frustração”;
frustração decorrente da falta de reconhecimento no trabalho e dos insucessos gerados pela
árdua tarefa de educar.
13
Tabela 9. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 24 itens (eigenvalue >
1 e saturação > .30): Freqüência e Intensidade separadamente
Itens Freqüência Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F1 F2 F3 F4 F5

MBI – Esgotamento emocional


01 Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .70 .75

02 Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho .76 .83

03 Sinto-me cansado q/ me levanto de manhã e tenho .. .65 .63

04 Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .38 .31 .51

05 Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .57 .46 .41

06 Sinto que estou trabalhando demais .32

07 Trabalhar diret. c/ pessoas me deixa + tenso/estressado .94

08 Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .42

MBI – Realização no trabalho


09 Posso fácil. entender como os meus alunos se sentem .46 .53

10 Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .46 .54

11 Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .50 .52

12 Sinto-me cheio(a) de energia .51 .52 .37

13 Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .61 .53

14 Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .55 .68

15 No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .51 .60

16 No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .52 .60

MBI – Despersonalização

17 Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... . .91 .43

18 Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .43 .58

19 Tenho medo de que... possa me endurecer/insensibilizar .55 .60


.....

20 Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .45 .43

21 Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .38


alguns..

22 Pergunto-me por. preciso empenhar-me .. não merecem .58 .62

23 Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .60 .76

24 Parece-me .. alunos.. incapazes reconh. tudo .. eu faço .75 .68

% de variância por cada fator 17.2 13.6 6.6 5.7 4.4 4.3 21.3 12.7 6.7 5.9 4.4

% de variância total 51.8 51.0


Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para Freqüência .83173; para Intensidade .85593
Teste de esfericidade de Bartlett: para Freqüência 4051.36, p = .00000; para Intensidade 5041.1615, p = .00000;
14
Outros aspectos relevantes foram obtidos a partir da análise fatorial (eigenvalue >
1), considerando, para cada item, o produto dos julgamentos em termo de freqüência versus
os julgamentos em termos de intensidade. O resultado desta análise, disposto na Tabela 10,
identifica a existência de seis fatores, os quais explicam complexivamente 54.51% da
variância. A dimensão “Realização no trabalho” é a dimensão que pode ser identificada
com bastante clareza, sendo constituída pelos oito itens retirados do MBI e explicando
14.10% da variância. Esta mesma clareza pode ser observada nos três novos itens (22, 23 e
24) com saturações bastante elevadas (> .75).
A dimensão “Esgotamento emocional” encontra-se descrita no fator 2 por seis dos
oito itens retirados do MBI. Enquanto o item 4 apresenta uma alta saturação no fator 5,
juntamente com o item 17, que, de acordo com o MBI, pertenceria à dimensão
“Despersonalização”, o item 7 apresenta uma alta saturação no fator 6, juntamente com o
item 20, que, de acordo com o MBI, pertenceria à dimensão “Despersonalização”.
Quanto a esta dimensão, verifica-se uma certa dispersão. Todavia, no fator 4,
saturam quatro dos cinco itens retirados do MBI (18 a 21). O item 17 apresenta uma
saturação elevada no fator 5. Observa-se também o alto nível de saturação do item 20 no
fator 6.
15

Tabela 10. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 24 itens (eigenvalue
> 1 e saturação > .30): Freqüência x Intensidade
Itens Freqüência x Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F6
Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .80

02- Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho .81

03- Sinto-me cansado q/ me levanto de manhã e tenho .. .76

04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .69

05- Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .70

06- Sinto que estou trabalhando demais .50

07- Trabalhar diret. c/ pessoas me deixa + tenso/estressado .34 .49

08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .44 .35

MBI – Realização no trabalho


09- Posso fácil. entender como os meus alunos se sentem .58

10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .60

11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .60 -.36

12- Sinto-me cheio(a) de energia .61 -.32

13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .66

14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .70

15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .67

16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .67

MBI – Despersonalização

17-Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .75

18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .77

19- Tenho medo de que ... possa me endurecer/insensibilizar .69


.....

20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .33 .70

21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .43


alguns..

22- Pergunto-me por. Preciso empenhar-me .. não merecem .76

23- Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .79

24- Parece-me .. alunos.. incapazes reconh. tudo .. eu faço .79

% de variância por cada fator 14.10 13.51 8.59 6.63 6.62 5.05

% de variância total 54.51


Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: .835;
Teste de esfericidade de Bartlett: 4884.23, p = .000
16
Ao se efetuarem análises solicitando apenas três fatores, os resultados obtidos são
também interessantes para serem discutidos. Estas análises, apresentadas na Tabela 11,
explicam a variância de 37.4% pelo julgamento de freqüência, 40.7% de intensidade e 39.5
pela freqüência x intensidade. A estrutura fatorial emergente das três análises fatoriais é
claramente interpretável dentro das dimensões clássicas do Burnout proposto por Maslach:
“Esgotamento emocional”, “Realização no trabalho” e “Despersonalização”. Esta última
dimensão incorpora os três novos itens que nas análises anteriores caracterizavam uma
dimensão separada, denominada de “frustração”.
Todavia, é oportuno ressaltar algumas diferenças que podem ser observadas em
função das análises realizadas. Os itens 9 a 16, que na escala MBI descreviam a dimensão
“Realização no trabalho”, caracterizam uma dimensão mais claramente definida por todos
os oito itens manifestarem altas saturações. Na análise de intensidade, contribui para esta
dimensão também o item 6 (.35). Os itens de 1 a 8, que na escala MBI descreviam a
dimensão “Esgotamento emocional”, constituem também uma dimensão bem definida com
altos níveis de saturação nas três análises. Excluem-se deste padrão o item 6, mencionado
acima, e o item 8, o qual na análise de intensidade apresenta um nível de saturação
relativamente alto, também no fator 3 (.34), fator este que apresenta altos níveis de
saturação com itens relativos à dimensão “Despersonalização”. Um item adicional, o 17,
que na escala MBI demonstra um alto nível de saturação na dimensão Despersonalização,
apresenta um alto nível de saturação também na dimensão “Esgotamento emocional” (e não
em “Despersonalização”).
Os itens 17 a 24, que nas análises anteriores formavam duas dimensões: a de
Despersonalização (sendo os itens 17 a 21, retirados do MBI) e a subdimensão “frustração”,
formada pelos três novos itens 22, 23 e 24, encontram-se mais dispersos do que nas outras
duas dimensões. Como já foi observado, o item 17 emigra para a dimensão Esgotamento
emocional nos três tipos de análises. Na análise de intensidade, os itens 18 a 24 apresentam
altas saturações no fator 3. O mesmo pode ser observado na análise de freqüência, com
exceção do item 20. Na análise freqüência x intensidade, altas saturações no fator 3 são
observadas somente nos itens 21 a 24. É interessante notar que nos três tipos de análises os
três novos itens apresentam os níveis de saturações mais altos (> .70). Os outros itens
retirados do MBI, quando contribuem com a dimensão, é sempre com um peso bastante
exíguo. Esta observação aponta para o fato de que a constelação Despersonalização, que
parece ser a menos unitária e com menor poder explicativo nas análises anteriores, como
também em outras análises da literatura supracitada, mostra-se enriquecida pela inclusão
dos três novos itens “Pergunto-me porque preciso empenhar-me tanto quando os alunos
não fazem por merecer” (no 22), “Tenho a sensação de que nos dias de hoje é muito difícil
compreender os alunos” (no 23) e “Parece-me que os alunos são incapazes de reconhecer
tudo o que eu faço por eles” (no 24). Com estas contribuições, a dimensão parece expressar
melhor, juntamente com uma sensação de aridez emotiva, os traços característicos da
frustração.
17
Tabela 11. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 24 itens (3 fatores e
saturação > .30): Freqüência, Intensidade e Freqüência x Intensidade
Itens Freqüência Intensidade FxI
F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3

MBI – Esgotamento emocional


01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .75 .76 .77

02- Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho .74 .79 .77

03- Sinto-me cansado q/ me levanto de manhã e tenho .. .66 .71 .70

04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .57 .54 .57

05- Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .66 .64 .75

06- Sinto que estou trabalhando demais .36 .35 .30 .36

07- Trabalhar diret. c/ pessoas me deixa + tenso/estressado .53 .35 .43

08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .57 .45 .34 .56

MBI – Realização no trabalho


09- Posso fácil. entender como os meus alunos se sentem .59 .61 .59

10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .58 .62 .65

11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .63 .61 .64

12- Sinto-me cheio(a) de energia .62 .60 .63

13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .59 .57 .63

14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .57 .64 .66

15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .53 .64 .64

16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .56 .61 .65

MBI – Despersonalização

17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .49 .44 .31 .48

18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .30 .43

19- Tenho medo de que ... possa me endurecer/insensibilizar .30 .44


.....

20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .42

21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .31 .47 .37
alguns..

22- Pergunto-me por. preciso empenhar-me .. não merecem .71 .69 .73

23- Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .71 .66 .76

24- Parece-me .. alunos.. incapazes reconh. tudo .. eu faço .72 .68 .76

% de variância por cada fator 15.1 13.6 8.6 14.4 14/3 11.9 15.6 14.9 9.0

% de variância total 37.4 40.7 39.5


Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para Freqüência .832; para Intensidade .855; para FxI .835
Teste de esfericidade de Bartlett: para Freqüência 4051.36, p = .000 ; para Intensidade 5041.16, p = .000; para FxI
4884.24, p = .000
18

Análise do questionário com 21 itens


Para melhor compreender a contribuição oferecida pelas modificações lingüísticas
introduzidas nos itens e a inclusão dos três novos itens, foram realizadas outras análises
fatoriais somente com os 21 itens originários do MBI. Os resultados encontram-se
apresentados nas duas tabelas abaixo. A Tabela 12 apresenta a análise considerando o valor
de eigenvalue > 1, e a subsequente demonstra uma análise de três fatores.
A análise fatorial realizada com as respostas de freqüência produz cinco fatores
capazes de explicar somente cerca 37.4% da variância total. A estrutura evidenciada
permite identificar facilmente no primeiro fator, com 13.1% da variância, a dimensão
“Esgotamento emocional” (os itens 7 e 8 apresentam saturações altas também no fator 5
com 2.6% da variância. No segundo fator, com 10.8% da variância, distingue-se a dimensão
“Realização no trabalho”. Em ambas as dimensões, todos os itens saturam com um peso
relevante. De maneira diferente, as afirmações relativas à dimensão “Despersonalização”
(exceto o item 21), originam dois fatores: o terceiro (5.8% da variância) e o quarto (4.9% da
variância).
A análise fatorial com as respostas de intensidade leva a extrair quatro fatores,
explicando 37.7% da variância total. Observa-se que as dimensões relativas à “Realização
no trabalho” e à “Despersonalização” encontram-se claramente descritas nos fatores 1
(12.8% da variância) e 3 (10.4% da variância), respectivamente. Entretanto, nesta análise, a
dimensão “Esgotamento emocional”, além de conter itens de saturações altas no fator 2 (1,
2, 3, 4, 5 e 8; 11.9% da variância), apresenta também saturações altas em outros fatores. Os
itens 6 e 7, que não possuem saturações altas no fator 2, emigram para os fatores 1
(“Realização no trabalho”) e 3 (“Despersonalização”), respectivamente. Os itens 4, 5 e 8,
além de apresentarem saturações altas no fator 2, apresentam níveis de saturação
relativamente altos também no fator 3 (“Despersonalização”).
19

Tabela 12. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 22 itens (eigenvalue
> 1 e saturação > .30): Freqüência e Intensidade separadamente
Itens Freqüência Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F1 F2 F3 F4
MBI – Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .71 .75

02- Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho .77 .83

03- Sinto-me cansado q/ me levanto de manhã e tenho .. .65 .64

04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .41 .31 .52

05- Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .59 .46 .42

06-Sinto que estou trabalhando demais .33 .31

07- Trabalhar diret. c/ pessoas me deixa + tenso/estressado .40 .35 .34

08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .46 .38 .36 .42

MBI – Realização no trabalho


09- Posso fácil. entender como os meus alunos se sentem .44 .52

10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .46 .55

11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .50 .51

12- Sinto-me cheio(a) de energia .53 .52 .37

13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .61 .54

14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .54 .63

15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .51 .60

16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .52 .61

MBI – Despersonalização

17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .96 .44

18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .44 .58

19-Tenho medo de que ... possa me endurecer/insensibilizar .56 .59


.....

20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .46 .45

21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .43


alguns..

% de variância por cada fator 13.1 10.8 5.8 4.9 2.6 12.8 11.9 10.4 2.5

% de variância total 37.4 37.7


Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para Freqüência .839; para Intensidade .854
Teste de esfericidade de Bartlett: para Freqüência 3430.08, p = .000; para Intensidade 4186.94, p = .000;
20
Quando são efetuadas análises estabelecendo a extração de três fatores, as
dimensões do MBI pela freqüência são melhor visualizadas (Tabela 13). Um único item, o
17, que na versão MBI original pertencia à dimensão Despersonalização, foge deste
padrão, migrando para a dimensão “Esgotamento emocional”. Na análise de intensidade, as
dimensões “Realização no trabalho” e “Despersonalização” confirmam o padrão da versão
original do MBI. A dimensão “Esgotamento emocional”, além de apresentar altos níveis de
saturação em todos os itens do MBI original, apresenta quatro itens com saturações altas no
fator 1 (item 6) e no fator 3 (itens 4, 5 e 8). Na análise freqüência x intensidade, de forma
similar à análise de freqüência, um único item, o 17, que na versão MBI original pertencia
à dimensão Despersonalização, foge deste padrão, migrando para a dimensão “Esgotamento
emocional”. Observam-se também as altas saturações do item 6 tanto no fator 1, que
congrega os itens da dimensão “Esgotamento emocional”, como também no fator 2
(dimensão “Realização no trabalho”).
21

Tabela 13. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 21 itens (3 fatores e
saturação > .30): Freqüência, Intensidade e Freqüência x Intensidade
Itens Freqüência Intensidade FxI
F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3
MBI – Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .76 .80 79

02- Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho .75 .83 .81

03- Sinto-me cansado q/ me levanto de manhã e tenho .. .66 .72 .71

04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .56 .40 .51 .52

05- Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .64 .59 .38 .74

06- Sinto que estou trabalhando demais .41 .35 .31 .37 .34

07- Trabalhar diret. c/ pessoas me deixa + tenso/estressado .54 .33 .45

08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .60 .47 .38 .61

MBI – Realização no trabalho


09- Posso fácil. Entender como os meus alunos se sentem .52 .59 .57

10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .55 .62 .63

11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .54 .59 .64

12- Sinto-me cheio(a) de energia .55 .63 .65

13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .68 .60 .65

14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .63 .69 .68

15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .61 .64 .64

16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .62 .63 .66

MBI – Despersonalização

17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .47 .45 .41

18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .62 .70 .74

19- Tenho medo de que ... possa me endurecer/insensibilizar .66 .71 .66
.....

20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .66 .59 .52

21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .35 .46 .43
alguns..

% de variância por cada fator 17.2 14.0 8.8 15.7 15.3 12.1 17.8 16.5 8.0

% de variância total 40.1 43.2 42.3


Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para Freqüência .839; para Intensidade .854; para FxI .840
Teste de esfericidade de Bartlett: para Freqüência 3430.08, p = .000 ; para Intensidade 4186.94, p = .000; para FxI
4140.27, p = .000
22

Análise dos itens


As várias sub-escalas oriundas das análises fatoriais computadas para as freqüências
e intensidade têm sido submetidas a elaborações especificas. Considerando-se as escalas
com 21 e 24 itens, percebe-se que, enquanto na Tabela 14 abaixo encontram-se resumidas
algumas das características métricas por cada dimensão, na Tabela 15, observam-se os
coeficientes de correlação de cada item com o total dos itens da dimensão a qual pertence.
Os coeficientes alfas das dimensões “Esgotamento emocional” e “Realização no trabalho”,
apesar de estarem abaixo do que se deveria esperar, estão todos acima de .75, apontando,
desta forma, para uma certa coerência interna das dimensões identificadas. O mesmo não se
pode dizer da dimensão “Despersonalização”, cujos valores de alfa não chegam a .70,
variando de .51 a .69.
Para melhor compreender este baixo nível do coeficiente alfa, é importante observar
que na Tabela 15 os coeficientes de correlação dos três novos itens são bem mais altos
(todos > .40) do que os itens desta dimensão apontados na escala original do MBI. Se
computarmos o coeficiente alfa somente com os três novos itens, o índice é de .70 e .75
para freqüência e intensidade, respectivamente. Este aumento é um indicativo de que estes
novos itens enriquecem significativamente a dimensão “Despersonalização”, a tal ponto
que se faz necessária uma reflexão mais precisa sobre o significado desta dimensão. De
fato, os resultados das análises fatoriais apontam para o fato de que apesar destes novos
itens pertencerem conceitualmente, de alguma forma, à dimensão “Despersonalização”, ao
mesmo tempo se diferenciam da mesma apresentando aspectos específicos próprios.
Outro ponto importante que sobressai claramente a partir de uma análise
comparativa dos coeficientes alfas é este último valor ser sempre mais alto para as respostas
de “intensidade” do que para as de “freqüência”. Este maior coeficiente de confiabilidade
das respostas de intensidade é um ponto importante a ser notado, visto que discorda dos
dados obtidos em amostras norte-americanas.
23

Tabela 14. Características métricas da escala de burnout

Escalas No de Média Variância DP Alfa


itens
Escala c/ 21 itens
Todos os 21 itens
• Freqüência 21 55.45 229.52 15.15 .6920
• Intensidade 21 54.84 367.37 19.17 .8025
Esgotamento emocional
• Freqüência 9 20.26 106.56 10.32 .7882
• Intensidade 7 15.92 83.60 9.14 .7960
Realização no trabalho
• Freqüência 8 29.70 92.94 9.64 .7488
• Intensidade 9 31.03 131.48 11.46 .7786
Despersonalização
• Freqüência 4 5.47 23.17 4.18 .5112
• Intensidade 5 7.81 38.24 6.18 .6154

Escala c/ 24 itens
Todos os 24 itens
• Freqüência 23 61.67 293.74 17.14 .7497
• Intensidade 24 62.96 478.62 21.87 .8253
Esgotamento emocional
• Freqüência 9 20.26 106.56 10.32 .7882
• Intensidade 8 17.54 101.54 10.06 .8043
Realização no trabalho
• Freqüência 8 29.70 92.94 9.64 .7488
• Intensidade 9 31.03 131.48 11.46 .7786
Despersonalização
• Freqüência 6 11.69 43.93 6.62 .6010
• Intensidade 7 14.32 71.68 8.46 .6870
24

Tabela 15. Coeficientes de correlação entre cada um dos itens e o fator/dimensão ao qual
pertence de acordo com as escalas com 21 e 24 itens

Escala com 21itens Escala com 24 itens


Freqüência Intensidade Freqüência Intensidade
Item Dim. r Item Dim. r Item Dim. R Item Dim. r
1 EE .63 1 EE .65 1 EE .63 1 EE .63
2 EE .58 2 EE .63 2 EE .56 2 EE .61
3 EE .52 3 EE .57 3 EE .52 3 EE .55
4 EE .46 4 EE .46 4 EE .47 4 EE .49
5 EE .55 5 EE .55 5 EE .55 5 EE .57
6 EE .30 6 EE .30 7 EE .36
7 EE .41 7 EE .35 7 EE .41 8 EE .50
8 EE .48 8 EE .50 8 EE .48 17 EE .42
17 EE .36 17 EE .36 6 RT .31
6 RT .31 9 RT .43 9 RT .49
9 RT .43 9 RT .49 10 RT .43 10 RT .50
10 RT .43 10 RT .50 11 RT .47 11 RT .48
11 RT .47 11 RT .48 12 RT .44 12 RT .45
12 RT .44 12 RT .45 13 RT .48 13 RT .46
13 RT .48 13 RT .46 14 RT .45 14 RT .49
14 RT .45 14 RT .49 15 RT .41 15 RT .48
15 RT .41 15 RT .48 16 RT .43 16 RT .51
16 RT .43 16 RT .51 18 De .23 18 De .32
17 De .32 19 De .24 19 De .36
18 De .36 18 De .44 20 De .32
19 De .35 19 De .44 21 De .27 21 De .36
20 De .27 20 De .35 22 De .43 22 De .48
21 De .25 21 De .32 23 De .41 23 De .46
24 De .43 24 De .46
Nota: Dim. = Dimensão; EE = Esgotamento emocional; RT = Realização no trabalho; De = Despersonalização.
25

Análise multidimensional
As modificações introduzidas na escala de burnout proposta por Maslach e Jackson
(1981) têm produzido resultados satisfatórios em vários aspectos. A distribuição fatorial
dos itens que tende a emergir a partir das diferentes análises realizadas é suficientemente
interpretável e possibilita, em determinados casos, a identificação clara de duas das três
dimensões originais: “Esgotamento emocional” e “Realização no trabalho”.
A terceira dimensão, “Despersonalização”, é também possível de ser identificada.
Entretanto, como foi apontado anteriormente, seu nível de confiabilidade é mais baixo do
que as outras duas. É importante ressaltar a grande contribuição dos três novos itens nesta
dimensão, apresentando os níveis mais altos de saturação. De fato, enquanto através dos
itens originais do MBI ressalta-se um sentimento de indiferença e um insensível ou
excessivo desligamento da resposta para outras pessoas, que são geralmente os receptores
de um dos serviços ou cuidados do profissional. Os novos itens propostos enfatizam
também uma manifestação sutil de frustração com as pessoas no ambiente escolar, bem
como uma insatisfação decorrente da falta de reconhecimento, permeada por um sentimento
geral de mágoa pela falta de reconhecimento dos esforços despendidos com os alunos.
Parece útil, portanto, aprofundar esta dimensão “Despersonalização”, que desempenha um
papel de destaque na determinação do nível de burnout. As modificações introduzidas na
escala têm contribuído para enriquecer esta constelação, alcançando uma melhor articulação
estrutural e um maior poder explicativo. Como foi sugerido a partir da análise fatorial, a
dimensão “Despersonalização” pode ser vista como composta por duas facetas:
“indiferença” e “frustração”. A análise muldimensional nos possibilitará melhor explorar as
caraterísticas desta dimensão e suas peculiaridades.
Por outro lado, quando se consideram em seu conjunto os resultados obtidos tanto
nesta como em outras investigações similares, a dimensão “Despersonalização” tende a
manifestar mais freqüentemente uma estrutura multidimensional, que precisa de posteriores
esclarecimentos. Uma maior compreensão dos seus componentes poderá melhor afinar a
sensibilidade do instrumento e, provavelmente, enriquecer a definição da síndrome objeto
de estudo.
Contudo, pelos motivos acima, optou-se por analisar a escala com 24 itens,
utilizando-se uma análise não-métrica multidimensional. A análise fatorial nos forneceu
uma visão de como os itens se distribuem entre os diferentes fatores ou dimensões.
Todavia, não nos informa sobre o tipo de estrutura subjacente que pode ser observada a
partir da relação entre estas dimensões. Portanto, esta análise visa, em primeiro lugar,
explorar a estrutura latente em termo de regiões que emergem a partir da inter-relação entre
os itens e suas dimensões. Em segundo lugar, objetiva verificar a distribuição dos itens por
cada dimensão. Neste sentido, uma especial atenção será voltada para melhor compreender
a constituição e a inter-relação dos itens que constituem a dimensão “Despersonalização”.
Nas Figuras 1 e 2, são apresentadas as projeções das análises de tipo
multidimensional não-métrico, especificamente a técnica conhecida como "Análise da
Estrutura de Similaridade (em inglês, “Similarity Structure Analysis" ou "Smallest Space
Analysis"- SSA; Borg & Lingoes, 1987; Roazzi, 1995) tanto para as respostas em termos de
freqüência como de intensidade, respectivamente. Este procedimento permite analisar de
maneira mais detalhada a estrutura dimensional da síndrome de burnout, revelando relações
internas e regras nos itens observados. Desta forma, possibilita a verificação empírica das
facetas que caracterizam esta síndrome.
26
O SSA é basicamente um escalonamento multidimensional não-métrico, no qual as
observações ou itens são representados em um espaço euclidiano como pontos; é um
sistema de verificação que se fundamenta no princípio de proximidade ou contigüidade. O
grau de relacionamento entre as observações (representadas como pontos no espaço) é
representado pelo inverso da distância entre os pontos: quanto maior a correlação entre duas
variáveis (ou pontos) menor a distância entre eles. Mediante isto, é possível se obter um
mapa das variáveis em termos de configurações geométricas de dimensionalidade espacial
mínima. 5 A distância entre os pontos reflete o grau de similaridade entre os itens - quanto
mais semelhantes em termos de como são definidos como pertencentes a um mesmo
elemento, mais correlacionados e, portanto, maior é a proximidade no espaço euclidiano,
formando regiões de contigüidade (Guttman, 1954; Foa, 1958). As hipóteses iniciais são
assim transformadas em hipóteses de regiões, com as quais se esperam evidenciar regiões
que correspondam aos elementos da faceta ou dimensão considerada. De acordo com a
Teoria das Facetas, a base lógica para as várias estruturas regionais é fundamentada em
considerações sobre ordem (ou não ordem) entre os elementos de cada faceta.
Na Figura 1, que apresenta a projeção SSA das coordenadas 1 e 2 da solução tri-
dimensional das respostas de freqüência, observam-se três regiões. O coeficiente de stress é
suficientemente baixo - 0.09 - para a escolha desta solução. Em uma região central
observam-se bem próximos entre si os oito itens relativos à dimensão “Esgotamento
emocional”, enquanto no lado direito desta região encontram-se distribuídos os itens que
descrevem a dimensão “Realização no trabalho” - os itens 12 a 16 na parte superior e os
itens 9 a 11 na parte inferior. No lado esquerdo, podem ser observados os itens que dizem
respeito à dimensão “Despersonalização”, o item 20, isolado na parte extrema superior
esquerda, os itens 22 a 24 na parte central superior, e os itens 17, 18, 19 e 21 na região
central lateral esquerda. Assim, as dimensões originais da escala MBI encontram-se
confirmadas nesta projeção em uma estrutura tipo “radex”, tendo como região central a
dimensão “Esgotamento Emocional” e, dispostas ao redor desta, as outras duas dimensões.
A partir de uma análise da distribuição dos itens em cada dimensão, observa-se que a
dimensão “Esgotamento emocional” se apresenta como a mais homogênea devido à
aglomeração bastante próxima dos itens que formam esta dimensão. A dimensão
“Realização no trabalho” apresenta seus itens agrupados do lado direito da projeção em
duas aglomerações. A parte superior, formada pelos itens 12 a 16, diz respeito à satisfação
no trabalho, ao sentimento de bem-estar originado pela realização dos objetivos. A parte
inferior, formada pelos itens 9 a 11, refere-se aos sentimentos de empatia, competência na
resolução de problemas e auto-realização no trabalho.
A distribuição dos itens relativos à dimensão “Despersonalização” confirma as
observações apontadas pela análise fatorial discutida anteriormente, onde duas
subdimensões podem ser identificadas. A primeira, constituída pelos itens 17, 18, 19 e 21
diz respeito ao núcleo original da dimensão “Despersonalização” descrita pelo MBI,
caracterizado pelo desligamento, distância afetiva e insensibilidade em relação as pessoas
com as quais se trabalha. Esta primeira subdimensão foi denominada de “Indiferença”. A
segunda subdimensão apontada também pela análise fatorial, mapeada pelos itens 22, 23 e
24, descreve um tipo de despersonalização já elucidada exaustivamente: a “Frustração”. O
item 20, apesar de pertencer à mesma região da Despersonalização, encontra-se bastante
afastado da mesma. O que conceitualmente distancia este item dos demais é o seu caráter
comprometedor por estar enunciado na primeira pessoa. Ao contrário dos outros itens, que
5
Esta mínima dimensionalidade é determinada a partir do coeficiente de alienação - uma medida de
correspondência entre os coeficientes originais: coeficiente de Pearson e os coeficientes de distância derivados.
27
são mais brandos e deslocam o peso do afastamento para o contexto, este é muito mais forte
por apontá-lo para o sujeito.
Na Figura 2, que apresenta a projeção SSA das coordenadas 1 e 2 da solução tri-
dimensional das respostas de intensidade, observam-se três regiões. O coeficiente de stress
é suficientemente baixo - 0.08 - para a escolha desta solução. Da mesma forma do que foi
observado na projeção das respostas de freqüência, também nesta projeção são facilmente
observadas as três dimensões originais do MBI. No entanto, a estrutura é diferente.
Enquanto a de freqüência podia mais facilmente ser descrita como tipo “radex”, esta de
intensidade apresenta claramente uma regionalização estrutural tipo axial. A região
intermediária é formada pelos oito itens relativos à dimensão “Esgotamento emocional”
(itens de 1 a 8), os quais se apresentam bastante próximos entre si. Os itens 9 a 16, que
descrevem a dimensão “Realização no trabalho”, encontram-se reagrupados na região
inferior direita e se apresentam também bastante próximos. A dimensão Despersonalização
apresenta, como no caso de freqüência, uma diferenciação entre os itens 17 a 21,
localizados na região lateral esquerda, descrevendo a dimensão “Indiferença”, e os itens 22,
23 e 24, localizados na parte superior central da projeção, descrevendo a dimensão
“Frustração”.
28
Figura 1
Projeção SSA das respostas de frequência aos itens do MBI

20

Despersonalização
12 15
Frustração
1314
22 16
18 23
Indiferença 24
19 Realização
5 1 Esgotamento no Trabalho
21
8 Emocional
4
3
17 7 2 10
6
9

11

Coord. 1 vs. coord. 2 descrevendo a solução 3-dimensional; Coeficiente de Stress = 0.09

Esgotamento Emocional
1. Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho
2. Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho
3. Sinto-me cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho
4. Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um cansaço para mim
5. Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho
6. Sinto que estou trabalhando demais
7. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito tenso/estressado
8. Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim
Realização no Trabalho
9. Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
10. Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
11. Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12. Sinto-me cheio(a) de energia
13. Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
14. Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
15. No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
16. No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma
Despersonalização
17. Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal como se fossem objetos
18. Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
19. Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
20. Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
21. Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus
problemas
22. Me pergunto porque preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
23. Tenho a sensação de que nos dias de hoje seja muito difícil compreender os alunos
24. Me parece que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
29
Figura 2
Projeção SSA das respostas de intensidade aos itens do MBI

Frustração 22
24 23

Despersonalização
8
7
Indiferença
5
21 15
17 1 14
4 3 2
18 20 9
19 Esgotamento
16
Emocional
13
6
10
Realização no Trabalho
11
12

Coord. 1 vs. coord. 2 descrevendo a solução 3-dimensional; Coeficiente de Stress = 0.08

Esgotamento Emocional
1. Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho
2. Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho
3. Sinto-me cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho
4. Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um cansaço para mim
5. Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho
6. Sinto que estou trabalhando demais
7. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito tenso/estressado
8. Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim
Realização no Trabalho
9. Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
10. Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
11. Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12. Sinto-me cheio(a) de energia
13. Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
14. Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
15. No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
16. No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma
Despersonalização
17. Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal como se fossem objetos
18. Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
19. Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
20. Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
21. Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus
problemas
22. Me pergunto porque preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
23. Tenho a sensação de que nos dias de hoje seja muito difícil compreender os alunos
24. Me parece que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
30
31

Considerações finais
O principal objetivo do estudo foi validar e melhorar um instrumento (escala MBI)
capaz de avaliar o burnout em professores dos ensinos fundamental e médio de escolas
particulares, municipais e estaduais. As modificações introduzidas a esta escala proposta
por Maslach e Jackson (1981) quanto à dimensão “Despersonalização” mostraram ter
produzido resultados apreciáveis.
Em primeiro lugar, a estrutura dimensional que tende a emergir das diferentes
análises (fatoriais e multidimensionais) é interpretável e possibilita identificar as três
dimensões: “Esgotamento Emocional”, “Realização no trabalho” e “Despersonalização”.
Esta constatação nos permite afirmar que esta versão da escala, de modo geral, contribui de
forma significativa para a elaboração de um instrumento válido e confiável à mensuração
do burnout. Entretanto, vários aspectos necessitam de um ulterior esclarecimento, podendo
ser úteis explorações adicionais para uma mais sofisticada otimização da escala.
Antes de tudo, um primeiro aspecto que merece ulteriores verificações diz respeito à
estabilidade do instrumento. Parece oportuna uma confirmação, através de aplicações da
mesma escala em outros tipos de populações, dos resultados obtidos através desta nossa
amostra.
Em segundo lugar, a reflexão poderia ser voltada também para a composição do
instrumento e, mais especificamente, à avaliação em termos de freqüência e de intensidade
das sensações vivenciadas. Tanto a análise com 21 itens como com 24 itens da escala
produzem melhores resultados quando se considera a intensidade. De fato, observa-se uma
maior clareza da estrutura fatorial, uma maior porcentagem da variância explicada e uma
maior coerência interna dos itens que constituem as sub-escalas. Estes resultados discordam
do que foi observado por Maslach, quando este sugere o uso da escala que se fundamente
na freqüência, considerada mais útil para a avaliação da síndrome de burnout, de acordo
com os resultados de investigações realizadas nos EUA.
Por último, a distribuição dos itens relativos à dimensão “Despersonalização”,
aponta à existência de duas subdimensões: uma relativa aos itens originais do MBI e outra
relativa aos novos itens. A primeira, constituída pelos itens originais do MBI e que
denominamos de “Indiferença”, diz respeito ao núcleo original da dimensão
"Despersonalização" descrita por esta escala, e se caracteriza pelo desligamento, distância
afetiva e insensibilidade em relação às pessoas com as quais se trabalha. A segunda
subdimensão, mapeada pelos três novos itens, descreve uma característica específica de
despersonalização: a “Frustração”.
Assim, apesar destes novos itens pertencerem conceitualmente, de alguma forma, à
dimensão “Despersonalização”, visto que parecem integrar-se de maneira adequada à
escala, participando de forma relevante para a formação desta dimensão, ao mesmo tempo
se diferenciam da mesma apresentando aspectos específicos próprios. Estes novos itens têm
contribuído para enriquecer a escala como um todo, melhorando a articulação estrutural e
produzindo um poder explicativo mais elevado. Visto que esta dimensão desempenha um
papel muito significativo na determinação do nível de burnout, parece útil que ulteriores
estudos desta dimensão sejam realizados, objetivando explorar seu caráter
multidimensional. Uma maior compreensão das suas componentes poderá melhor afinar a
sensibilidade da escala e, consequentemente, enriquecer a definição da própria síndrome de
burnout.
32
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