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MAPEAMENTO DO CONTEXTO SÓCIO-EDUCATIVO E AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR SUBJETIVO, BEM-ESTAR PSICOSSOCIAL, RESILIÊNCIA, OTIMISMO E ESPERANÇA DE POVOS E
“COMUNIDADES” TRADICIONAIS DO AMAZONAS, ANALISANDO SEUS EFEITOS SOBRE O EXERCÍCIO DA CIDADANIA View project
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Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, CFCH
8o andar, Cidade Universitária, R. Acadêmico Hélio Ramos, s/n, 50670-901, Recife, PE. Tel.: 0xx81
3271.8272 (UFPE); Fax: 3271.1843; E-mail: roazzi@npd.ufpe.br
2
ANÁLISE DA ESTRUTURA DE SIMILARIDADE DA SÍNDROME DE BURNOUT:
VALIDAÇÃO DA ESCALA “MASLACH BURNOUT INVENTORY” EM PROFESSORES
2
É importante salientar que o stress difere de burnout. Walsh (1987) ressalta que conceitualmente o stress é o gênero enquanto o
burnout é a espécie, isto é, uma forma específica de resposta a determinadas condições de stress. De forma similar, Farber (1983) afirma
que estes dois conceitos, malgrado similares, não são idênticos. O burnout é o resultado não só do stress em si (que pode ser inevitável
nas profissões de ajuda), mas do “stress não mediado”, do ser estressado sem possibilidade de solução, sem qualquer elementos de
moderação, sem um sistema de suporte. O stress, portanto, pode ser visto como determinante do burnout, mas não coincide com o
mesmo. Ao contrário, o burnout constitui-se em um possível êxito na presença de determinadas condições. Os sintomas do burnout
surgem, quando surgem, após um certo período de tempo de exposição a condições estressantes, como conclusão de um percurso
marcado por tensão e cansaço. O próprio Freudenberger sugere que o burnout se desenvolve no trabalhador em um processo gradual ao
ponto de ser inconsciente que se esteja verificando; caracteriza-se também pela recusa em acreditar em algo. Assim, o burnout deve ser
visto mais como um processo do que um evento. Além desta diferença de caráter mais conceitual, existe uma diferença mais
operacional. Apesar do burnout compartilhar com o stress no trabalho, o esgotamento emocional e a escassa realização pessoal ao
mesmo tempo diverge do mesmo quanto ao fator despersonalização, caracterizado por atitudes de indiferença e cinismo em relação aos
utentes dos serviços (Cherniss, 1980; Maslach, 1976).
3
a um declínio da auto-estima, da sensação de competência e sucesso no próprio trabalho,
com produtividade diminuída (Maslach, 1993). Este construto teórico parece enfatizar os
fatores pessoais e os relacionamentos sociais na análise das causas do burnout. A sua direta
expressão é o “Maslach Burnout Inventory” (MBI), o primeiro e, ainda hoje, um dos
instrumentos de diagnóstico que possui maior credibilidade. De fato, este modelo de três
dimensões tem sido verificado empiricamente através de diversas análises fatoriais, tanto de
tipo exploratório como confirmatório (Green & Walkey, 1988; Maslach & Jackson, 1981;
Belcastro, Gold & Hays, 1983; Evans & Fischer, 1993; Gold, Bachelor & Michael, 1989).
Além do mais, os diferentes estudos têm evidenciado que as três dimensões do MBI,
mesmo sendo aspectos diferentes do construto, estão correlacionadas entre si, sobretudo as
dimensões “exaustão emocional” e “despersonalização” (Maslach & Jackson, 1986; Evans
& Fischer, 1993).
Após a publicação do MBI e a difusão do modelo teórico que o fundamenta, parece
que os esforços dos pesquisadores em geral têm se direcionado exclusivamente para a
categorização dos fenômenos relacionados com a síndrome, ao invés de focalizar os
esforços para a interpretação e análise de sua origem. Assim, o burnout tem sido verificado
em ambientes de trabalhos bastante heterogêneos, nivelando o significado original do termo
até o ponto de fazer coincidir burnout com stress vivenciado no trabalho. De fato, hoje se
fala de burnout entre os enfermeiros, médicos, professores, policiais, desportistas,
psicólogos, psiquiatras, mas também entre bancários, advogados, controladores de vôo,
padres, administradores, bibliotecários, executivos, judeus que moram em área de conflito,
pais de filhos autistas, dentre outros (e.g., Alexander, 1980; Beck & Gargiulo, 1983;
Belcastro, Gold & Hays, 1983; Brockman, 1978; Cooper, 1986; Edelwich & Brodsky,
1980b; Gill, 1980; Gold, 1984; Maslach & Jackson, 1986; Neville, 1981; Pines, 1994;
Sulivan, 1979; Veninga, 1979; Wise & Berlin, 1981; Withehead, 1987). Esta modificação
do conceito original revela como, na realidade, não é ainda disponível um modelo teórico
suficientemente homogêneo e articulado, apesar das inúmeras pesquisas realizadas sobre o
assunto nas últimas três décadas. Seria útil, portanto, voltar às origens e às intuições de
Freudenberger (1974) 3 e centrar a noção de burnout no contexto específico das profissões
de ajuda, nas quais as realizações pessoal e profissional estão diretamente ligadas ao bem
estar e melhora do outro.
Entre estas profissões de ajuda, pode ser considerada a do professor. Infelizmente, a
mensuração do burnout através de uma escala como o MBI em amostras brasileiras de
professores do Nordeste ainda não foi devidamente validada para que se possa avaliar o
nível de burnout através de um instrumento adequado. Além do mais, quando esta medida
tem sido validada, não tem manifestado uma estrutura fatorial estável, possibilitando
explicar somente porções limitadas de variância (e.g., Iwanicki & Schab, 1981; Powers &
Gose, 1986; Sirigatti, Stefanile, Menoni & Taddei, 1988). Sem uma validação adequada
deste instrumento, torna-se difícil uma avaliação da síndrome de burnout entre professores.
O presente estudo objetiva validar este instrumento.
3
Historicamente, a síndrome de burnout e sua conceitualização foi descrita inicialmente em 1974 pelo
psicanalista Herbert J. Freudenberger ao publicar a primeira contribuição sobre o assunto. Para este autor, o
burnout seria “um estado do cansaço ou frustração que nasceu da devoção a uma causa, um modo de vida ou
uma relação que deixou de produzir as recompensas esperadas” (Freudenberger, 1974). Isto é, um
determinado quadro sintomatológico que pode ser detectado em pessoas que trabalham em serviços
comunitários e que se encontram particularmente expostas a um tipo de stress resultante de um relacionamento
direto e contínuo com um tipo de população bastante carente.
4
A partir dos resultados da literatura na área (e.g., Codo e Vasquez-Menezes, 1998;
Sirigatti, Stefanile & Menoni, 1988; Sirigatti & Stefanile, 1993a,b), tem sido elaborada uma
nova versão desta escala. Trata-se de um questionário inspirado no MBI de Maslach e
Jackson (1981, 1986; ver também Maslach, 1976, 1982, 1993) revisado com a elaboração
de novos itens. A escala que é apresentada a seguir é constituída por 24 itens. Destes, 21
foram retirados do MBI (a escala original apresenta 22 itens); a modificação mais evidente
destes itens, diz respeito à substituição do termo “cliente” para o termo “aluno”- sujeito
para o qual o professor direciona suas atividades de ensino.
Considerou-se também oportuno adicionar à escala original três itens que
hipoteticamente estivessem relacionados com a dimensão “Despersonalização”. Esta
decisão foi apontada pela própria literatura, visto que esta dimensão manifesta, com uma
certa freqüência, instabilidade e um escasso poder explicativo. Ao mesmo tempo,
entretanto, pode ser considerada uma constelação de primário interesse no estudo da
síndrome do burnout, tanto pelos aspectos teóricos que esta dimensão representa no
desenvolvimento de um modelo teórico explicativo como pelas implicações em termos
clínico.
Método
Amostra
A população alvo que constitui os participantes deste estudo é constituída por
professores da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da zona
urbana de Teresina, combinados com os seguintes tipos de escola: estadual, municipal e
particular. Os dados são relativos ao censo escolar de 1998, totalizando esta população alvo
em 9225 professores. Esta distribuição encontra-se apresentada na Tabela 1.
Rede de ensino
Níveis de ensino Estadual Municipal Particular Total Geral
Educação Infantil 491 94 587 1172
Ensino Fundamental 3246 405 2467 6118
Ensino Médio 889 30 1016 1935
Total 4626 529 4070 9225
Dados fornecidos pelo Departamento de Estatística da Secretária de Educação do Estado do Piauí.
Na Tabela 3, encontra-se a distribuição dos grupos por nível de ensino nos quais
trabalham versus tipo de escola. Dos sujeitos que trabalham na Educação Infantil, foram
pesquisados 55 da escola municipal, 100 da escola estadual e 31 da escola particular,
totalizando em 186 sujeitos neste nível de ensino, o que corresponde a um percentual de
22,9% da amostra. Dos grupos inseridos no Ensino Fundamental, 183, foram da escola
municipal; 278 da escola estadual e 101 da escola particular, chegando-se a um total de 562
sujeitos. Portanto, isso significa que, dos sujeitos pesquisados, 69,2% trabalham no Ensino
Fundamental. Finalmente, daqueles sujeitos cujas atividades são exercidas na instância do
Ensino Médio, 9 foram da escola municipal, 26 da escola estadual e 39 da escola particular,
totalizando em 64 sujeitos, isto é, um percentual de 7,9% da amostra total, conforme indica
a Tabela 7.
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Tabela 3. Distribuição dos grupos por Nível de ensino x Tipo de Escola
Tipos de escola
Nível de ensino Municipal Estadual Particular Total Geral %
Ao lado disso, quando caracterizamos os grupos por renda, optamos como critério
de medida pela renda familiar, que foi distribuída em três grupos. O primeiro grupo
comporta os sujeitos que têm renda familiar de até 3 salários mínimos. O segundo grupo
encontra-se definido pelos sujeitos cuja renda familiar está intercalada entre 4 e 6 salários
mínimos. Por fim, o terceiro grupo é caracterizado por sujeitos com renda familiar superior
a 7 salários mínimos.
7
Na Tabela 5, está exposta a distribuição dos sujeitos por renda familiar e tipo de
escola. No primeiro grupo, 108 sujeitos pesquisados foram da escola municipal 178 da
escola estadual e 49 da escola particular. Isto significa que 335 sujeitos, melhor dizendo,
41,5%, possuem renda familiar de até 3 salários mínimos. No grupo onde a renda varia
entre 4 e 6 salários mínimos, 77 sujeitos foram da escola municipal, 145 da escola estadual
e 59 da escola particular, somando um total de 281 sujeitos ou 34,8% do total amostral. O
grupo em que a renda familiar ultrapassa 7 salários mínimos representa 24% da amostra,
sendo que 62 foram da escola municipal; 80 da escola estadual; e 13 da escola pública.
Conforme se pode observar, para dar uma visão geral da amplitude da amostra do
estudo, na Tabela 7 estão reunidos todos os dados já descritos anteriormente. Nesta Tabela,
verificamos o percentual de sujeitos por cada grupo, nas diferentes variáveis em relação ao
tipo de escola.
8
Material
Na Tabela abaixo estão apresentados os 24 itens da escala utilizados: oito para a
dimensão “Esgotamento Emocional”, oito para a dimensão “Realização no trabalho” e oito
(5 originais do MBI e 3 novos) para a dimensão “Despersonalização”.
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Tabela 8. Os 21 itens da escala MBI e os 3 itens novos utilizados
Realização no Trabalho
04 09 Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
07 10 Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
09 11 Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12 12 Sinto-me cheio(a) de energia
16 13 Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
17 14 Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
19 15 No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
21 16 No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma
Despersonalização
05 17 Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal, como se fossem objetos
10 18 Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
11 19 Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
15 20 Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
22 21 Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus problemas
23 22 * Pergunto-me por que preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
24 23 * Tenho a sensação de que nos dias de hoje é muito difícil compreender os alunos
25 24 * Parece-me que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
Ord: ordem de apresentação dos itens; * itens novos;
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PROCEDIMENTO
Esta investigação faz parte de uma outra mais ampla sobre stress e mal-estar na
profissão docente. Assim, a escala proposta foi respondida pelos professores como parte de
um questionário mais abrangente. Deste modo, a investigação foi desenvolvida em duas
fases. Na primeira, antes da aplicação do questionário geral, foi utilizada uma pequena
amostra formada por 30 professores. Estes foram entrevistados através de uma série de
questões abertas sobre stress e trabalho, como também responderam ao questionário geral,
visando detectar eventuais dificuldades na compreensão dos termos e instruções e, ainda,
nível de cansaço demonstrado ao responder. De posse destas informações, colhidas na
entrevista, e de observações/comentários dos sujeitos sobre o questionário e escalas, foi
preparada a versão definitiva do questionário geral, aplicado a uma amostra maior formada
por 817 professores (segunda fase). Este questionário geral foi preparado em forma de
livrete.
Na segunda fase, os livretes com os questionários e escalas foram distribuídos para
várias escolas, escolhidas aleatoriamente dentro da área urbana. Os questionários foram
entregues pessoalmente pelo pesquisador para cada professor, após introduzir a
investigação, enfatizando a importância do próprio professor em participar da mesma. Os
professores foram orientados a não escrever seus nomes no questionário, conscientizando-
se de que suas respostas individuais não seriam identificadas. Foi sugerido também que
podiam fazer observações acerca da pesquisa, lembrando ainda que deixassem telefone e
endereço para divulgação dos resultados, se assim desejassem.
Resultados
Estratégia de análise
Para a escala completa (24 itens), foram realizadas análises fatoriais tanto para as
respostas de freqüências quanto às de intensidade. Calculou-se também, para cada item, o
produto entre as respostas de freqüências e as de intensidade, efetuando-se uma análise
fatorial em relação aos escores assim obtidos. Têm sido realizadas também análises
fatoriais para as respostas de freqüência e intensidade, excluindo da computação os três
novos itens. Desta maneira, os dados foram tratados de forma similar à escala de 22 itens,
similar à proposta por Maslach e Jackson (1981), a exceção dos aspectos lingüisticos
anteriormente descritos e um item a menos.
O tipo de análise fatorial utilizado tem sido o das componentes principais, tendo o
método Varimax de rotação ortogonal dos fatores. O número de fatores a serem extraídos
tem sido inicialmente definido através do critério de eigenvalue superior à unidade e, em
seguida, requerendo-se três fatores.
Tem sido realizada também uma análise dos itens e verificada, assim, a
homogeneidade das sub-escalas identificadas através do cálculo do coeficiente alfa de
Cronbach. Enfim, para verificar a estrutura do construto, estas análises foram
complementadas através de análises multidimensionais (SSA: Similarity Structure
Analysis).
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Análise do questionário com 24 itens
A Tabela 9 abaixo apresenta os resultados das análises fatoriais realizadas,
determinando o número de fatores a serem extraídos, tendo como critério o valor
eigenvalue maior do que 1. Os dados encontrados referem-se à análise dos julgamentos
relativos tanto à freqüência quanto à intensidade. Visando comparar os atuais resultados
com a estrutura dimensional encontrada por Maslach e Jackson (1981), os itens para esta
tabela, assim como para as outras apresentadas a seguir, estão agrupados de acordo com os
três fatores da escala MBI. Os três novos itens (22, 23 e 24) foram incorporados à dimensão
“Despersonalização”.
Os índices de adequação apontados pela análise fatorial foram considerados
aceitáveis. De fato, observa-se que o índice Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra
mostra-se satisfatório (Índice Kaiser-Meier-Olkin de Adequação da Amostra: para
Freqüência .83173; para Intensidade .85593), como também o teste de Bartlett de
Esfericidade que mede a normalidade multivariada das distribuições (Teste de esfericidade
de Bartlett: para Freqüência 4051.36, p = .00000; para Intensidade 5041.1615, p = .00000). 4
Enquanto na análise fatorial pela freqüência emergem seis fatores com uma
variância total explicada de 51.8%, na análise fatorial pela intensidade emergem cinco
fatores com uma variância total explicada de 51.0%. Pode-se observar uma série de
similaridades e diferenças entre as duas estruturas. Os fatores 1 e 2, respectivamente para
freqüência e intensidade, são formados por itens claramente relacionados com a dimensão
“Esgotamento emocional”. Os itens formados pelo núcleo deste fator com a maior carga
fatorial nos dois julgamentos são os itens 1, 2, 3 e 5, todos relacionados com esgotamento e
cansaço generalizado em relação ao trabalho. Pela freqüência, os itens 4, 6 e 8 compõem
também este fator. O único item que pertencia a esta dimensão no MBI e possui carga
fatorial baixa é o item 7; mas por outro lado, apresenta uma alta saturação no fator 5 (.95).
Realmente, este é o único item do grupo que menciona o trabalho “com pessoas”. Pela
intensidade, somente o item 4 contribui para esta dimensão. Observa-se que este item,
juntamente com o item 5, apresenta uma alta saturação (.51 e .41, respectivamente) também
no fator 3.
Os itens 9 a 16, que na escala MBI descrevem a dimensão “Realização no
Trabalho”, encontram-se claramente descritos nos fatores 2 e 1, pela freqüência e pela
intensidade, respectivamente. Somente o item 12 para intensidade apresenta uma carga
fatorial acima de 30 em outro fator (o 5). Esta dimensão apresenta-se, portanto, como a
mais homogênea e similar nos dois tipos de julgamentos e confirma a dimensão original do
MBI.
Os itens 18, 19 e 20 descrevem a dimensão “Despersonalização” nos dois tipos de
julgamentos, fator 4 pela freqüência e fator 3 pela intensidade. Os itens 17 e 21 descrevem
esta dimensão também para intensidade. Estes dois últimos itens, entretanto, comportam-se
diferentemente na freqüência: enquanto o item 17 apresenta um alto nível de saturação no
fator 6, o item 21 apresenta uma saturação muito baixa (< .30) em todos os fatores.
Os três novos itens elaborados (22, 23 e 24), se incorporados à dimensão
“Despersonalização”, constituem uma constelação emergente em ambas as análises e que
4
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling
Adequacy): Este índice deve ser maior de 0.5 para se realizar uma análise fatorial adequada. Teste de Bartlett
de Esfericidade (Bartlett Test of Sphericity): O teste de Bartlett precisa ser significativo (isto é, a
probabilidade precisa ser maior do que .05). Este teste fornece um índice da normalidade multivariada de um
conjunto de distribuições. Um nível de significância menor do que .05 sugere que os dados não diferem
significativamente de uma distribuição normal multivariada.
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parece sublinhar um sentimento de desolação, desgosto e distanciamento em relação aos
outros; constelação que pode ser considerada como uma subdimensão da
“Despersonalização”, cuja proposta primeira é de que seja denominada de “frustração”;
frustração decorrente da falta de reconhecimento no trabalho e dos insucessos gerados pela
árdua tarefa de educar.
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Tabela 9. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 24 itens (eigenvalue >
1 e saturação > .30): Freqüência e Intensidade separadamente
Itens Freqüência Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F1 F2 F3 F4 F5
MBI – Despersonalização
17 Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... . .91 .43
20 Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .45 .43
23 Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .60 .76
% de variância por cada fator 17.2 13.6 6.6 5.7 4.4 4.3 21.3 12.7 6.7 5.9 4.4
Tabela 10. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 24 itens (eigenvalue
> 1 e saturação > .30): Freqüência x Intensidade
Itens Freqüência x Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F6
Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .80
08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .44 .35
11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .60 -.36
MBI – Despersonalização
17-Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .75
20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .33 .70
23- Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .79
% de variância por cada fator 14.10 13.51 8.59 6.63 6.62 5.05
04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .57 .54 .57
06- Sinto que estou trabalhando demais .36 .35 .30 .36
08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .57 .45 .34 .56
10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .58 .62 .65
11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .63 .61 .64
13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .59 .57 .63
14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .57 .64 .66
15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .53 .64 .64
16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .56 .61 .65
MBI – Despersonalização
17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .49 .44 .31 .48
18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .30 .43
20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .42
21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .31 .47 .37
alguns..
22- Pergunto-me por. preciso empenhar-me .. não merecem .71 .69 .73
23- Tenho a sensação ... hoje seja + difícil compreender os ... .71 .66 .76
24- Parece-me .. alunos.. incapazes reconh. tudo .. eu faço .72 .68 .76
% de variância por cada fator 15.1 13.6 8.6 14.4 14/3 11.9 15.6 14.9 9.0
Tabela 12. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 22 itens (eigenvalue
> 1 e saturação > .30): Freqüência e Intensidade separadamente
Itens Freqüência Intensidade
F1 F2 F3 F4 F5 F1 F2 F3 F4
MBI – Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .71 .75
04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .41 .31 .52
08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .46 .38 .36 .42
10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .46 .55
11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .50 .51
14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .54 .63
15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .51 .60
MBI – Despersonalização
17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .96 .44
18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .44 .58
20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .46 .45
% de variância por cada fator 13.1 10.8 5.8 4.9 2.6 12.8 11.9 10.4 2.5
Tabela 13. Análise fatorial da escala de burnout (MBI) considerando 21 itens (3 fatores e
saturação > .30): Freqüência, Intensidade e Freqüência x Intensidade
Itens Freqüência Intensidade FxI
F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3
MBI – Esgotamento emocional
01- Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho .76 .80 79
04- Trabalhar c/ pessoas o dia todo é realmente um cansaço .. .56 .40 .51 .52
05- Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho .64 .59 .38 .74
06- Sinto que estou trabalhando demais .41 .35 .31 .37 .34
08- Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim .60 .47 .38 .61
10- Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos .55 .62 .63
11- Sinto que estou influenciando positivam. a vida de ..... .54 .59 .64
13- Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade .68 .60 .65
14- Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto c/ .... .63 .69 .68
15- No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas .61 .64 .64
16- No meu trabalho lido c/ problemas emocionais c/ calma .62 .63 .66
MBI – Despersonalização
17- Sinto que trato alguns dos meus ... de forma impessoal ... .47 .45 .41
18- Desde q/ tenho começ. a trab. aqui me tornei insensível .. .62 .70 .74
19- Tenho medo de que ... possa me endurecer/insensibilizar .66 .71 .66
.....
20- Realmente não me importa o que acontece a alguns dos ... .66 .59 .52
21- Tenho a impressão de que ... me responsabilizam por .35 .46 .43
alguns..
% de variância por cada fator 17.2 14.0 8.8 15.7 15.3 12.1 17.8 16.5 8.0
Escala c/ 24 itens
Todos os 24 itens
• Freqüência 23 61.67 293.74 17.14 .7497
• Intensidade 24 62.96 478.62 21.87 .8253
Esgotamento emocional
• Freqüência 9 20.26 106.56 10.32 .7882
• Intensidade 8 17.54 101.54 10.06 .8043
Realização no trabalho
• Freqüência 8 29.70 92.94 9.64 .7488
• Intensidade 9 31.03 131.48 11.46 .7786
Despersonalização
• Freqüência 6 11.69 43.93 6.62 .6010
• Intensidade 7 14.32 71.68 8.46 .6870
24
Tabela 15. Coeficientes de correlação entre cada um dos itens e o fator/dimensão ao qual
pertence de acordo com as escalas com 21 e 24 itens
Análise multidimensional
As modificações introduzidas na escala de burnout proposta por Maslach e Jackson
(1981) têm produzido resultados satisfatórios em vários aspectos. A distribuição fatorial
dos itens que tende a emergir a partir das diferentes análises realizadas é suficientemente
interpretável e possibilita, em determinados casos, a identificação clara de duas das três
dimensões originais: “Esgotamento emocional” e “Realização no trabalho”.
A terceira dimensão, “Despersonalização”, é também possível de ser identificada.
Entretanto, como foi apontado anteriormente, seu nível de confiabilidade é mais baixo do
que as outras duas. É importante ressaltar a grande contribuição dos três novos itens nesta
dimensão, apresentando os níveis mais altos de saturação. De fato, enquanto através dos
itens originais do MBI ressalta-se um sentimento de indiferença e um insensível ou
excessivo desligamento da resposta para outras pessoas, que são geralmente os receptores
de um dos serviços ou cuidados do profissional. Os novos itens propostos enfatizam
também uma manifestação sutil de frustração com as pessoas no ambiente escolar, bem
como uma insatisfação decorrente da falta de reconhecimento, permeada por um sentimento
geral de mágoa pela falta de reconhecimento dos esforços despendidos com os alunos.
Parece útil, portanto, aprofundar esta dimensão “Despersonalização”, que desempenha um
papel de destaque na determinação do nível de burnout. As modificações introduzidas na
escala têm contribuído para enriquecer esta constelação, alcançando uma melhor articulação
estrutural e um maior poder explicativo. Como foi sugerido a partir da análise fatorial, a
dimensão “Despersonalização” pode ser vista como composta por duas facetas:
“indiferença” e “frustração”. A análise muldimensional nos possibilitará melhor explorar as
caraterísticas desta dimensão e suas peculiaridades.
Por outro lado, quando se consideram em seu conjunto os resultados obtidos tanto
nesta como em outras investigações similares, a dimensão “Despersonalização” tende a
manifestar mais freqüentemente uma estrutura multidimensional, que precisa de posteriores
esclarecimentos. Uma maior compreensão dos seus componentes poderá melhor afinar a
sensibilidade do instrumento e, provavelmente, enriquecer a definição da síndrome objeto
de estudo.
Contudo, pelos motivos acima, optou-se por analisar a escala com 24 itens,
utilizando-se uma análise não-métrica multidimensional. A análise fatorial nos forneceu
uma visão de como os itens se distribuem entre os diferentes fatores ou dimensões.
Todavia, não nos informa sobre o tipo de estrutura subjacente que pode ser observada a
partir da relação entre estas dimensões. Portanto, esta análise visa, em primeiro lugar,
explorar a estrutura latente em termo de regiões que emergem a partir da inter-relação entre
os itens e suas dimensões. Em segundo lugar, objetiva verificar a distribuição dos itens por
cada dimensão. Neste sentido, uma especial atenção será voltada para melhor compreender
a constituição e a inter-relação dos itens que constituem a dimensão “Despersonalização”.
Nas Figuras 1 e 2, são apresentadas as projeções das análises de tipo
multidimensional não-métrico, especificamente a técnica conhecida como "Análise da
Estrutura de Similaridade (em inglês, “Similarity Structure Analysis" ou "Smallest Space
Analysis"- SSA; Borg & Lingoes, 1987; Roazzi, 1995) tanto para as respostas em termos de
freqüência como de intensidade, respectivamente. Este procedimento permite analisar de
maneira mais detalhada a estrutura dimensional da síndrome de burnout, revelando relações
internas e regras nos itens observados. Desta forma, possibilita a verificação empírica das
facetas que caracterizam esta síndrome.
26
O SSA é basicamente um escalonamento multidimensional não-métrico, no qual as
observações ou itens são representados em um espaço euclidiano como pontos; é um
sistema de verificação que se fundamenta no princípio de proximidade ou contigüidade. O
grau de relacionamento entre as observações (representadas como pontos no espaço) é
representado pelo inverso da distância entre os pontos: quanto maior a correlação entre duas
variáveis (ou pontos) menor a distância entre eles. Mediante isto, é possível se obter um
mapa das variáveis em termos de configurações geométricas de dimensionalidade espacial
mínima. 5 A distância entre os pontos reflete o grau de similaridade entre os itens - quanto
mais semelhantes em termos de como são definidos como pertencentes a um mesmo
elemento, mais correlacionados e, portanto, maior é a proximidade no espaço euclidiano,
formando regiões de contigüidade (Guttman, 1954; Foa, 1958). As hipóteses iniciais são
assim transformadas em hipóteses de regiões, com as quais se esperam evidenciar regiões
que correspondam aos elementos da faceta ou dimensão considerada. De acordo com a
Teoria das Facetas, a base lógica para as várias estruturas regionais é fundamentada em
considerações sobre ordem (ou não ordem) entre os elementos de cada faceta.
Na Figura 1, que apresenta a projeção SSA das coordenadas 1 e 2 da solução tri-
dimensional das respostas de freqüência, observam-se três regiões. O coeficiente de stress é
suficientemente baixo - 0.09 - para a escolha desta solução. Em uma região central
observam-se bem próximos entre si os oito itens relativos à dimensão “Esgotamento
emocional”, enquanto no lado direito desta região encontram-se distribuídos os itens que
descrevem a dimensão “Realização no trabalho” - os itens 12 a 16 na parte superior e os
itens 9 a 11 na parte inferior. No lado esquerdo, podem ser observados os itens que dizem
respeito à dimensão “Despersonalização”, o item 20, isolado na parte extrema superior
esquerda, os itens 22 a 24 na parte central superior, e os itens 17, 18, 19 e 21 na região
central lateral esquerda. Assim, as dimensões originais da escala MBI encontram-se
confirmadas nesta projeção em uma estrutura tipo “radex”, tendo como região central a
dimensão “Esgotamento Emocional” e, dispostas ao redor desta, as outras duas dimensões.
A partir de uma análise da distribuição dos itens em cada dimensão, observa-se que a
dimensão “Esgotamento emocional” se apresenta como a mais homogênea devido à
aglomeração bastante próxima dos itens que formam esta dimensão. A dimensão
“Realização no trabalho” apresenta seus itens agrupados do lado direito da projeção em
duas aglomerações. A parte superior, formada pelos itens 12 a 16, diz respeito à satisfação
no trabalho, ao sentimento de bem-estar originado pela realização dos objetivos. A parte
inferior, formada pelos itens 9 a 11, refere-se aos sentimentos de empatia, competência na
resolução de problemas e auto-realização no trabalho.
A distribuição dos itens relativos à dimensão “Despersonalização” confirma as
observações apontadas pela análise fatorial discutida anteriormente, onde duas
subdimensões podem ser identificadas. A primeira, constituída pelos itens 17, 18, 19 e 21
diz respeito ao núcleo original da dimensão “Despersonalização” descrita pelo MBI,
caracterizado pelo desligamento, distância afetiva e insensibilidade em relação as pessoas
com as quais se trabalha. Esta primeira subdimensão foi denominada de “Indiferença”. A
segunda subdimensão apontada também pela análise fatorial, mapeada pelos itens 22, 23 e
24, descreve um tipo de despersonalização já elucidada exaustivamente: a “Frustração”. O
item 20, apesar de pertencer à mesma região da Despersonalização, encontra-se bastante
afastado da mesma. O que conceitualmente distancia este item dos demais é o seu caráter
comprometedor por estar enunciado na primeira pessoa. Ao contrário dos outros itens, que
5
Esta mínima dimensionalidade é determinada a partir do coeficiente de alienação - uma medida de
correspondência entre os coeficientes originais: coeficiente de Pearson e os coeficientes de distância derivados.
27
são mais brandos e deslocam o peso do afastamento para o contexto, este é muito mais forte
por apontá-lo para o sujeito.
Na Figura 2, que apresenta a projeção SSA das coordenadas 1 e 2 da solução tri-
dimensional das respostas de intensidade, observam-se três regiões. O coeficiente de stress
é suficientemente baixo - 0.08 - para a escolha desta solução. Da mesma forma do que foi
observado na projeção das respostas de freqüência, também nesta projeção são facilmente
observadas as três dimensões originais do MBI. No entanto, a estrutura é diferente.
Enquanto a de freqüência podia mais facilmente ser descrita como tipo “radex”, esta de
intensidade apresenta claramente uma regionalização estrutural tipo axial. A região
intermediária é formada pelos oito itens relativos à dimensão “Esgotamento emocional”
(itens de 1 a 8), os quais se apresentam bastante próximos entre si. Os itens 9 a 16, que
descrevem a dimensão “Realização no trabalho”, encontram-se reagrupados na região
inferior direita e se apresentam também bastante próximos. A dimensão Despersonalização
apresenta, como no caso de freqüência, uma diferenciação entre os itens 17 a 21,
localizados na região lateral esquerda, descrevendo a dimensão “Indiferença”, e os itens 22,
23 e 24, localizados na parte superior central da projeção, descrevendo a dimensão
“Frustração”.
28
Figura 1
Projeção SSA das respostas de frequência aos itens do MBI
20
Despersonalização
12 15
Frustração
1314
22 16
18 23
Indiferença 24
19 Realização
5 1 Esgotamento no Trabalho
21
8 Emocional
4
3
17 7 2 10
6
9
11
Esgotamento Emocional
1. Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho
2. Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho
3. Sinto-me cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho
4. Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um cansaço para mim
5. Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho
6. Sinto que estou trabalhando demais
7. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito tenso/estressado
8. Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim
Realização no Trabalho
9. Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
10. Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
11. Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12. Sinto-me cheio(a) de energia
13. Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
14. Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
15. No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
16. No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma
Despersonalização
17. Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal como se fossem objetos
18. Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
19. Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
20. Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
21. Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus
problemas
22. Me pergunto porque preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
23. Tenho a sensação de que nos dias de hoje seja muito difícil compreender os alunos
24. Me parece que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
29
Figura 2
Projeção SSA das respostas de intensidade aos itens do MBI
Frustração 22
24 23
Despersonalização
8
7
Indiferença
5
21 15
17 1 14
4 3 2
18 20 9
19 Esgotamento
16
Emocional
13
6
10
Realização no Trabalho
11
12
Esgotamento Emocional
1. Sinto-me emotivamente esgotado pelo meu trabalho
2. Sinto-me esgotado no final de um dia de trabalho
3. Sinto-me cansado quando me levanto de manhã e tenho que encarar outro dia de trabalho
4. Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um cansaço para mim
5. Sinto-me acabado(a)/esgotado(a) pelo meu trabalho
6. Sinto que estou trabalhando demais
7. Trabalhar diretamente com pessoas me deixa muito tenso/estressado
8. Sinto como se minha paciência estivesse chegando ao fim
Realização no Trabalho
9. Posso facilmente entender como os meus alunos se sentem
10. Lido eficazmente com os problemas dos meus alunos
11. Sinto que estou influenciando positivam. a vida de outras pessoas através do meu trabalho
12. Sinto-me cheio(a) de energia
13. Consigo facilmente deixar os meus alunos à vontade
14. Sinto-me satisfeito depois de ter trabalhado junto com os meus alunos
15. No meu trabalho tenho alcançado muitas coisas boas
16. No meu trabalho lido com problemas emocionais com calma
Despersonalização
17. Sinto que trato alguns dos meus alunos de forma impessoal como se fossem objetos
18. Desde que tenho começado a trabalhar aqui me tornei insensível com as pessoas
19. Tenho medo de que este trabalho possa me endurecer/insensibilizar emotivamente
20. Realmente não me importa o que acontece a alguns dos meus alunos
21. Tenho a impressão de que os meus alunos me responsabilizam por alguns dos seus
problemas
22. Me pergunto porque preciso empenhar-me tanto quando os alunos não fazem por merecer
23. Tenho a sensação de que nos dias de hoje seja muito difícil compreender os alunos
24. Me parece que os alunos são incapazes de reconhecer tudo o que eu faço por eles
30
31
Considerações finais
O principal objetivo do estudo foi validar e melhorar um instrumento (escala MBI)
capaz de avaliar o burnout em professores dos ensinos fundamental e médio de escolas
particulares, municipais e estaduais. As modificações introduzidas a esta escala proposta
por Maslach e Jackson (1981) quanto à dimensão “Despersonalização” mostraram ter
produzido resultados apreciáveis.
Em primeiro lugar, a estrutura dimensional que tende a emergir das diferentes
análises (fatoriais e multidimensionais) é interpretável e possibilita identificar as três
dimensões: “Esgotamento Emocional”, “Realização no trabalho” e “Despersonalização”.
Esta constatação nos permite afirmar que esta versão da escala, de modo geral, contribui de
forma significativa para a elaboração de um instrumento válido e confiável à mensuração
do burnout. Entretanto, vários aspectos necessitam de um ulterior esclarecimento, podendo
ser úteis explorações adicionais para uma mais sofisticada otimização da escala.
Antes de tudo, um primeiro aspecto que merece ulteriores verificações diz respeito à
estabilidade do instrumento. Parece oportuna uma confirmação, através de aplicações da
mesma escala em outros tipos de populações, dos resultados obtidos através desta nossa
amostra.
Em segundo lugar, a reflexão poderia ser voltada também para a composição do
instrumento e, mais especificamente, à avaliação em termos de freqüência e de intensidade
das sensações vivenciadas. Tanto a análise com 21 itens como com 24 itens da escala
produzem melhores resultados quando se considera a intensidade. De fato, observa-se uma
maior clareza da estrutura fatorial, uma maior porcentagem da variância explicada e uma
maior coerência interna dos itens que constituem as sub-escalas. Estes resultados discordam
do que foi observado por Maslach, quando este sugere o uso da escala que se fundamente
na freqüência, considerada mais útil para a avaliação da síndrome de burnout, de acordo
com os resultados de investigações realizadas nos EUA.
Por último, a distribuição dos itens relativos à dimensão “Despersonalização”,
aponta à existência de duas subdimensões: uma relativa aos itens originais do MBI e outra
relativa aos novos itens. A primeira, constituída pelos itens originais do MBI e que
denominamos de “Indiferença”, diz respeito ao núcleo original da dimensão
"Despersonalização" descrita por esta escala, e se caracteriza pelo desligamento, distância
afetiva e insensibilidade em relação às pessoas com as quais se trabalha. A segunda
subdimensão, mapeada pelos três novos itens, descreve uma característica específica de
despersonalização: a “Frustração”.
Assim, apesar destes novos itens pertencerem conceitualmente, de alguma forma, à
dimensão “Despersonalização”, visto que parecem integrar-se de maneira adequada à
escala, participando de forma relevante para a formação desta dimensão, ao mesmo tempo
se diferenciam da mesma apresentando aspectos específicos próprios. Estes novos itens têm
contribuído para enriquecer a escala como um todo, melhorando a articulação estrutural e
produzindo um poder explicativo mais elevado. Visto que esta dimensão desempenha um
papel muito significativo na determinação do nível de burnout, parece útil que ulteriores
estudos desta dimensão sejam realizados, objetivando explorar seu caráter
multidimensional. Uma maior compreensão das suas componentes poderá melhor afinar a
sensibilidade da escala e, consequentemente, enriquecer a definição da própria síndrome de
burnout.
32
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