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Revista Subjetividades
versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.16 no.1 Fortaleza abr. 2016


http://dx.doi.org/10.5020/23590777.16.1.191-193

RESENHA DE LIVRO

Trabalho e Prazer: teoria pespectivas e práticas

Work and pleasure: theory, research and practices

Trabajo y placer: teoría, investigaciones y prácticas

Travail et plaisir: théorie, recherche et pratique


Cicero Simões BorgesI; Adelaide da Cruz SantosII
I
Mestrando em Administração pela Universidade Federal Fluminense e Graduado em
Administração pela Universidade Federal Fluminense
II
Mestranda em Administração pela Universidade Federal Fluminense e Graduada em
Administração pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Endereço para correspondência

RESUMO

Resenha dos principais estudos apresentados no livro Trabalho e prazer: teoria,


pesquisas e práticas. A obra mostra os meandros do trabalho como fonte de prazer e, ao
mesmo tempo, sofrimento. Aborda teorias e aplicações práticas, como a psicodinâmica
do trabalho, a partir de pontos de vista de pesquisadores de múltiplas áreas do
conhecimento.

ABSTRACT

Summary of the main studies presented in the book Work and pleasure: Theory,
research and practices. The work shows the intricacies of work as a source of pleasure
and at the same time suffering. It addresses theories and applications of practices such
as the psychodynamics of work from the points of view of researchers from multiple
areas of knowledge.

RESUMEN

Reseña de los principales trabajos presentados en el libro Trabajo y placer: teoría,


investigaciones y prácticas. La obra enseña las sinuosidades del trabajo como fuente de
placer y al mismo tiempo de sufrimiento. Aborda teorías y explicaciones de prácticas
como la psico-dinámica del trabajo partiendo de puntos de vista de investigadores de
distintas áreas del conocimiento.

RÉSUMÉ

Aperçu des principales études présentées dans le livre Travail et plaisir : théorie,
recherche et pratique. L'oeuvre montre la complexité du travail comme une source de
plaisir et, en même temps, de souffrance. Elle couvre aussi les théories et les
applications des pratiques comme la psychodynamique du travail du point de vue de
chercheurs de plusieurs champs de la connaissance.
A frase "vamos deixar o trabalho de lado um pouco" é, atualmente, um excelente
exemplo de expressão incapaz de produzir representação mental, porque nunca ou
raramente se deixa o trabalho. Ele está permanentemente materializado, por exemplo,
nos mais diversos aplicativos que possuímos para nos comunicar. Isso indica apenas a
exacerbada demanda de ocupação com o trabalho que se tem na atualidade; cujo
suprimento subtrai do trabalhador sua saúde física e mental, impedindo-o de manter ou
alcançar o status individual de bem-estar. Contrariamente, pode levá-lo ao sofrimento e
à doença. A superestrutura criada a partir da Revolução Industrial - ou revolução no
mundo do trabalho -, para fazer funcionar as novas formas de produção, invertera a
relação trabalhador e objeto, (re)produzindo e naturalizando silenciosamente as
consequências negativas, individuais e coletivas dessa inversão. Uma delas é a mutação
nos sentidos do trabalhar.

Mas, quais as causas? E as consequências? Existem estratégias para conviver melhor


com isso? Se existem, é possível aprimorá-las? Quais soluções podem ser propostas?
Para refletir e apresentar respostas tangíveis a questões dessa natureza, a partir da
reunião de um grupo de trabalho no XV Simpósio da ANPEPP (Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), surgiu a proposta de um livro tendo por
objetivo central apresentar reflexões que contribuam com: os desafios do prazer no
trabalho e os avanços teórico-metodológicos da psicodinâmica do trabalho no Brasil.

Portanto a obra Trabalho e Prazer é composta por uma reunião de artigos de professores
pesquisadores de diversas universidades do Brasil e componentes daquele grupo de
trabalho vinculado à ANPEPP, instituição que realiza pesquisas na área da saúde mental
e do trabalho há mais de uma década, e que, a partir de 2010, tem adotado mais
especificamente o referencial da psicodinâmica do trabalho para suas pesquisas. Dentre
eles, a profa. Drª. Janine Kieling Monteiro, da UNISINOS; o prof. Dr. Fernando de
Oliveira Vieira, da UFF; e a profa. Ana Magnólia Mendes, da UnB.

O livro é dividido didaticamente em três partes, que apresentam pesquisas


multidisciplinares em ordem crescente. Inicia apresentando reflexões essenciais à
compreensão das pesquisas, por exemplo, a conceituação das ideias de: trabalho,
prazer, sublimação, coletivo de trabalho, entre outras. Contextualiza a prática da
psicodinâmica do trabalho e aprofunda a discussão da dinâmica da subjetivação através
da exploração das conexões afetivas e patologias do trabalho. Ao final, apresenta
aplicações em casos brasileiros com a abordagem de impacto, utilidade epossibilidades
de ressignificação pela experiência prática das inter-relações de prazer e trabalho.

Destaca-se ainda, nessa obra, a acuidade apresentada pelos diversos autores na


elaboração de suas pesquisas, que dialogam com a psicanálise e com a sociologia,
possibilitando ao leitor construir visão ampla e diversificada a partir de pontos de vista
complementares para um mesmo problema.

A parte I, intitulada "Prazer, sentidos do trabalhar", apresenta desde a conceituação de


trabalho, suas relações com o sofrimento e o prazer, até o processo histórico de
precarização do trabalho, passando pela discussão sobre o reconhecimento e o processo
de sublimação libidinal através da inteligência criativa, utilizada para elaborar a lacuna
entre o prescrito e o real.

É demonstrado o processo de subjetivação do trabalhador frente ao real do trabalho,


abordando também os processos de sublimação e perlaboração. O reconhecimento e o
coletivo de trabalho são apontamentos para a experiência prazerosa no trabalho.
Portanto, isso indica ser possível existir prazer no contexto do trabalho precário,
encontrado em muitas organizações atualmente. Tais análises tiveram como ponto de
partida trabalhos como os de Dejours, para compreender as relações com o sofrimento e
o prazer no processo de trabalhar, e da psicanálise em Freud, para explorar a
sublimação ressaltando-se a importância de compreender as relações que estruturam a
saúde mental do trabalhador.
Expõe que, de maneira equivocada, as situações de alienação se impõem: pela cultura
do individualismo, que distancia o sujeito do reconhecimento do outro nas organizações;
e pela visão distorcida de que os processos, as normas prescritas e os métodos não
apresentam erros intrínsecos, promovendo uma visão inflexível que dificulta o
reconhecimento do que é realizado.

Uma importante contribuição dos trabalhos apresentados está na ilustração das


possibilidades de transformar o sofrimento em prazer, completando o processo positivo
de sublimação através do reconhecimento do que é feito, realizado. Embora a
precarização do trabalho seja um fato e haja múltiplos fatores que para isso contribuem,
é demonstrado que a maioria deles é paralela aos fatores estruturantes do sistema
produtivo capitalista. Entretanto, ao que parece, nem tudo está perdido. A psicodinâmica
do trabalho é apresentada como metodologia central para a transformação conforme
exemplos dos estudos de caso realizados em território brasileiro.

A segunda parte, "Prazer, (Des)Afetos e Patologias", apresenta reflexões de perspectiva


sociológica e psicanalítica discutindo e apresentando conceitos como o de "Ser
Desafetado", aquele criado pelas organizações, que não expressa emoções, e as reprime
tanto que parece não sentir. O que pode levar à questão do insuportável, condição
emocional que pode ser natural, advindo do sofrimento da vida ou pode ser proveniente
de uma repressão das condições de trabalho do sujeito.

A partir desses conceitos são aprofundadas outras reflexões que buscam compreender as
causas: a) estruturais, como a sedução organizacional, a ideologia da excelência, a
cultura do individualismo, o processo de reestruturação produtiva e os mecanismos de
controle organizacional; e b) inerentes ao sujeito, como os mecanismos patogênicos
individuais do pensamento operatório e auto aceleração que podem transbordar para o
ambiente familiar dado ao grau de envolvimento do trabalhador com estes mecanismos.
Para isso, há a contextualização do ambiente empresarial e da dinâmica de trabalho
precarizado, submetido à lógica econômica a qual se devem subordinar os empregados.
A organização sedutora é a instrumentalizadora do prazer, tornando-o uma ferramenta
com o objetivo de envolver os trabalhadores, voltando-os para o aumento da
produtividade.

Como consequência tem-se, por exemplo a normopatia, doença fundamentada na


banalização do mal, do ilícito, do antiético, do desumano; patologias de sobrecarga no
trabalho, como o burnout, karôshi, disfunções musculoesqueléticas (DORT's), e a
experiência de prazer ou patologia, que é produto do processo de subjetivação do
trabalho. Essas patologias acontecem quando as estratégias individuais e coletivas de
defesa para negar o sofrimento proveniente da organização do trabalho e evitar o
adoecimento falham.

Diante disso, demonstram algumas propostas que, embora desafiadoras, podem corrigir
ou amenizar esse problema nas organizações. Com o fortalecimento do coletivo de
trabalho, por exemplo, é possível criar um ambiente cooperativo, com maior
possibilidade de reconhecimento. Um ambiente onde o coletivo de trabalho faça uso do
espaço público político da organização para que haja trocas respeitando a individualidade
de cada sujeito.

A parte final do livro, "Prazer, potência política", compreende as aplicações ou parte


prática da obra. Fundamentando-se na psicodinâmica do trabalho, as pesquisas
mostram: a) como um ambiente de trabalho que possui conflito entre a cultura
patriarcal, hierárquica, colonial e o gerencialismo, voltado para alcance de metas, afasta
o servidor do seu trabalho por ter metas e não dispor de um ambiente favorável para
alcançá-las, dificultando subjetivação mais saudável; b) que o registro de afastamento
por motivos psicológicos, em conformidade com a Classificação de Doenças (CID-10) em
uma instituição que possuía o maior índice de afastamento desse tipo era uma das
estratégias defensivas dos funcionários frente à sedução organizacional utilizada para
implantação do novo modelo de gestão; c) o problema de mau uso da autonomia
concedida ao servidor público, que pode se acomodar e gerar sobrecarga nos demais
docentes. Essa situação pode acarretar conflitos e sofrimento ao coletivo de trabalho. O
clima de competição frente ao produtivismo também foi destacado; d) um ambiente de
bastante pressão e inflexível com inúmeros causadores de sofrimento para o coletivo de
trabalho. Verificou-se que, dada a demanda exagerada das organizações, a normopatia
era uma experiência comum aos funcionários como estratégia de defesa.

Destaca-se a pesquisa realizada no setor bancário, no qual há sofrimento ético vivido


pelos funcionários, que intimamente discordam de práticas bancárias que são obrigados
a desempenhar, evidências de que a mobilização para o alcance de uma condição
diferente de trabalho deve partir não apenas dos trabalhadores bancários, mas também
dos sindicatos e da sociedade como um todo, aplicando-se aos outros setores. Também
fica evidente que essa é apenas uma pequena parte do problema, já que a pesquisa
realizada no setor bancário indica origens muito mais estruturais, como a cultura de
baixo aprendizado e práticas políticas.

Ao organizar e reunir diversas pesquisas de alguns dos principais grupos brasileiros


debruçados no estudo da psicodinâmica do trabalho, a obra consegue trazer um recorte
de conteúdo valioso do momento científico presente da teorização e prática da área
abordada. Como limitação percebe-se a abrangência das pesquisas exclusivamente com
estudos de casos brasileiros bem específicos, podendo o tema ser ainda enriquecido com
experiências envolvendo um maior número de participantes, internacionais inclusive, e
comparações entre esses universos particulares de pesquisa, permitindo o avanço da
compreensão das possibilidades de prazer no trabalho.

Portanto, se de uma perspectiva das teorias organizacionais, o livro mostra a


necessidade de conexão gestão, sujeitos e psicodinâmica do trabalho; de uma
perspectiva da psicologia, apresenta novas fronteiras a serem exploradas, novas áreas
de atuação, ao apresentar aplicações da psicodinâmica do trabalho.

Referência

Monteiro, J. K., Vieira, F. O., & Mendes, A M. (Orgs). (2015). Trabalho & prazer: Teoria,
pesquisas e práticas. Curitiba, PR: Juruá [ Links ].

Endereço para correspondência:


Cicero Simões Borges
E-mail: cicerosborges@gmail.com

Adelaide da Cruz Santos


End.: Rua Tiradentes, nº 108 A, apto. 1006, Ingá
Niterói/RJ, CEP: 24210-510
E-mail: adelaidecruz@ig.uff.br

Recebido em: 12/11/2015


Revisado em: 19/03/2016
Aceito em: 24/04/2016

Av. Washington Soares, 1321 - Bloco N Sala 13


Bairro Edson Queiroz
CEP: 60811-905 - Fortaleza - CE
Tel: (85) 3477.3446
Fax: (85) 3477.3063

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Revista Psicologia Organizações e Trabalho


versão On-line ISSN 1984-6657
Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.12 no.2 Florianópolis ago. 2012

Prazer no trabalho: o lugar da autonomia

Pleasure in work: the place of autonomy

Rosângela Dutra de Moraes; Ana Cláudia Leal Vasconcelos; Stephane Caroline


de Paula da Cunha

Universidade Federal do Amazonas. Endereço: Av. General Rodrigo Octávio Jordão


Ramos, 3000, Campus Universitário, Coroado I - Manaus/Amazonas. E-mails:
rosangeladutra@ufam.edu.br; anaclealv@bol.com.br; stephanecunha@gmail.com

RESUMO

Pesquisas em psicodinâmica do trabalho indicam que o prazer pode integrar o sofrimento


criativo, na medida em que é possível subverter o sofrimento a partir do uso da
inteligência prática. Quando não é possível transformá-lo, busca-se dotá-lo de sentido.
Partindo do referencial teórico da psicodinâmica do trabalho, este artigo apresenta um
recorte do prazer no trabalho em duas pesquisas desenvolvidas em Manaus - Amazonas,
em contextos laborais distintos: trabalhadores da indústria e vendedores ambulantes
(camelôs). O objetivo do estudo é compreender os mobilizadores de prazer e o processo
de transformação do sofrimento no trabalho, partindo da análise da organização do
trabalho. A metodologia utilizada foi a qualitativa, com foco na fala. Participaram trinta e
quatro operários de sete indústrias e dez camelôs que trabalham em um centro
comercial de Manaus . O instrumento de coleta de dados nas duas pesquisas foi uma
entrevista individual semiestruturada. Os resultados indicam que a organização de
trabalho nas indústrias é marcada por pressão, rigidez e reduzida autonomia. Como
mobilizadores do prazer no trabalho, destacaram-se a cooperação entre os pares, o bom
desempenho e a obtenção de novos conhecimentos. Os camelôs possuem ampla
autonomia na organização de trabalho; esta apontada como o principal mobilizador de
prazer, favorecendo as estratégias de enfrentamento do sofrimento relacionado às
condições precárias de trabalho. Conclui-se que a liberdade na organização de trabalho é
um importante elemento para a mobilização subjetiva. Em sua ausência, os operários
das indústrias mobilizam-se em torno da cooperação e buscam transformar as situações
que agravam o sofrimento.

Palavras-chave: Psicodinâmica do Trabalho, Prazer no Trabalho, Autonomia.

ABSTRACT

Research in psychodynamics of work indicates that pleasure can integrate creative


suffering, insofar as it is possible to subvert the suffering by the use of practical
intelligence. When it is not possible to transform the suffering, we try to give it meaning.
Based on the theoretical framework of the psychodynamics of work, this article presents
an extract of the pleasure in work from two surveys conducted in Manaus, Amazonas, in
different work contexts: industrial workers and street vendors. The aim of this study is
to understand the mobilizers of pleasure and the transformation process of suffering at
work, analyzing the organization of work. We used qualitative methodology, valuing
speech. The participants were thirty-four workers from seven industries and ten hawkers
who work in downtown Manaus. The data collection instrument in the two surveys was a
semi-structured individual interview. The results indicate that the organization of work in
the industries is characterized by pressure, rigidity, and reduced autonomy. As
mobilizers of pleasure in work, most notable were cooperation among peers, good job
performance, and obtaining new knowledge. Hawkers have broad autonomy in the
organization of work; autonomy was identified as the main mobilizer of pleasure, which
favors the coping strategies of suffering related to poor working conditions. We conclude
that autonomy in the organization of work is an important element for subjective
mobilization. In its absence, the industrial workers are mobilized around cooperation and
seek to transform situations that aggravate suffering.

Keywords: Psychodynamics of Work, Pleasure in Work, Autonomy.

Os estudos da psicodinâmica do trabalho partem da compreensão de que o sofrimento


integra o trabalhar, tendo em vista a distância irredutível entre o prescrito e o real, o
que significa que o sujeito se depara, inevitavelmente, com imprevistos que o colocam
diante do risco do fracasso. Nesse sentido, é o sofrimento que gera o trabalho. A
experiência afetiva do fracasso é penosa e mobiliza o sujeito que está procurando
solucionar tal problema, na expectativa de subverter o sofrimento em prazer (Dejours,
2007). Ainda que não seja possível transformar o sofrimento, busca-se um sentido para
ele. Barus-Michel (2004) enfatiza a importância de encontrar um sentido para o
sofrimento, o que permite ao sujeito sentir que seu investimento subjetivo "valeu a
pena".

O sofrimento torna-se criativo quando atua como propulsor das mudanças por meio da
mobilização subjetiva, que implica toda a personalidade, articulando, assim, as esferas
afetiva, cognitiva e sensorial na construção de soluções dos problemas. Dejours (2008b)
nomeia esse processo como inteligência prática, a qual é guiada pelo sofrimento
(pathos),com a meta ultrapassá-lo. A autonomia para propor novas formas de organizar
o trabalho mostra-se importante ao favorecer o exercício da inteligência prática,
possibilitando que o sujeito crie novas formas, mais eficazes, de desempenhar suas
tarefas.

A inteligência prática, quando socializada, converte-se em sabedoria prática, ressaltando


a importância do coletivo e da relação de confiança, que é fundamental também para os
outros elementos que concorrem para a transformação do sofrimento, a saber: o
reconhecimento, a cooperação e o espaço público da fala (Mendes & Morrone, 2010).
Diante do recrudescimento das situações de trabalho marcadas pelosofrimento, e do
aumento das patologias relacionadas ao trabalho,, ressalta-se a importância de se
investigar os mecanismos que favorecem a transformação do sofrimento em prazer ou
sentido no trabalho, o que fortalece a identidade e amplia a subjetividade, processo
importante na promoção de saúde.

Dessa forma, este artigo tem como objetivo compreender os mobilizadores de prazer e o
processo de transformação do sofrimento no trabalho, partindo da análise da
organização do trabalho e das suas relações com o prazer; apoia-se em dados de duas
pesquisas desenvolvidas em Manaus - Amazonas, em contextos de trabalho distintos:
trabalhadores da indústria e camelôs.

A escolha dessas duas pesquisas se deu em razão do destacado papel da autonomia, no


caso dos camelôs, e da sua ausência, no caso dos operários de indústrias, que trabalham
sob rígidas prescrições. Dentre as várias pesquisas desenvolvidas no Laboratório de
Psicodinâmica do Trabalho da Universidade Federal do Amazonas, destacou-se o
contraste do lugar da autonomia - ou sua ausência - nesses dois grupos de
trabalhadores. Assim, pretende-se neste estudo discutir o papel da autonomia na
mobilização do prazer no trabalho, com base nas possibilidades de exercício da
inteligência prática, e as mediações construídas, em sua ausência, para subverter o
sofrimento em prazer.

Inicialmente, será apresentada a fundamentação teórica acerca da transformação do


sofrimento em prazer no trabalho, segundo a teoria psicodinâmica do trabalho, partindo
da obra seu fundador, Christophe Dejours (2001, 2007, 2008a, 2008b, 2008c). Serão
também mencionados os estudos desenvolvidos no Brasil, país em que essa teoria tem
se desenvolvido amplamente na última década. Posteriormente, será apresentada a
metodologia, seguida dos resultados das duas pesquisas, discutidos nas considerações
finais.

Do sofrimento ao prazer no trabalho

O sofrimento no trabalho vem sendo amplamente estudado nas três últimas décadas,
em pesquisas que utilizam como fundamento teórico a psicodinâmica do trabalho
(Dejours, 2001; 2008a; 2008b; 2008c; Dejours & Bègue, 2010; Mendes, 2007; Mendes,
Merlo, Morrone & Facas, 2010). Com base nessa abordagem, considera-se que existe um
conflito inevitável entre os desejos do sujeito e a organização doe trabalho, a qual
estabelece normas, limites e prescrições aos sujeitos. Além disso, o sofrimento integra o
trabalhar, porque esse consiste em experimentar o real que se revela ao sujeito quando
ele se depara com incidentes, acidentes ou ainda com os imprevistos, porque há sempre
uma distância, irredutível, entre a prescrição formal da tarefa e o real. Assim, trabalhar
consiste em se deparar com os imprevistos e com a sensação inicial de insuficiência de
conhecimentos, o que conduz à vivência de sofrimento (Dejours, 2008a).

Inicialmente, o sofrimento deixa o trabalhador em uma posição passiva, marcada tanto


pela raiva e quanto pelo desânimo. A sensação de fracasso coloca em risco a identidade
do sujeito, que busca uma solução para o problema. Sendo o trabalho um elemento
central na vida, o sofrimento estende-se a outras esferas da mesma. A fim de
ultrapassar o sofrimento, no segundo momento, o sujeito necessita agir, o que inclui a
capacidade de tolerar o desconforto e investir em novas tentativas até encontrar ou criar
uma solução. E é nesse processo que o sujeito mobiliza seus recursos internos para
superar as dificuldades. Assim, há a manifestação de uma inteligência guiada pelo
sofrimento (inteligência pática (derivada de pathos, sofrimento)), pois é a partir do
mesmo que se chega à intuição da solução (Dejours, 2008c).

A mobilização subjetiva, requisitada na busca da solução, abrange a esfera afetiva, a


cognitiva e também o corpo. Na tentativa de preencher a distância entre o prescrito e o
real, os trabalhadores constroem um saber prático, desenvolvido no exercício da
atividade. Assim, entra em ação um tipo de inteligência denominada por Dejours
(2008b) de inteligência prática, que tem como umas de suas características a astúcia,
pois frequentemente se opõe ao saber conceitual; é também a intuitiva, porque está
enraizada no corpo, ou seja, parte de percepções sensoriais. Dessa forma, "é o trabalho
que produz a inteligência e não a inteligência que produz o trabalho" (Dejours, 2008, p.
278).

Quando o sujeito consegue, finalmente, criar uma solução para o impasse causador do
sofrimento, usufrui a vivência do prazer, que é profundamente benéfica. Ao solucionar o
problema, que parecia em alguns momentos intransponível, o sujeito se descobre mais
hábil e competente do que julgava anteriormente. Esse processo possibilita a subversão
do sofrimento em prazer e mobiliza a renovação do entusiasmo.

A importância da autonomia

A autonomia no trabalho será aqui compreendida como a possibilidade de alteração da


prescrição da sua tarefa de forma a adequá-la ao real do trabalho, possibilitando ao
trabalhador a regulação de seu modo de desenvolver atividades (Ferreira, 2010). É o
grau de independência do sujeito em relação às prescrições, objetivos e método que
constituem o seu trabalho.

Em tese, uma organização de trabalho flexível valoriza o exercício da inteligência prática,


da criação e da invenção do novo. Dessa forma, a autonomia favorece a conquista do
prazer no trabalho, com base na transformação do sofrimento do não saber em prazer
de saber fazer. O exercício da autonomia articula-se à resistência do trabalhador à
dominação, tendo em vista o confronto entre seus desejos e as normas da organização
de trabalho. Na dinâmica entre a organização do trabalho e a subjetividade, a autonomia
favorece as vivências de prazer.

Em contrapartida, a falta de autonomia agrava o sofrimento. A questão da autonomia


dos operários possui importância histórica no capitalismo industrial, tendo em vista que
a sua ausência foi um dos elementos que conduziu à erosão do Taylorismo, por meio do
fenômeno que ficou conhecido como "fuga do trabalho", que contribuiu para a crise do
capitalismo agravada nos anos 1970 do século XX. Essa crise foi um dos elementos que
conduziu à superação parcial do padrão de acumulação fordista e à emergência do
modelo conhecido como acumulação flexível do capital (Moraes, 2010).

Pesquisa realizada no Polo industrial de Manaus (Moraes, 2010) indica que a organização
de trabalho, desde a implantação do conglomerado industrial, há quatro décadas e meia,
foi marcada pela separação entre concepção e execução, e por rígidos controles
tayloristas. A partir da reestruturação produtiva do final do século XX, os controles
tayloristas, somados ao controle simbólico toyotista e à exigência de padronização do
modo operatório para a certificação nas normas de qualidade da Série ISO 9000, foram
mantidos, significando maior redução da autonomia do trabalhador. Assim, até mesmo
nas empresas que incorporaram a autonomia em seu discurso de gestão, a rigidez das
prescrições e as pressões predominaram na organização de trabalho, sendo permitidas
ao trabalhador apenas as regulações que são de interesse organizacional. De acordo com
Bernardo (2006):

O discurso do management se apropria de uma noção que sempre esteve


presente na fala daqueles que defendem condições de trabalho mais
favoráveis aos trabalhadores e lhe atribui um outro sentido de modo a
atender os interesses da empresa e do mercado (p. 147)

A autonomia, presente no discurso organizacional, é, na prática, vivenciada como


ampliação de responsabilidades para resolver intercorrências no processo de trabalho.

A imposição de uma rígida organização do trabalho configura-se como empecilho à


autonomia do sujeito, pois o que já vem pré-escrito, pré- determinado, reduz a sua
possibilidade de expressão, causando, dessa forma, prejuízo à dinâmica da inteligência
prática. Tal rigidez também causa danos à dinâmica do reconhecimento, porque os
arranjos, que contribuem para o aperfeiçoamento do trabalho, passam a ser mantidos na
clandestinidade, privando, dessa forma, seu autor do reconhecimento da perícia e da
habilidade.

O lugar da autonomia no trabalho formal e informal


Pesquisas desenvolvidas com referencial da psicodinâmica do trabalho e da psicologia
social têm sinalizado para rigidez e sobrecarga no trabalho formal em organizações
públicas e privadas. Tais limitadores de autonomia têm sido discutidos como agravantes
do sofrimento em detrimento do prazer e da construção de sentido no trabalho (Moraes,
2010; Moraes & Vasconcelos, 2011; Bernardo, 2006; Garcia, 2011; Mendes et al.,
2010). A esse respeito, Bernardo (2006) refere que, por trás do discurso organizacional
de flexibilidade e da autonomia, os trabalhadores vivenciam, de fato, o autoritarismo, a
disciplina e o controle subjetivo por parte das empresas. De acordo com Harrison citado
por Bernardo (2006), o objetivo final da organização é o controle técnico e financeiro
concentrado no nível hierárquico mais elevado da empresa. Assim, tanto pela rigidez das
tarefas na indústria, da burocratização em organizações públicas, quanto pelo
autoritarismo em instituições mais hierarquizadas, o controle é garantido, impondo-se
como limite à autonomia.

Nas pesquisas realizadas por integrantes do Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho -


LAPSIC (UFAM) com trabalhadores formais, a questão da autonomia não apareceu, de
forma espontânea, nas falas dos trabalhadores. E quando foram questionados sobre a
mesma, , fizeram referência à rigidez organizacional e aos limites à autonomia. Por outro
lado, na pesquisa desenvolvida com camelôs, quando os trabalhadores foram
questionados sobre o prazer no trabalho, a referência à autonomia surgiu
espontaneamente. Nesse sentido, pretende-se, a seguir, refletir sobre o lugar da
autonomia, tendo como ponto de partida as modalidades de trabalho formal e informal,
analisadas em pesquisas desenvolvidas com trabalhadores de indústria e camelôs da
cidade de Manaus.

MÉTODO

As duas pesquisas empíricas utilizadas neste artigo, como base para a discussão da
autonomia e do prazer no trabalho, tiveram como fundamento teórico a Psicodinâmica
do Trabalho. Valorizou-se a fala dos trabalhadores, tendo como instrumento de coleta de
dados a entrevista individual semiestruturada, com roteiro previamente confeccionado.
As questões abordaram a organização do trabalho, o sofrimento, o adoecimento, o
enfrentamento do sofrimento e o prazer no trabalho. No presente artigo, foi
estabelecido, como recorte, o estudo de dados relativos à organização de trabalho, que
permite compreender o papel da autonomia e a sua relação com o prazer, por um lado,
e também de sua ausência e a relação com o sofrimento, por outro. O objetivo é
sinalizar as mediações construídas para subverter o sofrimento em prazer.

A pesquisa desenvolvida com os trabalhadores das indústrias foi concluída em 2010, e a


com os camelôs, em 2011. Nos dois casos, as entrevistas foram gravadas em áudio e
depois transcritas. Ao fazer referência aos trabalhadores e às empresas, utilizou-se
codinome. As entrevistas tiveram duração entre trinta e sessenta minutos; foram
realizadas no local e no horário de trabalho, e aconteceram em espaço reservado, para
assegurar a confidencialidade da fala do entrevistado.

A primeira pesquisa foi realizada em sete empresas instaladas no Pólo Industrial de


Manaus - PIM, que possuem seção de automação, pertencentes a diversos segmentos
como: eletroeletrônico, duas rodas, aparelhos celulares e termoplásticos. O PIM
constitui-se no maior conglomerado de indústrias da Amazônia, sendo composto por
aproximadamente seiscentas empresas, gerando cerca de 120 mil postos de trabalho
direto. No ano de 2011, obteve um faturamento de 41 bilhões de dólares (Suframa,
2012).

Trinta e quatro operadores de máquina participaram como informantes, sendo cinco


operadores de seis empresas e quatro da sétima. A busca foi pela maior diversidade
possível em relação à idade e ao tempo de serviço dos trabalhadores. A escolaridade
requerida para o cargo é de ensino médio, mas há dois operários que possuem nível
superior completo e seis estão cursando nível superior. Outro dado é que metade dos
participantes é casada. Quanto à naturalidade, 79% nasceram no estado do Amazonas,
desses 62% em Manaus e 15% nasceram no Pará, estado vizinho. Quanto ao gênero,
participaram doze mulheres e vinte e dois homens, mantendo a proporcionalidade
quanto ao gênero, pois na seção de inserção automática predomina a presença
masculina. Em relação à remuneração, varia entre um e dois salários mínimos.

A análise de dados foi realizada com base na sistemática de análise da Grounded Theory,
também chamada de Método de Comparação Constante. Essa metodologia destina-se a
estruturar a informação para descobrir elementos comuns nas diferentes entrevistas,
comparando-as e articulando-as até alcançar os eixos de análise e a categoria central,
que permita desenvolver uma teoria a respeito de determinado fenômeno social (López
& Scandroglio, 2007; Trinidad, Carrero & Soriano, 2006). A pesquisa mencionada não
utilizou a Grounded Theory integralmente, pois não se pretendia criar uma nova teoria
social. Assim, foram utilizadas categorias de análise oriundas da psicodinâmica do
trabalho, teoria consolidada, recorrendo-se à Grounded Theory apenas como sistemática
de análise. A sua utilização teve como objetivo articular as falas obtidas nas entrevistas
individuais, utilizando uma técnica genuinamente qualitativa.

Da segunda pesquisa, no centro comercial de Manaus, participaram dez pessoas, sendo


cinco homens e cinco mulheres, com idades entre 22 e 58 anos, que trabalhavam, no
mínimo, há um ano na atividade de camelô. Esse local caracteriza-se como espaço de
grande circulação de pessoas, concentrando o comércio popular da cidade, cuja região
metropolitana possui população superior a dois milhões de habitantes. A média de idade
dos entrevistados foi de quarenta anos. Eles eram amazonenses, sendo oito naturais da
capital do estado. O grupo tinha baixa escolaridade, e nenhum dos entrevistados
alcançou o Ensino Superior. Desse quadro, apenas dois concluíram o Ensino Médio, e
seis não terminaram o Ensino Fundamental. Dentre os entrevistados, o tempo médio de
atividade como camelô é de aproximadamente dezesseis anos. A renda média mensal
obtida pelo trabalho é de R$ 1.750, e a renda familiar média é de R$ 2.190, indicando,
assim, que os camelôs contribuem com a maior parte da renda familiar. Apesar de terem
indicado um valor para seus rendimentos mensais, todos salientaram que o valor é
variável, podendo oscilar consideravelmente entre os diferentes meses.

Os dados foram analisados com base na análise temática de conteúdo proposta por
Bardin (1999), incorporando adaptações sugeridas por Minayo (1993). E as construções
da Psicodinâmica do Trabalho foram utilizadas como categorias analíticas.

O Prazer no Trabalho de Operários do Polo Industrial de Manaus

A busca da compreensão das vivências de prazer parte da análise da organização do


trabalho e das vivências de sofrimento e de sua transformação. A organização do
trabalho dos operários do PIM é caracterizada pela rigidez nas prescrições do modo de
executar as tarefas e pelo detalhamento nos procedimentos, que se contrapõem à
autonomia, em um contexto de trabalho marcado por tensão, cobranças e exigências
cada vez mais elevadas no que se refere ao cumprimento de prazos. Os horários, as
tarefas e os procedimentos são rigorosamente controlados.

A rigidez da organização do trabalho impõe limites à autonomia dos operários, embora a


prescrição das tarefas se distancie do real do trabalho, em que os improvisos recorrentes
exigem o uso da inteligência prática e de autonomia. Pesquisas anteriores realizadas no
PIM (Moraes, 2005) mostram que a autonomia se manifesta de forma transgressora, na
utilização de "macetes". Nesse contexto, exercer autonomia implica fugir do padrão
prescrito (pré-escrito), o que é considerado "inconformidade" face às normas de
qualidade da Série ISO 9000. Isso implica correr risco de ser responsabilizado, se houver
problemas, trazendo a necessidade de manter em segredo os arranjos. Por outro lado, o
segredo impede o reconhecimento da perícia do operário, quando o arranjo traz
resultados eficazes.

A autonomia, compreendida como instrumento que propicia ao sujeito a gestão do seu


trabalho, ainda não é vivenciada pelos trabalhadores do PIM, mesmo após a
reestruturação produtiva, quando se adotou o discurso toyotista, que valoriza o
engajamento subjetivo e a independência. O trabalho é descrito a partir de uma
sequencia de prescrições, em que o operário não aparece como sujeito do trabalho, mas
sim como mero executor:

Chego, faço check-in da máquina, verifico como estão os parâmetros da


máquina e depois faço um processo que é feito pelos operadores, que é para
garantir o processo de blindagem, para que tudo esteja bem durante o nosso
turno. Então, assim que eu chego faço isso: a checagem da máquina e faço o
set up, que tem a lista de verificação do set up; estes são os procedimentos
da empresa. Depois coloco o processo para rodar normal (Júlia, Empresa
Ômega).

A dificuldade das empresas em favorecer a autonomia aos trabalhadores aponta a


presença do ideário taylorista, , que mantém a separação entre concepção, execução e
também o poder dos superiores sobre os operários, como pode ser percebido na
seguinte fala:

A gente sente dificuldade aqui porque não é ouvido, eles fazem mudanças no
processo e não comunicam a gente; aí chegam lá e falam assim: a partir de
hoje vai ser assim! E aí, nós, que trabalhamos lá, a gente que sabe como é o
melhor, o desempenho de lá... Os procedimentos estão aí para serem
cumpridos, né? Nós cumprimos, sim, mas acho que nós deveríamos ser mais
ouvidos neste ponto, do que é melhor para o processo e o que é melhor para
o operador; levar em consideração os dois lados (Júlia, Empresa Ômega).

Os procedimentos são estabelecidos pela engenharia; cabe ao operário seguir a


prescrição:

Quando chego tenho que conferir a alimentação da máquina, conferir os


parâmetros da máquina se continua o mesmo, se está de acordo com os
procedimentos estabelecidos pela engenharia, conferimos os parâmetros da
máquina de inserção de componente e de injeção de plástico se está de
acordo com o programa requisitado (Joaquim, Empresa Ômega).

A rigidez da organização do trabalho e as consequentes limitações em relação à


autonomia, associada à insuficiente qualificação dos trabalhadores, têm contribuído para
intensificar o sofrimento no PIM. Além do sofrimento inerente à defasagem entre
prescrito e real do trabalho e da falta de autonomia, destacam-se como outros
agravantes do sofrimento: a sobrecarga de trabalho, a cobrança excessiva e a pressão
por metas e por qualidade, o que intensifica o medo de errar e agrava a tensão,
conduzindo, assim, ao adoecimento. Sob a justificativa de alcançar as metas de
produção, as chefias usam autoritarismo, coação e violência verbal. Dessa forma, entre
os pares há competição, fofocas e intrigas, indicando o avanço do individualismo.

Os agravantes do sofrimento aparecem de forma destacada, e as situações que


favorecem a transformação do sofrimento, como a inteligência prática e o
reconhecimento, encontram-se pouco presentes na fala dos operários. Os raros elogios
por parte da chefia e de companheiros de linha, como também valor o salário, em
algumas empresas, são tomados como reconhecimento, mostrando-se fundamentais na
mobilização dos sujeitos da pesquisa. No entanto, os baixos salários aparecem de forma
recorrente no discurso da maioria dos trabalhadores, sendo associados à desvalorização
do trabalho.

Apesar da rigidez da organização do trabalho, que dificulta o exercício da inteligência


prática, e da presença de muitos outros agravantes do sofrimento, e dos limites à sua
transformação, os trabalhadores conseguem se mobilizar em busca do sentido no
trabalho. O sentido pode ser conferido quando os trabalhadores atribuem o prazer às
relações de amizade e à boa convivência.

Quando os operários conseguem ultrapassar a pressão das chefias e o


individualismo/competição dos colegas e construir relações de companheirismo,
atribuem sentido à convivência e à amizade, relacionando tais fatores ao prazer no
trabalho.

Acho que os colegas mesmo lá da linha... as amizades, acho que eu sempre


gostei de trabalhar assim, nunca reclamei da nada, assim da vida não...e
também acho que é mais a minha facilidade de aprender, facilidade no
trabalho (Marcos, Empresa Delta).

Outro ponto a destacar é o prazer de trabalhar em uma atividade com a qual há


identificação, pois isso constitui um mobilizador do prazer, além da possibilidade de
desenvolver amizades no ambiente de trabalho.

O que realmente me dá prazer é porque gosto do que faço. Gosto de exercer


a função de operador, gosto de mexer com máquinas, o ambiente, meus
amigos. Eu gosto de trabalhar por causa disso também, não pela empresa,
mas sim pelas pessoas com que trabalho. (Auxiliadora, Empresa Ômega).

Na maioria das entrevistas, os operadores atribuiram sentido ao trabalho por permitir o


sustento da família, destacando a importância do aspecto financeiro, além da
possibilidade de se sentirem úteis e produtivos.

Rapaz, porque eu gosto de trabalhar com isso, eu venho trabalhar porque eu


gosto e o salário também, né? Não é um salário ruim, mas sempre achamos
que deve ganhar mais um pouquinho. É bom trabalhar, é um serviço que dá
prazer porque você está sempre aprendendo uma coisa nova. Não é aquilo
de chegar e fazer só aquilo [não é repetitivo] (Joaquim, Empresa Ômega).

Em outras falas, os operadores mencionaram a obtenção de novos conhecimentos, de


novas experiências, o bom desempenho de suas funções e, também, referiram-se à
possibilidade de ascensão na hierarquia da empresa como algo que mobiliza o
investimento subjetivo no trabalho.

A autonomia não aparece no discurso dos trabalhadores. Ao contrário, a rigidez das


prescrições, as cobranças por metas e por resultados aparecem como agravantes do
sofrimento. Assim, pode-se sinalizar que a falta de espaço para o exercício da autonomia
faz com que ela seja reduzida e, quando exercitada para resolver os problemas
cotidianos, ocorre na clandestinidade. Entretanto, não havendo flexibilidade na
organização do trabalho nem visibilidade para o exercício da autonomia, compromete-se
a dinâmica do reconhecimento, importante elemento para a transformação do
sofrimento. Dessa forma, resta aos operários buscarem outros elementos, como a
amizade, o aprendizado e a identificação com as tarefas para dotar de sentido ao seu
trabalho e mobilizar o prazer do trabalhar.

A autonomia e o prazer no trabalho de camelô


A organização do trabalho dos camelôs caracteriza-se por ser flexível e por conferir
liberdade aos trabalhadores. Eles possuem uma jornada de trabalho que pode ser
facilmente alterada. O horário de chegada e de saída é definido livremente por cada
trabalhador, que o faz de acordo com seus interesses pessoais e com seu conhecimento
de que horários são melhores para as vendas.

A gente começa oito, assim sem festa. Daí a gente trabalha até umas sete horas
da noite e dezembro a gente pega sete da manhã e só larga umas duas horas da
madrugada (Maria).

A gente chega às oito horas, mas em dezembro a gente chega mais cedo e sai
mais tarde (Carla).

A flexibilidade é interessante à saúde psíquica dos trabalhadores. Quando o trabalho


pode ser livremente organizado, os indivíduos podem exercitar diferentes habilidades
psíquicas na situação de trabalho, descarregando tensões e equilibrando o aparelho
psíquico. Assim, é possível transformar um trabalho fatigante em equilibrante e
prazeroso (Dejours, 2008b).

Os intervalos de almoço e de lanche também são regulados pelos próprios trabalhadores,


sendo condicionados à movimentação dos clientes. Quando não é possível ausentar-se,
as refeições são feitas no próprio local de trabalho.

A organização do trabalho também se caracteriza pelo acúmulo de diferentes tarefas. O


trabalhador compra, vende, faz a limpeza, arruma as mercadorias e atende aos clientes.
Quando há conflito de horário para a realização dessas atribuições, um dos recursos
utilizados é recorrer aos pares, fazendo uso da cooperação. De acordo com Dejours
(2008d):

É através da cooperação que se torna possível que se construa vínculos


subjetivos de confiança que permitem que esses sujeitos consigam superar as
adversidades que se opõem a realização do trabalho (p. 132).

Assim, quando um camelô precisa se ausentar do trabalho para realizar alguma


atividade, outro camelô, de outra banca, fica observando o local de trabalho do
companheiro e se aparecer cliente, ele faz as vendas e depois repassa os valores para o
colega ausente. A esse respeito, a entrevistada Luíza refere que "Quando eu vou fazer
compra o meu colega aqui da banca do lado fica vendo a minha banca; e assim é
quando ele precisa sair também."

Às atividades de trabalho, somam-se ainda, principalmente para as mulheres, as


responsabilidades com o lar e os filhos, explica outra entrevista, Tereza: "Eu chego umas
oito horas e espero os clientes, as doze vou à casa, almoço e levo as crianças na escola
e vou pro centro".

A sobrecarga física parece ser contrabalanceada com o prazer da liberdade para gerir as
atividades, fazendo com que os trabalhadores desenvolvam estratégias de manutenção e
de promoção da saúde mental. A liberdade que possuem no exercício de suas atividades
gera equilíbrio, mantendo-os saudáveis.

Essas características da organização de trabalho, apesar de incluir muitas horas e uma


série de privações, tais como não possuir um horário para refeições, parecem contribuir
para o bem-estar emocional dos camelôs, uma vez que possibilita grande flexibilidade
para eles. A possibilidade de agir livremente sobre seu trabalho, dominando-o e tendo
espaço para cooperação e fala também permite que o trabalhador vivencie o prazer.
Durante a realização da pesquisa, foi possível identificar falas que associam diretamente
o trabalho à vivência de prazer, como por exemplo, "Pra mim é um trabalho que eu
amo" (Maria); "Pra mim é o meu trabalho é nota dez" (Carla); "Eu me amarro no meu
trabalho" (João).
A flexibilidade, que caracteriza a organização do trabalho dos camelôs, contribui para
que o sujeito tenha autonomia para atuar nas diferentes situações laborais. Ter
autonomia significa "reger-se por si mesmo, autodeterminação, independência"
(Siqueira, 2010). Essa organização mais aberta e flexível propicia ao trabalhador uma
maior participação na concepção de suas atividades, contribuindo para o seu bem-estar
psíquico. O prazer nasce, então, da liberdade para realizar as tarefas, gerindo o tempo,
o ritmo e os demais fatores relacionados ao trabalho, o que pode ser observado nas falas
dos entrevistados: "A maior vantagem do meu trabalho é que tenho mais liberdade para
fazer aquilo que eu quero" (Pedro); "Livre, eu sou livre" (Maria).

A organização de trabalho flexível permite que o sujeito tenha domínio sobre as suas
atividades, determinando, ele próprio, a forma de realizá-las. Quando o trabalhador
possui autonomia, ele não está submetido à hierarquia e pode, livremente, fazer
modificações em sua forma de realizar as tarefas, conforme suas próprias necessidades.

Pra mim o trabalho é nota dez, porque eu dependo só da minha


responsabilidade e não sou mandada por ninguém, chego e saio a hora que
eu quero (Carla).

A autonomia permite que o trabalhador vença as limitações impostas pelo real sem
transgredir normas e procedimentos. Assim, os camelôs podem ter prazer em vencer o
real do trabalho sem ter de enfrentar a culpa advinda da transgressão.

Além da flexibilidade, a organização do trabalho dos camelôs também é caracteriza pela


ausência de sistema hierárquico. Essa ausência de um "chefe" torna as situações de
controle, de autoritarismo e, até de assédio moral, menos frequentes. Eles não precisam
se submeter a essas situações negativas. Isso foi sinalizado pelos entrevistados como
um desencadeador de prazer.

[...] e o melhor de tudo é que a gente não ter que estar sendo humilhada
por patrões. Chega a hora que a gente quer, vai embora a hora que a gente
quer, no dia que eu não quero vir, eu não venho. Então é bom por isso. Só o
fato de não ser humilhada por alguém, ter o nosso trabalho, as nossas coisas
do jeito que a gente quer, sem precisar de ninguém tá gritando ou
mandando, isso é muito bom (Tereza).

Assim, a fala dos camelôs indica que o prazer subverte o sofrimento no trabalho, que
está relacionado, principalmente, às condições laborais, caracterizadas por: atividades
desenvolvidas na rua, que implicam vulnerabilidade a situações existentes no ambiente
urbano, como a chuva, as altas temperaturas, a criminalidade; a relação com os
clientes, que pode se torna conflituosa; a condição de informalidade, marcada pela
ausência de direitos trabalhistas e garantias sociais.

O sofrimento não parece sobrepujar as vivências de prazer. Um dos fatores que podem
contribuir para essa circunstância é a possibilidade de transformar o sofrimento, quando
a organização do trabalho possibilita que os trabalhadores façam uso, livremente, de sua
criatividade e inteligência prática. Esses sujeitos são capazes de desenvolver estratégias
para transformar o sofrimento, vencendo as dificuldades impostas pelo real e, assim,
desenvolver satisfatoriamente seu trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partido da ideia de que a mobilização da inteligência prática possibilita a subversão do


sofrimento em prazer, a subutilização desse potencial, há tempos, vem sendo discutida
como agravante do sofrimento, conduzindo, assim, à desestabilização da economia
psicossomática e às formas de descompensação/doença (Athayde, 1996; Dejours,
2008b). Essa reflexão foi direcionada frequentemente ao modelo taylorista-fordista e
esperava-se que, com a flexibilização prometida, em especial pelo toyotismo, maior
ênfase fosse dada à utilização da inteligência operária por parte da gestão e da
organização do trabalho. Nesse sentido, acreditava-se também que essa ênfase
proporcionaria mais prazer e, portanto, promoveria mais saúde aos trabalhadores.

Entretanto, as pesquisas desenvolvidas no âmbito industrial têm sinalizado para


intensificação do sofrimento/adoecimento relacionado às novas formas de gestão e de
organização do trabalho (Dejours, 2001, 2007; Moraes, 2010). Essa realidade também
foi observada nos resultados desta pesquisa, o que levanta o seguinte questionamento:
por que as práticas ditas mais flexibilizadas de gestão e de organização do trabalho não
implicam em mais prazer/saúde no trabalho?

Fazendo um paralelo entre os resultados das duas pesquisas apresentadas, é possível


perceber que a autonomia emerge como categoria central para pensar o questionamento
levantado. A liberdade não aparece como vivência dos trabalhadores do PIM e, quando
ocorre, se restringe à possibilidade de pequenos ajustes ao trabalho prescrito, e que
servem aos interesses organizacionais. Por outro lado, a pesquisa com camelôs do
centro comercial de Manaus propõe a autonomia como principal mobilizador de prazer no
trabalho. Nesse sentido, apesar de toda a precariedade que caracteriza esse trabalho
informal, talvez tenha muito a ensinar acerca de organização do trabalho, apontando a
importância de uma autonomia que vá além do discurso organizacional, em que a
concepção e as decisões sejam realmente atribuídas aos trabalhadores.

Em oposição à autonomia, nas empresas do PIM, há intensificação do controle sobre o


processo produtivo e exigência de sua padronização. Controle caracterizado por
autoritarismo, mandonismo, disciplinarização e nepotismo. Nessa situação, limites são
impostos à conversão do sofrimento em prazer pelo uso da inteligência prática. Assim,
ao trabalhador resta a possibilidade de atribuir sentido ao seu trabalho, e ele o faz ao
relacionar o prazer ao vínculo estabelecido com os colegas, à possibilidade de
aprendizagem e ao sentimento de utilidade.

Em contraposição, para os camelôs, é justamente a ausência de controle, de


autoritarismo e de assédio moral que permite atribuir sentido ao trabalho, mesmo que
realizado em condições precarizadas.

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Recebido em: 20.12.2011


Aprovado em: 01.03.2012

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