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Literatura e história

Imagens de leitura e de leitores no Brasil no século XIX

Sarita Maria Affonso Moysés


Faculdade de Educação, Universidade de Campinas

Trabalho apresentado na XVII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, outubro de 1995.

A busca do letramento e da instrução sempre ferenças e as dependências que configuram as suas


foi considerada pelo ideário republicano condição práticas culturais. Se as proibições de educação e de
para a cidadania e a modernização da nação. Em- acesso ao conhecimento para os negros, por sua
bora não possamos afirmar que seja uma mudan- exclusão na Constituição Imperial de 1824, ainda
ça própria da sociedade brasileira no século XIX, perduram, em meados do século XIX o que se di-
da confrontação dessa necessidade de leitura e es- mensiona é o contraste dessas interdições com a
crita com o modelo cultural da escravidão, que ar- diversidade de produções e apropriações culturais,
ticulou essa sociedade durante quase quatro séculos, com a invenção — segundo Certeau — de várias
emergem transformações que lhe fornecem um per- maneiras de ler desses grupos sociais.
fil específico. Na evolução cultural da sociedade Ao tentar discutir, neste texto, algumas dessas
brasileira do século XIX, tais transformações, fun- transformações, que marcam a passagem de um
damentais para uma possível reconstrução das prá- mundo oral para o mundo da escrita, não se pre-
ticas de leitura, relacionam-se principalmente a mu- tende simplesmente inventariá-las, mas recuperá-las
danças de comportamento, de hábitos e mesmo de enquanto imagens de uma época, fundamentais pa-
estrutura de personalidade de seus membros dian- ra sua compreensão histórica. Recuperá-las, na lín-
te da apropriação de um conhecimento. gua e na literatura, enquanto representações que,
Construída por negros, ágrafos e iletrados, e de acordo com o modelo escolhido (Bakhtin, 1988),
por brancos, iletrados e letrados — com a difusão são perspectivas sociais e históricas. Como repre-
de idéias liberais e republicanas, vindas principal- sentações literárias registram, em suas particulari-
mente da França, na formação de uma nação livre dades formais, em seus modos e estilos, os símbo-
e homogênea —, a sociedade brasileira se vê defron- los da pluralidade dessas perspectivas, os sinais que
tada não só com as oposições senhor/escravo que “diferenciam mundos histórico-sociais diferentes”
a estruturam, mas com as articulações entre as di- (Bakhtin, 1981b, 1988). Como imagens, essas re-

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presentações literárias revelam não só a realidade, de rupturas com o seu passado, com a África e a li-
mas as virtualidades da linguagem, na qual se obje- berdade, com a língua principalmente, é de-
tivam, aclamando as relações entre a língua que sencadeado.
representa esses mundos e a língua que é represen- Enquanto negros, são vistos como animais...
tada nesses mundos. Apreendendo a língua com “assim nus e pelados, sentados no chão, observan-
linguagem (Marin, 1993), as imagens re-apresen- do curiosos os transeuntes, pouco se diferenciam,
tam, ou apresentam de novo (na modalidade do aparentemente dos macacos. Vários deles chegam
tempo) ou no lugar de (na modalidade do espaço), da África já marcados a ferros em brasa, como os
as situações de interação entre os indivíduos e as animais” (Koster, 1942)... “De bom grado se levan-
relações que as articulam às determinações longín- tam para serem colocados a fim de serem examina-
quas, às vezes invisíveis, que tornam possível sua dos e tratados como gado” (Freysess, apud Mat-
realização (Elias, 1993). Recuperar as imagens de toso, 1990; Burlamaque, s/d).
leituras e de leitores, buscar traços e gestos esque- Nos séculos XVIII e XIX, tais descrições dos
cidos, marcas perdidas, significa reconstituir as re- negros como selvagens vão aproximá-los, pelos atri-
presentações dessa sociedade no seu acesso à cul- butos sexuais e físicos, das imagens de monstros e
tura escrita. Como imagens de uma época, “atra- animais que povoam os escritos ocidentais dos sé-
vessam os textos, transformando-os; atravessados culos XVI e XVII, feitas por viajantes e cientistas
por elas, os textos se transformam”, (Marin, 1992) (Lery, 1960; Benci, 1977). As fronteiras entre os
reconstituindo contrastes e significações. Assim, textos literários e científicos, nessa época, ainda são
configurá-las (Elias, 1991) significa considerá-las tênues, pela formação e pelos objetivos de observa-
historicamente como situações onde os indivíduos ção de fauna e flora desses viajantes. Considerados
são atores e não entidades abstratas e hierarquiza- esses textos como prova de testemunho da condi-
das por estruturas e posições, e, por isso, represen- ção não-humana dos negros, a difusão fundamen-
tam a si mesmos, seus valores, conflitos e aspirações. ta a tese de Rousseau de que não constituem sequer
Em um primeiro momento, pretende-se dis- uma raça, de acordo com as idéias de Buffon1 em
cutir as rupturas nos sistemas de representações, de- Histoire Naturelle, générale et particuliére (1749-
rivadas da condição escrava e pelo qual os grupos 1788), que categoriza as raças humanas.
de homens e mulheres negros se orientam, por dis- As relações estreitas entre ciência e literatura
posições específicas, na apreensão do mundo e do permitem, por um lado, a substituição de um racis-
conhecimento. Depois, os espaços de produção e mo anterior, vinculado às formas antigas de etno-
circulação culturais, onde o lugar de produção da centricidade, por um racismo que, ao categorizar
palavra do indivíduo negro se estabelece pelas ten- raças humanas por características físicas e, princi-
sões com o mundo do trabalho redefinido pela Abo- palmente, mentais, determina a ideologia racista dos
lição e por outras relações de dependência com seu séculos XVIII e XIX, baseada em postulados racio-
grupo social. nais. Assim, se os negros possuem dos brancos ape-
No sistema de representações criado pelo ne- nas a forma, “sua inferioridade intelectual pode
gro como forma de orientar suas condutas, sua ma- mesmo ser inferida matematicamente”, segundo G.
neira de “ser escravo” — possivelmente a que mais D’Arsy. Essa inferioridade intelectual pode provir
o marcou, durante e depois dos séculos de escra- tanto de uma constatação natural, como a de M.
vidão — talvez esteja relacionada com os modos de Long, que, em 1774, escreve: “entre todas as espé-
construção do conhecimento, do seu desenvolvi- cies de seres humanos descobertas até agora, pare-
mento intelectual. Direcionado para se perceber co-
mo animal, selvagem e depois como ser humano, 1 As discussões sobre as idéias de Buffon são feitas no
mas inferior, incapaz de aprender, todo um processo Brasil por Skidmore.

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cem ser os negros os mais incapazes, visto a inferio- Uma dessas missões, para “prear negros”, em
ridade natural do seu espírito para pensar e agir Lagos, é descrita por Gomes Eanes de Zurara, em
como homens”. Ou de uma crença natural, como 1444, que relata, como branco, as diferenças físi-
a de David Hume, que, em meados do século XVIII, cas, os cânticos, as posturas dos negros capturados
é “propenso a acreditar” que os negros são natu- e como se desenrola a estratégia da separação por
ralmente inferiores aos brancos. etnias e por comunidades lingüísticas. Uma separa-
Por outro lado, é a partir das relações entre li- ção estratégica por diferenças, feita pelo branco pa-
teratura e religião que a representação do negro como ra que o escravo não possa reconhecer-se no outro,
semi-animal, quase sobrenatural — que precisa ser para que não tenha a palavra desse outro como pon-
“salvo pela escravidão”, segundo palavras do papa te de expressão, que lhe permita reconhecer-se nele
Nicolau V, na bula Romanus Pontifex (1454) —, é e em sua palavra, fazendo-o seu interlocutor. O ou-
difundida, mostrando um ser inferior espiritualmen- tro é o negro, que está junto dele, que partilha a
te, incapaz de um pensamento ideal: “Visto que os mesma condição, mas que não o compreende. Es-
doutores cristãos opinam que o principal fim de aqui- tão separados por diferenças, antagonismos vindos
sição de negros é o de trazê-los ao conhecimento de de lutas anteriores, mas principalmente pelas varia-
Deus e à salvação...”. “Realmente eles são tidos me- ções entre as línguas, que, o outro, o branco, ex-
nos por homens do que por animais ferozes até go- plora estrategicamente, evitando que surja a coo-
zarem do privilégio de ir à missa e receber os sacra- peração, a comunicação, para que restem na não-
mentos” (Koster, 1942; Cunha, 1985). compreensão, no silêncio, no isolamento. O meca-
Enquanto negros, quase animais, são conside- nismo é o desdobramento através das diferenças. É
rados como degenerados e imorais. Representam, diferente do outro, o negro, e é diferente do outro,
caso se integrem a uma nação, “a alteração e a de- o branco, que os domina e estimula as diferenças
gradação de indivíduos, famílias e da própria na- até que estas se anulem entre si pela confrontação
ção, que se dissolvem” (Cohen, 1980). Pelos olhos com sua dominação, pela interiorização da domi-
dos viajantes ingleses, “a causa de toda corrupção nação do branco, pressuposto da condição escra-
no Brasil são os escravos”. Principalmente as escra- va. A essa interiorização corresponde uma perda de
vas, as negras, as mucamas. identidade étnica.
Assim, é com os valores dessas representações A língua registra/representa essa ruptura espa-
de sua condição não-humana, de um desenvolvi- cial: são todos, como negros, identificados, anota-
mento intelectual inferior, criados nos textos lite- dos, e mesmo denominados segundo os portos de
rários, científicos e religiosos, que o negro, captu- partida da África. Passam a ser chamados de cabin-
rado na África, se defronta e dos quais se apropria da, referência ao porto de Cabinda, no Congo; de
para “ser escravo”. Ainda que, como escravo, não quelimanes, devido ao porto de Quelimane, na Áfri-
existisse enquanto homem, porque, legalmente, a ca oriental; de minas, em função do porto de São
palavra escravo “retira todos os direitos de huma- Jorge de Mina; de benguelas, por causa do porto
nidade do ser ao qual é aplicado” (Cohen, 1980, de Benguela, no sul de Angola; de benins, em razão
p. 210; Gomes E. Zurara, 1841). da cidade de Benim, ligada a outras cidades iorubás;
Porém, é entre esses textos e suas idéias — que de jabus ou jebus por causa da cidade iorubá de
fundamentam a necessidade da existência da escra- Ijebu. Evoca-se o lugar de partida ou o lugar a partir
vidão e comprovam o desenvolvimento intelectual do qual se constitue escravo.
inferior do negro, e a sua transmissão pela oralidade Deslocados de seus espaços originais, suas or-
— que se criam formas e estratégias possíveis para ganizações de clã, de família ampliada, são destruí-
a concretização do universo negro. Relatadas, cri- das, rompendo-se as linhagens e relações de paren-
am as imagens que configuram a escravidão. tesco, os significados temporais dos laços de san-

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gue. A territorialidade lingüística é diluída, assim deles”. O branco ainda tem a certeza de que se con-
como o poder mítico e ancestral, que articula a sua sideram inferiores intelectualmente, de acordo com
palavra. É rompida a unidade dessa palavra africa- o jornal abolicionista A Redempção (1887): “A es-
na, dessa “voz indizível na língua” (Certeau, 1990), cravidão do negro proveio do atraso dos povos des-
que os une entre si, à natureza, ao cosmos, que sus- sa raça, habitantes da África, e da ganância dos
cita o conhecimento, que carrega a energia e a for- brancos. Os africanos são povos ignorantes e ave-
ça para a vida e a morte. Já não são mais africanos sados a barbaridades e às injustiças...”
livres; são mercadorias, trocadas por ferro e aguar- Mas para que, na ruptura, um novo ser — o
dente. A língua não mais os representa de acordo escravo — seja criado, a estratégia é a de representá-
com seus valores de origem, mas com qualificações lo para ele mesmo. Com poucas palavras, por or-
para a sua venda: “Pretos do Caior: escravos de dens, que assegurem a dominação, o branco veicu-
guerra que maquinam revoltas. Bambaras: estúpi- la na língua dos tumbeiros a representação do que
dos, pacíficos e robustos. Costa do Ouro e Vidah: é ser escravo, inferior, difundida pela ciência na lín-
bons cultivadores, mas inclinados ao suicídio. Con- gua escrita, culta. São, por isso, chamados de bo-
gueses: alegres e bons trabalhadores”. zales — aqueles que não compreendem, que são
Perdido o lugar original, o lugar de produção incapazes intelectualmente do entendimento. Boçal
de sua palavra também é transferido: o outro, o é aquele que, “nascido bem longe, falando mal a
branco, tem o domínio do lugar de produção lin- língua do branco, é normalmente considerado uma
güística. E esse poder significa transformar a pala- criança ignorante que necessita ser criada, educa-
vra africana não só no silêncio, mas na ausência da da” (Mattoso, 1990, p. 106). Porém, ao interiorizar
palavra, da palavra enquanto criação ideológica as significações dessa representação feita pelo bran-
(Bakhtin, 1981a). Segundo os relatos de Ki-Zerbo co, o negro se apropria da língua do branco, que
(1990, p. 123), “era proibido falar, sob pena de fala mal, para criar novos laços, e chama de “ma-
morte”. As diferenças lingüísticas são identificadas lembos” os companheiros de viagem.
pelo branco na tentativa de uniformizá-las, sempre Diante de uma língua que os registra como bo-
de acordo com a sua língua. Como um tumbeiro çais, as diferenças e os antagonismos entre eles, ma-
transporta até 195 peças (Mattoso, 1990, p. 48), lembos, perdem os significados. O diferente é o bran-
pode-se ouvir o uolof, o bambara, o lingala, o man- co, o interlocutor que fala com eles, como massa, a
dinga, o morê, o canuri, o auça, o fon daomeano, língua do comércio, o pidgin, uma língua de trânsi-
o duaba, o peul, o ewe. O branco, diante de línguas to que se esgota no valor de uso. Repetem as pala-
para ele incompreensíveis e da dificuldade do ne- vras do branco, soltas, sem artigos, que, como re-
gro em falar a língua do branco, tem a comprova- cortes ou relexicalização, não representam mais o
ção da inferioridade das línguas africanas e da in- que é ser negro e livre na África. Expressam, em sua
capacidade intelectual dos negros. Ressalte-se a di- objetivação, a imagem do que é ser negro e escravo
fusão, na época, da concepção de que o desenvol- na língua do branco. Ou, ainda, vêem na língua que
vimento da linguagem é coincidente com o pensa- os representa como são representadas as suas línguas.
mento racional, de acordo com Las Grammaire Gé- À ruptura com uma identidade étnica, com a
nérale et Raisonnée de Port-Royal, 1660. palavra oral africana, corresponde uma primeira
O branco, diante desses corpos sem vontade, confrontação com o mundo da escrita. Ainda que
deslocados e maltratados pelo escorbuto, tem a cer- isso ocorra pela oralidade de iletrados ou por aque-
teza de que eles mesmos se consideram animais. les que, em Portugal dos séculos XVI e XVII, já se
Segundo Voltaire (em seu Dicionário Filosófico e defrontam com uma escrita em língua vulgar, atra-
Juízos), “é uma grande interrogação se eles descen- vés de representações teatrais, cantigas e poemas,
dem dos macacos ou se os macacos que provêm mesmo sem que tenham o domínio dessa escrita. Os

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registros dos tumbeiros são feitos por cronistas ou para sobreviver. A ambigüidade como forma de pe-
por padres, os únicos letrados desse mundo, que netrar na língua e no mundo do branco, sendo ne-
acompanham as missões de “salvar as almas dos gro. A ambivalência como forma de penetrar no real
negros”. Pode-se aventar que esse mundo da escra- entre realidades opostas (Koby, 1991).
vidão não deixa de refletir as idéias, as categori- Porém, ainda que na situação de escravo, vão
zações discutidas pelos letrados da época. se apropriando da língua oral e mesmo do imaginário
Assim, a confrontação do negro ágrafo com o do branco, transformando-os, fazendo com que as
mundo da escrita ocorre pela oralidade, em condi- relações desses homens e mulheres negros com esse
ções de escravidão e de inferioridade. Percebidas as mundo social sejam de engajamento ou de aproxi-
suas diferenças em relação ao branco, marcada a mação (Elias, 1993). É o que acontece quando cri-
sua inferioridade, sua interiorização de inferior e am, na língua do branco, a figura do velho ou ve-
incapaz se articula pelas dependências ao conheci- lha, contador de histórias. Representam, nela, em
mento e à valorização do branco, pela confronta- parte, as figuras dos griol e dos doma, de um avô ou
ção da oralidade em relação à escrita. de uma avó, sem vínculos de parentesco: “na rua, a
A essa ruptura e dependências nas formas de meninada do engenho encontrava os seus amigos;
apreensão do mundo sobrepõe-se um sistema de os moleques que eram seus companheiros e as ne-
representações vindos da escravidão. Os seus com- gras, que lhe deram os peitos para mamar, as boas
portamentos se orientam pela adaptação; são pre- servas nos braços de quem se criavam” (Rego, 1956).
tos, quando africanos e mais fortemente ligados ao Ao se representarem na língua oral que apren-
passado; são crioulos, quando nascidos no Brasil e dem com o branco, percebem-se ligados aos valo-
sabendo conviver com brancos. Ou pela não sub- res daquele, capazes de transmitir essa palavra trans-
missão: são negros, quando rebeldes e fugitivos; formada. Instauram-se modelos de apropriação de
todos, pretos, crioulos, pardos e mulatos. “O ne- língua, de conhecimentos, que se definem nessa so-
gro é antes de tudo um fugitivo, perigoso e não con- ciedade pela “interdependência funcional” entre se-
fiável. Por outro lado, negro é aquele que acima de res humanos (Elias, 1993). Nessa ruptura, esses ho-
tudo perdeu sua humildade...” (Schwarcz, 1987). mens e mulheres, individualmente ou em grupo, “se
A língua representa a não submissão e a fuga, atra- ligam uns aos outros em configurações específicas
vés de expressões como: “páginas negras, negros cuja dinâmica exerce sobre aqueles que as compõem
crimes, diários negros”, presentes nas crônicas dos uma influência irresistível” (Elias, 1993). Ou depen-
periódicos brasileiros entre 1840 e 1850. dências recíprocas percebidas pela afetividade e por
Nas relações definidas pela escravidão é sem- sua imaginação (Chartier).
pre a obediência que orienta a língua em que são O século XIX se inicia, no Brasil, marcado por
representados. É boçal se não aprende a língua ou movimentos e idéias de libertação, de formação de
ladino se aceita e fala a língua do branco. O preto uma nação, de instrução, discutidos por aqueles que
desconfia do crioulo por este ser criado pelo bran- voltam da Europa. O projeto de uma sociedade le-
co, e se acha traído por ele, como na revolta da trada, a valorização da leitura como sinal de instru-
Bahia de 1835 (Reis & Silva, 1989). ção e como forma de socialização, em meados do
Crioulo e ladino são representações criadas pelo século, são valores que percorrem essa sociedade.
branco, pela obediência e esperteza desse escravo. Mesmo com as proibições de acesso ao conhecimen-
Representações apreendidas pelo preto como sím- to letrado, os escravos não desconhecem a escrita
bolo da desconfiança instaurada entre eles. Repre- que circula nos impressos e imagens religiosos, nos
sentações que revelam as ambigüidades desse escra- almanaques, nos periódicos e folhetins, nos poucos
vo. Nascido no Brasil, ao se constituir na língua do jornais e livros, que traduzem um quadro de leitu-
branco, utiliza-se da ambigüidade e da ambivalência ra ainda rarefeita.

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Poucos livros se publicam e ainda menos se lêem. tica — Damião não voltou a escrever. De antemão
Aprecia-se muito a leitura superficial e palhenta... não sabia que, nos outros jornais, a reação seria a mesma:
passa daí o pecúlio literário do povo [...] Histórias de estavam todos ligados aos senhores (Monteiro, 1981,
casamento, de namoro ou outras... eram as mucamas p. 419).
que contavam às sinhazinhas... Suprira-se assim, para
Nesses mesmos jornais o negro aparece cons-
uma aristocracia quase analfabeta, a falta de leitura
tantemente como “o negro das ‘ocorrências poli-
(Lajolo & Zilberman, 1991).
ciais’, o negro violento que se evadiu, o negro que
A maneira diferenciada com que os materiais é centro de notícias escandalosas, o negro depen-
impressos circulam nos diversos grupos, nos meios dente e serviçal que é oferecido enquanto ‘peça de
urbano e rural — seus modos de apropriação —, bom funcionamento’ ou mesmo o negro ‘objeto’ de
passam a ser a expressão da distância entre os espa- um discurso dos editores científicos”.
ços sociais. Entre o iletrado branco, proprietário de Como “objeto” de discussão científica, apare-
uma fazenda no interior, e o iletrado negro, escra- ce como o negro, cuja cor e inferioridade racial re-
vo urbano que vende mercadorias nas ruas do Rio presentam o atraso e o obstáculo à nação homogê-
de Janeiro, a separação cultural não é a do senhor/ nea. Como “objeto” de discussão política, aparece
escravo. Isso é o efeito de um processo cultural di- como o escravo, cujas marcas históricas da escra-
nâmico, vindo de apropriações, de posturas diante vidão representam a vergonha da nação.
do objeto-escrita, de usos e funções desse objeto em Representado pelo branco em sua negativida-
determinados espaços, da escrita como um conhe- de, na escrita, cuja apropriação lhe é mais difícil,
cimento que começa a estruturar essa sociedade. esse escravo — que na e pela oralidade começa a
Para os diversos grupos sociais, da oralidade estruturar formas de sensibilidade, de integração a
para a textualidade se configuram práticas de lei- essa terra — percebe-se na exterioridade desse pro-
tura, cujas representações sugerem a pluralidade de cesso. Vê-se contado por essa palavra oriunda de
formas de constituição de uma cultura escrita. É um lugar sócio-histórico diferente e antagônico do
assim que no interior desse mundo letrado persis- lugar onde trava a luta pela sobrevivência. A dis-
tem modos de ser, na leitura, arraigados a valores tância com os meios de produção da palavra escri-
e representações da oralidade. ta determina uma relação com ela, enquanto conhe-
Porém, o escravo vai, mais uma vez, se con- cimento, pela exterioridade (Elias, 1993). Por rela-
frontar com uma sua representação, agora na escri- ções de distanciamento, apropria-se dessa escrita,
ta, semelhante àquela em que já é representado. através de modos e maneiras próprios daquele que
Entre ser o negro que se humilha e não é obediente não participa de seus usos.
e o negro dos anúncios dos jornais, o escravo perce- É nesse quadro que o leitor negro, do século
be que os espaços da escrita não lhe são só interdi- XIX, traça suas relações com a escrita, com a con-
tos, mas são ainda mais refratários à sua presença. traditoriedade de caminhos vindos de distintas re-
O não ser representado por ele mesmo ou o presentações. Como a sua palavra oral não ressoa
não poder representar-se ganha dimensão de blo- na palavra escrita do branco, se estabelecem mun-
queio a uma sua reelaboração, na escrita, como dos correlatos. Não se configuram elementos/situa-
conhecimento: ções (Hébrard, 1993) que se dimensionam, como
passagem da oralidade para a escrita, a partir da
[...] depois que o Albino Frias lhe devolveu o se-
palavra oral africana. As formas de apropriação de
gundo artigo, com a justificativa que destoava intei-
leitura desse escravo, quase sempre sem um conta-
ramente da serenidade e das idéias do jornal — em-
to direto com o texto, são mediadas pela voz de um
bora fosse uma pequena obra-prima de crônica polí-
branco que lê para outro branco:

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que escuta uma oralização de uma escrita, mas que


[...] principiou com a voz sonora e desembara-
sabe que essa leitura não é feita para ele. É o que dife-
çada a leitura de uns contos fantásticos, que faziam o
rencia esse leitor negro, ouvinte, da sociedade brasi-
enlevo da velha e de Rosalina [...] às vezes lia para ela
leira do século XIX, do leitor participante das leituras
ouvir algum romance ou a Bíblia que era o seu livro
em voz alta, bastante populares e difundidas na Fran-
favorito [...] um mancebo lê um dos volumes das Dé-
ça do século XVIII e XIX (Chartier, 1990, 1993).
cadas de Barros. Defronte um ancião, recostado so-
A imagem da leitura onde: “Ler o folhetim che-
bre a mesa, presta à leitura a mais interessante aten-
gou a ser hábito familiar nos serões das províncias
ção. No canapé, uma jovem e bela senhora dá igual
e mesmo da Corte, reunidos todos os da casa, per-
atenção à leitura do mancebo [...] (Alencar, 1990,
mitida a presença de mulheres”, não apresenta o es-
1982).
cravo, a não ser como serviçais: “escravas decente-
São mediadas pelas imagens religiosas, repetin- mente vestidas ofereciam chavenas de café...” (Broca,
do-se no texto o que se apropriou da imagem. “Den- 1979; Ewbank, 1973).
tro de casa, rezava-se de manhã, à hora das refeições, Como leitores ouvintes, o que os define, nes-
ao meio-dia, e de noite, no quarto dos santos — os sa forma socializada de leitura, ainda é o vínculo
escravos acompanhavam os brancos no terço e na dessa leitura/escrita com o trabalho. Principalmente
salve-rainha” (Freyre, 1989). Pelas casas, janelas e nos espaços urbanos, pela inserção no mercado de
portas, “grudavam-se papéis com orações” para pro- trabalho, onde os escravos de ganho aprendem não
teger a família. Pelo corpo, os malês atavam, no pes- só a língua, mas a contar: “Meu conhecimento de
coço, papéis com orações para livrá-los da morte. Língua Portuguesa melhorou rapidamente enquan-
Ou mediadas pelo canto, que, pelo movimento, to estava ali e, muito breve, conseguia contar até
se apropria da textualidade, através dos elementos cem. Fui então encarregado pelo meu senhor de ven-
rítmicos da oralidade, vindos, muitas vezes, do latim. der pão” (Eisenberg, 1989).
“Os escravos de ganho eram mandados pelos
Havendo capelão, cantava-se Mater-Purïssima,
seus senhores à rua, para executar as tarefas a que
ora pro nobis [...] Quando trovejava forte, brancos e
estavam obrigados, e no fim do dia tinham que en-
escravos reuniam-se na capela ou no quarto do santuá-
tregar a seus proprietários uma determinada quan-
rio para cantar o bendito, rezar o Magnificat [...] Os
tia por eles previamente estipulada.” (Gorender,
muleques, meninos de coro nas igrejas. Várias capelas
1978). A literatura cria as imagens de amas negras
de engenhos tiveram coros de negros (Macedo, 1982)
e negrinhas, serviçais da casa, servindo de confiden-
Instaura-se, para esse escravo negro, uma tes da leitura de uma carta. De uma leitura que não
maneira de ler, desenvolvida a partir de pistas, muitas é para elas, mas que compartilham, pela afetividade.
delas apropriadas da oralidade, como a do ritmo Como imagens de confidentes de leitura, nunca de
através da leitura ouvida das poesias em saraus e leitoras, a sua representação é mais uma vez de pas-
serões. sividade, de falta de capacidade intelectual, justa-
mente por ser ouvinte de algo que não se dirige a
[...] Um sarau é o bocado mais delicioso que
ela. Como a orientação da palavra (Bakhtin, 1981a)
temos... O velho lembra-se dos minuetes e das canti-
em função do interlocutor assume uma grande im-
gas de seu tempo... e o moço goza todos os regalos de
portância, na oralização, pela altura e entonação da
sua época [...] finalmente, como cheguei a fazer algu-
voz, pelo corpo, a representação do negro que es-
mas quadras, pediam-me para recitar sonetos em dias
cuta essa leitura é a do curioso, porém incapaz de
de anos e assim introduziram-me em mil reuniões [...]
compreender essa situação de leitura.
(Macedo, 1982).
Como ouvinte dos ouvintes, fora do universo
Configura-se um leitor ouvinte, ou um leitor da obra literária, é que assiste, com o beneplácido

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do senhor, como serviçal, a essa leitura de folhetins, para “negros e muleques barrados nas primeiras
de romances, publicações semanais e quinzenais dos escolas jesuíticas, negros e muleques retintos” (Frey-
periódicos. A leitura em voz alta é, mesmo assim, re, 1989), as relações do negro com a leitura se es-
o vínculo inicial entre o escravo ágrafo e a textua- tabelecem na voz e não no texto, nas representações
lidade. E o é também para os crioulos dos serviços feitas nos discursos sobre ele — sua cor, sua con-
domésticos. dição social, sua capacidade intelectual.
As imagens de meninos negros que levam bi- Representado como ouvinte, sendo ouvinte, a
lhetes, recados, trazem folhetins, configuram a re- sua representação de leitura se impregna dessa pos-
presentação do “muleque” — ou daquele que é por- tura de ouvinte. Ouvinte de textos, como leitor dian-
tador do objeto, mas não o seu leitor. te de um texto, não se descobre nele, ainda que te-
nha memorizado, pelo ritmo da reza e da repetição
Eu tinha visto junto à porta nº 3 um moleque
das narrativas folhetinescas, a sua estrutura e seu
com todas as aparências de ser belíssimo cravo da
desenvolvimento. Representado como inferior, com
Índia... eu podia muito bem mandar-lhe um recado
pouca capacidade intelectual, interioriza compor-
pelo qual me fizesse conteúdo. E assim avancei para
tamentos de despossessão, de exterioridade em re-
o moleque [...]
lação à escrita.
— Hás de me levar um recado à sua D. Joana. O modo de ser desse leitor negro inscreve-se
— Pronto, lesto e agudo, respondeu-me o mo- em duplo percurso: aquele que, originado de uma
leque (Macedo, 1982). representação literária, o faz ver-se como um sel-
vagem, inferior, e que deve se transformar em civi-
[...] ou de recados trazidos pelas negras boce-
lizado para conseguir ser leitor, e aquele que, vin-
teiras [...] onde os viajantes eram abordados por es-
do da oralidade, da leitura ouvida, cria um pré-sa-
cravas alcoviteiras com recadinhos (Freyre, 1989).
ber da escrita, mas não o leva a uma identificação
De um “muleque” curioso, que escuta as lições com a leitura, com o ser leitor.
no método fônico, o Valdetaro, que alfabetiza as Antes mesmo de ter fim a escravidão e antes
crianças brancas: “...Quando entramos, fomos sau- da República, há uma reorganização cultural que
dados pelo animado murmúrio das crianças, que acentua mais a complexidade das relações entre os
recitavam em coro a lição em cômodo contíguo. grupos sociais negros e brancos. “Diga-se de pas-
Fomos até lá e deparamos com dez ou doze meni- sagem que, com a República, os termos liberto e ex-
nos sentados em bancos, decentemente trajados, escravo desaparecem do vocabulário dos políticos
todos lendo juntos em voz alta” (Koster, 1942; Ew- e das páginas de jornais e periódicos... Perseguir os
bank, 1973; Vilhena, 1969) egressos da senzala implicava agora acompanhar a
Algumas vezes, aos meninos brancos, se reú- designação preto, pardo, negro, mulato.” (Pesaven-
nem “crias e muleques, todos aprendendo a ler e a to, 1989).
escrever, a contar e a rezar” (Graham, 1956). Des- A substituição da mão-de-obra do escravo pelo
sa cantoria, dessas letras soletradas com os ês da fo- branco, europeu, imigrante, que mostra uma rede-
nética de tal método de leitura, dessa mistura com finição das condições de trabalho, não integrando
textos religiosos de estruturas, orações e desinências o negro ao trabalho livre, configura outras represen-
latinas, se traça uma certa orientação para a tex- tações.
tualidade. Ou uma pré-orientação, que busca en- A do negro que gosta de batuque, do ócio, de-
contrar no texto essa oralização, esses elementos socupado: “A cidade voltara a encher-se de negros
repetitivos, essa relação som-letra, como se as sig- desocupados, tangidos do interior para a capital,
nificações do texto estivessem nessas partes. ainda no fluxo suscitado pela notícia da liberdade”.
Não havendo professores de leitura e escrita Ou a do que não se integra ao ritmo da mo-

60 Set/Out/Nov/Dez 1995 Nº 0
Literatura e história

dernização: “Gastos no trabalho servil, os negros


velhos já pouco renderiam aos seus senhores...”
SARITA MARIA AFFONSO MOYSÉS é professora
(Montello, 1981). de Metodologia de Alfabetização da Faculdade de Educa-
A do negro que continua sem responsabilida- ção da UNICAMP. Doutora em lingüística pela USP, livre
de, não fazendo uso da razão, como uma criança docente pela UNICAMP, trabalha com História da Alfabe-
(Castro Alves, 1988): tização, História das Práticas de Leitura, com enfoque es-
pecial na leitura em voz alta e nas transformações dos mo-
... Choras de rir... pobre criança! dos de ler no século XIX e no início deste século.
Que queres, infeliz
Amigo, eu quero o ferro da vingança.
Se o canto pára um momento Referências bibliográficas
Chora a criança imprudente...
Mas continua a cantiga ALENCAR, J., (1982). Senhora. 11.ed. São Paulo: Ática.

E ri sem ver o tormento __________, (1990). Lucíola. 13.ed. São Paulo: Ática.
Daquele amargo cantar ASSIS, M., (s.d.). Crônica de 24/03/1862. Diário do Rio de
Janeiro (1861-1863). São Paulo: Formar.
Não se configura as representações de um lei-
BAKHTIN, M., (1981a). Marxismo e filosofia da linguagem.
tor negro. O embranquecimento dessa sociedade,
São Paulo: Hucitec.
pela imigração, pelas teorias racistas em torno do
__________, (1981b). Le principe dialogique. Paris: Seuil.
mulato, pelas representações do negro como estran-
geiro que deve voltar à África2 correspondem a um __________, (1988). Questões de literatura e de estética. São
Paulo: Hucitec.
embranquecimento da palavra escrita, como forma
de legitimação de uma democracia racial. BENCI, J., (1977). Economia cristã dos senhores no governo
de escravos (1700). São Paulo: Grijalbo.
Identificada a leitura com esses valores, ensi-
nada na escola, é a visão técnica da escrita que se BROCA, B., (1979). Românticos, pré-românticos, ultra-
românticos. São Paulo: Polis.
impõe para o indivíduo dos grupos negros, em um
movimento evolutivo e linear. As representações de BURLAMAQUE, F.L.C., (s/d). Analytica acerca do com-
mercio de escravos e acerca dos males da escravidão do-
suas leituras que ainda mostram, no final do século
méstica. Ed. fac-símile, s/d.
XIX, a influência da oralidade, de uma tradição
CASTRO ALVES, (1988). Os escravos. Ed. fac-símile. Rio
oral, africana, são tomadas de forma negativa, car-
de Janeiro: Francisco Alves.
regadas de valores de inferioridade, de selvagem.
CERTEAU, M., (1990). L’invention du quotidien: arts de
Para ser leitor, é necessário embranquecer. Para em-
faire. Paris: Gallimard.
branquecer, é necessário que o indivíduo negro rom-
CHARTIER, R., (1990). Loisir et sociabilité: lire à haute
pa com o seu grupo, seus valores. História de lei-
voix dans l’Europe Moderne. Literatures Classiques, 12,
turas, história de rupturas.
jan.
2A discussão sobre a separação entre o indivíduo ne- __________, (1993). Trajectoires et tensions culturelles de
gro e seu grupo, pela interiorização de mecanismos para essa l’ancien regime: Les formes de la culture. Paris: Seuil.
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