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Crianças com necessidades especiais:

ajuda para pais cansados.


Traduzido do original em inglês
Your special needs child: help for weary parents,
por Stephen Viars
Copyright ©2011 Stephen Viars

Publicado por New Growth Press,


Greensboro,
NC 27404

Copyright © 2016 Editora Fiel


Primeira Edição em Português: 2018

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER


MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Diretor: James Richard Denham III


Editor: Tiago J. Santos Filho
Coordenação Editorial: Renata do Espírito Santo
Tradução: D&D Traduções
Revisão: D&D Traduções
Diagramação: Wirley Correa - Layout
Capa: Wirley Correa - Layout
Ebook: João Fernandes
ISBN: 978-85-8132-509-5
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

V619c Viars, Stephen, 1960-


Crianças com necessidades especiais : ajuda para pais cansados /
Stephen Viars. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2018.
2Mb ; ePUB

Tradução de: Your special needs child : help for weary parents.
ISBN 978-85-8132-509-5
de filhos com deficiências – Vida religiosa. 2. Parentalidade – Aspectos religiosos –
Cristianismo. 3. Crianças – Formação – Aspectos religiosos – Cristianismo. I. Título. II.
Série.
CDD:
248.845

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APRESENTAÇÃO DA SÉRIE
Gilson Santos
Jay Adams, teólogo e conselheiro norte-americano, nascido em 1929, foi
professor de Poimênica no Seminário Teológico de Westminster, em
Filadélfia, no estado de Pensilvânia, Estados Unidos. Adams é um respeitado
escritor e pregador, genuinamente evangélico e conservador. Enquanto
lecionava sobre a teoria e a prática do pastoreio do rebanho de Cristo, ele viu-
se na necessidade de construir uma teoria básica do aconselhamento pastoral.
Rememorando a sua trajetória, Adams nos informa que, tal como muitos
pastores, não foi muito o que aprendeu no seminário sobre a arte de
aconselhar. Desiludido com suas iniciativas de encaminhar ovelhas para
especialistas, ele buscou assumir um papel pastoral mais assertivo e
biblicamente orientado no contexto de aconselhamento.
Em seus esforços, crendo na veracidade e eficácia da Bíblia, Adams
estabeleceu como objetivo salvaguardar a responsabilidade moral dos
aconselhandos, entendendo que muitas abordagens terapêuticas e poimênicas
a comprometiam. Em seu elevado senso de respeito e reverência às
Escrituras, Adams reconheceu que a Bíblia é fonte legítima, relevante e rica
para o aconselhamento. Ele propôs que, em vez de ceder e transferir a tarefa a
especialistas embebidos em seus dogmas humanistas, os ministros do
evangelho, assim outros obreiros cristãos vocacionados por Deus para
socorrer pessoas em aflição, devem ser estimulados a reassumir seus
privilégios e responsabilidades. Inserido em uma tradição que tendia a
valorizar fortemente as dimensões públicas do ministério pastoral, Adams
fincou posição por retomar o prestígio das dimensões pessoais e privativas do
ministério cristão, sobretudo o aconselhamento. Nisto seu esforço se revelou
de importância capital. De fato, basta examinar a matriz primária do
ministério cristão, que é a própria pessoa de Jesus Cristo, para concluir que,
diminuir a importância e lugar do ministério pessoal trata-se de uma distorção
grave na história da igreja. Adams defende, assim, que conselheiros cristãos
qualificados, adequadamente treinados nas Escrituras, são competentes para
aconselhar.
Adams também assumiu com seriedade as implicações do conceito cristão
de pecado para o aconselhamento. Em resumo, ele propõe que o cristianismo
não pode contemplar uma psicopatologia que prescinda de um entendimento
bíblico dos efeitos da Queda, e da pervasiva influência que o pecado exerce
no psiquismo dos seres humanos. Por esta razão, a abordagem que ele propôs
chamou-se inicialmente de “Aconselhamento Noutético”. O termo noutético
é derivado de uma palavra grega, amplamente utilizada no texto
neotestamentário, que significa “por em mente” – formado de nous [mente]
e tithemi [por]. O uso de nouthetéo nos escritos paulinos sempre aparece
estritamente associado a uma intenção pedagógica. O aconselhamento
noutético seria então aquele que direciona, ensina, exorta e confronta o
aconselhando com os princípios bíblicos. De acordo com a noutética, o
aconselhamento se dá em confrontação com a Palavra de Deus. Visando não
apenas uma mudança comportamental, ele objetiva a inteira transformação da
cosmovisão, oferecendo as “lentes da Escritura” ao aconselhando. Num
momento posterior, esta abordagem passou a denominar-se exclusivamente
“Aconselhamento Bíblico”.
Sobre estas bases, em 1968 Jay Adams deu início, no Seminário Teológico
de Westminster, em Filadélfia, ao CCEF - Christian Counseling and
Education Foundation (Fundação para Educação e Aconselhamento Cristão),
inaugurando um novo momento na história do aconselhamento cristão.
Adams lançou os principais conceitos de sua teoria de aconselhamento na
obra “O Conselheiro Capaz” (Competent to Counsel), publicado em 1970; a
metodologia foi condensada no “Manual do Conselheiro Capaz”, publicado
em 1973. No Brasil, a Editora Fiel foi pioneira na publicação dessas duas
obras; a primeira edição de “Conselheiro Capaz” em português foi publicada
em 1977 e o volume com a metodologia publicado posteriormente. Adams
também foi preletor em uma das primeiras conferências da Editora Fiel no
Brasil direcionada a pastores e líderes.
O legado de Adams no CCEF foi recebido e levado adiante por novas
gerações. Estas procuraram manter-se alinhadas com o núcleo central de sua
proposta, ao mesmo tempo em que revisaram aspectos vulneráveis, e
defrontaram-se com algumas de suas tensões ou limites. Alguns destes novos
líderes e conselheiros notabilizaram-se. Estes empenharam-se por um foco
mais direcionado ao ser do que no fazer, colocando grande ênfase nas
dinâmicas do coração, particularmente no problema da idolatria. Também
procuraram combinar o enfoque no pecado com uma teologia do sofrimento.
Procuram oferecer considerações ao social e ao biológico, com novos
enfoques para as enfermidades, inclusive para o uso de medicamentos. É
igualmente notável a ênfase no aspecto relacional do aconselhamento na
abordagem desses novos líderes. Alguns estudiosos do movimento ainda
apontam uma maior abertura e espírito irênico dessas gerações sucedâneas,
particularmente em sua confrontação com outras abordagens poimênicas ou
terapêuticas.
A Editora Fiel vem novamente oferecer a sua contribuição ao
aconselhamento bíblico, desta vez colocando em português esta série que
enfoca vários temas desafiantes à presente geração. A série original em inglês
já se aproxima de três dezenas de livretos. Este que o leitor tem em suas mãos
é um deles. Tais temas inserem-se no cenário com o qual o pastor e
conselheiro cristão defronta-se cotidianamente. Os autores da série pretendem
oferecer um material útil, biblicamente respaldado, simples e prático, que
responda às demandas comuns nos settings, relações e sessões de
aconselhamento cristão. Se este material, que representa esforços das
gerações mais recentes do aconselhamento bíblico, puder ajudá-lo em seus
desafios pessoais em tais áreas, ou ainda em seu ministério pessoal, então os
editores podem dizer que atingiram o seu objetivo.
Boa leitura!
Gilson Carlos de Souza Santos é pastor da Igreja Batista da Graça, em São
José dos Campos, possui bacharelado em Teologia e graduação em
Psicologia, e dirige o Instituto Poimênica cujo alvo é oferecer apoio e
promoção à poimênica cristã.
Introdução
Qual a pergunta número um feita a pais que estão esperando um filho?
“Você quer que seja um menino ou uma menina?”. E qual é a típica
resposta? “Não importa, desde que meu bebê seja saudável”. Essa resposta
aparentemente inocente pode revelar uma crença fundacional que reside no
coração de muitos de nós: de que há poucas coisas piores para um pai e uma
mãe do que ter um filho que não é saudável. A possibilidade de nós (ou
alguém que amamos) termos um filho com necessidades especiais evoca um
forte medo. Vamos conversar sobre esse medo.
Quem é você?
Nós gostaríamos de estar tendo essa conversa em nossa mesa da cozinha.
Teríamos o maior prazer em ouvir sua história antes de pedir para você ouvir
a nossa. Minha esposa Kris faz uma deliciosa xícara de café com rolinhos de
canela que parecem ser de outro planeta. Por que não imaginar eu e você
conversando dessa forma? Nossa oração é que este livro soe menos como
uma discussão acadêmica e mais como um papo entre amigos.
As pessoas geralmente pegam um livreto como esse para ler por uma razão
específica. Qual é a sua? Talvez você tenha acabado de saber que seu filho
tem alguma dificuldade física ou mental. Provavelmente esse diagnóstico se
refere a um de seus netos ou a alguém com quem se importa profundamente.
Deus pode ter trazido uma pessoa com necessidades especiais para sua igreja
e você se pergunta qual é a melhor forma de demonstrar amor pela família.
É claro, esse formato não nos permite ouvir o que especificamente o
motivou a lê-lo, como uma conversa permitiria. Mas, amigo, Deus sabe.
Você crê nisso? A Palavra dele vai tão longe a ponto de afirmar que “até os
cabelos todos da cabeça de vocês estão contados” (Mt 10:30). Sua história –
passado, presente e futuro – não está escondida de seu olhar compassivo.

Quem somos nós?


O Senhor abençoou a mim e a Kris com três filhos, dois dos quais são
adotivos. Nosso filho adotivo Andrew é cego e tem diversas outras
dificuldades mentais e físicas. Em muitos aspectos, ele age como uma criança
pequena e talvez nunca possa viver por si próprio.
Enquanto escrevo, Andrew acaba de completar dezoito anos. Nós estamos
no processo de organizar nossa casa para cuidar dele como um adulto.

Uma experiência de aprendizado


Não temos desejo algum de amenizar a nossa história. Há alguns aspectos
quanto ao cuidado com Andrew que são difíceis todos os dias. Deficiências
físicas e mentais são o resultado de um mundo mergulhado no pecado. Mas
nós temos aprendido que difícil não é necessariamente ruim. Temos
experimentado que Deus pode verdadeiramente fazer todas as coisas
cooperarem para o nosso bem (Rm 8:28).
Dois mil anos atrás, Jesus fez o seguinte convite:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11:28-30)
Essa passagem maravilhosa deu a nossa família quatro verdades
fundamentais que nos guiaram na criação de Andrew de uma forma que
honra ao nosso Senhor.

1) Seja Sincero Quanto à Dor


Deus não espera que o seu povo tenha um sorriso falso cobrindo um
coração partido. Todos os pais têm sonhos e aspirações para os seus filhos.
Imaginá-los praticando esportes, casando-se, tendo uma família e cuidando
de você quando envelhecer é absolutamente normal para qualquer pai ou mãe
que contempla o nascimento de um filho. Muitas vezes, esses sonhos são
destruídos quando você é informado sobre o diagnóstico de seu filho.
Seu filho talvez nunca consiga falar. A expectativa de vida dele pode ser
diminuída em um grau muito grande. Ele pode nunca conseguir demonstrar
ou retribuir amor e talvez nunca pratique esportes, suba em uma árvore, leia
um livro ou saia para um encontro.
Seu filho talvez necessite de cuidado por toda a vida. Ela pode nunca
conseguir se alimentar sozinho ou usar o banheiro sem ajuda. Palavras
simples como “mamãe” e “papai” talvez nunca saiam de sua boca.
Nunca. Essa é uma palavra difícil para qualquer pai ou mãe ouvir. Mas essa
é a realidade de muitos pais a quem foi dado o desafio e o privilégio de criar
um filho com necessidades especiais.

Reconheça o peso do seu fardo


Em seu convite, Jesus falou a pessoas que estavam “cansadas e
sobrecarregadas”. Ele não ignorou a adversidade e a dor que advêm de viver
em um mundo caído.
Cuidar de uma criança com necessidades especiais pode ser exaustivo. Nós
passamos por isso ao cuidar de um filho cego. Uma das primeiras lições que
aprendemos foi que dormir não faz qualquer sentido para Andrew. Está
sempre escuro em seu mundo, portanto, por que não acordar às duas da
manhã? Ele passou anos e anos sem nunca ter dormido à noite. Nunca.
Andrew também teve muita dificuldade para aprender a andar. Porque ele
não podia ver, ele não tinha motivação para se levantar e ir a algum lugar ou
pegar alguma coisa. Ele nunca viu outra criança andar para ter um modelo
para seguir. Levantar a cabeça tão longe do chão daquela forma era
aterrorizante para ele.
Andrew também tem problemas sensoriais complicados, especialmente nos
pés. Mesmo tocar o chão com os pés era extremamente doloroso. Isso
significava que, até Andrew completar oito anos, ele tinha que ser carregado
ou posto em um carrinho ou cadeira de rodas sempre que precisava se mover.
Houve muitos dias em que um de nós ou nós dois ficamos cansados e
sobrecarregados.

2) Clame ao Senhor
O que um cristão faz em uma situação como essa? Ignora a dor, porque
adultos não choram? Usa um sorriso amarelo? Simplesmente finge que está
tudo bem?
Abordagens como essas não passam nem perto daquilo que a Bíblia
defende nem são coerentes com o convite de Jesus. Deus quer que o seu povo
clame genuinamente a ele. Jesus disse: “Vinde a mim”. Ele nos chama para
trazer nossas perguntas, feridas e mesmo queixas até o seu trono de graça.
Uma passagem das Escrituras que valorizamos muito está em Salmos 61:1-
2: “Ouve, ó Deus, a minha súplica; atende à minha oração. Desde os confins
da terra clamo por ti, no abatimento do meu coração. Leva-me para a rocha
que é alta demais para mim”.
Em seu livro Soul Physicians, o conselheiro bíblico Robert Kellemen
escreve sobre a importância de se desenvolver franqueza espiritual — que
ele define como sendo contar corajosamente para si mesmo a verdade sobre
a vida, “em que fico face a face com a realidade do externo e o sofrimento do
interno”. Ele continua, dizendo: “Em franqueza, admito o que está
ocorrendo comigo e sinto o que está acontecendo dentro de mim”.1
Isso é completamente certo. Amigos, por favor, não ouçam pessoa alguma
que lhe diga que você tem de ser algum tipo de “supermãe” ou “superpai”
enquanto você cria seu filho com necessidades especiais. Um cristianismo
açucarado que nega a realidade do sofrimento nessa vida não é bíblico. Ele
não poderá sustentá-lo quando atravessar pelos desafios e provações que
estão à sua frente nessa jornada.

Não tenha medo de expressar suas perguntas, confusões,


dúvidas e queixas
Algumas pessoas realmente acreditam ser errado questionar Deus. Será?
Essa não é a mensagem da Bíblia. Por exemplo, o profeta Habacuque ficou
ferido e muito perplexo quanto a todas as injustiças ao redor dele. Então, o
que ele fez? Ele levou suas perguntas ao trono de Deus.
Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não
salvarás?
Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência
estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita.
Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o
justo, a justiça é torcida. (Hc 1:2-4)
É assim que soa uma conversa autêntica entre o Senhor e um de seus fiéis
servos. Comentando sobre os questionamentos de Habacuque, um escritor
disse:
Deus é o amigo daquele com dúvidas sinceras que ousa conversar com Deus em vez de sobre
ele. A oração que inclui um elemento que questiona Deus pode ser um meio de aumentar a fé.
Expressar dúvidas e clamar quanto a situações injustas no mundo mostram a confiança de
alguém em Deus e a certeza de que Deus tem uma resposta para todos os problemas
insolúveis da humanidade.2
O mesmo é verdadeiro quanto a um homem chamado Asafe. Ele escreveu o
Salmo 73, uma das discussões mais importantes sobre o sofrimento em toda a
Bíblia. Nós o encorajamos a beber profundamente da fonte desse salmo, que
fala sobre um homem que veio a Deus com perguntas e queixas. Ele o fez
muito respeitosamente — não há qualquer dúvida sobre isso. Mas ele
admitiu, com palavras que o próprio Jesus usaria mais tarde, que estava
cansado e sobrecarregado porque tinha questões e desafios que estavam além
de sua própria sabedoria e força.

Entenda que, fazendo isso, você está se assemelhando a Cristo


Jesus não só fez o convite, como também serviu de modelo desse tipo de
autenticidade emocional e espiritual. Você se lembra das palavras que Jesus
proferiu na cruz? “Tenho sede!” (Jo 19:28). “Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?” (Mt 27:46). O mesmo Salvador compassivo que nos
convidou a reconhecer situações que nos deixam cansados e
sobrecarregados estava disposto a fazer, ele próprio, o mesmo em seu
momento de grande necessidade.

E quanto a você?
Você está disposto a reconhecer honestamente o peso de sua situação?
Você chegou ao entendimento de que não há problema em chorar ao
considerar as necessidades especiais de seu filho? Você consegue admitir que
está sobrecarregado e cansado? Quando você pensa sobre o modo como
reagiu a esse processo até aqui, a palavra autêntico consegue ser uma
descrição correta? Se não, o que precisa ser mudado na forma como você
conversa com Deus e com os outros sobre as dificuldades que está
encarando?

3) Aceite a Responsabilidade
Jesus não somente nos encoraja a reconhecer nossa condição
sobrecarregada e cansada, como também nos chama para fazer algo quanto a
ela. Usando uma metáfora que todos naquele dia devem ter entendido, Cristo
convidou homens e mulheres desta forma: “Venham a mim [...] Tomem sobre
vocês o meu jugo e aprendam de mim” (Mt 11:28-29). John MacArthur
explica muito bem essa metáfora.
Um jugo era feito de madeira, à mão, para encaixar no pescoço e ombros daquele animal
específico que deveria carregá-lo a fim de prevenir atritos. Por razões óbvias, o termo foi
largamente usado no mundo antigo como uma metáfora para submissão. O jugo era parte dos
arreios usados para puxar uma carroça, um arado ou uma viga de moinho, e era o meio pelo
qual o dono do animal o mantinha sob controle e o guiava em trabalho útil.3

Sim, é um jugo
Um jugo permite ao usuário realizar algo difícil. Jesus foi totalmente
transparente quando explicou que segui-lo envolveria esse tipo de submissão
ao seu plano.
Nunca se esqueça de que esse jugo é de Cristo
Uma das palavras mais importantes que Jesus falou naquele dia para seus
possíveis seguidores foi também uma das mais curtas: meu. Todo desafio que
encaramos é o que o nosso Senhor e Salvador escolheu para nós.
Recordamo-nos da manhã quando o diagnóstico de Andrew ficou mais
claro. Estávamos no Hospital Pediátrico de nosso estado e Andrew foi
conectado a todo tipo de monitores e máquinas. Ele tinha apenas algumas
semanas de vida e nós não tínhamos sequer certeza de ele sobreviveria.
Nossos corações estavam cheios de medo, dúvida, dor e incerteza. Parecia
que estávamos no meio de um furacão onde não tínhamos ideia do que iria
acontecer depois. Nossas emoções estavam à flor da pele.
Olhando para trás, somos gratos por Deus nos ter criado com a capacidade
de sentir dor de uma forma rica e profunda. Era parecido com cair de uma
motocicleta em alta velocidade e derrapar pela rodovia enquanto a pele é
esfolada. A experiência com Andrew expôs partes da nossa existência que
normalmente não eram vistas. O volume foi aumentado em todos os aspectos
de nosso ser de uma forma que apenas a dor pode fazer.
Porém também somos gratos pelo fato de Deus nos ter dado mais que
nossas emoções. Enquanto estávamos profundamente sentidos, também
tentamos obter direção mental através de pensar biblicamente sobre o que
estava acontecendo conosco e dentro de nós. Eventualmente, aquilo levou a
uma conversa mental que foi mais ou menos assim:

1. Há algo nessa situação que esteja fora do controle de Deus? Não.


2. Deus poderia ter evitado que isso acontecesse a Andrew e a nós se
assim ele o tivesse escolhido? Sim.
3. Deus nos dará algo maior do que podemos suportar? Não.
4. Deus pode usar essa situação para a glória dele e para o nosso bem?
Sim.
5. Deus prometeu estar conosco enquanto tentamos criar nosso filho
para ele? Sim.
6. Iremos aceitar essa responsabilidade e procurar nos submeter ao seu
plano para a nossa família com alegria? Absolutamente sim.

Uma das razões por que você pode aceitar com alegria o jugo de criar um
filho com necessidades especiais é porque aquele que providenciou essa
oportunidade é manso e humilde de coração (Mt 11:29). Como o escritor de
Hebreus explicaria depois, Jesus é o nosso compassivo sumo sacerdote,
assentado no trono da graça (Hb 4:14-16). Qualquer jugo que ele ponha sobre
nós será posto com mansidão, humildade e abundância de graça.

Nunca será mais do que você pode suportar


O Senhor fez uma promessa incrível através do apóstolo Paulo a seus
seguidores em Corinto.
Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais
tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá
livramento, de sorte que a possais suportar. (1Co 10:13)
Talvez você esteja lendo isso e pensando, à luz de seus atuais desafios,
como essa promessa poderia possivelmente ser verdade. Uma resposta pode
ser a de que você pode “suportar” isso melhor se permitir que outros em sua
vida o auxiliem. A Escritura nos ordena o seguinte: “Levai as cargas uns dos
outros” (Gl 6:2). Às vezes isso significa nos humilharmos e estarmos
dispostos a receber ajuda de outras pessoas em nossa família, igreja e
vizinhança. Isso nem sempre é fácil para pessoas que gostam de ser
independentes e autossuficientes. Sim, há a preocupação legítima de que
ninguém pode cuidar de seu filho tão bem quanto você. Mas um dos modos
em que o fardo de Jesus é leve e suave é quando ele providencia pessoas para
nos ajudarem a carregar o peso.

Compare o peso de seu jugo com a glória da eternidade


A responsabilidade que Jesus nos deu é apenas temporária. Nós sabemos
que a sua reação pode ser: “Mas você não disse que talvez Andrew nunca
possa cuidar de si mesmo sozinho?”. Sim, nosso jugo nos foi dado por Jesus
para o carregarmos enquanto estivermos nessa terra. Mas esse jugo dura
apenas um segundo comparado a toda a eternidade. Esses primeiros dezoito
anos da vida de Andrew passaram incrivelmente rápido. Agora ele é mais alto
que a mãe e está rapidamente chegando a altura do pai. Parece que foi ontem
que o trouxemos do hospital para casa para começarmos nossa jornada.
A Palavra de Deus frequentemente nos chama a considerarmos nossos
desafios à luz da eternidade. Considere essas agradáveis passagens da Bíblia:
Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por
várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do
que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas
crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação
da vossa alma. (1Pe 1:6-9, ênfase adicionada)
Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa,
contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea
tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando
nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e
as que se não vêem são eternas. (2Co 4:16-18, ênfase adicionada)

E quanto a você?
Você já disse ao Senhor que irá aceitar com alegria o jugo dele? Houve um
tempo definido em sua vida no qual você reconheceu o seu pecado e pôs a
sua fé na morte, sepultamento e ressurreição de Cristo como sua única
esperança de salvação? É Jesus o seu Senhor, aquele qualificado para prover
a perfeita sorte de bênçãos e provações a fim de fazê-lo mais parecido com
ele (Rm 8:28-29)?
Se não, por que não tirar um momento para aceitar o convite de Jesus de
tomar o jugo dele sobre você?

4) Esteja pronto para uma aventura


Nunca haverá uma pessoa no céu que se arrependa de ter aceitado o jugo de
salvação e serviço de Jesus. O Senhor promete duas grandes recompensas
para aqueles que aceitarem o seu convite.

A aventura de aprender
Jesus disse que aqueles que aceitaram o jugo dele poderiam, por sua vez,
“aprender dele”. Nós dois (eu e minha esposa) podemos dizer que ter Andrew
tem sido uma oportunidade de aprendizado incrivelmente rica.
Por exemplo, nós aprendemos o poder do evangelho. As Escrituras nos
dizem que estamos unidos com Cristo em sua morte, sepultamento e
ressurreição. Pudemos entender o poder e a beleza da morte. O que quero
dizer com isso? Os desafios de Andrew algumas vezes revelaram o pecado
dentro de nossos próprios corações. Andrew não é a única pessoa em nossa
família com necessidades especiais. Quando esses pensamentos, palavras,
ações e desejos pecaminosos surgem em nossos corações e vidas, podemos
escolher condená-los à morte por causa daquilo que Cristo já fez por nós. O
privilégio de criar Andrew revelou aspectos de nossos corações e vidas que
Deus queria que identificássemos.
Felizmente, isso não para por aí, com a morte, porque o foco central do
evangelho é o túmulo vazio. Jesus está vivo, e, portanto, podemos abraçar a
nova vida que está disponível nele. Nós estamos aprendendo o que Paulo quis
dizer quando falou: “nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao
pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como
ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como
instrumentos de justiça.” (Rm 6:13). Se Jesus nos tivesse dado uma missão
mais fácil como pais, talvez não tivéssemos sido tão motivados a tomar
passos importantes no crescimento espiritual.
Nós também aprendemos sobre a suficiência da Palavra de Deus. Muitas
vezes nós não temos respostas. Mas pudemos reconhecer que essa posição de
dependência pode ser um lugar muito bom. Dizemos juntamente com o
salmista, “Antes de ser afligido, andava errado, mas agora guardo a tua
palavra” e “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os
teus decretos” (Sl 119: 67, 71).
Por último, nós aprendemos muitas lições sobre a suficiente graça de Deus.
Sentimo-nos como o apóstolo Paulo, quando ele pediu três vezes para que
Deus removesse seu “espinho na carne” (2Co 12:7). A resposta compassiva e
poderosa de Deus foi a seguinte:
Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De
boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de
Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. (2Co
12:9-10)
Esse não é um jugo que nós escolheríamos para nós mesmos. Mas agora
podemos ficar profundamente gratos porque Jesus mantém suas promessas.
Todo jugo que ele oferece inclui oportunidades para aprender. Sabemos mais
sobre nós mesmos e sobre o nosso Salvador do que jamais teríamos
aprendido se essa provação não tivesse sido confiada a nós.

A aventura do descanso divino


Jesus prometeu que daria descanso àqueles dispostos a tomarem sobre si o
jugo dele. Esse conceito é tão importante que foi mencionado duas vezes
nesse breve diálogo.
É engraçado para nós pensar na palavra descanso e no nome Andrew na
mesma frase. Sinceramente, os dois não se dão muito bem. Mas quando a
Bíblia usa a palavra descanso, frequentemente está se referindo a outra
coisa além do sono físico. “Descanso para sua alma” envolve paz, consolo e a
garantia de que Deus vai continuar a sustentá-lo enquanto você se apoia nele.
Parte disso é o descanso do contentamento. Nós estamos firmemente
convencidos de que cuidar de um filho com necessidades especiais é a
vontade perfeita de Deus para nós. Há um senso de paz e contentamento que
vem sobre você quando finalmente acredita que Deus tem um plano para sua
vida, e que o plano dele é bom. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso
respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o
fim que desejais.” (Jr 29:11).
Há também o descanso da alegria. Nós gostaríamos que você pudesse
conhecer Andrew. Gostaríamos que você pudesse vir até nossa casa uma
tarde e o ouvisse rir. Sim, ele tem necessidades especiais. Mas ele também
tem uma série de talentos e habilidades que trazem uma alegria imensa a
qualquer um que o conhece. Quase todos os dias, Andrew faz ou diz algo que
nos faz soltar uma sonora gargalhada.
Por último, temos o descanso da satisfação. Há muitos anos, uma família
da nossa comunidade veio para nossa igreja, sem qualquer convite, e nos deu
100 acres de uma bela propriedade. Ela tem muitas características incríveis,
como um açude de pescaria carregado de peixes. Esse era o presente perfeito
para uma família com uma criança cega. Nós passamos incontáveis horas
pescando no verão.
Certa tarde, quando o sol já estava se pondo, Andrew perguntou se nós
podíamos orar juntos para que ele pudesse confiar em Jesus como seu Senhor
e Salvador. Nós nunca quisemos forçá-lo a tomar essa decisão. Nós lhe
ensinamos o evangelho, mas sempre quisemos que a fé fosse uma decisão
que ele tomasse por si próprio. Gostaríamos que você pudesse estar lá,
naquele banco do lago, quando nosso filho com necessidades especiais
clamou a Jesus por arrependimento e fé. Ele tomou o jugo de Jesus sobre ele
e está agora aprendendo e crescendo nele. E a coisa mais bonita é que,
mesmo que ele tenha desafios e lutas que nunca irão embora, Andrew
também achou descanso para sua alma. Ter essa experiência como pais foi
uma das mais satisfatórias que já tivemos. Graças a Deus por nos dar um jugo
tão prazeroso!

1. Em seu livro Soul Physicians


2. Kenneth L. Barker e Waylon Bailey, The New American Commentary, vol. 20 (Nashville, Tennessee, EUA: Broadman &
Holman, 1998), 277-8.
3. John MacArthur, Matthew (Chicago, Illinois, EUA: Moody Press,
1989), 279.
Simples, Prático, Bíblico
Abordando temas como divórcio, suicídio, homossexualidade, transtorno
bipolar, depressão, pais solteiros e outros, os livros da série Aconselhamento
oferecem orientação bíblica para pastores e conselheiros que lidam com esses
assuntos difíceis em seus ministérios, e para pessoas que experimentam essas
situações de lutas e sofrimento em seus diversos contextos de vida. Leia-os,
ofereça-os a um amigo e disponibilize-os em sua igreja e ministério.
O Ministério Fiel tem como propósito servir a Deus através do serviço ao
povo de Deus, a Igreja.
Em nosso site, na internet, disponibilizamos centenas de recursos gratuitos,
como vídeos de pregações e conferências, artigos, e-books, livros em áudio,
blog e muito mais.
Oferecemos ao nosso leitor materiais que, cremos, serão de grande proveito
para sua edificação, instrução e crescimento espiritual.
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