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Presidente da República
LUIZ I NÁCIO L ULA DA S ILVA
Ministro da Cultura
JUCA FERREIRA
Diretoria Executiva
MYRIAM LEWIN
Diretora
Gerência de Edições
MARISTELA RANGEL
Gerente
Coordenação de Dança
LEONEL BRUM
Coordenador
Coordenação Geral de
Planejamento e Administração
ANAGILSA NÓBREGA
Coordenadora Geral
Roberto Pereira
Organização
AO LADO DA CRÍTICA
A história recente da dança
carioca através da
crítica jornalística – 1999-2009
VOLUME 2
2005-2009
Produção gráfica
JOÃO CARLOS GUIMARÃES
Assistentes editoriais
SIMONE MUNIZ
SUELEN BARBOZA TEIXEIRA
Revisão
ANALUIZA MAGALHÃES
Capa
PAULA NOGUEIRA
(recortes do Jornal do Brasil)
Arte-final digital
CARLOS ALBERTO RIOS
ISBN 978-85-7507-123-6
978-85-7507-125-0
CDD 792.80981
Agradeço a todos que me
ajudaram nesse percurso da crítica.
Nayse López, por ter me convidado
a escrever a primeira crítica.
A todos os editores e colegas
do Jornal do Brasil com quem
tive o prazer de trabalhar nesses
dez anos. Silvia Soter, colega
de ofício, amiga querida.
Sonja Gradel, por tudo, disso tudo.
...e que o mesmo signo que eu
tento ler e ser é apenas um possível
ou impossível em mim em mim
em mil em mil em mil...
C AETANO VELOSO
Sumário
20 06
2006 Pas-de-deux de
Tradição em corpo brasileiro / 95 história e renovação / 126
20 08
2008 “Transcriação” shakespeareana / 232
Muita literatura para pouca dança / 20
2011
Desafio é desfazer má
Em busca de uma identidade / 203 impressão da companhia
Russian State Ballet / 233
Voo rasante de uma
companhia com história / 205
Russos continuam devendo / 234
Falta ensaio, falta coesão / 206
Balé para gente pequena / 235
Coreografia cai na
Sobre o palco, um
armadilha da literatura / 207
ofício que se leva a sério / 236
Elenco de primeira,
repertório discutível / 208 Rigor sem espaço para o desvio / 237
Ânimo renovado para a temporada / 221 Quatro corpos descrevem o amor / 249
20 09
2009 A arte de criticar / 282
Falta ritmo à
companhia de Andrea Jabor / 265 As agruras de um
projeto não selecionado / 284
Mostra que cruza
a fronteira dos solos / 266 Bibliografia / 291
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Apresentação
JUCA FERREIRA
Ministro da Cultura
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Ao lado da crítica
SÉRGIO MAMBERTI
Presidente da Funarte
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O ofício da crítica em dose dupla
(para nossa sorte e deleite)
A IRTON T OMAZZONI
Coreógrafo, jornalista e diretor do
Centro Municipal de Dança de Porto Alegre
A palavra crítica vem do grego krimein, que significa “quebrar”, sentido que
também influenciou a formação da palavra “crise.” E, provavelmente, es-
tabelecer uma crise seja o papel decisivo de um crítico. Uma crise pode gerar,
por sua vez, vários estados: percepção, transformação, e até mesmo choque e
reação. Por isso, uma crise, mesmo que em primeira instância possa parecer
algo negativo, tem um papel determinante e fundamental, ainda mais quando
se fala em arte, ainda mais quando se fala em dança, num País de pouca memó-
ria e tão carente de informação qualificada sobre esta arte.
Por isso, é tão importante e significativa a publicação desta obra, reunindo
dez anos de produção sistemática dos críticos de dança Roberto Pereira (Jornal
do Brasil) e Silvia Soter (O Globo). Seus textos foram decisivos tanto para fazer
um retrato da dança na cidade do Rio de Janeiro, no período de 1999 a 2009,
quanto para um refinado exercício de reconhecimento e provocação do que e
como se produzia, do que se assistia, do que se fazia e se deixava de fazer nos
palcos e nos bastidores, na arte e na política do Brasil. Sim, porque o espaço
aberto por estes dois críticos não foi apenas para dar opinião a respeito de es-
petáculos e eventos. Ambos estiveram sempre atentos e dispostos a alertar, co-
brar, revelar ações e omissões que reverberavam diretamente na dança.
Talvez, por esses motivos, eu fale com certa inveja. Com a inveja de quem atua
em um cenário cultural (de Porto Alegre) que não possui, como outros tantos es-
tados desse País, um crítico atuando sistematicamente e com o mínimo conheci-
mento e vocação para tal ofício. Talvez por isso eu perceba com maior ênfase a
falta que faz o acesso a textos de uma escrita clara e precisa, que analisem a produ-
ção de dança, textos com posições devidamente argumentadas, textos que, quando
necessário, se permitem vibrar, amar, odiar, pois são textos de quem vive a dança,
conhece a dança e torce pela dança. Esses atributos fazem a diferença em um
cenário que, muitas vezes, é o de pseudocríticas de dança redigidas por alguém
sem o mínimo conhecimento da história da dança (sim, não apenas temos uma como
várias), de suas referências, de sua realidade local e global e que acha que emitir
impressões com uma escrita “bacaninha” dá conta do recado.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
As críticas de Silvia e Roberto são a constatação da diferença que uma
postura consistente faz e traz. Para tal, não precisamos concordar sempre com
suas opiniões, que não estão ali em busca de uma unanimidade, mas sim de
uma pequena (pois breve) e necessária porção de alteridade. Alteridade no
sentido de também compreender o mundo a partir do olhar outro, sensibiliza-
do pela experiência do contato com a(s) obra(s). E aqui não falo apenas dos
criadores, “alvo” das críticas, mas de todos os leitores que fazem do exercício
da crítica jornalística uma possibilidade de troca de experiência em dança, e
não só o público carioca. Quantas vezes me interessei por coreógrafos sobre
os quais li nos textos de Roberto e Silvia, quantas vezes descobri que os des-
conhecia, quantas vezes levei seus textos para sala de aula, quantas vezes
acolhi apontamentos que serviam como uma luva para o meu trabalho, quan-
tas vezes discordei e estabeleci argumentos para “no dia em que eu falar com
eles”. Enfim, que coisa mais saudável esta que uma boa crítica produz.
Também por isso a importância desta publicação. Por valorizar um ofício cada
vez mais raro. Pela oportunidade de ler esses textos tão fugidios no jornal que
no outro dia pode estar enrolando peixe. Pela chance de lê-los em conjunto. De
poder relê-los. De poder lê-los complementarmente a partir de duas perspecti-
vas tão singulares e capacitadas. Essa coletânea de críticas é um legado, num
cenário ainda árido da produção bibliográfica sobre dança no Brasil e pratica-
mente nulo no que se refere à crítica fora dos jornais e sites. Mas,
independente de tudo isso, o leitor poderá se deleitar com um generoso exercí-
cio de análise e com o olhar apurado de Roberto e Silvia.
Esta obra também pode ser uma forma de talvez começar a perceber a im-
prensa como um dos vértices fundamentais para que uma produção consistente
de dança se firme. Esta publicação, enfim, é um retrato de dois profundos co-
nhecedores, de dois sensíveis cronistas do seu tempo, donos de um texto perspi-
caz e inteligente, de dois apaixonados que fizeram, nesse período, um bocado
daquilo que precisa ser feito, mas poucos se arvoram, pois o ofício da crítica não
é só feito de louros e exige coragem e rigor. Coragem e rigor que sempre pri-
maram tanto Roberto, que nos deixou tão prematuramente e que tanta falta já
faz, quanto Silvia, que espero que prossiga compartilhando com a gente por mais
um bom tempo seus textos.
E que bom que o Roberto teve a ideia desta publicação, bem como a paciên-
cia de organizar seu material e o da Silvia, além de digitar todas as críticas.
Se ele não tivesse pensado e trabalhado por isso, estas continuariam nos arqui-
vos pessoais e não à nossa disposição. E crédito especial à Sonja Gradel, incan-
sável até descobrir uma forma de não ver engavetado todo o trabalho já feito
pelo Roberto.
Parabéns à Funarte, por assumir essa iniciativa e torná-la possível, com sen-
sibilidade e agilidade. Tenho a certeza de que a dança brasileira agradece.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Introdução
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
tenta conceder a essa mesma leitura quase um caráter narrativo. E disso, cer-
tamente, um sabor especial advém.
Esse sabor, que muitas vezes deve ter causado dissabores também aos per-
sonagens que habitam essas páginas, está latente em cada uma de suas linhas,
em cada parágrafo. Apenas não se deve esquecer de que, ao retirar essas críti-
cas do seu hábitat original e reagrupá-las em outro lugar, estamos falando mesmo
quase que de uma aventura romântica de preservação. Jornalismo cultural, que
carrega consigo a noção de cotidiano, do aqui e agora, ganha feições de uma
extensão no tempo e no espaço que não fazem parte de sua especificidade.
Implicados aí estão ganhos e perdas. O leitor não deve perder isso de vista, jamais.
***
A crítica de dança que se apresenta aqui é o exercício diário que permitiu mi-
nha formação profissional na área. Na verdade, trata-se de um exercício com-
partilhado principalmente com minha colega, e antes de tudo, amiga, Silvia So-
ter. Escrevemos há dez anos para os dois principais jornais da cidade do Rio de
Janeiro, ela para O Globo e eu para o Jornal do Brasil.
No início, o desafio era novo para ela e para mim: o de se fazer entender por
um público anônimo, de cuja amplitude não tínhamos qualquer dimensão. O al-
cance de cada palavra escrita por nós era algo pouco traçável, nos dois senti-
dos: tanto em direção ao artista criticado, quanto em direção ao público.
Nessa tarefa, a aprendizagem do código se tornou quase um enigma a ser
decifrado dia a dia, texto a texto. O “como se fazer entender por esse público
amplo” teria de vir aliado a outras tantas determinações, muitas vezes alheias
à nossa vontade, ou ao que ainda ingenuamente chamávamos de “estilo”. Dei-
xar claro de que espetáculo está se falando, quem é o artista, onde e até quan-
do ele se apresenta fazia pesar a prática do lead jornalístico quase como uma
bomba num texto que se queria algumas vezes puramente poético. Negocia-
ções começaram a ser feitas. Aqui e ali.
Ou mesmo o tamanho destinado para cada texto determinava a eficácia de
seu conteúdo. Dimensionar isso, exatamente, talvez tenha sido a aprendizagem
mais demorada para mim. Se o espaço é pequeno, cada palavra começava a valer
imediatamente mais. Quase ouro puro. E nada, nada mesmo a tornava substi-
tuível por qualquer outra palavra. A saída era ir sempre testando. Até hoje se
testa. E não há um resultado, um diagnóstico. Há a prática de quem realiza um
ofício cuja formação é um amontoado de aptidões: a facilidade em escrever, o
olhar aguçado, o incessante pesquisar sobre dança, e mais tantos etcs. pertinen-
tes que possam porventura caber aqui.
Outra informação que poucos leitores, e artistas, sabem: não somos nós que
escolhemos os títulos e as legendas que acompanham nossos textos. E também
não escolhemos as fotos que os ilustram. Algumas vezes, o título é pinçado de
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
alguma passagem de nossa autoria. Outras, ganha um colorido estranho, pró-
prio de um título que jamais seria dado por nós. Isso tudo fazia parte do modo
de acontecer de uma redação de jornal. Tudo. Algo muito simples de se enten-
der, mas que fincava de uma só vez uma bandeira que demarcava especificida-
des jornalísticas em minha escrita, área em que não sou formado.
Aliás, qual poderia ser minha formação como crítico? Tinha feito muitas e
muitas aulas de dança, começando meus estudos numa academia de minha ci-
dade natal, São José dos Campos, interior de São Paulo. Como acontecia com
todo rapaz em plena década de 1980, ganhei uma bolsa de estudos de minha
primeira professora, Damares Antelmo, e me lancei ao balé, ao jazz e ao sapa-
teado, mesmo que este último eu tenha abandonado logo de início. Em 1982,
lembro ter ficado impressionado ao assistir na televisão a uma jornalista falan-
do sobre dança de um modo inteiramente novo para mim. Helena Katz, na T V
Cultura, comentava o impacto da movimentação de Michael Jackson nos vide-
oclipes que acompanhavam o lançamento de seu álbum Thriller. E esse modo
reverberou em mim, e o faz até hoje, a certeza de que ali residia uma outra
possibilidade, absolutamente legítima, de se fazer dança também. Fui para a
capital paulista, onde me formei em Letras pela PUC/SP, e parei definitivamente
de fazer aulas de dança. Comecei, então, a participar do grupo de estudos or-
ganizado por Helena. Algumas coisas começaram a se encaixar.
Saí do País, fiz meu mestrado na Universidade de Viena, Áustria, cuja disser-
tação tinha como tema uma antiga paixão: o balé Giselle. Voltei ao Brasil, mais
especificamente ao Rio de Janeiro, em 1997, como convidado de minha irmã que
já era quase uma carioca. Nesse mesmo ano, conheci Silvia. Em dezembro, numa
reunião realizada na sala de ensaio de Lia Rodrigues, localizada no Teatro Villa-
Lobos, combinamos a primeira reunião daquele que viria a ser conhecido como
Grupo de Estudos em Dança do Rio de Janeiro. Começaríamos a nos reunir logo
no dia 19 de janeiro do ano seguinte, no estúdio da Silvia, no Jardim Botânico.
A existência desse grupo foi absolutamente fundamental para meu futuro
exercício da crítica. E logo nas primeiras reuniões, realizadas sempre às
segundas-feiras, às 19 horas, começou-se a delinear um núcleo que seguiria
adiante por mais seis anos: além de mim e da Silvia estavam Beatriz Cerbino,
Dani Lima e Lia Rodrigues.
As leituras, sempre combinadas de antemão, faziam um percurso sugerido no
início por Helena Katz. Depois, nossos desejos foram sendo naturalmente des-
pertos pela própria dinâmica das discussões que se davam nos encontros. Auto-
res como Antonio Damasio, Daniel Dennett e Richard Dawkins apresentavam
um novo universo a todos nós, que ficávamos incumbidos em traçar paralelos entre
toda aquela teoria e a dança. Fazíamos isso, claro, ao nosso modo. E fomos cons-
truindo ali uma ética da pesquisa, mas, sobretudo, uma estética do estar junto.
Lá no finzinho de 1999, em outubro, sai a primeira crítica da Silvia no Segun-
do Caderno do jornal O Globo. Sua incursão naquele universo complementaria
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
de forma exemplar o espaço dado por esse jornal à dança, sobretudo pelo em-
penho da jornalista Adriana Pavlova, responsável pela área até o ano de 2005.
Uma parceria e tanto foi construída ali, dia a dia, ano a ano. E o jornal passou
a desempenhar um papel fundamental nas questões sobretudo políticas que cir-
cundavam a dança carioca. E essa dança ganhou um outro status, diferente
daquele provindo de visitas esporádicas da crítica teatral Bárbara Heliodora a
apresentações de dança, geralmente restritas ao Theatro Municipal. A dança
virou uma prática jornalística também.
Logo em seguida, ainda no mês de outubro, Silvia começou a escrever sobre
o Panorama RioArte de Dança, um dos mais importantes festivais brasileiros
que, naquele momento, era dirigido por sua idealizadora, a coreógrafa Lia Ro-
drigues. Eu, desde o ano anterior, desempenhava ao lado dela o ofício de sua
curadoria. Pouco mais tarde, fui entendendo que curadoria e crítica eram ape-
nas interfaces de uma mesma mediação entre artista, obra e público. Mas como
não havia também nenhuma formação própria para “curador de dança”, tudo o
que eu fazia era ao mesmo tempo testado. E as maiores aulas que tive nesse
sentido vinham da experiência da própria Lia, que também aprendeu fazendo
aquele festival, mesmo que a duras penas, desde 1992.
Era uma experiência nova para mim e para Silvia: meu trabalho estava sen-
do, de alguma forma, criticado por ela. Curioso. Muito curioso.
Para o bem do Panorama e de toda a classe artística da dança carioca, críti-
cas sobre o festival passaram a ser constantes até o ano anterior ao que este
livro contempla. Escritas por Silvia, por Beatriz Cerbino, e mais tarde por mim,
quando deixei a curadoria do festival em 2004, todas as edições dos anos pos-
teriores, excetuando 2005, foram contempladas com críticas nos dois jornais. E
sua leitura, hoje, traça curiosos percursos de um festival que promovia, a cada
ano, estranhamentos poderosos num público que vinha lentamente se formando.
Por outro lado, infelizmente, nenhum dos importantes festivais e mostras que
existiram ou ainda existem na cidade do Rio de Janeiro foram contemplados
com críticas nossas desde seu início ou sem interrupções. O saudoso festival
D ança Brasil, por exemplo, teve sua primeira edição em 1997, com curadoria
de Leonel Brum, e foi a principal e muitas vezes a única investida em dança do
Centro Cultural do Banco do Brasil carioca. Sua última edição foi em 2004,
dando fim a um processo interessante de observação de imbricações entre dança
e outras linguagens artísticas, recorte eleito para balizar sua curadoria. De suas
oito edições, apenas as dos anos de 2000, 2001, 2003 e 2004 ganharam crítica
minha ou da Silvia. E uma inversão outra vez curiosa se deu aí: a partir de sua
sexta edição, Leonel convidou Silvia para dividir com ele a curadoria do festi-
val. E eu, como crítico, passei a criticar o trabalho dela, exatamente o inverso
de como havia acontecido há alguns anos.
E também os Solos de Dança no SESC, mostra de formato inédito entre nós,
e um dos principais eventos de dança do primeiro semestre carioca, que havia
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
se iniciado em 2000, pelas mãos de Beatriz Radunsky, só ganharam aprecia-
ções críticas nossas a partir do ano de 2002. Desde então, até o ano passado,
esta passou a ser uma ação ininterrupta, felizmente.
Mas o Rio de Janeiro contava, sim, com crítica de dança antes de começar-
mos, eu e Silvia, em 1999. Nayse López, então editora do Caderno B do Jornal
do Brasil, acumulava também a função de escrever críticas para sua editoria. E
foi justamente Nayse quem me convidou para escrever minha primeira crítica
(e única daquele ano), que saiu em dezembro de 1999. A partir de então, passei
a, timidamente ainda, dividir com ela esse espaço no Jornal do Brasil, até que,
depois de sua saída do jornal em abril de 2001, assumi sozinho o ofício.
Bem, não totalmente sozinho. Nessas trocas incessantes de posição, algumas
vezes crítico, algumas vezes curador, surgiu a oportunidade de convidar a pes-
quisadora Beatriz Cerbino para que me substituísse no Caderno B, em escritas
sobre o Panorama ou sobre algum espetáculo a que eu não poderia assistir por
uma razão ou outra. Beatriz havia sido minha aluna no Curso de Dança da
UniverCidade, e na época em que começou a escrever, me substituindo, em 2001,
cursava o mestrado em Comunicação e Semiótica da PUC/SP.
Em nosso segundo ano como críticos de dança, Silvia escreveu 15 textos,
e eu, o dobro do que havia escrito no ano anterior, ou seja, apenas dois textos.
E no ano seguinte, foram dez da Silvia e eu continuava dobrando minha quan-
tidade: quatro textos. Esse número passou lentamente a aumentar, para nós dois.
E nossa prática passou a ser uma dinâmica.
Começamos a perceber o que representava o fato corriqueiro, por exemplo,
de sentarmos lado a lado em uma estreia. Ou como nossos gestos eram lidos
durante ou após os espetáculos. Cada pequeno gesto. E como nossos textos fo-
ram demarcando dois estilos tão diferentes de leituras. E ainda, o que significa-
va fazer parte de um rol tão restrito no País de críticos de dança atuantes, que
encerrou o ano passado contando apenas com Helena Katz, em São Paulo (O
Estado de S.Paulo) e Marcelo Castilho Avellar, em Belo Horizonte (O Estado
de Minas).
Formação? Ela se dá ainda em continuidade. Silvia concluiu o mestrado
em Artes Cênicas pela UniRio em 2005 e eu, o doutorado em Comunicação
e Semiótica pela PUC/SP em 2003. Ambos sobre dança. E ambos os resulta-
dos foram publicados. Organizamos livros, participamos de festivais, comis-
sões, produzimos eventos e continuamos a dar aulas no mesmo curso supe-
rior de dança na UniverCidade. Um repertório que se alarga desde que
começou a existir. No caso da Silvia, quando ela tinha 13 anos e, no meu, quando
tinha 17. Muita dança de lá pra cá. Muita. E num desses mistérios que nos
cercam, essa quantidade toda, pelo menos quando se enfrenta a tela vazia
do computador ao iniciar a escrita de uma nova crítica, se transforma mila-
grosamente em qualidade.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Esse livro reúne críticas escritas por mim em dez anos. Curiosamente, nes-
te ano comemorativo de 2009, uma bailarina rasgou em cena a folha de jor-
nal que estampava uma crítica minha sobre seu espetáculo. Todas as leituras
de atos que se desdobram: algumas mais elegantes, outras mais emergenciais.
Todas legítimas.
Entre tantos erros e acertos, os textos aqui apresentados contam um pouco
da história e da percepção dessa história da dança entre nós, moradores da ci-
dade do Rio de Janeiro, ou apenas brasileiros. Para tanto, resolvi manter mi-
nhas versões originais dos textos. Assim, algumas vezes, temos uma mistura
interessante de títulos e legendas tal como figuram nos jornais e textos em ver-
sões que muito diferem daqueles publicados. Ou mesmo textos que seriam mes-
clados com outros textos de autoria de jornalistas, especialmente em balanços
de fim de ano, e que aparecem aqui apenas nas versões escritas por mim. Esta
era, finalmente, a (única?) chance de eles serem lidos como foram concebidos
originalmente. Resolvi também trazer aqui críticas que, por uma razão ou ou-
tra, não foram publicadas.
Ao leitor, resta meu pedido de lembrar, sempre, que se trata aqui não mais
apenas da crítica de dança, que tem tantas qualidades quando estampada no
suporte do jornal. Mas, antes, trata-se de um registro de um registro e, como tal,
só poderia existir admitindo seu recorte e as falibilidades decorrentes dele, assim
como assumindo as especificidades deste outro suporte, um livro.
Bom diagrama a todos. Um outro jeito absolutamente legítimo de se fazer
dança se inicia na página seguinte.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
2005 CRÍTICAS
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL - 22 DE ABRIL DE 2005
Falta coerência e coesão
ROBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL - 4 DE OUTUBRO DE 2005
Um divisor de águas
ROBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA
SEGUNDA-FEIRA•• 10 DE JANEIRO • 2005
Um tratado coreográfico
Sofisticado espetáculo de João Saldanha,
Soma investiga as estruturas e os códigos da dança
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
bailarinos estejam mais familiarizados com Com Soma, aquela velha lição que en-
a linguagem do coreógrafo do que outros, sina que uma parte de um organismo car-
como os veteranos Marcelo Braga e Laura rega consigo as informações de seu todo é
Sämy, existe entre eles uma ainda tímida relembrada. Mais que isso: é redimensio-
relação de cumplicidade que desponta em nada em dança, tarefa nada simples, mas
olhares entre si, e em uma presentidade de absolutamente possível, como prova a in-
dança que se dinamiza em processos até o teligência esperta de um coreógrafo como
fim do espetáculo. João Saldanha.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO• 15 DE JANEIRO • 2005
O acaso como um
importante parceiro
Soma: Espetáculo que não se submete a clichês
ou classificações e que fica na memória do espectador
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
alimentos. Nesse caso, os alimentos são dan- essa experiência – conseguem circular pe-
ças, no plural. Referências e memórias que, las diferentes e muitas vezes opostas quali-
depois de transformadas, surgem materiali- dades somáticas que a coreografia solicita,
zadas na movimentação dos intérpretes e no trocando de intensidades, direções e tônus
habilidoso projeto de composição. A peça de como quem troca de roupa. A trilha de Sa-
Saldanha é tecida, então, por linhas de movi- cha Amback e os figurinos de Francisco
mentos de diversos tempos, que se misturam Costa têm o mérito de criar, junto com o
e se fundem, umas nas outras, tramadas pelas espaço cênico metalizado, uma ambienta-
mãos experientes do artista. ção visual e sonora que dá conta de ser, ao
Em Soma, o coreógrafo realiza a façanha mesmo tempo, absolutamente contemporâ-
de fazer uma dança que não se submete a nea e atemporal. Do quarteto ao som de
clichês ou classificações.Seus seis ótimos e Elvis Costello ao final, Soma tem seu ponto
experientes intérpretes – alguns como Mar- alto, fazendo com que a dança que vaza para
celo Braga e Laura Sämy,parceiros de lon- a plateia siga na memória do espectador
ga data e outros recém-incorporados para muito tempo depois da noite terminada.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO• 5 DE FEVEREIRO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
relação da dança com a literatura, em 1998, trazia, reunida pela primeira vez na cidade,
com as artes plásticas, em 1999, com a iden- uma gama internacional enorme de produ-
tidade cultural e a noção de brasilidade, em ção de vídeo-dança, oferecida a preços mui-
2000, com o teatro, em 2001, com a tecno- to acessíveis ao público.
logia, em 2002, com as “Seis propostas para Tudo bem tudo isso. Mas é o que o Dan-
o próximo milênio” de Italo Calvino, em ça Brasil representava como lugar de re-
2003, com a música e, finalmente, em 2004, sistência num país cuja política cultural
com a ideia de espaço: todos temas muito para a dança é quase nula o mais premen-
relevantes transformados em um festival de te a ser pensado. Há muito, os festivais se
uma sabedoria muitas vezes pioneira, que tornaram a única possibilidade de nossos
reuniu não menos de 50 grupos e companhi- artistas circularem com seus trabalhos
as ao longo desses 8 anos. para fora de suas cidades. E os cachês pa-
Tudo bem que uma galeria de importan- gos por esses festivais representavam, e
tes coreógrafos cariocas ali se apresenta- ainda representam, muitas vezes, a sobre-
ram, como Lia Rodrigues, João Saldanha, vivência de companhias durante um tem-
Márcia Milhazes, Paula Nestorov, Márcia po considerável. Essa é a grande perda. Ir-
Rubin, Ana Vitória, Dani Lima, Paulo Cal- remediável, para um instituto que agrega
das, Esther Weitzman e Carlota Portella. E em seu próprio nome a ideia de cultura e
tudo bem que a mostra paralela de vídeo a palavra Brasil.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 25 DE FEVEREIRO • 2005
Operação arriscada
no palco do Rival
Isto é Brasil: Carlinhos de Jesus cria show
em que o destaque é a qualidade dos bailarinos
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Botafogo. A sempre bem-humorada e sedu- mato que se utiliza ele se destaca pela qua-
tora presença de Ana imprime mais tempe- lidade dos bailarinos. Todos acompanham
ro às misturas que são exploradas no show. Carlinhos de Jesus com competência e boa
Misturas e influências que tecem o Brasil do presença cênica, com destaque para Shei-
coreógrafo. Talvez Carlinhos de Jesus este- la Aquino.
ja igualmente afirmando o importante lu- A qualidade da equipe e da produção já
gar do balé clássico na dança carioca. aponta para o desafio que se impõe a Carli-
Ainda que Isto é Brasil não escape das nhos de Jesus: conseguir trazer para o palco
armadilhas desse tipo de empreitada, não o brilho e a originalidade com que brinda o
conseguindo trazer novos ares para o for- público carioca no Sambódromo, a cada ano.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO• 5 DE MARÇO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
que já merecia um solo em sua carreira tão (da bailarina? da coreógrafa?) fora de sua
especial na cena da dança carioca. biografia, como tão bem fala o título da obra,
Este parece ter sido também o caso de remete ao encontro inédito entre Esther e
Toni Rodrigues ao executar o terceiro Sueli Guerra. E a honestidade perpassa todo
solo da noite, criado por Alexandre Fran- o trabalho, mostrando ao público como Sue-
co: Corpo de papel nº 1. Marca do coreó- li vestiu-se justamente de Esther, trajando
grafo, a prolixidade que ali impera não apenas o que lhe cabia. O resultado é a
consegue reverberar na dança de Toni, medida exata de uma bailarina que se en-
embora esse bailarino venha provando, trega à coreógrafa, deixando que a maturi-
ao longo de sua carreira, que sabe dialo- dade das duas faça a dança vir à tona, mais
gar com diferentes estilos de diferentes do que qualquer outra coisa.
criadores. Esse deveria ser um dos gran- O crítico francês Roland Barthes, ao fa-
des méritos de qualquer bom bailarino lar de literatura, propunha uma distinção
que, nessa obra, ganha pouca chance de daquilo que denominava de “texto erótico”
acontecer. Entre os textos quase incom- de “texto pornográfico”: enquanto o segun-
preensíveis assinados e narrados pelo do esforçava-se por tudo mostrar, fazendo
próprio Alexandre e a superposição de uso do excesso e do previsível, o primeiro
elementos coreográficos, a ideia não se guardava consigo a qualidade de apenas
constrói, mas delineia-se apenas,resul- insinuar, de propor, convidando o leitor a
tando num tratado de múltiplas referên- preencher suas lacunas deliberadamente
cias muito confuso. ali presentes. Esta talvez seja uma lição para
O trabalho mais consistente da noite foi esse primeiro programa dos Solos de Dan-
o último a se apresentar,A vida fora da bio- ça no SESC. A sorte, porém, é que o texto
grafia,de Esther W eitzman. Duas qualida- dos corpos que ali dançam ainda resguarda
des estão presentes ali: ternura e honestida- o erótico barthesiano, aguardando uma ou-
de, que se transformam belamente em dan- tra oportunidade para se tornarem um tex-
ça. A ternura da (re)construção de uma vida to artístico, em todas as suas propriedades.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO• 12 DE MARÇO • 2005
Coreógrafos e bailarinos
em sincronia
Segunda semana do Solos de Dança
surpreende pela qualidade
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
ce e que traduz sua busca por uma lingua- jetivo, serve apenas para tentar traduzir o que
gem toda particular. João Saldanha, em fase brilhante de sua car-
Misturando duas referências muito dis- reira de coreógrafo, consegue tecer no corpo
tintas e ao mesmo tempo tão complemen- da jovem bailarina Mônica Burity. Tudo pa-
tares, Pra continuar a diversão chama a aten- rece convergir para a elegância de uma ideia
ção pelo frescor que esse tipo de encontro que vem ao mundo já configurada em sua
entre bailarina e coreógrafa pode suscitar. plenitude como coreografia, como movimen-
A primeira, Taís Vieira, traz consigo as in- to, como dança. O que é jovem e ao mesmo
formações da dança de rua. Ou seja, em seu tempo competente em Mônica assimila o que
corpo está a inscrição de uma vitalidade é experiência e marca de João, num desses
desafiadora e pouco conformada, caracte- encontros que só se pode agradecer aos deu-
rística dessa técnica e, sobretudo, dessa es- ses por ter um dia ocorrido. A sabedoria que
tética de dança. A segunda, Cristina Moura, se pode ver em Eles assistem e eu danço de-
vem de uma dança contemporânea que sarranja. Comove, no puro sentido do verbo.
dialoga firmemente com a performance, A noite de quinta-feira foi dedicada ao
sempre no intuito de questionar valores so- nosso grande mestre Dennis Gray, que ha-
ciais importantes e, ao mesmo tempo, polê- via falecido naquele dia, aos 81 anos. Um
micos. A mistura é absolutamente corajosa, de seus principais papéis sempre foi o Dr.
permitindo que explodam ali ideias novas Coppelius, do balé Coppélia, um fabricante
e provocadoras. Não à toa, a bailarina conta de bonecas. Na verdade, um fabricante de
em cena que o solo iria se chamar Pitbull. sonhos, que se adequava tão bem à qualida-
A ferocidade está lá. E sempre esteve, nas de da dança do bailarino Dennis. E à quali-
duas, cada uma a seu modo. E surge em es- dade do professor Dennis, cujo trabalho se
tado bruto como dança. espraia, de um jeito ou de outro, entre todos
O último trabalho da noite encerra a os solos desta mostra e de tantas outras que
mostra com um deslumbramento. O substan- ainda estão por vir, fazendo a história da
tivo aqui, carregado de sua qualidade de ad- dança nesta cidade.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 7 DE ABRIL • 2005
O balé do desencontro
Falta unidade no programa e entre bailarinos
marca espetáculo de Julio Bocca
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Já a obra De longe foi, sem dúvida, o cadeira e a mesa, além dos figurinos e da
ponto alto da noite. Com curiosas forma- própria coreografia, deixavam claro que ali
ções de conjunto,a coreografia exigia da era a vez do tango tipo exportação e dos
companhia um desempenho que, sobretu- momentos de virtuosismo técnico, especial-
doali, foi correspondido com toda precisão. mente do próprio Julio Bocca.
Os ótimos bailarinos estavam em plena Aliás, Bocca deixou evidente em todo
sintonia entre si e com a obra, principal- o programa que continua sendo um dos
mente nos belos duos, num momento pon- grandes bailarinos da atualidade. Os domí-
tual de todo o programa. nios técnico e cênico ganharam com a ma-
Finalizando,Piazzola tango vivo era turidade uma qualidade ímpar no bailari-
mais uma daquelas obras que facilmente en- no. Para nós, brasileiros, essa foi, sem dúvi-
cantam o público,mesmo que repleta de cli- da, uma boa oportunidade de revê-lo e de
chês e obviedades.Os indefectíveis objetos conhecer um pouco a ótima dança que nos-
de cena, quando o assunto é tango, como a so país vizinho desenvolve.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 10 DE ABRIL • 2005
Companhia de Goiás
dança com Elis e Tom
Só tinha de ser com você: Quasar encontra a MPB
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 10 DE ABRIL • 2005
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 15 DE ABRIL • 2005
A lição da bailarina
Flávia Tápias revela coragem
dançando cinco coreografias
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
corpo de Flávia um abrigo próprio de uma a se relacionar, de modo mais óbvio, com
bailarina que acolhe a dança de seu coreó- esse objeto cênico. E a literalidade do tema
grafo. Já em Da família dos crocodilos,afra- fica ainda mais óbvia com a canção que le-
gilidade da obra do diretor de teatro Paulo genda o movimento e vice-versa, no final
de Moraes está em impor a essa bailarina do solo.
uma dramaticidade que escapa ao que é A dança de Flávia Tápias merece toda a
movimento,ou seja, escapa à sua habilida- atenção. Uma jovem bailarina que sustenta
de que é a dramaturgia construída pelo e no em seu corpo tal desafio, com todas as fragi-
próprio movimento,em sua dança. lidades que esses encontros impõem, mas
Finalizando a noite,Giselle Tápias, mãe também com todos seus acertos, ensina para
de Flávia, assina Rede.A beleza da primei- os também jovens da dança que ser uma
ra cena, em que a bailarina parece flutuar verdadeira bailarina, por si só, é um ato de
sobre uma rede, infelizmente se desman- criação. E que apenas alguns estão realmen-
cha no momento em que se obriga a dança te preparados para isso.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
R I O D E J A N E I R O • S E X T A - F E I R A • 22 D E A B R I L • 2 0 0 5
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
as cenas, fragilizando ainda mais o todo da e do teatro, como quer Wotzik, demanda
obra, textos recheados de efeitos moralizan- tempo. Éticas pode ser visto como uma
tes teimavam em costurá-las, evidenciando etapa nessa ainda longa trajetória que o
que coesão e coerência, palavrinhas mági- diretor tem pela frente.Trata-se,então,de
cas para um espetáculo (de teatro e de dan- uma experiência. A nós,resta torcer para
ça), haviam sido esquecidas. que o movimento e o gesto que dali pos-
Elaborar um método de construção sam nascer não tenham vida curta por cau-
dramática, a partir de princípios da dança sa do clichê.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
CRÍTICA NÃO PUBLICADA
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 1 D
DEE MAIO • 200
20055
Espetáculo Esquecidos
de Catharina Gadelha
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 27 DE MAIO • 2005
Tempo de despertar
Montagem de A bela adormecida
imprime fôlego ao Ballet do Municipal
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO• 4 DE JUNHO • 2005
Empenho e capricho
não fazem obra transbordar
A bela adormecida:
À excelência do Ballet do Theatro Municipal,
agora sob os cuidados de Fauzi Mansur,
falta integração com a orquestra
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
poderiam estar nas páginas dos livros das No entanto, a soma dessas qualidades
fábulas de Perrault. A iluminação de Ma- não resulta num espetáculo de fato grandi-
neco Quinderé consegue integrar de ma- oso. Apesar do empenho da companhia e
neira harmônica os figurinos da Ópera de do capricho da montagem, a força de A bela
Paris – cheios de pequenos detalhes – ao adormecida não transborda o palco para
despojamento dos traços do cenário de conquistar a plateia. Mesmo o terceiro ato,
Eichbauer. Cenário, figurino e iluminação com sua sequência de variações em estilos
constroem uma imagem convincente e distintos,não consegue ganhar ritmo e ga-
atualizada do brilho e da grandiosidade da rantir um final à altura de A bela adorme-
corte de Luís XIV. A companhia, visivel- cida.Paravalorizar a colaboração única de
mente bem ensaiada, mostra grande en- gênios como Petipa e Tchaikovsky, melhor
trosamento nas danças de conjunto, em integração entre orquestra e balé é neces-
especial na valsa do primeiro ato. Essa sária. Numa obra em que música e coreo-
precisão do conjunto é especialmente im- grafia não têm vida independente, esse
portante para a geometria dos desenhos desajuste acaba por obscurecer as inúme-
construídos nas obras de Petipa. ras outras qualidades da montagem.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 4 DE JUNHO • 2005
Poético e orgânico
Por minha parte envolve a plateia
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
bamento mais refinado, pela chance de ela lo naqueles corpos, naqueles movimentos,
estar de fora dele, esculpindo o espaço de para que o todo dos bailarinos se torne or-
modo tão delicado e ao mesmo tempo tão gânico como o todo do próprio espetáculo.
vigoroso. A partir disso, mesmo com maturi- Para tanto, nada melhor que o tempo: o cor-
dades tão diversas de seus cinco bailarinos, po precisa aprender com calma o que é te-
Esther vem conseguindo imprimir neles seu cido ali em poeticidade. Por minha parte
vocabulário de movimentos, fruto de anos parece ser, então, apenas uma parte desse
de pesquisa. Claro, falta ainda amalgamá- rico processo.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA• 9 DE JUNHO • 2005
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O figurino de Alexandre Herchcovitch e força arrebatadora que desorganiza e faz
o desenho de luz de Jorginho de Carvalho mover – assume contornos apolíneos e a
trazem uma cor sombria e tribal à cena. Duas coreógrafa volta a circular por onde domi-
bailarinas são envolvidas pelo longo cabe- na e de onde seduz. Na primeira parte, fe-
lo. As Xipófogas capilares de Tunga são lizmente, o desejo leva a dança de Debo-
citadas e surgem numa nova versão. rah a flertar com o desconhecido e começa
Já no segundo ato,o elemento explora- a ventilar seu vocabulário coreográfico.
do é uma caixa de paredes transparentes, um Se muitos coreógrafos contemporâneos
grande aquário situado no centro do palco. apontam para direções diferentes a cada
Para essa cena, Deborah se inspirou nas vi- nova criação, o trabalho de Deborah pode
trines que expõem garotas de programa em ser caracterizado pela permanência de
Amsterdã. É a coreógrafa a primeira a ocu- marcas claras. A coreógrafa tem operado
par a caixa num bonito solo que acontece, no registro da dança-espetáculo. Suas pe-
de início,dentro dela. Nesse primeiro mo- ças são sempre grandiosas, contam com a
mento, a caixa funciona como uma prisão, participação de muitos bailarinos, com ce-
talvez numa referência à condição de apri- nários e figurinos sofisticados e com trilhas
sionamento imposta por alguns desejos,mas sonoras diversificadas onde o silêncio não
essa ideia se perde.Até o final da coreogra- tem lugar. Espetáculos que atraem até
fia, a caixa deixa de ser tratada pela sua aqueles que no resto do ano não acompa-
possibilidade de restrição e passa a ser ex- nham os caminhos da dança contemporâ-
plorada como suporte. Ela é preenchida por nea. Uma criação de Deborah é como um
homens e mulheres sensuais,ela é escala- jogo da seleção brasileira na final da Copa
da, contornada, empurrada e, finalmente, do Mundo. Até os nada aficionados não
girada. Nesse segundo momento,o desejo – deixam de ver.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 12 DE JUNHO • 2005
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
superfície que atrai e acolhe o corpo intei- fazendo surgir uma dança diferente, mais
ro, as batidas ritmadas de pés e mãos no fluida e mais simples, evocando novamente
chão, sacudindo a poeira, e os gestos que as danças populares brasileiras.
acariciam a terra, retornam renovados, O reaparecimento de elementos já
nessa peça. O silêncio entrecortado pela trabalhados em suas criações anteriores
regularidade da percussão do corpo no chão não significa, de modo algum, congela-
está ali, só que dessa vez, dialogando com a mento. Esther costura essas diversas refe-
música ao vivo do grupo Craquelê. A música rências a novos elementos com mãos sá-
ajuda a criar um recorte dentro da cena. Em bias. Essas questões de fundo se oferecem
alguns momentos, ela deixa de acompanhar como um fértil território onde a dança de
a coreografia e ganha o primeiro plano, Esther Weitzman se desenvolve e se renova.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 13 DE JUNHO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 23 DE AGOSTO • 2005
Descompassos
Desarmonia generalizada marca Noite transfigurada
R OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 24 DE AGOSTO • 2005
Schoenberg transfigurado
Cenários valorizam obra do
compositor alemão, mas não mascaram
fragilidade da coreografia
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Misailidis e Joseny Coutinho, respectiva- cam de frente com a elegância dos duos. A
mente. Apesar de pouco inventivos em ter- caracterização do grupo parece completa-
mos coreográficos, os duos conseguem mente fora do tom. Os figurinos de Rosa
guardar uma elegância que se encaixa com Magalhães, exagerados e cheios de brilho,
eficiência na obra de Schoenberg e no ce- operam num outro registro, carnavalizando
nário de Caldas. O casal de 1999, Ana Bo- a cena. A coreografia do grupo, cheia de pas-
tafogo e Marcelo Misailidis, é responsável sos que parecem lá estar apenas para apro-
pelo momento mais convincente da noite. veitar os figurinos, aposta no óbvio. Pela bus-
A afinidade entre ambos e a sensualidade ca de efeitos – como o da imagem que encer-
contida que imprimem no casal da alvora- ra a peça – a delicadeza é abandonada. É
da saltam aos olhos. pena que o coreógrafo não tenha apostado
Já a coreografia e os figurinos do grupo que, em se tratando de Schoenberg e de
de rapazes que interpretam a noite se cho- Waltercio Caldas, menos poderia ser mais.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 27 DE AGOSTO • 2005
O corpo fala
Companhia criada há 30 anos criou
vocabulário coreográfico próprio
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Mas, se é para se lançar um olhar agu- lá para cá, alguns marcos importantes: Pre-
çado sobre a dança do Grupo Corpo, é o que lúdios, com música de Chopin, quando a com-
há ali de absolutamente original em ter- panhia completava dez anos, em 1985, e Mis-
mos coreográficos o que salta aos olhos. sa do orfanato, com música de Mozart, qua-
Rodrigo Pederneiras vem construindo o tro anos depois, foram desembocar numa
que raríssimos coreógrafos conseguiram lista de obras que passaram a ganhar trilhas
ao longo do século passado em termos de especialmente compostas. Nomes como
dança contemporânea: um vocabulário Uakti, José Miguel Wisnik, Tom Zé, João
próprio de movimento. O desafio, além de Bosco, Arnaldo Antunes e agora Caetano
sua assinatura no corpo que se move, era Veloso propuseram caminhos traduzidos em
saber que esse corpo vinha (e vem) carre- dança por Rodrigo e toda a equipe de cria-
gando informações de mais de 500 anos da dores que o cerca.
técnica (e, portanto, da estética) do balé O vocabulário coreográfico, no caso do
clássico. Pederneiras conseguiu imprimir Grupo Corpo, propõe, para quem acompa-
nessa marca tão forte e tão poderosa o seu nha seus espetáculos, um desafio nada fácil:
próprio pensamento. Um pensamento de o de saber percorrer com os olhos o que ali
dança brasileiro. se configura nos corpos que dançam como
E esse “brasileiro”, que tanto tem adjeti- aprofundamento de questões que intrigam
vado a produção dessa companhia mineira, o coreógrafo há anos. Um aprofundamento
vem se desenvolvendo desde 1976, com quase obsessivo, mas que garante a excelên-
Maria Maria, de Oscar Araiz, primeiro su- cia da maior companhia de dança brasilei-
cesso que a lançou ao Brasil e ao mundo. De ra no próprio Brasil.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 2 DE SETEMBRO • 2005
O poder de transformação
do Grupo Corpo
Onqotô: Nova coreografia da companhia mineira mostra certa
inovação de movimentos criados por Rodrigo Pederneiras
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
nas para dar visibilidade à música e à dan- partir do poema de Gregório de Matos, On-
ça, sem poder ser imaginada dissociada da- qotô é de tirar o fôlego.
quela música, consegue existir sem a esta Sabendo que nada é acaso na dança dos
se sobrepor. É o que ocorre, por exemplo, em Pederneiras, o contraste entre Onqotô e Le-
Lecuona.Já em Onqotô,esse não é sempre cuona tem efeito de provocação e obriga
o caso. Em alguns momentos,a potência da também o espectador a se perguntar: afinal,
música de W isnik e de Caetano não encon- onde é que estou? Diante do Grupo Corpo,
tra equivalente na dança. Mas quando en- é claro, que há 30 anos se transforma, saco-
contra como, por exemplo, nos dois belos de o que antes foi visto e, felizmente, segue
duos ao som de Mortal loucura de W isnik,a na estrada.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 3 DE SETEMBRO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
formando blocos de cores, mas também a obra, ou seja, aquela indaga sobre o
sugerindo sutilmente o Fla-Flu nas meias onde (e o quando) se está.
dos bailarinos, num breve momento. Comemorar 30 anos de dança num país
O cenário, ou o “não-cenário” como quer como o Brasil, colocando-se uma pergunta,
Paulo Pederneiras, mesmo fazendo lem- parece aliar certezas e desafios e transformá-
brar outras soluções semelhantes (como los em matéria-prima para a criação. Onqo-
o já clássico Stamping Ground, de Jirí tô é essa aliança. Mas como toda aliança que
K ylián ou Rain,de Anne Teresa de Keer- nasce por essas terras, essa também vem cer-
smaeker), cria um lugar de não referen- cada de mistérios, como diz o verso do poeta
cialidade, sem a marca do tempo,refor- Gregório de Matos que compõe o espetácu-
çando ainda mais a questão que nomeia lo: “Mistérios mil que desenterra... enterra.”
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 14 DE SETEMBRO • 2005
Na onda do revival
Mergulho de Renato Vieira no
jazzdance poderia ter sido mais profundo
R OBERTO PEREIRA
71
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
três rapazes e uma moça, ponto alto do Nesta atual onda de revival dos anos 80,
espetáculo, amálgama de história com o olhar para o jazzdance acaba tendo duas
presente, de memória com coragem. funções: contar a história de sua estética, ao
Para esse retorno, Renato Vieira pôde mesmo tempo que reconhecer sua eficácia
contar com uma companhia muito com- enquanto possibilidade de formação técni-
petente, mesmo que o elenco masculino ca de bailarinos.Parece que estamos viven-
seja um tanto desigual. Mas é por meio do esse momento,desde Espaço de luz,da
de Soraya Bastos e Arthur Marques que mestra Carlota Portella, do ano passado.
se pode reconhecer com mais apuro a Agora é Renato V ieira quem mostra sua
ideia do coreógrafo. Esses corpos ali con- memória, um arsenal de matéria-prima que
tam histórias em movimento. merece ser novamente utilizada.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
R IO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 30 DE SETEMBRO • 2005
O jazzdance sem
alegria e sedução
Memória do corpo nº 2 – Suíte jazz:
Renato Vieira faz releitura hábil e distanciada
da técnica que marcou os anos 80
S ILVIA S OTER
73
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
velho e bom jazzdance, convidando a gran- Para os amantes do jazz, nostálgicos de
de mestra Marly Tavares para dar aulas alegria e sedução, Memória do corpo nº 2 –
para a companhia durante a criação,a pou- Suíte jazz não deixa de ser um pouco frus-
ca familiaridade de alguns em relação ao trante. Nessa releitura de Renato Vieira o
estilo fica evidente já que a técnica não jazz passa ao largo do divertimento. É de
está de fato inscrita em seus corpos,o que longe e de cima, como na primeira cena das
enfraquece a proposta. Por outro lado,os cadeiras, que Renato Vieira visita sua his-
ótimos Soraya Bastos e Arthur Marques se tória em que o jazz teve um lugar importan-
mostram absolutamente à vontade em te. Um lugar de onde ele partiu para expe-
cena, pois em seus corpos o jazzdance é rimentar outras formas de criar e para onde
memória viva. ele volta com cuidado, carinho e reticências.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 4 DE OUTUBRO • 2005
Um divisor de águas
A criação leva contemporaneidade
ao Ballet do Municipal
R OBERTO PEREIRA
75
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
construído, sua aparição no segundo ato Scholz e aprendeu com ele a coreografia.
aponta para a ideia divina da criação a que Talvez seja esse o melhor caminho a ser
a obra se refere. Ali, tudo faz sentido, e os percorrido por ele em sua gestão à frente
três corpos estáveis do Theatro Municipal, de nossa primeira e única companhia de
balé, coro e orquestra, atingem sua coesão balé de repertório do Brasil: deixar que a
máxima. A sensação no público é, no míni- história de dança inscrita em seu corpo seja
mo, de orgulho, nesse momento. um mapa que guie seus bailarinos no sen-
A criação faz parte da história de vida tido de uma contemporaneidade. E o ver-
do atual diretor artístico da companhia, dadeiro sentido de contemporaneidade
Fauzi Mansur.Quando ainda bailarino,no dialoga, inevitavelmente, como sabemos,
B allet da Ópera de Zurich, Suíça, pôde ex- com o sentido de tradição, a marca do
perimentar trabalhar diretamente com Ballet do Theatro Municipal.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 7 DE OUTUBRO • 2005
Ideia de mundo
norteia o espetáculo
A criação: com coreografia de Uwe Scholz,
Ballet do Theatro Municipal faz montagem competente
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Tanto os solistas como o corpo de bai- Norma Pinna, Cristiane Quintan, Claudia
le garantem uma performance à altura da Motta, Reginaldo Oliveira, René Salazar
coreografia de Scholz. Em forma e muito e Vítor Luiz confirmam, mais uma vez,
bem ensaiada, a companhia se mostra à seus lugares especiais na companhia. To-
vontade em cena, respondendo com agili- talmente integrada no conjunto, Cecília
dade e segurança às exigências técnicas Kerche se destaca trazendo sua luz de es-
e artísticas de A criação.Alguns bailari- trela a cada aparição. A familiaridade com
nos que muitas vezes não encontram lu- que a companhia sempre circulou pelas
gar adequado em peças de repertório fo- peças de repertório aparece em A criação.
ram muito bem aproveitados nessa mon- A competência dessa montagem abre no-
tagem. É o caso dos competentes Bettina vas possibilidades à única companhia clás-
do Dalcanale e Bruno Rocha. Outros como sica do Brasil.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 7 DE OUTUBRO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
ente cenografia, ambos assinados curiosa- dança com deficiências em suas condições
mente pelo mesmo Pablo Nuñez. técnicas e a do Ballet de Santiago em se
Na noite de quarta-feira, após terem apresentar com um balé como esse, o que
transcorridos alguns 15 minutos do início nesta noite certamente chamou mais aten-
do balé, Márcia Haydée adentrou tempes- ção do público, principalmente por sua dra-
tivamente o palco e interrompeu o espetá- maticidade, foi a forma como a diretora
culo, reclamando da qualidade técnica da Haydée se dirigiu à casa onde ela, justa-
iluminação ali disponibilizada, diante de mente, iniciou sua carreira na dança, ain-
um Theatro Municipal lotado. Afora a cons- da como bailarina. A partir desse momen-
tatação da falta de preparação de ambos, a to, a deixa de como a noite iria continuar
do teatro em receber uma companhia de estava dada, inexoravelmente.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JJANEIRO
ANEIRO • SEXTA-FEIRA • 28 DE OUTUBRO • 2005
Garimpagem do corpo
Em sua quarta edição, projeto baiano
em torno da coreografia abre novos caminhos para a dança
brasileira, mas começa a exigir revisão no formato
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
oferecidos. E maturidade nem sempre se Contando com a narração de Tom Zé do
mede em projetos. Manifesto antropofágico, de Oswald de An-
Permanecer dois meses em uma outra drade, a obra se volta, quase que metalin-
cidade, ganhando R$ 5 mil pelo trabalho, guisticamente, à própria estrutura do Ate-
pode parecer sedutor. Mas para nomes con- liê. Quem “come” quem nesse jogo de infor-
sagrados da dança contemporânea brasilei- mações? O coreógrafo digere o que os bai-
ra pode parecer também complicado, por ter larinos apresentam como material possível
de se distanciar de seus projetos pessoais de composição ou vice-versa?
para se dedicar a um outro produto. O que Mesmo no caso de Evelin, com uma es-
daí advém é a maciça participação de jo- tética europeizante absolutamente presen-
vens coreógrafos, que, uma vez seleciona- te, e, em seu caso, impossível de ser desven-
dos, deslumbram-se facilmente com as opor- cilhada por ele, a antropofagia foi engolida
tunidades oferecidas. Não é o caso, por pelo tempo. E o Ateliê nos deu, corajosamen-
exemplo, de Carlos Laerte, do Rio de Janei- te, mais essa lição: digerir, em dança, antro-
ro, que no ano passado apresentou um belo pofagicamente, tem uma duração própria.
e coerente resultado de seu trabalho. Mas Talvez esse seja o caso de uma outra obra,
salvo exceções de nomes experientes como pertencente a um projeto que ocorre em pa-
Luiz de Abreu (SP), Andrea Maciel (RJ), ralelo ao Ateliê, chamado Solos maior de 40,
Jussara Miranda (RS), Márcia Duarte (DF) que reúne curtas coreografias com bailarinos
e Maria Paula (PE), quase todos os outros importantes com mais de 40 anos. Essa peque-
projetos foram de expoentes que nem sem- na obra mencionada foi assinada por Luiz de
pre sabiam o lugar que ali ocupavam. Abreu para a bailarina, baiana e negra, Fafá
Um outro desafio importante com o qual Carvalho. Os adjetivos aqui são necessários
o Ateliê de Coreógrafos Brasileiros já se de- por serem eles o tema sobre o que se quer fa-
para é o tempo exíguo de dois meses para lar ali: o que um corpo como aquele pode?
produzir uma ideia de dança, num outro am- A coerência e a coesão explicitadas no
biente, com outros corpos e com outros estí- que a dupla Luiz/Fafá apresentam, num
mulos.A dança, sabemos todos, precisa de tem- teatro pequeno, sem nenhum recurso cê-
po para que sua informação ganhe, literalmen- nico especial, colocam uma pergunta ao
te, corpo. Se não é o caso aqui, como assistir a Ateliê de Coreógrafos Brasileiros e à pró-
esses resultados? Esse dado é compartilhado pria dança contemporânea brasileira: qual
com um público de cerca de 8,5 mil especta- é a competência espetacular de uma ideia
dores que lotam o teatro a cada edição? que vem ao mundo em forma de dança
Talvez seja justamente esse o ponto do contemporânea?
qual trata Self service, obra que faz parte des- Pela pergunta certeira, que deve perma-
ta edição 2005, do piauiense Marcelo Evelin, necer ainda por muito tempo sem resposta,
que reside há mais de 15 anos na Bélgica. Sem a dança brasileira só tem a agradecer ao
dúvida, tem-se aqui o produto mais bem-aca- projeto corajoso e inédito de Eliana Pedro-
bado do Ateliê neste ano, numa edição forma- so. Um projeto que, ao se deixar perguntar
da por estreantes (Jorge Alencar e Clara Trigo, sobre suas competências, se lança ao exer-
ambos da Bahia, e Edvan Monteiro, do Ceará). cício inevitável da antropofagia.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 29 DE OUTUBRO • 2005
Fragilidades
Recurso de fazer graça não funciona em O+ , do Quasar
R OBERTO PEREIRA
D ireto ao ponto: a habilidade do coreó- vem instituindo como sendo a sua “dança
grafo Henrique Rodovalho em “fazer contemporânea”.
graça” como recurso para tratar de um Se o modo de tratar esse universo é tra-
tema específico mostra seu esgotamento mando o “fazer graça” com metalinguagem,
em O+, obra de 2004, para a companhia o que se organiza cenicamente carrega pro-
que dirige, a Quasar Cia. de Dança, que blemas sérios quando justamente a (ótima)
finalmente estreou no Rio de Janeiro,no companhia se lança ao que melhor sabe fa-
Teatro João Caetano, anteontem. A ex- zer: dançar. O que comparece como dança,
pressão parece ser mesmo essa, a de “fa- além de ser o que Rodovalho sabe muito
zer graça”,como se quisesse instaurar um bem fazer, revela, quase a contragosto seu,
fácil canal de comunicação com o público, que investigar (mesmo que comicamente)
em fórmulas já testadas em tantos traba- sobre as questões de uma suposta “dança
lhos anteriores seus. contemporânea” deveria ser algo intrínse-
No caso de O+, esse recurso se esgarça co à coreografia. Como não é, ele lança mão
até mostrar suas fragilidades, embora não de recursos que imprimem um ritmo desi-
pareça ser essa a intenção do coreógrafo. gual ao espetáculo, deixando que cenas ape-
A tarefa à qual ele se impôs dessa vez é nas intercaladas não se resolvam, não se
quase banal: tratar da dança contemporâ- tornem nada além de alternâncias de comi-
nea, num viés metalinguístico primário, cidade e de sequências coreográficas.
deslocado de seu tempo,recheado de anti- Os clichês que são explicitados, as ci-
gas questões.A inda mais porque não se tações claras a outros coreógrafos, tanto
sabe bem à qual dança contemporânea se estrangeiros como até cariocas, tudo isso
refere.A generalização, nesses casos,tor- vem de forma pueril à cena. E acaba por
na quase vulgar o lugar da reflexão,tentan- não contaminar o próprio movimento, há-
do mostrar o patético onde na verdade é bitat quase natural de Rodovalho. Essa
puro espelho do que o próprio coreógrafo apropriação do movimento, a habilidade
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
em tecê-lo, encontra-se de forma exemplar encarnação metalinguística do coreógra-
em seu último trabalho, Só tinha de ser com fo, que tenta proteger também seu legado
você, apresentado na cidade no primeiro se- de fazer rir como recurso para tratar de seus
mestre.Tudo se configura ali como algo que tantos temas. No fundo, esse super-herói-co-
(até) pode ser lido como metalinguagem. E reógrafo sabe que é no movimento que re-
o “fazer graça”, felizmente, deu espaço à side sua sabedoria. E que talvez quanto
simplicidade e à elegância. mais desprotegido, e menos engraçado,
Em O+, existe a figura de um super- mais esse movimento se torne definitiva-
herói, um “protetor da dança contemporâ- mente tema de sua dança. Uma dança, de
nea”.Talvez a personagem seja a própria qualquer modo, contemporânea.
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CRÍTICA NÃO PUBLICADA
R I O D E J A N E I R O • S Á B A D O • 1 2 D E N O V E M B R O • 2005
Espetáculo Orfeu
de Regina Miranda
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
camente o espaço que lhe é oferecido ceni- efetivamente, sua verdadeira invenção. E
camente. Mas, quando esse desafio é enca- para ele, poucos de seus atores-bailarinos
rado por integrantes mais novatos, a com- estão realmente aptos.
petência do gesto transforma-se em mera Comemorar tantos anos de existência de
execução de movimento. uma companhia de dança hoje no Brasil é,
Quando isso acontece, o que é coreogra- sem dúvida, um feito. No caso desta compa-
ficamente construído desvela a elementa- nhia, talvez valha a pena agora investir
ridade escolar das sequências de movimen- numa cena que leve em conta as inevitáveis
tos, experimentadas à exaustão por Regina diferenças de gerações de bailarinos. Com
em todos os seus trabalhos, pouco transfor- certeza, esse dado pode ser também maté-
madas ao longo desses 25 anos de sua com- ria-prima para a construção do gesto híbri-
panhia. Desse modo, é no gesto que está, do que Regina Miranda tanto investiga.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 22 DE NOVEMBRO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
simbiose de corpo e espaço, de dança e ce- o que o seu corpo está habilitado a falar em
nografia. A riqueza já está ali. E a tradu- movimento. Pela sua competência nesse
ção, também. falar, há que se buscar agora o registro
Pela felicidade do retorno de Ana Vitó- exato do que o circunda, que pode estar,
ria às suas investidas coreográficas em também, no silêncio, ou na pausa. No gesto
solo, O exercício de Dom Quixote é bem- exato da coreógrafa, não há espaço para
vindo. É nesse lugar que a dança promove excessos.
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O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 24 DE NOVEMBRO • 2005
Força da dança
apenas se insinua
O exercício de Dom Quixote: Montagem bem cuidada
não gera outro olhar sobre o herói de Cervantes
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
po da artista como referências explícitas tuem o herói que este ano completa 400
e até ilustrativas do personagem de Cer- anos. Esse é o risco que se corre ao se tra-
vantes. Mas é nessa fronteira entre ilustra- tar de um personagem desse peso. Talvez
ção e abstração que o exercício de Ana por excesso de reverência, em O exercí-
Vitória esbarra. Presa demais a seu ponto cio de Dom Quixote é apenas o persona-
de partida, a peça tem dificuldade em gem que imprime sua marca na intérpre-
avançar além da correspondência imedi- te-criadora, já que o exercício de Ana
ata entre dança e personagem. Na pele de Vitória, apesar de chegar a uma monta-
Quixote, a força habitual da dança de Ana gem coerente, elegante e bem cuidada,
Vitória apenas se insinua, ficando atada não chega a gerar um outro olhar sobre o
demais às citações dos traços que consti- herói de Cervantes.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA
QUARTA-FEIRA•• 28 DE DEZEMBRO • 2005
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Entretanto, o seu Ballet do Theatro Mu- mento da dança, comemorando os 30 anos da
nicipal apresentou poucas novidades, num principal companhia de dança contemporâ-
ano bastante incipiente para essa que é a nea brasileira, o Grupo Corpo. Entre outras
mais antiga companhia de dança brasilei- estreias relevantes, está Nó, de Deborah Co-
ra. Superado o péssimo efeito deixado por lker, e Orfeu, que também comemorou 25
Noite transfigurada, a qualidade que baliza anos da Companhia Regina Miranda e Ato-
as produções da casa pôde ser novamente res Bailarinos, além de outros eventos impor-
vista em A criação,do alemão Uwe Scholz, tantes como Dança em trânsito, a Conferên-
num dos momentos mais sublimes da histó- cia Internacional da Dança, realizada pelo
ria dessa companhia. Itaú Cultural e pelo British Council, as ações
Um outro elemento que veio se agregar do Cahier de la danse, do Consulado Francês,
ao Panorama, como uma de suas múltiplas e o mais novo, inédito e bem-vindo festival, o
frentes,foi o Espaço SESC,que,na verdade, Dança criança, fruto da profícua parceria
funcionou durante todo o ano como uma es- entre os pequisadores Leonel Brum e Silvia
pécie de “centro coreográfico” da cidade. Soter, com a Caixa Econômica Federal.
R eunindo importantes estreias, encontros Das atrações internacionais, o parco car-
teóricos e funcionando como espaço de ensaio dápio oferecido aos cariocas não impede de
para companhias cariocas,o Espaço SESC foi citar o momento histórico que foi a apresen-
o endereço oficial da dança em 2005. tação da Martha Graham Dance Company,
Dirigido por Beatriz Radunsky,apresen- ao mesmo tempo em que se prefere esque-
tou o já tradicional primeiro evento do ano, cer a lamentável atitude de Márcia Haydée
o Solos de Dança no SESC, cujo trabalho do ao interromper o seu também lamentável
coreógrafo João Saldanha para a excelente espetáculo Carmen, do Ballet de Santiago,
bailarina Mônica Burity,Eles assistem e eu para reclamar publicamente das condições
danço,merece destaque. Saldanha também do nosso principal teatro.
foiresponsável por outro espetáculo,Soma, Entre perdas e ganhos, a dança carioca
estreado no mesmo espaço,que,com certe- mostrou seu fôlego em 2005. Não perdeu
za, figura na lista dos melhores do ano. seu posto de centro agregador de informa-
Mas o Espaço SESC ainda abrigou outras ção na área no País. E mostrou que, mesmo
estreias importantes,como Por minha par- sem a devida política em sua esfera muni-
te,de Esther W eitzman, Memória do corpo cipal, ainda é possível fazer um ano de dan-
nº 2 – Suíte jazz,de Renato V ieirae O exer- ça com qualidade.
cício Dom Quixote,de Ana V itória. Abrigou
ainda, pioneiramente,o 1O Encontro Inter- MELHORES ESPETÁCULOS
nacional de Dança e Filosofia, que reuniu H2 2005 – de Bruno Beltrão (Grupo de Rua de
Niterói)
nomes como Michel Bernard, José Gil e Onqotô – de Rodrigo Pederneiras (Grupo Cor-
André Lepecki, além do Projeto dança em po)
Soma – de João Saldanha
foco, voltado para a produção de videodan- A criação – de Uwe Scholz (Ballet do Theatro
ça nacional e internacional. Municipal do Rio de Janeiro)
Só tinha de ser com você – de Henrique Rodo-
Onqotô, a mais recente obra de Rodrigo valho (Quasar Cia. de Dança)
Pederneiras, representou outro grande mo-
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2006 CRÍTICAS
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JORNAL DO BRASIL - 20 DE JULHO DE 2006
Entre o fio da ciência e da arte
ROBERTO PEREIRA
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 16 DE JANEIRO • 200
20066
Tradição em
corpo brasileiro
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
primeira bailarina genuinamente brasi- Hoje, 70 anos depois, mesmo sabendo
leira, simbolizava essa mistura, dançando que para sua criação, Olenewa precisou
Tico-tico no fubá nas pontas dos pés.Anos empenhar suas joias e tapetes para que seu
mais tarde, o casal Bertha Rosanova e sonho se tornasse realidade, tudo parece ter
Aldo Lotufo impressionavam plateias ao valido a pena. O empenho continua, com
estrelarem com exímia competência o todas as dificuldades de se remontar gran-
clássico O lago dos cisnes, numa primeira des obras, e os gastos que isso representa.
montagem integral nas três Américas,as- Mas a figura da bailarina clássica, por nós
sinada por Eugenia Feodorova. O reina- popularizada pela diva Ana Botafogo, ain-
do absoluto da mestra Tatiana Leskova da paira num imaginário que aceita, e mui-
imprimia profissionalismo,sobretudo no to bem, que uma bela adormecida desfile
corpo de baile. E assim a tradição ganha- numa escola de samba em plena Marquês
va, naquele templo de erudição, um corpo. de Sapucaí. Esse é o nosso modo de cons-
Um corpo brasileiro. truir nossa tradição. Vamos comemorar?
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O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 12 DE MARÇO • 2006
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
diretora sobre arte contemporânea e ciên- pretes para que a troca de experiências
cia. A competência de Harper como sapa- possa levar a um caminho único e interes-
teador fica tolhida pela profusão de infor- sante. E como os anos de convívio deixam
mações, pela ausência de costura entre as marcas que também precisam de tempo
ideias e pela falta de desenvolvimento de para esmaecerem.
cada elemento apresentado. Em Tempo líquido, coreografia de Mau-
Para aqueles que vêm acompanhando rício de Oliveira para Maria Alice Poppe, o
a dança contemporânea carioca, os dois úl- que se vê é uma bailarina experiente e de
timos solos da noite trazem questões inte- uma vitalidade rara virar uma página de
ressantes sobre a relação quase simbiótica sua história. Sem abandonar o legado de sua
entre coreógrafos e seus intérpretes de lon- experiência de anos junto à Staccato, com-
ga data. No terceiro solo da noite, Ana panhia de dança que ajudou a fundar com
Amélia Vianna, bailarina ícone da Márcia Paulo Caldas, Maria Alice inaugura nesta
Milhazes Companhia de Dança, põe sua peça uma outra etapa como intérprete. A
maestria a serviço do coreógrafo Rodrigo inteligente coreografia de Mauricio de Oli-
Negri. Por dentro aborda o universo femi- veira, nome pouco conhecido no cenário da
nino e é construída de gestos pequenos e dança carioca, parece tratar também desta
delicados, ao som de Heitor V illa-Lobos. mudança, explorando as possibilidades de
Ana Amélia transita com correção e fami- desarticulação dos movimentos para recom-
liaridade pela proposta do coreógrafo,no biná-los, em seguida. O corpo é investigado
entanto,o que se percebe é a impregnação sem estar submetido a regras impostas pela
das referências do trabalho de sua compa- própria anatomia que parece aqui também
nhia de origem – na gestualidade e tam- ser colocada em questão. A tensão entre
bém na música – sobrepondo-se e abafan- desarticulação e recombinação que se pro-
do algo de novo que poderia surgir deste duz no corpo da bailarina encontra perfeita
encontro.As deficiências de Por dentro correspondência na ótima música de Tato
apenas confirmam como é necessário tem- Taborda, fazendo de Tempo líquido o ponto
po de convívio entre coreógrafos e intér- alto da noite.
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 12 DE MARÇO • 2006
Conexões em trânsito
Solos de Dança no SESC abre diálogo
entre bailarinos e coreógrafos
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
quase um pretexto para o que ele pretende pouco se perceba qual o espaço construído
exibir, sobretudo tecnicamente. E é justa- ali pelo coreógrafo.
mente esse caráter de show que dificulta a Por fim, Tempo líquido, com Maria Ali-
passagem para que a obra exista em sua ce Poppe e Maurício de Oliveira, foi, com
inteireza e não esteja a serviço de uma exi- certeza, o grande momento dessa primei-
bição. Sem se dar conta, a obra reitera o que ra parte dos Solos. A maneira pela qual a
pretenderia denunciar criticamente. bailarina, que também detém um vocabu-
Os dois últimos trabalhos apresentados lário solidamente construído em seu corpo
têm em comum não apenas a excelência de pelos tantos anos de parceria com o coreó-
suas bailarinas, mas também a oportunida- grafo Paulo Caldas, poderia inaugurar no-
de que oferecem de reflexão sobre o trânsi- vas possibilidades de movimento era, sem
to comentado anteriormente. Por dentro traz dúvida, a grande expectativa da noite. O
Ana Amélia V ianna coreografada pelo jo- que se pôde assistir é a conjunção perfeita
vem Rodrigo Negri . A qui, ariqueza de vo- de ideias, tanto da assinatura do coreógra-
cabulário de movimentos que a bailarina fo quanto da dança da bailarina, amalga-
carrega em seu corpo,elaborado através dos mada em um corpo inteligente, que é mui-
anos de trabalho,sobretudo com a coreógra- to mais que suporte, é espaço de fluxo, é
fa Márcia Milhazes,parece ter sido um en- lugar de passagem, limpo, desimpedido.
trave para o diálogo. Negri , bailarino que Tudo se constrói em coesão: a excelente
ainda se encontra em plena formação como trilha, assinada por Tato Taborda, o figuri-
coreógrafo, não possui ainda uma marca no e a iluminação são também dança, como
com força suficiente para poder extrair da a bailarina. E o tempo, tema da obra, encon-
diferença a riqueza de sua criação.O resul- tra sua tradução em espaço preciso (e pre-
tado é a intransponibilidade que se impõe cioso) nesta que é uma das maiores baila-
pela qualidade da bailarina, deixando que rinas que esse país já produziu.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 19 DE MARÇO • 2006
Quando intérpretes
roubam a cena
Solos de Dança: Segunda semana de
projeto é mais fraca que a primeira
S ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
OPNI – objeto poético não identificado da intérprete. Infelizmente, a relação que a
é a única peça da noite que parte de uma coreógrafa pretende criar entre a dança e o
démarche distinta das outras. O coreógrafo cinema se dá de forma muito superficial e
mineiro Rui Moreira, a convite de João Pau- caricata. A escolha dos gêneros e das trilhas
lo Gross, inspirou-se no barroco, no exagero sonoras não ajuda a aprofundar a proposta,
de linhas, círculos e espirais para criar este se restringindo a seus aspectos mais óbvios.
solo, a peça mais densa da noite. A circula- A peça exige qualidades teatrais que Fer-
ridade dos gestos de braços e a repetição das nanda Reis ainda não desenvolveu e, ao
espirais que se inserem em planos do espa- mesmo tempo, não aproveita bem suas evi-
ço distintos a cada vez, sugerem uma gran- dentes qualidades de bailarina.
de influência de Paulo Caldas na movimen- O exercício de combinar intérpretes e
tação do talentoso João Paulo Gross. A tri- coreógrafos em encontros inéditos é sempre
lha sonora acentua a repetição e os desdo- arriscado. Este risco deve ser entendido
bramentos provocados a cada nova investi- como uma qualidade e um importante ali-
da. Ainda que a repetição seja um elemen- mento para que os Solos de Dança cheguem
to central nesta coreografia de Rui Moreira, a mais uma edição sem perder seu interes-
o trabalho se beneficiaria se fosse mais en- se. Como cada peça é criada para o evento,
xuto e não se estendesse demais no tempo. cada semana dos Solos de Dança reserva
Fechando a noite, Curta-metragem cria- surpresas ao público. Às vezes, esta mistura
do por Ana Andréa para Fernanda Reis traz inédita resulta em encontros férteis e pro-
a dança para “falar” de cinema. A proposta dutivos, outras vezes fica evidente a neces-
é explorar alguns gêneros de filmes através sidade de um desenvolvimento maior das
da música, do clima e, como não podia dei- colaborações para que as danças criadas
xar de ser, da qualidade de movimentação cheguem mais maduras à cena.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 19 DE MARÇO • 2006
Presença de
espírito do corpo
Talento e técnica de bailarinos superam
fragilidade de coreografias nos Solos de Dança
R OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O. P. N. I – Objeto poético não identifi- cinema, funcionando como mero recurso
cado, dançado pelo novo talento João Pau- que aponta diretamente para objeto sobre
lo Gross e assinado pelo bailarino e, segun- o qual se quer falar. E o narrativo espraiado
do o programa, “investigador cultural” Rui na música, no figurino e, sobretudo, na ilu-
Moreira, é o trabalho, de todos os trabalhos minação implode com o que seria um desa-
apresentados, que menos investe na narra- fio de ser construído no corpo repleto de
tiva. A ideia era revisitar o barroco, mas o história da bailarina Fernanda.
que se vê é uma construção coreográfica A mostra Solos de Dança no SESC, ao
com fortes tons modernos. O início do solo promover encontros inéditos entre bailari-
sugere um claro-escuro que poderia ter es- nos e coreógrafos, instaura questões sempre
tabelecido uma ponte interessante entre instigantes para a dança carioca. Nessa edi-
esse moderno e o barroco pretendido, mas ção, duas ficaram claras: a primeira é a de
que logo se desmancha sem conseguir es- que existe ainda uma necessidade de uma
boçar uma ideia. E o vigor do jovem baila- formação mais sólida de novos coreógrafos;
rino não encontra seu lugar na elaboração e a segunda, talvez causa ou talvez conse-
coreográfica. quência da primeira, é a de que existe uma
Por fim, Curta-metragem marca o encon- crença de que ser coreógrafo é ser algo a
tro novamente de duas grandes bailarinas: mais do que simplesmente bailarino. Os
a experiente Fernanda Reis e a inquieta quatro excelentes bailarinos que se apresen-
Ana Andréa. Aqui, o excesso do linear e do taram nessa noite puderam provar muito
facilmente identificável não funciona como bem que se trata de um equívoco. Ao detec-
matéria-prima para falar da linguagem do tar esses problemas, já vale a mostra.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 8 DE ABRIL • 2006
O vice-versa
de Márcia Rubin
Teatro é dança e dança é teatro na gramática de Teorema,
espetáculo da coreógrafa inspirado na poesia concretista
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
reógrafa, Márcia coloca no palco uma bela modo drástico daquele usado pelos atores:
questão: como o gesto dos atores se trans- o que poderia ser um diagrama de ideias
forma em movimento dançado pela baila- torna-se fissura nas continguidades entre
rina? E como isso se processa em vice-ver- dança e teatro.
sa? O que parece ficar bastante evidente é Assim, o que parece unir esses dois univer-
que existe ainda um largo trajeto a ser con- sos é a própria palavra, transformada em cam-
quistado para que as competências de po comum entre os dois atores e a bailarina/
quem dança e de quem atua estejam em coreógrafa. Quem acompanha a trajetória de
absoluta sintonia. O que ainda por vezes se Márcia Rubin, pode perceber que sua inteire-
torna evidente, sobretudo nos momentos za em Teorema está toda em cena, não ape-
mais coreografados, é que o movimento nas como artista, mas como mulher, mãe, pro-
marcado não está ainda organicamente as- fessora,e,sobretudo,como pensadora da cena
similado pelos atores, deixando que a opor- contemporânea. Trata-se, portanto, de uma
tunidade de mantê-los apenas como gesto grafia de sua vida. No namoro com a literatu-
se esvaia. E essa brecha é ainda mais acen- ra, é possível falar aqui em bio-coreografia.
tuada, por exemplo, com o complicado fi- E é justamente nos hifens entre bio,coreo e
gurino usado por Márcia, que destoa de grafia que esse espetáculo emociona.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 27 DE ABRIL • 2006
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
lação entre as duas linguagens. E, novamen- Em Maratona Quintana, entretanto, não
te, o poético se esvai. existe esse tempo, nem o processo de cons-
Por fim, a “idealização” do espetáculo: o trução dele, nem o lugar propício. O corpo da
intrincado processo de tradução entre lin- atriz/bailarina precisa antes aprender qual
guagens artísticas, ou “transcriação”, como é sua habilidade, para somente então se lan-
quis outro poeta, exige que o artista conhe- çar a tantas tarefas difíceis. A maturidade de
ça suficientemente bem os universos com os Miranda não dialoga com a imaturidade de
quais elegeu trabalhar. Nada como o tem- Corbelino. E nem como processo isso se insi-
po para isso, coisa que Regina Miranda cer- nua. E a poética de Quintana, desse modo, não
tamente conhece, como evidenciam seus poderia estar também em nenhum lugar e
tantos trabalhos que trazem essa marca. em nenhum tempo do espetáculo.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 4 DE JUNHO • 2006
OBERTO PEREIRA
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 6 DE JUNHO • 2006
Descompasso entre
desejo e realização
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 7 DE JULHO • 2006
Frágil identidade
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 15 DE JULHO • 2006
Bertazzo se esqueceu
de suas próprias lições
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 1 8 D E J U L H O • 2 0 0 6
A caminho da felicidade
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
R I O D E J A N E I R O • QUINTA-FEIRA• 20 DE JULHO • 2006
Entre o fio da
ciência e da arte
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 22 DE JULHO • 2006
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
racanã não consegue ir muito além de uma Deborah e sua equipe extraem deste
investida literal. Mesmo a parede não se esporte a sofisticação visual das formas, das
integra ao que se desenvolve sobre o palco. bandeiras e dos uniformes, mas não conse-
A frontalidade excessiva das coreografias guem despertar a paixão e a surpresa que
impede a incorporação do plano vertical são bem-vindas quando se trata de dança e
como continuação da cena, do campo. de futebol.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 23 DE JULHO • 2006
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
foi ao encontro de referências indianas,Mi- tis. Neste diálogo, o vocabulário de Bertazzo
lágrimas propõe um diálogo entre Brasil e se descaracteriza e se empobrece, atraves-
África. De que África e de que Brasil Milá- sado por referências óbvias da dança cênica
grimas trata? Este é um de seus problemas. ocidental, apoiado em passos de balé e de
Um outro ponto delicado é que ao propor dança moderna, por exemplo.
uma estrutura dialógica entre culturas,Ber- Não há dúvida de que experiências
tazzo perde uma das grandes forças de seu como a do Dança Comunidade tem enorme
trabalho: a hibridação.Há mais de 30 anos,o valor quando conseguem manter-se no tem-
coreógrafo vem desenvolvendo uma lingua- po. Como bem trata Ferréz no livro lançado
gem única de movimentos em que funde junto com o espetáculo. Referindo-se às pes-
danças tradicionais de diferentes origens e soas que integram projetos como esse, o es-
culturas,transformando-as. Esta é uma de critor lembra: “Ela volta para a cidade-dor-
suas marcas: uma dança que se faz como tra- mitório, mas sabe que, quando for ensaiar no
ma das várias danças e técnicas corporais que outro dia, o projeto vai estar lá, e isso, meu
estudou a fundo ao longo da vida. A o fazer querido, ninguém pode medir o valor que
dialogar África e Brasil, o coreógrafo acaba tem.” No entanto, a dança de Milágrimas não
por separar estas referências em sua própria consegue atingir o brilho da música e ape-
dança, sublinhando o que é África, no caso, sar de mostrar que os jovens atendidos pelo
representada pelas estruturas rítmicas com- projeto seguem desenvolvendo suas compe-
plexas,pelos pés que percutem o chão,ou ain- tências, nem de longe o grupo pode ser iden-
da pela ideia de tribo; daquilo que entende tificado como uma companhia profissional.
como Brasil. Para que os dois pólos sejam Isso importa? Talvez sim, sobretudo quan-
identificados,o diretor acaba por reforçar do o resultado das ações é apresentado como
clichês,enfatizados pelos figurinos nada su- superprodução.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 5 DE AGOSTO • 2006
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
pela maioria desses momentos, com sua ainda aprenderá a importante lição de
singela contribuição ao espetáculo. Seria jogar suas tantas boas ideias fora, para
necessário ter coragem para fazer de sua perseguir apaixonadamente aquela que
música o alinhavo enxuto que o tema so- seria sua verdadeira pesquisa. Pela quali-
licita. Mas a coragem já está em bancar dade que já se apresenta em Tudo que se
um projeto como esse. Como um jovem espera..., esta é, com certeza, apenas uma
aprendiz de coreógrafo, Clébio Oliveira questão de tempo.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXT A-FEIRA • 1
SEXTA-FEIRA 1 DE AGOST
11 AGOSTOO • 2006
Territórios abertos
para a expressão masculina
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Os territórios que se desvendam através nharam agora uma tradução vigorosa de
da coreografia de Esther Weitzman estão ali corpos masculinos. E fomentam ainda mais
ao mesmo tempo em estado bruto e em es- a esperança de que esses territórios, sem
tado de prontidão. Os movimentos percus- perder sua tradição e sua história, um dia
sivos, os silêncios e as danças em conjunto, possam mesmo dividir um mesmo espaço. É
elementos que se tornaram sua marca, ga- disso que essa dança fala.
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O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 28 DE AGOSTO • 2006
A força da presença
do coreógrafo Bill T. Jones
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
único. Suas interpretações – apesar de cor- convicção com que defende seus gestos e
retas – não conseguem ganhar densidade, palavras não deixa de ser tocante. É em
ficando apenas na superfície. sua experiência de vida, na serenidade e
No entanto, algo consegue escapar da na economia com que se movimenta que
superficialidade e do evidente anacro- a mensagem otimista que o coreógrafo
nismo em Another evening – I bow down: pretende passar encontra sua forma mais
a força da presença de Bill T.Jones.A precisa.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 6 DE SETEMBRO • 2006
A viagem existencialista
e solitária de um coreógrafo
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 12 DE SETEMBRO • 2006
Pas-de-deux de
história e renovação
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 26 DE SETEMBRO • 2006
Dança brasileira
em ritmo de inovação
Os grupos cariocas Atelier de Coreografia e
Companhia Urbana de Dança e o
mineiro Mimulus exibiram na XII Bienal de Lyon,
na França, um panorama da diversidade
que se produz no Brasil
OBERTO PEREIRA
127
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
se produz por aqui. A primeira, que articula Bienal, chamada Superstars. Além da im-
de forma inovadora as danças contemporâ- pressionante dança de Bruno,o que intrigou,
nea e de salão, é velha conhecida dos fran- para não dizer, de certa forma, constrangeu
ceses, fazendo sempre muito sucesso por lá, o público,foi quando,numa entrevista sua
além de promover concorridos workshops gravada em vídeo,declarou que seus docu-
nas praças da cidade, ministrados pelo seu mentos não tinham sido aceitos para que ele,
coreógrafo Jomar Mesquita. Já a Compa- trabalhador francês,obtivesse seu seguro de
nhia Urbana mostrou a qualidade da dança saúde.A o procurar saber o motivo,deparou-
de rua desenvolvida no Brasil. O público, se com a insólita resposta de que em sua cer-
como mostrou a noite de estreia, aprovou. tidão de nascimento não constava o nome
Mas, na verdade, a primeira aparição de do pai. Esclarecendo que seu pai não o ha-
um representante brasileiro na Bienal foi a via reconhecido,foi solicitada, então, uma
de Bruno Cezário, ex-integrante do Ballet carta, explicando o porquê deste não reco-
do Theatro Municipal e um dos melhores e nhecimento.Bruno,perplexo,ao ouvir a aten-
mais singulares bailarinos que já tivemos dente dizer com um ar blasé,“na França é
por aqui. Integrante do Ballet Nacional de assim!”, desligou o telefone.Trajando um
Lyon, Bruno foi responsável por um dos so- short verde e uma camiseta amarela, Bru-
los mais emocionantes na obra do francês no parecia, em seu solo,mais um trabalha-
Rachid Ouramdane, que estreou na própria dor brasileiro.
Não apenas em bailarinos e compa- Aos nossos olhos, claro, é gritante a falta
nhias pode-se perceber a presença do de um responsável pela harmonia do des-
Brasil no festival francês. O que parece file. Mas, por outro lado, fica a pergunta se
mesmo ter deixado definitivamente marca não seria aquele um outro modo de se
brasileira na Bienal de Dança de Lyon é o olhar um tema que já apresenta suas pró-
grande Défilé, desfile que toma a princi- prias soluções. Apenas para que possamos
pal rua da cidade, reunindo 20 comunida- entender que na França, como foi mostra-
des locais que se organizam em danças, do no solo de Bruno Cezário, “é assim”.
músicas, cenários e figurinos. Assumida- E a nós, brasileiros, assinando a pater-
mente inspirado no desfile das escolas de nidade dessa ideia do desfile, resta ter or-
samba cariocas, desde que o Brasil foi gulho de como nossa dança se faz não
tema da Bienal em 1996, o desfile comple- apenas presente nesse importante festival,
ta, curiosamente, dez anos. Curiosamen- mas tem a capacidade de se transformar
te, porque, para nós brasileiros, é intrigan- em referência. Não uma referência do exó-
te observar como uma ideia tão nossa foi tico, essa praga romântica que ainda nos
sendo culturalmente traduzida por cida- assola, mas moderna, como bem provou o
dãos lionenses. coreógrafo carioca João Saldanha.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 4 DE NOVEMBRO • 2006
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 5 DE NOVEMBRO • 2006
As curvas de Niemeyer
em corpos que dançam
Extracorpo: Uma singular experiência de tempo
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 16 DE NOVEMBRO • 2006
Carisma e talento
da solista salvam a noite
Ballet Nacional de Cuba: Palco inadequado
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 21 DE NOVEMBRO • 2006
Para acertar
o passo da dança
I Encontro Nacional de Companhias Oficiais, realizado em
Salvador com grupos de todo o País, se transforma em
palco histórico de mobilização
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
ça de Caxias do Sul (RS) e Companhia de volvido nesse tipo de companhia o vigor físi-
Dança de Natal (RN). Embora tão distan- co é condição primeira. A discussão tocou na
tes e muitas vezes com perfis artísticos bas- possibilidade de se requerer uma aposenta-
tante diferenciados, ficou evidente que al- doria com 20 anos de exercício profissional
guns problemas, alguns deles muito sérios, e deste desejo resultou uma carta solicitan-
são compartilhados por todas elas. do à câmara setorial de dança, junto à Funar-
Este encontro serviu então como uma es- te, uma atenção maior para essa questão.
pécie de um check-up dessa estrutura tão com- O segundo desafio foi o da circulação
plicada de companhia oficial, que remonta os desse tipo de companhia, muitas vezes com
tempos barrocos franceses de Luís XIV e que um staff enorme de profissionais, o que in-
ganha sua tradução brasileira nos dias de hoje. viabiliza apresentações fora da cidade onde
Os problemas são ainda bastante barrocos no estão sediadas. Só o Ballet de nosso Theatro
sentido de ainda estarem, muitas vezes,atre- Municipal, por exemplo, conta hoje com
lados ao poder público e às sucessivas gestões cerca de 100 profissionais envolvidos dire-
políticas que frequentemente não garantem tamente em suas produções. Mas nem todas
uma continuidade nos processos.Isso,em arte, as companhias são assim. O Ballet de Lon-
e em dança mais especificamente, resulta num drina, com seus 10 bailarinos, viaja o Brasil
grave problema. As ideias para se tornare m todo de ônibus, apresentando-se muito lon-
dança, e para ganharem corpo,literalmente ge da cidade paranaense que o sedia: tantos
falando,levam tempo. perfis de companhias quanto brasis.
Mas dentre todos os acertos e desafios, Dessa questão, ficou o projeto a ser lide-
dois se tornaram pauta desse primeiro en- rado por Eliana Pedroso, ex-bailarina do Te-
contro. O primeiro se refere a um grave e atro Castro Alves e atual produtora cultural
urgente problema na forma de contratação de Salvador, que tem a perspicácia de ante-
dos artistas ligados diretamente a esse tipo ver como uma iniciativa como essa, também
de empreendimento artístico,como bailari - pioneira, pode ganhar força artística, e por
nos,diretores,ensaiadores e técnicos.Várias que não política, nesses próximos quatro anos
estratégias são adotadas pelas companhias, de uma nova configuração governamental.
muitas vezes de forma não totalmente de Esse I Encontro Nacional de Companhi-
acordo com as leis trabalhistas brasileiras, as Oficiais deu oportunidade a todos os seus
como forma de driblar,por exemplo,apráti- diretores de perceber como suas práticas ar-
ca de concurso público que legitimaria esse tísticas estão comprometidas com uma atitu-
artista como um funcionário estatutário.Des- de política e de como isso, salvaguardadas as
se modo,para muitas companhias públicas, devidas diferenças regionais, é comum a to-
seus bailarinos ficam à mercê das intempé- das elas. Para o bem e para o mal. Até mes-
ries políticas, o que gera uma insegurança mo para se perguntar qual é a verdadeira
refletida diretamente na produção artística. viabilidade desse modelo de companhia que
Outro problema daí resultante é o da hoje reúne cerca de 500 profissionais em todo
aposentadoria, sobretudo para bailarinos,que o País. Profissionais que podem dizer, com
deveriam ser considerados uma categoria orgulho ou não, que sobrevivem trabalhan-
especial, já que para o tipo de dança desen- do naquilo que mais amam: a dança.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 2 5 D E N O V E M B R O • 2 0 0 6
No sentido da
renovação constante
OBERTO P EREIRA
134
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Funcionando assim, entende-se como a terem em comum o viés de uma simplicida-
obra Lehmen Lernt, do alemão Thomas de tão sofisticada, que assusta pelo que há
Lehmen, reflete, já com claros sintomas de de contrassenso nisso: I am here, do por-
exaustão da própria linguagem que inaugu- tuguês João Fiadeiro, e Porta das mãos, do
rou, o que o coreógrafo aqui deixou num carioca Michel Groisman. Essas amostras
workshop em 2002, influenciando trabalhos apontam para o sentido do festival como um
de artistas importantes como Dani Lima, todo. Estão nelas as potencialidades de tudo
Marcela Levi, Gustavo Ciríaco e Denise o que faz pensar, para que o Panorama pos-
Stutz. Fazer essa conexão é aprender a ler sa continuar sendo panorama.
esse panorama. Possibilita ao público chan- Mais um último ponto para se pensar: o
ces de aprendizagem. Panorama de Dança não conta mais com o
E dentro desse fio de continuidade, de apoio da Prefeitura da cidade. Que bom que
conexões,há sempre o lugar para o absolu- ele conseguiu sobreviver a esse descaso.
tamente novo.No caso dessa última edição, Mas tal fato nos faz indagar: onde estaria
dois exemplos podem ser pinçados,por con- mesmo a dança no âmbito municipal?
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA
QUARTA-FEIRA•• 27 DE DEZEMBRO • 2006
Ensaios de uma
política para a dança no País
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
2007 CRÍTICAS
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL - 7 DE MAIO DE 2007
Projeto joga novas luzes sobre o exercício do papel da bailarina
ROBERTO PEREIRA
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O GLOBO - 24 DE AGOSTO DE 2007
O desafio de se tornar profissional
SILVIA SOTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
140
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA• 16 DE JANEIRO • 200
20077
Entre o clássico
e o contemporâneo
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 19 DE JANEIRO • 200
20077
Pretensão de menos
faz bem ao grupo
Duas ou três coisas sobre o amor: Novo espetáculo da
DeAnima mostra um rumo para a companhia
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA• 22 DE JANEIRO • 2007
OBERTO PEREIRA
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O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 26 DE JANEIRO • 2007
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMI
DOMINN GO
GO••11 DE MARÇO • 200
11 7
2007
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
visceral ao que se propõe em cena, para que mental. O público ficou com a respiração
o tema a inunde realmente, tomando seus suspensa. Era o mínimo que podia acontecer.
movimentos. Nada que Suely não pudesse Fechando a noite, Bruno Cezário, baila-
burilar em mais alguns ensaios. Mas o que rino ímpar que constrói uma sólida carrei-
aparece é ainda quase postiço. E os passos ra no exterior (hoje no Ballet de Lyon –
de dança, dispensáveis ao final do trabalho, França) convidou o coreógrafo japonês
poderiam dar lugar ao puro gozo que se Shintaro Oue para compor Feche os olhos
anuncia em todo seu belo início. e você verá o que não pode ver. Sem dúvi-
O mais belo momento da noite veio com da, trata-se do trabalho mais frágil de todo
Caminho aberto, numa parceria instigante o programa. A exuberância da dança de
entre Paula Águas e o coreógrafo Mário Bruno não encontrou ressonância na ideia
Nascimento.O retorno de Paula à dança que de Oue e o resultado, confuso e cambale-
sempre lhe coube provou mais uma vez que ante, fica aquém da potencialidade do bai-
se trata de uma das mais completas bailari- larino, infelizmente. Um bom começo para
nas brasileiras. Seu vigor técnico atingiu se decupar a ideia que ali apenas se insi-
maturidade que compreende com uma ra- nua seria avaliar, com urgência, a perti-
pidez desconcertante a ideia do coreógrafo. nência daquele figurino.
Mario parece ter percebido isso também A primeira semana no Solos prova que
rapidamente. E o que se vê em cena é um sua importância para a cena carioca irriga
arroubo milimétrico de novas relações en- pensamentos. Não há outra função mais fun-
tre o movimento e a própria interpretação damental. Não nesse momento, quando o
deles.A qui, apresença de Daniela V isco para SESC continua sendo a única casa da dança
auxiliar nessa equação mostrou-se funda- nessa cidade.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA• 19 DE MARÇO • 2007
As grandes estrelas
são os bailarinos
OBERTO PEREIRA
147
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
anos trabalhando juntos reaparece em cena, te modo de se olhar toda a programação
formando um elo intenso de compreensão da noite. Um dos pratos usados por Carlo-
mútua entre bailarino e coreógrafo. A bela ta/Inho é oferecido pelo bailarino a uma
investida em movimentos precisos contras- pessoa da plateia. Na ocasião, essa pessoa
taria com primazia com a ira estampada no era ninguém menos que Tatiana Leskova,
ato de quebrar pratos, se não fosse truncada a grande mestra do balé. Ela, em sua sa-
pela trilha sonora que excede às vezes em gacidade, não hesitou em também arre-
seu sentido narrativo e também por peque- messar seu prato ao centro do palco, que-
nos gestos por demais dramáticos de Inho. brando-o. Seu gesto inteligente de ira con-
Em sua balança, Carlota ainda deveria per- versa com o primeiro (e por que não, com
seguir o peso justo desses elementos. Há que todos) solo da noite, deixando-a redonda.
se comentar a poética iluminação de Deise Tanto Leskova quanto os Solos de Dança
Calaça, sobretudo ao final da obra. no SESC acertaram seu alvo, recuperan-
Aliás, na noite de estreia, justamente do o título do poema de Alice Ruiz que
o final dessa obra sugeriu um interessan- norteia toda a mostra.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA• 21 DE MARÇO • 2007
Festa brasileira no
melhor dos sentidos
OBERTO PEREIRA
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 7 DE ABRIL • 2007
Reverência ao
passado de olho no futuro
OBERTO P EREIRA
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RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 9 DE ABRIL • 2007
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RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 13 DE ABRIL • 2007
OBERTO P EREIRA
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RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA• 20 DE ABRIL • 2007
Sintomas e clichês
contemporâneos
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
cendo do mesmo mal das obras anteriores, ta de diálogo fica ainda mais clara, já que
Laerte se contenta em formular o que já suas habilidades para a dança são visivel-
domina como encadeamento de passos, sem mente poucas.
se arriscar em novas possibilidades coreo- Uma mostra de dança como 4 Movimen-
gráficas. O resultado fica próximo ao já tos sabe que os problemas de um progra-
visto, não investindo nem na qualidade ma como esse são suscetíveis a qualquer
evidente de suas bailarinas, nem no diálo- curadoria. Trata-se aqui de denunciar um
go entre o movimento e o texto, mesmo que sintoma. Apenas o preço dessa denúncia
um tanto prolixo, falado pelo ator Sérgio fica esperando que alguém se mostre apto
Menezes. E é justamente nele que essa fal- a pagá-lo.Até quando?
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 27 DE ABRIL • 2007
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 7 DE MAIO • 2007
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 13 DE MAIO • 2007
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 25 DE MAIO • 2007
De complexo não
há nada. Só exagero
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 2
288 DE MAIO • 2007
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Ailey, na companhia de quem trabalhou madilha que arma. A voz de Nina Simone
como primeiro bailarino por sete anos. é tão poderosa que a dança não acrescen-
No terceiro ato, Pretty gritty suíte,tri
- ta mais nada à cena. Ainda que seja agra-
buto a Nina Simone, pretende funcionar dável apreciar o swing do grupo, neste úl-
como um grand finale, com a companhia timo ato, em muitos momentos, a vontade
entusiasmada e sorridente desfilando seus é de se deixar fechar os olhos e ouvir a
talentos pelo palco. No entanto,cai na ar- música.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 14 DE JUNHO • 2007
Municipal respira
ar contemporâneo
Coreógrafos brasileiros: Bailarinos da casa têm
alguns bons momentos dançando criadores convidados
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
ça como exercício do espaço, afastando-a da a distância entre a intimidade do teatro e
sedução fácil e do espetacular. Com apenas sua vizinhança, a Cinelândia – não chega a
cinco intérpretes em cena, a densidade da se realizar em cena. O que se vê é ainda uma
dança consegue vencer a desproporção en- tentativa de contaminação de linguagens já
tre a presença humana e a arquitetura do que a movimentação tão particular do co-
lugar. O silêncio e as pausas valorizam os reógrafo da Quasar Cia. de Dança não pa-
gestos de cada intérprete. rece minimamente consolidada nos corpos
Folia,de Priscila Albuquerque dá con- que dançam. A ideia fica restrita apenas à
ta do que se propõe. Circulando bem pró- trilha sonora.
xima do universo da dança clássica, a co- Novos ventos fecha o programa com ele-
reógrafa constrói uma peça correta, bem in- gância. A coreografia de Roseli Rodrigues
terpretada, mas sem grande pretensão ou ganha um tratamento preciso por parte da
ousadia. Em Folia, como também em companhia. Talvez seja nessa peça em que
Caos’arte, ficam evidentes a seriedade, o os intérpretes se mostrem mais à vontade.
empenho e o prazer com que todos os bai- É pena, no entanto, que uma estreia tão
larinos defendem o trabalho de cada um importante para o Ballet do Theatro Muni-
dos criadores. cipal tenha acontecido numa matinê e no
O ponto mais frágil do programa talvez meio de um feriado. A boa qualidade do
seja Tão próximos,de Henrique Rodovalho. programa, que tem sua última apresentação
A proposta simples apenas na aparência – hoje, merecia um lugar de mais destaque na
mostrar ao mesmo tempo a proximidade e agenda da casa.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 20 DE JUNHO • 2007
ILVIA S OTER
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 26 DE JUNHO • 2007
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 27 DE JUNHO • 2007
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 9 DE JULHO • 2007
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
R I O D E J A N E I R O • SEXTA-FEIRA • 20 DE JULHO • 2007
Bailarino visionário
em mais um belo desafio
Hell’s Kitchen Dance com Mikhail Baryshnikov:
Estrela do balé clássico mostra estar a serviço do futuro
na abertura do 25º Festival de Dança de Joinville
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
a tensão entre o ritmo da música tradicio- Freeman criam a atmosfera desvanecimen-
nal húngara e a força deste jovem bailari- to que a coreografia seguirá. Nessa traves-
no negro. Nada sobra e nada falta na peça, sia de corpos, cheia de silêncios e breves en-
criada por Aszure, ou na forma como contros, é possível ver a boa qualidade dos
Briscoe a defende. bailarinos da Hell’s Kitchen Dance.
A única peça de conjunto, Come in,de No fim da noite, resta a sensação de que o
Aszure Barton, fecha a noite.Pela primeira tempo só trabalhou a favor de Baryshnikov.
vez, Baryshnikov se integra ao grupo.A qui Sua marca está em tudo o que passou pela
também o tempo e a memória irrigam a cena. E, nela, a dança é feita de beleza, so-
dança. As imagens assinadas por Kevin briedade, elegância e muita delicadeza.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 20 DE JULHO • 2007
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
tempo. O maduro bailarino entre jovens bai- preto-e-branco de seus tempos de Rússia.
larinos. Os jovens bailarinos entre suas eta- Apesar da aparente obviedade que ali se de-
pas de formação. A relação coreográfica lineia, não há como não se emocionar com a
entre todos. coragem de estampar as ações do tempo
É na abertura do espetáculo que esse “en- numa dança que foi sempre tão virtuosa.
tre” já aparece como senha para tudo que Hoje, o que se pode verificar é que esse vir-
ainda está por vir. Numa peça (auto) bio- tuosismo de Baryshnikov está em sua inteli-
gráfica, com o título Years later,o bailarino, gência. E isso, especialmente para bailarinos
sozinho em cena, divide sua dança com ele e por que não, para todos nós, é a lição maior
mesmo, ainda muito jovem, num filme em que ele e sua companhia nos ofertam.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
R I O D E J A N E I R O • SEXTA-FEIRA • 2
277 DE JULHO • 2007
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 17 DE AGOSTO • 2007
A construção de
um novo vocabulário
OBERTO P EREIRA
172
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 18 DE AGOSTO • 2007
Estranhamento e
fricção em um caldeirão
de referências urbanas
Breu: Novo espetáculo do
Corpo é intenso, passando rápido
como um raio
ILVIA S OTER
173
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
forme, que pulsa, explode e retorna exausta e caboclinho. Tem rebolado, silêncio e im-
ao chão, muitas vezes com violência. Os pacto de corpos.
corpos se atraem e se repelem também nos Na fusão da luz com a escuridão, Breu é
duos. O País colorido e brejeiro de várias intenso e seus 40 minutos passam rápido
peças da companhia é invadido por um como um raio. Pederneiras cria estranha-
Brasil mais urbano, competitivo, parte de mento e fricção; adultera o que já havia fei-
um mundo-caldeirão de referências e rit- to antes, lança-se um novo desafio e traduz
mos, sublinhado pela música de Lenine. tudo isso em dança, com a competência e a
Tem frevo dançado no chão, tem hard rock criatividade de sempre.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 20 DE AGOSTO • 2007
Nem a dama do
teatro se ajusta
OBERTO PEREIRA
175
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
plenamente com a cena coreográfica. atriz à plateia para ocupar as arquiban-
Uma pena, pois sua competência dramá- cadas no palco.
tica poderia ter se espraiado melhor em Mar de gente não é o melhor trabalho
todo o espetáculo, e não apenas funcio- dessa nova companhia que já possui um his-
nar como pontuações esparsas. Além dis- tórico como projeto social. Mas é suficien-
so, o palco do Carlos Gomes não se mos- temente capaz de provocar saudades dos
tra adequado às variações coreográficas três grandes espetáculos que o mesmo Ber-
típicas de Bertazzo, que funcionam me- tazzo produziu por aqui, entre 2000 e 2002,
lhor em espaços de arena maiores. A pro- quando ainda trabalhava com o extinto
va disso é o convite feito pela própria Corpo de Dança da Maré.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 24 DE AGOSTO • 2007
O desafio de se
tornar profissional
Mar de gente: Em nova fase, companhia criada por
Ivaldo Bertazzo começa a mostrar singularidades
ILVIA S OTER
177
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
a dança, em muitos momentos prejudica a tornar possível o surgimento de singulari-
passagem de uma coreografia a outra. A dades. Alguns jovens começam a se desta-
peça parece espremida no palco italiano do car ao imprimir traços bem pessoais à core-
Teatro Carlos Gomes, levando a crer que foi ografia.
desenvolvida para outro tipo de espaço cê- A continuidade da experiência com
nico, enquanto a iluminação achata ainda Bertazzo ao longo do período de amadure-
mais o espaço. cimento desses cidadãos-dançantes mostra
Para aqueles que acompanham o grupo que, se ainda há um longo caminho a ser tri-
desde Samwaad é impossível não notar o lhado para que o grupo possa ser visto como
crescimento de alguns jovens e o desenvol- uma companhia profissional por suas quali-
vimento de suas competências físicas e téc- dades artísticas, muito já foi percorrido. A
nicas.O uníssono,a busca pelo homogêneo partir de agora, o grande desafio é saber
e a sincronia de gestos, que por algumas desdobrar o material já incorporado e dar
peças caracterizou boa parte das coreogra- maior visibilidade a cada um dos jovens que,
fias de Bertazzo,perdem-se um pouco para dançando, chegaram até aqui.
178
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 20 DE SETEMBRO • 2007
No programa, uma
boa dose de humor eficiente
OBERTO PEREIRA
179
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 5 DE OUTUBRO • 2007
O mapa da dança
contemporânea
OBERTO P EREIRA
180
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 10 DE OUTUBRO • 2007
Estreia da
Cia. da Ideia surpreende
OBERTO PEREIRA
181
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 13 DE NOVEMBRO • 2007
OBERTO P EREIRA
182
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
em dança idealizado por Angel, não com- tidas por um leitor mais exigente.
binam com a meticulosidade do texto Já o terceiro livro comemora um feito: a
quando se dedica a explorar com afinco a existência, ou por que não dizer, a sobrevi-
relação entre o corpo pensado pela mestra vência de uma companhia particular de
e o ator em cena. dança no Brasil, que completa seus 30 anos:
O segundo é um livro escrito por uma a companhia Cisne Negro, dirigida por
bailarina e isso faz toda a diferença. A capi- Hulda Bittencourt. A pesquisadora paulista
xaba Inês Bogéa foi, durante anos, bailari- Cássia Navas debruçou-se em contar essa
na do Grupo Corpo e hoje se dedica, em São história num texto fluido, mas que hora
Paulo, à crítica de dança e a um doutorado alguma deixa escapar informações tanto ca-
na área. Com seu Contos de balé, ela preten- talográficas, quanto históricas e estéticas.
de atingir um público ainda pouco servido Trata-se de um típico livro de mesa, com
de livros sobre dança: o infantil. Essa é a requintado projeto gráfico e belas fotos das
segunda empreitada de Inês nesse sentido, coreografias históricas do grupo. Um livro
que já havia lançado em 2002, O livro da que já nasce como documento de uma his-
dança (Cia. das Letras). Agora, a originali- tória que se faz a cada dia, encarando o de-
dade fica por conta de sua proposta: narrar, safio de se produzir dança hoje nesse país.
do ponto de vista de algum personagem ou E é nesse sentido que o texto de Cássia tra-
não,a história de cinco balés do repertório fega, tornando a dança do Cisne Negro uma
clássico.Com belíssimo formato e ricamen- dança viva nas páginas que escreveu.
te ilustrado,sua iniciativa é louvável. Ape- Três produções bibliográficas distintas
nas alguns dados históricos sofrem por al- para públicos os mais diversos. Em comum,
gumas imprecisões que merecem ser revis- a certeza de que a produção teórica sobre
tas.E, claro,a ausência de mais fotos de bai- dança cresce no Brasil, mesmo que na mão
larinos brasileiros assim como a de algumas inversa das políticas públicas para essa área.
referências sobre as montagens no Brasil Pelo menos, pensa-se mais sobre a dança
(como, por exemplo, a clássica montagem hoje, entre nós, deixando estampados esses
integral de O lago dos cisnes,no Theatro pensamentos, sempre plurais, em livros que
Municipal do Rio de Janeiro, em 1959, a devem, em muito pouco tempo, rechear as
primeira nas três Américas) podem ser sen- prateleiras das livrarias mais cuidadosas
com seu público.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 2 DE NOVEMBRO • 2007
Descompasso entre
o tema e a coreografia
Nós, os outros: Companhia “oficial” da cidade,
Ateliê Coreográfico estreia com espetáculo fraco
ILVIA S OTER
184
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
silidade e alteridade não ganha em momento ano de atividades de formação do Centro
algum terreno fértil na cena. A diversidade do Coreográfico, o espetáculo já seria fraco.
povo brasileiro presente nesta companhia – Mas se compreendido como o Secretário das
como, aliás, na maior parte das companhias de Culturas anunciou, enquanto a coroação da
dança do país afora – não dá conta de acres- política pública de apoio à dança contem-
centar nada de novo ou de singular à questão. porânea iniciada na primeira gestão do Pre-
Neste caso, parece apenas reforçar o aspecto feito César Maia, a fragilidade de Nós, os
de integração social a que a ação do Ateliê se outros se torna ainda maior.
propõe. Na maior parte das cenas, o tema se- A política municipal de subvenção a 13
gue alheio ao que é dançado. companhias de dança – suspensa em 2005
O grupo, visivelmente empenhado e de- – foi durante anos referência no País e no
dicado à tarefa que lhe cabe, não encontra exterior. Essa nova etapa que reduz o apoio
nesta peça oportunidade para mostrar suas municipal a somente a Ateliê Coreográfico
possíveis competências nem como intérpre- Companhia de Dança não reflete nem de
te nem como criador. longe a criatividade, a riqueza e a diversi-
Como etapa de conclusão de mais um dade que a política anterior garantiu ao
panorama da dança do Brasil.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 4 DE NOVEMBRO • 2007
Criação como
diálogo de diferenças
Paradise city: Espetáculo australiano promove
encontro, troca e poesia no ginásio do SESC Tijuca
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 10 DE DEZEMBRO • 2007
Excesso de devoção
em espetáculo sem desafios
Excelência da bailarina Maria
Alice Poppe sobressai
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 13 DE DEZEMBRO • 2007
A proposta é clara,
mas a dança é sem ousadia
Atempo: Maria Alice Poppe refaz sua trajetória
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 17 DE DEZEMBRO • 2007
OBERTO PEREIRA
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 18 DE DEZEMBRO • 2007
OBERTO P EREIRA
190
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
ça, Dança em Foco e Solos de Dança no o aniversário de 80 anos da Escola Estadual
SESC. Aliás, vale ressaltar a atuação do Es- de Dança Maria Olenewa, a primeira esco-
paço SESC, palco que abrigou as mais im- la oficial de dança do Brasil e representan-
portantes estreias cariocas e continua te máxima de sua tradição nessas terras.
cumprindo com as funções de um centro co- João Saldanha, Lia Rodrigues e Grupo
reográfico, abrigando também ensaios de Corpo são os brasileiros que merecem sem-
companhias, promovendo aulas de dança e pre destaque por tudo que representam de
formando plateias. qualidade em dança. Já os novos ares trazi-
Das atrações internacionais, vale mencio- dos por Marcela Levi e pela jovem Focus
nar a vinda de Baryshnikov e sua nova Cia. de Dança (há que se relevar a inade-
companhia, assim como a Nederlands Dans quação do nome dessa companhia, por fa-
Theater II, que apresentou 27’52’’, uma obra- vor) nos dão boas esperanças do que ainda
prima de Jiri Kylián. Em contraposição, ques- teremos por vir.
tiona-se a iniciativa de se apresentar compa- A maior de todas as esperanças da dan-
nhias como a nova-iorquina Complexions, ça brasileira é que a próxima retrospectiva
com seu jazzdance empoeirado e, sobretudo, do ano seja diferente nos pontos que assim
a Momix Dance Theatre, que fez aqui uma mereçam. E também que a dança carioca,
de suas piores e mais amadoras apresenta- feita aqui e apresentada pelo mundo afora,
ções, numa verdadeira ação caça-níqueis. continue sendo destaque em mais tantas
Um grande motivo de comemoração é outras retrospectivas.
MELHORES DO A N O
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 20 DE DEZEMBRO • 2007
ILVIA S OTER
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 21 DE DEZEMBRO • 2007
OBERTO PEREIRA
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O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 22 DE DEZEMBRO • 2007
Coreografia precisa,
como um ato cirúrgico
Monocromos: Uma joia rara no Espaço SESC
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA• 27 DE DEZEMBRO • 2007
Os melhores espetáculos
de dança de 2007
ILVIA S OTER E S UZANA V ELASCO
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Bull Dancing Clandestino e Como?
Dividindo seu tempo entre Brasil e Holanda, Numa curtíssima temporada no Espaço
o piauiense Marcelo Evelin debruçou-se so- SESC, com seus espetáculos Clandestino e
bre a manifestação folclórica do Bumba meu Como?, a dupla de coreógrafos e bailarinos
boi para recombinar os elementos da festa Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira
popular a partir da ótica da desconstrução. mostrou a sofisticação com que vem tratan-
do das misturas possíveis entre as danças
populares e a investigação contemporânea.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
2008 CRÍTICAS
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO - 27 DE ABRIL DE 2008
Verborragia de movimentos no flerte de
Deborah Colker com a dança-teatro
SILVIA SOTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL - 9 DE SETEMBRO DE 2008
Em processo de conhecer seus próprios limites
ROBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
200
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 27 DE JANEIRO • 2008
Muita literatura
para pouca dança
Algum lugar fora do mundo: Excesso de citações
compromete espetáculo da Cia. Corpos Nômades
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
nas deixadas pela descostura da dramatur- multidisciplinar. O que poderia servir
gia e não chega a ganhar uma força mai- como ampliação dos recursos empregados
or. Não seria possível imaginar Algum lu- para construir um sentido – ainda que não
gar fora do mundo sem seus personagens linear – para a dramaturgia se esgarça
e textos, mas sem a dança a peça não per- num excesso de referências e de citações
deria sua identidade.E Algum lugar fora que se diluem sem antes ser suficiente-
do mundo se perde na forma como trata o mente exploradas.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 15 DE FEVEREIRO • 2008
Em busca de
uma identidade
OBERTO PEREIRA
203
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
gastos. A trilha sonora, por exemplo, assina- música, o que se vê ali é uma busca, algo
da por Lucas Marcier e Rodrigo Marçal, essencial para a dança contemporânea.
prima pela narratividade, algo imperdoável, Alex Neoral e sua Focus Cia. de Dança
pois apenas funciona como legenda ao es- ainda têm tempo para testar novas danças.
petáculo. Os figurinos, sobretudo as calças, Por isso, foram apontados no fim do ano pas-
merecem ser rapidamente revistos, pois su- sado pelo Jornal do Brasil como uma promes-
blinham um modo empoeirado de compre- sa. Assim, esse espetáculo pode ser encarado
ender cenicamente a dança, que não com- como um exercício para sua consolidação
bina com o vigor da companhia. como coreógrafo e como companhia.
Talvez o momento em que se pode fla- E finalmente: sobre a obra O pequeno
grar um respiro de algo realmente novo no príncipe, que deveria ter inspirado o espe-
espetáculo seja o duo executado pelos ex- táculo,esqueça. Ela simplesmente não apa-
celentes Clarice Silva e Márcio Jahú. Sem rece em cena.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 17 DE FEVEREIRO • 2008
ILVIA S OTER
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 18 DE FEVEREIRO • 2008
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 22 DE FEVEREIRO • 2008
Coreografia cai na
armadilha da literatura
B612 – O essencial é invisível aos olhos:
Ênfase na relação com O pequeno príncipe intimida
trabalho da Focus
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 24 DE FEVEREIRO • 2008
Elenco de primeira,
repertório discutível
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 9 DE MARÇO • 2008
Veteranos do movimento
alternam tecnologia,
nonsense e elegância
Solos de Dança no SESC: Nona edição
privilegia bailarinos experientes
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
contro não pareça nascer o novo, é sempre na bailarina. A movimentação de braços e
prazeroso vê-lo em cena. tronco em espiral que caracteriza a dança
A noite se encerra com a elegância de Márcia aparece mais madura nesta peça,
de Quase como se fosse amor, de Márcia mais eloquente, com mais nuances e desdo-
R ubin. A o som dos Beatles,a solidão existe bramentos. Márcia Rubin domina a cena
como um estado sereno,visitado pelas lem- com segurança e tranquilidade. Figurino e
branças da presença do outro,de outros,mas iluminação arrematam a peça, fazendo de
ao mesmo tempo como um estado de pleni- Quase como se fosse amor um delicado pre-
tude. E essa plenitude se percebe também sente para os olhos e os ouvidos.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 9 DE MARÇO • 2008
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
vem desenvolvendo ao longo de sua carrei- como se fosse amor, de Márcia Rubin. O mais
ra. A cena, desse modo, faz compartilhar dan- inquietante é que justamente as noções de
ça, música e teatro, tendo como costura uma autoria e interpretação são borradas em seus
ironia fina que perpassa todo o discurso ali limites na cena que ali se constrói. Delicado,
construído. Essa transição de uma linguagem porém tão contundente, o solo de Rubin exi-
a outra, marca de Paredes, está cada vez mais be um corpo que trai sua aparente fragilida-
nítida, o que às vezes aparece como justapo- de no gesto maduro de uma artista que, ao
sição e outras vezes como hibridismo. É jus- interpretar o que ela mesma cria, inaugura
tamente essa incerteza que perturba. Mas é exatidões. E essas exatidões aparecem na
nela que reside a qualidade de Baldio. incerteza provocada pelo que ali é borrado,
Outro momento em que autoria e inter- pelo que está fora do limite, algo que, em
pretação aparecem juntas na noite é Quase dança, se vê apenas em grandes criadores.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 16 DE MARÇO • 2008
Coreografias inéditas
apresentam risco e surpresa
no Espaço SESC
Solos de Dança: Um projeto com qualidades,
mas com suas fragilidades
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Na dobra do tempo encerra a noite com A proposta dos Solos de Dança de ser-
Lavínia Bizzotto coreografada por Juliana vir como catalisador de encontros entre cri-
Moraes, em mais um encontro inédito. La- adores e intérpretes que ainda não haviam
vínia, ex-bailarina da Quasar, cria uma mu- trabalhado juntos e que por apenas dois
lher no limite da tensão e do descontrole. In- meses convivem e produzem a peça que ali
térprete com uma bonita e eficiente presen- é apresentada é, sem dúvida, marcada pelo
ça em cena, seu virtuosismo aparece atra- risco e pela surpresa. Nesta edição não foi
vés do modo como explora os pequenos ges- diferente. Foram vistos alguns trabalhos que
tos desarticulados. No entanto, Na dobra do chegaram ao palco com um grau maior de
tempo fica apenas aí, apoiado na competên- resolução e outros ainda como um esboço
cia dessa intérprete e sem acrescentar a isso de algo que poderá (ou não) ser melhor de-
uma ideia que o levasse adiante. senvolvido posteriormente.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 21 DE MARÇO • 2008
Gesto vira
pilar coreográfico
Recurso transforma o tratamento cênico da série
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
sa os dias, mas que quase nunca é desvela- sua dimensão de espasmos, em uma suspen-
do. A qualidade do que se apresenta, ainda são de um estado de percepção que é qua-
em forma de pleno processo de elaboração se êxtase. O corpo de Lavínia, visivelmen-
coreográfica, é a da delicadeza enxuta de te apto a investidas técnicas arrojadas, en-
quem experimenta esse gesto não como um trega-se nesse solo a um outro desafio cuja
produto, mas antes como algo que está ali dificuldade torna-se matéria para a própria
em sua dimensão própria, usual, quase ba- composição coreográfica. É desse estado,
nal, quase imperceptível de tão corriquei- nessa dificuldade do embate, que os espas-
ra. E essa delicadeza está na dança de Dani, mos surgem e permanecem, sempre em re-
que poderia ter investido ainda mais nessa corrências.
preciosidade e menos numa cena já tão vis- Os Solos de Dança no SESC se confirmam
ta de uma suposta “dança contemporânea”. como a mais importante mostra do primeiro
Fechando a noite, a bailarina Lavínia semestre em terras cariocas. Que venha sua
Bizzoto aparece em Na dobra do tempo,de décima edição, o que, em tempos como esses
Juliana Moraes.A qui, o gesto é tratado em que a cidade vive, é quase um milagre.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 31 DE MARÇO • 2008
Mistura irregular
de épocas e estilos
Joias do ballet russo: Repertório e artistas não
salvam a apresentação do Russian State Ballet
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
lizmente, Thiago Soares não voltou para o nham ficado perdidos no meio de tantas
Dom Quixote, como anunciado no programa. mudanças de coreógrafos, músicas, momen-
A segunda parte da longuíssima noite foi tos históricos e registros.
igualmente irregular. Num determinado O programa do Russian State Ballet mais
momento,graças a um problema técnico,a uma vez mostrou que este tipo de proposta
música simplesmente parou de tocar, en- só se torna de fato interessante quando tan-
quanto os bailarinos tentavam, em vão,con- to as peças apresentadas quanto os intérpre-
tinuar dançando. O ponto alto foram dois tes que as defendem têm a excelência que
solos que atraem pela curiosidade do ponto justifica um espetáculo de gala. No caso de
de vista histórico, já que carregam nomes Joias do ballet russo, nem o repertório esco-
importantes do balé.Foi interessante poder lhido nem os artistas da companhia russa
assistir a Amapola da Califórnia,de Anna fizeram com que as fragilidades da propos-
Pavlova, e O diabo coxo,de Fanny Elssler, ta não se colocassem à frente de suas possí-
dançados com adequação, ainda que te- veis qualidades.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 14 DE ABRIL • 2008
Giselle mantém
a aura de clássico
Balé se impõe com segurança,
a mesma de Silvio Viegas
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
ainda novas nuances quanto mais madura a a pertinência de se convidar bailarinos es-
bailarina se torna. trangeiros, já que possuímos tantos com
Pena que ela tenha dividido a cena com talento no País.
Jesús Pastor, bailarino espanhol convida- Giselle é mesmo um sucesso.E é também
do, cujo desempenho nem de longe dialo- uma grande lição para jovens bailarinos
ga com a qualidade de sua dança. Visivel- que têm a oportunidade de dividir a cena
mente despreparado para o papel, sem com os mais experientes. Esse é o sentido
qualidades dramáticas e tecnicamente de tradição,imprescindível para uma com-
frágil, Pastor deixa a questão no ar sobre panhia como essa do Theatro Municipal.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 16 DE ABRIL • 2008
Ânimo renovado
para a temporada
Giselle: Theatro Municipal apresenta
montagem caprichada do balé
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
sas das wilis, e, no segundo ato, Ana Botafo- ta cenários, iluminação e figurinos; o tra-
go e Jesús Pastor tiveram seus melhores balho harmônico e bem orientado da com-
momentos de integração. panhia e o ânimo com que os bailarinos
Independentemente de um destaque defenderam seus papéis. Em tempos de
ou de outro, o que mais saltou aos olhos “vacas magras” na área da cultura, assis-
nesta estreia foi o conjunto da obra: o ca- tir a Giselle é ganhar esperanças para a
pricho da montagem – levando-se em con- temporada que se inicia.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 27 DE ABRIL • 2008
Verborragia de movimentos
no flerte de Deborah Colker
com a dança-teatro
Cruel: Nova peça da coreógrafa
confirma sua busca por linguagem
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
das negociações que ocorriam em torno da diferente, em que espelhos pivotantes fun-
mesa, a mesa de Cruel aborda os dramas cionam como um novo suporte. Aqui, Debo-
familiares.Do baile à mesa de Cruel,as pos- rah parece mais à vontade, circulando pela
síveis nuances das relações entre esses per- exploração de bonitas imagens que o espe-
sonagens são,no entanto,achatadas por uma lho permite. Mas este segundo ato se man-
verborragia de movimentos e pela trilha tém completamente descolado do anterior
sonora acachapante que se impõe pelo ex- e poderia servir como uma peça indepen-
cesso,sem silêncios ou respirações.Os figu- dente, ou como partida para uma nova pes-
rinos de Samuel Cirnansck reforçam a ide- quisa, pois pouco acrescenta ao que aconte-
éia de opulência, já que operam entre um ceu na primeira parte. Se por um lado, a
desfile de alta costura e a roupa de aula de dança de Deborah Colker em Cruel avança
dança, não achando o tom, nem num caso por outros caminhos, seu jeito de trilhá-los
nem no outro. se apoia ainda num certo exagero e numa
Na segunda parte de Cruel, os mesmos intensidade sem pausas, onde não cabe o não
personagens voltam à cena, num cenário dito, o que nasce nas entrelinhas, o que é sutil.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 27 DE ABRIL • 2008
Falta habilidade
na coreografia
Deborah Colker expõe fragilidade na montagem,
materializada em passos de dança mal conectados
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
mesmo com o recurso vazado (simetrica- Cruel aponta para a coragem da core-
mente) no meio, eles não se justificam ógrafa em buscar novas possibilidades
como metáfora de crueldade. Novamente, cênicas. Talvez seja cedo ainda para se
a embalagem no lugar do produto. falar em crise, algo que vem se mostran-
O exagero e o explícito estão, por fim, do absolutamente necessário e urgente
nos cenários óbvios de Gringo Cardia, nos em sua carreira. Além, é claro, do fato de
figurinos que funcionam muito mal, de Sa- que ela precisa se lembrar de que, no
muel Cirnansck e, sobretudo, na trilha so- exagero e no explícito, não há lugar para
nora absolutamente imperativa de Berna o espectador, pois tudo está dado, sem
Ceppas, que teima em preencher todo o es- chances para interlocução, tornando re-
paço sem deixar nenhuma brecha para a almente cruel a própria experiência de
dança que ali se constrói. assistir a esse espetáculo.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 16 DE MAIO • 2008
Entretenimento profissional
Coreografia não interessa.
A palavra de ordem é efeito
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 18 DE MAIO • 2008
OBERTO P EREIRA
228
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
obras assinadas por Arrieta e Sandro Bore- Através de apresentações, sobretudo dos
lli. Uma comemoração que aponta dois sen- coletivos com mais tempo de existência,
tidos em sincronia: para a história e para o como o Couve-flor – Microcomunidade ar-
futuro, ambos carregados de uma qualida- tística mundial, de Curitiba, e o Centro de
de que está na dança do Balé da Cidade e Criação do Dirceu, de Teresina, seis grupos
nos corpos de seus excelentes bailarinos. dividiram também o palco do Centro Cul-
A segunda forma de organização cami- tural para que pudessem falar de suas es-
nha justamente na contramão dessa que é tratégias de sobrevivência. Tal apresenta-
tão estabelecida e consagrada ligada ao ção ajudou a entender como os resultados
poder público como são as companhias ofi- estéticos são absolutamente contaminados
ciais: trata-se dos coletivos,grupos de artis- pelos modos de produção que os per-
tas independentes que se juntam para tor- meiam. Trabalhos arrojados, muitas vezes
nar possível sua produção,em cooperações desmedidos em sua profusão de ideias, denun-
mútuas.Através de estratégias sempre no- ciam uma busca bastante jovem de novos
vas, móveis e sobretudo instáveis, acabam resultados cênicos.
por inaugurar,a cada nova criação, modos Duas propostas diferentes de fazer a
de sobrevivência artística. Não há hierar- dança existir nesse país de poucas investi-
quias,não há regras preestabelecidas e car- das em políticas públicas para a área: uma
gos a serem ocupados,mas apenas o desejo companhia oficial, com bailarinos devida-
comum de viabilizar ideias em dança. mente empregados e cargos muito bem de-
Esses grupos,que surgem nos quatro can- finidos convive com mostras de coletivos
tos do País e que se autonomeiam coletivos que se perguntam, a cada dia, como será a
puderam se encontrar pela primeira vez criação de amanhã. Nem por isso, as dificul-
através da mostra pioneira organizada por dades e os desafios – estéticos e financeiros
Sonia Sobral, no Itaú Cultural, denominada – para uma são maiores ou menores que
Coletivo Corpo A utônomo,iniciada no dia 7 para outra. São diversos, como deve mesmo
e que se estende até o dia 18 deste mês. ser a arte contemporânea.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 1 DE JUNHO • 2008
Metade do
espetáculo já bastaria
Batalha é secundária diante de Suíte Funk,
o atual em estado puro
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 9 DE JUNHO • 2008
Bailarinos se entregam
Espetáculo em Santa Teresa é uma grande celebração
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 20 DE JUNHO • 2008
“Transcriação”
shakespeariana
Balé de Londrina relê
Romeu e Julieta em desafio difícil
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 26 DE JUNHO • 2008
Desafio é desfazer
má impressão da companhia
Russian State Ballet
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 6 DE JULHO • 2008
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 7 DE JULHO • 2008
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 9 DE AGOSTO • 2008
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 15 DE AGOSTO • 2008
ILVIA S OTER
237
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
coreógrafo não está presente. A familiari- Cage na trilha sonora reforça a referência
dade de Carolina Wiehoff com a escrita de ao coreógrafo americano –, Paulo Caldas
Paulo Caldas aumenta a cada nova peça, o parece interessado em verticalizar sua in-
que também acontece com Natasha Mesqui- vestigação e não faz concessões. Para o
ta. É nas duas que as mudanças da Staccato mergulho que dá na forma, ele acaba por
se tornam mais visíveis. A chegada de Pau- evacuar a expressividade que poderia bor-
la Maracajá à companhia, intérprete expe- rar sua proposta. Ganha em rigor e preci-
riente, trouxe ainda mais brilho ao grupo. são, mas talvez deixe escapar o desvio que
Na linha de artistas como, por exemplo, poderia transformá-la e apontar novos e tal-
Merce Cunningham – a presença de John vez interessantes desdobramentos.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUARTA-FEIRA • 20 DE AGOSTO • 2008
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 12 DE SETEMBRO • 2008
Qu’eu isse
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 7 DE SETEMBRO • 2008
OBERTO PEREIRA
241
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
eker (da companhia belga Rosas), Maguy sythe. Mas o curioso está na remontagem de
Marin, Suzane Linke (que apresenta a Re- The show must go on, do francês Jérôme Bel, a
construção de uma obra sua de 1985), Caro- que nós pudemos assistir aqui em 2002, no
lyn Carlson e Angelin Prejlocaj, todos eles Panorama de Dança. Uma obra absolutamen-
já conhecidos do público carioca. te atual, que fala da cultura pop, sobretudo na
Mas talvez o mais curioso em toda a música e, como consequência, na dança, de
Bienal fique por conta da própria companhia repente vira “repertório”. Nada mais Retour en
pública da cidade,o Balletde L’Opéra de Lyon, avant, como quis Guy Darmet. Nada mais
que apresenta entre outras coisas um progra- para provar que o presente já é, por si só, his-
ma inteiramente dedicado a W illiam For- tória, mesmo na dança.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 9 DE SETEMBRO • 2008
Em processo de conhecer
seus próprios limites
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 13 DE SETEMBRO • 2008
Parceria explora
os limites corpóreos
Vieira e Cezário vão além de diretor
e bailarino e atingem cocriação
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 18 DE SETEMBRO • 2008
Na Bienal de Lyon,
passado e futuro em harmonia
Là laià là laià!!!
Là laià là laià!!!
Lá la laiá la laiá!!!
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
E isso ainda não é tudo. A partir de sex- shwin) e pela companhia do americano
ta-feira, a paulista Companhia Sociedade Ronald K. Brown, com três pequenas obras
Masculina apresenta a versão de Henrique pouco articuladas.
Rodovalho para a Tropicália, uma criação Entretanto, no sentido de dialogar com
de 2008, denunciando uma clara deferên- o tema proposto pela Bienal deste ano, a
cia de Darmet à dança brasileira, sobretu- ideia de memória, nada foi mais instigante
do a partir de 1996, quando foi tema de toda do que o apresentado nesta terça-feira, no
a Bienal. Teatro da Ópera da cidade, pela companhia
Além das participações brasileiras, ou- belga Rosas, dirigida por Anne Teresa de
tras tantas atrações mostraram um festival Keersmaeker. Em D’un soir un jour, a clás-
com seus altos e baixos absolutamente cor- sica cena do jogo de tênis do filme de Anto-
riqueiros. Se os melhores momentos até ago- nioni, Blow up, de 1966, projetada no palco,
ra ficaram por conta do Ballet da Ópera de entra em diálogo com a misteriosa coreo-
Lyon, que apresentou com competência um grafia de Nijinsky, Jeux, com música de De-
programa todo dedicado a William Forsythe bussy, de 1913, que também tratava do mes-
e outro com a ainda polêmica obra The show mo esporte. Tudo essencialmente contem-
must go on,deJérôme Bel, ou mesmo com o porâneo em termos coreográficos, em dois
Ballet de Lorraine, que recriou uma obra tempos distintos de citação. E de uma bele-
histórica de 20 anos atrás do coreógrafo Do- za cênica impressionante. Tudo condizente
minique Bagouet, Les petites pièces de Ber- ao mote da própria Bienal: Retour em avant.
lin, os mais frágeis foram apresentados pela Ou seja, o passado e o futuro, em dança, hoje.
Compagnie Montalvo-Hervieu (com Ger- E ao mesmo tempo.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 20 DE SETEMBRO • 2008
Uma construção
cristalina
Ritornelo: Uma peça
com ótimos bailarinos e
densidade coreográfica
ILVIA S OTER
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
tabilidade dessa companhia. A presença Não é surpresa constatar que Bruno Ce-
segura de Soraya Bastos colore de tons zário segue como um dos intérpretes mais
quase expressionistas suas cenas. Joaquim competentes de sua geração. Em tempos
Tomé, Laura Ávila e Thiago Sancho ali- em que há grande evasão de talentos bra-
am vigor e precisão técnica e mostram-se sileiros para companhias estrangeiras não
também perfeitamente integrados à pro- é possível deixar também de festejar este
posta de Renato Vieira e Bruno Cezário. feliz retorno.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 28 DE SETEMBRO • 2008
ILVIA S OTER
249
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
REVISTA PROGRAMA RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 31 DE OUTUBRO • 2008
A dimensão exata
da dança atual
OBERTO P EREIRA
250
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
CRÍTICA NÃO PUBLICADA
RIO DE JANEIRO • 2008
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
R I O D E JA N E I R O • D O M I N G O • 2 D E N O VE M B R O • 2 0 0 8
Cada gesto é um
pequeno mundo
Espetáculo da coreógrafa francesa
faz interação física e intelectual
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 3 DE NOVEMBRO • 2008
ILVIA S OTER
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 4 DE NOVEMBRO • 2008
Longe dos
estereótipos da rua
Espetáculo transcende os arremedos
de videoclipe do hip hop
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 17 DE NOVEMBRO • 2008
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 5 DE DEZEMBRO • 2008
OBERTO P EREIRA
256
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 15 DE DEZEMBRO • 2008
OBERTO PEREIRA
257
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
O GLOBO
RIO DE JANEIRO • SEXTA-FEIRA • 19 DE DEZEMBRO • 2008
ILVIA S OTER
258
AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SÁBADO • 27 DE DEZEMBRO • 2008
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
Fora dos domínios do SESC, ainda foi Foco, mostra dedicada à produção de vídeo-
possível assistir a dois importantes espetá- dança nacional e internacional.
culos: O reino do outro mundo, da Compa- As atrações internacionais, salvo a pro-
nhia Rubens Barbot Teatro de Dança, em gramação do Panorama, foram desastrosas.
plena igreja anglicana de Santa Teresa, e o Uma invasão de companhias russas de ter-
delicado relato de uma excelente bailarina ceiro escalão mostrou o que há de pior em
como Denise Stutz, em 3 Solos em um tem- termos de balé naquele país, numa verda-
po.Já Deborah Colker não chegou a empol- deira ação caça-níqueis por aqui. E, falando
gar com seu Cruel, com certeza um de seus em balé, nossa principal companhia, o Bal-
espetáculos mais frágeis. let do Theatro Municipal, que deixou neste
Os festivais continuam os mesmos, além ano de ser a única brasileira a se dedicar a
da novidade da Mostra Carioca de Dança esse segmento, desde a criação da São Pau-
Contemporânea, da Caixa Cultural, que ser- lo Companhia de Dança, apresentou uma
viu como uma espécie de balanço do que Giselle correta em abril, mas acabou o ano
aconteceu de mais representativo no ano na inexplicavelmente apertada num palco de
cidade. O Festival Panorama de Dança, que um shopping center da zona sul, apresentan-
teve em sua programação dois dos melho- do extratos de O quebra-nozes, já que sua
res espetáculos do ano,Umwelt,da francesa casa encontra-se em reformas.
Maguy Marin, e H3, de Bruno Beltrão,con- Nesse próximo ano, fica a esperança
tinua seguindo sozinho em seu perfil. Os de novas possibilidades para que a dança
Solos de Dança no SESC também mostrou carioca volte a florescer como já foi um dia.
trabalhos que mereceram atenção, como os Já do ano que passou, fica a certeza de que
de Márcia Rubin em Quase como se fosse as pessoas envolvidas com essa arte, nessa
amor, além de uma Ana Botafogo surpre- cidade, são, além de artistas da dança, artis-
endente, em La Mariée.Além deles, há de tas que inventam seus próprios modos de so-
se ressaltar a contínua ação do Dança em brevivência.
B OXE 1
(não publicado)
Além de ser palco das principais estreias de Sonia Destri, que receberam R$ 50 mil, apoios
dança na cidade e de abrigar dois de seus fes- que já foram garantidos novamente para o pró-
tivais mais importantes, os Solos de Dança no ximo ano. Além dessa ajuda financeira substan-
SESC (produção própria) e o Festival Panora- cial, o SESC ainda oferece a essas companhias
ma de Dança, o SESC Rio, através do Espaço espaço para ensaios, palco para as estreias e
SESC, lançou-se, desde novembro do ano pas- circulação pelas unidades do estado. Nesse
sado, a uma nova empreitada absolutamente próximo ano, como contrapartida, esses artis-
louvável: apoiar companhias de dança. O que tas deverão oferecer oficinas práticas ao pú-
um dia foi atributo da Prefeitura, hoje é uma ação blico e, após uma avaliação dos resultados,
que garante um mínimo de dignidade e trabalho outros nomes poderão ser incluídos. Todo esse
a cinco artistas cariocas: João Saldanha, Pau- projeto é assinado por Beatriz Radunsky e sua
lo Caldas e Renato Vieira, que receberam por equipe, que vêm desenvolvendo um trabalho
um ano o valor de R$ 100 mil, e Alex Neoral e ímpar na história da dança do Rio de Janeiro.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
B OXE 2
(não publicado)
Um dos grandes desafios para a dança, não ainda com mais duas mostras voltadas espe-
apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o mun- cificamente para esse nicho: o Festival Dança
do, é a formação de plateia. Na Europa, por Criança, que felizmente voltou a ocupar a Cai-
exemplo, profissionais especialmente contra- xa Cultural em outubro deste ano, oferecendo
tados para se dedicar a descobrir e implemen- espetáculos, oficinas e mostra de vídeos; e o
tar estratégias nesse sentido estão sendo for- Panoraminha, novidade do Festival Panorama
mados e contratos. Mas entre nós, algumas de Dança, com dois espetáculos: Chuá, da Di-
iniciativas também estão sendo tomadas, so- menti, companhia baiana, e Matrioska, do por-
bretudo no que se refere ao público infantil, o tuguês Tiago Guedes. São investimentos como
que não deixa de ser uma ótima investida para esses que podem garantir que, no futuro, o
que um público venha a se formar no futuro. público de dança se alargue e que a demanda
Além da ótima estreia da coreógrafa Ana Vitó- no setor, consequentemente, aumente. Todos
ria com Cirandas cirandinhas, o Rio contou sairiam ganhando.
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2009 CRÍTICAS
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JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • SEGUNDA-FEIRA • 9 DE FEVEREIRO • 200
20099
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • DOMINGO • 15 DE MARÇO • 2009
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
tre elas, e não suas qualidades individuais. em cena, tingindo a dança da coreógrafa
E o tempo, por demais esgarçado, contribuiu com novas nuances.
para que essas diferenças não exploradas E, por fim, Catábases, de Renato Vieira,
apenas fossem soltas na cena, sem nenhum reúne Bruno Cezário e Joaquim Tomé num
tratamento coreográfico. duo bastante interessante. O único ponto a
A coreógrafa Ana Vitória decidiu revi- se burilar, em se tratando da excelência dos
sitar uma antiga obra sua, 1, segundo, com intérpretes em questão, é a medida exata de
as bailarinas Andréa Bergallo e Soraya uma dança que resvala, às vezes, na quali-
B astos.Para além da certeza de que se trata dade da mera exibição das habilidades dos
mesmo de três excelentes artistas,é o solo bailarinos.
de Ana que mais impressiona, pois se pode Dez anos da principal mostra de dança do
ver a relação direta entre criador e intérpre- primeiro semestre são motivo de comemora-
te.Seu vigor físico,sua marca, cede espaço ção. Parabéns ao SESC. Esse espaço continua
agora para uma maturidade bonita de se ver sendo o endereço oficial da dança carioca.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DO BRASIL
R I O D E J A N E I R O • DOMINGO • 15 D E MARÇO • 2 0 0 9
Começou mal,
mas terminou com brilho
João Wlamir faz trabalho óbvio, e
Márcia Milhazes supreende
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
sua ironia fina e rapidez nas soluções de Márcia. Com certeza, um dos momentos
improviso. especiais da noite.
Encerrando de forma especial a longa A mostra Solos de Dança no SESC com-
noite, Márcia Milhazes trouxe A moça,o pleta dez anos e se consagra como o prin-
segundo solo do programa. Delicadíssima cipal evento de dança na cidade do primeiro
textura de movimento que retrata o esta- semestre. Graças à sua idealizadora, Beatriz
do feminino,a coreografia foi interpreta- Radunsky, ao longo desses anos, vários for-
da com exatidão e doçura por Ana Amé- matos foram testados, todos interessantes.
lia V ianna. O requintado figurino e a tri
- Agora é aguardar qual o perfil que essa
lha sofisticada dialogam intimamente mostra fundamental para o Rio de Janeiro
com a movimentação desenvolvida por vai tomar no futuro.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
1999-2007 OUTROS TEXTOS
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JORNAL DO BRASIL
CADERNO IDEIAS RIO DE JANEIRO • QUINTA-FEIRA • 16 DE OUTUBRO • 1999
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
e metonímias, para que sua inteligibilidade que dança uma pluralidade de “como é?”.
fosse certeira a um público anônimo e pa- Mesmo com resistência, a facilidade de se
gante e, por isso mesmo, exigente. rotular um bailarino de técnico ou expres-
O balé romântico foi o grande cristali- sivo e todos os julgamentos subsequentes
zador de ideias quando se decidiu encarar cedem lentamente espaço para um enten-
essa empreitada de significações. O que se dimento outro do que seja dramaticidade
dançava no palco era uma representação, neste corpo que dança. Primeiro requisito
em dança, no que se podia ler no libreto. para tanto: perceber que a poética desse
Chamamos isto confortavelmente de balé: corpo é antes de tudo construção, e que aque-
o que escapasse da tirania narrativa do tex- la esquina natureza-cultura não deve ser
to era o que fazia os espectadores-leitores confundida por um beco sem saída.
levantarem os olhos e lerem movimentos. A Susan Blackmore, em seu livro The
dança empunha-se, sem querer estar a ser- Meme Machine (1999), garante que o que
viço apenas de tarefas que estavam à mar- diferencia a espécie humana das outras es-
gem de suas especificidades. pécies é sua capacidade de imitação. Se-
Entre este texto e o gesto no palco, as re- guindo as trilhas da memética, ciência que
lações metonímicas imperavam. A relação estuda as unidades culturais/ideias repli-
causal diminuía ao máximo as chances de cantes (os memes), proposta pelo neo darwi-
interpretações que pudessem funcionar como nista Richard Dawkins, a autora mostra o
ruído de comunicação. O que me fazia acei- quão fluido pode ser o ângulo entre as duas
tar aquela mulher que se chama Odete e que instâncias citadas acima. Contar uma histó-
dança como um cisne estava codificado em ria e recontá-la é, sem dúvida, um caso de
gesto e, sobretudo, em contiguidades em seu tradução, mas antes de tudo de imitação.
figurino: as peninhas do cisne que adornavam Corpo natural e corpo cultural encontram,
sua cabeça e seu tutu. Ingênuo? Em todos os então, na dança, não mais emblemas de frio
casos,absolutamente eficaz. ou quente, técnico e expressivo, mas de
Mas nada disso,entretanto,evitou que a modos de construção, metafóricos e/ou me-
minha amiga Inês Rodrigues Assumpção,de tonímicos.
dez anos,perguntasse espertamente à sua Os cariocas poderão, neste mês de outu-
mãe-coreógrafa ao assistir ao mesmo balé: bro, entrar em contato com esses modos de
“O que a Odete está dizendo para o Sigfried construção através de dois espetáculos em
agora?” No eixo das combinações,são es- especial. O primeiro deles é o já famoso
sas as perguntas possíveis.Já o outro eixo,o Casa, da coreógrafa Deborah Colker. Nessa
da seleção,torna instantânea a relação do casa, movimentos do cotidiano continuam
objeto e a sua representação por meio de sendo movimentos do cotidiano, conectan-
contatos metafóricos: semelhança sincrôni- do-se contiguamente ao cenário, à música e
ca, substituição poética. E é saltando do ou- ao figurino. Inclusive, todos estes elementos,
tro para este eixo que a dança garantiu seu sem si mesmos, trazem também essa rela-
passaporte para a Modernidade. ção causal que garante entendimentos: a
A pergunta agora jamais seria “o que música, por exemplo, também é ruído de
é?”, mas injetaria no movimento do corpo porta que se bate. Mas esta mesma relação
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
não se dá nos movimentos. O divertissement como já denuncia o título da obra: todos nós
está lá, ao lado do gesto codificado, sem podemos segurar um dicionário, mas nem
muitas contaminações. Bater bolo, como mo- todos podemos executar uma pirueta. O que
vimento, não se transforma, metalinguisti- separa um do outro não é apenas o seu grau
camente, num movimento esvaziado da de dificuldade enquanto execução. E o que
ideia de “bater bolo”. A inteligibilidade aí os aproxima é justamente o que Bel propõe
garante o revestimento pop deste trabalho, minimalisticamente: o movimento, seja ele
rascunhando na dança contemporânea con- qual for, com possibilidade de um movimen-
tornos de balé. Neste sentido, Noverre po- to dançado. Mesmo que ele também tenha
deria ser, com certeza, um morador ilustre sido o ato de segurar um objeto.
dessa casa. A tarefa da dança é mais plural do que
O outro espetáculo, que trafega por um querer dizer algo. O que quer e o que pode
caminho inverso do traçado por Colker, é a língua era a pergunta que Caetano Veloso
Non donné par l’auteur, do coreógrafo fran- fez há 15 anos. A dança ainda precisa desta
cês Jérôme Bel, e que faz parte do 8o Pano- mesma questão seu hit parade. Para que ad-
rama RioArte de Dança, do dia 27 de outu- jetivos como técnico e expressivo não
bro no Teatro Carlos Gomes. Aqui, o movi- sejam excludentes e não continuem constru-
mento banal de segurar um objeto cria sua indo um corpo cartesiano quebracabeça-
própria “dramaturgia”,no sentido em que se mente. E para que metáfora e metonímia
torna “movimento por” e não mais “movi- possam ser poéticas de um corpo que dança,
mento para”. Significação não está no gesto sempre, mimeticamente, por imitação. Uma
de segurar um dicionário ou uma bola ou um imitação reinventada a cada execução, mas
par de patins. Gesto é, antes, movimento. sendo sempre consequência-causa de outras
Gesto esvaziado para ser preenchido por ele danças. Pois parafraseando livremente o
mesmo, como movimento. Metalinguistica- coreógrafo francês Boris Charmatz, o corpo
mente. A questão aqui é a da autoria, tal é a alma da dança.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
REVISTA BALLET/TANZ
BERLIM • NOVEMBRO • 2000
O meme na carne
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL A NOTÍCIA
SANTA CATARINA • SÁBADO • 8 DE JUNHO • 2002
Quando a dança
fala de si mesma
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
enquanto tarefa nesse mundo: a construção mundo, aprender a ler essa imagem: a cada
de um corpo (a técnica) e sua configuração novo corpo, a cada nova cena. Resta a nós en-
cênica (a estética), algo que começou lá, na- tender que ali trafegam, numa via de mão du-
quele corpinho que girava (e ainda gira, para pla, informações da natureza (corpo) e da
felicidade da própria dança) em torno de si cultura (dança). Só assim esse mundo pode ser
mesmo. Assim, a dança fala de si mesma entendido como um lugar em que as ideias,
quando a ela é permitida a construção de uma as boas ideias, devem permanecer. Tal como
imagem. Resta a nós, que percebemos nela aquela ideia da bailarina da caixinha de mú-
um lugar privilegiado de desvelamento do sica. Tal como a dança.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO • TERÇA-FEIRA • 16 DE MARÇO • 2004
A formação de plateias
OBERTO PEREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
REVISTA BALLET/TANZ
BERLIM • ABRIL • 2005
Die Verwirrungen
des Luiz de Abreu
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
não há a ideia de passo ali, mas a dança de Em outubro desse mesmo ano de 2004,
um samba que acontece tramando armadi- Abreu foi convidado a remontar o Samba
lhas com o balé e a dança contemporânea. do crioulo doido em Salvador, capital do
Nada mais inquietante para se pensar a Estado da Bahia, dentro da terceira edição
dança brasileira. Uma dança de avesso. Nua. do projeto Ateliê de Coreógrafos Brasilei-
E de exotismos avessos. ros, idealizado por Eliana Pedroso. O que era
Ao final do espetáculo, ouve-se uma ver- um solo transformou-se em uma peça para
são em ritmo de batucada da abertura da dez bailarinos, nove homens e uma mulher –,
ópera O Guarany, de Carlos Gomes. Obra todos negros, e todos igualmente nus.
típica de um olhar estrangeiro que se cons- Essa versão foi mostrada no Teatro Cas-
truiu no próprio compositor brasileiro que tro Alves, o maior e mais importante tea-
ansiava por falar de si a partir do código do tro da cidade, reservado sempre para gran-
outro,essa música funciona quase como um des espetáculos. Simbolicamente, há de se
hino nacional. Neste momento, Luiz de pensar: Castro Alves, poeta romântico bai-
Abreu enfia um pedaço da bandeira brasi- ano, escreveu “Navio negreiro”, um de seus
leira no ânus e transforma o resto do tecido mais conhecidos poemas, que trata justa-
em um estandarte de escola de samba. Des- mente da questão do negro sendo trazido
fila pelo palco.Seu pênis balança ao ritmo da África para o Brasil. Hoje, Salvador é
de samba. Corpo e bandeira são quase um uma cidade composta, em sua maioria po-
parangolé de Hélio Oiticica, que brinca pulacional de negros.
com a questão da obra de arte na instabili- O teatro estava lotado na estreia do dia
dade do momento, do que se reveste e do 16. Risos nervosos durante a peça eram ou-
que se toma estabelecido.A carne mais ba- vidos. Ao final, uma massa de mais de mil
rata do mercado é embrulhada pelo símbo- pessoas se levanta e aplaude. Ou, para ser
lo de uma pátria. É a apoteose. mais legítimo, consagra uma conquista da-
Luiz de Abreu provoca a confusão de quele espaço. E mostra que um teatro não
olhares na plateia: reconhece-se o que é ser poderia levar aquele nome impunemente.
brasileiro,por dentro; ereconhece-se o que A performance tinha sido elevada à potên-
é ser brasileiro por fora, a partir do olhar cia máxima. O samba do crioulo doido, a
estrangeiro introjetado,do olhar coloniza- partir de então, não é mais apenas confusão
do,(quase) para sempre. e passa a ser entendido, antes de mais nada,
*** como um manifesto.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA • DOMINGO • 14 DE OUTUBRO • 2007
A arte de criticar
OBERTO P EREIRA
F alar de crítica de dança hoje, no Bra- apontam para essa crise. Helena Katz foi quem
sil, é falar de um projeto de resistên- mais publicou, com 29 textos (dados segundo
cia. Efetivamente, escrevendo e publicando seu site: www.helenakatz.pro.br), Inês apare-
crítica de dança em periódicos, temos, que eu ce com 9 textos, Marcello com 20, Silvia com
saiba e até o presente momento, apenas cin- 7 e eu com 20 textos (dados fornecidos pelos
co críticos, que nomeio agora: Helena Katz, próprios colegas). Tudo isso é ínfimo, se a crí-
no jornal O Estado de São Paulo, a primeira tica de cinema, por exemplo, é tomada como
entre nós, Inês Bogéa, da Folha de São Paulo, termo de comparação. Mas é um dado interes-
Marcello Castilho Avellar, no O Estado de sante e que se deve levar em conta quando se
Minas, Silvia Soter, no jornal O Globo e eu fala de dança brasileira hoje.
no Jornal do Brasil, ambos no Rio de Janeiro. A idéia de crítica, que tem sua origem
Muito diferente do início do século XX, na palavra grega krinein, carrega consigo
quando a dança e mais especificamente o dois sentidos interessantes: a de quebra e a
balé aportou por em terras brasileiras, e quan- de crise. Essa seria sua tarefa quase ontoló-
do existiam dezenas de jornais na então ca- gica. Quebrar a obra em pedaços, colocan-
pital federal, cada um deles com um crítico do em crise os sentidos pré-organizados que
de dança, hoje esse ofício beira o exíguo. Se se colam a ela. É fazer com que a obra res-
antes havia espaço nos jornais para críticas pire em outros modos, em outros registros.
extensas, que muitas vezes começavam Não à toa, a crítica de dança surgiu em
numa edição e terminavam noutra, em outro pleno século XIX, quando essa arte, através
dia da semana, tão grande era o texto, hoje do balé romântico, sistematizava sua ima-
as possibilidades de que elas saiam e que gem tornando-se o que hoje conhecemos
tenham um tamanho condizente com sua como dança cênica ocidental. Não à toa, foi
importância são bem menores. Em quase to- nesse mesmo século que a história ganhava
dos os jornais. Com quase todos os editores. seu estatuto de área de conhecimento, de ci-
Do início deste ano até o final do mês de ência. A crítica começava a fazer parte des-
setembro, por exemplo, os dados numéricos sa história. E começava a contá-la também.
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Hoje, sua função vem se transformando. age de formas diferentes, mas sempre com-
Como tudo no mundo. Hoje, por exemplo, plementares, na relação entre a obra, o ar-
existe o espaço virtual que subverte as exi- tista e o público.
gências de tamanhos de textos e espaços A curadoria, de alguma forma, propõe
delimitados. E também que permite uma flechas de sentidos da e na obra, antes mes-
reação instantânea dos leitores, estabele- mo que o público entre em contato com ela.
cendo diálogos vivos, num ziguezague de É um a priori que en-forma sua percepção:
idéias. O site idança (www.idanca.net) é um por que essa determinada obra está nesse
ótimo exemplo de lugares de ação e de tro- determinado festival? como ela dialoga
ca de idéias no Brasil. Mas é curioso: quan- com as outras obras que também compõem
do escrevi meu mais recente artigo para esse sua programação? onde ela é apresentada?
site, senti uma estranheza aguda por poder quando? como? em que ordem? o que eu
escrever o quanto desejava e precisava. Um assisti ontem “contamina” o que eu assisti-
outro registro, uma outra mídia, com certeza. rei hoje, que já está “contaminado” pelo que
Mas se estamos falando em crítica den- verei amanhã?
tro de um ambiente de festival de dança, A crítica desmancha os itinerários des-
como o é a Bienal de Dança do Ceará, seria sas flechas de sentidos. Quebra seu percur-
interessante colocá-la em contraponto com so, colocando em crise o que se pensou, exi-
uma outra instância, que hoje divide com a gindo que se repense. É um posteriori. Um
crítica um lugar decisivo entre a obra, o ar- depois que redimensiona o antes.
tista e o público: a curadoria. Na Bienal de Dança do Ceará, esses dois
Um ofício muito mais recente que o do lugares tão importantes hoje quando se fala
crítico, o curador aparece em fins do século XX, em dança contemporânea estarão clamando
para cuidar de algo que não se aprisionava por urgências: a urgência de se fazer enten-
mais em ismos: a arte contemporânea. Para a der o que são todas essas informações que se
dança, se formos também levar em conside- viabilizam apenas com a existência de um
ração a recente prática de festivais de dança festival como esse nesse ambiente, entenden-
que carregam a idéia de uma curadoria, po- do quais são suas pertinências e suas reverbe-
deremos constatar que se trata, em sua gran- rações; e, ao mesmo tempo, estampa a lacuna
de maioria, de festivais de dança contempo- do outro pólo, que seria a do exercício crítico.
rânea, pelo menos no Brasil. A tarefa seria a Tomando as proporções continentais
de administrar o que era quase inadministrá- brasileiras, a existência de apenas cinco crí-
vel, o que não se classificava mais como as- ticos atualmente é quase risível. Se o senti-
sim o permitiu um dia o balé e a dança moder- do de tradição em dança que se faz no Bra-
na, por exemplo. E administrar está na origem sil hoje necessita da formação de artistas e
latina da palavra curador, curator, que signifi- de seus públicos, suas estratégias são claras
ca tutor, ou aquele que administra. e muitas vezes impiedosas. Tenhamos cada
Pensar em curadoria e crítica hoje é pen- vez mais críticos, para que os tantos festivais
sar em ações da dança contemporânea, so- que já existem pelo país afora sejam colo-
bretudo no Brasil, onde essas ações comun- cados em crise. Numa crise, entretanto, que
gam com os festivais de dança estratégias os co-mova, ou promova transformações.
de sobrevivência. Apenas cada uma delas Nada mais contemporâneo, certo?
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
WWW.IDANCA.NET
RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO • SEGUNDA-FEIRA • 10 DE SETEMBRO DE 2007
As agruras de um
projeto não selecionado
OBERTO P EREIRA
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2009
Assim, a primeira possibilidade que me inclusive que compõem o quadro de criado-
veio à cabeça que justificaria a não seleção res de dança contemporânea de hoje, como
de meu projeto é a mais óbvia: o projeto não Alejandro Ahmed, Mário Nascimento e
é bom. Simples assim. Ou porque o tema não Henrique Rodovalho, apenas para citar al-
parece ser pertinente, ou porque sua elabo- guns. Além desse estudo, a captura e o regis-
ração não está de acordo com as exigências tro de suas imagens em suas mais diversas
do edital, ou ainda porque seu orçamento possibilidades também se fazem prementes,
não está digno e/ou compatível ao que ele eu acreditava. Enfim, o que existe é a cons-
se propõe. Ou ainda: o projeto era “até” bom, tatação de que quase tudo ainda está por ser
mas havia outros melhores. E como a cota feito no que se refere ao jazzdance no Bra-
era restrita, os outros projetos (“melhores”) sil. Mas a comissão pode não ter concorda-
poderiam ter sido priorizados. Como já par- do comigo, e isso é (e deve ser, já que con-
ticipei de várias comissões que analisam cordei em submetê-lo a ela) compreensível
projetos como esse meu, inclusive na pró- e deveria ser aceitável.
pria Funarte (Prêmio Funarte Petrobras de Então, o segundo critério, que toca no
Fomento à Dança, entre os dias 21 e 25 de ponto da elaboração do meu projeto propri-
novembro de 2005), fico pensando que es- amente dita. Talvez eu tenha pecado em
ses são critérios absolutamente legítimos. algo crucial que fez a exigente comissão não
Todos três. Vamos a eles: aceitá-lo. Alguma omissão grave, algum
A pertinência de se estudar a história da ponto que não estava suficientemente cla-
dança no Brasil e do Brasil me parece, pelo ro, ou mesmo sua articulação pode não ter
menos num primeiro momento, inquestioná- parecido satisfatória. Mas estava tudo ali:
vel. Num país onde ainda muito há de ser objetivo, histórico, justificativa, cronograma,
feito nesse sentido, uma iniciativa de se es- orçamento, currículo. Será, meu Deus, que me
tudar a história de uma estética tão impor- esqueci de algo? Outro fato que seria abso-
tante como o jazzdance sempre me veio lutamente legítimo.
como obviamente necessária. Por várias Como coloquei o projeto em questão em
razões,eu diria. E eu poderia elencá-las aqui. seguida a esse texto, peço aos leitores mais
Mas acho que bastaria dizer que existiram dedicados que, por favor, me ajudem, apon-
ainda poucas iniciativas nesse sentido, com tando falhas, para eu possa, então, e definiti-
projetos pontuais que não abarcaram a gran- vamente, aprender, se for mesmo esse o caso,
deza de se estudar esse momento tão caro à como se elabora um texto que se pretende
nossa dança em sua dimensão histórica e em projeto. Talvez o meu histórico de mais de
suas mais diversas vertentes,sobretudo nas 20 anos de pesquisa de dança não tenha ain-
cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. da me habilitado a elaborar um texto digno
Nomes fundamentais de nossa dança, de ser selecionado por uma comissão como
que se encontram devidamente citados no a desse edital. Talvez. Isso é absolutamente
meu projeto (que propositalmente coloquei aceitável, também.
como um anexo a esse texto), mereciam, O fato de eu ser um doutor (e por uma
hoje, quase 20 depois do auge dessa estéti- dessas coincidências, pelo menos quatro das
ca entre nós,um estudo aprofundado. Nomes integrantes dessa comissão são minhas co-
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AO LADO DA CRÍTICA: 10 ANOS DE CRÍTICA DE DANÇA – 1999-2 009
legas de programa de doutorado da mesma des, como o Rio e São Paulo, sem excluir Belo
universidade), com a pesquisa lançada em Horizonte. E acredito ser honesto como di-
livro pela editora da Fundação Getulio Var- vidi os pagamentos de todos aqueles que me
gas, talvez não tenha me auxiliado nesse auxiliariam no que eu havia me proposto.
desafio. O fato de eu ser mestre em filosofia Talvez eu tenha me equivocado em algum
pela Universidade de Viena, com a pesqui- ponto. E peço, então, que me ajudem. Lem-
sa também lançada em livro (já em sua se- brem-se, novamente: essa ajuda pode ser
gunda edição), também não. valiosa para todos aqueles que estão lendo
E também não, o fato de eu ser crítico de esse texto e que tenham (ou não) seus proje-
dança do Jornal do Brasil já há quase 10 tos reprovados em editais como esses. Como
anos, ou o fato de eu ter nove livros publica- já comentei aqui, fiz parte de comissões como
dos sobre dança, além de cinco coletâneas essa e para mim os orçamentos eram sem-
de artigos sobre dança co-organizadas por pre muito “reveladores”. Parecia que se po-
mim, todos elas esgotadas e quase unânimes deria fazer um raio X da verdadeira índole
em seu uso nos cursos superiores de dança de alguns proponentes ao se entrar em con-
pelo país afora; ou o fato de eu ter sido por tato apenas com seus orçamentos...
seis anos curador de um festival da impor- Bom, vamos então à segunda possibili-
tância que tem o Panorama de Dança; ou o dade ou à segunda hipótese: o meu projeto
fato de eu viajar pelo País ministrando pa- talvez tenha sido cancelado. Simplesmente
lestras e cursos ou participando de comis- assim: cancelado. E aí vamos tentar enten-
sões (apenas nesse ano de 2007, já pude es- der o que me leva a tal suposição.
tar em cidades como Vitória – ES, Belo Hori- Como é de conhecimento do todos, abso-
zonte – MG, Caxias do Sul – RS, Porto Alegre lutamente todos que fazem arte neste país
– RS, Londrina – PR, São José dos Campos – (e talvez não daqueles que a financiam, in-
SP, Fortaleza – CE, Uberlândia – MG, Joinvi- felizmente), muitos dos artistas e dos pesqui-
lle – SC, São Paulo – SP e Campo Grande – sadores não possuem uma firma que os re-
MS); enfim, todos esses fatos juntos não de- presente. Não somos pessoa jurídica, não
vem ter me ensinado a elaborar um projeto temos CNPJ, por tudo o que justifica as difi-
digno. Claro, isso é absolutamente possível e culdades legais de se ter e se manter uma
legítimo. Talvez eu tenha que aprendê-lo. Ou firma hoje em dia.
desistir definitivamente disso. O que mais da metade desses artistas e
Mas esse artigo, ao tocar nessa possibili- pesquisadores fazem? Procuram por firmas
dade, coloca a oportunidade de todos nós sa- (muitas vezes de idoneidade questionável)
bermos como é elaborar um bom projeto de para que possam servir como “proponentes”
pesquisa histórica em dança no Brasil. Aten- de seus projetos, para que os representem
ção: essa é a chance! juridicamente. Tal fato não é novo e é uma
Bem, resta ainda meu orçamento. Como realidade concretíssima em nosso meio. É
os leitores podem constatar, solicitei a ver- assim. E pronto.
ba de 50 mil reais, que ainda julgo ser sufi- Como todos fazem, também saí atrás de
ciente para um projeto como o meu, mesmo uma firma que pudesse ser minha propo-
abarcando a história de duas grandes cida- nente e que pudesse me representar junto a
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esse edital da Funarte. Achei que seria mais agosto. A minha proposta é que me fosse
prudente procurar a firma de uma pessoa concedida a chance de simplesmente trocar
amiga, conhecida minha, com quem eu, in- a firma que seria a minha proponente, pois
clusive, trabalho. Mesmo tendo que pagar acreditava apenas na pertinência do meu
impostos na ordem de 18%, achei que seria projeto, da minha ideia e da minha compe-
mais seguro e honesto contar como uma fir- tência, que o assinava. Ingenuamente, eu
ma idônea como essa que eu havia escolhi- acreditava que isso seria possível na medi-
do. Assimilei esses impostos em meu orça- da em que a firma em nada comprometeria
mento e acreditei que estava tudo absolu- a efetivação de meu projeto, caso ele fosse
tamente correto. selecionado, pelos motivos já expostos. En-
Um detalhe muitíssimo importante: nin- fim, tratar-se-ia apenas de um recurso me-
guém desta firma tinha absolutamente al- ramente burocrático que me permitiria re-
guma coisa a ver com a elaboração e a efe- ceber a verba. De novo: caso meu projeto
tivação de meu projeto. Todos os que eu fosse selecionado.
havia convidado a integrá-lo como meus A resposta que obtive foi negativa. Não
assistentes (cujos nomes, cuidadosamente, havia essa possibilidade de troca, embora o
retirei da versão do meu projeto que segue edital não considerasse essa situação em
em anexo, por motivos os mais óbvios) não específico (o da troca de CNPJ em casos
estavam ligados à firma em questão. como esse). E o meu projeto, assim posso
No final do mês de agosto (portanto, qua- intuir, deve ter sido desclassificado por esse
se dois meses depois de eu ter postado meu motivo. Ou pela soma dos tantos outros
projeto no correio), numa dessas coincidên- motivos que expus ao longo desse texto. Não
cias da vida, soube por essa minha amiga sei e não deverei nunca saber: no site da
que ela havia sido convidada a compor a tal Funarte não há essa resposta.
comissão que avaliaria os projetos do edi- O pesquisador, que não tem uma firma,
tal em questão. E esse convite teria sido fei- talvez tenha ficado sem a oportunidade de
to pouco tempo antes da comissão se reunir. sua ideia ter sido sequer lida, considerada,
Ela aceitou o convite, como eu acho mesmo avaliada. O proponente passa a ser mais
que deveria. E eu ganhei um problema. importante que aquele que concebe e exe-
Na mesma hora em que me dei conta de cuta o projeto. Pior ainda: passa a ser mais
que o fato de ela ter aceitado participar da importante, que a própria ideia em questão.
comissão comprometeria o meu projeto, No meu caso, se for esse mesmo o caso, o
porque a firma dela (mesmo que ela seja pesquisador fica sem a pesquisa. E o País
apenas uma entre cinco sócios) não pode- fica sem a oportunidade de ter contada uma
ria ser proponente ao mesmo tempo em pequena, mas tão importante, parte da his-
que ela participava da comissão, tentei tória de sua dança.
achar uma saída para o problema que se Fiquei pensando se não seria o momento
instaurava. de revermos os editais e tentarmos trazê-los
Liguei para o então coordenador de dan- mais para perto da realidade daqueles que
ça da Funarte e expus meu problema. Essa realizam a dança, em suas mais diversas
ligação se deu exatamente no dia 27 de interfaces, neste país. Fiquei me lembrando
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do edital de bolsas do extinto e saudoso Ins- transparente o que é uma realidade que to-
tituto RioArte, da Secretaria das Culturas dos conhecemos, mas que simplesmente
da Cidade do Rio de Janeiro, que concedia não é levada em conta na elaboração de
suas bolsas a pessoas físicas. Eu mesmo tive editais como esses?
a oportunidade de ser agraciado com uma, Eu gostaria, confesso, de ser o proponen-
no ano de 2002, quando fiz uma pesquisa te – físico – do meu projeto, ser responsável
sobre a importante contribuição da bailari- por ele, responder por ele, receber por ele.
na Eros Volusia (1914-2004) para nossa Acho que é isso. E sei que isso pode ser pos-
dança, e que foi, inclusive, transformada em sível.
livro, compondo a coleção Perfis do Rio, da Enfim, meu projeto não foi, pela segun-
editora carioca Relume Dumará, no ano de da vez, selecionado. Todos os livros que
2004. Ah, e também me lembrei da bolsa comprei pensando em sua futura realização,
que recebi entre 1998 e o início de 2002, do e todo o material que venho colecionando
CNPq, para que eu pudesse fazer meu dou- ao longo desses três anos, acreditando que
torado. A ajuda mensal era depositada numa ele um dia seria viabilizado financeiramen-
conta bancária aberta em meu nome. E as- te, tudo isso deve ganhar apenas um lugar
sim pude fazer minha pesquisa. em minha estante.
Quem são as pessoas jurídicas que fari- Pelas evidências que se impõem, acho
am uma pesquisa sobre a vida de uma bai- mesmo que está na hora de desistir dele. E
larina como a Eros Volusia? Ou que se de- ficar torcendo, por mim e por todos os pes-
dicariam a pesquisar o jazzdance no Brasil? quisadores de teoria da dança no Brasil, que
Como solucionar esse caso e deixar mais a desistência seja apenas deste projeto.
E N TÃ O , O PRO J E TO
O Jazzdance no Brasil
Histórias de um corpo em swing
Introdução
CONTINUA
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larinos (ver currículo em anexo), que, em mias de Joyce Kermman, a extinta revis-
suas vidas, narravam também a própria ta Dançar e as influências de Lenny Dale
história da dança brasileira. no Rio de Janeiro e Redha Benteifour em
Ao ter trafegado, em meus estudos, ine- São Paulo configuram-se como alguns dos
vitavelmente, pela dança que se fazia em te- muitos ícones de uma época em que o
atros de revista, shows de cassinos e em fil- chamado “boom do corpo” tomou a cena
mes musicais (ou chanchadas), pude perce- da dança brasileira, ao mesmo tempo que
ber como toda uma produção de dança ainda se vivia sob os rastros fortes da cen-
voltada principalmente para o entreteni- sura de uma ditadura militar vigente.
mento carecia ainda de uma investigação Este projeto anseia visitar esse mo-
histórica. mento bastante peculiar da dança brasi-
Nesse sentido, mais adiante, comecei leira, pois além de representar um capí-
a me interessar por um movimento que tulo ainda não escrito em sua história,
assaltou a dança brasileira, sobretudo nele também é possível detectar algumas
nas décadas de 1970 e 1980, e que se pistas para o entendimento da formação
tornou o lugar desse mesmo entreteni- de um determinado tipo de bailarino
mento (sobretudo através de programas hoje, muitas vezes requisitado em com-
de televisão), ao mesmo tempo que panhias de dança contemporânea que se
apontava novos caminhos para essa faz no País.
mesma dança brasileira: o jazzdance.
Passados alguns anos,pude observar Justificativa
ustificativa
que esse movimento poderia, enfim, ser Pensar a história desse movimento, o
observado historicamente.Tal observa- jazzdance, dentro da história da dança
ção, contudo, não deveria ser tomada do Brasil e no Brasil, permite observar
como a necessidade de um mero levan- como tanto sua estética quanto sua téc-
tamento de dados, mas antes como uma nica ainda perduram nos tempos atuais,
rica ferramenta para se entender muito pensando basicamente em duas frentes:
do que se promove em dança hoje no País, na dança contemporânea e na dança de
sobretudo no que diz respeito à formação rua. Como essa estética resiste ainda
de bailarinos de importantes companhi- hoje? Quais são os grupos e/ou coreó-
as contemporâneas. grafos que ainda assinam composições
Assim, a abertura do programa Fantás- assumidamente feitas sob sua rubrica?
tico,da Rede Globo de Televisão,o grupo Como sua técnica é hoje ensinada? Que
Dzi Croquetes, composto apenas de ho- tipo de bailarino ela forma? Onde eles
mens travestidos,a novela Baila Comigo, estão dançando hoje?
as companhias de dança Bandança e Va- Responder tais perguntas, já por se-
cilou Dançou,no Rio de Janeiro,e Raça rem elaboradas, justifica a pertinência
Cia. de Dança,em São Paulo,aremonta- desse projeto hoje no contexto de pes-
gem brasileira de Chorus Line, as acade- quisa não apenas histórica, mas estética,
CONTINUA
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de boa parte da dança que se faz hoje São Paulo e de Belo Horizonte, assim
neste país. como no exterior.
• Pesquisa e leitura de bibliografia espe-
Objetivo cializada.
Este projeto tem como objetivo fazer um
levantamento histórico do jazzdance na Alguns nomes de possíveis
dança brasileira, especialmente nas três entrevistados podem ser citados
últimas décadas do século XX, nas cida- Alejandro Ahmed, Alexandre Magno,
des de São Paulo e do Rio de Janeiro. André Vidal, Betina Guelman, Betty Fa-
Entrevistas filmadas com os princi- ria, Caio Nunes, Carlota Portella, Ciro
pais personagens desta história, levan- Barcelos, Cláudia Raia, Cláudio Tovar,
tamento do material iconográfico, como Cristina Helena, Dalal Achcar, Daniela
programas, cartazes e fotografias, levan- e Denise Panessa, Déborah Bastos, De-
tamento das críticas e reportagens de nise Millet, Djenane Machado, Elizabe-
jornais e revistas, assim como levanta- th Oliosi, Fernanda Chama, Henrique
mento dos registros em vídeos, tanto dos Rodovalho, Ismael Guiser, Jacqueline
acervos pessoais como dos programas Motta, João Saldanha, Jorge Fernando,
de televisão, sobretudo os da Rede Glo- Juan Carlo Berardi, Luiz Boronini, Már-
bo, do SBT e da TV Cultura, formam a cia Barros, Maria Lúcia Priolli, Marly
matéria-prima dessa pesquisa, que deve Tavares, Mário Nascimento, Maysa Tem-
ser apresentada em forma de texto, de pesta, Nádia Nardini, Nino Giovanetti,
CD-ROM contendo as imagens em ge- Priscila Teixeira, Regina Sauer, Renato
ral, além de uma compilação dos vídeos Vieira, Rose Calheiros, Roseli Rodrigues,
em DVD. Todo esse rico material pode- Silvia Matos, Silvia Soter, Soraya Bastos,
rá ser transformado em publicação pos- Suzana Braga, Tânia Nardini, Tatiana
teriormente. Leskova, Tony Nardini, Vilma Vernon e
Washington Cardoso.
Metodologia
A pesquisa histórica será feita a partir de: Ficha técnica e número de
• Pesquisa nos acervos da Biblioteca pessoas envolvidas no projeto
Nacional. • Idealizador, coordenador e
• Pesquisa no Banco de Dados da Rede pesquisador: Roberto Pereira
Globo de Televisão, do SBT e da TV • Escaneamento e produção de imagem
Cultura. • Produção de CD ROM
• Pesquisa iconográfica e histórica nos • Produção de DVD
acervos pessoais dos personagens des- • Revisão de texto
sa história.
• Entrevistas com personagens residen- Número de pessoas envolvidas
tes nas cidades do Rio de Janeiro, de no projeto: 5 (cinco)
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Este livro foi produzido
na cidade do Rio de Janeiro
pela Fundação Nacional de Artes – Funarte
e impresso na Imo’s Gráfica e Editora, Rio de Janeiro – RJ
no quarto trimestre de dois mil e nove
com fotolitos fornecidos pela Funarte
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