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O texto destaca que, embora 1968 seja o marco de maior expressão

do movimento estudantil, essa mobilização juvenil ocorrera desde o início da


década de 1960, sendo 1968 apenas o ápice do movimento. Os estudantes,
desde o golpe de 64 até 1968 com a edição do AI-5, foram a principal força de
resistência em oposição e enfrentamento do governo militar. O autor ainda
ressalta com muita ênfase que a expressão "movimento estudantil" só é
adequado usá-la a partir da mobilização desse grupo nos anos 60, antes disso
a expressão não é cabível, embora existisse uma organização de estudantes
anterior a essa marco da década de 1960, mas sendo muito mais atrelado à
uma elite estudantil.
O autor coloca que esse movimento estudantil organizado na
década de 60 é fruto de algumas mudanças ocorridas na década anterior,
sendo elas: a abertura das universidades (públicas) para os setores médios da
sociedade, proporcionando um enorme crescimento de matrículas nas
universidades; e o surgimento de uma corrente política que serviu para
introduzir o meio estudantil no campo da política, corrente política essa vinda
de um movimento vinculado à Igreja Católica (JEC e JUC).
A mudança do meio estudantil é decorrente do contexto histórico dos
anos 1950: com forte crescimento das cidades e de sua população e das
indústrias; com forte presença da classe operária enquanto atores políticos;
com a militância católica internacional oferecendo uma 3ª via entre a esquerda
e a direita; num momento em que o nacionalismo ganha grande força em suas
mais variadas manifestações; momento de início de uma efervescência cultural
que se tornaria mais forte nos anos 1960, a partir da literatura, do cinema, do
teatro, da musica popular. Era um clima que emergiu os estudantes no
nacionalismo e na preocupação com os problemas nacionais.
De volta aos anos 60, temos a greve estudantil de 1962, que porém
acabou por ser um fracasso, levando o movimento a se dividir, tanto é que
quantidade expressiva de estudantes aderiram aos argumentos do
anticomunismo dos golpistas e foram a favor do golpe que derrubou Goulart.
Diante desse quadro de expressiva adesão estudantil ao golpe, os
militares pensaram que a UNE não causaria problemas, pois apenas se tratava
de eliminar a parte do meio universitário que era "subversiva" e "comunista"
para colocar o movimento estudantil no caminho certo, que se traduzia para os
militares em afastar os estudantes da política para serem controlados, os
deixando isolados destas questões. Porém essa domesticação estudantil
pretendida pelos militares não ocorreu. Pelo contrário, as medidas tomadas
pelos militares na direção do poder contribuíram para que o meio estudantil
construísse uma imagem extremamente negativa desse governo, medidas
essas como: o incêndio do prédio da UNE, as perseguições políticas, a censura
às manifestações culturais, inquéritos policiais indiciando grande parte dos
estudantes, etc, criando uma imagem do novo regime como sendo um
retrocesso cultural.
Ainda em final de 1964 houve a pretensão de se extinguir a UNE, as
UEEs e os diretórios acadêmicos para substituí-los por uma nova estrutura de
representação universitária, que obviamente seria colocada sob as rédeas do
governo militar. Tal medida obteve reação da esquerda estudantil, que já
estava se reorganizando, levando a unificação do movimento estudantil de
1965 com um propósito: defender a UNE como a entidade representativa que
dá voz aos estudantes. Essa reação pegou o governo Castelo Branco de
surpresa, tanto é que nem se preocuparam em proibir a existência da UNE
como entidade civil, medida essa tomada apenas em 1967 com a Lei Aragão
que decreta o fechamento da UNE, mas tal ação foi tomada tardiamente e o
meio estudantil já havia sido tomado pelas direções de esquerda.
Os grupos que constituíam o movimento estudantil eram: AP, que
tinha apoio informal de setores ligados à JUC; dissidentes do PCB, que se
desmembraram do partido após a crise do mesmo em decorrência de ter sido
culpado pela ineficácia de suas posições de revolução pacífica pela via
institucional, que teria levado ao fracasso a resistência diante do golpe civil-
militar da direita; além disso parte do grupo de estudantes foi constituído por
militantes da Polop, sendo esses grupos constituídos por dissidentes do PCB e
militantes da Polop reivindicantes do meio estudantil no que diz respeito a luta
por verbas e melhores condições de ensino, além de prepararem organizações
de luta armada; cabe destacar também a existência de estudantes que não
eram de esquerda, mas que eram contra a permanência dos militares no poder;
dissidências do PC do B também compunham o quadro estudantil da época.
Em 1966 o movimento estudantil entra em choque contra as políticas
do governo ditatorial militar, gerando constantes confrontos violentos entre
estudantes e policiais. Diante desse quadro de violência do regime, o
movimento estudantil vai se posicionar contra tal violência ditatorial.
As medidas que o governo desejava tomar em relação à reforma
universitária (como a racionalização de custos e adaptação dos currículos às
necessidades da produção) foram repudiadas pelo setor estudantil,
fortalecendo mais ainda o movimento. Os estudantes também se posicionaram
fortemente contra o projeto militar de privatizar a universidade pública e
implantar o ensino pago. Além disso, em 1967 houve uma luta dos estudantes
em torno do direito dos estudantes excedentes, que foram impossibilitados de
se matricularem nas escolas devido à superlotação das mesmas.
O que se pode ver num panorama geral de 1968 é uma sucessão de
crises e enfrentamentos de estudantes (que contaram com apoio popular) e
policiais, confrontos esses que ocasionaram manifestações e que a mais
expressiva foi a Passeata dos Cem Mil, além é claro diante desse quadro de
violência do regime geral o discurso de 2 deputados da oposição, dando uma
justificativa para os militares da "linha-dura" recrudescerem mais ainda o
regime, tal como se dá com a edição do AI-5, que tem como uma das
consequências a desmobilização do movimento estudantil, em especial o
universitário da UNE, que já vinha sofrendo ações repressivas mesmo antes do
ato institucional (como no congresso da UNE no interior de São Paulo em
outubro de 68, que gerou o fichamento de grande parte das lideranças
estudantis, tornando-se processos que levaram a punição de muitos
estudantes no ano seguinte (1969) já sob vigência do AI-5).
Em determinado momento houve um esgotamento da luta estudantil
devido às constantes e violentas repressões policiais empregadas contra os
estudantes e a incapacidade dos mesmos em reagirem a tais atos repressivos.
Assim, nas palavras do autor, "o movimento estudantil de massas de 1968
declinou. A UNE só reapareceria em 1979".

O ano de 1968 foi o principal marco do movimento estudantil dos


anos 60, especialmente atuando como resistência ao regime militar instaurado
em 1964. Nesse mesmo ano (1968), em várias parte do mundo, a juventude se
mobilizou e foi às ruas manifestar seus pensamentos e suas reivindicações.
Aqui no Brasil, após o golpe de 1964, o prédio da UNE foi incendiado pelos
golpistas, assim por essas e outras medidas que o governo militar tomou em
relação ao movimento estudantil, os estudantes viram no governo uma ameaça
à suas atividades e que deveria então ser derrubado. Com isso muitos foram
os choques entre policiais e estudantes, estes que foram violentamente
repreendidos nos anos que se seguiram pós-64. Em março de 1968, a ação
policial contra estudantes provocou a morte de um estudante (Edson Luis
Souto), gerando forte mobilização do meio estudantil e de vários outros setores
da sociedade em protesto às ações violentas da ditadura. Em Junho ocorre
uma nova crise, gerando fortes manifestações de rua de estudantes e
populares no Rio de Janeiro em luta pela libertação de estudantes presos. No
dia 20 deste mesmo mês outra crise entraria em cena, quando na saída de
uma assembléia estudantil realizada na Universidade do Brasil vários
universitários foram presos pela polícia. Essa ação gerou no dia seguinte um
movimento de protesto de estudantes e populares que novamente foram
repreendidos e alguns mortos pelas ações da polícia. A onde de violência
policial do regime despertou protestos em várias localidades do país, e
desembocou no Rio de Janeiro a maior manifestação denominada de Passeata
dos Cem Mil, que contou com amplo apoio da sociedade. Em fins de agosto, a
operação realizada pela polícia na Universidade de Brasília para realizar novas
prisões a lideres estudantis, gerou um discurso de 2 deputados da oposição ao
governo, criticando o regime e suas atitudes e ações repressoras, discurso
esse que serviu de justificativa para a “linha-dura” dos militares recrudescer
mais ainda o regime, colocando em vigência o AI-5, que desmobilizou o
movimento estudantil, em especial da UNE (que já atuava quase em condições
de clandestinidade), este que voltaria a ativa somente em 1979 enquanto um
movimento organizado.

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