See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/330217822

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS: INTERLIGANDO

POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES

Research · January 2019

CITATIONS READS

0 344

4 authors, including:

Jaílson Bonatti
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI)
7 PUBLICATIONS   0 CITATIONS   

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Jaílson Bonatti on 08 January 2019.

The user has requested enhancement of the downloaded file.

 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS: INTERLIGANDO
POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES

Laiza Buzatto1
Jaílson Bonatti2
Claudia Felin Cerutti Kuhnen3

Introdução

A Educação Ambiental (EA) é um reflexo de todas as ações, sejam

elas positivas ou negativas que ocorrem e ocorreram no decorrer dos anos
em nosso planeta. Atualmente a EA transita entre os mais diversos lugares
da sociedade, estando presente não somente em debates e no cotidiano das
pessoas, mas sim sendo trabalhados através dos mais diversos projetos, em
escolas, cursos de graduação e demais espaços, ou seja, nossas atitudes e
direitos acabam ligando-se à Educação Ambiental.
Segundo a lei nº 9.795/1999 sobre a Política Nacional de Educação
Ambiental no artigo 1º

Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
(BRASIL, 1999).

Sendo assim, a Educação Ambiental torna-se uma ferramenta que

direciona assuntos que inter-relacionam a sensibilização e a reflexão do ser
humano sobre suas ações e aos problemas ambientais que enfrentamos.
Não atribuindo somente um caráter de restrição a determinados assuntos
como: poluição, preservação ambiental, lixo, proteção de animais, entre

1
Acadêmica de bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Frederico Westphalen-RS, Brasil. Bolsista de
Extensão da URI/FW. E-mail: laizabuzatto@gmail.com
2
Acadêmico de licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões URI Campus de Frederico Westphalen-RS, Brasil. Membro do
Grupo de Pesquisa em Educação (GPE/URI). E-mail: jailson.1bio@gmail.com.
3
Mestre em Biologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Professora do
Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões URI Campus de Frederico Westphalen-RS, Brasil. E-mail: claudia@uri.edu.br.

2018 271
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
outros, mas mostrando o meio ambiente em sua totalidade, analisando os
aspectos naturais, econômicos, sociais, políticos, históricos e culturais.
Nas palavras de Reigota (2009, p. 21) ―[...] a Educação Ambiental tem
uma história quase oficial, que a relaciona com conferências mundiais e com
os movimentos sociais em todo o mundo‖, diante disso, a seguir citamos
alguns pontos importantes na história da Educação Ambiental.
Embora os primeiros registros da utilização do termo ―Educação
Ambiental‖ datem de 1945, ano em que se inicia o uso da expressão ―estudos
ambientais‖ e no ano de 1948 em um encontro da União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN) em Paris. Logo depois, em 1968 realiza-se
na cidade de Roma uma reunião de cientistas de países industrializados,
para a discussão sobre o consumo e as reservas de recursos naturais não
renováveis e sua preservação para o futuro. Após esse acontecimento o
Clube de Roma expõe a necessidade da preservação dos recursos naturais e
o controle populacional. Porém, os rumos da Educação Ambiental começam
a ser realmente revistos a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, ano
em que se atribui a inserção da temática da Educação Ambiental na agenda
internacional. Em 1975, lança-se em Belgrado (na então Iugoslávia) o
Programa Internacional de Educação Ambiental, no qual são definidos os
princípios e orientações para o futuro.
Outro momento importante é a elaboração do Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
elaborado pela sociedade civil planetária em 1992 no Fórum Global, durante
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio 92). Esse documento estabeleceu os princípios fundamentais da
educação para sociedades sustentáveis, destacando a necessidade de
formação de um pensamento crítico, coletivo e solidário, de
interdisciplinaridade, de multiplicidade e diversidade. Estabelecendo ainda
uma relação entre as políticas públicas de Educação Ambiental e a
sustentabilidade.
No Brasil, em 1977, foi fundada a Secretaria Especial do Meio
Ambiente (SEMA) e em 1984, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) que busca em sua resolução estabelecer diretrizes para as

2018 272
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
ações de EA, aprovada a Resolução 001/86 (1986) que estabelecia as
responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e
implementação da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. (Dias, 1994).
Diante disso no Brasil em 1989, cria-se o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama – tendo como
objetivo coordenar e formular uma política nacional do meio ambiente. No
mesmo ano o Ministério da Educação (MEC) cria o grupo de Trabalho para a
Educação Ambiental. Sendo assim, em meados de 1996 inicia-se a
construção da primeira Agenda 21 Brasileira, sendo concluída em 2002. No
mesmo ano em Johannesburgo na África do Sul foi realizada a Conferência
das nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a mesma ficou
conhecida como Rio+10. E atualmente tivemos a Rio+20, cujo alvo é
pensar/discutir e elaborar metas que resultem em um objetivo final que é a
preservação do ambiente. O Rio+20 realizou-se no Rio de Janeiro – Brasil,
contou com aproximadamente 188 países. Ao que tange o Desenvolvimento
Sustentável (DS), as principais metas são desenvolver uma economia verde
com base no DS e a erradicação da pobreza.
Diante da breve história sobre a Educação Ambiental, a mesma
tornou-se essencial para garantir o desenvolvimento sustentável da
sociedade e um novo olhar perante as atitudes desenvolvidas em relação ao
meio ambiente. Assumindo um papel de ação que hoje está presente em
todas as nações que buscam o desenvolvimento e o equilíbrio com a
natureza.
A preservação do meio ambiente depende muito da forma de atuação
das gerações presentes e futuras, e o que estão dispostas a fazer para
diminuir o impacto ambiental das suas ações. Nesse sentido é importante
sinalizar que o usufruto ao ambiente deve também ser um direito universal,
inerente a todos os seres humanos, assim como qualquer outro Direito
Humano fundamental. A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, sobretudo se aliada com a Educação em
Direitos Humanos (CANDAU, 2012), devendo estar presente em todos os
níveis e modalidades do processo educativo e de forma articulada, onde

2018 273
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
essencialmente deva ser esquematizada de modo interdisciplinar e integrada
à perspectiva dos Direitos Humanos, visando uma promoção a não violação
dos direitos ambientais de usufruto comum. De acordo com o Programa
Nacional de Educação em Direitos Humanos

A partir do PNEDH, fica mais fácil visualizar como a sociedade civil,

organizações governamentais e não-governamentais, organismos
internacionais, universidades, escolas de educação infantil, do
ensino fundamental e médio, mídia e instituições do sistema de
segurança e justiça podem contribuir na construção de uma cultura
voltada para o respeito aos direitos fundamentais da pessoa
humana. (PNEDH, 2003, p. 5).

Portanto nossa sociedade é caracterizada pelos mais diversos grupos

e comunidades, os quais também constituem uns lócus de promoção e
garantia dos Direitos Humanos enquanto um direito de respeito à diversidade
e pluralidade cultural. (FREIRE, SILVA e NETTO, 2017).
Desse modo a Educação Ambiental perseguida pela defesa do Meio
Ambiente enquanto um direito básico da humanidade está sendo inserida na
sociedade, principalmente na educação, a fim de um suscitar uma mudança
na construção de uma nova atitude para todos os cidadãos do planeta.
(REIS, 2016). Contudo, devemos propiciar espaços dialógicos acerca da
educação ambiental e da efetiva e responsável promoção dos Direitos
Humanos em nosso cotidiano, sejam nas escolas, nas ruas, no trabalho, em
casa, nos mais diversos lugares.
Perante o exposto, o presente trabalho traz como proposta a
investigação entre Educação Ambiental e Direitos Humanos, buscando
compreender as possibilidades interdisciplinares, enquanto perspectiva de
inclusão entre a Educação Ambiental e os Direitos Humanos, e a análise da
disponibilidade de trabalhos, por meio de pesquisa no Portal de Periódicos da
CAPES e no Google Acadêmico através da busca por aplicação de
descritores com recorte de tempo de 10 anos. Para a realização deste
estudo, utilizou-se da metodologia qualitativa, com foco na análise de
conteúdo, ressaltando as contribuições de Bardin (1977) nesse campo
metodológico.
A seguir no quadro 1 apresentamos os resultados das buscas, e logo
após realizamos a discussão dos assuntos tratados nos artigos encontrados.

2018 274
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
 Quadro 1 - Resultados das buscas.

Site de buscas: Portal de Periódicos da CAPES e Google Acadêmico

ANO DE
TÍTULO PERIÓDICO DESCRITORES
PUBLICAÇÃO
Revista Eletrônica
As (im)possibilidades de uma sociedade
do Mestrado em
sustentável e o inestricável embricamento entre 2009
Educação
educação ambiental e direitos humanos
Ambiental
DIREITOS HUMANOS E MEIO
Revista Eletrônica
AMBIENTE: A EDUCAÇÃO em Gestão Educação Ambiental e
Educação e 2012 Direitos Humanos
AMBIENTAL COMO FORMA DE
Tecnologia
FORTALECER A INTERRELAÇÃO Ambiental
Direitos Humanos e Educação Ambiental: práticas
A Revista de
de transformação social em defesa do meio 2012
Direito da Unimep
ambiente
DIREITOS HUMANOS E O MEIO AMBIENTE Revista
2010
Agrogeoambiental
Mudanças Climáticas: uma análise dos impactos
Lex Humana 2010
sobre o meio ambiente e os Direitos humanos
DIREITOS HUMANOS, MEIO
AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO Revista Eletrônica
2011
Direito e Política
CONTEXTO DA CIDADANIA GLOBAL
LOGOTERAPIA, DIREITOS HUMANOS
E SUSTENTABILIDADE: REPENSANDO Revista Logos e
2012
Existência
MODELOS
O DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO
AMBIENTE E O GREENING DA CONVENÇÃO Revista Direito GV 2013
AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

O DIREITO AO MEIO AMBIENTE SADIO: A Revista da

Secretaria do Meio ambiente,
PROTEÇÃO PELA CORTE INTERAMERICANA Tribunal 2013 sustentabilidade e
DE DIREITOS HUMANOS Permanente de Direitos Humanos
Revisão
DIREITOS HUMANOS, MEIO AMBIENTE E Revista Direito
Ambiental e 2013
SUSTENTABILIDADE
Sociedade
DIREITOS HUMANOS E MEIO AMBIENTE: Revista Eletrônica
do Curso de Direito 2014
IMPLICAÇÕES PARA A SUSTENTABILIDADE
da UFSM
DIREITOS HUMANOS, DESENVOLVIMENTO Revista Eletrônica
do Curso de Direito 2015
SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE
da UFSM
POLÍTICAS PÚBLICAS
DE SUSTENTABILIDADE E A PARTICIPAÇÃO Revista de Direito
Sociais e Políticas 2017
DO CIDADÃO: EDUCAÇÃO EM DIREITOS
Públicas
HUMANOS
O EXERCÍCIO DOS DIREITOS HUMANOS E
Revista Espaço
O MEIO AMBIENTE: EXPERIÊNCIAS LATINO- Acadêmico
2017
2018 275
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
 AMERICANAS

- Preservação e Direitos
- -
humanos
Conservação da
- - - biodiversidade e
Direitos Humanos

- Biodiversidade e
- -
Direitos humanos

Fonte: elaborado pelos autores (2018).

No Portal de Periódicos da CAPES o descritor aplicado e que obteve

resultado foi a combinação ―Meio Ambiente, sustentabilidade e Direitos
Humanos‖, totalizando um montante de 8 artigos. Já os demais descritores
não apresentaram nenhum resultado quando utilizados. Quanto ao tempo
das publicações foram observados os seguintes anos: 2010, 2013, 2014,
2015 e 2017. Por sua vez, no site de busca Google Acadêmico foram
encontrados 3 artigos utilizando os descritores ―Educação Ambiental e
Direitos Humanos‖ e também 3 artigos com a combinação ―Educação
Ambiental, Meio Ambiente e Direitos Humanos‖. Quanto ao tempo, as 6
publicações, reservaram-se do ano de 2009 a 2013 apenas. Assim como na
outra base de dados os outros descritores presentes não resultaram em
nenhuma busca. Desse modo, a seguir apresentam-se as discussões
relativas a análise que pretende esta investigação.
Os autores Bigliardi e Cruz (2009) colocam que o direito à vida deve,
além de um direito fundamental de todos os seres humanos, apresentar
condições favoráveis para o pleno desenvolvimento dos aspectos
econômicos, políticos, sociais e culturais da humanidade. Santos, Santos e
Freitas (2010), insertam que em primeiro lugar o direito ao meio ambiente é
um direito essencial à vida, perpassando por esferas econômicas, políticas e
culturais. Ademais, nesse processo eles problematizam a morosidade da
máquina jurídica, legislativa e administrativa do estado em afirmar e
assegurar políticas públicas que garantam representação e proteção no que
diz respeito da defesa do meio ambiente para usufruto da pessoa humana.
No decurso os autores colocam a importante vinculação do meio ambiente
como ato concreto para validar, também, os Direitos Humanos, tendo como

2018 276
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
―[...] inegáveis as relações de interdependência e complementaridade [...]‖
(SANTOS, SANTOS e FREITAS, 2010, p. 64) entre ser humano e natureza.
Para tanto, Bagliardi e Cruz (2009) voltam suas atenções quando
afirmam que a Educação Ambiental é uma possibilidade para interligar
práticas frente à ampliação dos Direitos Humanos. Nesse ponto concordamos
com os autores e vamos além ao sugerir que, tanto Educação Ambiental
como os Direitos humanos precisam ser (re)vistos e (re)pensados na
perspectiva de sujeitos que estão diante de situações socioambientais
críticas (e.g.: poluição de rios, lagos e oceanos, desmatamento, queimadas,
caça ilegal, etc.). Essa questão nos faz reconhecer que a urgência pôr a
(re)ligação desses dois temas objetiva, então, um trabalho interdisciplinar e
de caráter autônomo, visando ouvir as vozes de resistência de sujeitos que
são vítimas de uma exploração dos recursos naturais, e por isso solicitam
uma vivência com a natureza e o meio ambiente mais sustentável,
equilibrada e harmônica.
As análises anteriores emergem próximas também das ideias de
Hammarströn e Cenci (2012) e de Oliveira (2012) quando esses ressaltam
que a perspectiva interdisciplinar deverá ser um modo prático para se
trabalhar com a Educação Ambiental e os Direitos Humanos. Essas
possibilidades, solicitadas a partir de uma condição em que a sociedade cada
vez mais consumista e de relações fluídas (BAUMAN, 2007), (re)visitam os
princípios para o surgimento de uma ética imperativa das responsabilidades
comuns do ser humano com o meio ambiente e a natureza, buscando
diminuir ou mitigar os impactos ambientais.
Na escrita de Avzaradel (2010) podemos observar que esse autor
também se preocupou com a questões dos impactos ambientais sobre o
meio ambiente ao relacionar com a perspectiva dos Direitos Humanos. O
autor coloca que esses esforços devem ser trazidos para discussão, a fim de
alertar a comunidade internacional sobre essas situações críticas em torno
das questões ambientais, próximo do que também Mazzuoli e Teixeira (2013)
destacam enquanto a proteção internacional do meio ambiente e dos Direitos
Humanos na promoção e garantia de direitos civis e políticos aos sujeitos.
Já para Silva, Adolfo e Carvalho (2015), esses autores nos alertam

2018 277
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
para a possibilidade de observar como modelos de desenvolvimentos
sustentáveis têm sido ligados à perspectiva de proteção e conservação do
meio ambiente, por meio das políticas neoliberais, e em torno disso os
autores atribulam sobre a intrínseca relação entre meio ambiente como
direito humano e sustentabilidade, como marca de ação em um projeto
econômico e político, são processos inalienáveis para a garantia de uma
sociedade justa e igualitária para o futuro da humanidade.
Próximas dessas atribulações levantadas pelos autores acima, um
filósofo já em percursos do século passado nos alertava sobre questões
relativas à responsabilidade ambiental, enquanto ética de um princípio
responsável que todos os seres humanos devem assumir em consonância de
um bem-estar futuro de toda a humanidade sobre o cuidado com a natureza
e meio ambiente. De acordo com ele

O agir ocorre em função de um futuro que não será usufruído nem

por seus atores, nem por suas vítimas ou contemporâneos. A
obrigação para com o presente provém de lá, e não do bem-estar
ou do mal-estar de seu mundo contemporâneo, e a situação que
ele pretende superar. (JONAS, 2006, p. 56).

Entrecortando as perspectivas anteriores, a autora Taquary (2013)

apresenta que é essencial uma análise nos processos de jurisprudência em
torno das temáticas e direitos efetivos sobre o meio ambiente e Direitos
Humanos e do modo como se efetivam tais ações jurídicas. Para tanto, torna-
se imprescindível que haja uma linha tênue em perspectiva comparada entre
a promoção e o aprimoramento sobre as políticas públicas, com a finalidade
de facilitar o processo de acesso à justiça internacional. Muito mais além do
que assinalar os contextos e apresentar as situações em torno ao debate
sobre o meio ambiente sustentável como princípio inegável dos direitos
humanos, é preciso rever as políticas públicas e as características da
jurisprudência que podem ou não conferir e assegurar tal direito (TAQUARY,
2013).
Na perspectiva dos autores Censi, Hammarströn e Sell (2014) o
constante crescimento de centros urbanos e a consequente insurgência de
atitudes de reconhecimento de números grupos minoritários levam a uma
readequação dos direitos políticos e civis das cidades. Araújo (2013)

2018 278
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
complementa que todos teríamos como um direito comum um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, pois trata-se de um direito fundamental, ou seja,
os direitos sociais, políticos e jurídicos que são previstos na Constituição
Federal de uma nação. Desse modo, as questões críticas relacionadas à
distribuição urbana e demográfica situam e solicitam a emersão da
disponibilidade de ambientes ecologicamente adequados e equilibrados o
suficiente para o usufruto da população enquanto um direito civil. Esses
direitos impetram uma condição onde os sujeitos necessitam, e tem como
direito básico de ir e vir em um lugar onde se possa fazer presente o meio
ambiente como recurso político e social para uma boa qualidade de vida nas
cidades.
Nas ideias de Grijo e Wenceslau (2017, p. 119) as políticas públicas
angariadas na promoção dos direitos e deveres para a sustentabilidade,
encontram-se como propiciadoras de vínculos entre a efetiva ―[...]
participação cidadã e a educação em Direitos Humanos [...]‖. As autoras
reforçam que, haja vista ser a sustentabilidade uma perspectiva em processo
de sempre construção e elaboração nas políticas públicas, torna-se
precursora de um desenvolvimento sustentável sinalizando a contribuição de
diferentes atores sociais, valorizando as diferenças socioambientais a fim de
confrontar as latentes desigualdades socioeconômicas.
Na apresentação de um dossiê proposta pelos autores Silva, Ferreira e
Buendía (2017) os autores elaboram a possibilidade reflexiva de um espaço
para se pensar as diferentes experiências ao torno da proteção do meio
ambiente como Direito Humano. Nessa perspectiva o arcabouço teórico e
prático possibilitado pelos autores sinaliza a urgência da inserção da guisa
sobre proteção e conservação da natureza e do meio ambiente assim como
qualquer outra seguridade básica dos Direitos Humanos, bem como de um
campo de investigação que merece destaque no espaço acadêmico.
Desse modo, ressaltamos muitos questionamentos que fazem
justamente a interligação da proteção dos Direitos Humanos e à preservação
do meio ambiente na perspectiva interdisciplinar da Educação Ambiental.
Entretanto os autores Cyrous (2012), Costa e Pinheiro (2011), abordam a
mesma temática, mas nos apresentam primeiramente um contexto histórico

2018 279
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
onde citam as transformações que ocorreram ao longo dos anos com a
perspectiva da sustentabilidade, e os Direitos Humanos, buscando traçar
maneiras de assegurar a preservação do meio ambiente como uma
necessidade para a garantia das presentes e futuras gerações. Sendo assim,
é de suma necessidade a reflexão por parte da sociedade perante o meio
ambiente e seus direitos, buscando o equilíbrio em relação às vontades
substituíveis como a reflexão permanente perante o consumo e exploração
de recursos naturais e às ações concretas voltadas à conservação,
preservação e sensibilização do meio ambiente.

Conclusão

As discussões anteriores apresentadas giram em torno de um eixo

comum de discussão, a da garantia de um meio ambiente equilibrado,
sustentável e ecológico como Direito Humano, em virtude da observância dos
pontos problematizados e refletidos pelos autores. E essa possibilidade
somente será assegurada quando a salvaguarda do meio ambiente for,
efetivamente, um Direito Humano inalienável a qualquer cidadão do mundo.
Nesse sentido, os autores também frisaram na perspectiva de pensar
o meio ambiente na lógica de um direito internacional, bem como de uma
política pública de acesso e garantia de quaisquer sujeitos, independente do
contexto sociocultural (educação, trabalho, comunidades tradicionais, etc.).
Emergindo nesses diálogos como um ponto chave incipiente e pouco
reservado para as discussões, as minorias sociais (sejam elas sexuais,
étnicas ou econômicas) merecem apoio, destaque e participação na
elaboração dessas políticas e jurisprudências em torno do meio ambiente
como Direito Humano, tanto a nível nacional como internacional.
Por breves e importantes discussões realizadas a partir dos autores
trazidos para serem discutidos nesta investigação, com eles poderíamos
sinalizar que tais reflexões revelam uma epistemologia suscitadora de uns
“ecos” de resistência, bem como um ato que ressoa na possibilidade de
traçar uma crítica em torno dos processos atuais de organização, produção e
distribuição de produtos a partir da utilização dos recursos naturais na

2018 280
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
interligação da Educação Ambiental e Direitos Humanos enquanto campo
teórico e prático. Essa perspectiva epistemológica suscita o ―agir ambiental‖
enquanto pressuposto gnosiológico, epistêmico e transgressor de
paradigmas. Portanto, a ética do agir em prol do meio ambiente e do saber a
respeito da natureza é uma atitude essencial para espaçarmos e
possibilitarmos a vivência do futuro da humanidade e de toda biosfera.

Referências
ARAÚJO, José Salvador Pereira Direitos. Humanos, meio ambiente e
sustentabilidade. Revista Direito Ambiental e Sociedade.2013.

AVZARADEL, Pedro Curvello Saavedra. Mudanças climáticas: uma análise

dos impactos sobre o meio ambiente e os direitos humanos. Lex Humana, nº
1, p. 85-108, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

BIGLIARDI, Rossane Vinhas; CRUZ, Ricardo Gauterio. As (im)possibilidades

de uma sociedade sustentável e o inestricável embricamento entre educação
ambiental e direitos humanos. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. v. 23,
jul./dez., 2009.

CANDAU, Vera Maria Ferrão. Direito à educação, diversidade e educação em

direitos humanos. Educação e Sociologia, vol. 33, n. 120, pp. 715-726, 2012.
CENSI, Daniel Rubens; HAMMARSTRÖN, Fátima Barasuol; SELL Cleiton
Lixieski. Direitos humanos e meio ambiente: implicações para a
sustentabilidade. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, v. 9, n. 1,
p. 32-46, 2014.

COSTA, Maria Rosineide da Silva; PINHEIRO, Maria Lenir Rodrigues.

Direitos Humanos, meio ambiente e sustentabilidade no contexto da
cidadania global. Revista eletrônica de direito e política, v. 6, n. 2, 2011.

CYROUS, Sam. Logoterapia, Direitos Humanos e Sustentabilidade:

Repensando modelos. Logos & Existência, v. 1, n. 2, p. 138-147, 2012.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental princípios e práticas. Editora

Gaia, São Paulo. 2004. 9ª edição.

FREIRE, Jaqueline L.; SILVA, Laisa F.; NETTO, Mário B. A escola como
espaço dos saberes e da educação em direitos humanos pelo respeito às
diversidades. Revista Interface, n. 14, p. 53-63, dez., 2017.

GRIJO, Abgail Denise Bisol; WENCESLAU, Maurinice Evaristo. Políticas

2018 281
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA
 públicas de sustentabilidade e a participação do cidadão: educação em
Direitos Humanos. Revista de Direito Sociais e Políticas Públicas, Brasília, v.
3, n. 1, p. 119-134, jan./jun., 2017.

HAMMARSTRÖN, Fátima Fagundes Barasuol; CENCI, Daniel Rubens.

Direitos humanos e meio ambiente: a educação ambiental como forma de
fortalecer a interrelação. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e
Tecnologia Ambiental da UFSM, v. 5, n. 5, p. 825-834, 2012.

JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a

civilização tecnológica. Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez (trads.). Rio de
Janeiro: Contraponto; PUC-Rio, 2006, 354 p.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira; TEIXEIRA, Gustavo de Faria Moreira. O

direito internacional do meio ambiente e o greening da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos. Revista Direito GV, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 199-
242, jan./jun., 2013.

OLIVEIRA, Scheila Pinno. Direitos humanos e educação ambiental: práticas

de transformação social em defesa do meio ambiente. Cadernos de Direito,
Piracicaba, v. 12, n. 23, p. 79-89, jul./dez., 2012.

QUEIROZ, Glória R. P. C. (orgs.). Tecendo diálogos sobre direitos humanos

na educação em ciências. São Paulo: Livraria da Física, pp. 305-318.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. Editora Brasiliense, São
Paulo. 2012.

REIS, Pedro. A Educação em Direitos Humanos através da discussão e ação

sociopolítica sobre controvérsias sociocientíficas e socioambientais. In:
OLIVEIRA, Roberto D. V. L. Editora Livraria da física. 2016.

SANTOS, Éder Clementino dos; SANTOS, Erlei Clementino dos; FREITAS,

Cristiane de. Direitos humanos e o meio ambiente. Revista
Agrogeoambiental, v. 2, n. 2, p. 64-82, set., 2010.

SILVA, Denival Francisco da; ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva; CARVALHO,

Sonia Aparecida de. Direitos Humanos, desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, v. 10, n. 1,
p. 1-24, 2015.

SILVA, Joelmir Marques da; FERREIRA, Demétrius Rodrigues de Freitas;

BUENDÍA, Alba Campos. O exercício dos Direitos Humanos e o meio
ambiente: experiências latino-americanas. Revista Espaço Acadêmico, ano
XVI, n. 191, p. 1-3, abr., 2017.

TAQUARY, Eneida Orbage de Britto. O direito ao meio ambiente sadio: a

proteção pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Revista de la
Secretaría del Tribunal Permanente de Revisión, Año 1, n. 2, p. 77-111, 2013.

2018 282
ACTA NOVOS OLHARES: LINGUAGENS DE RESISTÊNCIA

View publication stats