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Departamento de Geografia
Disciplina: Metodologia de Pesquisa em Geografia
Turma 2020.2
Professor: Jorge Luiz Barbosa
RESENHA:
Pensando Geograficamente: considerações sobre “A Mente Geográfica”
1
HAESBAERT, Rogério. Lugares que fazem diferença: encontros com Doreen Massey. In:
GEOgraphia, v. 19, n. 40, pp. 5 - 10. Niterói, UFF, mai./ago. 2017
2
ROCHA, Ana Angelita. Por Doreen Massey: sobre espaço, resistência e esperança. In:
GEOgraphia, v. 19, n. 40, pp. 3 - 4. Niterói, UFF, mai./ago. 2017
Aqui a autora inicia tal contraposição com exemplos sobre povos da floresta
Amazônica e migrantes aos países do Norte ao comparar imaginações geográficas localistas e
globalistas, sendo que num dos exemplos, o localismo se demonstraria positivamente,
enquanto no outro, negativamente, e vice-versa se daria a perspectiva dos que defendem as
quedas de fronteiras. Os exemplos evidenciam certos pontos para discutir do que se trata
imaginação geográfica: a inevitabilidade e o poder de nossas imaginações geográficas; a
operacionalização contraditória dessas imaginações (seja por grupos sociais, seja por
tendências políticas); o poder diferencial da Geografia, podendo se apresentar ora através de
geometrias do poder hegemônico (localismos e globalismo dos poderosos), ora pelas
geometrias de poder mais igualitárias (localismos e globalismo dos subalternos); e por fim a
contribuição que trazem os conceitos geográficos de espaço e de lugar para esse
entendimento.
Contudo o que de fato mais adiante Massey pretende demonstrar com tais exemplos é
que numa contraposição de uma imaginação de um espaço de lugares/territórios (argumento
do local) a uma imaginação de um espaço dos fluxos (da “globalização em que as fronteiras e
os limites devam cair”) há uma necessidade “de uma imaginação de espaço que incorpore as
geometrias de poder que constroem este mundo altamente desigual” (p. 38). Com essa
proposição, a autora demonstra sua crítica à imaginação geográfica que é hegemônica no
mundo contemporâneo de modernização globalizante, a imaginação geográfica do
‘desenvolvimento’, que contrapõe qualitativamente primeiro e terceiro mundos, desenvolvido
e subdesenvolvido/em desenvolvimento, avançado e atrasado. Trata-se de uma imaginação
que, ao contar uma história única, anula a geografia, pois na “pista de mão única do
desenvolvimento (ou da modernização, ou do progresso)” (p. 38) as diferenças entre os
lugares são dadas como diferenças históricas, sem diferenças geográficas (reais e
coexistentes), recusando a possibilidade da existência de muitas histórias simultâneas e de
muitos lugares com suas próprias trajetórias.
Para melhor ilustrar o valor da diferença na mente geográfica, parte-se por fim a um
terceiro e último exemplo, esse contudo à escala local, a do lugar. Que comumente é tratado
como o lugar de encontro das diferenças, mas que deveria antes ser visto como o lugar da
negociação, para que conflitos de convivência das diferenças sejam administrados para que os
diferentes tenham o mínimo de convívio comum, concluindo que para que haja a negociação,
antes sejam reconhecidas e respeitadas as diferenças. Dessa forma Massey conclui sua
argumentação em defesa de que para uma mente geográfica se estabelecer seja necessária que
ocorra essa ‘mirada-de-fora-para-dentro’ que, reconhecendo as autonomias e diferenças dos
entes envolvidos, também não deixe de questionar em que condições ocorrem os processos de
negociação para que ocorra a coetaneidade.
MASSEY, Doreen. A Mente Geográfica. In: GEOgraphia, v. 19, n. 40, pp. 36 - 40. Niterói,
UFF, mai./ago. 2017