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As concepções de
homem relacionadas ao
desenvolvimento humano:
AULA
o ambientalismo
Marise Bezerra Jurberg
Meta da aula
Apresentar a importância das diversas concepções de
homem, segundo modelos que foram influenciados pela
perspectiva ambientalista, assim como sua repercussão nos
estudos psicopedagógicos.
objetivos
Pré-requisito
Tenha em mente o que foi visto na Aula 2, sobre
inatismo. O que você verá nesta aula aqui é
constantemente relacionado com o conteúdo
daquela aula.
Psicologia e Educação | As concepções de homem relacionadas ao desenvolvimento humano:
o ambientalismo
Ecologia: o prefixo “eco” vem do grego oikos, que significa casa, meio
ambiente, habitat. As principais correntes ecológicas incluem diversas
posições: a tradicional, ou conservadora, que defende que o meio
ambiente não deve ser tocado e apenas preservado, e não admite a
expansão da indústria e do consumo; contrariamente, o grupo capitalis-
ta acredita que o avanço tecnológico descobrirá formas não poluentes
de produzir, sem a necessidade de mudanças estruturais na sociedade;
outro grupo defende mudanças sociais e a criação de uma nova ordem
social comunitária, descentralizada e independente; a posição socialista
é contra as formas capitalistas de produção e incentiva uma produção
menos poluente; finalmente, o ecofeminismo, que denuncia e se opõe
às formas paternalistas e machistas de dominação do espaço, que são as
principais causas do desequilíbrio ecológico.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:
Protect_earth.png
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A denominação ambientalista, dentro da Psicologia, embora atu-
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almente inclua a Ecologia Humana e Social, possui outra conotação: este
termo refere-se a qualquer teoria que dê mais importância à influência do
ambiente do que às habilidades inatas, às competências e a estados atuais
de animais, aí incluídos os seres humanos, em termos de evolução.
O estudo do inatismo e do ambientalismo é importante devido ao
fato de que muitas questões polêmicas perduram, em nossos dias, em torno
destas duas abordagens. Isso resulta em diferentes consequências para o
campo da educação, assim como em outros campos de conhecimento. Ina-
tismo versus ambientalismo tiveram, posteriormente, outras denominações,
como racionalismo versus empirismo, natureza versus cultura.
Tem sido um grande desafio, ao longo da história da humanidade,
o problema de como alcançamos o conhecimento e de como o corpo e a
alma tomam parte nesse processo. Segundo Farias (s/d), as imposições
derivadas das necessidades práticas da existência foram sempre a força
propulsora na busca do saber. Para isto, os homens criaram lugares,
como a Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, as escolas e univer-
sidades medievais, onde se reuniam com a finalidade de descobrir como
o ser humano teria acesso ao saber. Muitos filósofos e, posteriormente,
diversos psicólogos tentaram explicar como se dá esse processo, muitas
vezes assumindo posições contraditórias.
A grande questão que tem ocupado a mente de inúmeros pensado-
res, ao longo de vários séculos, tem sido: os seres humanos desenvolvem
suas habilidades ou já nascem com elas?
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não é nada, não existe para nós. Posição bem diferente daquela de seu
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mestre: para o platonismo, apenas o conhecimento que se denomina Apriorístico
apriorístico, inato – como as intuições lógicas e matemáticas – é que Adjetivo derivado
de apriorismo:
pode existir dentro de nós, sem qualquer experiência prévia. do latim a priori
+ismo; em filosofia,
A fim de passar da sensação ao pensamento, Aristóteles dá consiste na aceita-
grande destaque ao associacionismo, em seu ensaio sobre Memória, ção, na ordem do
conhecimento, de
escrito em 400 a.C. Acreditava que as associações eram feitas porque fatores independen-
tes da experiência
os objetos eram similares, opostos, ou estavam próximos no espaço (FERREIRA, 1999,
ou no tempo. Neste sentido, ele pode ser considerado um precursor p. 172).
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As ideias simples resultam da experiência de qualidades sensoriais básicas
e da realização de reflexões simples. As ideias complexas abrangem várias
outras, que podem ser combinações de ideias simples e ideias comple-
xas. As ideias complexas, por sua vez, podem ser decompostas em ideias
simples, mas não o inverso.
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segundo sua visão, é essencialmente moral e cabe aos filósofos prover
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uma norma racional para a vida do ser humano. Ressalta a necessidade
de integrar o racional dentro de uma visão empirista. Ele tenta elaborar
uma g n o s i o l o g i a para encontrar um critério de verdade. Gnosiologia
Teoria do conheci-
mento. Volta-se para
reflexão em torno
da origem, natureza
e limites do ato do
conhecimento.
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ou seja, só depois a alma trabalha o material percebido. As ideias são
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o material do conhecimento e este nasce da percepção; o conhecimento
propicia conexões, semelhanças e diferenças entre as ideias.
Quanto à percepção da realidade, ela pode realizar-se de duas
maneiras: por intuição, que não necessita de prova, porquanto vem da
evidência imediata; por demonstração, que justamente deriva da capaci-
dade de o espírito perceber diferenças e semelhanças entre ideias, o que
se desenvolve por associação das intuições. Para John Locke, a certeza
de que Deus existe é mais absoluta que as impressões dos sentidos, ponto
em que ele concorda com o cartesianismo.
Para ele, todos os homens nascem iguais, todos são iguais por
natureza e por direitos. Todos usam a razão, que é um bem comum, e
são todos responsáveis pela construção da sociedade, devendo parti-
lhar os resultados da organização social, cabendo ao Estado garantir
o bem-estar geral. Afirma que o Governo não pode ser patriarcal nem
tirânico, nem deve estar baseado na fé ou na religião. Caso o Governo
falhe, o povo tem direito a promover uma revolução, pois o direito do
governante vem do povo. Locke é considerado o fundador do libera-
lismo constitucional, além de ser reconhecido, enquanto atuou, como
o filósofo moderno que possuía as opiniões filosóficas e políticas mais
bem definidas. Ele influenciou os pensamentos de David Hume e Berke-
ley, no século seguinte, enquanto Leibniz escreveu uma resposta a seus
Ensaios, propondo uma volta ao inatismo. Tais fatos demonstram como
as divergências fomentam estudos.
Além de sua teoria das ideias, portanto, ele dedicou-se à política,
defendendo a legitimidade da propriedade e o dever do Governo de
proteger esse direito, que é básico para a liberdade humana, sem deixar
de lado os tópicos tradicionais da filosofia: o Eu, o Mundo, Deus e as
bases do conhecimento. Para Locke, não há poder inato, nem os reis
possuem direitos políticos divinos. Uma boa ação deve seguir as nor-
mas morais, que são de três tipos: a divina, a política e a da opinião
pública. Sua influência foi grande, tanto em sua época, quanto mais
tarde, no século XVIII, quando iluministas franceses nele foram buscar
as principais ideias que culminaram com a Revolução Francesa, assim
como pensadores que colaboraram para a declaração da Independência
americana, em 1776.
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Figura 3.5: Quadros que remetem à Revolução Francesa e à Independência americana, respectivamente.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Eug%C3%A8ne_Delacroix_-_La_libert%C3%A9_guidant_le_peuple.jpg ;
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Washington_Crossing_the_Delaware.png
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
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Resposta Comentada
A visão ambientalista inicia-se com a visão aristotélica, segundo a
qual nossa mente nasce vazia de conteúdos, sendo preenchida pelas
experiências que nos chegam pelos sentidos. A fim de passar da
sensação para o pensamento, Aristóteles dá grande destaque ao
associacionismo, que posteriormente será desenvolvido por Locke.
Na perspectiva empirista, denominação que passou a substituir o
termo ambientalista, Locke faz críticas ao inatismo, que para ele
constitui uma doutrina fomentadora de preconceitos e que leva ao
individualismo. Para Locke, todos nascemos iguais, por nossa natu-
reza e temos, portanto, direitos iguais. Todos usamos a razão, que é
um bem comum, e somos corresponsáveis pela construção da nossa
sociedade. E cabe ao Estado garantir o bem-estar de todos.
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os oriundos de dados externos (como o calor de uma fogueira), quanto
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de estados internos (como a dor provocada pelo contato com o fogo).
As ideias correspondem às representações, na memória, dessas impressões.
A ideia que nos vem da lembrança da queimadura é mais fraca do que
a impressão que tivemos na hora em que realmente nos queimamos. As
impressões são, portanto, o que de mais forte existe na nossa mente (são os
prazeres e as dores) e as ideias são reproduções ou cópias das impressões.
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A concepção de ser humano se modifica; ele passa a ser visto como pro-
duto do meio em que vive, de suas experiências e dos condicionamentos
que recebe. O homem passa a ser cada vez mais concebido como um ser
extremamente plástico, que desenvolve suas características em função
das condições presentes no meio em que se encontra (DAVIS, 1990).
Fonte: http://www.sxc.hu/photo/68669
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Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Question_
mark.png
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O conhecimento científico, para ele, é um conhecimento irracional,
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uma vez que se baseia em crenças, as quais não possuem estrutura lógica
através da dedução. Seu ceticismo não consiste na negação da crença,
mas da evidência, concluindo que o ser humano caracteriza-se mais como
um ser de percepção sensível do que como um ser racional.
Finalmente, podemos dizer que Hume sistematizou a abordagem
associacionista. A investigação de Hume coloca em questão o status do
conhecimento, mas não a objetividade do mundo (FIGUEIREDO, 2002).
Opondo-se às filosofias cartesianas e às que consideravam o
espírito humano através de um ponto de vista teológico-metafísico,
o empirismo radical de Hume abriu caminho à utilização do método
experimental para o estudo dos fenômenos mentais, embora ele criticasse
o princípio da causalidade, que é a base das hipóteses a serem testadas
pela experimentação.
ATIVIDADE
Resposta Comentada
As impressões são mais fortes, mais nítidas que as ideias, que se
originam das primeiras. A ideia que uma das crianças tem de outros
países ou de lugares que só conheceu pela internet mostra como ela
própria sabe que, se os visse pessoalmente, suas ideias sobre eles
poderiam mudar. A busca por explorar o meio ambiente, observar o
que ainda é desconhecido, à procura de novas impressões e forma-
ção de novas ideias é uma preocupação dos adultos que orientam as
crianças. Na sala de aula, as ideias que circulam sobre determinados
alunos demonstram aquilo que Hume chama de consenso e que,
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Figura 3.7: John Stuart Mill (1806-1873) foi
um filósofo e economista inglês, e um dos
pensadores liberais mais influentes do século
XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria
ética proposta inicialmente por seu padrinho,
Jeremy Bentham.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:JohnStuart
Mill.jpg
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Comte escreveu diversos livros, como Curso de Filosofia Posi-
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tiva, sua principal obra, composta de seis volumes, publicados entre
1830 e 1842. No livro Política Positiva, ou Tratado de Sociologia,
(1851-1854), cria uma nova religião: a religião da humanidade, que
deveria substituir a Igreja. Na segunda fase de sua vida, esforça-se
por transformar a ciência em religião, assim como na primeira fase
procurou transformar a ciência em filosofia.
O positivismo sofreu influência de diversos movimentos do século
XVIII, dos quais destacaremos dois: o empirismo radical de David Hume,
que priorizava a experiência no processo do conhecimento; o Iluminismo, Iluminismo
com sua crença no progresso da humanidade por meio da razão. Em termos histó-
ricos, refere-se à
Comte nunca se declarou a favor de um empirismo radical e era dos iluministas,
que pertenciam a
colocava o positivismo entre o empirismo (a experiência direta do
uma corrente filo-
fato) e o racionalismo, que ele denominava de misticismo. Para ele, o sófica que dava
valor absoluto à
saber científico depende tanto de dados empíricos como de elaboração Razão e desprezava
qualquer forma de
racional, pois a realidade não nos é dada diretamente pela sensação; os crença religiosa; em
dados precisam ser complementados pela ação do intelecto. É o espírito filosofia, refere-se à
concepção pela qual
que elabora os dados originados nos órgãos dos sentidos e os organi- a inteligência do ser
humano necessita
za, criando uma imagem de mundo que é formada tanto de elementos da assistência divi-
empíricos quanto racionais. na para alcançar o
conhecimento.
Segundo Gadotti (2001), o positivismo tem como base teórica
três pontos capitais:
• todo conhecimento do mundo material decorre dos dados
“positivos”, oriundos da experiência, e é somente a eles que o
investigador deve se ater;
• existe um âmbito puramente formal no qual se relacionam as
ideias, que é o da lógica pura e da matemática;
• todos os conhecimentos tidos como “transcendentes”, oriundos da
metafísica, da teologia ou da especulação acrítica, estão além de
qualquer verificação prática e, portanto, devem ser descartados.
Para Comte, uma verdadeira ciência deve analisar todos os fenô-
menos, incluindo os humanos, como fatos. Tanto nas ciências naturais
quanto nas humanas, deve-se afastar todo preconceito e todo pressuposto
ideológico, uma vez que ciência e cientistas devem ser neutros.
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O positivismo, cuja doutrina visava à substituição da manipulação
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mítica e mágica do real pela visão científica, acabou estabelecendo
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uma nova fé, a fé na ciência, que subordinou a imaginação científica
à pura observação empírica. Seu lema sempre foi ordem e progresso.
Acreditou que, para progredir, é preciso ordem e que a pior ordem
é sempre melhor que qualquer desordem. Portanto, o positivismo
tornou-se uma ideologia da ordem da resignação e, contraditoria-
mente, da estagnação social (GADOTTI, 2001, p. 110).
Conclusão
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Atividade Final
Agora que você teve contato com as duas perspectivas – inatismo e ambientalismo
– vamos tentar aplicá-las na educação e no desenvolvimento humano. Para
isso, assinale, ao lado de cada afirmação, as letras I ou A, caso se trate de uma
proposição inatista ou ambientalista.
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e. ( ) Na área da educação, as técnicas de ensino são mais valorizadas e tenta-se
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propiciar o maior número de estímulos e informações, colocando escola
e professor como responsáveis pelo bom desempenho e desenvolvimento
do aluno.
Resposta comentada
As afirmações que pressupõem atributos inatos aos seres humanos, deixando que
a educação transcorra de forma espontânea, denotam uma visão inatista (é o caso
das questões contidas nos itens a, c, f).
As afirmações que atribuem todo o desenvolvimento do ser humano às experiências
vivenciadas, ou seja, a fatores do ambiente, responsabilizam e supervalorizam o
papel dos pais, dos educadores e da própria sociedade; tal visão ambientalista está
presente nos itens b, d, e f.
R E SUMO
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