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Martin Heidegger:

Da Fenomenologia ao Existencialismo

O objetivo declarado de Ser e Tempo é o de uma ontologia capaz de determinar


adequadamente o sentido do ser... Ser e tempo se resume em uma analítica existencial
daquele ente que se propõe a pergunta sobre o sentido do ser.

2. O ser e a analítica existencial

“A intenção do presente tratado (...) é a elaboração concreta do problema do


sentido do ser”. Entretanto, o problema do sentido do ser propõe imediatamente esta
interrogação: “junto a que ente deve ser captado o sentido do ser?”... O homem é o ente
que se propõe a pergunta do sentido do ser... O Ser-aí não é somente aquele ente que
propõe a pergunta sobre o sentido do ser, mas é também aquele ente que não se deixa
reduzir à noção de ser aceita pela filosofia ocidental, que identifica ser e objetividade
ou, como diz Heidegger, à simples-presença. As coisas são certamente diversas uma da
outra, mas todas são objetos colocados diante de mim: e nesse seu estar presente a
filosofia ocidental viu o seu ser. Mas o homem não pode se reduzir a objeto puro e
simples no mundo: o ser-aí não é nunca uma simples-presença, já que ele é
precisamente aquele ente para o qual as coisas estão presentes. [Por que há algo ao
invés de nada? O que permite com que as coisas sejam? É necessário uma abertura. Em
outras palavras, para investigarmos é necessário o estudo dessa abertura].
O modo de ser do Ser-aí é a existência. “A essência do ser-aí consiste em sua
existência”. E “as características que se revelam desse ente não têm nada a ver com as
‘propriedades’ de um ente simplesmente-presente”. O ser-aí não é simples presença,
mas é um ser-possível... A essência da existência, portanto, é dada pela possibilidade,
que não é possibilidade lógica vazia nem simples contingência empírica... O ser-aí (ou
homem) é o “ente que redunda do seu ser”.

3. O ser-no-mundo e o ser-com-os-outros

O homem é aquele ente que se interroga sobre o sentido do ser. O homem não pode se
reduzir a simples objeto, isto é, a simples estar-presente. O modo de ser do homem é a
existência. A experiência é poder-ser. Mas poder-ser quer dizer projetar... O homem é
projeto é as coisas do “mundo” são originariamente utensílios em função do projetar
humano. Tudo isso nos introduz na consideracao da característica mais fundamental do
homem que Heidegger chama de ser-no-mundo.
O homem está-no-mundo. Mas, como o homem é constitutivamente projeto, o
mundo não é originariamente realidade a contemplar, e sim muito mais conjunto de
instrumentos “para” o homem, conjunto de utensílios, ou seja, de coisas a utilizar,
estando à mão, e não de coisas a contemplar como presentes.
Sendo o ser-aí projeto, o mundo existe como conjunto de coisas utilizáveis: o
mundo vem a ser graças ao seu ser utilizável. O ser das coisas equivale ao seu ser
utilizadas pelo homem. O homem não é, portanto, um espectador do grande teatro do
mundo: o homem está no mundo, envolvido nele e em suas peripécias. E,
transformando o mundo, ele forma e transforma a si mesmo. A atitude teórica e
contemplativa do espectador desinteressado é somente um aspecto da mais ampla e
geral utilizabilidade das coisas. As coisas são sempre instrumentos. Podem ser vistas
inclusive como instrumentos que satisfazem um prazer estético.

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