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1. Facticidade
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O Existencialismo é um Humanismo, texto que foi elaborado com base nas anotações que Sartre fizera para
ministrar uma palestra em defesa do existencialismo no Club Maintenant em 1945.
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Conceito utilizado na obra O Ser e o Nada para designar a condição humana, ou melhor, o modo de ser da
consciência. Essa condição é caracterizada pela falta de ser, pelo nada, pela incompletude e, portanto, projeta-
se para fora buscando completar-se, realizar-se. É apenas por meio da consciência que o Para-se (o homem)
consegue identificar que desde o início de sua existência é um ser que ainda não está determinado – que não
possui uma essência – e assim deve buscar a realização da sua essência nas suas ações, nas suas relações, no
mundo (no âmbito do Em-si citado na nota abaixo).
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Conceito também presente na obra O Ser e o Nada para descrever o mundo das coisas, no qual o ente é pura
positividade e total identidade, não possuindo um “dentro” ou um “fora”, é algo que está aí sem termos
conhecimento de sua origem ou de seu porquê e que só podemos entender como pura contingência.
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“Essa necessidade para a consciência de existir como consciência de outra coisa que ela, Husserl a nomeia de
“intencionalidade”.” In: Tradução do texto de Jean-Paul Sartre: Une Idée Fondamentale de la phénoménologie
de Husserl: L’intentionnalité.
Para facilitar a descrição do que é facticidade em Sartre e demonstrar como ela é
fundamental para o desenvolvimento de todo o seu existencialismo, usaremos aqui
de alguns conceitos já citados na introdução e retirados da obra L'Être et le néant:
Essai d'ontologie phénoménologique5. Acreditamos que tais conceitos facilitarão a
exposição e interpretação do conteúdo presente na obra O Existencialismo é um
Humanismo – texto base para a resolução do problema proposto pelo professor. O
desenvolvimento será dividido em tópicos que seguirão a economia desta obra,
tentaremos acompanhar os movimentos que Sartre faz desde a definição de que a
« existência precede a essência » até descrição dos conceitos de angústia,
desamparo e desespero que são fatos presentes e inagáveis na condição humana e,
por fim, arriscaremos definir que a realização da liberdade humana – de atribuir a si
mesmo uma finalidade, de construir a sua própria essência – se da na facticidade,
demonstrando que é sempre por meio da consciência de algo (do Em-si) que o
Para-si consegue realizar-se como ser livre e dar a si uma essência, uma utilidade,
uma finalidade – criar-se.
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O Ser e o Nada: um ensaio de ontologia fenomenológica.
ou seja, antes mesmo dele produzir o objeto (coloca-lo em existência) ele terá de
atribuir-lhe uma essência (que é “o conjunto das técnicas e das qualidades que
permitem a sua produção e definição” 6). Após citar o homem como artífice do corta-
papel Sartre busca expandir seu exemplo, evocando a concepção de Deus criador
(como se Ele fosse um artífice superior, a causa eficiente que imprime a essência
nos homens), dizendo que Ele, o Deus criador, está para o Industrial, assim como o
homem está para o corta-papel7.
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“Assim o conceito de homem, no espírito de Deus, é assimilável ao conceito de corta-papel, no espírito do
industrial; Deus produz o homem segundo determinadas técnicas e em função de determinada concepção,
exatamente como o artífice fabrica um corta-papel segundo uma definição e uma técnica.” Pp.4
do homem torna-se a de existir antes mesmo do que qualquer definição, antes
mesmo de ser enjaulado8 pelo conceito de natureza humana. Cabe agora
explicarmos quais são as consequências desse ateísmo e do decorrente abandono
de uma concepção de natureza humana.
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inegável: há como escolher não morrer? Conseguimos escapar desse fato que é
marcado pela nossa condição efêmera, transitória e morrediça? Conseguimos negar
a morte? Não. Querendo ou não, a única certeza que temos é de que um dia
seremos ceifados e deixaremos de existir, esse é o fato dos fatos, fato que nos faz
projetarmos em direção ao mundo para criarmos razões para o nosso existir e agir,
fato que direciona nossa consciência para algo (Em-si) com a finalidade de construir
a nossa essência (o Para-si).
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e. Facticidade (condição humana) e consciência – uma relação
necessária para o construir-se:
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Consciência
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Intencionalidade
consciência que vamos nos descobrir, mas sim a partir da característica fundamental
da nossa consciência, a característica de ser “consciência de”16, de precisar se
projetar no mundo para conhecer, para viver, para adotar e até formular uma postura
ética e política: “tudo está fora, tudo, até nós mesmos: fora, no mundo entre os
outros. Não é em não sei qual retiro que nós nos descobriremos: é nas estradas, nas
cidades, no meio da multidão, coisa entre coisas, homem entre os homens.” 17 A
consciência para Sartre é um movimento em direção às coisas, um movimento “para
fugir de si, um deslizamento para fora de si; se pela impossibilidade, vós entrares
“numa” consciência, vós seríeis agarrado por um turbilhão e rejeitado para fora,
perto da árvore, na plena poeira, pois a consciência não tem “dentro”; ela não é
nada senão o fora dela mesma e é essa recusa absoluta, essa recusa de ser
substância que a constitui como uma consciência.” O homem, ser dotado de
liberdade e principalmente de consciência, tem como característica essa busca pelo
externo, sem querer e sem decidir ele, o homem, projeta-se para fora, ele recorre ao
mundo, aos fatos e sua facticidade para realizar-se, não tem como escapar dessa
condição.
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